Leitura - Aula 1
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LEITURA E PRODUÇÃO
DE TEXTO
CONTEXTUALIZANDO
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desencontros e confrontos de posições, porque somos todos seres constituídos
na e pela linguagem. Portanto, como destaca Geraldi (1993), focar na
“língua(gem)” com base no processo interlocutivo é pensar em um processo
educacional que exige olhar para o outro em suas singularidades, isto é, focalizar
a interação verbal como lugar de produção de “língua(gens)” e dos sujeitos.
Nesse processo interacional, a língua não está, de antemão, dada como
pronta e acabada, mas sim em ação de reconstrução por meio da linguagem.
Convém destacar que, ao longo da história da Educação, já tivemos muitas
concepções de língua e linguagem; isso não quer dizer que uma concepção
excluiu a outra, mas que foram sendo reformuladas de acordo com as
necessidades de ensino. Aqui, quero ressaltar que adoto o termo “língua(gem)”,
usado dessa forma, com os parênteses, para explicar que língua e linguagem são
termos interdependentes. A língua não é um sistema de regras e normas a serem
seguidas, ela é um processo discursivo que muda de acordo com a situação de
uso, portanto, usamos a língua em diversas linguagens e de modos variados em
cada uma delas, sem a determinação de uma língua (regra) única e certa. A língua
está para a linguagem assim como a linguagem está para a língua; desse modo,
“língua(gem)” é uma prática discursiva que está em processo em cada situação
efetiva de uso, da mais informal à mais formal, porém sempre dentro de um
contexto.
Cada sujeito se constitui como tal na interação com os outros, baseado em
seu conhecimento de mundo; é um ser social que vai se (re)construindo e se
completando em suas falas (textos, leituras). As interações acontecem dentro de
um contexto social e histórico, respeitando as singularidades e a formação social,
ou seja, crenças, tradição, instituição social, comportamentos, processos de
aprendizagem etc.
Trocando em miúdos, a criança é um sujeito social que interage em
diversas situações e traz consigo um conhecimento pautado no que ela vive. Suas
interações vão sendo construídas por meio da língua em práticas de linguagem e,
assim, ela vai se construindo como sujeito na linguagem e pela linguagem.
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[...] é por meio de ações linguísticas e sociocognitivas que se constroem
objetos-de-discurso e propostas de sentido e [os sujeitos] ao operarem
escolhas significativas entre as múltiplas formas de organização textual
e as diversas possibilidades de seleção lexical que a língua lhes põe à
disposição [constituem-se enquanto sujeitos por meio do texto, que é o
lugar da interação].
Isso quer dizer que em todo e qualquer texto há uma gama de situações
implícitas, de inúmeros modos que são observados pela mobilização do contexto
sociocognitivo em que se movem os atores sociais.
Saiba mais
Para ilustrar esse pressuposto, confira o movimento de nossos pequenos
atores sociais por meio da leitura: A leitura inspira as crianças (Max’s love letter)
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hducz1b-z5E>. Acesso em:
25 nov. 2022.
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as ideias do autor. Vale destacar que essa concepção de leitura não é mais
preconizada pelos documentos oficiais; no entanto, muitas vezes permanece
sendo executada, calando os sujeitos e doutrinando a criança a encontrar a
resposta correta.
Koch e Elias (2007, p. 10) nos trazem, nesse foco, a “concepção de língua
como estrutura e de um sujeito assujeitado, caracterizado por uma espécie de não
consciência”: a língua entendida como um sistema, um código que passa a ser
mero instrumento de comunicação. Nesse caso, o sujeito é determinado por esse
sistema estrutural da língua. As regras, os usos e o conhecimento da língua são
determinados pela norma de uma língua única e correta, prescrita por uma
gramática ideal. Se o texto obedece a todas as regras da língua, ele está correto
e dotado de sentidos. Por sua vez, o texto permanece sendo produto que deve
ser decodificado pelo leitor, como se a atividade de leitura fosse uma via de mão
única – um emissor escreve para um receptor –, não havendo retorno do receptor
para o emissor. A leitura, nesse foco, é linear – o leitor deve fazer o
reconhecimento das palavras e frases, ou seja, apenas reproduzir o que está dito.
Apropriar-se dessa concepção é limitar a criança à mera reprodução de um
texto que já está pronto e, caso ela não consiga reconhecer o que está dito no
texto, significa que ela não sabe ler.
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Figura 1 – Leitura da tirinha da Turma da Mônica
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Reiteramos, assim, a concepção interacional da língua, privilegiando os
atores sociais e seus conhecimentos, já que o sentido do texto não está lá, mas é
construído com os sujeitos por meio da leitura.
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o texto lido. É importante que nessa ocasião o professor capture os
conhecimentos de mundo dos alunos. Esse é um momento importante para “olhar
o outro”, pois é uma atividade que permite conhecer melhor cada um dos alunos
que participam de nossa sala de aula.
Empreender uma organização semântica ou gráfica do texto também é uma
estratégia interessante com crianças. É o momento em que o professor incita a
criança a criar um desenho sobre a história, ou reproduzir a história com as
próprias palavras, ou solicita a modificação de um personagem ou mesmo do
início ou fim da história. Com essa estratégia o professor confere ao aluno o direito
de mostrar os sentidos que construiu com a leitura e de produzir seu texto,
ressignificando-o para o seu lugar de interação, isto é, compreendendo que ele, o
aluno, é um sujeito ativo que se constrói como sujeito por meio da interação com
o texto, não sendo simplesmente reprodutor do que lê e/ou escreve.
Outra estratégia seria traçar a estrutura do enredo, ensinando a questionar
e a responder ao texto, interagindo com ele por meio de perguntas, como: Quem?
O quê? Quando? Onde? É possível traçar uma linha do tempo, caracterizando
personagens e acontecimentos.
A estratégia mais comum para produção de texto é a de responder
perguntas: o professor faz perguntas a respeito do texto e o leitor recebe o
feedback sobre sua resposta, levando todos os demais a refletirem também.
Todavia, é importante trabalhar essa estratégia com muito cuidado para que as
respostas nãos sejam automáticas, sem que haja de fato reflexão sobre o texto.
Como exemplo, vamos ler a história abaixo.
O leão e o ratinho
Um leão, cansado de tanto caçar, dormia espichado debaixo da sombra
boa de uma árvore. Vieram uns ratinhos passear em cima dele e ele
acordou. Todos conseguiram fugir, menos um, que o leão prendeu
debaixo da pata. Tanto o ratinho pediu e implorou que o leão desistiu de
esmagá-lo e deixou que fosse embora. Algum tempo depois o leão ficou
preso na rede de uns caçadores. Não conseguindo se soltar, fazia a
floresta inteira tremer com seus urros de raiva. Nisso apareceu o ratinho,
e com seus dentes afiados roeu as cordas e soltou o leão. Moral: uma
boa ação ganha outra. (Fábulas Pequenas. O leão e o ratinho. Refletir
para refletir. Disponível em:
<http://www.refletirpararefletir.com.br/fabulas-pequenas>. Acesso em:
29 jun. 2018.
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reflexões sobre diversidade, respeito, colaboração etc. Por que será que o leão
segurou o ratinho? Foi proposital? Ou ele prendeu o ratinho no momento em que
se mexeu e nem percebeu isso? Se os alunos disserem que foi proposital, solicite
que justifiquem essa escolha com uma passagem do texto. Ele soltou o ratinho
por bondade ou por que estava com a barriga cheia e cansado? Quando o leão
soltou o ratinho, será que foi motivado por pensar que sua ação poderia lhe trazer
benefícios no futuro?
Vale destacar que essas são sugestões de perguntas, e é claro que outras
podem ser tecidas. Você pode solicitar também que um aluno faça perguntas
sobre o texto a um colega da classe, pois esse trabalho permite que o aluno
perceba seu papel de ator social no processo interativo da leitura.
Também é possível trabalhar com perguntas geradoras. Nessa estratégia,
quem faz as perguntas é o próprio leitor, ou seja, o aluno. É relevante destacar
que, com essa estratégia, buscamos criar a autonomia do leitor, para que em
qualquer leitura aprenda a questionar o que está sendo lido. Desse modo, ele vai
criando um roteiro para a construção de sentido. Vale destacar que as crianças
são por natureza curiosas; assim, permitir que elas mesmas questionem o texto e
tragam para a discussão suas questões ajudará que produzam textos criativos,
sendo críticas sobre suas leituras e produções.
A prática do resumo também é um exercício enriquecedor, pois a criança
leitora tenta identificar as ideias principais que unem ou integram o texto,
compreendendo que é uma unidade coerente, dotada de sentidos interligados
pelas ideias que ali estão.
Para encerrar essas sugestões de táticas mais utilizadas em leitura e
produção de texto, destacamos o ensino com múltiplas estratégias, que é bastante
eficaz nas séries iniciais, pois utiliza procedimentos flexíveis e adequados para
cada série e/ou idade. Enfatizamos que essas estratégias precisam ser
trabalhadas em conjunto com o currículo e adaptadas de acordo com a prática de
ensino. No primeiro ano, quando a criança ainda está em processo de aquisição
da escrita de forma mais autônoma, é bastante indicado o trabalho com pequenos
desenhos, seguidos de explicação oral do que a criança leu. Conforme a criança
evolui e aumenta o domínio da escrita, sugere-se o trabalho com resumos, que é
uma interpretação escrita, para depois seguir para a produção do texto. Todo esse
trabalho precisa ter os objetivos bem definidos, a fim de que a compreensão
aconteça de fato.
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TEMA 3 – FATORES DE COMPREENSÃO DA LEITURA
Saiba mais
COMO MELHORAR a fluência de leitura de seus alunos. Fundação Lemann, 13
set. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=eutL0sMLQBs>.
Acesso em: 25 nov. 2022.
3.1 Autor/leitor
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as crianças não saibam e se, de acordo com o texto, conseguem saber a que se
referem.
Feito o trabalho inicial de mobilizar o conjunto de conhecimentos
linguísticos dos alunos, conforme explicitado acima, é momento de a criança
iniciar a construção de sentido. Também é possível discutir o gênero do texto
estudado (estudaremos esse tema mais adiante).
Além desses fatores, há outros que precisam ser considerados muito antes
da leitura em conjunto, como, por exemplo, o tamanho das letras, bem como sua
clareza; também a cor, a textura do papel, o comprimento das linhas, a
constituição dos parágrafos – se muito longos e/ou curtos demais. Muito embora
sejam aspectos materiais do texto, eles interferem na compreensão da criança.
Apesar de, como professores, estarmos focados em como ensiná-las a
compreender o que leem, as crianças estão atentas a esses aspectos materiais,
que podem chamar à atenção no momento da leitura.
Ainda é necessário despertar a consciência fonológica, destacar que
diferentes letras produzem sons diferentes, desenvolver o princípio alfabético da
grafia e do som que há na palavra. Pronunciar as palavras e escrevê-las ajuda a
criança a decodificá-las e entender que elas dão fluência e ritmo ao texto; deve-
se trabalhar com rimas, trava línguas, repetição de vogais e consoantes em início
de palavras. Esse é um trabalho que pode ser feito com poesias e canções,
levando as crianças a perceberem que essa repetição de consoantes e vogais
representa uma ideia no texto. Por exemplo, no texto abaixo, a repetição do
fonema /P/ representa o som que o pato faz; a repetição do fonema /A/ com o /P/
traz a representação do som do pato. Esses e outros recursos podem ser
cantados e recitados, levando as crianças a perceberem que os jogos de letras e
sons são recursos para construção de sentido.
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Tantas fez o moço Pulou do poleiro
Que foi pra panela No pé do cavalo
Quá! Quá! Quá! Quá Quá! Levou um coice
Quá! Quá! Quá! Quá Quá! Criou um galo
Quá! Quá! Quá! Quá Quá! Comeu um pedaço
Lá vem o Pato De jenipapo
Pata aqui, pata acolá Ficou engasgado
Lá vem o Pato Com dor no papo
Para ver o que é que há Caiu no poço
Lá vem o Pato Quebrou a tigela
Pata aqui, pata acolá Tantas fez o moço
Lá vem o Pato Que foi pra panela
Para ver o que é que há Caiu no poço
O Pato pateta Quebrou a tigela
Pintou o caneco Tantas fez o moço
Surrou a galinha Que foi pra panela. (Moraes,
Bateu no marreco 2004, p. 12)
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Saiba mais
PALAVRA Cantada | Linhas e Letrinhas. Palavra Cantada Oficial, 4 set. 2013.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZpA64xZ2LW0>. Acesso em:
29 jun. 2018.
BRINCAR de ler. Ernesto, 22 abr. 2014. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=auT2TvlNuqg>. Acesso em: 29 jun. 2018.
BÊ-Á-BÁ – Toquinho. Baldonari, 21 fev. 2010. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=_Oe1G3wjRXg>. Acesso em: 25 nov. 2022.
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Ao observar as imagens acima, para muitos de nós não há estranhamento.
Porém, como as crianças entenderiam que, um dia, as memórias eram
preservadas nessas fitas VHS? Ou que esse porta-caneta foi criado com base em
uma fita K-7, que foi substituída pelo CD, pelo pen-drive e, mais atualmente, pelo
cartão de memória? Isso quer dizer que, se não houver conhecimento do que está
sendo tratado, ou do objetivo ao fazer referência a um texto, ou de expressões
que fazem parte de outro contexto histórico, as relações de sentido podem gerar
outras compreensões que nem sempre são aquelas que estão expostas no texto.
Comprovamos, assim, que o contexto de produção e o contexto de uso são
diferentes, podendo remeter a outras construções de sentido.
Uma atividade interessante para desenvolver com as crianças seria o
professor guardar a primeira produção de texto que a turma fizer durante o ano.
No último bimestre de aulas, o professor devolve os textos para os alunos e
conduz uma discussão que os faça refletir sobre como produziram aquele texto, o
que queriam dizer naquele momento; por fim, pode pedir para que reescrevam o
texto e comparem as duas versões. É uma atividade que os levará a perceber o
texto como processo e a variação dos sentidos de acordo com as circunstâncias.
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3. O local do texto é o lugar representado na escrita: como o autor
contextualiza para quem escreve, em que lugar o interlocutor desse texto
se encontra.
4. O contexto histórico será exposto também; portanto, por meio do texto de
cada criança é possível perceber o mundo em que ela vive.
5. Por último, mesmo que inconscientemente, a criança tenta convencer, por
meio do seu texto, que ela é capaz de justificar o porquê de escrever desse
ou daquele modo; sempre que se escreve, a escrita tem uma finalidade,
seja ela de convencer, de informar, de argumentar etc.
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Como afirmam Koch e Elias (2007, p. 35), “A leitura é uma atividade de
construção de sentido que pressupõe a interação autor-texto-leitor, logo é preciso
considerar além de pistas e sinalizações que o texto oferece, considerar os
conhecimentos do leitor”.
5.1 Leitura
Ao longo desta aula, buscamos mostrar que a leitura é uma atividade que
necessita da intensa participação do leitor, já que, se o autor deixar lacunas no
texto, é necessário que o leitor complete esses vazios por meio de uma série de
contribuições.
O processo de leitura implica conhecimentos armazenados na memória do
leitor e, como leitores, estabelecemos com o autor uma série de conhecimentos
implícitos que vão sendo inferidos ao longo do texto. Nesse sentido, afirmarmos
que a leitura é um processo dialógico, o qual exige que leitor e autor interajam de
maneira dinâmica e que estejam de algum modo interligados, ou seja, que haja
conhecimento compartilhado.
O contato com a leitura aumenta a percepção de contato com o mundo: ao
ler, o sujeito estabelece maior relação com o mundo, uma vez que vai construindo
sentido para os textos que o cercam, potencializando a criatividade, o
posicionamento crítico, a construção cultural. Como diz Freire (1997, p. 11), “A
leitura do mundo precede a leitura da palavra”. O ato de leitura significa atribuir
sentido ao texto, relacionando-o com os contextos e experiências do leitor.
O professor tem papel fundamental nesse processo, mostrando à criança
o universo novo que a cerca, ampliando a percepção dela em relação ao mundo.
Ele tem o papel de interligar a leitura com os interesses da criança e com as suas
necessidades, porque a leitura é muito mais que decifrar os sinais gráficos, que
decodificar as palavras, visto ter papel fundamental em formar um sujeito crítico,
político, social, cultural, histórico, que interage e constrói sentidos por meio da
linguagem.
Antes mesmo da alfabetização, a criança já realiza a leitura a seu modo –
é o que Soares (2011, p. 32) chama de “práticas de letramento”: o bebê já percebe
que o mundo é lido porque observa o mundo que o cerca. Ele ainda observa os
gestos dos pais e os representa a seu modo, com gestos, movimentos, sons.
Sendo assim, o processo de aprendizado da leitura inicia-se com a percepção de
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que não é somente por meio de sinais gráficos que se lê, mas de gestos,
movimentos, expressões etc.
Quando o professor oferece a leitura às crianças, ele contribui para a
construção de um mundo mais justo, com as mesmas oportunidades de acesso
ao conhecimento. Deve-se oferecer a leitura do mundo, levando a criança a
observar tudo ao seu redor o tempo todo: passear nos entornos da escola; mostrar
os desenhos nos muros e solicitar que cada criança construa sentidos para os
desenhos; observar os pedestres que transitam pelas ruas e como leem os sinais
de trânsito; auxiliar um idoso a atravessar rua; verificar como é o comportamento
dos ciclistas, dentre outras situações, são momentos em que as crianças mesmas
destacam quais foram suas “leituras” do entorno da escola. Nessa ação de
oferecer a leitura, propõe-se à criança condições para ser um ser da linguagem,
que pode transformar o mundo por meio do pensamento, da criatividade e da
imaginação.
5.2 Texto
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Neste nosso estudo, partimos da concepção da Linguística Textual (Koch;
Elias, 1990, 2007, 2011), em uma perspectiva sócio-histórica atual, que mescla e
conversa diretamente com a Análise do Discurso. Assim, o objetivo do texto, por
esse viés, é o de levar o leitor a coconstruir sentidos, porque os discursos que
compõem um texto se mesclam aos discursos dos inúmeros leitores desse texto.
Desse modo, num texto, o significado de uma parte não é autônomo, mas
depende de outras que se correlacionam. Devemos considerar ainda que o
significado global de um texto não é resultado de mera soma de suas partes – isto
é, das palavras, orações, períodos, parágrafos –, mas de uma combinação
geradora de sentidos (discursos que constituem o autor).
Assim, quando falamos de texto, falamos de leitura, e vice-versa, porque
ambos são conceitos indissociáveis. Quem escreve, escreve para ser lido, já que
o texto é uma exposição de sentidos que exige a leitura para seu reconhecimento.
Cada texto escrito estabelece diferentes leitores e diferentes sentidos, e essa
ampla constituição de textos possibilita ao professor uma infinidade de gêneros
para trabalhar, visando formar leitores críticos desde a alfabetização.
Vale ainda ressaltar que o texto não é passivo; por conseguinte, nem a
leitura o é – há uma interação entre autor-texto-leitor altamente complexa.
Textos dependem de coesão, coerência, sentido, discursos, ideologias,
conhecimentos individuais e conhecimentos universais. Cada texto é produzido
por um sujeito num dado tempo e espaço, dependendo da “língua(gem)”, das
escolhas de tipologias e dos gêneros, fenômenos que começamos a discutir nesta
aula e continuaremos ao longo deste curso.
FINALIZANDO
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Na sequência, apresentamos estratégias e objetivos de leitura,
comprovando que ler é muito mais que decodificar signos linguísticos. Essas
estratégias ajudam a elencar os fatores para a compreensão de leitura, e os
objetivos começam a desvelar os segredos do texto, além de suas correlações
com os conhecimentos e saberes de mundo.
Também nos atemos a mostrar que leitura e produção, muito embora sejam
faces da mesma moeda, exigem a contextualização de múltiplos saberes,
conhecimentos partilhados, históricos, enciclopédicos etc., saberes que se
constroem à medida que interagimos e dialogamos com inúmeros textos em
diversas situações de uso.
Por fim, esclarecemos que o texto é um conceito complexo, porém
necessário para nossas práticas diárias.
LEITURA COMPLEMENTAR
19
Saiba mais
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REFERÊNCIAS
FREIRE, P. A importância do ato de ler. 34. ed. São Paulo: Cortez, 1997.
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