A Escala Fenológica Da Cultura Do Trigo

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A escala fenológica da cultura do trigo

O trigo (Triticum spp.) é uma gramínea de grande interesse agronômico cultivada


mundialmente. Além disso, é a principal cultura de inverno no Brasil, principalmente nos
estados do Rio Grande do Sul e Paraná, que são os maiores produtores em área e volume
de produção. Na busca pela alta produtividade de uma lavoura de trigo, além de condições
ideais de fertilidade, chuva e fotoperíodo, aliados ao conhecimento agronômico, é
necessário conhecer as principais características de cada estádio fenológico da cultura.
Dessa forma, é possível associar as fases de desenvolvimento da planta com o manejo
adequado para cada situação específica dentro da cadeia produtiva.
Nesse contexto, existem as escalas fenológicas, em que as fases observadas desde
a emergência até a maturação são descritas, de forma a definir os estágios de crescimento
e desenvolvimento da planta. Uma das escalas utilizadas para a cultura do trigo é a Escala
Fenológica de Zadoks (Figura 1), onde as fases, vegetativa e reprodutiva da planta são
descritas através de um código de 2 dígitos relacionado à morfologia externa da planta.
De forma geral, a fenologia do trigo é dividida em cinco etapas, sendo elas:
germinação/crescimento da plântula, afilhamento, alongamento, espigamento e a
maturação.

Figura 1 — Escala fenológica de Zadoks

Adaptado de Tom Basden


A semente de trigo possui baixa atividade metabólica e, quando depositada no
solo sob condições ideais de temperatura e umidade, no estádio 0.1 inicia um processo de
embebição, onde as células embrionárias se reidratam. Esse “despertar” dá início às
atividades metabólicas e é a primeira subfase da germinação, o que gera a energia
necessária para divisão celular. Posteriormente, em 0.5, a radícula é emitida, auxiliando
o embrião na fixação e absorção de compostos para seu desenvolvimento até a emissão e
emersão do coleóptilo (0.7). A partir desse estádio, a plântula já é visível acima do nível
do solo.
O crescimento é caracterizado pela primeira emissão das folhas verdadeiras
através do coleóptilo. Quando uma folha verdadeira anterior se abre, surge por meio do
epicótilo outra que na sequência também irá se abrir. Esse processo ocorre de forma
gradual até o surgimento de (em média) nove ou mais folhas.

Figura 2 — Plântula de trigo

Fonte: Volmir Sergio Marchioro

O afilhamento (Figura 3) se inicia, quando a planta está no estádio fenológico 2.0,


com o colmo principal expandido, podendo surgir em média nove ou mais afilhos
paralelos à base principal, dependendo das condições de clima, fertilidade e característica
de cultivar. Agronomicamente, esse é o período de desenvolvimento do trigo ideal para
aplicação de herbicidas no controle de plantas daninhas, já que alguns ingredientes ativos
podem afetar o desenvolvimento da plântula de trigo quando aplicadas de forma precoce
ou, se realizado de forma tardia, podem prejudicar a diferenciação floral e o rendimento
dos grãos.
Figura 3 — Afilhamento do trigo

Fonte: Volmir Sergio Marchioro

O crescimento em altura da planta ocorre na fase de alongamento (Figura 4),


iniciando no estádio 3.0, o que inibe a formação de afilhos devido a competição pelos
recursos energéticos. Os nós se tornam visíveis de forma gradual, permitindo que a planta
tenha um maior aporte e área foliar, o que é fundamental considerando alto rendimento,
pois a interceptação da radiação solar se torna mais efetiva. Com o alongamento do colmo
até o último entrenó, a espiga que está se desenvolvendo dentro do colmo poderá surgir
no topo da planta, perceptível nos estádios 3.7 a 3.9 junto da folha bandeira (última folha).
Nesse momento, também há em 4.0 o “emborrachamento”, onde a bainha foliar é
engrossada finalizando o período vegetativo. Durante esse processo a planta está bastante
vulnerável a estresses hídricos ou térmicos que possam ocorrer no ambiente.
Figura 4 — Alongamento do trigo

Fonte: Volmir Sergio Marchioro

O período reprodutivo se desenvolve durante o espigamento (Figura 5), e é


caracterizado pela diferenciação das espiguetas da inflorescência durante o estádio 5.0,
q9ue prosseguirá para o surgimento gradual da espiga principal e das espigas terminais.
Posteriormente, após a emissão da espiga, ocorre em 6.0 a antese floral, ou seja,
amadurecimento dos órgãos sexuais da planta. Durante o espigamento a planta do trigo é
suscetível ao ataque fúngico, principalmente pela doença denominada giberela , causada
pelo fungo Gibberella zeae que compromete a qualidade dos grãos. Por isso, o produtor
precisa ficar atento aos sintomas e realizar o controle adequado nesse período. Quando a
planta atinge a maturidade sexual, ocorre autofecundação e consequente formação do
grão.
Figura 5 — Espigamento do trigo

Fonte: Volmir Sergio Marchioro

A última fase observada na cultura do trigo se inicia em 9.0, a maturação (Figura


6), precede os ciclos finais do metabolismo vegetal e a colheita. O enchimento do grão é
caracterizado por 3 fases, sendo a primeira o estado de grão leitoso (7.3 a 7.7), com a
cariopse aquosa e grande quantidade de água dentro do grão, grãos em massa (8.3 a 8.7),
inicialmente massa mole e posteriormente massa dura, com maturidade fisiológica e
menor umidade no interior do grão. Por fim, a fase de grãos maduros com a cariopse dura,
pronto para a colheita, codificado pelo estádio 9.2. Posteriormente a planta entra em
senescência e secagem das folhas e espiga, finalizando o ciclo do corpo vegetal na cultura
do trigo no estádio 9.9.
Figura 6 — Maturação do trigo

Fonte: Volmir Sergio Marchioro

Evidencia-se assim a importância da utilização das escalas fenológicas para


melhor compreensão e detalhamento do ciclo de desenvolvimento da planta. Conhecer
esse ciclo é indispensável na tomada de uma decisão agronômica, definindo o momento
ideal para aplicação de herbicidas, inseticidas e fungicidas, por exemplo. Dessa forma, é
possível compreender o efeito do metabolismo do corpo vegetal para proporcionar
condições ideais na busca pelo alto rendimento da lavoura.

Referências:

TRIGO e seus aspectos: Aspectos Gerais. FARTRIGO. Disponível


em: http://www.fartrigo.com.br. Acesso em: 27 abr. 2021.

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ZADOKS, J. c., CHANG, T. T.; KONZAK, C. F. A decimal code for the growth
stages ofcereals. Weed Research, Oxford, v. 14,1974.

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