Cangaço - Apresentação

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Cangaço

História do Brasil República

João Kaleber Batista Martins


Maria Eduarda Boava
Mauro Rocha
Origem
O termo "cangaço" deriva de "canga", que se refere a um jugo usado para atrelar bois.

O fenômeno cangaceiro surge entre os séculos XIX e XX, período que compreende a instauração da
Primeira República e o início do Estado Novo.

Caracterizado pela formação de bandos armados


que viviam à margem da lei, desafiando as
autoridades e saqueando vilarejos.
Brasil República no final do século XIX e início do
século XX
-> república da espada (1889 -1894)
-> república oligárquica (1894 -1930)
-> Presidente Campos Salles (1898)
-> política dos governadores
-> federalismo republicano
-> coronelismo

“Na base do sistema estava a figura do coronel, dono da vontade


dos eleitores e senhor dos currais eleitorais, cujo poder pessoal
substituía e representava o Estado, distribuindo como favor e
benesses, a seu belprazer, o que seria de direito dos cidadãos.
Nesse quadro, as eleições eram um ritual vazio, a participação
Quarto Presidente da República
eleitoral era mínima (Carvalho, 2002, p. 40) e a fraude a norma Manoel Ferraz de Campos Salles (1841-1913)
eleitoral. “ (NEVES in FERREIRA, DELGADO; 2018, p.36 )
As condições de vida das
populações sertanejas
O sertanejo buscando liberdade e posses próprias, foi se interiorizando, formando fazendas
autossuficientes. O comércio era esparso, haviam poucos núcleos urbanos, que cresciam ao redor dos veios
d’água.

Enfrentaram um solo árido e um clima ingrato, mas aprenderam a trabalhar com o gado e cultivar o gado,
se adaptando as condições. (Agricultura de vazante)

O sertanejo desenvolveu valores próprios, como o


misticismo, a honestidade e o machismo, criando
uma cultura distinta. Essa identidade cultural foi
forjada pela necessidade de lutar contra as
adversidades naturais e sociais.

AB’SÁBER, Aziz Nacib. Sertões e sertanejos. 1999.


Influência do coronelismo e
da estrutura agrária
Desde a colonização, os grandes proprietários de terra, os senhores
de engenho, dominaram a estrutura agrária. Esses senhores
controlavam vastas áreas e a força de trabalho, mantendo um
sistema escravocrata que favorecia seus interesses e o lucro da
Coroa portuguesa.

A política dos governadores implementada por Campos Salles


fortaleceu as oligarquias regionais. Cada Estado foi entregue a uma
oligarquia dominante, que exercia controle absoluto sobre sua área
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Sertões e sertanejos. 1999.

A população pobre, incluindo libertos e escravos, estava excluída da ordem social. Não havia
integração social, e os pobres não tinham acesso a meios para acumular renda ou prestígio. Apenas
a classe dominante participava da vida política e econômica, perpetuando a desigualdade.
Motivações e objetivos dos cangaceiros
A falta de oportunidades econômicas no sertão levou muitos homens a se juntarem aos bandos de
cangaceiros como uma forma de sobrevivência.

Saques, extorsões e pilhagens eram meios de obter bens materiais e dinheiro.

Motivações pessoais, como a busca por vingança contra injustiças sofridas por familiares ou amigos,
também eram comuns.

O Banditismo Social é um dos movimentos associados aos cangaceiros.

(...) o banditismo social é universalmente encontrado, onde quer que as sociedades sejam baseadas na
agricultura (incluindo economias pastoris), e consistam em grande parte de camponeses e trabalhadores sem
terra governados, oprimidos e explorados por terceiros - senhores, cidades, governos, advogados, ou mesmo
bancos. É encontrado em uma ou outra de suas três formas principais, -. o nobre ladrão ou Robin Hood, o
combatente da resistência primitiva ou unidade de guerrilha do que chamarei de haiduks, e possivelmente o
vingador que traz o terro (Hobsbawm, 1981, p. 10 apud Wiesebrom, 1996, p.425).
Principais grupos cangaceiros
Virgulino Ferreira da silva: Nasceu em Vila Bela (atual Serra Talhada), Pernambuco;
Pais pequenos proprietários rurais e almocreve;
LAMPIÃO (1898-1938) Conflitos: Zé Saturnino, morte dos pais;
Entra para o bando de Sinhô Pereira;
Lampião, o rei do cangaço.
“Notório bandido do Brasil é
morto.
Lampeao Caolho Conhecido
como um dos assassinos mais
cruéis do mundo ocidental.
morre em batalha campal.
Inimigo público saqueava o
sertão nordestino há vinte
anos.”
“no começo da vida, revelou-se Virgulino Ferreira um gênio em
O Santo Lampião,
tudo que pretendeu realizar. Foi ótimo seleiro, currieiro,
Era um homem bem devoto
agricultor, comerciante, tocador de sanfona, poeta e o mais
Só andava pelo voto
afamado vaqueiro e domador de cavalos e burros bravos de Vila
Do Padre Cirço Romão
Bela, por último, bom parteiro, enfermeiro ”(Gueiros, l953, p.11).
- O Santo Lampião
Era um homem bem querido
“Lampião não encontrou outro que o igualasse nos anais do
Ele era protegido
crime, não somente no Brasil e na América do Sul, mas também
Do Padre Cirço Romão.
nas outras Américas” (Gueiros, 1953, p. 13).
- Quando o pai dele foi morto
Depois é que não sabia;
“Era brabo, era malvado, O Santo desse dia
Virgulino, o Lampião, Precisamos nos vingá.
Mas era, pra que negar, - Lampião é inteligente
Nas fibras do coração Que o povo bem já se vê
O mais perfeito retrato O Santo adivinhou
Das caatingas do sertão.” Até o dia de morrê
(Wanderley Filho apud Sá, 2005, p.210) (Maciel, 1992, p. 203-204).
Principais grupos cangaceiros
CRISTINO GOMES DA SILVA CLETO: Nasceu em Água Branca, Sertão de Alagoas;
Entrou para o bando de Lampião aos 17
CORISCO (1907-1940)
anos;
“Foi talvez o mais cruel Sequestrou Dadá, que viria a ser sua
cangaceiro do Nordeste, esposa;
alma de bruto sadismo, Líder de um sub-grupo de Lampião;
um espírito tão agreste Após a morte de Lampião tenta se esconder
que não terá, com certeza mas é assassinado em 1940.
a piedade celeste
“Serviu em Sergipe no
Já revelava, no entanto,
Batalhão de Caçadores
certa elevação moral
e Maynard revoltando
pois, conquanto fosse bruto,
seus próprios inferiores
selvagem, agreste e mau,
estes foram transformados
era, para seus amigos,
extremamente leal.” em soldados desertores”
Corisco sofreu o mais Encontrando o delegado
cruel martírio, indefeso que antes o torturou
quando Herculano Borges num ato de crueldade
mandou conduzi-lo preso primeiramente o sangrou,
todo tipo de torturas num galho dum vegetal
sofreu Corisco, e desprezo a seguir o pendurou
...
Corisco bem que sabia Lento, sinistro, chocante
que se daquela escapasse sem humano coração
e se com o delegado diante dos circunstantes
ele um dia encontrasse olhares de aprovação
o mataria, por mais que ele tirou lentamente
Herculano suplicasse o couro do cidadão
...
Um olhar de gênero sobre o cangaço
“O ingresso dessas mulheres no Cangaço se deu de três
maneiras principais:i) entrada voluntária; ii) entrada como
resultado de uma ação violenta dos cangaceiros; e
iii) entrada como uma alternativa de fuga das violências
das forças volantes.”
(MORAES, PORDEUS, SILVA; 2023, p. 9)

Maria Gomes de Oliveira:


maria bonita (1911-1938)
Corpo
Um olhar de gênero sobre o cangaço
Sérgia Ribeiro da Silva:
Corpo
DADÁ (1915-1994)
A organização interna dos bandos
Os bandos de cangaceiros eram altamente organizados, com
uma estrutura hierárquica bem definida. Cada bando tinha um
líder absoluto, como Lampião, que comandava e tomava todas
as decisões importantes. Havia também sub-líderes
responsáveis por pequenas unidades dentro do grupo, que
seguiam as ordens do líder principal.
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Sertões e sertanejos. 1999.

as táticas de guerrilha
Ataques rápidos e furtivos a vilarejos e fazendas, seguidos de
uma rápida dispersão para evitar o confronto direto com
forças policiais superiores.
Emboscadas e ataques surpresa, aproveitando-se do
conhecimento íntimo da caatinga para emboscar seus
perseguidores.
Estratégias
Os cangaceiros usavam a sua mobilidade como uma tática essencial.
Eles conheciam bem o terreno e eram capazes de se mover
rapidamente através das fronteiras estaduais para escapar da polícia.
Os cangaceiros frequentemente dependiam do apoio de coiteiros,
moradores locais que lhes forneciam informações, suprimentos e
abrigo. Esse apoio era obtido tanto por coerção quanto por simpatia ou
interesse financeiro

Os cangaceiros utilizavam as fronteiras estaduais como


um meio de dificultar a perseguição policial. Ao cruzarem
de um estado para outro, os bandidos aproveitavam a falta
de coordenação entre as forças policiais de diferentes
jurisdições, um estratagema já utilizado por bandidos
desde o século XIX.
Retidado de: https://www.artstation.com/artwork/qeLN2D
Cultura, mito e simbologia do Cangaço
A construção do mito do cangaço na cultura popular se deu através de diversos meios: literatura de
cordel, música, cinema e, mais recentemente, a televisão.

O mito do cangaço é marcado pela dualidade heróis populares, defensores dos pobres e oprimidos, ou
figuras temidas e odiadas.

A cultura do cangaço é rica em elementos


simbólicos, caso da sua indumentária marcante.
o cangaço e o imaginário regional
O cangaço, como fenômeno social e cultural, não só influenciou a história do Nordeste, mas também
contribuiu significativamente para a construção do imaginário coletivo da região.

A figura do cangaceiro, com sua indumentária característica e seu código de honra, simboliza a
singularidade e a resiliência do povo nordestino.

“(...) o cangaceiro foi, geralmente, enaltecido como herói, por sua ‘valentia’ e ‘coragem’ em
contraposição aos poderosos” (Moreira, 2006, apud Ramos Filho, 2018, p. 153).

A partir de sua experiência, notamos como o cangaço vai, aos poucos, saindo das páginas policiais para
os escritos de domínios culturais.
O cangaço e A RELIGIOSIDADE
Apesar de viverem à margem da lei e serem frequentemente envolvidos em atos de violência, os cangaceiros
possuíam uma profunda devoção religiosa.

Em torno da figura sanguinária de Lampião despontam aspectos que apontam para incoerências gritantes:
praticante de um catolicismo popular, temente a Deus, às igrejas e até mesmo aos padres, especialmente ao
padre Cícero do Juazeiro, a quem rendia obediência religiosa, tomando a benção de joelhos ao famoso
taumaturgo; enquanto viveu, cumpriu as recomendações do referido sacerdote no sentido de nunca cometer
violência nas terras do Ceará (Antônio Barroso Pontes, 1973, p. 13).

Alguns trabalhos acadêmicos apontam que houve a interação direta entre cangaceiros e seguidores dos
movimentos messiânicos, por exemplo, em episódios da Guerra de Canudos (1896-1897).
A Perseguição e o combate aos
cangaceiros: o fim do cangaço

O Estado Novo retirou o poder dos potentados locais, que antes podiam
eleger políticos e nomear juízes e delegados de polícia. Isso resultou em
uma diminuição significativa do apoio logístico e da proteção oferecida aos
cangaceiros, que dependiam desses líderes locais para sobreviver.

Lampião foi morto em 1938. A emboscada em Angicos, liderada pelo


tenente João Bezerra, resultou na morte de Lampião e outros cangaceiros,
marcando um ponto crucial no declínio do cangaço.

Em muitos casos, as inimizades locais, questões de honra e ódios nativos


desempenharam um papel significativo na luta contra o cangaço
Os trágicos troféus de Angico, 1938/07/28. AL - Brasil / Instituto Moreira Salles
A Perseguição e o combate aos
cangaceiros: o fim do cangaço
. A introdução de armamentos automáticos como as metralhadoras Bergmann
e Royal nas forças volantes equiparou a força bélica dos perseguidores à dos
cangaceiros. Apesar dos esforços, Lampião não conseguiu obter essas armas, o
que colocou seu bando em desvantagem técnica frente às forças estaduais.

Com o passar dos anos, Lampião, já com 41 anos, perdeu parte de sua
resistência física, crucial para a vida nômade do cangaço. Sua mobilidade, antes
uma tática essencial para sua sobrevivência, foi gradualmente abandonada.

As transformações no sertão, impulsionadas por novas práticas sociais e


implementos técnicos, como estradas de ferro e de asfalto complicaram o
modelo cangaço de agir.
1 - Definição e origem do cangaço; (João)

2 - Contexto histórico:
a) Brasil República e o Nordeste brasileiro no final do século XIX e início do século XX; (Maria)
b) As condições de vida das populações sertanejas; (Mauro)
c) Influência do coronelismo e da estrutura agrária. (Mauro)

3 - Motivações (sociais, econômicas e pessoais) e objetivos dos cangaceiros: o banditismo social e etc; (João)

4 - Principais grupos cangaceiros: Lampião, Maria Bonita, Corisco, entre outros;(Maria)


5 - Um olhar de gênero sobre o cangaço: Anésia Cauaçu;(Maria)

6 - A organização interna dos bandos e as táticas de guerrilha; (Mauro)

7 - Cultura e simbologia do Cangaço: a construção do mito na cultura popular; (João)


8 - A relação entre cangaço e os movimentos sociais no Nordeste; (João)

9 - A Perseguição e o combate aos cangaceiros: o fim do cangaço; (Mauro)


Referências
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Sertões e sertanejos: uma geografia humana sofrida. Dossiê Nordeste Seco, Estudos Avançados, v. 13, n. 36, p. 29-44,
ago. 1999.

CLEMENTE, Marcos Edílson de Araújo. Cangaço e cangaceiros: histórias e imagens fotográficas do tempo de Lampião. Fênix – Revista de
História e Estudos Culturais, 2007.

FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org.). O Brasil Republicano: O Tempo do Liberalismo Oligárquico. 10. ed. rev. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

LIMA, Geralda. O rei do cangaço, o governador do sertão; o bandido ousado do sertão, o cangaceiro malvado: processos referenciais
na construção da memoria discursiva sobre Lampião. 2008. Tese de Doutorado. [sn].

MORAES, Lorena Lima; PORDEUS, Aimê Felix; SILVA, Roseane Amorim da. Um olhar de gênero sobre o cangaço. cadernos pagu, n. 67, p.
e236718, 2023.

OLIVEIRA, Iranilson Buriti. Artes de curar e modos de viver na geografia do cangaço. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de
Janeiro, v.18, n.3, jul.-set. 2011, p.745-755.

PALMEIRA, Moacir GS. Nordeste: violência e política no século XX. Revista de Ciências Sociais: RCS, v. 37, n. 1, p. 53-62, 2006.

VILLELA, Jorge Luiz Mattar. O advento do Estado Novo, a morte de Lampião e o fim do cangaço. Revista de Sociologia e Política, n. 9, 1997.

VILLELA, Jorge Luiz Mattar. Operação anti-cangaço: as táticas e estratégias de combate ao banditismo de Virgulino Ferreira, Lampião.
Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, n. 25, p. 93-116, abr. 1999.
OBRIGADO <3

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