Alex Vaz2022
Alex Vaz2022
Alex Vaz2022
CASCAVEL - PR
2022
ALEX MENEGHETE VAZ
CASCAVEL-PR
2022
Dedico esta pesquisa a todos que, de forma direta ou indireta, participaram
desta caminhada. A vocês, meu mais sincero “obrigado”!
Palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia.
Capazes de ferir e de curar.
(Alvo Percival Wulfrico Dumbledore)
Agradecimentos
Ao Weverton Borges Santana, que passa por todos os percalços junto a mim, sem
largar a minha mão;
À minha família, o quarteto que mais amo nesta vida, minha mãe Dirce, meu irmão
Alexandre, minha cunhada Rosilene e minha sobrinha Alice, que trouxe para nossas
vidas um mundo de maravilhas;
Aos meus amigos, que em todos os momentos estão disponíveis a estender a mão e
reestruturar minhas bases: Ana Caroline Montrezol Diniz, Amanda Kristensen de
Camargo, Gabriele Cristine Rech, Rosely Sobral Gimenez Polvani, Pamela Tais Clein
Capelin, Tatiana Bilhar, Débora Xavier, Rafaella Salvini Malacarne entre tantos outros
que o mestrado me proporcionou;
Ao grupo distinto de amigos de longa data: Fábio Henrique Regazolli Flamia (e Agda
Godoi Ribeiro), Andrey Bonfante Borio (e Aline Peixer), André Bonfante Borio, João
Vitor Borges (e Day), Daniel Rodrigues, Lucas Matheus Echhardt, Marco Antônio
Jorden e Gustavo Henrique;
Aos amigos e amigas que sempre fazem diferença em minha vida: Karla Martins,
Thaisa Santos, Caroline Bernegossi (mamãe do Pedrinho), Mayara Artunk (mãe dos
gêmeos Pedro Henrique e Bernardo), Laldeci de Almeira Mattei (incentivadora nata),
Tatiane Haubrick Tibério entre tantas outras pessoas que fazem parte da minha vida;
Ao professor Paulo Nunes da Silva, primeiro por me auxiliar disponibilizando sua obra
para que eu pudesse dar continuidade à minha escrita, segundo, por ter aceitado
participar como avaliador desta fase da minha vida acadêmica;
À minha orientadora, Márcia Sipavicius Seide, por sempre estar de olhos e mentes
abertas para o meu texto. As linhas que utilizo para agradecê-la não são suficientes
para demonstrar minha gratidão por acreditar no meu potencial e me direcionar
sempre para frente! Seus ensinamentos sempre me acompanharão. “Avante!”;
Por fim, à Capes, já que o presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de
Financiamento 001.
MENEGHETE, Alex Vaz. O gênero comentário interpretativo-crítico em redações
do vestibular da Unioeste: um estudo exploratório. 2022. 282f. Dissertação
(Mestrado em Letras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste,
Cascavel, 2022.
RESUMO
A redação de vestibular é vista por muitos pré-vestibulandos como uma das práticas
de produção textual mais complexas e desafiadoras pela qual os egressos do Ensino
Médio, que pretendem pleitear uma vaga em um curso superior, de Instituições de
Ensino Superior privadas ou públicas do país, passam durante o percurso acadêmico.
Além disso, muitas instituições exigem a escrita de exemplares de gêneros
específicos, como é o caso da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste),
a qual utiliza em suas provas de redações gêneros de tipologia predominantemente
argumentativa, como o artigo de opinião, a carta do leitor e o comentário interpretativo-
crítico (CIC), sendo este último nosso objeto de estudo. Utilizado pela primeira vez na
prova de redação do Concurso Vestibular 2015, o CIC é o gênero menos escolhido
pelos vestibulandos nas provas de redação da Unioeste. Isso se deve pelo fato de ser
um gênero novo e sem exemplares totalmente equivalentes circulando em âmbito
social, além de não ser um gênero escolar, o que deixa o vestibulando sem bases
teóricas ou práticas para produzir um exemplar deste gênero. Por isso, o intuito desta
pesquisa qualitativa de cunho interpretativista é analisar exemplares do gênero CIC
da prova de redação da Unioeste para identificação de sua constitutividade e
descrição de suas características, com o intuito de, posteriormente, subsidiar
estratégias pedagógicas em sala de aula. Para o alcance deste propósito, foram
delineados os seguintes objetivos específicos: explicitar as características situacionais
do gênero, analisar um corpus de 25 redações pertencentes ao gênero CIC e elaborar
um Modelo Didático do Gênero CIC. A fundamentação teórica desta pesquisa está
baseada no quadro teórico-metodológico do Interacionismo Sociodiscursivo, nas
contribuições da Linguística Textual e da Gramática Normativa da Língua Portuguesa.
Foram especialmente úteis a esta pesquisa os aportes teóricos de Bronckart (2007),
propulsor do ISD, Cristovão (2001) e Machado (2004, 2009). Com relação ao modelo
didático, a investigação se pautou em Cristovão e Machado (2009), as quais abordam
o MDG com base na análise preconizada pelo ISD, Dolz e Schneuwly (2004), de
Pietro, Érard e Kaneman-Pougatch (1996/1997) e de Pietro e Schneuwly (2003). Com
base nos resultados, temos, como principais características dos CIC prototípicos, a
utilização de uma estrutura basilar de redações de concursos vestibulares de tipologia
argumentativa (introdução, desenvolvimento e conclusão) e seus elementos
constitutivos – a tese/ponto de vista, os argumentos e o fechamento das ideias. Além
disso, há retomadas do texto analisado/comentado/interpretado ou da temática,
proposta pela consigna. Ao longo da redação, há algumas estratégias argumentativas
interdisciplinares e maior adesão aos critérios de correção da banca examinadora da
Unioeste. Espera-se que a proposta de MDG CIC possa auxiliar professores da
educação básica ou de cursinhos preparatórios, por exemplo, a elaborarem
estratégias de ensino de produção de CIC voltados para a prova de redação dos
Concursos Vestibulares da Unioeste.
ABSTRACT
The entrance exam writing is seen by many pre-university students as one of the most
complex and challenging textual production practices by which high school graduates,
who intend to apply for a place in a higher education course, from private or public
Higher Education Institutions in the country, pass during the academic path. In
addition, many institutions require the writing of copies of specific genres, as is the
case of the Western Paraná State (Unioeste), which uses genres of predominantly
argumentative typology in its essay tests, such as the opinion article, the letter from
the reader and the interpretive-critical commentary (CIC), the latter being our object of
study. Used for the first time in the writing test of the 2015 Entrance Exam Contest,
CIC is the least chosen genre by university students in the Unioeste writing tests. This
is due to the fact that it is a new genre and without totally equivalent copies circulating
in the social sphere, in addition to not being a school genre, which leaves the entrance
exam without theoretical or practical bases to produce an example of this genre.
Therefore, the purpose of this qualitative research with an interpretive nature is to
analyze copies of the CIC genre of the Unioeste writing test to identify its constitutive
nature and describe its characteristics, in order to subsequently support pedagogical
strategies in the classroom. In order to achieve this purpose, the following specific
objectives were outlined: explanation of the situational characteristics of the genre,
analysis of a corpus of 25 essays belonging to the CIC genre and the elaboration of a
Didactic Model of the CIC genre. The theoretical foundation of this research is based
on the theoretical-methodological framework of Sociodiscursive Interactionism in the
contributions of Textual Linguistics and Normative Grammar of the Portuguese
Language. The theoretical contributions of Bronckart (2007), proponent of the ISD
Cristovão (2001) and Machado (2004, 2009), were especially useful for this research.
Regarding the didactic model used in the research, the investigation was based on
Cristovão et al. (2006), which approach the MDG based on the analysis recommended
by the ISD, Dolz and Schneuwly (2004), Pietro, Érard and Kaneman-Pougatch
(1996/1997) and Pietro and Schneuwly (2003) and Adam (2011, 2019). Based on the
results obtained from the analysis of the CIC, we have, as main characteristics of the
prototypical CIC, the use of a basic structure of essays of argumentative typology
entrance exams (introduction, development and conclusion) and its constitutive
elements - the thesis / point of view, arguments and the closure of ideas. In addition,
there are retakes of the analyzed/commented/interpreted text or of the theme,
proposed by the consignment, throughout the writing, some interdisciplinary
argumentative strategies and greater adherence to the correction criteria of the
Unioeste examining board. It is expected that the MDG proposal of the CIC genre
made throughout this dissertation can help teachers of basic education or preparatory
courses, for example, to develop teaching strategies for the production of CIC aimed
at the writing test of Unioeste's Entrance Exams.
KEYWORDS: Entrance exam essay; Interpretive-critical commentary; Sociodiscursive
Interactionism; genre description.
LISTA DE QUADROS
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 16
INTRODUÇÃO
1 Tal sigla foi elaborada com o intuito de não haver a necessidade de repetições constantes do nome designado
ao gênero objeto desta pesquisa. Além disso, estamos nos referindo ao CIC da prova de redação do Concurso
Vestibular Unioeste justamente para distinguir este gênero de outros tipos de comentários.
17
2 Para ter acesso às redações é preciso fazer um pedido formal ao setor de concursos da instituição que então faz
uma seleção aleatória e automática de 100 redações do concurso vestibular solicitado.
3 Em francês, Activité langagière, textes et discours. Pour un interactionisme socio-discursif.
4 Os referentes anos são, respectivamente, “A Linguística Textual: introdução à análise textual dos discursos” e
configurações. No contexto da nossa pesquisa, características têm a ver com as particularidades dos exemplares,
dito de outro modo, elas são formas subjetivas escolhidas pelo produtor para a construção da redação, quantidade
e formas dos parágrafos e recursos linguísticos-discursivos, por exemplo. Já a constitutividade são as propriedades
basilares de um gênero específico, ou seja, propriedades que distinguem um gênero do outro.
19
entre 1919 e 1929, com foco nos estudos da linguagem, literatura e arte. Pertenciam ao Círculo o linguista Valentin
Volochinov (1895-1936), os teóricos literários Pavel Medvedev (1891-1938), Mikhail Bakhtin (1895-1975) entre
outros.
21
9 A sede da Unioeste fica em Cascavel, mas também possui campus em Foz do Iguaçu, Marechal Cândido Rondon,
Toledo e Francisco Beltrão, todas cidades localizadas no Oeste do Paraná, com exceção desta última, que se
localiza a sudoeste do estado.
10 Todas essas questões serão melhor explicitadas no capítulo metodológico.
23
teóricas e, depois, práticas para a elaboração do MDG do gênero CIC para chegarmos
às configurações deste, alicerçando-nos às análises do contexto de produção, plano
discursivo e estilo linguístico de cinco exemplares de CIC pertencentes à categoria
prototípica, um exemplar de categoria mediana e um exemplar de categoria não
prototípica. Encerramos esta Dissertação com nossas considerações finais.
25
1. PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO
Em concordância com Rojo (2007), Signorini (1998) revela que o melhor modo
de se analisar enunciados, ou discursos, como mencionado por Rojo, é mantê-los a
seus vínculos contextuais, e é por este motivo que consideramos as abordagens
utilizadas por nós essenciais para entendermos o uso da linguagem no gênero CIC
como forma de compreendermos sua constitutividade. Além disso, a concretização
dos nossos objetivos trará importantes descobertas sobre o nosso objeto, o qual
objetivamos explicitar suas propriedades situacionais e textuais, com o intuito de
auxiliar os futuros vestibulandos na produção de exemplares deste gênero.
Na próxima seção, abordaremos os motivos de considerarmos esta pesquisa
como exploratória.
Para compor nosso corpus, foi necessário obter uma amostra de redações do
gênero, isto foi feito mediante solicitação formal ao setor de concurso vestibular da
Unioeste, que nos enviou uma seleção gerada automaticamente de cem redações do
vestibular de 2018 e cem redações do vestibular de 2019. Considerando que as
redações do vestibular são documentos, foi adotado o tipo de pesquisa documental,
já que utilizamos materiais inéditos, isto é, redações produzidas durante os concursos
vestibulares da Unioeste que não foram utilizadas em pesquisas anteriores (GIL,
2008).
31
A leitura dos documentos não serviria, pois, para nada se fosse feita
com idéias preconcebidas... A sua única habilidade (do historiador12)
consiste em tirar dos documentos tudo o que eles contêm e em não
lhes acrescentar nada do que eles não contêm. O melhor historiador
é aquele que se mantém o mais próximo possível dos textos. (LE
GOFF, 1990, p. 536, grifos do autor).
11 Nesta pesquisa, a palavra documento se refere a todo e qualquer material, escrito ou multimodal, que possa ser
utilizado no âmbito de pesquisas acadêmico-científicas. Sendo assim, os exemplares de CIC da Unioeste que
compõem nosso corpus de pesquisa são tidos como documentos passíveis de análises nas mais diversas e
possíveis perspectivas teórico-metodológicas.
12 Entendemos o termo historiador, de Le Goff, como todo pesquisador que se utiliza de documentos para
15 Na concepção de Cellard (2008), documento e texto são sinônimos. Nesta pesquisa, utilizamos as palavras
texto, documento e corpus para nos referirmos aos exemplares de redações pertencentes ao gênero CIC.
34
motivos para produzi-los (CELLARD, 2008). O foco dessa segunda dimensão para a
análise preliminar de um documento é justamente possibilitar que a identidade do
produtor seja clara e precisa, com o intuito de dar maior credibilidade ao texto e
também direcionar o pesquisador a interpretações que sejam condizentes aos fatos.
Além do que, outra questão levantada por Cellard (2008) é o motivo de tais
documentos serem escolhidos em detrimento de outros. Nesse sentido, é importante
deixarmos claro, dentro de um estudo acadêmico-científico, as razões de escolha do
corpus.
A autenticidade e a confiabilidade do texto, que constituem a terceira dimensão
abordada por Cellard (2008), nos remete a procedência dos documentos. Tal
dimensão auxilia na identificação da fonte e da autenticidade do corpus,
principalmente quando relacionado à veracidade de transcrição dos materiais de
análise, por exemplo.
Na penúltima dimensão de análise preliminar, a natureza do texto, Cellard
(2008) considera o suporte e o contexto em que o texto é produzido algo necessário
antes de alegações finais sobre o documento. Para embasar este fundamento, o autor
leva em consideração "[...] a abertura do autor [do texto], os subentendidos [e] a
estrutura de um texto [que] pode variar enormemente, conforme o contexto no qual
ele é redigido" (CELLARD, 2008, p. 302). Dessa forma, compreendemos que cada
documento possui uma natureza distinta e estruturas que condizem ao contexto em
que é produzido, o que não poderia ser diferente, já que todo texto pertence a um
gênero, a uma forma de comunicação humana que circula nas mais diversas e
distintas esferas sociais.
Os conceitos-chave e a lógica interna do texto constituem a última dimensão,
cujo enfoque é a precisa análise semântica dos termos empregados em um
documento pelo autor, ou autores, o que se justifica pelas mudanças linguísticas que
ocorrem ao longo do tempo, portanto, deve-se levar em conta todo o contexto que
envolve o texto, como ele está estruturado, toda organização em si, o modo como as
ideias estão expostas, os tópicos frasais, a argumentação etc. No âmbito estrutural do
texto, é preciso esclarecer que “Essa contextualização pode ser, efetivamente, um
precioso apoio, quando, por exemplo, comparam-se vários documentos da mesma
natureza” (CELLARD, 2008, p. 303), como fizemos nesta pesquisa.
35
16Segundo o dicionário eletrônico Houaiss da LP (2009), dissertar é o ato de expor, discutir, discorrer, por meio
da escrita ou da fala, um tema ou um assunto. Nesse sentido, Pestana (2018) menciona que há duas formas de
produzir uma dissertação: ou por meio de exposição, com o intuito de explicar ou informar algo sobre um
tema/assunto, ou mediante a argumentação, objetivando convencer/persuadir o interlocutor, defendendo uma
tese/ponto de vista acerca de um tema/assunto.
36
17 O Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Unioeste tem como objetivo planejar, a médio prazo, os
norteamentos da instituição em seus processos decisórios por meio de ações políticas, dentro de princípios e
finalidades que auxiliam no desenvolvimento da instituição e que reafirmem a identidade da Unioeste como uma
“instituição pública, gratuita e de qualidade comprometida com a produção, sistematização e disseminação de
39
conhecimentos em prol do desenvolvimento humano e tecnológico da região onde está inserida”. (CASCAVEL,
2018, p. 7).
40
18Ficaram responsáveis por esta revolução os professores da área de Letras Ivo José Dittrich, Izabel Cristina
Souza Gimenes, João Carlos Cattelan e Mário Candido Athayde Júnior, pertencentes, respectivamente, aos
campus de Foz do Iguaçu, Toledo, Marechal Cândido Rondon e Cascavel. É preciso acrescentar que não havia
um representante do campus de Francisco Beltrão por este ser o único, à época, que não possuía o curso de
Letras.
41
das redações, mas também com relação aos atuais gêneros cobrados nos Concursos
Vestibulares, sendo eles o Artigo de opinião, a Carta do leitor e o CIC.
No panorama das propostas de redação dos Concursos Vestibulares da
Unioeste, a partir dos dados que conseguimos levantar até então, de 1998 a 2005, a
prova de redação trazia três propostas relacionadas à tipologia textual e a um único
gênero textual, a carta. A partir de 2009, iniciou-se a utilização de apenas duas
propostas e a inserção de outros novos gêneros, com exceção do Concurso Vestibular
do ano 2000 19, o qual também possuía apenas duas propostas, uma relacionada à
tipologia dissertativa e outra à carta, como mostra o quadro 3.
19 Anterior ao ano 2005, em todas as provas de redação do Concurso Vestibular da Unioeste, havia três proposta,
porém, em 2000, temos apenas duas propostas.
20 Durante as nossas buscas, não tivemos acesso às propostas de redação dos anos 1989 a 1997.
21 Equivalente ao texto dissertativo-expositivo.
22 Nesta proposta, o vestibulando precisava escrever uma propaganda a partir de elementos da narrativa.
23 Na proposta 2, do concurso vestibular de 1999, o vestibulando foi incumbido de redigir um texto narrativo que
tivesse, no mínimo, os elementos espaço, tempo, conflito e personagens, porém não especifica o gênero, podendo
ser um conto, uma fábula ou uma crônica, por exemplo.
24 Mesmo caso da proposta 2 da prova de redação do concurso vestibular de 1999.
25 Igual à proposta 2 do concurso vestibular de 1999.
42
exemplo, cujo objetivo era o de instruir os candidatos que tinham o intuito de ingressar
à universidade em 2020 por meio do vestibular, havia todas as informações
necessárias para nortear desde os conteúdos a serem estudados até o momento
efetivo da matrícula (UNIOESTE, 2019)
A redação não tem como objetivo apenas qualificar a escrita do candidato e
estabelecer se ela está de acordo com a norma-padrão de escrita da LP, mas sim o
de avaliar a capacidade de se comunicar em diferentes panoramas comunicacionais,
sendo avaliadas a forma de interação, a organização das ideias e informações no
texto, se as relações estão bem estabelecidas, a interpretação de dados e fatos e a
elaboração de argumentos em determinada situação de interação, tudo isso
interligado aos processos de leitura que, consequentemente, auxiliam na escrita.
Acrescenta-se a isso, a informação de que os gêneros exigidos na prova de redação
da Unioeste tentam produzir rupturas com os paradigmas formalistas de ensino da
língua, os quais desprezam o sujeito como ser social, cultural e histórico, motivo pelo
qual adotamos o ISD como principal enquadramento teórico, dado que tal teoria
concebe as interações sociais entre os seres humanos como dependentes das
práticas discursivas.
Além do mais, o Manual do Candidato (UNIOESTE, 2019) explica que o
vestibulando precisa ficar atento às características do gênero que escolher para
elaborar sua redação, não podendo se esquecer da situação social em que o texto
será produzido, onde ele circulará e será recepcionado por seus interlocutores, se o
texto atende ao tema proposto, que tipo de interação se deseja por meio das escolhas
lexicais e pelo estilo da linguagem. Essas informações estão dispostas, mais
especificamente, no item relacionado aos critérios de correção, como veremos no
quadro 4.
26 As discussões sobre mecanismos de realização textual, parâmetros de gênero e marcadores de gênero estão
no capítulo teórico.
46
O plano abstrato tem como objeto de análise o gênero, utilizando sua própria
constitutividade para descrevê-lo, ou seja, os parâmetros do gênero. Já o plano
empírico objetiva analisar o texto com base nos mecanismos de realização textual e
nos marcadores de gênero (SILVA, 2012).
Cumpre esclarecermos que o início de uma pesquisa sobre um gênero
determinado a partir do plano abstrato do gênero, abordagem descendente,
preconizada pelo ISD (SILVA; SANTOS, 2015), é possível quando já existem
descrições da constitutividade do gênero. Este não é o caso do gênero CIC, o qual
ainda não possui dados suficientes para a comprovação de como o gênero CIC da
Unioeste se constitui, há somente exemplares desse gênero. Esta peculiaridade nos
fez optar pela realização de um estudo exploratório sobre o gênero, pelo qual,
mediante uma abordagem ascendente, pudéssemos chegar à constitutividade do CIC.
Assim, não foi por outro motivo que consideramos o plano empírico, abordagem
ascendente de descrição do gênero CIC, como procedimento metodológico inicial.
Após identificada a necessidade de se utilizar como base metodológica a
análise de abordagem ascendente dos exemplares de CIC, partimos para as análises
dos exemplares segundo o quadro teórico-metodológico do ISD com base na
arquitetura interna do texto dividida em três estratos do folhado textual: a infraestrutura
geral do texto, os mecanismos de textualização e os mecanismos enunciativos. A
infraestrutura geral do texto ligada ao plano discursivo – a organização geral do
conteúdo – e os mecanismos de textualização e enunciativos conectados ao estilo
linguístico dos textos.
Para demonstrar os critérios de análise dos exemplares de CIC da Unioeste,
elaboramos um quadro que sintetiza a organização de um texto empírico segundo a
perspectiva de Bronckart (2007), como veremos a seguir.
27A prototividade das sequências tipológicas predominantes nos CIC teve como principal base Adam (2019).
28Destacamos que, durante as análises dos CIC da Unioeste, não nos preocupamos em identificar os tipos de
modalizações presentes nos textos, se lógica, deôntica, pragmática ou apreciativa, já que o foco era a identificação
de palavras ou conjunto de palavras que exemplificassem formas de modalizadores discursivos.
48
Se quiser deixar um vestibulando de cabelo em pé, fale com ele sobre o exame de
redação. Se quiser atiçar os ânimos de um severo professor de gramática, pergunte
a ele sobre a qualidade das redações escolares. Se quiser provocar um linguista,
diga-me que “o estudante de hoje não sabe mais escrever”.
(Luiz Percival Leme Britto)
29Apesar de Geraldi não mencionar em Portos de Passagem o gênero em si, a perspectiva do autor coaduna com
o gênero pela abordagem sociointeracionista de linguagem.
50
Tais “condições” fariam com que o aluno estivesse efetivamente em seu papel
de sujeito-locutor, como demonstrado por Geraldi.
30 Vale ressaltar que Bronckart se baseia no Interacionismo Social de Vygotsky ao tratar da Psicologia da
Linguagem.
31 Bronckart também pontua suas ideias sobre as ações humanas da linguagem nas concepções do Círculo de
naquela teoria, já que se trata de uma ciência transdisciplinar, visto que “A principal
idéia defendida é a de que o desenvolvimento dos indivíduos ocorre em atividades
sociais, em um meio constituído e organizado por diferentes pré-construídos e através
de processos de mediação, sobretudo os linguageiros” (MACHADO, 2009, p. 47), ou
seja, por meio textos pertencentes a um determinado gêneros de texto (BRONCKART,
2007).
Para Bronckart (2007), toda realização verbal, que se efetiva como
comunicação humana, é uma ação real do uso da linguagem, a isso dá-se o nome de
texto. Dito de outra forma, ainda segundo o autor, o texto é produto empírico, seja por
meio da oralidade ou da escrita, situado e dependente de um contexto específico,
sendo composto por sentenças que se articulam entre si com base em princípios
composicionais segundo normas e convenções de uma língua. Com base nisso,
Fonte: Elaborada e adaptada pelo autor com base em Bronckart (2007), Cristovão et al. (2006),
Machado e Cristovão (2009) e Barros (2012)
Com base na figura acima e nos estudos de Machado (2005, p. 238), a qual
defende que “o ISD não toma os gêneros de textos como sua unidade de análise
privilegiada nem considera que sua análise seja seu objetivo maior”, mas sim as
capacidades de linguagem necessárias para que as interações sociais se realizem,
são essas capacidades que fazem com que os indivíduos consigam se comunicar de
forma eficiente e mais consistente por meio de ações de linguagem diante dos demais
sujeitos em meio a uma esfera de comunicação.
Dolz e Schneuwly (2004) refletem sobre essas questões ao revelarem que
32 É preciso mencionar, com base em Cristovão (2013), que há também a Capacidade de Significação, relacionada
aos sentidos do texto por meio de contextos variados, como o ideológico, o histórico, o social, o cultural, o
econômico etc. Não utilizamos a Capacidade de Significação pelo fato de termos utilizado obras anteriores a essa
expansão das capacidades de linguagem.
59
33 As demais questões estão explicitadas e diluídas/exemplificadas no capítulo posterior, junto às análises do nosso
corpus com base no MDG adaptado a partir das concepções didáticas do ISD de acordo com Machado e Cristovão
(2009).
34 É preciso mencionar que as noções de mundos, para Bronckart (2007), estão, principalmente, embasadas na
38 Marcas enunciativas.
39 Quando não há participação direta do agente-produtor no ato enunciativo, ele apenas reverbera o enunciado
alheio.
40 Quando há participação direta do agente-produtor no ato enunciativo.
61
integralmente.
44 Não há a necessidade de o interlocutor estar a par do contexto de produção para que o texto possa ser
interpretado integralmente.
62
45 Os discursos interativos são aqueles que demonstram a interação entre os sujeitos produtores dos enunciados,
muito comuns nos discursos orais, porém também podem ser escritos – uma interação entre personagens em um
livro de romance, por exemplo.
46 Nos discursos teóricos, o agente-produtor não precisa fazer contextualizações para que haja compreensão do
50 Com base em Adam (1992), Bronckart (2007) utiliza as protovidades das sequências tipológicas narrativa,
descritiva, argumentativa, explicativa e dialogal e acrescenta a tipologia injuntiva – não mencionada por Adam.
Porém, é preciso mencionar que outros autores reconhecem essas tipologias e ainda outras classificações como
tipologias textuais, a saber: expositiva (MARCUSCHI, 2008); dissertativa (podendo ser expositiva ou
argumentativa) (KLEIN; CAVAZOTTI, 2006; KÖCHE; BOFF; MARINELLO, 2014; PESTANA, 2018); preditiva
(KÖCHE; BOFF; MARINELLO, 2014).
65
Nesta seção, nosso propósito é demonstrar como os gêneros que podem ser
solicitados durante as provas de redação dos Concursos Vestibulares da Unioeste
são constituídos segundo os critérios de correção da banca avaliadora, ou seja, como
os gêneros artigo de opinião, carta do leitor e CIC se estabelecem segundo sua
constitutividade e suas características.
Contudo, cabe mencionarmos que não nos aprofundaremos nos tópicos
relacionados ao gênero CIC, já que o capítulo 3 desta dissertação se encarregou de
analisá-lo a fundo.
51 Bronckart (2007) menciona as modalizações lógicas, deônticas, pragmáticas e apreciativas, porém não é nosso
intuito identificá-las ou exemplificá-las em nossa pesquisa, apenas revelar que elas existem nas produções escritas
dos vestibulandos como modalizadores discursivos.
52 Muitos artigos de opinião também são publicados em blogs.
53 Na visão de Oliveira e Cunha (2020), um discurso polêmico é aquele constituído por muitas opiniões divergentes,
sem que se chegue a uma resolução. Em um discurso polêmico, não há espaço para opiniões contrárias e todo
discurso inverso ao discurso daquele que gera tal polêmica é excluído.
69
54 A sinalização de que o texto será publicado em um veículo de comunicação midiático, no site g1.globo.com.
71
55A contra-argumentação é uma estratégia argumentativa que consiste em expor um argumento e, logo em
seguida, refutá-lo “a fim de mostrar que a tese defendida (a contra-argumentação) é melhor que a refutada
(PESTANA, 2018, p. 972).
74
Apesar de não termos feito uma análise minuciosa deste exemplar de artigo de
opinião segundo todos os critérios de correção da banca (Situação social de produção,
aspectos textuais e norma-padrão da LP) nem termos avaliado o texto como um todo,
percebe-se que a estrutura e as principais características linguísticas do artigo,
preconizados por Köche, Boff e Marinello (2014), estão presentes no texto. Para
recapitular, temos: os operadores argumentativos (até então, pois, porém etc.), os
dêiticos (Desde os tempos mais remotos, outras etc.) e a predominância de verbos no
presente do indicativo (encontra-se, bate, surge, livra etc.) entre outros.
Em suma, o fato é que o artigo de opinião é realmente um gênero de grande
relevância para aqueles que pretendem prestar um concurso vestibular, não somente
na Unioeste, mas em diversas instituições de ensino superior. O uso da linguagem
por meio de exemplares desse gênero tem como intuito demonstrar se o vestibulando
está capacitado para se comunicar e interagir com os seus interlocutores de forma
crítica e concreta, defendendo suas ideias por meio de uma argumentação sólida,
ainda que de maneira simulada como nas provas de redação em vestibulares ou nas
produções realizadas em sala de aula.
Posteriormente, passaremos para as considerações sobre um outro gênero
exigido pela Unioeste: a carta do leitor.
56 Romanzoti (2014) menciona o uso desse tipo de correspondência entre os faraós e os estados vizinhos no
século XIV a.C. Porém, tais cartas só foram descobertas ao final do século XIX d.C. Informações disponíveis em:
https://hypescience.com/10-documentos-mais-antigos-do-seu-tipo/. Acessado em 15 jan. 2022.
75
Por meio de estudos desse gênero, com base em Doty (1973), White (1982) e
Stirewalt (1993), Bazerman (2006) recupera a história da carta mencionando que ela
era muito utilizada para os assuntos do Estado, tanto militares e administrativos
quanto políticos. O autor ainda explica que
Nesse sentido, a carta do leitor surgiu com o intuito de aproximar mais esses
“três atores sociais” mencionados pelo autor, mas principalmente para tornar os
leitores coautores dos processos interativos (COELHO E COSTA-HÜBES, 2018).
Nessa perspectiva, Marques de Melo e Assis (2010) esclarecem que as seções
76
57Um trabalho específico sobre o gênero comentário crítico on-line pode ser encontrado em Trevisan Ferreira
(2020).
84
60 Traduzido por nós do original em francês: analyser le matériau obtenu qui révèle des caractéristiques
pois “[...] Quanto mais o corpus for rico e variado, mais a observação se estenderá a
realizações textuais diversas correspondentes aos gêneros”.
Portanto, são as produções empíricas dos exemplares dos gêneros que nos
auxiliam a desvelar o que realmente é faltoso para o ensino da constitutividade e das
características de um gênero, ou seja, primeiro há o uso social da linguagem por meio
de exemplares, do texto em si, em determinada esfera de circulação social, somente
após isso o gênero se torna plausível de ser estudado concretamente segundo a
perspectiva do MDG. Em vista disso, é “A noção de gênero [que] permite articular a
finalidade geral de aprender a comunicar com os meios linguísticos próprios às
situações que tornam a comunicação possível” (DOLZ; SCHNEUWLY; HALLER,
2004, p. 148).
Os gêneros, no contexto educacional e como objetos ensináveis do MDG, são
considerados paradigmas que transpõe os indivíduos a trabalharem com elementos
que antes eram distantes, tanto da produção quanto da esfera a que o gênero
pertence. Dessa maneira, os discentes, além de se aproximarem da concretude de
produção e circulação do gênero, não de forma sintética, desmotivada e inverídica, se
adaptam a diferentes práticas da linguagem, intermediando e se ligando ao mundo
por meio dos mais diferentes gêneros. Isso nos remete ao conceito de engenharia
didática, cunhado por de Pietro e Schneuwly (2003).
O termo utilizado pelos autores, engenharia didática, está semanticamente
vinculado à ação de construção, com o intuito de estabilizar, explicitar e sistematizar
as características do MDG, visto que a significativa quantidade de gêneros, tanto orais
e verbais quanto verbo-visuais/multimodais, e suas mais distintas características
poderia ocasionar dificuldades em sua elaboração, por isso “O modelo didático de
gênero de um gênero a ensinar é, em primeiro lugar, um instrumento pragmático
forjado no decorrer de uma prática de engenharia 61” (DE PIETRO; SCHNEUWLY,
2003, p. 29).
Nesse sentido, há a necessidade de se respeitarem algumas características do
MDG, são elas: 1) a dimensão praxeológica do modelo, 2) a normatividade, 3) a
elaboração de forma implícita/intuitiva ou explícita/conceitualizada, 4) é o princípio e
o fim da didatização de um gênero, 5) teorização genérica da linguagem, 6)
modelagem em decorrência de realizações linguísticas passadas, desta maneira,
61 Traduzido do francês por Adail Vieira Gonçalves: Le modele didactique d’um genre à enseigner est em premier
lieu um outil pragmatique forgé au cours même d’une pratique d’ingénierie.
89
62 A respeito das nomenclaturas utilizadas para nomear o gênero, tira ou tirinha, Ramos (2017) explica que não há
um consenso entre pesquisadores da área sobre a terminologia, portanto são utilizadas por muitos como
sinônimas.
63 Alexandre Beck é engenheiro agrônomo e comunicador social, porém é popularmente conhecido como ilustrador
e cartunista, principalmente por ser o criador da personagem Armandinho, cujas tirinhas tratam de temas polêmicos
e de grande relevância social. Além disso, as “Tiras do Armandinho” circulam em várias esferas sociais, como a
escolar, a jornalística e em diversas redes sociais, como o Facebook, onde o autor possui uma página com mais
de um milhão de seguidores.
64 Criado em 2010 por professores de Filosofia da Universidade Federal do Amapá, o Blog Investigação Filosófica
está ligado ao Grupo de Pesquisa Investigação Filosófica (Diretório de Grupos de Pesquisa/CNPq), divulgando
uma série de artigos, traduções, resenhas, ensaios, podcasts, contos e outros gêneros relacionados à área
filosófica. Link: http://investigacao-filosofica.blogspot.com.
93
65 Fernando Bumbeers é formado em jornalismo pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas
(FMU). Entre os anos 2014 e 2015 trabalhou como repórter na Editora Globo, mais especificamente na Revista
Galileu, onde pautava e adaptava seus escritos em textos internacionais, como é o caso do texto utilizado como
“texto motivador” para a escrita de um exemplar de CIC na proposta 1 de 2019. O texto original foi produzido por
Hal Herzog, professor de psicologia da Western Carolina University, na Carolina do Norte, EUA, e tem como título
Some We Love, Some We Hate, Some We Eat: Why It's So Hard to Think Straight About Animals.
66 Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2015/04/por-que-gostamos-mais-de-pets-do-
No caso dos CIC, com base na análise do contexto físico de produção, temos
como lugares de produção os campi da própria instituição responsável pelo Concurso
Vestibular da Unioeste, além de dois outros locais, as cidades de Curitiba e Maringá.
A produção dos exemplares do gênero CIC ocorreu em dois Concursos Vestibulares
de anos distintos, 2018 e 2019, por candidatos às vagas de cursos superiores da
própria instituição.
Em se tratando do contexto sociossubjetivo dos CIC, o lugar de interação social
do gênero acontece quase que exclusivamente entre os produtores e a banca
corretora da instituição, salvo o caso mencionado no quadro acima. Além disso, os
CIC têm como momento histórico de interação a avaliação da redação pelos membros
corretores da banca, quando eles avaliaram os exemplares produzidos pelos
vestibulandos nos concursos vestibulares 2018 e 2019. Tal avaliação, feita a partir
dos critérios de correção, é iniciada pelos corretores das redações um dia após a
prova do vestibular.
Com relação à veiculação do CIC, é preciso enfatizar que, por ser um gênero
proposto pela Unioeste para a prova de redação dos Concursos Vestibulares, ele não
circula socialmente para além da universidade, já que o momento que o texto chega
às mãos do corretor é considerado uma forma de circulação. Além do mais, há um
segundo momento em que a redação do vestibular da Unioeste pode circular
socialmente, quando são utilizadas em pesquisas científico-acadêmicas, como de
mestrado ou de doutorado.
99
67Em uma pesquisa, publicada na Revista Gtlex, por Seide (2019), intitulada O ensino da avaliação de redações
escolares a partir do léxico, encontramos, em anexo, uma descrição sucinta do gênero CIC. Aqui utilizamos alguns
dos conceitos que a autora estabelece com relação à descrição deste gênero.
101
Ainda com relação à infraestrutura geral dos exemplares dos CIC, precisamos
esclarecer o tipo de discurso predominante e a sequência discursiva que predomina
neste gênero segundo a análise realizada dos exemplares prototípicos do CIC,
portanto abordamos o mundo discursivo, o grau de implicação e o tipo de discurso ao
qual o gênero pertence segundo o quadro do ISD.
O mundo discursivo que circunda o gênero CIC, como também todos os
gêneros de redações de vestibular, é o mundo do expor implicado. É implicado porque
há relações entre o mundo físico da ação da linguagem e conjunto ao mundo ordinário
do vestibulando, ou seja, existem referências dêiticas, como o produtor do texto, o
lugar de produção e o momento de produção do texto analisado, embora nem sempre
haja todas essas informações, e a predominância de verbos no presente, utilizados
pelos vestibulandos para expor suas ideias.
Quanto ao tipo de discurso predominante no CIC, percebemos a combinação
entre o discurso teórico e o discurso interativo. O primeiro, porque não há a
necessidade de o interlocutor estar situado sobre o contexto em que o texto é
produzido, muito menos identificar o produtor do texto. Já o discurso interativo ocorre
pelo motivo de o vestibulando precisar estabelecer conexões interativas entre os
argumentos que elenca na redação e o corretor da banca, para que este perceba
nitidamente o seu ponto de vista sobre a temática. Nessa interação, há a
predominância de verbos no presente do indicativo, o que é uma característica nítida
de gêneros cuja predominância discursiva se estabelece por meio da tipologia
argumentativa.
Por fim, analisaremos os estilos linguísticos de cada CIC Prototípico
detalhadamente e condensaremos as análises das categorias Mediana e Não-
prototípica em quadros-sínteses.
68Na LP, a elipse de sujeito é uma figura de linguagem, mais especificamente uma figura de sintaxe, na qual não
se utiliza um pronome do caso reto ou um substantivo, por exemplo, que especifique quem é o sujeito da oração,
portanto, é necessário analisar a desinência em que o verbo está flexionado para percebermos o sujeito da frase.
108
vestibulando insere uma circunstância temporal à forma verbal foram com o advérbio
de tempo já (linha 13) e acrescenta, com o advérbio de tempo ainda mais o verbo
prevalece (linha 13), que, apesar de todas as desconstruções, ainda prevalece o
machismo (linha 13), principalmente quando o assunto é a criação dos filhos, cuja
obrigação, como argumenta o vestibulando e conforme muitos pensam, é exclusiva
da mulher, e essa noção é introduzida pela preposição essencial em (linha 14). Na
linha 15, o vestibulando chama de pilar social essa questão da predominância do
machismo na atualidade e modaliza seu discurso quando utiliza dois advérbios de
intensidade, tão e fortemente (linha 15), para modificar o adjetivo fixado. Logo em
seguida, ao empregar o advérbio apenas (linha 15), denota que, no pensamento das
pessoas que vivem neste tal pilar social, há somente duas circunstâncias em que um
pai pode ter a guarda de um filho, ou demência ou falecimento (linha 16), argumento
reafirmado pelo predicado cristalizado é aceitável, cuja função é ligar o fato de
demência ou falecimento da mãe à atitude de dedicação do pai com os filhos, porém,
há sentidos advindos de vozes sociais, por exemplo, de que a mãe é que deve cuidar
sozinha dos filhos e de que a única responsabilidade do pai é prover o sustento deles,
tendo total liberdade e nenhuma preocupação com relação à criação dos próprios
filhos.
Na linha 17, o vestibulando introduz seu argumento com o verbo inferir mais a
partícula apassivadora se, indicando voz passiva sintética, para dizer que se pode
concluir que há diferenças entre os valores e o prestígio (linha 17) dados a cada um
pelas mesmas funções desempenhadas pela mãe e pelo pai, e finaliza o argumento
com uma oração subordinada adverbial temporal, quando executados por diferentes
gêneros (linha 18), com o intuito de demonstrar que, mesmo executando as mesmas
atividades relacionadas aos filhos, o sexo masculino, ou seja, o pai, sempre terá maior
crédito que a mãe. Ainda na linha 18, o vestibulando utiliza o último período do
parágrafo de desenvolvimento para concluir, por meio do verbo evidenciar na terceira
pessoa do singular no presente do indicativo mais a partícula apassivadora se e,
principalmente, pela conjunção coordenativa conclusiva portanto (linha 18), operador
argumentativo que introduz uma conclusão, já que o vestibulando afirma que as
diferenças sociais entre os gêneros masculino e feminino estão presente em todos os
níveis da sociedade (linha 19), em que o adjetivo presente introduz um aposto que
acrescenta a opinião genérica do vestibulando e a preposição em traz para o discurso
uma noção de nível, neste caso, o social.
114
Pontuação
42
A tira em questão relata o momento em que Armandinho é alvo de uma 01
“piadinha” por estar brincando de pai – como ele mesmo define – o cole- 02
ga em questão acha estranho e engraçado um menino brincar com 03
uma boneca, esse estranhamento é herança do patriarcado que vivemos 04
e foi enraizado como normal, pensamentos desse gênero. 05
Ao me deparar com essa publicação me peguei refletindo como 06
o sexismo ainda está presente na sociedade, desde criança somos en- 07
sinados de que “existe” coisa de menino e outras de menina. Ao cres- 08
cer tal pensamento permanece e vai para outras áreas, além da brinca- 09
deira, como o mercado de trabalho, onde é notório que há uma se- 10
gregação de funções unicamente baseada no sexo e não na qualidade 11
do serviço prestado pelo trabalhador. 12
Diante de vasta distinção de gênero, cada vez mais movimentos 13
como o feminismo e afins estão ganhando novos apoiadores que 14
entendem e assumem que o sexismo é prejudicial para todos, homen 15
e mulheres, começando pela criança que se brincar de boneca ou jo- 16
gar futebol sofre com comentários de que é coisa de menina e meni- 17
no, respectivamente, muitas vezes acaba até deixando de realizar tal ati- 18
vidade. Isso se perpetua na vida adulta, quando um homem costura ou 19
dança é logo taxado por muitos, errôneamente, de gay. 20
Tais próblemas, claro, já evoluiram bastante, se comparado por exem- 21
plo á 50 anos atrás – onde era raro um homem colaborar com o servi- 22
ço doméstico, pois isso era “função” da mulher – mas penso que ainda 23
não o suficiente para acabar com situações como a da tirinha em 24
que é visto, o fato de brincar de ser pai, como estranho. É preciso que 25
mais publicações com esse tema circulem na internet para que a refle- 26
xão sobre, seja colocada para todos. 27
28
29
30
Características da coesão [...]em que (linha 01); [...]desde (linha 07); [...]tal
sequencial (linha 09); [...]além da (linha 09); [...]como (linha
128
cuja função é indicar que um dos efeitos causados pelas atitudes segregacionistas do
sexismo é o engajamento e a ampliação do feminismo entre outros movimentos
direcionados para os mesmos ideais – a igualdade entre os gêneros. Como maneira
de comprovar a veracidade dessa informação, o vestibulando utiliza uma locução
verbal com o verbo auxiliar ser na terceira pessoa do plural e no presente do indicativo
e o verbo principal ganhar na forma nominal gerúndio, estão ganhando, para dar ideia
de que há uma ação contínua no presente, no momento histórico atual, além disso, o
adjetivo novos atrelado ao substantivo apoiadores (linha 14) reforça essa mesma
ideia, pois indica que periodicamente há a inserção de membros. Dando continuidade
ao seu argumento, o vestibulando utiliza o pronome relativo que (linha 14) para
relativizar esses novos apoiadores aos verbos entendem e assumem (linha 15).
Reforça-se também, ao utilizar o verbo de ligação no presente do indicativo é junto ao
adjetivo prejudicial (linha 15), que a posição assumida pelo vestibulando é contrária
ao sexismo.
O verbo começar no gerúndio, começando (linha 16), reintroduz o período já
mencionado no primeiro parágrafo de desenvolvimento, em que os indivíduos são
mais direcionados às dicotomias de mundo pertencente ao masculino e mundo
pertencente ao feminino. Comprova-se isso por meio da oração subordinada adverbial
condicional iniciada pela conjunção subordinativa se (linha16). As divisões tornam-se
nítidas no excerto se brincar de boneca ou jogar futebol sofre com comentários de que
é coisa de menina e menino (linhas 17-18), respectivamente. Na linha 18, a locução
adverbial de modo muitas vezes é utilizada como uma forma de fazer com que nos
atentemos à maneira como agiremos diante da atitude de uma criança e também de
não generalização do discurso, pois, segundo o vestibulando, nem sempre ocorrem
comentários relacionados a essas atitudes, já que a forma de agir pode fazer com que
a criança deixe de realizar tal atividade (linhas 18-19). Apesar de o vestibulando ter
mencionado somente duas atividades, o futebol para os meninos e a boneca para as
meninas, o pronome demonstrativo tal vai além da retomada desses termos.
Constata-se que tal pode sinalizar qualquer atividade ou campo de atividade que o
indivíduo queira adentrar. Em seguida, há a retomada de algumas consequências do
sexismo por meio do pronome demonstrativo Isso (linha19) para elencar dois efeitos
causados por ele e que acompanham os sujeitos da infância até a vida adulta (19),
como denota o vestibulando, são eles: a discriminação aferida a indivíduos do sexo
masculino que dançam ou costuram, atividades conferidas, pela sociedade, como
134
aos pensamentos sexistas ao longo dos anos e acrescentar que essas mesmas
mudanças não são razoáveis, como o esperado com o passar do tempo e a evolução
dos pensamentos da sociedade. É importante percebermos que no contra-argumento
foram utilizados, por exemplo, o advérbio ainda, cujo sentido é de tempo presente,
junto ao advérbio de negação não ampliando o sentido de negação dado ao excerto.
O contra-argumento conta, ainda, como exemplificação, com o elemento exofórico
como a da tirinha em que é visto, o fato de brincar de ser pai (linhas 24-25), em razão
de este trecho ser utilizado para retomar elementos contextuais que estão fora da
redação, mas que encontram-se no texto motivador, em tal caso a tirinha do cartunista
Alexandre Beck. Chama-nos atenção, também, o uso do adjetivo estranho (linha 25).
A adjetivação utilizada pelo vestibulando está relacionada ao pensamento enraizado
na sociedade de que o homem não pode brincar de boneca, caso contrário, assim
como menciona o produtor do CIC3, pode ser alcunhado de estranho, ou seja, alguém
que, de acordo com algumas acepções do Houaiss (2009), “causa espanto, que foge
aos padrões, que desperta sensação incômoda de estranheza”.
No último período do parágrafo de conclusão do CIC3, temos o predicativo
cristalizado É preciso (linha 25) introduzindo uma conclusão exortativa, pois expressa,
mediante o ponto de vista do vestibulando sobre o tema trazido para se discorrer na
redação, uma solicitação, afim de que mais publicações com esse tema circulem na
internet (linha 26). Nesse contexto, podemos perceber que o uso do verbo circular na
terceira pessoa do plural e no presente do subjuntivo, circulem, reforça o caráter
exortativo do excerto, porque acrescenta a ele a noção de uma ação futura. Além do
mais, há ainda outros dois elementos que corroboram para caracterizar a conclusão
exortativa. O primeiro é o uso da conjunção subordinativa adverbial final para que
(linha 26), a qual introduz um argumento indicando determinada finalidade relacionada
ao trecho posto anteriormente. O segundo é a locução verbal seja colocada (linha 27),
verbo auxiliar ser na terceira pessoa do singular e no presente do subjuntivo mais o
verbo colocar na forma nominal particípio, que, assim como em circulem, transmite
uma noção temporal futura.
Da mesma maneira que o CIC1 e o CIC2, o CIC3 possui qualidades que o
categorizam como prototípico – predominância de sequências argumentativas e o uso
de modalizadores discursivos, entre outros elementos linguísticos, para reforçar a
argumentação são exemplos disso. O produtor do CIC3, assim como nos CIC
anteriores, elabora sua redação de modo que o interlocutor fique a par do objeto de
136
análise, para isso, ele faz um pequeno resumo da situação ocorrida na tirinha do
Armandinho a ser comentada criticamente, o que caracteriza a necessidade de um
ponto de vista claro sobre o tema e a presença de argumentos que sustentem este
ponto de vista.
137
Pontuação
53
A temática da questão de gênero é abordada na tira de Alexandre Beck, publicada 01
na página
“Tiras Armandinho” do Facebook. A tira retrata a personagem Armandinho passeando 02
com uma boneca no
carrinho, e um colega, ao se deparar com a cena, ri e pergunta se ele está brincando 03
de boneca, a
personagem, então, afirma estar brincando de ser pai. Acerca do exposto, pode-se 04
estabelecer um
questionamento filosófico sobre os papéis de gênero na sociedade e sua lógica. 05
A youtuber e militante feminista Louie Ponto explica essa lógica mediante a “teoria 06
das caixas”,
na qual existem duas caixas no mundo, uma rosa feita para as meninas e outra azul 07
para os meninos.
Dentro de cada uma delas viria um manual de instruções, um protocolo social a ser 08
seguido
por cada gênero. Para o feminino, o frágil, a feminilidade, os cuidados domésticos e 09
maternos, o submis-
so; para o masculino, a força, a masculinidade, o papel de provedor, o dominador. 10
Dentro dessa lógica,
uma brincadeira da caixa rosa não poderia ser usada por indivíduos que detivessem a 11
caixa azul, como
é o caso de Armandinho com a boneca. Ao brincar de ser pai, ele mostra o raciocínio 12
falho dessa
lógica, afinal não deveria ter tal separação de “caixas”, e sim uma igualdade entre os 13
gêneros.
O sociólogo francês Émile Durkheim formulou como “fato social” um conjunto de 14
maneiras
coletivas de se agir e pensar dentro de uma sociedade. A coercitividade é uma das 15
características
do fato social e pode ser entendida como uma pressão social para que o indivíduo se 16
adeque
ao que lhe foi estabelecido. Transpondo esse raciocínio para a questão dos papéis de 17
gênero,
pode-se dizer que há uma pressão para que não tenha “desvios” de conduta. Como, 18
por exemplo,
na risada do colega de Armandinho ao vê-lo brincando de boneca, esta sendo 19
comumente designada
como brincadeira “de menina”. Diante disso, é necessário modificar tais imposições da 20
sociedade.
Partindo dessa premissa, para obter a igualdade de gênero é preciso romper com 21
essa lógica.
Pode-se usar o conceito de imaginação sociológica, criado na década de 1960, pelo 22
sociólogo
americano Wright Mills. Tal conceito afirma que para modificar uma mentalidade 23
vigente é
necessário um processo de desnaturalização de hábitos padrãos e projetação de uma 24
imaginação
sociológica no futuro para melhorá-lo. Dessa forma, Armandinho poderia brincar 25
tranquilamente
sem as caixas impostas a ele e uma igualdade entre os gêneros seria efetivada. Dando 26
espaço
para uma sociedade com menos preconceitos, divisões e exclusões. Portanto, mais 27
feliz.
28
138
29
30
de estar brincando de boneca, porém, assim como dito pelo vestibulando, ele afirma
estar brincando de ser pai (linha 04). Percebe-se que os dois primeiros períodos do
parágrafo de introdução retomam, por meio dos artifícios linguísticos citados
anteriormente, tanto as personagens quanto as ações ocorridas ao longo dos três
quadros que compõem a tirinha do Armandinho.
Na introdução, há, ainda, um período simples, cuja função é expor o ponto de
vista do vestibulando com relação ao tema da tirinha que, de acordo com o escritor do
CIC4, é a questão de gênero (linha 01). A introdução da tese defendida pelo
vestibulando ocorre por meio da locução prepositiva acerca de, em Acerca do exposto
(linha 04). A palavra exposto se refere a toda descrição feita pelo vestibulando ao
longo dos dois primeiros períodos do parágrafo de introdução, essa retomada é uma
forma de preparar o seu interlocutor para o que virá logo em seguida, isto é, a defesa
de que, a partir dos discursos e movimentos atitudinais ocorridos na tirinha, pode-se
estabelecer um questionamento filosófico sobre papéis de gênero na sociedade e sua
lógica (linhas 04-05). Percebe-se esse ponto de vista quando o escritor da redação
utiliza a locução verbal, tendo como verbo auxiliar o verbo modalizador poder no
presente do indicativo, na terceira pessoa do singular, junto à partícula apassivadora
se, e o verbo estabelecer na forma nominal infinitivo, pode-se estabelecer (linha 04) –
voz passiva sintética. Nesse sentido, o que o vestibulando deseja estabelecer no
decorrer da sua redação é uma correlação entre o tema da tirinha e um
questionamento (linhas 04-05), adjetivado como filosófico (linha 05), ou seja, advindo
do campo da filosofia. Essa menção à filosofia é para que não fiquemos em dúvida
sobre o posicionamento do vestibulando perante o tema, principalmente porque os
argumentos em defesa da tese, como veremos nos próximos parágrafos (de
desenvolvimento e conclusão), terão como base alguns famigerados estudiosos e
outras personalidades afins dos ramos da filosofia e da sociologia.
O primeiro parágrafo de desenvolvimento do CIC4 é formado por cinco
períodos, divididos em quatro compostos e algumas frases inteiramente nominais. O
primeiro período composto traz um argumento baseado no discurso da youtuber e
militante feminista Louie Ponto (linha 06), a qual afirma que há certa divisão entre os
papéis de cada gênero dentro da sociedade. A chamada ”teoria das caixas” (linha 06)
– o uso das aspas, pelo vestibulando, se deve ao fato de ser uma citação de um termo
não pertencente a ele ou porque o seu intuito era dar ênfase a ele – traz a ideia de
que pessoas do sexo masculino devem se portar de uma maneira, ao mesmo tempo
145
que pessoas do sexo feminino devem se portar de outra maneira. Às caixas são dadas
duas cores, rosa para as meninas e azul para os meninos. Nas linhas 08 e 09, dois
excertos chamam a atenção, pois estão direcionados à defesa do ponto de vista do
vestibulando quando este revela que dentro das caixas há um manual de instruções
que funciona como um protocolo social a ser seguido por cada gênero. Nas linhas 09
e 10, o vestibulando elenca uma série de substantivos que nomeiam o que o manual
de instruções preconiza tanto para o gênero feminino quanto para o masculino: ao
primeiro, o frágil, a feminilidade, os cuidados doméstico e maternos, o submisso
(linhas 09-10); e ao último, a força, a masculinidade, o papel provedor, o dominador
(linha 10). Os antônimos submisso e dominador revelam a ideologia presente na
“teoria das caixas”, ou seja, a supremacia masculina.
Como o próprio vestibulando argumenta, quando retoma o que foi dito nas
linhas anteriores, linhas 09 e 10, Dentro dessa lógica (linha 10) da teoria das caixas
nenhum dos sexos poderia realizar atividades designadas para o sexo oposto. Isso
fica claro quando ele utiliza o advérbio de negação não e o verbo poder no futuro do
pretérito do indicativo, na terceira pessoal do singular, poderia, para reforçar o que
sugere a “teoria das caixas” mencionada por Louie Ponto e utilizada pelo vestibulando
como aporte para a sua argumentação. Além disso, na linha 11, há um argumento
com o intuito de comparar as representações dicotômicas que as caixas azul e rosa
representam, introduzido pela conjunção subordinativa adverbial comparativa como,
o qual visa a exemplificar o que foi posto anteriormente, neste caso, a ação de estar
brincando com um carrinho de boneca praticada por Armandinho na tirinha. Na linha
12, o vestibulando utiliza uma oração reduzida de infinitivo, Ao brincar de ser pai, para
argumentar sobre as falhas que podemos perceber na “teoria das caixas” e
complementa este argumento utilizando o advérbio e operador argumentativo afinal
junto ao advérbio de negação não (linha 13), com o intuito de concluir que o conceito
de distinção entre os sexos não deveria ter tal separação de “caixas” (linha 13).
Ademais, ainda na linha 13, o vestibulando reforça os seus argumentos quando
emprega a conjunção coordenativa aditiva, porém com o sentido adversativo, e mais
o advérbio de afirmação sim – e sim uma igualdade entre os gêneros (linha 13). O
vestibulando não especifica a que tipo de igualdade ele está se referindo, por isso
utilizou o artigo indefinido feminino uma, justamente para dar a ideia de que é
igualdade de modo geral, de forma não especificada ou delimitada.
146
Pontuação
46
Inversão de valores. 01
A pesquisa feita pelo Ibope em 2013 e os estudos psicológicos da Universidade 02
Georgia, revelam a crise de valores e o individualismo, característicos 03
do século XXI; demarcado pela valorização maior aos animais em detrimen- 04
to a valorização do humano. 05
Em primeira análise, os resultados da pesquisa do Ibope constatam que 06
“80% dos internautas” possui um animal de estimação, e isso tem se in- 07
tensificado com a formulação de documentos que lhes assegura direi- 08
tos como a Declaração Universal dos Direitos dos animais, promulgada 09
pela UNESCO em 1978 e até mesmo a lei de crimes ambientais, Lei 9 605/98 10
que prevê como crime os maus tratos e o abandono a animais. 11
Diante disso, verifica-se atualmente a valorização aos animais, que 12
posto sobre cituação de sobrevivência, entre “cão ou humano” com toda 13
certeza o humano “perderia a vida um cachorro”. 14
Em conformidade a pesquisa Ibope, resultados do estudo da Universidade 15
georgia revelam através dos fatores levados em consideração de “quem é a 16
pessoa em perigo”, as características da “modernidade líquida” que 17
Zygmum Baumam, sociólogo polonês, aponta pela falta de solidez das rela- 18
ções sociais, políticas e economicas vividas no século XXI. 19
É indubitável que enquanto as pessoas gastam “em média R$ 100 por mês” 20
com animais de estimação, milhões de pessoas sobrevivem com miseros 21
centavos, sofrendo na estrema pobreza e com carência de alimentação. 22
Portanto, precisamos rever nossos valores. De acordo com Imanuel Kant 23
“o homem é o que a educação faz dele”, deprende-se, portanto, a impor- 24
tância da mesma, na formação de valores ausentes na sociedade. Sen- 25
do assim, a pratica do respeito e valorização não deve ser somente com 26
relação aos animais, mas também ao humano. 27
28
29
30
Fonte: elaborado e adaptado pelo autor com base em Machado e Cristovão (2009)
sobre o tema abordado. Como revela o vestibulando, tanto a pesquisa de 2013 quanto
as investigações realizadas pela Universidade Georgia revelam a crise de valores e o
individualismo (linha 03) e acrescenta que ambos são característicos do século XXI
(linha 03) e, além disso, se circunscrevem entre a valorização maior aos animais em
detrimento a valorização do humano (linhas 04-05). O adjetivo maior intensifica a
valorização que se tem com os animais e a locução prepositiva em detrimento [da]
demonstra sentido oposto, em outras palavras, valoriza-se muito mais os animais de
estimação do que os indivíduos da própria espécie, ou seja, a humana.
O primeiro parágrafo de desenvolvimento do CIC5 é construído, também, por
um único período composto e utiliza como base argumentativa dados estatísticos,
como em os resultados da pesquisa do Ibope 69 constatam que “80% dos internautas”
possui um animal de estimação (linhas 06-07). Os dados estatísticos, levantados por
instituições reconhecidas em meio à argumentação, reforçam o argumento e dão a
ele maior veracidade. O excerto que revela os dados utilizados no CIC5 foi retirado do
texto de apoio da Proposta 1, por isso o uso das aspas ao mencionar a porcentagem.
Na linha 07, o vestibulando acrescenta outra sequência argumentativa, dessa vez,
introduzida pela conjunção coordenativa aditiva e, porém com o sentido adversativo,
e o pronome demonstrativo isso, o qual retoma a informação de que determinada
porcentagem de internautas tem um mascote. Esse conjunto auxilia na retificação das
informações dadas pelo argumento anterior, neste caso, que a porcentagem de
internautas que adquire um animal de estimação tem se intensificado (Linhas 07-08)
e que a causa deste aumento se deve, segundo o vestibulando, à Declaração
Universal dos Direitos dos animais (linha 09) e até mesmo a lei de crimes ambientais,
Lei 9 605/98 que prevê como crime os maus tratos e o abandono a animais (linhas
10-11). Ambas as informações não se encontram no texto de apoio, portanto tanto
uma quanto a outra são de conhecimento do próprio vestibulando, isso demonstra
engajamento sobre o assunto, o que facilita a construção dos argumentos em defesa
do ponto de vista do produtor do CIC5.
69 O IBOPE Inteligência, anteriormente chamado somente de IBOPE, Instituto Brasileiro de Opinião Pública e
Estatística, é uma empresa privada, com sede em São Paulo-SP, fundada em 1942 pelo estatístico Auricélio
Penteado. Como o próprio nome sugere, o instituto tem como objetivo coletar informações sobre diversas áreas
sociais, como política, consumo, educação entre inúmeras outras com o intuito de levar dados estratégicos para
que as pessoas tenham acesso a um maior número de informações com qualidade e, principalmente, veracidade.
155
Com base nos quadros de análise dos estilos linguísticos dos CIC pertencentes
à categoria Prototípica e nas análises linguísticas complementares, baseadas na LT
e na GN, o MDG nos auxiliou a estabelecer comparações entre as características
comuns dos textos analisados. Ainda assim, podemos sintetizar, de forma mais geral,
as cinco redações prototípicas do nosso corpus no quadro abaixo.
70 A nomenclatura campo léxico-semântico surgiu, segundo Ferreira (2009), para que se distinguisse dos estudos
que abarcam, isoladamente, o léxico e a semântica. Aqui, voltamo-nos para o conjunto dessas áreas de estudo, a
qual estuda tanto a utilização do léxico quanto os sentidos que ele possui em determinado contexto de uso em um
nicho específico.
160
Nesse sentido, ainda, podemos fazer uma breve comparação, de acordo com
os critérios de correção da banca avaliadora, do CIC1 produzido em 2018, cuja
pontuação é 42, e o CIC4, produzido no ano posterior (2019), com 53 pontos, sendo
este com a maior nota do nosso corpus para tentar compreender porque houve esta
diferença de 11 pontos entre as redações 71.
As construções de ambos os CIC demonstram as distinções, inicialmente, das
paragrafações dos textos. Enquanto o CIC4 é dividido em quatro parágrafos (um
introdutório, dois de desenvolvimento e um conclusivo), o CIC1 se divide apenas em
três (parágrafo introdutório, desenvolvimento e conclusão). Dessa maneira,
precisamos esclarecer que, em um texto, parágrafos com muitos períodos podem
gerar problemas de sentido ou de interpretação, justamente pela quantidade de
informações postas nele. O texto, segundo os critérios de correção, precisa ser coeso
e coerente.
Como critérios relacionados ao gênero CIC, sendo este um gênero cuja
predominância tipológica é argumentativa, ambas as redações estabelecem suas
teses/pontos de vista e possuem argumentos em defesa da sua respectiva
proposição:
71 Como existem três CIC com a mesma pontuação, 42 pontos, escolhemos apenas um para elaborar tal
ambiente familiar, esse jovem viu a mulher sendo atribuída a responsabilidade integral
de cuidado com a prole (linhas 03-06).
(linha 17) para isolar o aposto explicativo e a falta de acento no verbo estar no
presente do indicativo, esta (linha 20).
No último parágrafo do CIC10, o vestibulando opera duas sequências
argumentativas de modo vago. A primeira, Crianças são o que aprendem em casa,
vendo seus pais juntos fazendo suas tarefas de casa (linhas 23-25). Nesse excerto, o
vestibulando afirma, por meio do verbo ser na terceira pessoa do plural do modo
indicativo – são –, que as características das crianças são aprendidas em casa e
justifica essa afirmação com uma oração subordinada adverbial temporal reduzida de
gerúndio vendo seus pais juntos fazendo suas tarefas de casa (linha 23-25). Na
segunda sequência, o vestibulando utiliza o pronome Eles (linha 25) na tentativa de
estabelecer uma coesão referencial com o substantivo Crianças, em que uma possível
forma de referenciação seria o pronome Elas. Também encontramos uma frase
nominal entre aspas completamente deslocada do texto, “A sociedade e seus
comentários”, não há complementos ou qualquer justificativa para a utilização desse
trecho.
O CIC10, categorizado como Mediano, possui pontuação muito aproximada
dos CIC caracterizados como Prototípicos segundo os critérios que utilizamos para
distinguir as categorias do nosso corpus linguístico. O CIC 10 é uma redação voltada
para a temática proposta na tirinha do Armandinho, mas não analisa a tirinha em si.
Percebe-se a utilização de mecanismos linguísticos, os quais mantêm a coesão
textual da redação, e mecanismos enunciativos, por exemplo, nos excertos em que o
vestibulando utiliza a primeira pessoa do singular para demarcar o seu ponto de vista
sobre o tema, como em Não vejo maldade [...] (linha 11), Acredito que crianças desde
de pequenas devem brincar de profissões [...] (linha 16-17). O CIC10 é uma redação
com poucas falhas gramaticais quando comparada às redações de menor pontuação,
além disso, os argumentos cumprem com a proposta de posicionamento a respeito
do “Machismo infantil.”, como mencionado no título. As qualidades do CIC10 avaliadas
nesta análise nos ajudam a compreender essa aproximação com os CIC de categoria
Prototípica.
Após essa análise do estilo linguístico do CIC10, apresentaremos o quadro 28
com a síntese das demais redações pertencentes à categoria Mediana, já que os CIC
pertencentes a esta categoria possuem uma série de características em comum.
Permitindo-nos, dessa forma, elencá-las por meio de uma síntese.
166
CIC13 25
assunto abordado na prova de redação. Além de
CIC14 26
haver menção ao texto
CIC15 26
analisado/comentado/interpretado criticamente;
CIC16 29
Os parágrafos de desenvolvimento dos CIC
CIC17 32
medianos são compostos por sequências
CIC18 35
argumentativas que defendem a tese/ponto de vista
CIC19 38
do vestibulando;
Assim como os parágrafos conclusivos
desses CIC cumprem o papel de finalizar a redação.
A maior problemática relacionada a estas redações
vincula-se à forma como o conteúdo das redações
está disposto no texto, principalmente com relação
às informações de identificação do texto analisado
pelo vestibulando, aos índices de incoerências
conteudísticas, aos argumentos de senso-comum,
aos equívocos ortográficos, gramaticais e de
pontuação.
Ao longo das análises dos CIC medianos, pudemos perceber que a maior
quantidade de falhas foram aquelas abarcadas nos critérios de correção relacionados
aos aspectos textuais, a saber: gramaticais, ortográficos, pontuação, concordância
nominal e verbal e, principalmente, falhas relacionadas à configuração do gênero CIC
e falhas argumentativa, as quais também foram responsáveis pelas notas atribuídas.
É preciso ressaltar que os CIC medianos deixam a desejar em algumas
características tanto de configuração do gênero quanto nas textuais. Nas redações
medianas, os vestibulandos não mencionam, em seus textos, informações suficientes
para identificar a origem do texto analisado/comentado.
Para ilustrarmos melhor essas questões relacionadas às diferenças entre as
qualidades dos CIC prototípicos e dos medianos, tomamos, neste momento, como
base o CIC1, pertencente à categoria Prototípica, com 42 de pontuação, e o CIC 10,
pertencente à categoria Mediana, com 39 pontos. Tais pontuações são as mais
aproximadas entre as duas categorias, portanto, comparando as duas redações
conseguiremos perceber o motivo pelo qual o CIC10 não pode ser considerado um
protótipo do gênero CIC.
Nos parágrafos introdutórios dos CIC1 e CIC10, os vestibulandos trazem as
seguintes informações:
Além de o CIC10 não dar informações suficientes para que seu interlocutor
saiba de qual tirinha se trata, o vestibulando constrói um parágrafo introdutório sem
especificar o seu ponto de vista. Tal construção mantém o interlocutor sem saber
especificamente qual o posicionamento que o vestibulando tem sobre o tema, o que,
consequentemente, também desestrutura a argumentação do CIC.
Esses são apenas alguns exemplos além dos que já foram mencionados nas
análises das redações. É importante que mostremos as diferenças entre as redações
pertencentes às categorias Prototípica e Mediana para que percebamos como as
qualidades dos CIC prototípicos se sobressaem às qualidades dos CIC medianos.
168
Pontuação
18
Será que os animais são tão importante para nós? Como 01
achamos que cuidamos deles? Muitas das vezes quere- 02
mos um animal para poder demonstrar luxúria, mais 03
afinal eles também tem sentimentos e precisam de amor 04
e carinho, mas alguma das vezes é para suplir algu- 05
ma decepção com o ser humano, mais o por que de esco- 06
lhermos os animais ao ínves do ser humano, pois eles são 07
egoístas e não pensam ao ferir o próximo! 08
Os animais são seres irracionais pois não pensam antes 09
de agir e não tem como alguém defender eles ao não 10
ser o ser humano, mais o humano consegue se defender 11
sozinho! 12
O animal pode te oferecer sem ao menos pensar em algo 13
em troca! Ele te dá amor, carinho, proteção sem precisar 14
pedir e o ser humano não eles são egoístas, e não fa- 15
zem nada sem ter algo em troca e conseguem magoar 16
sem pensar duas vezes se vai ferir ou não a outra pessoa, 17
e aí vai a pergunta melhor salvar um inocente ou alguém 18
que está passando ali? As vezes precisamos salvar quem 19
mais precisa de nossa ajuda e não quem quando pre- 20
cisarmos vai nos deixar para trás! 21
O animal sempre vai saber retribuir aquilo que 22
o próprio ser humano te recusou! 23
24
25
26
27
28
29
30
O CIC25 está categorizado como redação Não-prototípica por ter obtido 18 dos
60 pontos totais que podem ser atribuídos às redações do Concurso Vestibular da
Unioeste. Produzido em 2019, o CIC25 é o sexto e último CIC Não-prototípico do
nosso corpus linguístico e também a redação com maior nota desta categoria. Ele
apresenta a seguinte estrutura: não há título, parágrafo introdutório, dois parágrafos
de desenvolvimento e um parágrafo conclusivo.
Como nas redações anteriores, o CIC25 não apresenta em nenhum de seus
parágrafos qualquer tipo de resumo ou identificação da notícia publicada na Revista
Galileu sobre a interação entre as pessoas e das pessoas com os animais de
estimação. Ao deixar de mencionar e inteirar o interlocutor do CIC25 sobre o texto
analisado, o vestibulando deixa lacunas na construção do gênero.
170
no plural do presente do indicativo, têm. O mal uso do pronome eles após o verbo no
infinitivo defender (linha 10) também caracteriza má utilização da norma padrão da
língua, já que, quando é preciso retomar anaforicamente um termo por meio do
pronome oblíquo átono da terceira pessoa após verbo no infinitivo utiliza-se, no caso
do CIC25, a forma defendê-los. Ainda na linha 10 e 11, ao não ser o ser o ser humano
causa ambiguidade e incoerência ao excerto, vista que não há necessidade de se
combinar o artigo definido masculino o à preposição essencial a, em que somente
esta manteria a plena coerência do excerto. Na linha 11, o vestibulando acaba
utilizando o advérbio de intensidade ao tentar introduzir uma oração coordenada
aditiva, tal fato que também minimiza a pontuação do CIC25.
No segundo parágrafo de desenvolvimento do CIC25, encontramos
construções problemáticas, principalmente pela falta de sentido ou qualquer nexo com
as demais sequências que constroem este parágrafo. É o caso do excerto Ele te dá
amor, carinho, proteção sem precisar pedir e o ser humano não eles são egoístas
(linha 14-15). Tal incoerência ocorre, neste trecho, pela falta da vírgula que auxilia a
separar o aposto explicativo eles são egoístas. Ao introduzir a pergunta melhor salvar
um inocente ou alguém que está passando ali? (linha 18-19), o vestibulando faz de
um modo que faz com que o excerto fique incoerente e sem coesão, pois não utiliza
nenhum elemento linguístico para auxiliá-lo a introduzir a pergunta sem causar esses
efeitos. Mais adiante, a locução adverbial de tempo As vezes (linha 19) carece de
acento grave indicativo de crase, às vezes.
O parágrafo conclusivo do CIC25 é formado apenas por uma frase exclamativa,
na qual o vestibulando argumenta que O animal sempre vai retribuir aquilo que o
próprio ser humano te recusou! (linha 22-23), contudo o excerto não revela que tipo
de retribuição o vestibulando está falando, muito menos o que foi recusado a ele por
outro ser humano.
Para comparar o CIC25 aos demais CIC pertencentes à categoria Não-
prototípica, elaboramos um quadro-síntese, assim como fizemos com as redações
medianas.
172
Parágrafo conclusivo – excerto linhas 19-23: [...] Eles são submetidos aos
piores tipos de tratamento, ou condições de higiene, como por exemplo os pássaros
que são guardados em gaiolas e deixados em galpões escuros, ou as vezes também
deixados em sacos escuros para venda. (CIC20, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A menos que você se importe de montão, nada vai mudar, não vai não!
(Lorax – Dr. Seuss – Theodor Seuss Geise)
a ser ensinado por meio de Sequências Didáticas (SD), assim como proposto por
Schneuwly e Dolz (2004).
Por fim, o leitor interessado em consultar as análises do estilo linguístico das
demais redações que constituíram o corpus da pesquisa pode encontrá-las no
Apêndice 2.
178
REFERÊNCIAS
BORDIM; C., T.; PINTOM, F., M.; SCHMITT, R. M. Produzido artigo de opinião. 3.
ed. Santa Maria: UFSM, CAL, Curso de Letras, 2019.
179
DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B.; HALLER, S. O oral como texto: como construir um objeto
de ensino. In: SCHNEUWLY B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola.
Tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 2004. p. 125-155.
FARACO, C. A.; TEZZA, C.; CASTRO, G. de (Orgs.). Diálogos com Bakhtin. 4. ed.
Curitiba: Editora UFPR, 2007.
FIORIN, J. L.; PLATÃO, F. S. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo:
Ática, 2007.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo:
Contexto, 2018.
WHITE, J. L. Studies in Ancient Letter Writing. Semeia 22. Chico, CA: Scholar’s
Press, 1982.
188
APÊNDICE 1
data de
acesso)
Resumo A pesquisa que apresento neste estudo refere-se à prática de análise
linguística associada ao trabalho com a produção e a reescrita textual.
Trata-se de uma investigação ancorada nos pressupostos da
Linguística Aplicada, na abordagem qualitativa interpretativista,
recorrendo à perspectiva de cunho etnográfico e à pesquisa-ação
como delineamento metodológico. A inquietação que deu origem ao
trabalho sustenta-se na indagação sobre a forma que a prática de
análise linguística, entendida como encaminhamento que vai além do
trabalho com a gramática normativa, pode contribuir para o processo
de produção e reescrita de textos na sala de aula. Com o intuito de
responder a esse questionamento, o objetivo é investigar as
contribuições do trabalho com a análise linguística para o processo de
produção e reescrita de textos, focalizando uma turma do 7º ano do
ensino fundamental. O recorte investigativo toma o texto, organizado
num gênero discursivo, como ponto de partida e elemento norteador
do ensino da Língua Portuguesa. A linha teórica ampara-se na Análise
Dialógica do Discurso e no método sociológico para abordagem dos
gêneros discursivos, conforme Bakhtin/Volochinov (2004 [1929]) e
Bakhtin (2011 [1979]). Além disso, recorro a fontes que conferem às
práticas de análise linguística, produção e reescrita textual um viés
dialógico no trabalho com a linguagem. Pautando-me nessa
orientação teórica e no contexto da sala de aula, percebi resultados
que indicam a necessidade de associação entre todas as práticas
discursivas que organizam o ensino da Língua Portuguesa. No que
tange às práticas focalizadas (análise linguística, escrita, reescrita),
considero que todas são perpassadas e subsidiadas pela análise
linguística, pois produzir e reescrever textos requer, indiscutivelmente,
a análise dos elementos linguístico-discursivos que compõem a
produção escrita.
Palavras- práticas discursivas;
chave análise linguística;
produção escrita;
reescrita textual;
gêneros discursivos.
Orientador( Terezinha da Conceição Costa-Hübes
a)
Data de 30 de junho de 2015
defesa
Critérios de Prática de análise linguística como encaminhamento metodológico
seleção para os processos de escrita e reescrita de textos em sala de aula;
Método sociológico.
Redações modelo;
Banca corretora da Fuvest.
Orientador(a) Regina Celia Pagliuchi da Silveira
Dissertação escolar
Identidade autoral
Orientador(a) Edilma de Lucena Catanduba
Data de 2014
defesa
Critérios de Redação;
seleção Análise de textos de discentes;
Produção textual;
Competências e habilidades dos PCNs
instituição de
ensino,
cidade, link,
data de
acesso)
Resumo O processo de escritura da redação de vestibular tem sido objeto de
preocupação para alunos, pais, e para nós, professores de redação
de Ensino Médio, tendo em vista que os problemas de desempenho
na prova de redação podem contribuir para a perda da tão sonhada
vaga no Ensino Superior. Por outro lado, os livros que versam sobre
o processo de escritura de redação de vestibular e, portanto,
subsidiam o trabalho dos professores não apresentam referenciais
para embasar um ensino de redação para o vestibular em toda a sua
complexidade. Os critérios utilizados para avaliar as redações no
concurso vestibular, por sua vez, (publicados no Manual do
Avaliador e no Manual do Candidato) não têm sido suficientes para
minimizar a subjetividade pertinente à avaliação de textos. Com o
objetivo de compreender o processo de redação de vestibular e seu
produto, realizamos entrevistas com cinco membros de equipes de
avaliação de três universidades para elicitar o que os avaliadores
consideram um "texto satisfatório" a partir do ponto de vista
institucional. Além disso, analisamos 09 redações "nota dez",
produzidas no concurso vestibular da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, tentando determinar a relação entre texto e contexto.
Levando em conta o trabalho de HALLIDAY & HASAN (1985) para
analisar o gênero e a visão crítica do discurso de FAIRCLOUGH
(1992), nós analisamos os textos primeiramente pelas
características correspondentes às três variáveis campo, teor e
modo e segundo pela adequação entre as expectativas da banca e
os textos produzidos no momento do concurso. Nossa hipótese
inicial era que as redações consideradas satisfatórias deveriam
manter uma estrutura regular que poderia ser definida em termos de
TOULMIN (1958) como Tese, Dados e Garantias. Essa estrutura
seria usada pelo candidato como dispositivo retórico para persuadir
os examinadores de seu ponto de vista sobre os problemas
discutidos por eles e, portanto, seria capaz de demonstrar a
competência discursiva do candidato. Os resultados mostram que
essas redações podem ter sido consideradas satisfatórias porque:
1) elas atendem à adequação texto-tema, mantendo a 5 coesão
lexical (campo); 2) demonstram a habilidade persuasiva do autor
através do uso de recursos de modalidade; e 3) elas foram
estruturadas em termos de declarações do ponto de vista do autor,
sustentadas por Dados e Garantias, que estabelecem a relação
entre a Tese e os Dados. A partir disso, podemos concluir que os
livros sobre o ensino de redação precisam abordar aspectos
relacionados ao processo de construção do argumento a fim de
subsidiar um ensino de redação mais condizente com as reais
necessidades dos alunos.
234
Palavras- Inexistentes
chave
Data de 2000
defesa
Data de 2014
defesa
Critérios de Redação;
seleção Análise de textos de discentes;
Produção textual;
Competências e habilidades dos PCNs
Data de 14/08/2013
defesa
Data de 2014
defesa
238
Critérios de Redação;
seleção Análise de textos de discentes;
Produção textual;
Competências e habilidades dos PCNs
Data de 16/05/2015
defesa
Data de 2014
defesa
Critérios de Redação;
seleção Análise de textos de discentes;
Produção textual;
Competências e habilidades dos PCNs
documento,
instituição de
ensino,
cidade, link,
data de
acesso)
Resumo Visando ao desenvolvimento de uma prática contextualizada, na
presente pesquisa focalizamos no tema “O trabalho com o gênero
discursivo Regras de Jogo no ensino da leitura e da escrita”, uma vez
que reconhecemos os gêneros como instrumentos de ensino e de
aprendizagem, por entendermos que apresentam as condições reais
de concretização sócio-histórico-ideológico da língua. Nessa
perspectiva, procuramos responder às seguintes indagações: o
trabalho com o gênero discursivo Regras de Jogo pode contribuir com
o desenvolvimento da competência discursiva em alunos do 6º ano,
capacitando-os para interagirem em práticas sociais que exijam a
capacidade de linguagem injuntiva? Um procedimento didático com
esse gênero pode ajudar no aperfeiçoamento da compreensão de
leitura e, ainda, favorecer a produção escrita de textos, de modo que
esses possam instruir e provocar no interlocutor as ações almejadas
pelo locutor? Considerando tais questões, traçamos como objetivo
geral, reafirmar, por meio de estudos, elaboração e aplicação de uma
Sequência Didática com o gênero Regras de Jogo, a importância do
trabalho com gêneros discursivos no Ensino Fundamental, mais
precisamente com alunos do 6º ano, na perspectiva de desenvolver a
capacidade de instruir e prescrever ações por meio da leitura e da
produção textual. A fundamentação teórico-metodológica ancorou-se
na Concepção Dialógica de Linguagem (BAKHTIN/VOLOCHINOV,
2009[1929]; BAKHTIN, 2010[1079]), traçando possíveis
aproximações com o Interacionismo Sociodiscursivo representado por
Bronckart (2012[1996]) e autores que dialogam com essas duas
concepções: Cristovão (2002); Dolz, Noverraz e Schneuwly
(2004[2001]); Costa-Hübes (2008, 2014) entre outros. O processo
investigativo inscreveu-se, assim, na Linguística Aplicada, sustentado
pela abordagem qualitativa interpretativista, de cunho etnográfico,
uma vez que procurou refletir sobre o desenvolvimento de
capacidades linguístico-discursivas por meio do trabalho com o
gênero Regras de Jogo. No procedimento de geração de dados
adotamos o seguinte percurso: no primeiro momento, recorremos à
pesquisa diagnóstica por meio de entrevista com professores de
Língua Portuguesa, análise de coleções de livros didáticos,
questionário aplicado aos alunos, além de atividades explorando o
gênero em foco, com o propósito de verificar como os gêneros, e mais
especificamente, Regras de Jogo, é compreendido e trabalhado na
escola. No segundo momento, ampliamos nosso conhecimento sobre
as Regras de Jogo, por meio da elaboração de um Modelo Didático
do Gênero para, a partir das constatações propiciadas por esse
modelo, elaborar e aplicar uma sequência didática explorando os
conteúdos ensináveis desse instrumento para o aprimoramento da
linguagem. No terceiro momento, desenvolvemos uma pesquisa-ação
242
documento,
instituição de
ensino,
cidade, link,
data de
acesso)
Resumo Esta tese desenvolve estudo do ensino de Redação com análise de
textos discentes, cujo marco regulatório para a produção das aulas
são as Competências e Habilidades inscritas nos PCN. Objetiva-se a
correção de redações por meio digital que (1) identifica os problemas
do texto produzido pelo redator, (2) fornece instruções para correção
do problema apontado, (3) propõe retextualização para nova correção
e (4) utiliza os desvios apontados como orientadores das aulas de
Gramática. O trabalho final tem por objetivo principal ensinar a redigir
no registro padrão por meio da correção comentada de textos
produzidos por clientes, que podem ser alunos ou não, uma vez que
o trabalho ocorre pela Internet (à distância), com ferramentas do MS
Word. A instrução gramatical incidente sobre problemas detectados
no texto é subsidiada por instruções semióticas de cunho didático-
pedagógico. Testado em turmas regulares do Ensino Médio, em
Cursos Preparatórios para processos seletivos, este projeto constatou
sua eficácia, pois os redatores (1) compreenderam o quê e por que
erraram, (2) assimilaram os mecanismos linguísticos de
correção/adequação e (3) praticaram a substituição de estruturas,
orientados por princípios da Teoria da Iconicidade Verbal (SIMÕES,
[1994], 2009). Assim, os sujeitos foram-se apropriando das regras de
estruturação da língua, por meio das quais se tornou possível a
produção de textos eficientes, adequados à situação de comunicação.
Paralelamente foram-se formando leitores críticos. A negociação de
textos, a técnica de correção digital, mediada pela Internet e por isso
realizada à distância (mesmo quando combinada com aulas
presenciais) e a forma da instrução semiótico-gramatical é o que se
pretende demonstrar nesta tese.
Palavras- Redação e ensino de gramática. Correção de textos. Semiótica.
chave
Orientador(a) Darcilia Marindir Pinto Simões
Data de 2014
defesa
Critérios de Redação;
seleção Análise de textos de discentes;
Produção textual;
Competências e habilidades dos PCNs
244
Data de 07/12/2006
defesa
Critérios de Redação;
seleção Interacionismo Sociodiscursivo
Data de 2014
defesa
Critérios de Redação;
seleção Análise de textos de discentes;
Produção textual;
Competências e habilidades dos PCNs
Data de 2013
defesa
Data de 2014
defesa
Critérios de Redação;
seleção Análise de textos de discentes;
Produção textual;
Competências e habilidades dos PCNs
Data de 2012
defesa
APÊNDICE 2
O CIC6 está categorizado como redação Mediana por ter obtido 25 dos 60
pontos totais que podem ser atribuídos às redações do Concurso Vestibular da
Unioeste. Produzido em 2018, o CIC6 apresenta em sua estrutura o título e cinco
parágrafos: dois introdutórios, dois de desenvolvimento e um parágrafo conclusivo.
O título do CIC6 traz a frase do terceiro quadrinho da tirinha do Armandinho,
Brincando de pai, seguida da pergunta Como as crianças veem seus brinquedos e
brincadeiras?. Com esse título, infere-se que no texto há menção a essa visão das
crianças relacionadas aos brinquedos e às brincadeiras, o que faz o leitor da redação
atentar-se às respostas dadas pelo vestibulando. Contudo, o título indica a abordagem
do tema proposto na tirinha do Armandinho, mas não, necessariamente, que a
252
redação será sobre a tirinha. Porém, na redação, não há, em nenhum dos parágrafos
que a constroem, excertos com exemplos ou dados que demonstrem o olhar de
crianças sobre a temática brinquedos ou brincadeiras.
Os parágrafos introdutórios do CIC6 mencionam e avaliam a tirinha analisada
na redação, o que é um ponto positivo em se tratando do CIC. No CIC6, também há
um ponto de vista geral das tirinhas do Armandinho: o de que Elas trazem Críticas à
sociedade moderna do ponto de vista puro e inocente de uma criança (linhas 01-03).
No segundo parágrafo do CIC6, há uma alusão sobre o que ocorre na tirinha para que
o vestibulando pudesse atrelar o tema da tirinha a outro questionamento, o qual ele
chama de dúvida (linha 06). Essa dúvida é a se existe gênero para brinquedos e/ou
brincadeiras? Esta pergunta retoma o título da redação e nos confirma que a análise
proposta pelo vestibulando será sobre o tema, não sobre a tirinha.
Na tentativa de elencar argumentos, o vestibulando acrescenta, no terceiro
parágrafo do CIC6, dois exemplos sobre a temática. O primeiro aborda um fato de
grande repercussão, dizendo que uma grande marca famosa de sabão em pó fez um
vídeo, incentivando os pais a fazerem um “recall” das brincadeiras de seus filhos (linha
08-10). Já o segundo exemplo não é identificado de modo que consigamos ter acesso
a ele, ou seja, não há citação de nenhuma fonte do tal vídeo viral (linha 11), apenas a
descrição de que Nele, a imagem de uma menina é usada, onde a mesma defende
ideologia de gênero (linhas 12-13). Para finalizar o terceiro parágrafo o CIC6, o
vestibulando acrescenta outra pergunta retórica 72, Qual entendimento pode uma
criança ter em um assunto tão complexo? (linha 13-14).
O penúltimo parágrafo do CIC6 é formado por alguns argumentos e outras duas
perguntas retóricas. Ao dizer Claro que é de responsabilidade dos pais verificarem
com o que seus filhos estão brincando (linhas 15-16), o vestibulando, além de estar
convicto disso, argumenta a partir desse fato. O mesmo ocorre nas linhas 16 e 17.
Quando o vestibulando menciona que as “meninas brincam de casinha e boneca pois
se tornarão mães algum dia.”. Já as perguntas retóricas, levantadas pelo vestibulando
são: [...] meninos não se tornarão pais?, Meninas não vão dirigir? (linha 17-18). Ainda
no penúltimo parágrafo, há menção à tirinha do Armadinho nas linhas 18 e 19, Na tira,
Armandinho retruca a gozação de outra criança com uma resposta inteligente:
72 Com base em Silva e Santos (2015a, p. 250), uma pergunta retórica é “formulada para não ser respondida”,
pois, apesar da entonação e de recursos linguísticos que indiquem uma pergunta, ponto de interrogação e o uso
de pronomes interrogativos, por exemplo, trata-se de uma afirmação.
253
O CIC7 está categorizado como redação Mediana por ter obtido 28 dos 60
pontos totais que podem ser atribuídos às redações do Concurso Vestibular da
Unioeste. Produzido em 2018, o CIC7 apresenta em sua estrutura o título e três
parágrafos: um introdutório, apenas um de desenvolvimento e um parágrafo
conclusivo.
O título Um novo mundo infere que ao texto uma ideia de renovação,
justamente pela utilização que o vestibulando faz do adjetivo novo, o que faz com que
o interlocutor do CIC7 procure que tipo de renovações são essas que provocam a
remodelagem do mundo.
O vestibulando inicia o CIC narrando os fatos ocorridos na tirinha. Percebe-se
a intenção de descrever a tirinha para situar o interlocutor sobre o texto analisado. Os
excertos quando vê o garoto com um carrinho (linha 03) e começa a rir e tirar sarro de
255
O CIC7 não faz remissões à tirinha, pelo contrário, o vestibulando apenas narra
a tirinha e não traz descrições avaliativas do objeto de análise. Além disso, os
argumentos postos pelo vestibulando não possuem tanta força argumentativa, já que
transitam no âmbito do senso-comum. Um dos fatos que pode ter influenciado muito
na pontuação desta redação é a construção dos parágrafos. Percebe-se que o
parágrafo de desenvolvimento é o menor dos três, e é justamente neste parágrafo que
o vestibulando deveria ter articulado melhor as suas ideias, o que não ocorreu. Esse
tipo de textualidade faz com que haja incoerências que interferem diretamente na
pontuação dada à redação.
Não se pode deixar de mencionar os desvios gramaticais, de ortografia e de
pontuação, os quais também influenciam na pontuação, respectivamente: situação à
seu favor (linha 20); possuia (linha 15), comeca (linha 19); [...] Armandinho (linha 05)
(ausência de ponto-parágrafo), os quais são muito menos frequentes que nos CIC
pertencentes à categoria Prototípica.
257
O CIC8 está categorizado como redação Mediana por ter obtido 35 dos 60
pontos totais que podem ser atribuídos às redações do Concurso Vestibular da
Unioeste. Produzido em 2018, o CIC8 apresenta a seguinte estrutura: não há título,
há parágrafo introdutório, três parágrafos de desenvolvimento e o parágrafo
conclusivo.
No parágrafo introdutório do CIC8, o vestibulando menciona à temática
abordada na tirinha do Armandinho, mas sem detalhes que façam o interlocutor da
redação visualizar os fatos da tirinha dentro de um contexto específico. Também não
há uma descrição avaliativa sobre o objeto de análise.
No primeiro parágrafo de desenvolvimento do CIC8, o vestibulando tenta
expressar seu ponto de vista sobre o tema por meio de afirmações, como Meninas
são estimuladas e até um pouco forçadas a gostarem de brincar de atividades como
258
cuidar da casa, fazer comida e cuidar de bonecas como filhas (linha 05-07) e Estamos
passando o machismo que a sociedade impos para as nossas crianças (linha 08-10),
no entanto o vestibulando não justifica tais afirmações e também não utiliza
argumentos para sustentá-las. O mesmo ocorre no segundo parágrafo de
desenvolvimento da redação. O vestibulando faz novamente duas afirmações, as
quais possuem as mesmas inconsistências das asserções do parágrafo anterior, sem
justificativas ou argumentos que as defendam, afirma-se que Meninos não devem ser
zombados por conta de uma boneca (linha 13-14) e meninas não devem ser
repreendidas por quererem brincar de boneca e carrinhos ao mesmo tempo (linha 14-
16).
Os dois últimos parágrafos do CIC8, um de desenvolvimento e o parágrafo
conclusivo, são construídos por apenas um período cada. O vestibulando, no último
parágrafo de desenvolvimento argumenta que Devemos cuidar do nosso preconceito
para que não afetemos a ingenuidade de nossas crianças (linha 17-18). A locução
verbal Devemos cuidar traz a esse excerto um caráter exortativo com o intuito de fazer
com que o interlocutor repense sobre o preconceito, nesse contexto, o vestibulando
também se coloca nesse meio, o que se confirma com a utilização do pronome
possessivo da primeira pessoa do plural nosso (linha 17) e a forma verbal na negativa
não afetemos (linha 18), isso demonstra que ele se sente parte da sociedade e tem a
noção de que as atitudes preconceituosas afetam a ingenuidade de nossas crianças.
Neste excerto, novamente, o vestibulando reafirma que faz parte desse contexto com
a utilização do pronome adjetivo possessivo nossas.
Apesar disso, essa escolha na produção da redação deixou os parágrafos
relativamente curtos e, como podemos perceber pelo uso da conjunção subordinativa
adverbial comparativa Assim como (linha 19), manteria-se a coesão textual se ambos
os parágrafos fossem alocados como um único parágrafo.
Há apenas uma discrepância de caráter gramatical no CIC8, na linha 03, onde
o vestibulando utiliza o mecanismo linguístico no qual como tentativa de retomar o
substantivo brinquedos. O uso de no qual, como elemento anafórico, caracteriza um
erro gramatical, já que o verbo designar assume transitividade direta ou
bitransitividade, ou seja, o correto seria utilizar o artigo definido masculino no plural
mais o pronome relativo flexionado também no plural – os quais.
A falta de acentuação na linha 09, com relação ao verbo impor na terceira
pessoa do singular e no pretérito perfeito do indicativo, impôs, também caracteriza um
259
erro avaliado pela banca. No aspecto ortográfico, temos apenas uma separação
silábica incorreta entre as linhas 09 e 10, no-ssas.
Apesar desses poucos desvios de caráter gramatical e ortográfico, todo o
conjunto elencado acima, é preciso relembrar, também influencia na pontuação que
será acrescida à redação pela banca corretora, já que fazem parte dos critérios de
correção. Além disso, quando comparamos o CIC8, de categoria Mediana, aos CIC
de categoria Prototípica, percebemos que há posicionamentos perante o tema
proposto na tirinha, mas não há menção à tirinha em si. Outra característica notada é
que a argumentatividade do CIC8 é menor que a pertencente aos CIC Prototípicos.
260
O CIC9 está categorizado como redação Mediana por ter obtido, também, 35
dos 60 pontos totais que podem ser atribuídos às redações do Concurso Vestibular
da Unioeste. Produzido em 2018, o CIC9 apresenta a seguinte estrutura: não há título,
há parágrafo introdutório, dois parágrafos de desenvolvimento e o parágrafo
conclusivo.
Na primeira linha do primeiro parágrafo, o excerto [...] tirinha publicada na
rede Facebook do autor Alexandre Beck indica menção à tirinha analisada no CIC. Na
introdução, por exemplo, o vestibulando apresenta a temática da tirinha, porém de
modo impreciso, pois o vestibulando direciona especificamente a temática da tira
quando utiliza as palavras brinquedos e maternidade, contudo, ao tentar especificar
que o tema proposto na tirinha relaciona-se com a questão do gênero no tocante à
especificidade de brinquedos e da maternidade (linhas 02-03), ele não consegue ser
bem sucedido, justamente por utilizar o substantivo maternidade em vez de
paternidade. No parágrafo introdutório do CIC9 há operadores argumentativos que
marcam a opinião do vestibulando com relação à tirinha de Alexandre Beck, como tal
qual (linha 03-04), erroneamente (linha 04), Desse modo (linha 04), certamente [...]
portanto, claramente (linha 05-06). Apesar disso, há incoerências e imprecisões
ocorridas neste primeiro parágrafo do CIC9 acabam desestruturando a coerência
textual da redação.
Ambos os parágrafos de desenvolvimento do CIC9 trazem argumentos,
alguns estratégicos, porém com falhas. Por exemplo, quando o vestibulando cita as
feições das personagens da tirinha, enquanto uma esboça alegria com a sua resposta
certeira, a outra surpresa e quieta com a inteligente escolha do colega (linha 12-13),
o uso do adjetivo inteligente é uma avaliação do próprio vestibulando sobre a fala de
Armandinho, não da personagem secundária da tirinha, pelo menos não há nenhum
indício linguístico que confirme essa afirmação do vestibulando.
No segundo parágrafo de desenvolvimento, o vestibulando utiliza o advérbio
Outrossim (linha 16), o qual consideramos uma palavra muito formal para utilização
em uma redação de vestibular, já que é muito mais utilizada no meio jurídico. O
vestibulando utiliza como estratégia argumentativa citações de Sócrates e Ratzel
262
como uma forma de demonstrar à banca examinadora que possui conhecimento sobre
ambos os pensadores. Porém, há dois equívocos relacionados a esses argumentos.
Primeiramente, porque a ideia de que a ignorância é a raiz de todo o mal (linha 16)
não pertence a Sócrates, mas sim a Platão. A segunda estratégia argumentação, a
menção a Ratzel, também possui um equívoco, pois Ratzel foi o responsável pelo
determinismo geográfico, o qual traz o espaço geográfico natural como uma forma de
determinar o comportamento humano para que indivíduos considerados de raças
inferiores fossem subjugados por aqueles considerados superiores. Mais tarde, as
ideias de Ratzel se tornariam base para o movimento nazista. Nesse contexto, na
tentativa de impressionar a banca com menção ao pensador alemão, o vestibulando
não se deu conta disso, pois aparenta concordar com Ratzel.
Nos parágrafos desenvolvimento do CIC9, encontramos, também, algumas
outras discrepâncias, uma relacionada ao objeto de análise e a outra a um desvio
ortográfico. Na segunda linha do primeiro parágrafo de desenvolvimento, o
vestibulando afirma que a personagem secundária da tirinha do Armandinho está
assustado (linha 09), porém o uso desse adjetivo é inadequado, já que a personagem,
na tirinha, não demonstra essa feição, fato contradito pelo próprio vestibulando,
quando menciona que a referida personagem mantém a mesma feição de deboche
(linha 09).
Outra incoerência cometida pelo vestibulando, no CIC9, está localizada na
segunda linha do segundo parágrafo de desenvolvimento. A ortografia do verbo redigir
na terceira pessoa do singular e no presente do indicativo está redije (linha 17) em
vez de redige. Além do mais, o verbo redigir, de acordo com o dicionário Houiss da
Língua Portuguesa, significa, grosso modo, “exprimir por escrito” ou “escrever”, e
como os enunciados proferidos na tirinha são orais e dialogados, não há possibilidade
de a personagem ter escrito algo.
Para finalizarmos, tem-se algumas questões relacionadas ao parágrafo
conclusivo do CIC9. Os argumentos neste parágrafo são extremamente valorados
pelo vestibulando, o qual marca seu ponto de vista por meio de advérbios, adjetivos e
substantivos. Encontramos a utilização de adjetivos e advérbios em Evidencia-se,
portanto, que as mazelas sociais retratadas corretamente (linha 26) e em Assim,
Alexandre Beck, em sua fascinante tirinha, abrangiu satisfatoriamente (linha 29), e é
nesta mesma linha que há um desvio ortográfico, desta vez com o verbo abranger no
pretérito perfeito do indicativo, abrangiu no lugar de abrangeu. O vestibulando se
263
posiciona também quando menciona a ignorância e ineficiente social (linha 27) como
forma de ilustrar o que ocorre na tirinha do Armandinho.
Pudemos perceber que, apesar da presença de um ponto de vista sobre o
tema da tirinha e a utilização de sequências argumentativas, o CIC9 possui falhas que
diminuem a sua prototipicidade do CIC.
Em uma visão global do CIC9, compreendemos que a menção à tirinha e as
referências feitas dela ao longo da redação fazem com que o CIC9 se enquadre nas
características do gênero solicitado. Há trechos descritivos no CIC9, por exemplo, que
confirmam a tentativa do candidato em interpretar criticamente a tirinha, o que ocorre
principalmente no primeiro parágrafo de desenvolvimento, cuja predominância
tipológica é descritiva. A linguagem pedante e o mal uso das estratégias
argumentativas, principalmente ao citar Sócrates e Ratzel, também formam aspectos
linguísticos que influenciam negativamente na redação. Além disso, o CIC9 trata mais
sobre o tema da tirinha do que da própria tirinha. O vestibulando ainda afirma que a
tirinha do Armandinho traz de forma satisfatória a temática proposta, contudo não
elenca argumentos que sustentes seu ponto de vista.
Percebe-se o uso de operadores argumentativos, elementos coesivos, textuais
e enunciativos e de vocabulário variado na construção do CIC9, tais fatos ajudam a
justificar a pontuação aproximada à categoria prototípica.
264
Pontuação
09
Quanto vale a felicidade do seu animal? 01
Varias pessoas hoje em dia possuem animais de estimação 02
em suas residências, sejam eles gatos, cachorros, pássaros, répteis 03
entre outros, e muitos dos mesmos são agredidos, maltratados, 04
abandonados e ou até mesmo mortos pelos seus donos que 05
dizem dar todo amor e carinho. 06
Você pode ver isso claramente – e infelizmente – no 07
cotidiano hoje em dia. Quer um exemplo, pois bem, ligue 08
a televisão em uma tarde e coloque em qualquer jornal e 09
espere um pouco, quando menos esperar irá aparecer uma 10
reportagem sobre algum animal abandonado em casas, ou 11
terrenos baldios. 12
Sem contar também que algumas vezes ficamos sabendo 13
sobre casos de zoofilia com cachorros, mas não só cachorros 14
podemos citar também cavalos, éguas, cabras, entre outros 15
animais que diariamente passam por situações de total despre- 16
zo e crueldade. 17
O trafico de animais é outro tipo de crueldade 18
que ocorre muito todos os anos. Eles são submetidos aos 19
piores tipos de tratamento, ou condições de higiene, 20
como por exemplo os pássaros que são guardados em gaiolas 21
e deixados em galpões escuros, ou as vezes também deixados em 22
sacos escuros para venda. 23
24
25
26
27
28
29
30
O CIC20 está categorizado como redação Não-prototípica por ter obtido 09 dos
60 pontos totais que podem ser atribuídos às redações do Concurso Vestibular da
Unioeste. Produzido em 2019, o CIC20 apresenta em sua estrutura: há título,
parágrafo introdutório, dois parágrafos de desenvolvimento e um parágrafo
conclusivo.
O título do CIC20 é uma pergunta direta. O vestibulando utiliza o título Quanto
vale a felicidade do seu animal? (linha 01) para fazer referência à pesquisa do Ibope.
Tal estratégia faz com que o interlocutor comece a identificar a temática da redação.
Além disso, o título surte maior efeito naqueles que possuem algum animal de
estimação.
O primeiro parágrafo do CIC20 traz uma temática diferente daquela exposta no
texto da prova de redação a ser comentada. O vestibulando fala sobre maus-tratos
265
aos animais, não utilizando o texto disponível na coletânea da redação para fazer
comentários relacionados à temática proposta. Não há, no parágrafo introdutório do
CIC20 qualquer menção ou síntese do texto a ser interpretado criticamente pelo
vestibulando, o que destoa das características do comentário interpretativo-crítico.
No segundo parágrafo do CIC20, o vestibulando insiste em permanecer em
uma abordagem temática contrária ao que preconiza o texto disponível para análise
na prova de redação. Este parágrafo é todo construído por argumentos que abordam
os maus-tratos a animais, O vestibulando não retoma, e muito menos situa, o
interlocutor do CIC sobre os dados elencados pela notícia publicada na Revista
Galileu. Além disso, nota-se, na linha 07, uma estratégia para se dirigir diretamente
ao interlocutor do texto – o uso do pronome de tratamento Você.
O mesmo ocorre no terceiro parágrafo do CIC20. Apesar de o texto exprimir
certa situação de alguns animais, o vestibulando insiste em manter sua argumentação
contrária à temática.
No parágrafo conclusivo do CIC20, além de se manter em uma abordagem que
não condiz com a que o vestibulando deveria estabelecer em sua redação, ele não
estabelece concordância ou discordância com os apontamentos do texto analisado,
ou seja, o vestibulando continua a não mencionar absolutamente nada da notícia a
ser comentada.
Como se pode perceber, o CIC20 possui sérios problemas relacionados à
configuração do gênero CIC. A introdução não situa o interlocutor na temática
abordada pela notícia nem traz identificações que o possibilitem identificar o texto
alvo. Há posicionamento do vestibulando por meio de argumentos, porém sem
justificativas ou qualquer relevância ou contribuição inovadora. Além das questões
relacionadas ao gênero, há outras problemáticas textuais que fazem com que o CIC20
seja Não-prototípico.
O primeiro parágrafo do CIC20 inicia pelo pronome indefinido, sem acento
agudo, Varias (linha 02). Em seguida, o vestibulando tenta retomar os animais
elencados na linha 03 e 04 – gatos, cachorros, pássaros répteis e outros – por meio
do termo dos mesmos, porém esse tipo de construção é utilizado com o sentido de
algo que seja igual ou idêntico a alguma coisa, não existem, até o momento, estudos
voltados à utilização dessa construção linguística como pronome demonstrativo com
efeito anafórico. O vestibulando declara que inúmeros animais são agredidos,
maltratados, abandonados e ou até mesmo mortos pelos seus donos que dizem dar
266
todo amor e carinho (linha 04-06). Este excerto é o ponto de vista do vestibulando,
porém ele distorce a temática proposta na redação, pois elenca somente fatos ruins
que podem acontecer com os animais.
Nas linhas 07 e 08, primeiro parágrafo de desenvolvimento do CIC20, a
construção textual no cotidiano hoje em dia, além de redundante causa incoerência
na afirmação de que podemos perceber os fatos mencionados no parágrafo
introdutório claramente (linha 07). Na sequência, encontramos dois verbos no
imperativo que são característicos de sequências injuntivas, são eles ligue (linha 08)
e coloque (linha 09). Ainda neste parágrafo, também detectamos a expressão
linguística preditiva irá aparecer (linha 10), cujo objetivo é prever um acontecimento
futuro. Portanto, o segundo parágrafo do CIC20 não é predominantemente construído
por sequências argumentativas.
O segundo parágrafo de desenvolvimento é o que apresenta maiores
problemas, não no sentido de construção textual, mas sim na abordagem temática. A
abordagem dada pelo vestibulando neste trecho é voltada para a zoofilia (linha 14).
Fato não mencionado no texto de apoio, muito menos posto como tema da redação,
dito de outra forma, apesar de o vestibulando estar falando sobre animais e suas
relações com os seres humanos, o viés elencado não abarca a temática proposta.
O parágrafo conclusivo apresenta o substantivo masculino tráfico sem acento
agudo, trafico (linha 18), o que indica o verbo traficar na primeira pessoa do singular
no presente do indicativo. Ademais, faltam vírgulas para separar as expressões como
por exemplo (linha 21) e ou as vezes (linha 22), além do acento grave, indicativo de
crase, na locução adverbial de tempo às vezes. Além de tudo, o vestibulando finaliza
sua redação de forma vaga e, consequentemente, incoerente.
As características do CIC20, mostradas ao longo da análise, nos ajudam a
compreender os motivos de ser atribuída a pontuação 09. Este é o CIC com menor
pontos do nosso córpus linguístico. Além das falhas gramaticais, a falta de sequências
argumentativas e o seguimento fiel à temática proposta são dois outros fatores que
ajudam na categorização do CIC20.
267
Pontuação
12
Amor ou dependência? 01
A necessidade humana de ter alguém ou algo para se relacio- 02
nar é uma questão social e biológica, sendo que desde da 03
existência dos seres humanos vivemos em grupos formando a 04
sociedade que temos hoje. Na atualidade casais optam por terem 05
no máximo um ou dois filhos, ou nenhum, aumentando o números 06
de pessoas que compram ou adotam animais domésticos e consi- 07
deram os mesmos como membros da familia ou até mesmo como 08
“filhos”. 09
Os animais domésticos, principalmente cães e gatos são tra- 10
tados como pessoas, muitos se comportam como crianças devido 11
o condicionamento que humanos lhes dão, tirando o instinto 12
animal e os privando de viver de forma natural. As pessoas se 13
tornaram dependentes dos animais, gastam dinheiro e tempo 14
comprando roupas, sapatos, comidas e brinquedos para seus bichos 15
de estimação. 16
No mundo em que vivemos, onde crianças são abandonadas, 17
grande parte da população vive na miséria, existem milhões de pe- 18
ssoas morando na rua, os animais de rua passam fome, existem 19
pessoas que gastam absurdos para comprar e transformar animais 20
em “pessoas”, só para ostentar nas redes sociais ou tentar suprir 21
suas frustrações humanas. 22
Tratam essa forma de viver com amar, mas na realidade 23
falta-se o bom senso do amor ao próximo, ou seja, preocupa-se 24
com a necessidade do outro, ajudar entidades carentes, distribuir 25
o amor as pessoas, adotar um animal de rua e entre outras 26
boas ações para se ter uma sociedade melhor. Mudar nossas 27
atitudes podem sim transformar o mundo. 28
29
30
O CIC21 está categorizado como redação Não-prototípica por ter obtido 12 dos
60 pontos totais que podem ser atribuídos às redações do Concurso Vestibular da
Unioeste. Produzido em 2019, o CIC21 apresenta em sua estrutura: há título,
parágrafo introdutório, dois parágrafos de desenvolvimento e um parágrafo
conclusivo.
O título do CIC21 é uma pergunta retórica. Percebe-se que a sua intenção é
chamar atenção sobre a temática que será abordada na redação, já que o título não
deixa claro de qual tema tratará o texto.
O CIC21 aborda na introdução a temática proposta no texto a ser comentado,
contudo, assim como no CIC20, o vestibulando não situa o interlocutor no texto da
coletânea. Não há menção ao texto da Revista Galileu ou qualquer dado da pesquisa
Ibope ou da Universidade Georgia. Há uma argumentação sólida no parágrafo
268
e transformar animais em “pessoas”, só para ostentar nas redes sociais (linha 19-21)
também possui caráter genérico, não há como afirmarmos veementemente essa
informação, muito menos a de as pessoas fazem essas ações para tentar suprir suas
frustrações humanas (linha 21-22). As alegações genéricas não podem ser
consideradas como argumentos válidos, pois elas desestabilizam a argumentação
proposta pelo vestibulando e, consequentemente, não são legitimam a defesa de um
ponto de vista sobre a temática.
O parágrafo conclusivo do CIC21 inicial de uma forma ambígua, pois não se
compreende o sentido que o vestibulando quis passar ao escrever Tratam essa forma
de viver com amar (linha 23). Pode-se inferir que esse excerto esteja no sentido de
que as pessoas “tratam essa forma de viver com amor”, mesmo assim, o uso do verbo
amar no infinitivo em vez do substantivo abstrato amor causa esse efeito no texto.
Temos também, neste parágrafo, incoerência na regência nominal do substantivo
amor (linha 26), em que é preciso utilizar o acento grave na expressão amor às
pessoas.
As desestabilidades textuais, argumentativas e temáticas do CIC21 são o que o
caracterizam como redação Não-prototípica. Percebe-se que são poucos os erros
gramaticais, porém, ao nos depararmos com as disparidades argumentativas do texto,
tem-se a resposta de o porquê a banca atribuir a esta redação tal pontuação.
271
Pontuação
14
Por conta das pessoas terem idéias diferentes 01
acaba gerando brigas e desentendimentos e por esse 02
motivo acaba criando mágoas, decepçoes e afim de 03
evitar isso muitos preferem ter um animal como 04
companheiro. Pelo simples motivo de os animais chatealas 05
serem as minimas possíveis e por algo tão pequeno 06
acaba criando sentimentos por eles. imagina só chegar 07
em casa cansado estressado e ter um companheiro 08
que não te perturbe e que só quer receber e 09
dar carinho. 10
Muitas das vezes é criado um afeto tão grande 11
pelo animal que é dado importancia a ele como se 12
fosse alguém da familia. O seu animal está nescessitando 13
da mesma ajuda que seu vizinho chato, por exemplo 14
ambos cairam em um poço abandonado. A maioria 15
das pessoas primeiro se preocuparia com seu animal 16
e o tiraria o mais rápido possivel de lá e só 17
depois que ia ter a certeza de que seu 18
animal estivesse bem ai sim talvez ajudaria 19
o seu vizinho pelo simples fato de amar seu 20
e animal e ter um certo ódio do vizinho por 21
ele perturbar sua paz. 22
23
24
25
26
27
28
29
30
O CIC22 está categorizado como redação Não-prototípica por ter obtido 14 dos
60 pontos totais que podem ser atribuídos às redações do Concurso Vestibular da
Unioeste. Produzido em 2019, o CIC22 apresenta a seguinte estrutura: não há título,
parágrafo introdutório e o parágrafo conclusivo. O CIC22 é a única redação do nosso
córpus construída somente por dois parágrafos.
No primeiro parágrafo do CIC22, o vestibulando inicia com exemplificações
relacionadas à temática voltada para as relações entre humanos e animais de
estimação, como é proposto na prova de redação, porém sem maiores detalhes que
possam situar o interlocutor em um contexto mais específico. Os exemplos revelam
alguns motivos de as pessoas preferirem animais de estimação a pessoas. Tal forma
de iniciar a redação a torna confusa e incoerente, principalmente por não haver
nenhuma síntese ou identificação do texto a ser comentado pelo vestibulando, muito
272
menos especificações sobre o texto da coletânea. O ato de não situar o leitor do CIC
sobre o texto analisado, sem contextualizações ou menção ao gênero interpretado de
modo critico, constitui uma falha no gênero CIC, já que essas são informações
essenciais característica desse tipo de produção textual. Outro fato importante
identificado no primeiro parágrafo do CIC22 é o de o vestibulando utilizar argumentos
pertencentes ao senso-comum, como, por exemplo, Por conta das pessoas terem
idéias diferentes (linha 01), ou quando o vestibulando utiliza um estilo menos formal
para estabelecer seus exemplos – imagina só chegar em casa cansado estressado e
ter um companheiro que não te perturbe e que só quer receber e dar carinho (linha
07-10).
O parágrafo conclusivo do CIC22 dá continuidade à temática, contudo o
vestibulando não deixa claro o seu ponto de vista, se concorda ou discorda, não
justifica os posicionamentos e, como no parágrafo introdutório, utiliza um estilo de
linguagem informal, como se o texto fosse oral-dialogado, o que em uma redação de
vestibular pode acarretar diminuição na nota do candidato. Como não há menção às
pesquisas tanto do Ibope quanto da Universidade Georgia nem da Revista Galileu, o
parágrafo conclusivo do CIC22 continua com os mesmos problemas que o primeiro
parágrafo da redação. Além do mais, não há argumentação sólida que sustente o
ponto de vista do vestibulando, justamente pela falta de contextualização, a qual é
essencial no gênero CIC. Podemos perceber isso com os exemplos hipotéticos
utilizados pelo vestibulando, como em O seu animal está necessitando da mesma
ajuda que seu vizinho chato, por exemplo ambos caíram em um poço abandonado
(linha 13-15). Nesse caso, o vestibulando utiliza um argumento generalizador, pois
complementa dizendo que A maioria das pessoas primeiro se preocuparia com seu
animal e o tiraria o mais rápido possível de lá (linha 15-17). Dos três período que
formam o parágrafo conclusivo do CIC22, apenas um não gira em torno da mesma
exemplificação, sobre salvar o animal ou a pessoa em uma situação hipotética, assim
como no “cenário hipotético” da pesquisa realizada por psicólogos da Universidade
Georgia.
No parágrafo introdutório do CIC22, identificamos, logo na primeira linha, a
presença do sujeito preposicionado das pessoas seguido do verbo ter na forma
nominal infinitivo e na terceira pessoa do plural, terem, que é uma forma muito utilizada
na linguagem coloquial. Essa construção linguística é caracterizada como errônea
pela gramática, pois não existe, na Língua Portuguesa, sujeito preposicionado. Nesse
273
tipo situação, é necessário utilizar a preposição separada do artigo, neste caso “de as
pessoas”. Nesta mesma linha, o vestibulando acentua o substantivo abstrato ideias
que, após o novo acordo ortográfico que entrou em vigor no ano 2009. Na linha 03, o
produtor do CIC22 deixa de utilizar o til, sinal de nasalização em decepçoes. Em
seguida, utiliza a palavra afim na tentativa de atribuir ao termo o sentido de finalidade,
caracterizando-se em outro erro gramatical. Na linha 05, a palavra chatealas, no lugar
de chateá-las, verbo chatear na terceira pessoa do singular e flexionado no infinitivo
mais o pronome oblíquo átono da terceira pessoa do plural -las, cuja intenção é
retomar a palavra pessoas (linha 01), foi escrita de modo impreciso, o que pode causar
incoerência para um leitor mais desatento. Ademais, há outras discrepâncias, como a
não acentuação do substantivo minimas (linha 06), o uso de letra minúscula em
imagina (linha 07) ao iniciar a frase após o ponto-simples, não se esquecendo de que
o imperativo do verbo imaginar é imagine, e a falta de um termo que ligue os adjetivos
cansado e estressado (linha 08), quer seja a conjunção aditiva e quer seja a conjunção
alternativa ou, ou até mesmo uma vírgula.
Também há uma quantidade significativa de problemas relacionados à
construção do parágrafo conclusivo do CIC22. Inicialmente, a utilização de Muitas das
vezes (linha 11) causa dificuldades em se compreender o sentido do início do período,
o que ocorre pelo acréscimo desnecessário da palavra das. A partir da linha 12,
podemos elencar problemáticas pontuais do CIC22: não uso de acento circunflexo no
substantivo importancia (linha 12), acento agudo no substantivo familia (linha 13), do
adjetivo possivel (linha 17) e do advérbio de lugar ai (linha 19), erro ortográfico na
forma verbal nescessitando (linha 13), a falta de vírgula ao final da locução denotativa
por exemplo (linha 14) e a não acentuação do verbo cair na terceira pessoa do plural
do pretérito perfeito do indicativo cairam (linha 15). O CIC22 ainda possui outros
problemas que comprometem sua coesão e sua coerência, como ocorre no último
período do parágrafo, onde o vestibulando menciona que, em um caso emergencial,
A maioria das pessoas primeiro se preocuparia com seu animal (linha 16) e, somente
após saber que ele está bem ai sim talvez ajudaria o seu vizinho (linha 19). Mas o que
chama a atenção é a forma como o vestibulando se refere ao vizinho, dizendo que
existe um certo ódio do vizinho por ele perturbar sua paz (linha 21-22). A linha
argumentativa do CIC22 fica comprometida com esse tipo de afirmação genérica e,
principalmente, dissonante ao tema proposto.
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Pontuação
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Creio que atualmente em nossa sociedade, muitos individuos 01
preferem mais um animal de estimação do que por exemplo 02
um amigo humano por alguns motivos, que de certos modos 03
estão corretos. 04
A humanidade já pode ser decretada como algo perdido ou 05
falho, há tantas guerras e conflitos entre os seres humanos 06
que passoa acreditar mais nos animais. O cão ama o seu 07
dono(a) incondicionalmente e independentemente das situações vividas, 08
é um verdadeiro companheiro, diferentemente do humano que 09
tenta tirar aproveito de tudo e de todos, além de não ser o 10
melhor companheiro. 11
É muito mais vantajoso realizar investimentos em animais 12
do que em um humano adulto. Entretanto nos humanos devemos 13
ter empatia com nossos colegas humanos, confesso que 14
âpos todo este comentario ainda assim, entre um humano 15
e um animal, tentaria salvar a vida do homem (mulher), pois 16
em minha concepção devemos salvaguardar a existência da 17
especie humana. 18
Nos humanos podemos ser inquestionavelmente hipocritas em 19
variados assuntos, podemos desempenhar ações que degrinam o 20
nosso colega, mas devemos tomar decisões irrelevantes se preferi- 21
mos cuidar dos animais ou de humanos, o importante é 22
conviver em harmonia. 23
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O CIC23 está categorizado como redação Não-prototípica por ter obtido 17 dos
60 pontos totais que podem ser atribuídos às redações do Concurso Vestibular da
Unioeste. Produzido em 2019, o CIC23 apresenta em sua estrutura: não há título,
parágrafo introdutório, dois parágrafos de desenvolvimento e um parágrafo
conclusivo.
O vestibulando inicia o CIC23 abordando a temática proposta na prova de
redação. Para isso, introduz um argumento utilizando o verbo crer na primeira pessoa
do singular no modo indicativo, Creio que atualmente em nossa sociedade, muitos
indivíduos preferem mais um animal de estimação do que por exemplo um amigo
humano (linha 01-02), ou seja, percebe-se o posicionamento do vestibulando no
primeiro parágrafo do CIC, contudo, ele não retoma o texto da coletânea que está
comentando nem elenca informações essenciais para que o interlocutor se situe na
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Pontuação
17
Em meio a população Brasileira, pode observar que entre 01
sinco pessoas três possuem um animal de estimação em 02
sua casa, aonde o cuidado e atensão são redobrados, a 03
procura por ter um animal de estimação como gato ou 04
cão, tem aumentado muito nos ultimos anos. 05
O cuidado em ter um animal, tem levado as pessoas 06
a se preocuparem mais com eles do que com elas mesmo, 07
o apego que é criado, esses animais pode fazer com que 08
eles substituam a vontade de ter um filho ou até mesmo 09
venha preencher o vazio de uma pessoa qu mora sozinha. 10
A população tem valorizado mais seus animais, pois os 11
gastos tem aumentado, Ongs tem sido abertas para acolher 12
animais de ruas, projetos sociais, as pessoas tem feito para 13
sustentar esse tipo de projetos. Estão mais preocupados com 14
o bem estar de um animal doque de uma pessoa. 15
Tem aumentado a procura por fazer doações para casas 16
que abrigam esses animais de rua ou para adotar 17
algum, a preocupação tem feito com que as pessoas se 18
esquesam que tambem a moradores de rua, não somente 19
animais que precisem de ajuda. 20
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O CIC24 está categorizado como redação Não-prototípica por ter obtido 17 dos
60 pontos totais que podem ser atribuídos às redações do Concurso Vestibular da
Unioeste. Produzido em 2019, o CIC24 apresenta a seguinte estrutura: não há título,
parágrafo introdutório, dois parágrafos de desenvolvimento e um parágrafo
conclusivo.
O primeiro parágrafo do CIC24 também não aborda o texto que está sendo
analisado no CIC. Não há síntese ou qualquer forma de identificação do texto
publicado na Revista Galileu. O que o vestibulando propõe no parágrafo introdutório
é expor o tema sobre a relação das pessoas com os animais de estimação, assim
como a notícia da Revista Galileu disponível na coletânea da prova de redação como
texto-objeto a ser analisado pelo vestibulando no CIC. A falta dessas informações
essenciais no CIC descaracteriza o gênero, já que há a necessidade de situar o
280
interlocutor da redação sobre o texto analisado, por exemplo, a qual gênero pertence
e onde foi publicado, e como o autor deste texto aborda a temática. Apesar de o
vestibulando, aparentemente, utilizar dados para consolidar seus argumentos, não há
menção de onde esses dados foram retirados. O vestibulando afirma que entre sinco
pessoas três possuem um animal de estimação em casa (linha 01-03) e que a procura
por ter um animal de estimação como gato ou cão, tem aumentado muito nos últimos
anos (linha 03-05). Vale ressaltar que não há, no parágrafo introdutório do CIC24, um
ponto de vista definido pelo vestibulando.
O primeiro parágrafo de desenvolvimento do CIC24 dá progressão à temática,
embora ainda não cite o texto analisado. O vestibulando tece a argumentação
mostrando exemplos hipotéticos de possíveis motivos que levam as pessoas a
adotarem animais para torna-los de estimação. Tais hipóteses estão caracterizadas
pela locução verbal com o verbo modalizador poder como auxiliar no excerto esses
animais pode fazer com que eles substituam a vontade de ter um filho (linha 08-09),
trecho ligado ao posterior pela conjunção coordenativa alternativa ou, levantando
outra ação hipotética com o auxílio do verbo vir na terceira pessoa do plural no
presente do subjuntivo – ou até mesmo venha preencher o vazio de uma pessoa qu
mora sozinha (linha 09-10).
No terceiro parágrafo do CIC24, há menção sobre os gastos com animais de
estimação no trecho A população tem valorizado mais seus animais, pois os gastos
tem aumentado (linha 11-12), como demonstra a pesquisa do Ibope no texto da prova
de redação a ser analisado pelo vestibulando, contudo, como nos parágrafos
anteriores, não há contextualização ou identificação do texto da Revista Galileu. O
último período do terceiro parágrafo do CIC24 também faz referência ao que aponta
a notícia publicado na Revista, mas dessa vez sobre a pesquisa feita na Universidade
Georgia. O vestibulando revela em seu ponto de vista que Estão mais preocupados
com o bem estar de um animal doque de uma pessoa (linha 14-15).
No parágrafo conclusivo do CIC24, o vestibulando deixa claro o seu ponto de
vista sobre a temática abordada no texto da Revista Galileu, embora ainda não faça
menção a ele. O vestibulando revela que Tem aumentado a procura por fazer doações
para casas que abrigam esses animais de rua ou pra adotar algum (linha 16-18). Tais
informações não estão disponíveis na notícia publicada na Revista Galileu, o que
demonstra um conhecimento externo desse fato, e foram trazidas para a redação com
o intuito de produzir uma crítica, a de que a preocupação tem feito com que as pessoas
281
se esquesam que tambem a moradores de rua, não somente animais que precisem
de ajuda (linha 18-20). Não há, no processo de argumentação do parágrafo conclusivo
do CIC24, posicionamentos originais sobre o tema abordado na prova de redação ou
contribuições que sejam relevantes.
No parágrafo introdutório do CIC24, o vestibulando utiliza o adjetivo pátrio
Brasileira (linha 01) grafado com letra maiúscula, porém, segundo a norma padrão da
Língua Portuguesa, os adjetivos pátrios devem ser escritos com inicial minúscula, a
não ser que iniciem a frase, o que não é o caso de Brasileira. Mais à frente, na linha
02, há erro ortográfico na palavra sinco, numeral cardinal, porém, mais grave ainda é
a afirmação feita pelo vestibulando de que entre sinco pessoas três possuem um
animal de estimação em sua casa (linha 01-03) sem qualquer menção à fonte desses
dados, já que não é uma informação trazida pelo texto proposto para a prova de
redação. Ainda na linha 03, temos erros em aonde e em atensão. O primeiro é
caracterizado como erro porque não há verbo indicando regência pela preposição
essencial a, apenas o advérbio onde retomando uma palavra anterior, casa (linha 03);
já o segundo, como é percebido, constitui erro ortográfico. Em a procura por ter um
animal de estimação como gato ou cão, tem aumentado muito nos ultimos anos (linha
03-05), temos uma vírgula, após a palavra cão, que separa o sujeito da oração, a
procura por ter um animal de estimação, do predicado, tem aumentado muito nos
ultimos anos, além, claro, da não acentuação do adjetivo substantivado ultimos.
Passando para o segundo parágrafo do CIC24, também ocorre separação entre
sujeito e predicado por vírgula em O cuidado em ter um animal, tem levado (linha 06).
Em elas mesmo (linha 07), há discordância de número e gênero entre o pronome elas
e o adjetivo mesmo. Neste parágrafo, temos discordância também, mas dessa vez
verbal, em esses animais pode (linha 08). Neste excerto o sujeito está no plural,
portanto o verbo também precisa estar para que haja concordância entre os termos.
Na linha 09, percebe-se a utilização do pronome do caso reto eles como tentativa de
retomar as pessoas (linha 06), a qual torna-se falha, visto que o vestibulando utiliza o
pronome masculino em de vez do feminino elas. Por fim, na linha 10, há um desvio
ortográfico na escrita do pronome relativo que, em uma pessoa qu mora sozinha.
No segundo parágrafo de desenvolvimento, há alguns erros idênticos de falta
de concordância verbal em os gastos tem aumentado (linha 12), Ongs tem sido
abertas (linha 12) e as pessoas tem (linha13). Os três verbos ter na terceira pessoa
do plural do presente do indicativo deveriam ter o acento diferencial indicativo de
282
plural. Além disso, o vestibulando grafou a sigla ONG em letra minúscula, o que é
caracterizado como erro, pois as siglas, com iniciais independentes, na Língua
Portuguesa, são grafadas em caixa alta. O vestibulando argumenta, na linha 13, que
as pessoas tem feito para sustentar esse tipo de projetos. O que não fica claro, como
percebido, é o que elas têm feito, visto que não há complemento que identifique essa
ação de fazer algo para sustentação dos projetos. Temos, dessa forma, uma falha
argumentativa que faz o excerto ser incoerente. Para finalizarmos as análises do
último parágrafo de desenvolvimento do CIC24, é preciso mencionar a não utilização
do hífen no substantivo bem estar (linha 15) e a união inexistente entre a preposição
essencial de mais o artigo definido masculino, formando a contração expletiva do, a
qual pode ou não acompanhar a conjunção subordinativa adverbial comparativa que.
No último parágrafo do CIC24, encontramos um erro ortográfico em esquesam
(linha 19), verbo esquecer na forma nominal gerúndio na terceira pessoa do plural.
Em seguida, o vestibulando deixa de acentuar o advérbio de inclusão tambem (linha
19) que modifica o sentido do verbo haver na terceira pessoa do singular do indicativo,
o qual foi escrito pelo vestibulando como a (linha 19). Percebe-se a falha pelo contexto
do excerto, quando ele diz que também há moradores de rua, não somente animais
que precisem de ajuda (linha 19-20). Cabe mencionarmos, também, que a forma
verbal precisem é do presente do subjuntivo, ou seja, não cabe no contexto que o
vestibulando deseja passar para o seu interlocutor, já que não há incertezas ou
condições em sua afirmação, portanto basta que utilizemos o verbo precisar na
terceira pessoa do plural do indicativo para que a frase fique acertada.
Percebe-se, com base na pontuação recebida pela banca examinadora, que o
CIC24 também não alcançou construções e movimentos textuais que satisfizessem
os critérios de correção das redações da Unioeste. As discrepâncias gramaticais e as
falhas argumentativas ao longo da redação deixam claro o motivo de tal pontuação,
mas, é preciso notar, principalmente, como elencamos nas análises acima, as falhas
na construção do gênero CIC, principais responsáveis pela nota e categorização Não-
prototípica do texto.