Dietoterapia Nos Diferentes Cânceres

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 47

DIETOTERAPIA NOS DIFERENTES

CÂNCERES
1

Sumário

NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 3

INTRODUÇÃO ......................................................................................... 4

A TERAPIA FARMACOLÓGICA ............................................................ 13

DIETA E CÂNCER: UM ENFOQUE EPIDEMIOLÓGICO ...................... 14

EPIDEMIOLOGIA DO CANCER NO MUNDO ....................................... 16

EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL ........................................ 21

CÂNCER DE MAMA FEMININA E COLO DE ÚTERO .......................... 21

CÂNCER DE PULMÃO.......................................................................... 22

CÂNCER DE ESTÔMAGO .................................................................... 23

CÂNCER DE CÓLON E RETO .............................................................. 24

CÂNCER DE PRÓSTATA ..................................................................... 24

ALIMENTAÇÃO COMO FATOR DE RISCO E DE PREVENÇÃO AO


CÂNCER .......................................................................................................... 24

FRUTAS E HORTALIÇAS ..................................................................... 26

FIBRAS .................................................................................................. 27

GORDURA ............................................................................................ 29

OBESIDADE E ATIVIDADE FÍSICA ...................................................... 30

PREPARO, CONSERVAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE ALIMENTOS31

ALIMENTOS FUNCIONAIS: UMA POSSÍVEL PROTEÇÃO PARA O


DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER ............................................................... 35

CONCEITOS DE ALIMENTOS FUNCIONAIS ....................................... 36

A ALIMENTAÇÃO COMO FATOR DE RISCO PARA O CÂNCER ........ 39

A ALIMENTAÇÃO COMO FATOR PREVENTIVO CONTRA O CÂNCER


......................................................................................................................... 40

1
2

ALIMENTOS FUNCIONAIS: UMA POSSÍVEL PROTEÇÃO PARA O


DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER PERSPECTIVA ..................................... 44

REFERÊNCIAS ..................................................................................... 44

2
3

NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

3
4

INTRODUÇÃO
A desnutrição em indivíduos com câncer é muito frequente. Diversos
fatores estão envolvidos no desenvolvimento, particularmente aqueles
relacionados com a doença (redução do apetite, dificuldades mecânicas para
mastigar e deglutir alimentos), os efeitos colaterais do tratamento e o jejum
prolongado para exames pré ou pós-operatórios.

Todos estes fatores são agravados por condição socioeconômica precária


e hábitos alimentares inadequados.

Os principais fatores determinantes da desnutrição nesses indivíduos são:


redução na ingestão total de alimentos, alterações metabólicas provocadas pelo
tumor e aumento da demanda nutricional para crescimento do tumor, sendo
frequente a ocorrência de desnutrição em indivíduos com câncer.

A terapia nutricional (TN) no paciente oncológico objetiva a prevenção ou


reversão do declínio do estado nutricional, bem como busca evitar a progressão
para quadro de caquexia, garantindo assim melhor qualidade de vida para o
paciente.

A indicação da TN deve seguir critérios que visem a individualidade do


paciente, o estado nutricional, o estágio da doença, os efeitos do tratamento e a
função gastrointestinal.

1. O câncer influencia o estado nutricional

As alterações metabólicas relacionadas com o câncer, a localização do


tumor e o tratamento oncológico podem levar à desnutrição.

A frequência e a gravidade da desnutrição estão relacionadas com o


estágio do tumor.

A prevalência de desnutrição pode variar entre 30% e 80%, dependendo


do tipo do tumor, sendo grave (em geral quando há perda de peso habitual maior
do que 10% em seis meses) em 15% dos doentes.

4
5

Frequentemente, a perda de peso não intencional é o primeiro sintoma e


precede o diagnóstico.

Os efeitos colaterais do tratamento oncológico (radioterapia,


quimioterapia, cirurgia e imunoterapia) estão associados com algum grau de
disfunção gastrointestinal, com consequente redução da ingestão de alimentos
e adicional perda de peso.

2. O estado nutricional influencia o curso e o prognóstico clínicos

O estado nutricional depauperado tem também impacto negativo sobre a


qualidade e o tempo de vida do paciente com câncer, diminui a tolerância ao
tratamento oncológico, o que pode refletir na expectativa e na qualidade de vida
do paciente.

Aproximadamente 20% das mortes de pacientes com câncer são


secundárias à desnutrição.

A desnutrição pode contribuir para a ocorrência de complicações no


período pós-operatório, colaborando para o aumento do tempo de internação,
comprometendo a qualidade de vida e tornando o tratamento mais oneroso.

A história de perda de peso nos últimos seis meses é bom indicador do


risco de complicações pós-operatórias em indivíduos com câncer de cabeça e
pescoço.

O estado nutricional depauperado tem também impacto negativo sobre a


qualidade e o tempo de vida do paciente com câncer, diminui a tolerância ao
tratamento oncológico, o que pode refletir na expectativa e na qualidade de vida
do paciente.

O câncer influencia o gasto energético de maneira heterogênea. O gasto


energético pode ter componentes de hipo e de hipermetabolismo, dependendo
do tipo do tumor, do estágio do câncer e das formas de tratamento. Um dos
determinantes da perda de peso e da caquexia do câncer é o aumento do gasto
energético.

5
6

Foram estudados 200 pacientes com câncer e encontrou-se 33%


hipometabólicos, 41% com metabolismo normal e 26% hipermetabólicos. Houve
correlação positiva entre o tempo de duração da doença e o hipermetabolismo.

Posteriormente, em pacientes com câncer do aparelho digestivo, os


mesmos autores encontraram 36% de pacientes hipometabólicos (tumor
hepatobiliar e pancreático) e 22% hipermetabólicos (câncer gástrico).

Tumores hepatocelulares parecem ser hipermetabólicos quando muito


grandes.

Tumores sólidos também estão associados com maior gasto energético.

Os tumores centrais de pulmão cursam com aumento do gasto energético,


assim como o câncer de ovário.

Os objetivos da TN no paciente oncológico incluem prevenção e


tratamento da desnutrição; modulação da resposta orgânica ao tratamento
oncológico e controle dos efeitos adversos do tratamento oncológico.

A preservação e/ou melhoria do estado nutricional tem importante efeito


na qualidade de vida e no bem-estar de pacientes com câncer submetidos a
tratamento oncológico.

O tratamento oncológico está associado a efeitos adversos que podem


comprometer o estado físico, imunológico e nutricional, sendo que a TN auxilia
no manejo dos sintomas, evitando a caquexia e contribuindo para a melhora da
qualidade de vida do paciente.

Indivíduos com câncer em TN apresentam melhora da qualidade de vida


durante o tratamento da doença ou cuidado paliativo. Isso se deve ao controle
dos sintomas relacionados à nutrição que podem causar desconforto nesta fase.

A avaliação global subjetiva produzida pelo paciente (AGS-PPP) é o


método padrão de avaliação nutricional do paciente com câncer, ainda que a
avaliação global subjetiva também seja bastante utilizada.

Os métodos de avaliação nutricional devem ser valorizados pela


capacidade prognóstica, principalmente nos pacientes com câncer. Medidas

6
7

antropométricas e bioquímicas, comumente utilizadas na avaliação nutricional,


podem sofrer influência de fatores não nutricionais na vigência do câncer, e,
portanto, não serem de grande utilidade para o diagnóstico nutricional neste tipo
de pacientes.

Estudos em pacientes cirúrgicos demonstraram que apenas 2,4% dos


pacientes com câncer intra-abdominal apresentaram IMC < 18,5 kg/m2 , sendo
que nestes pacientes foi encontrado risco cinco vezes maior de mortalidade pós-
operatória.

Outro estudo demonstrou que, apesar de 90% dos pacientes terem


perdido peso recentemente, apenas 18,2% tiveram IMC abaixo de 18,5 kg/ m2.

Apesar de haver demonstração da importância da perda peso como fator


prognóstico em pacientes cirúrgicos, outros estudos não conseguiram
demonstrar maior associação entre perda de peso e hipoalbuminemia pré-
operatória com maior morbimortalidade pós-operatória.

Os métodos subjetivos, como a avaliação global subjetiva (AGS), também


têm sido utilizados nestes pacientes.

Em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, este método foi capaz de


melhor identificar diferenças no estado nutricional entre os diferentes
estadiamentos quando comparado a métodos objetivos, embora resultados
divergentes tenham sido encontrados em pacientes com tumores ginecológicos
e de mama.

A AGS-PPP tem sido validada e utilizada em vários estudos, nos últimos


anos.

Este método foi aceito pelo Oncology Nutrition Dietetic Practice Group of
the American Dietetic Association como o método padrão de avaliação
nutricional no paciente com câncer. Ficou também demonstrado que os
pacientes classificados como desnutridos pela AGS-PPP possuem maiores
níveis séricos de TNF-α e IL-120.

O uso da AGS-PPP combinada com protocolo que classifica o paciente


de acordo com o tipo de tratamento oncológico e terapia antineoplásica

7
8

empregada pode identificar os pacientes que potencialmente se beneficiarão de


intervenção específica, permitindo com isto a manutenção ou o ganho de peso
em mais de 60% dos pacientes.

Para maiores informações sobre a avaliação nutricional referir-se à diretriz


específica deste tópico.

A AGS-PPP é o método padrão de avaliação nutricional do paciente com


câncer, ainda que a avaliação global subjetiva também seja bastante utilizada.

Pacientes em risco nutricional grave, que serão submetidos a grandes


operações por câncer do trato gastrointestinal, têm indicação de TN.

A TN está indicada para pacientes recebendo tratamento oncológico ativo


(quimio, imuno e radioterapia), com inadequada ingestão oral. Dentre estes se
encontram aqueles com ingestão alimentar < 70% do gasto energético estimado
por período maior do que 10 dias e aqueles que não poderão alimentar-se por
período maior do que sete dias.

A TN também pode estar indicada em pacientes sem qualquer terapia


adjuvante que estejam ingerindo à diminuição de ingestão. Os micronutrientes
devem ser ofertados em níveis que contemplem uma a duas vezes as Ingestões
Dietéticas de Referência ou Dietary Recommended Intake (DRI).

As necessidades hidroeletrolíticas são similares às de pacientes em


outras condições clínicas. Embora a calorimetria indireta seja considerada o
método “padrão ouro” para a determinação do gasto energético, a utilização de
equações para estimativa das necessidades nutricionais tem sido proposta em
função do alto custo daquele método.

Para pacientes com trato gastrointestinal íntegro, a via preferencial é


sempre a enteral. A indicação da terapia nutricional parenteral (TNP) reserva-se
aos casos em que há toxicidade gastrointestinal ou outras complicações que
impeçam a ingestão adequada por sete a 14 dias.

A TNP poderá ser indicada simultaneamente com a nutrição enteral,


quando esta não for capaz de suprir completamente as necessidades
nutricionais do paciente. A escolha da via de administração da TN dependerá da

8
9

funcionalidade do trato gastrointestinal. A sonda nasoenteral está indicada para


a TN de curto prazo, enquanto as ostomias (jejunostomia e gastrostomia) devem
ser indicadas se houver necessidade de TN por período maior do que quatro
semanas, como nas situações de obstrução do trato gastrointestinal superior e
dos pacientes que evoluem com mucosite importante em decorrência do
tratamento.

Estudos clínicos prospectivos têm demonstrado que a realização da


gastrostomia endoscópica percutânea nos pacientes com câncer de cabeça e
pescoço, antes do início do tratamento quimio e/ou radioterápico, está
relacionada com ganho ou manutenção do peso corporal e redução da
internação hospitalar por desidratação.

A nutrição parenteral também poderá ser indicada juntamente com a


nutrição enteral, quando esta não for capaz de suprir completamente as
necessidades nutricionais do paciente.

A TNP poderá ser indicada simultaneamente com a nutrição enteral,


quando esta não for capaz de suprir completamente as necessidades
nutricionais do paciente.

Está indicado o aconselhamento dietético intensivo e a TN oral para


aumentar ingestão dietética e prevenir efeitos colaterais da radioterapia, como a
perda de peso e a interrupção da terapia.

Os efeitos colaterais da radioterapia e a necessidade de interrupção da


radioterapia são significativamente menores naqueles em uso de suplemento
nutricional oral.

Está indicado o aconselhamento dietético intensivo e a TN oral para


aumentar ingestão dietética e prevenir efeitos colaterais da radioterapia, como a
perda de peso e a interrupção da terapia.

A terapia nutricional enteral (TNE) é capaz de minimizar os efeitos


colaterais gastrointestinais e hematológicos, especialmente em pacientes
desnutridos ou com dificuldade de deglutição e/ou absorção de nutrientes.

9
10

A intervenção nutricional precoce pode melhorar a tolerância do


tratamento oncológico, uma vez que a frequência de toxicidade é maior nos
pacientes com piores indicadores de estado nutricional.

A TNE em pacientes submetidos a tratamento combinado de radio-


quimioterapia das regiões de cabeça e pescoço e esôfago pode aumentar a
ingestão alimentar e prevenir a perda de peso causada pelos efeitos da terapia,
evitando interrupções no tratamento oncológico.

A TNE pode minimizar os efeitos colaterais gastrointestinais e


hematológicos, especialmente em pacientes desnutridos ou com dificuldade de
deglutição e/ou absorção de nutrientes.

O uso de complemento nutricional oral na forma líquida com ácidos graxos


ômega-3, na forma de ácido eicosapentanoico, previne a perda de peso e a
interrupção da terapia radio/quimioterápica.

A intervenção nutricional no paciente oncológico evita a morte precoce,


diminui as complicações decorrentes do tratamento e melhora a qualidade de
vida, devendo fazer parte da terapêutica global.

Esta deverá ser especializada, individualizada e adequada às


necessidades do paciente, de acordo com a agressividade e a complexidade do
tratamento. Durante o tratamento de radioterapia ou radioquimioterapia
combinada, o uso de TN oral com complemento nutricional na forma líquida com
nutrientes específicos, como os ácidos graxos ômega-3, na forma de ácido
eicosapentanoico, previne a perda de peso e a interrupção da terapia de
radiação.

O uso de complemento nutricional oral na forma líquida com ácidos graxos


ômega-3, na forma de ácido eicosapentanoico, previne a perda de peso e a
interrupção da terapia radio/ quimioterápica.

A TNE deverá ser suspensa na vigência de complicações que impeçam a


utilização do tubo digestivo.

A TNP deverá ser descontinuada quando progressivamente houver a


possibilidade de utilização do tubo digestivo.

10
11

A TN especializada oral deverá ser descontinuada quando a ingestão


total de alimentos suprir as necessidades de nutrientes.

Deve ser considerada a suspensão ou descontinuidade da TN, nas


seguintes situações:

• TNE na presença de peritonite difusa, obstrução intestinal, diarreia e vômitos


intratáveis, íleo paralítico e isquemia gastrointestinal;

• TNP quando progressivamente houver a possibilidade de utilização do tubo


digestivo, com a administração de TNE concomitante com a TNP;

• TN especializada oral quando a ingestão total de alimentos suprir as


necessidades de nutrientes. Recomendações

• A TNE deverá ser suspensa na vigência de complicações que impeçam a


utilização do tubo digestivo;

• A TNP deverá ser descontinuada quando progressivamente houver a


possibilidade de utilização do tubo digestivo;

• A TN especializada oral deverá ser descontinuada quando a ingestão total de


alimentos suprir as necessidades de nutrientes.

A maioria dos pacientes deve receber terapia de conforto de acordo com


a tolerância, incluindo alimento e água. Pequenas quantidades de líquidos
podem ajudar a evitar estados de confusão mental causados pela desidratação.

A intervenção nutricional em cuidados paliativos tem como foco primário


o controle dos sintomas, manutenção de adequado estado de hidratação e
preservação do peso e composição corporal.

Devem ser desenvolvidos pelos membros da equipe multiprofissional,


critérios éticos e clínicos para nutrição e hidratação de pacientes, com base na
expectativa de vida.

A equipe multiprofissional de cuidados paliativos enfrenta situações em


que podem ser tomadas decisões que devem ser efetuadas versus as que
deveriam ter sido realizadas.

11
12

A decisão de fornecer ou não TN durante os cuidados paliativos requer


conhecimento e respeito pelos desejos dos pacientes, avaliação das
expectativas do paciente e família e abertura para comunicação efetiva.

3 passos na assistência a pacientes em cuidados paliativos, sendo que o


primeiro passo é definir os elementos para a tomada de decisão com questões
referentes à condição clínica e oncológica: Sintomas; tempo de sobrevida,
hidratação e estado nutricional; ingestão oral espontânea voluntária; atitude
psicológica; função intestinal e via de administração e, necessidade de serviços
especiais.

De acordo com as respostas e após avaliação das mesmas, o segundo


passo é a tomada de decisão e, o terceiro passo, a reavaliação periódica do
paciente.

Há controvérsias sobre os benefícios da TN em pacientes oncológicos sob


cuidados paliativos, no tocante à sobrevida, à morbidade e ao tempo de
hospitalização.

Ademais, há riscos e incômodos que merecem ser ponderados.

A maioria dos pacientes deve receber terapia de conforto, incluindo


alimento e água, de acordo com a tolerância. Pequenas quantidades de líquidos
podem ajudar a evitar estados de confusão mental causados pela desidratação.

Não existem estudos clínicos e os resultados de estudos experimentais


em animais, particularmente com nutrição parenteral, são controversos. Alguns
estudos demonstraram que a restrição calórica ou de proteínas e certos
aminoácidos pode reduzir o crescimento do tumor.

Estudos com animais não podem ser extrapolados para humanos por
razões de velocidade de crescimento tumoral (maior em animais) e de
imunogenicidade.

Em seres humanos, os trabalhos disponíveis foram feitos com número


muito pequeno de pacientes, sendo que a avaliação do crescimento tumoral foi
pouco confiável para se detectar com acurácia os efeitos da TNP sobre o
desenvolvimento tumoral.

12
13

Não existem estudos clínicos e os resultados de estudos experimentais,


particularmente com TNP, são controversos.

Alguns estudos demonstraram que a restrição calórica ou de proteínas e


certos aminoácidos pode reduzir o crescimento do tumor.

A TERAPIA FARMACOLÓGICA
O uso de drogas progestacionais é recomendado na tentativa de
aumentar o apetite e diminuir a perda de peso e melhorar a qualidade de vida
em pacientes com caquexia. Porém, o risco de trombose venosa durante terapia
com agentes progestacionais deve ser considerado.

Terapia

O uso de corticosteroides deve ser feito por curtos períodos de tempo,


quando os benefícios do uso forem superiores aos efeitos colaterais.

Existem atualmente algumas maneiras de lidar com a anorexia


relacionada ao câncer, que incluem uso de antieméticos, para controle de
náuseas e vômitos associados à radio/quimioterapia, e de agente orexígenos,
para estimular o apetite.

Os agentes orexígenos incluem os canabinoides, agentes progestacionais


(acetato de megestrol e acetato de medroxiprogesterona) e corticosteroides.

O acetato de megestrol é derivado sintético da progesterona e, em doses


de 160 mg/dia (40 mg 4 vezes ao dia) a 1.600 mg/dia, tem sido correlacionado a
aumento do apetite. As melhores respostas foram obtidas com doses de 800
mg/dia, não se observando benefícios adicionais com doses superiores a esta.

Contudo, é importante ressaltar que estes levam a aumento de peso à


base de acúmulo de água e gordura, sem, contudo, aumentar a massa.

13
14

O uso de androgênios (fluoximesterona) pode induzir ao aumento no peso


corporal, sendo menos eficazes que os agentes progestacionais e esteroides.
Os efeitos colaterais dos androgênios são comparáveis aos dos agentes
progestacionais e menos frequentes do que com uso de esteroides.

Estudos randomizados demonstram que o uso de corticosteroides leva ao


aumento do apetite, mas, com efeito, de curta duração (menor do que oito
semanas) e sem resultar em ganho de peso.

Em pacientes com câncer muito avançado e sobrevida limitada (< 3


meses), o uso de corticoides pode levar à melhora da qualidade de vida.

• O uso de drogas progestacionais é recomendado na tentativa de aumentar o


apetite e diminuir a perda de peso e melhorar a qualidade de vida em pacientes
com caquexia.

Porém, o risco de trombose venosa durante terapia com agentes


progestacionais deve ser considerado;

DIETA E CÂNCER: UM ENFOQUE EPIDEMIOLÓGICO


Epidemiologistas que estudam câncer têm observado que a sua
prevalência no mundo tem aumentado de maneira significativa no último século.

Acredita-se que este resultado está relacionado, entre outros aspectos,


com a industrialização e a urbanização ocorridas neste período. De fato, a
morbimortalidade associada ao câncer observada em países desenvolvidos é
maior do que em países em desenvolvimento.

Além disso, algumas formas específicas de câncer, como o de cólon e


reto, próstata e mama feminina, são mais frequentes em países desenvolvidos,
enquanto outras, como de estômago, esôfago e colo de útero têm maior
incidência nos países em desenvolvimento.

14
15

Padrões distintos de câncer também são observados entre indivíduos que


emigram para um novo país ou região. Com base em estudos epidemiológicos,
analisou-se a relação entre câncer e nutrição, e algumas modificações na
alimentação que podem prevenir alguns tipos de cânceres.

O câncer é definido como uma enfermidade multicausal crônica,


caracterizada pelo crescimento descontrolado das células.

Sua prevenção tem tomado uma dimensão importante no campo da


ciência, uma vez que recentemente foi apontada como a primeira causa de
mortalidade no mundo.

O desenvolvimento de várias das formas mais comuns de câncer resulta


de uma interação entre fatores endógenos e ambientais, sendo o mais notável
desses fatores a dieta.

Acredita-se que cerca de 35% dos diversos tipos de câncer ocorrem em


razão de dietas inadequadas. É possível identificar, por meio de estudos
epidemiológicos, associações relevantes entre alguns padrões alimentares
observados em diferentes regiões do globo e a prevalência de câncer.

Outros fatores ambientais, tais como o tabagismo, a obesidade, a


atividade física e a exposição a tipos específicos de vírus, bactérias e parasitas,
além do contato frequente com algumas substâncias carcinogênicas como
produtos de carvão e amianto, também merecem ser salientados.

O Comitê de Peritos da World Cancer Research Fund registra medidas -


além do aumento da atividade física, da manutenção de peso corporal adequado
e do não uso de tabaco - que promovem modificações para que se adote uma
dieta mais saudável e capaz de reduzir cerca de 60% a 70% a incidência de
câncer no mundo.

15
16

EPIDEMIOLOGIA DO CANCER NO MUNDO


Médicos do Egito antigo (3000 a.C.) registraram doenças que, dadas suas
características, provavelmente podiam ser classificadas como câncer.
Hipócrates (377 a.C.) também descreveu enfermidades que se assemelhavam
aos cânceres de estômago, reto, mama, útero, pele e outros órgãos.

Portanto, a presença do câncer na humanidade já é conhecida há


milênios. No entanto, registros que designam a causa das mortes como câncer
passaram a existir na Europa apenas a partir do século XVIII. Desde então,
observou-se o aumento constante nas taxas de mortalidade por câncer, que
parecem acentuar- -se após o século XIX, com a chegada da industrialização.

Com base em informações da International Agency for Research on


Cancer, estimava-se que em 1996 surgiram mais de 10 milhões de novos casos
no mundo.

Os oito tipos mais comuns de câncer no sexo masculino são os de


pulmão, estômago, cólon e reto, próstata, boca e faringe, fígado, esôfago e
bexiga. As mulheres são mais atingidas pelos cânceres de mama, colo de útero,
cólon e reto, estômago, pulmão, boca e faringe, ovário e endométrio.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a distribuição de mortes


por cânceres pelo mundo não é homogênea.

A mortalidade total acarretada por cânceres foi de 12,6% em 2000; 21,6%


e 9,8% nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, respectivamente. Para
os anos entre 1960 e 2000, os dados mostram um aumento de 15% para 25%
de mortalidade nos países desenvolvidos.

Já nos países em desenvolvimento, observaram-se taxas menores e


crescentes, que alcançaram 6% em 1985 e 9% em 1997, com uma expectativa
de aumentar, de 5,4 milhões em 2000, para 9,3 milhões em 2020, de acordo com
projeções populacionais.

Nas diferentes taxas de incidência e mortalidade de diversos tipos de


câncer no mundo, pode-se constatar que não existe um padrão global para a
ocorrência de câncer, tendo importância na determinação desse quadro, a

16
17

exposição a fatores ambientais relacionados à urbanização, como dieta e estilo


de vida.

Outro dado que corrobora tal suposição é a mudança no padrão de


incidência de câncer em migrantes. Com o passar do tempo, os migrantes
passam a apresentar taxas de incidência e de mortalidade de câncer
semelhantes às observadas no novo país.

Parkin et al. verificaram que as taxas de incidência de câncer de


estômago, coloretal e de próstata em homens chineses, diferiam de
forma relevante, dependendo de qual novo local adotaram para viver.

As taxas de câncer de estômago nos chineses que moravam em Xangai


eram maiores, quando comparadas àquelas manifestadas pelas populações
chinesas residentes em Cingapura, Hong Kong e EUA.

Ainda mais marcantes foram as diferenças constatadas para a incidência


do câncer de próstata, que chegavam a ser 10 a 15 vezes maiores entre
chineses que residiam nos EUA, em comparação com os chineses habitantes de
Xangai.

17
18

Segue-se a análise que relaciona dieta e câncer, com base nas taxas de
incidência e de mortalidade, ajustadas para idade (Tabela 1).

Recomenda-se que esses dados sejam examinados com cautela, pois as


diferenças observadas nas taxas de incidência podem ser um artefato resultante
da maior ou menor disponibilidade de instrumentos diagnósticos. Contudo, no
que se refere à variação geográfica da mortalidade, esta pode, em parte, ser
consequência de maior ou menor acesso a serviços médicos.

Além disso, a elaboração da taxa de incidência e de mortalidade depende


dos seus registros, que podem ser precários em algumas regiões do mundo.
Uma das maiores taxas de incidência é a do câncer de pulmão, tanto nos países
desenvolvidos, quanto naqueles em desenvolvimento, principalmente, na
população masculina (Tabela 1).

De acordo com o World Cancer Research Fund, as taxas de câncer de


esôfago alcançaram 480 mil casos novos em 1996, o equivalente a
4,6% de todos os cânceres.

18
19

O aumento tem sido mais acentuado nos países da Europa Ocidental e


na América do Norte. É importante notar que as taxas da doença verificadas
entre homens chegam a ser cerca de duas vezes maiores que aquelas
observadas entre as mulheres.

Acredita-se que o risco de desenvolver câncer de esôfago é


potencializado, principalmente, pelo fumo e pelo consumo de bebida alcoólica10
(Tabela 1). No que se refere ao câncer de estômago, é a segunda neoplasia de
incidência mais comum e causa de morte por câncer no mundo.

A estimativa é de 1 milhão de casos em 1997, contribuindo para 10% dos


casos novos de câncer.

Quando se compara os dados obtidos junto a homens e mulheres,


observa-se uma nítida diferença entre os sexos, com maior incidência e
mortalidade entre os homens (Tabela 1).

No entanto, é um dos poucos tumores cuja incidência e mortalidade vêm


registrando marcado declínio em vários países.

Analisando globalmente, as taxas de incidência do câncer de estômago


reduziram-se cerca de 30% no período de 1960 a 1985.

Índia, China e América do Norte foram regiões que apresentaram as


maiores reduções, provavelmente relacionadas ao maior consumo de vegetais
e frutas, entre outros fatores.

As maiores taxas de incidência do câncer de cólon e reto foram


encontradas na Europa, na América do Norte e na Austrália até 1996. Nesse
mesmo ano, a mortalidade estimada foi de 510 mil pessoas.

O câncer de mama feminina é o de maior incidência nessas populações.


Uma estimativa de 910 mil casos novos ocorreu em 1996, ou seja, 9% em
relação à totalidade dos casos novos de câncer.

A taxa de incidência mundial vem aumentando, principalmente nas


sociedades mais desenvolvidas. Acredita-se que o aumento no aparecimento da
doença esteja associado ao desenvolvimento econômico.

19
20

No período de 1960 a 1985, o Japão foi o país que apresentou o maior


aumento na taxa de incidência de câncer no mundo.

Com o quarto lugar de incidência entre os homens e o sétimo como causa


de morte, o câncer de próstata contribuiu para 400 mil casos novos no mundo
em 1996. As taxas mais elevadas foram encontradas na Europa, América do
Norte e Austrália.

Nos últimos anos, as taxas de incidências registradas estão aumentando


em muitas regiões do globo, em parte relacionadas com os progressos do
diagnóstico. Sua incidência aumenta, particularmente, após os 60-70 anos.

Os referidos tipos de câncer (cólon e reto, mama e próstata) apresentam


dois pontos em comum.

Em primeiro lugar, as maiores taxas de incidência foram encontradas nos


países de maior desenvolvimento econômico e tendem a aumentar nas nações
em processo de transição econômica.

Ocupando a segunda posição, observam-se taxas de incidência maiores


do que as de mortalidade.

Esta discrepância pode ter sido condicionada pelos avanços, tanto nos
equipamentos diagnósticos, como no próprio tratamento da doença, que
permitem um aumento no tempo de sobrevida.

Em resumo, as taxas de incidência e mortalidade de câncer


demonstraram aumento no mundo, principalmente nas regiões com estilos de
vida essencialmente urbanos.

As análises alertam e reforçam a importância da adoção de medidas de


prevenção, capazes de reverter a situação.

20
21

EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER NO BRASIL


No Brasil, o câncer é a segunda causa de morte por doença, apenas
superada pelas doenças cardiovasculares.

A incidência do câncer, expressiva quando comparada a valores


internacionais, também exibe um perfil próprio, diferente do observado em outros
países. Verifica-se, por exemplo, a existência concomitante de tumores típicos
das áreas pouco desenvolvidas, com aqueles de alta incidência em países
desenvolvidos, fruto da coexistência de fatores de risco tradicionais e modernos,
aos quais a população brasileira se encontra exposta.

De acordo com o Ministério da Saúde, para o ano de 2002, em todo o


território nacional, seriam registrados 305 330 casos novos de câncer
(150 450 para o sexo masculino e 154 880 para o feminino) e 117 550
mortes (63 330 para os homens e 54 220 para as mulheres).

A população brasileira, provavelmente, será acometida, prioritariamente,


pelo câncer de pele não-melanoma, seguido pelas neoplasias malignas de
mama feminina, estômago, pulmão e próstata.

CÂNCER DE MAMA FEMININA E COLO DE ÚTERO


De acordo com o observado na população mundial, os tumores de colo
uterino e da mama feminina são os de maior incidência e causa considerável de
mortalidade nas regiões brasileiras.

Tal realidade revela a peculiaridade da transição epidemiológica do país,


vivenciada nas últimas décadas. No período de 1979 a 1998, as taxas de
mortalidade por câncer de mama e de colo de útero apresentaram um aumento
percentual de 68% e 29%, respectivamente.

Este aumento, observado por meio de séries temporais, reflete a


crescente prevalência da exposição a fatores de risco de câncer de mama,
devido ao intenso processo de urbanização da população brasileira.

21
22

Tal urbanização caracteriza-se pelo aumento do consumo de alimentos


industrializados, redução da atividade física e mudanças no comportamento
reprodutivo (nuliparidade e idade avançada na primeira gestação), além da
precariedade dos serviços de saúde – o que impede o acesso ao exame de
Papanicolaou, de alta eficácia na detecção das lesões iniciais do câncer de colo
de útero.

A estimativa do Ministério da Saúde para casos novos em 2001, apontou


maior incidência de câncer de mama nas Regiões Nordeste e Sudeste e de colo
uterino na Região Norte do Brasil.

Com relação à mortalidade, estima-se que as neoplasias malignas da


mama feminina seriam responsáveis pelo maior número de mortes nas Regiões
Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul em 2001.

Na Região Nordeste do país prevê-se o maior coeficiente de mortalidade


por câncer de colo uterino.

Para o país como um todo em 2001, continuariam se destacando entre as


maiores taxas de incidência e de mortalidade nas mulheres, as neoplasias de
mama e de útero.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a maior causa de


mortalidade das mulheres deverá ser o câncer de mama, com
expectativa de incidência de 31 590 casos novos no ano de 2002.

CÂNCER DE PULMÃO
Como citado anteriormente, o câncer de pulmão continua sendo
reconhecido como responsável pelo maior número de mortes por câncer no
mundo15,16. De acordo com os dados gerados pelo Sistema de Informação
sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, entre 1979 e 1998, as taxas de
mortalidade por esta neoplasia apresentaram uma variação percentual relativa
de 56% para o sexo masculino e de 108% para o feminino. Isto indica que, no

22
23

Brasil, entre os tumores malignos, este câncer representa a principal causa de


mortes entre homens e a segunda mais frequente em mulheres.

Sua incidência está entre as cinco mais elevadas em ambos os sexos.


Com relação à mortalidade, este câncer lidera as taxas dos óbitos para o sexo
masculino, na totalidade das regiões brasileiras.

Além disso, as estimativas do INCA para o ano 2002 são consistentes


com a taxa mundial e indicam que, entre as neoplasias, o tumor maligno de
pulmão será a primeira causa de morte entre os homens e a segunda mais
frequente entre as mulheres.

CÂNCER DE ESTÔMAGO
No Brasil, o câncer de estômago ainda ocupa o quinto lugar como causa
de morte e de casos novos da doença, em ambos os sexos. Entretanto, observa-
se que, no período de 1979 a 1998, as taxas de mortalidade diminuíram, de
forma semelhante para homens e mulheres, correspondendo a uma variação
inferior a 10%.

A mortalidade por câncer de estômago em imigrantes japoneses no Brasil,


em comparação com os coeficientes observados na população nativa de ambos
os países sugere influência ambiental na modificação do risco de morte para
esse tumor.

O padrão geográfico da ocorrência de casos novos e mortes estimadas


para o ano 2001, previa que para os homens, o câncer de estômago ocuparia a
segunda posição na Região Norte, seguindo-se as Regiões Sudeste e Sul.

23
24

CÂNCER DE CÓLON E RETO


Outras neoplasias que merecem análises comparativas em relação ao
seu padrão de distribuição no país, são os tumores malignos de cólon e reto.
Encontram-se entre as cinco primeiras causas de morte por câncer na população
brasileira.

A distribuição percentual de tumores malignos de cólon e reto aproxima-


se dos registros encontrados nos países altamente industrializados.

A análise dos dados relativos à mortalidade demonstra considerável


elevação nos últimos 20 anos (1979/98), estimando-se que, em 2001, as taxas
de incidência e mortalidade por tumores de cólon e reto independente do sexo,
seriam mais frequentes nas Regiões Sudeste e Sul do país.

CÂNCER DE PRÓSTATA
No Brasil, a mortalidade por câncer de próstata também aumentou ao
longo das duas últimas décadas, equivalente a uma variação percentual relativa
de 139%. Para o ano de 2002 previu-se que o câncer de próstata seria a segunda
causa de mortalidade e teria o primeiro lugar na incidência entre os homens, com
20 820 casos novos.

ALIMENTAÇÃO COMO FATOR DE RISCO E DE PREVENÇÃO


AO CÂNCER
Há várias evidências de que a alimentação tem um papel importante nos
estágios de iniciação, promoção e propagação do câncer, destacando-se entre
outros fatores de risco.

Entre as mortes por câncer atribuídas a fatores ambientais, a dieta


contribui com cerca de 35%, seguida pelo tabaco (30%) e outros, como

24
25

condições e tipo de trabalho, álcool, poluição e aditivos alimentares, os quais


contribuem com menos do que 5%.

Acredita-se que uma dieta adequada poderia prevenir de três a quatro


milhões de casos novos de cânceres a cada ano.

Nos estudos que envolvem câncer e dieta em diversas populações, um


dos temas mais discutidos é a existência de uma diferença na incidência das
várias formas de câncer, que pode estar relacionada às variações na ingestão
de determinados componentes da dieta.

A base para responder a esta e outras questões referentes ao câncer tem


sido a epidemiologia. No entanto, o instrumento dessa área fica sujeito a
limitações, quando visa identificar o real papel da alimentação no câncer.

Uma das grandes limitações que podem conduzir a erros ou vieses é a


escolha do inquérito dietético adotado nos estudos, uma vez que estes
dependem tanto das informações fornecidas pelos entrevistados, quanto da
habilidade do entrevistador em estimar o porcionamento correto do alimento
consumido.

No entanto, empregam-se esses levantamentos, valorizando alguns


nutrientes isoladamente, enquanto que a população, de forma geral, consome
alimentos como combinações de um grande número de compostos.

Por isso, é complexo e merece análise cautelosa atribuir um papel


carcinogênico ou anticarcinogênico a um único fator da dieta.

Considerando-se ainda, que outros fatores cancerígenos não-dietéticos


podem ocorrer simultaneamente, são inúmeras as possibilidades de equívocos
nos estudos que envolvem fatores de risco e câncer.

Apesar dos erros inerentes ao levantamento da ingestão habitual, não é


possível ignorar o valor do inquérito alimentar. Trata-se de um instrumento que
permite o conhecimento do padrão alimentar e da sua variação temporal para
diferentes populações mundiais.

25
26

Com ele, é possível identificar as modificações temporais no hábito


alimentar e estimar o seu impacto sobre a ocorrência do câncer, tanto em grupos
populacionais isolados, como em comparações entre populações de diversas
regiões e países.

Desta forma, pode-se observar a influência negativa da incorporação da


dieta ocidental moderna (elevada em gordura e alimentos industrializados e
pobre em fibras), no desenvolvimento das diversas formas de câncer nos países
desenvolvidos e em desenvolvimento.

De acordo com o exposto, é provável que os resultados de estudos


populacionais sobre o papel dos alimentos como fator de risco tenham sido mais
eficazes em demonstrar a redução do risco de câncer, do que as pesquisas
isoladas sobre determinados nutrientes.

Alguns componentes relacionados à alimentação - relevantes como


fatores de prevenção ou risco para o desenvolvimento do câncer - são abordados
a seguir.

FRUTAS E HORTALIÇAS
As frutas e as hortaliças têm assumido posição de destaque nos estudos
que envolvem a prevenção do câncer.

Van Duyn & Pivonka destacaram as evidências epidemiológicas de que


o consumo de frutas e hortaliças tem um efeito protetor contra diversas
formas de câncer.

O referido estudo foi baseado em uma extensa análise de pesquisas


epidemiológicas mundiais, realizadas de forma independente por comitês de
especialistas do World Cancer Research Fund and the American Institute for
Cancer Research1 e do Chief Medical Officer’s Committee on Medical Aspects
of Food and Nutrition Policy.

26
27

Observa-se (Quadro 1), que os registros dos comitês apresentaram


divergências.

Contudo, pode-se verificar evidências do efeito protetor do consumo de


hortaliças e frutas sobre diversos tipos de câncer. Fazendo uma projeção na
estimativa de prevenção, pode-se supor que o aumento no consumo de frutas e
hortaliças promove uma redução na incidência global de câncer, que varia de
7% (estimativa conservadora) a 31% (estimativa otimista) .

Tendo por base os resultados das pesquisas avaliadas, os comitês foram


unânimes em recomendar o aumento na ingestão de frutas e hortaliças, visando
a prevenção do desenvolvimento do câncer.

Estudos sobre câncer de esôfago e pulmão têm corroborado o papel


preventivo da ingestão de frutas e hortaliças contra essas doenças.

FIBRAS
Há algumas décadas tem sido enfatizado o efeito protetor da fibra
alimentar contra o câncer de cólon e reto.

27
28

Este conceito foi sugerido por Burkitt em 1971, que relacionou a elevada
ingestão de fibras com a baixa incidência desse tipo de câncer entre a população
do leste da África.

A World Cancer Research Fund1, após desenvolver metanálise,


envolvendo estudos e analisar outros de caso-controle, considerou convincente
a associação das fibras alimentares com a redução do risco de câncer de cólon
e reto.

Entretanto, em dois estudos longitudinais envolvendo populações de


vários países, obtiveram-se resultados controversos. Um deles demonstrou que
as fibras alimentares reduziram em 33% o risco de mortalidade por câncer de
cólon e reto, enquanto que em outra pesquisa não foi observada a mesma
associação.

A dificuldade em avaliar a relação entre fibra da dieta e câncer pode estar


relacionada aos diversos tipos de fibras encontrados na composição dos
alimentos.

Embora plausível que haja um efeito protetor contra o câncer em alguns


tipos de fibras, ainda é necessário maior número de investigações que visem
identificar as fontes reais do efeito anticarcinogênico, presentes nas frutas,
hortaliças e grãos.

Os resultados das pesquisas que envolvem os fitoquímicos, representam


um grande avanço na elucidação do papel preventivo do alimento, no combate
ao câncer.

Inúmeros fitoquímicos, como isoflavonas (genisteína, daidzeína), lignanas


(matairesinol, secoisolariciresinol), terpenos e carotenóides entre outros,
presentes em diversos alimentos, são identificados como tendo papel preventivo
contra várias formas de câncer.

Os fitoquímicos podem interferir direta ou indiretamente na prevenção do


câncer, uma vez que participam em diversas etapas do metabolismo; por
exemplo, atuando como antioxidantes ou na redução da proliferação de células
cancerígenas.

28
29

A soja, bem como seus derivados, são apontados como tendo um efeito
protetor em relação às várias formas de câncer, tanto naqueles hormônio-
relacionados, quanto em outros tipos de neoplasias.

O seu papel preventivo contra o câncer de mama feminina, observado nas


populações que fazem uso habitual da soja, tem como possível explicação o seu
elevado teor de isoflavona. Essa substância revela comportamento semelhante
ao do medicamento “tamoxifen”, utilizado no tratamento desta neoplasia.

No entanto, chama-se a atenção para a existência de diferentes grãos de


soja, em que a quantidade e os tipos de isoflavonas são distintos. Isto pode
justificar as divergências encontradas nos diversos estudos.

Por outro lado, uma segunda geração de alimentos contendo soja, como
hambúrguer, salsicha, iogurte e queijo, apresenta teores diferentes de
isoflavonas, menores, quando comparados aos encontrados naturalmente na
alimentação asiática.

Portanto, há necessidade de mais investigações envolvendo os


biomarcadores, para elucidar-se o papel dos fitoquímicos na prevenção do
câncer, antes de recomendá-los especificamente como anticancerígenos, que
devem fazer parte da alimentação habitual.

GORDURA
O papel do lipídio na carcinogênese pode variar de acordo com a origem
e composição.

Entre os cânceres associados ao excesso de ingestão de gordura,


destacam-se o de cólon e reto. Acredita-se que a elevada ingestão de gordura
promove aumento na produção de ácidos biliares, que são mutagênicos e
citotóxicos.

29
30

A World Cancer Research Fund concluiu, por meio da análise de estudos


de coorte e caso- -controle, não haver evidência consistente da associação de
dietas ricas em gordura com o risco de câncer de cólon e reto.

Em outros estudos analíticos também não foram encontradas evidências


que comprovem a relação entre ingestão de gordura e esse tipo de câncer.
Resultados semelhantes foram igualmente observados para os cânceres de
próstata e de pulmão.

Por outro lado, associação positiva entre câncer de mama e ingestão de


gorduras é apontada pela National Academy of Sciences. Nos estudos
experimentais e nas metanálises publicadas até a década de oitenta, foram
demonstradas correlações entre o maior consumo de energia e gorduras
dietéticas totais com o aumento do risco de câncer de mama.

No entanto, os estudos epidemiológicos desenvolvidos nos anos


posteriores, não forneceram evidências conclusivas dessa associação. Assim,
foi sugerido que o padrão metabólico de diferentes ácidos graxos seja
investigado como possível determinante do câncer de mama feminina.

OBESIDADE E ATIVIDADE FÍSICA


A obesidade tem sido associada ao aumento global do risco de câncer.
Peto ressaltou que 5% da incidência de câncer na Europa poderia ser evitada
com um Índice de Massa Corporal (IMC) máximo de 25kg/m².

Estes dados são preocupantes, visto que para a população brasileira, a


estimativa de sobrepeso (IMC de 25kg/m² a 29,9kg/m²) e obesidade
(IMC>30kg/m²) é de 32% e 8%, respectivamente.

A obesidade no período de pós-menopausa pode potencializar o risco de


câncer de mama, principalmente quando a gordura está localizada na região
abdominal. Existem evidências de que os cânceres de mama e endométrio estão

30
31

associados com o excesso de peso corporal, refletindo também elevada ingestão


energética.

Segundo a World Health Organization, a obesidade, por si só, apresenta


associação positiva com o risco de câncer de endométrio, tendo sido
demonstrado na Europa que 39% desse tipo de câncer está associado ao
excesso de peso.

A atividade física também ocupa um papel importante na proteção contra


diversas formas de neoplasias, como de mama feminina, cólon e endométrio. No
entanto, após o diagnóstico de câncer de mama feminina, o potencial benéfico
da atividade física ainda não foi comprovado.

Thune & Furberg observaram uma relação inversa entre a atividade física
moderada e o câncer de cólon.

PREPARO, CONSERVAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE


ALIMENTOS
Outros aspectos a serem considerados na prevenção do câncer, são os
métodos de preparo e conservação dos alimentos, visto que ambos, quando
adotados, podem colaborar de forma direta ou indireta no desenvolvimento de
certos tipos de neoplasias.

O emprego inadequado de alguns métodos de conservação de alimentos


é fator de risco, principalmente, para os cânceres de estômago e esôfago - como
conservas, picles e defumados, contendo grande quantidade de nitratos e nitritos
- quando são consumidos rotineiramente, como hábito alimentar do indivíduo.

O Departamento de Saúde dos Estados Unidos também considera que


existe uma associação de risco moderadamente consistente entre o consumo de
carnes processadas e o câncer de cólon.

31
32

Está bem documentado que os compostos N-nitrosos e o nitrato induzem


à formação tumoral por meio da sua transformação em nitrito, um óxido
desestabilizado, levando ao aumento na produção de radicais livres e lesão
celular.

O nitrito, que pode ser formado endogenamente, também provém das


carnes curadas (conservadas com nitrito de sódio), embutidos e alguns vegetais
(espinafre, batata, beterraba, alface, tomate, cenoura, nabo, couve-flor, repolho,
rabanete, etc.) que contêm nitrato, o qual é transformado em nitrito pela ação da
saliva.

Os mecanismos postulados para o aumento do risco do câncer de


estômago com o consumo de compostos nitrosos estão associados ao aumento
de radicais livres, que promovem lesão celular com redução na produção de
muco, um fator de proteção à mucosa gástrica.

Métodos de preservação e preparo de carnes, que acarretam a formação


de aminas heterocíclicas, além dos nitritos, também foram associados ao maior
risco de cânceres do trato gastrintestinal.

Por exemplo, preparar as carnes com temperaturas elevadas, produzindo


um suco queimado, ou expor a carne diretamente ao fogo, como durante o
preparo do churrasco, tem sido desaconselhado pela World Cancer Research
Fund, por produzir componentes carcinogênicos na superfície do alimento e
aumentar o risco de câncer do estômago.

A presença de elevada quantidade de benzo [a] pirenos - hidrocarboneto


cíclico aromático nos alimentos, considerado um potente carcinogênico -
também é correlacionada com essas formas de preparações e parece associar-
se com o risco aumentado de câncer do trato gastrintestinal.

Num estudo de caso-controle realizado entre japoneses, Takezaki et al.


observaram que o consumo de peixe influenciou no risco de desenvolver dois
tipos de câncer de pulmão.

32
33

A redução do risco de carcinoma de pequenas células e de tumor de


squamous cells, foi associada ao consumo de peixe cru ou cozido, mais de 1 a
2 vezes por semana.

Entretanto, o consumo de peixe desidratado ou conservado com sal


associou-se ao aumento de 1,3 a 2,8 vezes no risco dos mesmos tipos de
cânceres.

O óleo de peixe, quando exposto ao ar, à luz ou ao calor sofre uma rápida
degradação devido a peroxidação lipídica e a outras alterações químicas. Como
alimento conservado, para ser consumido vários dias após o processo, pode
apresentar redução nas concentrações de ácidos graxos poliinsaturados da
família ômega 3, que é um fator protetor contra o câncer.

Além disso, o alimento conservado possui vários tipos de contaminantes


(aditivos alimentares e resíduos químicos da agricultura), que poderiam ter efeito
carcinogênico56. No estudo de Takezaki et al., foi observado também um
aumento no risco de câncer de pulmão com o consumo de outros alimentos em
conserva, como o repolho Chinês, conservado em salmoura.

Quanto aos alimentos, outro aspecto importante é o processo de


armazenamento. Este deve ser adequado para prevenir o desenvolvimento de
certos tipos de fungos que produzem a aflatoxina, uma substância altamente
carcinogênica, sendo apontada como um dos fatores de risco para o
desenvolvimento de tumores hepáticos.

Como exposto, estudos epidemiológicos têm apontado o papel protetor


da dieta contra o desenvolvimento do câncer.

O Comitê de peritos da World Cancer Research Fund, em associação com


o do American Institute for Cancer Research, desenvolveram um painel contendo
as principais recomendações, visando a prevenção do câncer.

Essas recomendações são baseadas nos princípios apresentados a


seguir:

- Quantidade: sempre que possível efetuar recomendações fornecendo a


quantidade de alimento que deverá ser consumida.

33
34

- Limite de ingestão: as recomendações devem expressar os limites mínimo e


máximo a serem ingeridos.

- Populações: atender grupos populacionais e indivíduos, de forma compatível


com a diversidade cultural.

- Alimentos: baseadas em grupos alimentares e não em nutrientes específicos. -


Aceitabilidade biológica: são baseadas em dados epidemiológicos,
experimentais e em mecanismos biológicos aceitáveis.

A maior parte dos dados que relacionam dieta e câncer está baseada em
estudos epidemiológicos, sendo que poucos resultados provêm de estudos
prospectivos.

É importante ressaltar que estudos retrospectivos têm suas limitações,


como por exemplo, os vieses de memória.

Em geral, os indivíduos afetados pela doença tendem a recordar-se com


maior facilidade da exposição aos alimentos, do que os do grupo controle. Esses
estudos também sofrem vieses de variáveis de confusão, pela auto seleção dos
indivíduos.

Geralmente, pessoas que buscam hábito alimentar salutar, também


tendem a apresentar um estilo de vida mais saudável, como por exemplo, a
prática de atividade física e o não-tabagismo.

Apesar disso, os benefícios decorrentes das modificações no estilo de


vida, incluindo-se as modificações dietéticas, para redução mundial dos
coeficientes de incidência e mortalidade de câncer, já estão amplamente
documentados.

A adoção de hábitos saudáveis, incluindo a alimentação, constitui fator de


proteção contra o desenvolvimento de vários cânceres.

Entretanto, os nutrientes específicos, responsáveis pelos mecanismos


anticarcinogênicos, ainda não foram completamente identificados, fazendo-se
necessária a pesquisa, principalmente, no âmbito nacional.

34
35

ALIMENTOS FUNCIONAIS: UMA POSSÍVEL PROTEÇÃO PARA


O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER
O câncer pode ser definido como uma enfermidade multicausal crônica,
caracterizada pelo crescimento descontrolado de células.

Seu desenvolvimento envolve alterações do DNA celular, que se


acumulam com o tempo. Quando essas células lesadas escapam dos
mecanismos envolvidos na proteção do organismo contra o crescimento e a
disseminação das mesmas, é estabelecida uma neoplasia (OLIVEIRA; BONETI,
PIZZATO, 2010).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer atinge pelo


menos nove milhões de pessoas e mata cerca de cinco milhões a cada ano,
sendo hoje a segunda causa de morte por doença nos países desenvolvidos,
perdendo apenas para as doenças cardiovasculares (WORLD CANCER
RESEARCH FUND, 2007).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que, no ano 2030,


podem-se esperar 27 milhões de casos incidentes de câncer, podendo ocorrer
17 milhões de mortes anualmente por esta doença. O maior efeito desse
aumento vai incidir em países de baixa e média rendas (INSTITUTO NACIONAL
DO CÂNCER, 2012).

No Brasil, o câncer de maior incidência, sem considerar os tumores de


pele não melanoma, é o de mama em mulheres e nos homens, o de pulmão. Em
termos geográficos, as regiões Sul e Sudeste apresentam maior taxa de
mortalidade (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2011).

Os fatores de risco associados ao câncer podem ser encontrados no


ambiente físico, ser herdados ou representar hábitos ou costumes próprios de
um determinado ambiente social e cultural (INSTITUTO NACIONAL DO
CÂNCER, 2012).

35
36

Aproximadamente 30% de todos os tipos de câncer estão ligados a fatores


dificilmente controláveis como hereditários, ambientais ou viral; 70% ao estilo de
vida e fatores controláveis, como tabagismo, sedentarismo, obesidade,
composição do regime alimentar, uso abusivo de álcool e de entorpecentes
(BÉLIAVEU; GINGRAS, 2007).

Estudos comprovam que as alterações na dieta têm efeitos positivos e


negativos na saúde durante toda vida. O mais importante é que as modificações
dietéticas podem não somente influenciar o estado de saúde presente como
também determinar se um indivíduo desenvolverá ou não alguma doença como
câncer, doenças cardiovasculares e diabetes. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE
SAÚDE, 2003).

A partir de 1990, o conceito de alimentos funcionais começou a ser


difundido nos Estados Unidos, quando o National Cancer Institute (NCI) deu
início a um projeto denominado Programa de Alimentos Projetados (Designer
FoodProgram) com duração prevista de 5 anos e investimento de 5 milhões de
dólares destinados à realização de pesquisas sobre componentes de alimentos
naturais, principalmente os fitoquímicos presentes em frutas e verduras, que
apresentassem atividade anticancerígena (MILNER, 2000 apud PIMENTEL;
FRANCKI; GOLLÜCKE, 2005).

Descrever os benefícios dos alimentos funcionais na prevenção do


câncer, com base em uma revisão de literatura.

Realizou-se uma revisão bibliográfica da literatura a partir da utilização da


base de dados e de periódicos localizados na Biblioteca Central da URI –
Erechim.

CONCEITOS DE ALIMENTOS FUNCIONAIS


A busca por alimentos que possuam um ou mais nutrientes adicionados
com efeitos benéficos para a saúde, contendo componentes com atividade

36
37

fisiológica e biológica, além dos nutrientes, está cada vez mais em ascensão por
parte dos consumidores.

Nas últimas duas décadas o termo funcional foi aplicado a alimentos e


adquiriu um novo significado e mais restrito, o de fornecer benefício fisiológico
adicional, além de satisfazer as necessidades nutricionais (ANJO, 2004).

A definição de alimento funcional, segundo a legislação brasileira,


considera alegação de propriedade funcional “aquela relativa ao papel
metabólico ou fisiológico que o nutriente ou não nutriente tem no crescimento,
desenvolvimento, manutenção e outras funções normais do organismo e
alegação de propriedade de saúde aquela que sugere, afirma ou implica a
existência de relação entre alimento ou ingrediente com doença ou condição
relacionada à saúde” (BRASIL, 1999).

Um alimento funcional pode ser um alimento natural; um alimento ao qual


um componente foi adicionado; um alimento do qual um componente foi
removido; um alimento no qual a natureza de um ou mais componentes foi
modificada; um alimento no qual a biodisponibilidade de um ou mais
componentes foi modificada (ROBERFROID, 2002).

O alimento ou ingrediente que alegar propriedades funcionais e/ou de


saúde, pode, além de funções básicas, quando se tratar de nutriente, produzir
efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser
seguro para consumo sem a supervisão médica (STRINGHETA et al., 2007).

Os alimentos funcionais são compostos por substâncias biologicamente


ativas, que podem estimular processos fisiológicos ou metabólicos, reduzindo
então o risco de doenças e a manutenção da saúde.

Para oferecer efeitos positivos, os alimentos funcionais devem fazer parte


da alimentação diária dos indivíduos, para que os compostos ativos se
mantenham constantemente presentes no organismo (ANJO, 2004).

A posição da American Dietetic Association (2009) é que todos os


alimentos são funcionais em algum nível fisiológico.

37
38

Os que incluem alimentos integrais, fortificados e enriquecidos, podem ter


um efeito benéfico maior sobre a saúde quando consumido como parte de uma
dieta variada regularmente.

A tendência cada vez maior da ingestão de vitaminas em comprimidos


não substitui uma boa alimentação.

Os nutrientes protetores só funcionam quando consumidos através dos


alimentos. O uso de vitaminas e outros nutrientes isolados na forma de
suplementos não é recomendável para prevenção do câncer (INSTITUTO
NACIONAL DO CÂNCER, 2013).

Durante muitos anos estudos epidemiológicos evidenciaram um elo entre


estilo de vida dos indivíduos, incluindo tipo de alimentação, meio ambiente e
hábitos, e a prevalência de certas formas de câncer (DE ANGELIS, 2005). Por
haver um aumento na incidência, o câncer se torna um problema relevante.
Estima-se que aumentará de 10 milhões de casos em 2000 para 15 milhões, em
2020 (SALGADO, 2007).

Estima-se atualmente que 30% das mortes causadas por câncer estão
ligadas à natureza da alimentação (CUPPARI, 2009).

No Brasil, observa-se que os tipos de câncer que se relacionam aos


hábitos alimentares estão entre as seis primeiras causas de mortalidade.
(INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2011).

O Brasil possui um potencial agrícola subaproveitado e uma diversidade


de cultivares e de espécies de frutas, legumes e verduras pouco ou
inadequadamente investigados, e que, potencialmente, nos evidenciaria um
aumento do leque de possibilidades de hábitos preventivos contra o câncer.
(GOMES, 2007).

38
39

A ALIMENTAÇÃO COMO FATOR DE RISCO PARA O CÂNCER


A alimentação também pode atuar como cofator na etiologia do câncer.
Os embutidos são produzidos com carnes vermelhas geralmente muito gordas
e levam em sua fórmula aditivos químicos chamados nitratos, que, após se
converterem em nitrosaminas, se transformam em agentes cancerígenos. Já os
defumados e churrascos são impregnados pelo alcatrão proveniente da fumaça
do carvão, o mesmo encontrado na fumaça do cigarro e que tem ação
carcinogênica conhecida.

O sal em excesso e a bebida alcoólica também estão associados a alguns


cânceres como o de boca, esôfago, fígado, reto e mama. Uma dieta pobre em
fibras e com altos níveis calóricos está relacionada a um maior risco de câncer
de cólon e de reto.

Em relação aos cânceres de mama e de próstata, a ingestão de gordura


pode alterar os níveis de hormônio no sangue, aumentando o risco da doença
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO CÂNCER, 2008).

Atenção especial deve ser dada à ingestão de grãos e cereais. Quando


armazenados em locais inadequados e úmidos, esses alimentos podem ser
contaminados pelo fungo Aspergillus flavus, que produz a aflatoxina, substância
cancerígena ligada ao Hepatocarcinoma, além de doenças ligadas com o
depósito de ferro no fígado (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2013).

Segundo o Ministério da Saúde, apesar de, ultimamente consumir mais


frutas e verduras, a população brasileira continua a comer excesso de
carne, alimento que possui gordura saturada, e tem optado por
alimentos práticos, como comidas semiprontas, que são menos
nutritivas.

A ingestão de fibras também é baixa, onde se observa, coincidentemente,


uma significativa frequência de câncer de cólon e reto.

O feijão, alimento rico em ferro e fibras, que tradicionalmente fazia o


famoso par com o arroz, perdeu espaço na mesa dos brasileiros. Essa tendência
se observa não só nos hábitos alimentares das classes sociais mais abastadas,

39
40

mas também nas menos favorecidas (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER,


2011).

A ALIMENTAÇÃO COMO FATOR PREVENTIVO CONTRA O


CÂNCER
A preocupação individual com a saúde tem feito com que o consumo de
alimentos funcionais aumente com intensidade, em alguns ainda não tenham
comprovação científica (CUPPARI, 2005).

Algumas mudanças nos hábitos alimentares podem ajudar a reduzir os


riscos de desenvolvimento do câncer.

A adoção de uma alimentação saudável contribui não só para a prevenção


dessa doença, mas também de doenças cardíacas, obesidade e outras
enfermidades crônicas como diabetes (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER,
2013).

Frutas, verduras, legumes e cereais integrais contêm nutrientes, tais como


vitaminas, fibras e outros compostos que auxiliam as defesas naturais do corpo
a destruírem os carcinógenos, antes que causem sérios danos às células. Esses
tipos de alimentos também podem bloquear ou reverter os estágios iniciais do
processo de carcinogênese e, portanto, devem ser consumidos com frequência
(INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2013).

Nos alimentos funcionais algumas substâncias conseguem proteger e


estimular a saúde dos indivíduos, ajudando no bem-estar e prevenindo o
aparecimento de doenças degenerativas, propiciando assim uma vida mais
longa e saudável (PEREIRA; BARRETO; PASSOS, 2009).

Dentre as muitas substâncias ou compostos bioativos presentes nos


alimentos funcionais pesquisados como agentes preventivos do câncer, além de
promover nutrição e saúde, podem-se citar o licopeno, as isoflavonas e as
catequinas.

40
41

Licopeno

O licopeno é um carotenoide que se encontra principalmente no tomate,


mantém suas propriedades funcionais depois de ser processado, não apresenta
toxicidade e possui efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e quimioterapêuticos
sobre as doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e alguns tipos de
câncer (BOJÓRQUEZ; GALLEGO; COLLADO, 2013).

O licopeno tem efeitos contra vários tipos de câncer, como mama,


cérvix, ovários, pulmão, trato intestinal, cavidade oral e próstata.
Konijeti et al. (2011) realizaram um estudo em ratos, no qual
compararam o efeito do extrato de tomate, pérolas de licopeno e uma
dieta controle.

Descobriram que os ratos alimentados com pérolas de licopeno puro


apresentaram menor incidência de câncer de próstata e menor dano oxidativo
no DNA do que no grupo controle.

Os animais alimentados com extrato de tomate não apresentaram


diferença significativa no grupo controle sobre a incidência de câncer, mas um
dano oxidativo menor.

O cozimento de alimentos ricos em licopeno resulta em uma perda mínima


da substância; a ação do calor no alimento, somada à ingestão de gorduras
aumenta a biodisponibilidade e absorção deste composto.

Ao cozinhar o suco de tomate com 1% de óleo de milho aumenta-se de


duas a três vezes a concentração do licopeno sérico (STAHL; SIES, 1992 apud
PIMENTEL; FRANCKI; GOLLÜCKE, 2005).

O processamento de alimentos tem demonstrado aumentar a


biodisponibilidade de licopeno, devido à liberação da matriz do alimento. Com
isso, molho de tomate e purê de tomate são tidos como melhores fontes
biodisponíveis de licopeno do que as demais fontes de alimentos não cozidos,
tais como o tomate cru (BOILEAU; BOILEAU; ERDMAN, 2002).

Os produtos derivados do tomate, muitas vezes, contém excessivas


quantidades de sódio, podendo induzir à carcinogênese a partir da agressão à

41
42

mucosa gástrica provocada pelo excesso deste nutriente contido em molhos tipo
ketchup (GOMES, 2007).

A quantidade sugerida de ingestão de licopeno varia de 4 a 35mg/dia.


Contudo, não há ainda uma quantidade específica, mínima ou máxima, prescrita
de licopeno que seja considerada segura para ingestão.

Dessa forma, necessita-se de mais estudos para que essa recomendação


atenda às necessidades humanas (MORITZ; TRAMONTE, 2006).

Isoflavonas

As isoflavonas são fitoestrógenos que estão amplamente distribuídos no


reino vegetal. As concentrações destes compostos são maiores em
leguminosas, principalmente na soja (ESTEVES; MONTEIRO, 2001).

Os alimentos derivados de soja também são fontes alimentares que


contém fitossubstâncias de ocorrência natural, tais como isoflavonas que podem
trazer benefícios à saúde, incluindo o tratamento para prevenir câncer
(LIPPINCOTT WILLIAMS & WILKINS, 2003).

Estudos clínicos têm indicado uma forte associação entre a ingestão de


alimentos derivados de soja e a diminuição de risco de morte ou recorrência de
câncer em portadores de câncer de mama (SHU et al., 2009).

A soja ainda não é um produto de fácil acesso nos supermercados


brasileiros, não pela qualidade, preço ou produção, mas sim pelo seu sabor, que
é considerado rançoso ou pelo chamado beany-flavor (um gosto forte de mato).
O beany-flavor está diretamente ligado à presença de aldeídos e
hidrocarbonetos, que são produzidos durante o processamento do grão.

Muitos pesquisadores estão tentando desenvolver variedades sem as


substâncias que provocam este sabor considerado desagradável, além de
aumentar o teor de proteínas do grão e também de isoflavonas (MOREIRA,
2003).

42
43

A população brasileira, tradicionalmente, não consome soja. O óleo de


soja, que apresenta contribuição efetiva na dieta brasileira, não contém
isoflavonas. Desta forma, o desenvolvimento de produtos enriquecidos com
derivados de soja seria uma alternativa para aumentar a presença dessas
substâncias na dieta (BEDANI; ROSSI, 2005).

A absorção das isoflavonas vai depender da sensibilidade individual, de


fatores genéticos, da fase da vida humana e do processamento industrial sofrido
pelo alimento (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2012).

Conforme a ANVISA (2008) o consumo diário estabelecido é de no


mínimo 25 g de proteína de soja; já o consumo em grão, segundo
Mandarino e Rufino (2002) é de aproximadamente 60 g por dia.

Catequinas

O chá verde é produzido pela folha fresca de Camelia sinensis, que


contém cerca de 30% de compostos polifenólicos, principalmente epicatequinas,
após rápida inativação da polifenoloxidase através do emprego de calor seco em
alta temperatura, o que preserva o conteúdo destes compostos (PRADO et al.,
2005).

A literatura discute o papel do chá verde na prevenção de neoplasias


malignas, baseada em estudos epidemiológicos in vitro e in vivo.

Nakachi e Eguchi (2003), em estudo de coorte, acompanharam,


durante 13 anos, uma população com idade inferior a 79 anos. Os
autores observaram relação inversa entre o consumo de quantidades
elevadas de chá verde e a diminuição no número de mortes por câncer
e doenças relacionadas com o envelhecimento.

O trabalho sugere que o consumo diário de chá verde pode melhorar a


qualidade de vida e proteger de uma morte prematura, particularmente causada
por câncer.

Segundo Carvalho e Perucha (2006), a quantidade recomendada é de


4-6 xícaras de chá verde por dia.

43
44

ALIMENTOS FUNCIONAIS: UMA POSSÍVEL PROTEÇÃO PARA


O DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER PERSPECTIVA
Os riscos de câncer podem ser diminuídos consideravelmente,
principalmente com adoção de hábitos alimentares adequados, incluindo o
consumo regular de alimentos funcionais.

Existem alguns alimentos funcionais que atuam como agentes


quimiopreventivos e por isso devem ser incluídos na dieta, sobretudo daqueles
que apresentam um ou mais fatores de risco.

Alguns destes alimentos apontados nesta revisão, como o tomate, que


contém licopeno, a soja que contém isoflavonas e o chá verde que contém
catequinas, desencadeiam um mecanismo anticarcinogênico, principalmente se
consumidos nas quantidades recomendadas.

Atenção especial também deve ser dada aos tipos de alimentos


consumidos, preparo, conservação e quantidade ingerida.

Acredita-se também que outros nutrientes estejam envolvidos na


prevenção desta patologia. Porém, mais estudos epidemiológicos e
experimentais são necessários para elucidar essas possíveis relações.

REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Alimentos com Alegações
de Propriedades Funcionais e ou de Saúde, Novos Alimentos/Ingredientes,
Substâncias Bioativas e Probióticos. Jul. 2008. Disponível em:. Acesso em: 06

ANJO, D. F. C. Alimentos funcionais em angiologia e cirurgia vascular. J. Vasc.


Br., v.3, n.2, p.145- 154, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO CÂNCER. Prevenção e detecção precoce.


Disponível em: . Acesso em: jul 2008.

44
45

BEDANI, R.; ROSSI, E. A. Isoflavonas: bioquímica, fisiologia e implicações para


a saúde. B.CEPPA, Curitiba, v.23, n.2, p.231-264, 2005.

BÉLIAVEU, R.; GINGRAS, D. Os alimentos contra o câncer: a prevenção e o


tratamento do câncer pela alimentação. Vozes, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução n. 16, de 30 de abril de 1999. Aprova


o Regulamento Técnico de Procedimentos para Registro de Alimentos e ou
Novos Ingredientes. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 1999.

CARVALHO, G.; PERUCHA, V. P. Anuário Nutrição Clínica Funcional da Teoria


à Prática. Rev Nutrição Saúde e Performance, São Paulo, v.7, n.29, 2006.

CUPPARI, L. Guia de nutrição: nutrição clínica no adulto. 2.ed. Barueri, SP:


Manole, 2005. CUPPARI, L. Nutrição nas doenças crônicas não-transmissíveis.
Barueri, SP: Manole, 2009.

DE ANGELIS, R. C. A importância dos alimentos vegetais na proteção da saúde:


fisiologia da nutrição protetora e preventiva de enfermidade degenerativas. 2.ed.
São Paulo: Atheneu, 2005.

ESTEVES, E.; MONTEIRO, J. Efeitos benéficos das isoflavonas em doenças


crônicas. Revista de Nutrição, v.14, n.1, Campinas, SP, jan./abr.2001.

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. Brasília, Ministério da Saúde, 2011.


Disponível em: . Acesso em: 06 set. 2011.

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. Brasília, Ministério da Saúde, 2013.


Disponível em: . Acesso em: 07 maio 2013.

LIPPINCOTT WILLIAMS & WILKINS. Tratado de nutrição moderna na saúde e


na doença. 9. ed. Barueri, SP: Manole, 2003. MANDARINO, J.; RUFINO, C. Soja,
Saúde e Alimentação: perguntas e respostas mais freqüentes. Embrapa Soja,
2002.

MOREIRA, M. A.; Revista Minas Faz Ciência, n12-FAPEMIG; Disponível online:


. Capturado no dia 21/09/2003.

45
46

MORITZ, B.; TRAMONTE, V. L. C. Biodisponibilidade do licopeno. Rev. Nutr.,


Campinas, SP, v.19, n.2, p.265-273, mar./abr. 2006.

OLIVEIRA, H. S. D.; BONETI, R. S.; PIZZATO, A. C. Imunonutrição e o


tratamento do câncer. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v.3, n.2, p.59-64,
jul./dez. 2010.

ALIMENTOS FUNCIONAIS: UMA POSSÍVEL PROTEÇÃO PARA O


DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER PERSPECTIVA, Erechim. v.37, n.137,
p.93-101, março/2013

PIMENTEL, C. V. M. B.; FRANCKI, V. M.; GOLLÜCKE, A. P. B. Alimentos


funcionais: introdução às principais substâncias bioativas em alimentos. São
Paulo: Livraria Varela, 2005, p.1-13.

PRADO, C. C. et al. Avaliação do teor de polifenóis da camellia sinensis. Revista


Eletrônica de Farmácia Suplemento, v.2, n.2, p.164-167, 2005.

SALGADO, J. M. Câncer: a prevenção ainda é a maior arma. Sociedade


Brasileira de Alimentos Funcionais, 2007. Disponível em: . Acesso em: ago.
2008.

STRINGHETA et al. Políticas de saúde e alegações de propriedades funcionais


e de saúde para alimentos no Brasil. Brazilian Journal of Pharmaceutical
Sciences, São Paulo, v.43, n.2, p.181-194, abr./jun.2007.

46

Você também pode gostar