Aula 8
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1. A jurisprudência: noção
2. O papel da jurisprudência
Mesmo nos casos de ter o juiz que lançar mão da analogia, dos costumes ou princípios
gerais do Direito, por não existir uma norma particular na legislação, entendem os
juristas não haver criação do Direito pela jurisprudência, porque a norma que o juiz
encontrou já estaria implicitamente contida no Direito positivo vigente e não daria
origem a uma norma geral e obrigatória.
Mesmo admitido uma perfeita adequação entre a realidade social e a lei, isto é, que
todas as hipóteses estejam nela previstas no momento de sua elaboração, com o correr
do tempo, a norma vai-se tornando desadequada, já que a lei é estática e a sociedade é
dinâmica. Novas hipóteses vão surgindo em decorrência das constantes transformações
sociais, exigindo o pronunciamento judicial.
A lei não esgota o direito, assim como a partitura não esgota a música. Com feito, a
excelência da partitura e a genialidade do compositor ficarão prejudicados se não
houver talento do intérprete. Assim também acontece com a lei; por mais avançada que
ela se apresente. Se não houver talento criador dos seus intérpretes (juízes e operadores
do Direito), ela não acompanhará a realidade social. Esta é a fórmula constitucional do
numerus clausus do art. 4o da CRM: “ O Estado reconhece os vários sistemas
normativos e de resolução de conflitos que coexistem na sociedade moçambicana, na
medida em que não contrariem os valores e os princípios fundamentais da
Constituição”.
O juiz, perante quem for colocado o caso concreto, decide. Mas a decisão baseia-se
quase sempre num critério normativo. O juiz deve decidir numa perspectiva
generalizadora, só excepcionalmente se podendo remeter às circunstâncias do caso
concreto e resolver segundo a equidade. Este critério normativo pode ser explicitado
como fundamento da decisão (e as decisões judicias devem ser sempre fundamentadas)
ou não. Mas pode ser em qualquer caso inferido a partir da solução concreta,
determinando-se qual o critério geral que orientou o juiz.
A máxima decisão- ou seja, o critério normativo que conduziu o juiz à solução do caso-
pode ser juridicamente vinculativa perante outro caso da mesma índole.
Sabemos já que não. No nosso sistema (sistema romanístico), cada juiz está
relativamente aos outros colocado em posição de independência. Por isso:
Os tribunais superiores não têm que julgar como o fizeram juízes inferiores.
Os juízes não têm de julgar como o fizeram já juízes do mesmo nível
hierárquico.
Assim, se o juiz de direito chamado a decidir um caso verifica que outro juíz decidiu já
caso semelhante de certa maneira, nem por isso está vinculado a manter a orientação
seguida.
Há hierarquia judiciária. Por isso se fala em juízes inferiores e superiores. Mas tal
hierarquia difere da hierarquia administrativa. Esta traduz-se justamente no poder dos
superiores darem ordens aos inferiores, enquanto a hierarquia judiciária não o comporta.
Por isso se diz comumente que o juiz deve julgar apenas segundo a lei e a sua
consciência.
4. Categorias de actos do poder judiciário: despachos, decisões, sentenças,
acórdãos e assentos.
Os despachos são os actos dos juízes que se destinam apenas a dar impulso a um
processo.
Por exemplo, se, durante uma acção judicial, uma das partes trouxer ao processo um
documento, o juiz deve comunicar isso à parte contrária, para que ela tenha a
oportunidade de se manifestar sobre essa nova prova. Para isso, o juiz deve proferir um
despacho, mandando intimar (comunicar) a outra parte. Uma forma possível de fazer
isso seria despachar o seguinte no processo: “Nos autos. Intime-se ”. Dizer “nos autos”
significa que o juiz admitiu que se junte aquele documento aos autos do processo.
Esses despachos são chamados de despachos de mero expediente porque decidem factos
simples do processo e servem para o juiz levar adiante o serviço judicial, ou seja, o
expediente.
Decisão
As decisões são actos pelos quais o juiz resolve questões que surgem durante o
processo, mas que não são o julgamento dele por meio de sentença. Essas questões que
precisam ser decididas no curso do processo são denominadas questões incidentes ou
questões incidentais. Por exemplo, se a parte num processo requer a marcação de
audiência para a produção de provas, caberá ao juiz avaliar se a audiência é mesmo
necessária e se é compatível com aquele processo ou com a fase em que o processo se
encontra. Tudo isso será objecto de uma decisão.
Sentença vs acórdão
Sentença é o acto por meio do qual o juiz julga o processo e lhe põe fim.
Ao assento se refere o próprio capítulo das fontes do direito do CC. Diz-se, então, que,
nos casos declarados na lei, podem os tribunais fixar, por meio de assento, doutrina com
força obrigatória geral (art. 2º CC). A fonte do direito resulta de um fixação feita pelo
tribunal.
Ora, parece ser pacífico que, no âmbito do princípio de separação de poderes, não é da
competência dos tribunais a elaboração de leis, mas do poder legislativo, cabendo aos
tribunais aplicá-las.
6. A doutrina