SP 1 - Fernanda Rodrigues

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FERNANDA RODRIGUES

SP 1 – “ Apenas uma vez”

1. Relembre o ciclo celular, suas fases e pontos de checagem (trazer os oncogênicos).

O ciclo celular
Todas as atividades que as células desempenham durante a divisão celular são organizadas em fases específicas em
um ciclo – o ciclo celular. Ele é composto por 4 fases principais que acontecem SEMPRE na seguinte ordem :

G1 → S → G2 → M

Essas fases são importantes para que a célula tenha tempo de duplicar seu material antes da divisão e de verificar
se todas as etapas estariam ocorrendo de maneira apropriada.

O núcleo e o citoplasma se dividem na fase M, que é a primeira etapa do ciclo mitótico, quando os
cromossomos se separam. Na segunda parte, ocorre a divisão física do citoplasma, denominada citocinese.

Após as divisões nuclear e citoplasmática, a nova célula precisa avaliar o que fará na próxima etapa: se irá se
autorrenovar (iniciar um novo ciclo celular), se irá se diferenciar ou se irá morrer. Essa avaliação depende das
condições em que essa célula se encontra. Se as condições induzem a diferenciação celular ou a morte
programada, por exemplo, a célula pode sair do ciclo celular e iniciar a fase G0; caso contrário, a célula segue
para a fase G1.

OBS: Na fase G0, a célula está aguardando um estímulo extracelular para começar a divisão.

A fase G1 é a etapa em que a célula interpreta diferentes sinais provenientes do microambiente, de células
vizinhas e sinais internos, preparando-se para os próximos passos do ciclo celular. Nessa fase, a célula cresce, isto
é, aumenta em massa, confere a integridade do DNA e se há mitógenos e nutrientes. A célula pode permanecer
na fase G1 por um longo período antes de prosseguir com o ciclo celular, porém, se as condições propiciam uma
nova entrada no ciclo celular e a divisão da célula, ela prossegue pela fase G1.

A próxima fase é a de síntese de DNA, denominada fase S, quando todo o genoma da célula será duplicado uma
única vez, por um processo nomeado “replicação”. Na fase S também ocorre a síntese de histonas e a duplicação
dos centrossomos.

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Após a fase de síntese, a célula se direciona para a fase G2, na qual verificará se o DNA se duplicou corretamente
ou se ocorreu algum erro de replicação, para, então, preparar-se para a fase de divisão das células: a fase M.
As fases G1, S e G2, em conjunto, são conhecidas como interfase.

OBS: Durante a interfase, a célula aumenta de tamanho, o DNA dos cromossomos é replicado e o
centrossomo é duplicado.
As células sofrem grandes modificações durante a divisão celular
Durante o ciclo celular, a célula passa por diferentes etapas que envolvem mudanças importantes. Em algumas
dessas fases, a célula duplica seu conteúdo, rearranja suas estruturas existentes ou cria novas estruturas. Por
exemplo, na fase S, ocorre a replicação do DNA e a duplicação dos centrossomos. Já na fase M, a célula monta o
fuso mitótico, uma estrutura essencial para a divisão celular. Essas modificações são específicas para cada etapa do
ciclo e garantem que a célula se divida corretamente e funcione de maneira adequada.

Os centrossomos são uma estrutura de organização cromossômica essencial para a divisão celular, como o fuso
mitótico, uma espécie de 'andaime'. As células são constituídas por centríolos, organelas em seu citoplasma, e não
se dividem. Centríolos são cílios em forma de cilindro, ou centríolos, compostos de nove trios de microtúbulos
dispostos radialmente.

A fase S do ciclo celular ocorre quando os centríolos estão em um padrão duplo e se organizam em pares. Mpc é
um material pericentriolar denso que cobre o mpc em torno de cada par de centríolos. Os centrossomas são
compostos pelo mpc e pelos dois centríolos. Os centrossomas são responsáveis ​por organizar os microtúbulos do
citoesqueleto, que afetam a forma, a polaridade e a mobilidade da célula.

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Os pólos do fuso mitótico são formados por cada centrossomo durante a divisão celular, que se move para o lado
oposto da célula. Assim, a célula-mãe fornece um centrossomo para todas as células-filhas que surgem da divisão.
Este arranjo garante que os cromossomos sejam distribuídos igualmente entre as células-filhas.

Os microtúbulos são estruturas semelhantes a fios que emergem dos centrossomas durante a mitose e se
estendem até o centro da célula, onde a placa metafásica está localizada. O fuso mitótico é um conjunto de
microtúbulos responsáveis ​pela divisão igual do material genético entre as células-filhas.

Além disso, as organelas e o material genético da célula devem ser duplicados e prontos para a divisão celular
antes que ela se divida. O retículo endoplasmático, o aparelho de Golgi e os lisossomos estão entre as várias
organelas que devem ser divididas entre as células-filhas. As mitocôndrias possuem seu próprio código genético e
se copiam antes da divisão celular. Após a replicação, elas se decompõem em células individuais para que cada
célula filha receba um complemento adequado.

O DNA para as células filhas é transmitido por replicação correta, que envolve a inserção e replicação do DNA
dentro do núcleo. Erros de replicação do DNA, como união incorreta de fragmentos cromossômicos ou
segregação incorreta de cromossomos, podem causar sérios problemas de saúde como câncer, problemas de
crescimento, neurodegeneração e envelhecimento prematuro.

A célula possui pontos de verificação em pontos específicos do ciclo celular para evitar esses problemas. Esses
pontos servem como medidas preventivas, evitando que o processo seja interrompido caso sejam detectados
problemas e permitindo quaisquer ajustes necessários antes da divisão celular. Defeitos nas proteínas
responsáveis por esses mecanismos de checagem podem levar a síndromes genéticas, como a síndrome de
instabilidade genômica, que aumenta o risco de câncer.

Controle do ciclo celular


As fases do ciclo celular são controladas por muitos agentes reguladores que viabilizam ou restringem sua
progressão, como se fossem sinais e agentes de trânsito checando as condições do veículo e sua documentação
antes de liberar a viagem.

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Esses mecanismos garantem que eventos importantes do ciclo, como a replicação do DNA ou a separação dos
cromossomos, por exemplo, aconteçam corretamente e no momento adequado. Os reguladores também
garantem que os eventos do ciclo celular aconteçam na sequência apropriada, certificando-se de que a progressão
por uma fase do ciclo ative os eventos necessários para o início da próxima fase. Por exemplo, a progressão pela
fase G1 inclui os preparativos para que a fase S possa iniciar em seguida. Esse controle é muito importante, pois,
ao longo do ciclo, podem ocorrer diferentes erros (mutações, deleções, quebras, replicação incompleta do DNA,
por exemplo) ou as condições para que a célula gere uma nova célula podem não ser ideais (insuficiência de
nutrientes e/ou de mitógenos). Pelos motivos expostos, essas etapas do ciclo são constantemente monitoradas e
sua progressão pode ser interrompida por agentes reguladores até que a célula corrija o erro.

As principais famílias de agentes reguladores da progressão do ciclo celular são as ciclinas, as quinases
dependentes de ciclinas (do inglês cyclin dependent kinases [CDK]), os inibidores de CDKs (CKI), as proteínas
E2F e Rb e dois complexos proteicos que promovem a proteólise: o SCF e o APC.

Ciclinas e CDKs
As CDKs (quinases dependentes de ciclinas) são enzimas que fosforilam (ligam grupos fosfato a) proteínas alvo
específicas. O grupo fosfato ligado age como um interruptor, tornando a proteína alvo mais ou menos ativa.
Quando uma ciclina se liga a uma Cdk, isto tem dois efeitos importantes: ativa a Cdk como uma quinase, mas
também direciona a Cdk para um conjunto específico de proteínas alvo, adequadas para o período do ciclo
celular controlado pela ciclina. Por exemplo, Ciclinas G1 S enviam Cdks para alvos da fase S (promovendo, por

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ex., a replicação do DNA ), enquanto ciclinas M enviam Cdks para alvos da fase M(fazendo a membrana nuclear
se romper).
Sozinhas, as ciclinas não têm atividade enzimática, porém, quando estão associadas às CDKs, formam um
complexo ativado que regula diferentes etapas do ciclo. Mais de 11 ciclinas e 20 CDKs diferentes já foram
identificadas em mamíferos até o momento, e cada complexo formado por uma ciclina e uma CDK específica
regula uma ação específica no ciclo celular.

As ciclinas são nomeadas de acordo com o estágio celular em que atuam em conjunto com as respectivas CDKs.
As classes mais comuns de ciclinas são as da fase G1, ciclinas da fase G1/S, ciclinas da fase S e ciclinas da fase M.
As ciclinas da fase M, em conjunto com as CDKs específicas, formam complexos M-CDK e atuam para a
entrada da célula na fase M do ciclo, assim como as ciclinas da fase G1 formam complexos G1-CDK e promovem
a progressão da célula pela fase G1, e assim por diante.

Quando associadas e ativadas, o complexo ciclina-CDK ativa proteínas-alvo específicas que desempenham um
conjunto de ações sobre aquela fase do ciclo. Por exemplo, quando M-CDKs são ativadas, o complexo fosforila as
proteínas condensinas, responsáveis pela condensação dos cromossomos mitóticos, e as proteínas lâminas, que
formam uma rede de sustentação na parte interna do envelope nuclear (lâmina nuclear), auxiliando na
desmontagem do envelope nuclear durante a mitose. A M-CDK também coordena a formação do fuso mitótico
por meio da fosforilação de proteínas que controlam a organização dos microtúbulos.

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No início da fase S, as S-CDKs catalisam a fosforilação de proteínas que iniciam a replicação do DNA, tornando
possível a formação dos complexos de replicação.

Embora a interação com ciclinas seja essencial para a ativação das CDKs, muitas vezes não é suficiente. As CDKs
apresentam uma fosforilação inibitória em um dos seus domínios. Esse fosfato deve ser removido e é, em grande
parte, responsável pela ativação do tipo “tudo ou nada”, característica dos complexos ciclina-CDKs.

Inibidores de CDKs
Os reguladores que ativam a progressão do ciclo celular são tão importantes quanto aqueles que interrompem
sua atividade. Para controlar a atividade do complexo ciclina-CDK, existe uma categoria de proteínas
denominadas “inibidores de CDKs” – CKIs ou CDIs. A importância dessas proteínas torna-se evidente em
animais que apresentam defeitos nessas proteínas inibidoras. Esses indivíduos manifestam crescimento corporal
anormal e hiperplasia de órgãos.

As CKIs associam-se às CDKs ou aos complexos formados pelas ciclinas e CDKs para inibir sua ação. Elas são
divididas em duas classes: as que pertencem à família INK4 e aquelas que são da família Cip/Kip.

A família INK4 é composta das proteínas p16INK4, p15INK4b, p18INK4c e p19INK4d. Essas proteínas
ligam-se às CDKs e impedem sua interação com a ciclina correspondente, ou seja, competem com as ciclinas pelo
sítio de ligação com as CDKs, inibindo diretamente sua ação.

A família Cip/Kip (do inglês CDK interacting protein e Kinase inhibitory protein) é composta de três
membros: p21Cip1, p27kip1 e p57kip2. Essas proteínas inibem a atividade das CDKs através da formação de
um complexo trimérico entre as ciclinas, as CDKs e as CKIs. As Cip/Kip apresentam capacidade inibitória mais
ampla que as INK4, interagindo com vários complexos e inibindo-os em diferentes fases do ciclo, como no fim
da fase G1 e no início da fase S. Ao interagir com o complexo G1-CDK, por exemplo, elas previnem a
fosforilação de Rb durante a transição de G1 para S, tornando-se importantes mecanismos de regulação do ciclo
celular.

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PROTEÍNA RB

Fosforilada(inativada)por proteínas CDK4 e CDK6, que dão início ao ciclo celular.Quando hiperfosforilada a
proteína RB libera o fator de transcrição E2F , que atua no núcleo da célula promovendo a expressão de
proteínas de remodelação da cromatina e da RNA polimerase.
A falta da proteína RB gerará a formação de neoplasias como o Retinoblastoma.

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Pontos de Checagem
O ponto de checagem é um estágio no ciclo celular em que a célula examina sinais internos e externos e "decide"
se irá continuar ou não a divisão celular.

Há três pontos de checagem em momentos estratégicos do ciclo celular que garantem o bom andamento do
processo: G1/S, G2/M e ponto de checagem do fuso.

O ponto de checagem G1 é o principal ponto de decisão para uma célula. Uma vez que a célula passa o ponto de
checagem G e entra na fase S, ela se torna irreversivelmente comprometida com a divisão.No ponto de checagem
G1 é verificado se as condições internas e externas da célula são favoráveis para a divisão,por exemplo: Se a célula
tem um tamanho suficiente para realizar essa divisão; Se ela tem nutrientes e energia suficiente;Se ela está
recebendo sinais como fatores de crescimento de suas vizinhas e se há algum dano no DNA.

O ponto de checagem G2 vai certificar que não há nenhum dano no DNA da célula em questão estrutural e
também verificar se a replicação do DNA foi feita de forma correta. Se erros ou danos são detectados, a célula irá
pausar no ponto de checagem G2 para permitir reparos. Se os mecanismos do ponto de checagem detectam
problemas com o DNA, o ciclo celular é interrompido e a célula tenta completar a sua replicação de DNA ou
reparar o DNA danificado.

O ponto de checagem M é também conhecido como ponto de checagem do fuso: aqui, a célula examina se todas
as cromátides irmãs estão corretamente ligadas aos microtúbulos do fuso. Como a separação das cromátides
irmãs durante a anáfase é um passo irreversível, o ciclo não irá continuar até que todos os cromossomos estejam
firmemente ligados a pelo menos dois filamentos do fuso em lados opostos da célula.

Os pontos de checagem G1/S e G2/S são acionados em resposta a danos/quebras no DNA e têm o objetivo de
repará-lo, prevenindo a transmissão de material genético defeituoso para as células-filhas. Enquanto o ponto de
checagem G1/S impede a célula de replicar o DNA danificado (com quebras na dupla-hélice do DNA), o ponto
de checagem G2/M evita que a célula se divida com o DNA incorreto (nucleotídeos incorretamente pareados).
Se os danos forem irreparáveis, as células morrem. Defeitos nos pontos de checagem permitem a segregação
incorreta dos cromossomos e formação de células tumorais.
Se a célula atravessar o ponto de checagem G1/S, o foco central é a duplicação de todo o DNA da célula na etapa
de síntese (fase S), responsável por fazer uma única cópia idêntica do DNA da célula-mãe.
Mitose
Compõe a chamada fase M do ciclo celular, na qual a célula divide seu DNA duplicado e o citoplasma para
formar duas novas células idênticas. Envolve dois processos distintos relacionados à divisão: mitose e
citocinese.
A mitose é tradicionalmente dividida em 5 etapas: prófase, prometáfase, metáfase, anáfase e telófase.

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Figura 10.11 Desenho esquemático das fases da mitose.

A proteína-cinase M-Cdk desencadeia os principais eventos da mitose, tais como a formação do fuso mitótico e a
condensação dos cromossomos, e a condensina reorganiza as cromátides-irmãs em estruturas curtas e distintas,
facilmente separáveis na anáfase, visto que, após a duplicação eles ficam muito emaranhados e tentar separá-los
provocaria quebras.

Prófase
A prófase é a primeira fase da mitose, onde os cromossomos se condensam e começa a ser formado o fuso
mitótico, que é um arranjo bipolar de microtúbulos orientado a partir do centrossomo, uma matriz de material
amorfo que cerca um par de centríolos.

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Figura 10.13 A prófase é marcada pela compactação do DNA duplicado na fase S e pela união das cromátides-irmãs por
ação das condensinas e das coesinas. A M-CDK nuclear inicia a dissolução do envelope nuclear, o que desestabiliza o
nucléolo. Os centrossomos migram para pólos opostos da célula e iniciam a polimerização de microtúbulos que formarão o
fuso mitótico.

OBS: A dissolução do envelope nuclear determina o fim da prófase e o início da prometáfase.

Prometáfase
Inicia-se abruptamente quando a carioteca se fragmenta, dispersando seus componentes no citoplasma. Os
microtúbulos passam a se ligar aos cinetócoros, que são estruturas proteicas ligadas aos centrômeros dos
cromossomos duplicados, e esses cromossomos passam a se movimentar.

Figura 10.14 Na prometáfase, os microtúbulos polimerizam-se em direção ao centrômero dos cromossomos. Caso não
localizem essa região, os microtúbulos despolimerizam-se, retraem-se em direção ao centrossomo e são refeitos novamente.
Ao se encontrarem com um centrômero, os microtúbulos fazem contato com um cinetocoro de uma cromátide-irmã, e a
ligação torna esse microtúbulo estável. Todas as cromátides se ligarão aos microtúbulos, e aqueles que não fizerem contato
com um cinetocoro serão denominados “microtúbulos interpolares”.

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Metáfase
Os cromossomos atingem o máximo da condensação e são alinhados na placa equatorial, entre os pólos do
fuso. Os microtúbulos do cinetócoro ligam-se às cromátides irmãs. Ao fim da metáfase, os centrômeros são
duplicados.

Figura 10.15 A metáfase é marcada pelo alinhamento dos cromossomos na região central da célula, chamada
“placa metafásica”.

OBS: O fim da metáfase é marcado pelo início da separação das cromátides-irmãs. Esse processo é importante,
pois é um ponto irreversível, ou seja, uma vez iniciado, as cromátides serão separadas na anáfase.

Anáfase
Depois de bem alinhadas à placa equatorial, as cromátides-irmãs se separam de forma sincronizada,
formando dois cromossomos filhos, e cada um é lentamente puxado para o pólo do fuso por conta do
encurtamento dos microtúbulos do cinetócoro e por conta do afastamento do pólo do fuso para a parte mais
externa do citoplasma.

Figura 10.16 A anáfase inicia-se com a separação das cromátides-irmãs por meio da quebra das coesinas do centrômero e
pelo alongamento da célula em direção aos pólos do fuso, promovido pela despolimerização dos microtúbulos. A.
Microtúbulos astrais ancorados a dineínas de membrana “puxam” os centrossomos para a periferia da célula. B.
Microtúbulos interpolares ancorados a cinesinas são empurrados em direção ao seu polo de origem, alongando a célula. C.
Esquema da despolimerização do microtúbulo associado ao cinetocoro.

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Telófase
Os dois conjuntos de cromossomos-filhos chegam aos pólos do fuso e se descondensam. Uma nova carioteca é
formada ao redor de cada conjunto, dando origem a dois novos núcleos e marcando o fim da mitose. No fim
da telófase começa a surgir o anel contrátil, uma região de estrangulamento formada por actina e filamentos de
miosina.

Figura 10.17 Na telófase, a célula se prepara para a separação física das células-filhas. O envelope nuclear reaparece,
dividindo as porções nuclear e citoplasmática. Ao descompactar o DNA, as funções da célula começam a ser retomadas.

Citocinese
Na citocinese, o citoplasma é dividido em dois por um anel contrátil de filamentos de actina e miosina, o qual
divide a célula em duas células-filhas, cada uma com um núcleo.

Figura 10.18 A. A citocinese é o processo de separação física das células-filhas duplicadas no ciclo celular. B. Na região
interzonal, existe um acúmulo de proteínas de citoesqueleto, como miosina II, F-actina, formina, septina, anilina etc.
Também são encontradas as proteínas responsáveis pela reorganização e atividade dessas proteínas do citoesqueleto, como as
Rho GTPases (RhoA) e suas proteínas efetoras (Rho quinase), por exemplo. Sua ativação promove a reorganização e a
interação do citoesqueleto, provocando constrição da região central da célula – o anel contrátil.

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Referência: JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, José. Biologia Celular e Molecular . Rio de Janeiro: Grupo
GEN, 2023. E-book. ISBN 9788527739344. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527739344/. Acesso em: 28 jul. 2024.

Genes reguladores do ciclo celular


O ciclo celular é regulado por genes supressores e estimuladores da proliferação celular. Esses genes são passíveis
de mutações, podendo resultar em desregulação da proliferação celular e da estabilidade do genoma.

Genes supressores de tumores, genes de reparo do dna, proto-oncogenes e oncogenes


Os genes supressores tumorais são normalmente encontrados nas células. Quando danificados por mutações
(recessivas), não mais codificam proteínas que irão controlar os processos de divisão celular.

Existe um mecanismo de “controle de qualidade” do ciclo celular, e este se faz via indução de apoptose. Esses
genes, quando ativados, levam à síntese de en- zimas que irão instruir a célula a cometer suicídio (apoptose). A
eliminação seletiva de células representa um meio adicional de controlar com precisão o número de células e suas
atividades em um tecido. Quando esses genes estão anormalmente reprimidos, a sobrevivência prolongada e
aberrante da célula facilitará o acúmulo de mutações e irá contribuir para a oncogênese. Um desses genes,
denominado de “guardião do genoma”, tal sua importância, é o gene supressor P53, que é um alvo comum de
mutação. Situa-se no cromossomo 17 e codifica uma proteína que inibe a proliferação celular e induz a apoptose.
Os genes supressores tumorais são divididos em dois grandes grupos: os ga- tekeepers, ou genes protetores, e os
caretakers, ou genes de reparo.

Gatekeepers (genes protetores)


São genes reguladores negativos da proliferação e sobrevivência celular. Esses genes podem sofrer alterações que
levam à perda de sua função, impedindo que regulem o ciclo celular. Para que exista tal descontrole da célula, é
necessário que haja uma alteração em ambos os alelos, já que esses genes apresentam um padrão recessivo de
atuação em nível celular. Um exemplo é o gene P53, que se encontra mutado em cerca de 2/3 dos casos de
câncer. Ele é responsável pela interrupção do ciclo celular na fase G1, quando há qualquer alteração na sequência
de DNA, a fim de que o dano seja reparado. Se o reparo não for feito, o gene induzirá a ativação do mecanismo
de apoptose. A disfunção desse gene faz com que o ciclo celular prossiga mesmo que haja uma mutação no
DNA, permitindo a transmissão dessa mutação às células descendentes e iniciando um processo neoplásico.
Exemplo de doença causada por alterações no P53 é a síndrome de Li-Fraumeni, condição em que ocorre
predisposição a desenvolver câncer em vários locais, como mama, ossos, cólon, pâncreas, entre outros. Outro
gene é o RB1, situado no cromossomo 13, que produz uma proteína bloqueadora do ciclo celular quando
hipofosforilada. Nessa forma, a proteína pRB se liga ao fator de transcrição E2F, que estimula a síntese de várias
outras proteínas necessárias à continuidade do ciclo celular. Quando o RB1 está mutado, seu produto
encontra-se permanentemente hiperfosfori- lado, permitindo a progressão do ciclo e dando início a um processo
neoplásico. Apesar de esse gene se expressar em vários tecidos além da retina, sua mutação resulta geralmente em

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retinoblastoma, tipo de câncer hereditário em 40% dos casos. Outro gene, o APC, está localizado no
cromossomo 5. Em condições normais, quando a célula não precisa se multiplicar, a betacatenina encontra-se
ligada à E-caderina, inibindo a progressão do ciclo celular. Se o gene APC estiver mutado, produzirá uma
proteína alterada, responsável por um aumento da porção livre de betacatenina, que é transportada para o
núcleo, ativando a transcrição de genes de proliferação celular, incluindo o MYC. Mutações no APC provocam
polipose in- testinal adenomatosa, de caráter familiar ou esporádico, e síndromes que envolvem câncer colorretal,
como a síndrome de Gardner.

Caretakers (genes de reparo)


Atuam reparando danos no DNA, mantendo a integridade genômica e evitando a instabilidade genética.
Sozinhos não induzem a formação de neoplasia, mas facilitam a ocorrência de mutações nos genes gatekeepers, as
quais darão início à carcinogênese. Exemplo são os genes BRCA1 e BRCA2, que estão presentes nos
cromossomos 17 e 13, respectivamente. São ativados nas fases G1 e S do ciclo celular. Se mutados, predispõem
ao aparecimento de câncer de mama e de ovário. Outro exemplo são os genes MMR, responsáveis por reparar
erros de pareamento do DNA (mismatch repair genes). Há inúmeros genes de reparo existentes, mas somente
alguns já foram identificados como causadores de tumores, por exemplo MLH1, MSH2, PMSL1, PMSL2 e
MSH6. Mutações nesses genes provocam aumento da incidência de mutações de ponto no DNA. Essa
instabilidade é chamada de fenótipo erro de replicação positivo (RER+), que ocorre em vários tipos de tumores.
Alterações nos genes de reparo provocam, mais frequentemente, câncer colorretal hereditário sem polipose, mas
também são responsáveis por cânceres intestinais esporádicos.

Proto-oncogenes
Proto-oncogenes são genes normais responsáveis pela codificação de proteínas que intervêm na proliferação e
diferenciação celular e que, sofrendo mutações, transformam-se em oncogenes encarregados pela conversão das
células normais em células cancerosas. Sendo assim, os oncogenes são proto-oncogenes ativados.

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Os oncogenes, ou genes causadores do câncer, foram descobertos a partir de vírus oncogênicos, em 1911,
quando Peyton Rous identificou um vírus que causava sarcoma em galinhas. Na metade da década de 1970, com
a descoberta da en- zima transcriptase reversa, com a possibilidade de clonagem de genes, demons- trou-se que a
capacidade do vírus induzir neoplasia dependia de um gene, e esse gene foi denominado oncogene (onc).
Para fins de nomenclatura, os oncogenes são denominados com três letras em itálico, relacionadas ao nome dos
tumores onde os vírus foram inicialmente identificados. Assim, tem-se: RAS para o sarcoma do rato, ABL para o
da leucemia murina, MYC para o oncogene do vírus de mielocitomatose aviária (Myelocytomatosis).
Os oncogenes atuam na proliferação celular incontrolada, na inibição da diferenciação celular e na falha da
apoptose. Atualmente, existem mais de 30 oncogenes identificados.

2. Conceitue os termos: anaplasia, metaplasia e neoplasia.


Metaplasia
Mudança de um tipo de tecido adulto (mesenquimal ou epitelial) em outro, que por sua vez é da mesma
linhagem. Geralmente, a metaplasia é resultado de impactos ou irritações de agentes, que induzem alguns genes a
serem desativados, e outros a serem ativados, gerando outras células com características que possam agir de forma
a suportar o agente agressor. As principais metaplasias são dos seguintes tipos:
• Transformação de epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado em epitélio ceratinizado.
Exemplo: epitélio da boca ou do esôfago em consequência de irritação prolongada, como por exemplo, pela haste
do cachimbo na boca.
• Epitélio pseudoestratificado ciliado em epitélio estratificado pavimentoso (queratinizado ou não).
Ex: Tabagismo causando metaplasia na mucosa respiratória.
• Epitélio glandular seroso em epitélio mucíparo, como acontece na metaplasia intestinal da mucosa gástrica.

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Em geral, o tecido formado é mais resistente a lesões, no entanto, perde funções de proteção; por exemplo, na
metaplasia escamosa da árvore brônquica no tabagismo, há a perda dos cílios e danos à síntese do muco, que são
importantes agentes contra infecções.

A Leucoplasia é um tipo particular de metaplasia, na qual um epitélio escamoso não queratinizado torna-se
queratinizado, fazendo com que manchas brancas apareçam na região afetada, que pode ser nas mucosas
uterina, oral ou esofágica.

A Transdiferenciação também é um termo importante a dar destaque. Trata-se da transformação de


tecidos de uma linhagem para outra de linhagens diferentes. Um exemplo relatado em pesquisas é de células
epiteliais que se diferenciam em fibroblastos.

Displasia
É um termo que tem entrado em desuso, mas significa uma alteração da proliferação e redução/perda de
diferenciação celular, ou seja, as células não amadurecem completamente, podendo muitas vezes possuírem
problemas arquiteturais (atipia celular) e cariomegalia (alteração no teor do DNA). São reversíveis, visto que
podem estacionar ou regredir. Atualmente, tem se preferido trocar o nome "displasia" para doenças epiteliais,
para neoplasias intraepiteliais, que podem ser de alto ou baixo grau. Quanto mais grave, mais facilidade em
evoluir para um câncer. Displasia também refere-se a doenças com patogênese pouco conhecida, envolvendo
defeitos malformativos e com problemas arquiteturais (como displasia renal, ou displasia óssea).

Referência: FILHO, Geraldo B. Bogliolo - Patologia . Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. E-book. ISBN
9788527738378. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527738378/. Acesso
em: 26 jul. 2024.

Diferenciação e Anaplasia
A diferenciação refere-se ao grau com que as células parenquimatosas neoplásicas se assemelham às células
normais correspondentes do parênquima, tanto do ponto de vista morfológico quanto do funcional; a ausência
de diferenciação é denominada anaplasia.
Neoplasia

Conceito

“Neo”= Novo; “Plasia”= Crescimento. Portanto, a palavra neoplasia significa “novo crescimento”.
Ou seja, a neoplasia é uma massa anormal de tecido cujo crescimento é descoordenado e excede o
crescimento dos tecidos normais.

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Etiologia
Os agentes causadores das neoplasias ainda constituem um mistério. Devido à complexidade das alterações
celulares presentes, ainda não se conseguiu isolar o agente agressor.
Possíveis agentes agressores:
♡ Agentes físicos: energia radiante (RX e radiação ultravioleta) e energia térmica.
♡ Agentes químicos: corante e fumo.
♡ Agentes biológicos: virais e bactérias.

Tipos de neoplasias

Benigna

É uma lesão que apresenta crescimento lento e organizado e que é formado por células semelhantes àqueles
presentes no tecido de origem, mas em número extremamente maior, com ou sem componentes
inflamatórios.
Os limites desse tumor também são bem definidos e ele não é capaz de invadir os tecidos vizinhos ou provocar
metástases.

A nomenclatura segue a regra de se acrescentar o sufixo OMA ao nome do tecido de origem.

EXEMPLOS

Lipoma, neurilemoma (Schwannoma), neurofibroma, hemangioma, linfangioma, leiomioma, rabdomioma.

Maligna
Lesão de células diferentes das células do tecido de origem. Sendo que, as células apresentam-se em
proliferação e diferenciação. Pode ou não apresentar componentes inflamatórios.
Tem limites pouco definidos, é capaz de invadir tecidos vizinhos e pode provocar metástases. As neoplasias
malignas são frequentemente chamadas de câncer.
Utiliza-se a expressão:
♡ carcinoma para os de origem epitelial e

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♡ sarcoma para os de origem mesenquimal

Exceção: para algumas neoplasias malignas utiliza-se a nomenclatura das benignas.


Ex.: linfomas (origem mesenquimal hematopoiética), melanoma (origem epitelial)

EXEMPLOS
♡ Carcinoma epidermóide: fibrossarcoma, lipossarcoma, angiossarcoma.
♡ Sarcoma de Kaposi: leiomiossarcoma, rabdomiossarcoma.

Fonte: FILHO, Geraldo B. Bogliolo - Patologia . Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. E-book. ISBN
9788527738378. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527738378/. Acesso
em: 26 jul. 2024.

Fonte: KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins & Cotran Patologia: Bases Patológicas das
Doenças . Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2023. E-book. ISBN 9788595159174. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595159174/. Acesso em: 26 jul. 2024.

3. Sobre o HPV, discorra:


a) Conceito
Os papilomavírus humanos (HPV) formam um grupo de pequenos vírus de DNA, que causam uma variedade
de lesões benignas e malignas da pele e das membranas mucosas. As doenças associadas ao HPV mais
comumente reconhecidas incluem verrugas em locais anogenitais (condiloma acuminado), em outras superfícies
da pele (verruga comum, bem como verruga plana) e na superfície plantar do pé (verruga plantar). Além disso, a
infecção pelo HPV provoca lesões intraepiteliais escamosas ou cânceres incipientes do colo do útero, também
conhecidos como neoplasia intraepitelial cervical, e de outros locais anogenitais. O HPV é considerado o agente
etiológico de uma variedade de cânceres, particularmente câncer do colo do útero.

b) Etiologia
O HPV é um membro da família Papillomaviridae. À semelhança de todos os papilomavírus, o HPV é não
envelopado, mede 55 nm de diâmetro e apresenta um genoma de DNA circular de fita dupla de
aproximadamente 7.900 pares de bases, envolto por um capsídeo icosaédrico.

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O genoma do HPV contém três regiões funcionais: os genes precoces (total de seis – E1, E2, E4, E5, E6 e E7),
que são expressos logo após a infecção e que controlam a replicação, a transcrição e a proliferação celular; os genes
tardios (total de dois – L1 e L2), que são expressos em estágios posteriores da infecção e que codificam as
proteínas estruturais do capsídeo; e a região de controle longa, que contém sequências reguladoras que
controlam a replicação e a transcrição dos genes precoces e dos genes tardios. Os papilomavírus completam seu
ciclo de vida apenas em células epiteliais de diferenciação terminal e, portanto, não podem crescer em culturas de
monocamada de células. A taxonomia do papilomavírus baseia-se em um sistema de genotipagem, que envolve o
uso da relação de sequência do DNA do gene que codifica a L1, a proteína principal do capsídeo, com diferentes
tipos definidos por apresentarem menos de 90% de homologia.

Do ponto de vista taxonômico, os papilomavírus são classificados por gênero (letras gregas) e espécies (números),
contendo, cada um deles, um ou mais tipos. Os tipos de HPV estão incluídos, em sua maioria, em três grandes
gêneros: alfa (principalmente os tipos da mucosa ou genital), beta e gama (ambos os quais causam lesões
cutâneas). Atualmente, foram identificados 230 tipos de HPV, dos quais mais de 40 infectam a pele e a mucosa
genitais. Entre os tipos genitais, aproximadamente 15 são considerados de alto risco, visto que estão associados a
lesões intraepiteliais escamosas de alto grau e a cânceres do colo do útero, de ânus, pênis, vulva, vagina e
orofaringe, enquanto outros são considerados de baixo risco, visto que estão associados, em grande parte, a
verrugas genitais e lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau.

Para resumir, os tipos de HPV de alto risco expressam proteínas oncogênicas que inativam os
supressores de tumor, ativam as ciclinas, inibem a apoptose e combatem a senescência celular. Por
conseguinte, é evidente que as proteínas do HPV promovem muitas das marcas registradas do câncer. A
primazia da infecção pelo HPV na etiologia do câncer de colo do útero é confirmada pela efetividade das vacinas
contra HPV na prevenção desse tipo de câncer. Todavia, a infecção pelo HPV por si só não é suficiente para a
carcinogênese. Por exemplo, quando queratinócitos humanos são transfectados com DNA do HPV dos tipos
16, 18 ou 31 in vitro, eles são imortalizados, porém não formam tumores. A cotransfecção com um gene RAS
mutado resulta em transformação maligna completa. Além desses cofatores genéticos, o HPV, com toda a
probabilidade, também atua em consonância com os fatores ambientais. Esses fatores incluem tabagismo,
infecções microbianas coexistentes, deficiências nutricionais e alterações hormonais, que têm sido implicados na
patogênese dos cânceres de colo do útero. Uma alta proporção de mulheres infectadas pelo HPV elimina a
infecção por meio de mecanismos imunológicos, porém outras não o fazem, devido a anormalidades imunes
adquiridas, como as que resultam da infecção pelo HIV, ou por motivos desconhecidos. Como seria de esperar,
as mulheres coinfectadas por HPV de alto risco e pelo HIV apresentam um risco elevado de câncer de colo do
útero.
c) Fisiopatologia

O papilomavírus humano (HPVs) são pequenos vírus encapsulados sem envelope com um genoma circular de
oito quilobases que codifica oito genes, incluindo duas proteínas estruturais encapsulantes, L1 e L2.

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A proteína L1, expressa de forma recombinante em um sistema de cultura de células, se auto-monta na ausência
do genoma viral para formar uma partícula semelhante a vírus (PSV). Essa partícula é o imunógeno usado nas
vacinas contra o HPV. L2 é a proteína menor do capsídeo que, junto com L1, medeia a infectividade do HPV.

O ciclo de replicação do vírus está integralmente ligado à diferenciação epitelial (isto é, a maturação do
queratinócito). A infecção inicial da célula-tronco basal ocorre como resultado de rupturas microscópicas no
epitélio. O HPV têm predileção pela pele queratinizada anogenital. Os locais comuns de infecção incluem o
pênis, escroto, períneo, canal anal, região perianal, intróito vaginal, vulva e colo do útero.

O papel das infecções por HPV na etiologia dos cânceres epiteliais foi apoiado pelo DNA do HPV está
comumente presente no pré-câncer anogenital e nos cânceres invasivos, bem como nos cânceres orofaríngeos.

Além disso, a expressão dos oncogenes virais E6 e E7 é consistentemente demonstrada em linhagens de células de
carcinoma cervical. Estudos epidemiológicos também indicam infecções por HPV como o principal fator para o
desenvolvimento de câncer cervical.
d) Sinais e sintomas
As manifestações clínicas da infecção pelo HPV variam de acordo com o local anatômico e o tipo de vírus. As
verrugas comuns são pápulas exofíticas, hiperceratóticas, que normalmente ocorrem nas mãos, mas que podem
ocorrer em qualquer superfície da pele, incluindo, em certas ocasiões, a pele genital; são mais comumente
causadas por HPV dos tipos 1, 2, 4, 27 e 57. As verrugas plantares, que são causadas por tipos semelhantes de
HPV, são pápulas hiperceratóticas. Podem ocorrer como verrugas plantares profundas, que frequentemente são
muito dolorosas e de crescimento endofítico. Normalmente, estão associadas ao HPV dos tipos 1 ou 63. As
verrugas em mosaico mais superficiais e indolores são normalmente causadas por HPV dos tipos 2 ou 4. Por
outro lado, as verrugas planas, que são pequenas pápulas cuja parte superior é plana, que ocorrem mais
comumente na face, nas mãos e nas pernas, são causadas por um grupo diferente de tipos de HPV não genitais
(p. ex., tipos 3, 10, 28, 38, 42, 49, 75 e 76).

A epidermoplasia verruciforme manifesta-se habitualmente na infância como verrugas difusas, que respondem
de modo insatisfatório ao tratamento. As verrugas difusas da epidermodisplasia verruciforme podem estar
associadas a dois tipos de lesões: verrugas planas causadas pelos mesmos tipos de HPV que nos hospedeiros
normais, e lesões escamosas do tipo tinha versicolor causadas por tipos associados à epidermodisplasia
verruciforme. Estes últimos estão associados ao desenvolvimento de câncer espinocelular em áreas expostas ao sol
em 30 a 70% dos indivíduos a partir dos 30 anos. Pode-se observar o desenvolvimento de lesões cutâneas
semelhantes e, raramente, cânceres de pele associados em outros pacientes com defeitos adquiridos da imunidade
celular ou que estão imunossuprimidos.

As verrugas anogenitais são crescimentos papilomatosos, que ocorrem em toda a pele e mucosa anogenital,
normalmente em locais de atrito genital. São encontrados HPV dos tipos 6 ou 11 em cerca de 85% dos casos, e
aproximadamente metade dos indivíduos infectados desenvolve verrugas. As verrugas perianais são mais comuns

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em indivíduos com história de sexo anal e, com frequência, estão associadas a verrugas intra-anais, porém
também pode ocorrer sem esse contato, como por meio de autoinoculação durante a higiene. As verrugas
anogenitais podem variar desde lesões planas ou papulares até o condiloma acuminado pedunculado clássico, em
formato de couve-flor. Normalmente, as verrugas são assintomáticas e são percebidas pelo paciente como uma
protuberância ou inadvertidamente durante um exame genital, embora possam causar prurido, ardência, dor ou,
raramente, sangramento. Em mulheres grávidas, foi relatada a obstrução do canal do parto.

As manifestações clínicas mais comuns da infecção oral pelo HPV incluem papilomas orais de células escamosas
e condiloma acuminado, causados por HPV dos tipos 6 e 11. Aproximadamente 2% dos pacientes apresentam
verrugas orais e genitais como manifestação inicial. As verrugas comuns da pele, que são causadas pelo HPV
cutâneo, são menos frequentes e diferenciadas por histologia. A hiperplasia epitelial focal é um distúrbio
incomum com predileção para norte-americanos nativos e sul-africanos. Manifesta-se como pápulas redondas e
planas, que podem ser confluentes e principalmente associadas ao HPV dos tipos 13 e 32. As verrugas causadas
pelos tipos genitais também podem ocorrer raramente nas vias respiratórias superiores, onde produzem uma
grave papilomatose respiratória recorrente, que pode causar rouquidão e até mesmo comprometimento das vias
respiratórias. As lesões intraepiteliais escamosas ou neoplasias intraepiteliais são mais comumente encontradas no
colo do útero, como resultado de rastreamento para câncer do colo do útero por citologia (exame de
Papanicolaou [Pap]) ou teste molecular de HPV, com confirmação por colposcopia e biópsia. Esses precursores
potenciais de câncer e os consequentes cânceres também podem ocorrer em outros locais anogenitais (vulva,
vagina, ânus10 e pênis).11 As lesões intraepiteliais escamosas não são, em sua maioria, visíveis nas superfícies
mucosas sem a aplicação de ácido acético a 3 a 5% e aumento. Nos órgãos genitais externos, podem aparecer
como pápulas hiperpigmentadas planas.
A papulose bowenoide combina hiperpigmentação, histologia neoplásica intraepitelial e citoarquitetura de um
condiloma. Pode transformar-se em doença de Bowen, que é um carcinoma in situ.
A infecção pelo HPV, tanto no homem como na mulher, tem sido descrita sob três formas de apresentação:
latente, subclínica e clínica.

Apresentação latente do HPV


ocorre quando as pessoas infectadas por HPV não desenvolvem qualquer lesão. Essa condição pode permanecer
durante toda a vida. Apenas algumas pessoas podem, anos mais tarde, vir a expressar a doença com condilomas
ou alterações celulares do colo uterino.
Nessa situação, não existe manifestação clínica, citológica ou histológica, apenas podendo a infecção ser
demonstrada por meio de exames de biologia molecular (detecção do DNA viral).

Apresentação subclínica
A lesão subclínica ocorre quando as microlesões pelo HPV são diagnosticadas por meio de exame de
Papanicolaou e/ou colposcopia (lesões acetobrancas), com ou sem biópsia. A lesão intraepitelial escamosa de
baixo ou alto risco é detectada com mais frequência.

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Os tipos oncogênicos de HPV podem resultar em lesões precursoras do carcinoma escamoso da cérvice uterina,
divididas em:
1. Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (NIC I/displasia leve)
2. Lesão intraepitelial escamosa de alto grau (NIC II/NIC III, displasia moderada, displasia severa,
carcinoma in situ).
3. Além disso, outros epitélios podem sofrer a ação oncogênica do vírus, resultando em neoplasia
intraepitelial vaginal (NIVA), vulvar (NIV), perineal (NIPE), peniana (PEIN) e anal (NIA).

Apresentação clínica (lesão macroscópica)


A forma mais comum de apresentação é conhecida como verruga genital ou condiloma acuminado. Manifesta-se
pela presença de lesões exofíticas, com superfície granulosa, únicas ou múltiplas, restritas ou disseminadas, da
cor da pele, eritematosas ou hiperpigmentadas e de tamanho variável.
As lesões maiores assemelham-se a “couve-flor” e as menores possuem aparência de pápula ou placa, podendo
também ter aspecto filiforme, sendo em geral resultantes de infecção por tipos não oncogênicos.
Na mulher, encontram-se na vulva, períneo, região perianal, vagina e colo. No homem, localizam-se na glande,
sulco bálano-prepucial e região perianal. Menos frequentemente, podem estar presentes em áreas extragenitais,
como conjuntivas, mucosa nasal, oral e laríngea.
e) Diagnóstico ( tipos de lesões)
O diagnóstico do condiloma acuminado é clínico e pode ser confirmado por biópsia. Entre as técnicas utilizadas
para o diagnóstico das lesões anogenitais induzidas por HPV, recomendam-se os seguintes exames:
● Colpocitologia oncótica de colo uterino (teste de Papanicolau);
● Citologia oncótica anal;
● Colposcopia;
● Anuscopia;
● Histopatologia.

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Há testes que identificam vários tipos de HPV, mas seu valor na prática clínica não está claro, e as decisões
quanto às condutas clínicas não devem ser feitas com base nesses testes, mas em alterações celulares observadas
pela colpocitologia oncótica. Assim, não é recomendável, na rotina, a triagem de infecção subclínica pelo HPV.
A biópsia de lesões anogenitais sugestivas de HPV está indicada nos seguintes casos:
● Presença de lesão suspeita de neoplasia (lesões pigmentadas, endurecidas, fixas ou ulceradas);
● Ausência de resposta ao tratamento convencional;
● Aumento das lesões durante o tratamento;
● Pacientes com imunodeficiência (HIV, uso de drogas imunossupressoras, corticóides, entre outros).

f) Tratamento
O objetivo principal do tratamento das lesões anogenitais induzidas pelo HPV é a remoção das lesões clínicas. Se
não houver esse tratamento, os condilomas podem desaparecer, permanecer inalterados ou aumentar em
tamanho ou número. No entanto, nenhuma evidência indica que os tratamentos disponíveis erradicam ou
afetam a história natural da infecção do HPV.
A seguir, apresentam-se as opções terapêuticas para o tratamento das lesões anogenitais induzidas pelo HPV:
1. Podofilina 9 a 10% - 25% (solução): Usar uma vez por semana até o desaparecimento das lesões.
Recomenda-se a utilização de até 0,5 mL em cada aplicação ou a limitação da área tratada a 10 cm2 por
sessão.
2. Ácido tricloroacético (ATA) a 80%-90% (solução): Aplicar pequena quantidade somente nos
condilomas e deixar secar, quando a lesão esbranquiçar. Usar uma vez por semana até oito a 10 semanas.
3. Eletrocauterização: Não está indicada nas lesões vaginais, cervicais e anais, visto que o controle da
profundidade do efeito é difícil, podendo causar necrose tecidual extensa, com estenose em estruturas
tubulares, como canal anal e vaginal.
4. Crioterapia: É útil quando há poucas lesões ou em lesões muito queratinizadas. Pode ser necessária a
realização de mais de uma sessão terapêutica, respeitando um intervalo de uma a duas semanas entre as
sessões. Raramente necessita anestesia. Pode facilitar o tratamento se há muitas lesões ou envolvimento
de área extensa.
5. Exérese cirúrgica: método apropriado para o tratamento de poucas lesões, quando é desejável exame
histopatológico do espécime. Os condilomas podem ser retirados por meio de incisão tangencial com
tesoura delicada, bisturi ou cureta. Na presença de lesão vegetante no colo uterino, deve-se excluir a
possibilidade de se tratar de uma neoplasia intraepitelial antes de iniciar o tratamento.

g) Prevenção
O uso de preservativo nas relações sexuais diminui significativamente o risco de desenvolvimento de condiloma
acuminado e de lesões de alto grau no colo uterino. A partir de 2014, o Ministério da Saúde ampliou o
Calendário Nacional de Vacinação, com a introdução da vacina quadrivalente contra HPV tipos 6, 11, 16 e 18.

A prevenção de lesões genitais pré-cancerosas do colo do útero, de vulva e de vagina em mulheres, e anal em
ambos os sexos, está relacionada aos tipos 16 e 18, e as verrugas genitais em mulheres e homens, aos tipos 6 e 11.

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A colpocitologia oncótica detecta as lesões oncogênicas decorrentes da infecção pelo HPV no colo uterino. O
exame deve ser feito, preferencialmente, por mulheres entre 25 a 64 anos que têm ou já tiveram atividade sexual.
Os dois primeiros exames devem ser realizados com intervalo de um ano e, se os resultados forem normais, o
exame passará a ser feito a cada três anos, conforme diretrizes do MS, exceto nas mulheres vivendo com HIV/aids,
quando deve ser realizado anualmente, mesmo com resultados normais. O exame é um procedimento seguro,
com pouco ou nenhum incômodo, executado em alguns minutos.

Referência bibliográfica:
Tratado de infectologia 5º edição. Editora Atheneu.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Rastreamento do CA de colo do útero. Acesso em: . Acesso em 18 de
Novembro de 2022.

4. Sobre o câncer de colo de útero, discorra:


a) Tipos

O câncer de colo do útero é o câncer ginecológico mais comum nas mulheres. Como se origina da infecção pelo
HPV, são importantes o rastreio adequado com citologia oncótica do colo do útero e o tratamento de lesões
precursoras (profilaxia secundária), bem como a vacinação (profilaxia primária) contra esse vírus antes do início
da atividade sexual.

Os principais fatores de risco são não rastreamento com citologia oncótica do colo do útero, infecção pelo HPV,
neoplasia intraepitelial do colo do útero, sexarca precoce, múltiplos parceiros sexuais, paridade elevada e baixas
condições socioeconômicas.

Os sorotipos do HPV considerados de alto risco para desenvolvimento do câncer de colo do útero são: 16 e 18
(71% dos casos), 31, 33, 45, 52 e 58 (19% dos casos) e 35, 39, 51, 56, 59, 68, 73, 82 (10% dos casos).

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■ ABORDAGEM DIAGNÓSTICA

A sintomatologia varia de acordo com o estadiamento da doença, tendendo a ser assintomática nas fases iniciais e
posteriormente causar sangramento vaginal, corrimentos vaginais, dor suprapúbica e até mesmo sintomas
decorrentes da compressão de órgãos adjacentes. A anamnese e o exame físico devem ser completos, fechando o
diagnóstico a investigação com avaliação citológica, colposcopia e biópsia cervical. Propedêutica complementar
deve ser utilizada para avaliar o estado geral da paciente, bem como a extensão da doença e a presença de
metástases, incluindo hemograma, exame de urina, bioquímica, função hepática e renal, radiografia de tórax, TC
e RNM de abdome e pelve, PET-TC, cistoscopia e proctoscopia.

b) Estadiamento
O estadiamento da doença é clínico e define o tratamento e o prognóstico.

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c) Tratamento (Quadros 16.3 a 16.5)
O tratamento depende do estadiamento inicial, se-guem os princípios de tratamento conforme o estádio.

■ MONITORAMENTO

Após histerectomia e/ou quimiorradioterapia:


• O exame clínico da pelve deve ser realizado em todas as consultas em busca de alterações pélvicas, como nódulo
retovaginal e lesão em vagina.
• Retornos trimestrais nos primeiros 2 anos e semestrais nos 3 seguintes.
• Palpar todas as cadeias de linfonodos.
• Radiografia anual de tórax.
• TC de pelve e abdome em caso de alterações no exame clínico.
• Citologia oncótica da cúpula vaginal ou do colo do útero a cada 3 meses durante 2 anos e então a cada 6 meses
por mais 3 anos e posteriormente seguimento habitual.

Referência: FILHO, Agnaldo Lopes da S.; D'ABREU, Bárbara F. Protocolos e condutas em ginecologia e
obstetrícia . Rio de Janeiro: MedBook Editora, 2021. E-book. ISBN 9786557830789. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786557830789/. Acesso em: 28 jul. 2024.

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