TCC Institucionalizaã - Ã - o Infantil
TCC Institucionalizaã - Ã - o Infantil
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RESUMO
A saúde mental infantil pode sofrer impactos com o rompimento do vínculo familiar e
a institucionalização. Portanto, este trabalho tem como objetivo investigar os efeitos
do processo de institucionalização infantil na saúde mental de crianças pela ótica de
profissionais que trabalham em uma instituição de acolhimento de um município do
interior do estado do Espírito Santo. Metodologicamente a pesquisa foi desenvolvida
por meio de entrevistas individuais com o auxílio de um roteiro semiestruturado, com
13 trabalhadores da instituição, e posteriormente os dados foram analisados por
meio da técnica de análise de conteúdo temático categorial. Foi constatado por meio
dos funcionários, que a participação familiar no processo de abrigamento, gera
impactos na saúde mental. E que as condições materiais da instituição e a formação
profissional também pode afetar o desenvolvimento emocional infantil. Assim como a
tendência de as crianças desenvolverem como estratégias de enfrentamento ao
processo de institucionalização a agressividade, o isolamento e a criação de
vínculos entre si.
1 INTRODUÇÃO
Diante disso, foi traçado como objetivo geral deste trabalho investigar os
efeitos do processo de institucionalização infantil na saúde mental de crianças pela
ótica de profissionais que trabalham em uma instituição de acolhimento de um
município do interior do estado do Espírito Santo. Como objetivos específicos,
destaca-se: compreender a percepção dos trabalhadores da instituição acerca do
acolhimento institucional; investigar a percepção dos entrevistados a respeito da
convivência familiar das crianças institucionalizadas; conhecer os efeitos
psicológicos da institucionalização infantil e compreender estratégias de
enfrentamento adotadas pelas crianças em meio as adversidades que podem se
originar da institucionalização.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Com isso, ressalta-se o quanto o sistema familiar tem relação com a saúde
mental das crianças. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a saúde mental
como um “estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias
habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua
comunidade” (BRASIL, 2017).
Como descrito por Alvarenga et al. (2018), a saúde mental familiar influencia o
desenvolvimento da saúde mental da criança. Famílias com menos disposições a
ansiedades e a depressões são menos propensas à má interação com suas
crianças, adaptando seus comportamentos de formas diversificadas, para interações
contingentes e não contingentes.
somente sua ausência, mas também as que possuem famílias com histórico de
violências podem causar perdas significativas e experiências adversas na infância,
com prejuízos ao longo da vida do indivíduo. Inclusive, no contexto escolar, ressalta-
se o prejuízo na adaptação, baixo interesse nas aulas e altas taxas de evasão e
expulsão. Na interação com pares e ressignificação de sentimentos, pensamentos e
emoções, nota-se uma menor compreensão emocional de indivíduos que cresceram
sem a presença de familiares ao longo de sua formação (STOCHERO et al., 2021).
Em sua teoria, Bowlby (2002a) propõe três tipos de apego, sendo eles: apego
seguro, apego evitativo e apego ambivalente. O apego seguro caracteriza-se pelo
padrão em que a criança chora ou protesta quando o cuidador se ausenta e vai
ativamente em sua busca quando ele retorna. O apego evitativo, por sua vez, é o
padrão em que a criança raramente chora ao ser separada do cuidador e evita o
contato quando ele retorna. Já o apego ambivalente é caracterizado pelo padrão
cuja criança fica ansiosa antes do cuidador se ausentar, resultando em uma
perturbação excessiva na criança durante sua ausência. Nesse último tipo de apego,
a criança tanto busca quanto rejeita o contato quando o cuidador retorna (BOWLBY,
2002a).
Com efeito, conforme Lima (2013), ao considerar que o ambiente familiar que
proporciona afeto, amor, carinho, e favorece o desenvolvimento saudável do sujeito,
a privação deste tipo de relação, pode causar impactos negativos na construção da
personalidade, com prejuízos que perpassam por toda a vida. Com relação aos
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3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
(...) As que não tem visita dos familiares elas são mais... como eu posso
dizer... Elas não conseguem expressar muito os sentimentos. A gente sabe
que gosta, que tem um sentimento ali, mas elas não… não consegue
expressar. E as que recebem visita dos familiares já consegue expressar
um pouco mais o que sente, consegue se abrir mais (...) (CUIDADORA).
Foi relatado também que em alguns momentos a presença familiar pode gerar
repercussões, como inquietação nas crianças que são visitadas, mas não recebem
afeto. Segundo Abreu (2005), quando os pais tratam as crianças com insensibilidade
em seus primeiros anos de vida, pode estimular que elas construam modelos
operativos internos de hostilidade e insensibilidade, considerando-se inadequado ou
alguém que não é digno de ajuda, e até mesmo gerar uma angústia crônica,
principalmente nos momentos novos e de tensão.
De acordo com relatos de alguns funcionários as crianças que não têm
convivência familiar agem de maneira ríspida com as crianças que são visitados por
suas famílias. Foi relatado também que as crianças ficam estressadas, nervosas,
ficam mais abalados e tristes por não terem sido visitados pelos familiares. O que
nos remete a indagações sobre o dever da família na participação no
desenvolvimento infantil, e em maneiras de mudar esta realidade. Indagações sobre
até que ponto as instituições se comprometem em manter o vínculo familiar ativo ou
mesmo quais aspectos que podem se constituir como barreiras para a convivência
familiar
Outro aspecto a ser considerado é que alguns entrevistados percebem a
convivência familiar como fator protetivo ao desenvolvimento infantil, visto que eles
notam entre as crianças o quanto a visitação favorece a elaboração das vivências e
a manifestação de emoções tidas como mais positivas, como a alegria e calma,
além de descreverem essas crianças como aquelas que têm mais perspectivas para
o futuro. Segundo Bowlby (2002b), a criança que possui a presença de sua figura de
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Sendo assim, diante dos dados obtidos por meio das entrevistas realizadas, e
tendo em vista a relação familiar para o desenvolvimento infantil, percebe-se a
importância de visitas assistidas regulares e a existência de intervenções e
acompanhamentos psicossociais tanto para as crianças, quanto para os familiares,
de modo que as relações estabelecidas sejam favoráveis ao desenvolvimento
saudável dessa família.
Por fim, a ausência familiar foi percebida como negativa para o
desenvolvimento das crianças, pela ótica dos funcionários do abrigo. Segundo
Reginatto (2013), para que uma criança se desenvolva de maneira saudável, ela
precisa crescer em um ambiente familiar onde tenha amor e proteção. Além do mais,
o vínculo afetivo da família é intenso, sendo assim, pode-se encontrar outras
alternativas que diminuam a ausência, mas não que substituam.
nas escolas, algumas crianças pedem para que elas vão sem utilizar o uniforme da
instituição. Com base nisso, questiona-se a necessidade de as funcionárias usarem
o uniforme, tendo em mente que é algo que gera desconforto nas crianças que estão
institucionalizadas. E o preparo que eles recebem para lidar com o processo de
saída da instituição.
(…) Porque, assim, a gente tenta colocar na cabeça deles que um dia eles
vão sair daqui e vai ter a vida deles lá fora. Mas muitos não entendem, né?
Porque falam, mãe, pai, tia, ninguém quer (...) (Cuidadora).
(...) Ah eu acho que não é bom não, igual eu tô te falando, na revolta que
eles têm de tá preso aqui eles acham todo mundo né, eles não conseguem,
assim, entender que isso é pra proteger eles (...) (CUIDADORA).
(...) eu acho que o espaço poderia ser um pouco melhor né: Ter, por
exemplo, um parquinho, que tem crianças de várias idades, e isso ali não
tem. O espaço é, eu acho, que um pouco pequeno. E com criança...por ter
várias crianças e várias faixa etárias, é...fica um pouco difícil. Questão
mesmo da TV, os adolescentes gostam de...de uma programação. Os
menorzinhos já gostam de outras, é essas coisinhas assim mesmo (...)
(CUIDADORA).
(...) o certo é que eles poderiam ter mais coisa para atividade. Eles ter um
cantinho pra ter uma atividade, pra poder, sei lá, cada um né, não ficar tão
embolado né, seria bom. Mas a casa aqui, a gente não tem como falar, né,
a casa é pequena também, não tem espaço (...) (COZINHEIRA).
(...) o impacto que eu tive foi só com o menorzinho da casa, né? Que
quando ele veio com o conselho, né? Ele foi tirado da mãe e ainda estava
mamando ainda, então foi eu que o recebi, no dia, no portão. Então quando
eu puxei ele estava mamando, aí já estava na hora de entrar, né? Aí eu tive
que pedir à mãe. Aí eu fiquei meio chocada com a situação (...) - Cuidadora.
(...) acho que o certo era os conselheiros vim e falar, tá chegando alguém,
mas vem não, já traz de uma vez. Então quanto a gente fica assustado no
receber, eles ficam assustados ao entrar na casa, né? (...) (Cuidadora).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos estudos realizados pode-se concluir que este trabalho gerou
dados para verificação de impactos psicológicos gerados em crianças
institucionalizadas, a partir da amostra de um abrigo no interior do Espírito Santo.
Essa verificação realizou-se através de entrevistas com trabalhadores do
local, com o intuito de compreender os aspectos que perpassam a saúde mental de
crianças institucionalizadas, em específico: investigar os efeitos da
institucionalização na saúde mental infantil, bem como compreender a percepção
dos trabalhadores do local a respeito da convivência da criança com a família e
também as estratégias de enfrentamento que as crianças constituem frente a
institucionalização.
As principais discussões propostas no presente estudo sugerem que, com
relação aos impactos da convivência familiar na saúde mental de crianças
institucionalizadas, percebe-se uma dualidade de respostas entre os entrevistados.
Alguns percebem o contato familiar como essencial e necessário, enquanto outros,
apontam repercussões vistas de maneira negativa, como agressividade e estresse.
O estudo ainda traz reflexões sobre a saúde mental das crianças no que diz
respeito às estratégias de acolhimento adotadas pela instituição para a minimização
dos impactos psicológicos diante do abrigamento, não tendo sido percebido um
protocolo ou mesmo discussões mais aprofundadas que possibilitem apontar como
essa questão é vivenciada no cotidiano profissional e de vida das crianças.
Outro aspecto importante observado no estudo diz respeito ao efeito da
institucionalização na vida das crianças acolhidas, tendo sido apontado pelos
entrevistados que as vivências coletivas afetam as singularidades das crianças, que
passam a responder as demandas do cotidiano de modo mais coletivo e menos
pessoal, em algumas circunstâncias.
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