A Doutrina Do Pecado e A Responsabilidade Do Cristão Face Ao Homem Perdido
A Doutrina Do Pecado e A Responsabilidade Do Cristão Face Ao Homem Perdido
A Doutrina Do Pecado e A Responsabilidade Do Cristão Face Ao Homem Perdido
Vnia Louro
A doutrina do pecado e a responsabilidade do Cristo face ao homem perdido Introduo Praticamente toda a Bblia, com excepo dos dois primeiros captulos, fala acerca da queda do Homem, do pecado que por consequncia entrou no mundo, e do plano redentor do Senhor, para que a humanidade fosse inocentada da sua culpa perante Deus e voltasse a ter comunho com o Pai criador. Ora, para entendermos a Bblia, e mais especificamente no contexto deste trabalho, precisamos de entender ento o que o pecado. Porqu e como entrou no mundo? Quais as consequncias do pecado a nvel individual e geral? E por fim, conhecendo o plano redentor de Deus para a jia da criao, a humanidade, precisamos entender e estar cientes de qual o nosso papel nesse plano enquanto cristos. Somos apenas espectadores ou temos um papel activo? Visto no haver espao para aprofundar muito a matria em estudo, pois no se trata de uma tese, vou abordar apenas os pontos que considero mais pertinentes acerca desta doutrina. Espero tambm, conseguir abordar de forma sucinta e clara todas estas questes acima colocadas.
A doutrina do pecado De uma forma muito resumida, quando abordamos as 4 leis espirituais, referimos que Deus nos ama e tem um plano para ns, mas que o homem no pode experimentar esse plano porque est separado de Deus devido ao pecado. Continuamos ento, apresentando a soluo que Jesus Cristo, atravs de quem podemos ser redimidos e voltar a ter acesso a Deus, mas para isso precisamos receber Jesus na nossa vida como Senhor e salvador, e s ento podemos experimentar de forma plena o amor e plano de Deus para as nossas vidas. Para melhor compreender do que somos redimidos, importante saber o que significa exactamente o termo pecado, e, para tal, escolhi a definio de
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pecado segundo Grudem. Para este autor pecado deixar de se conformar lei moral de Deus, seja em acto, seja em atitude, seja em natureza.1 Uma outra definio bem simples a de Joo que diz que o pecado a transgresso da lei (I Jo 3:4) Assim, podemos ver que, por pecado no devemos entender somente as aces condenveis, quer pela Palavra do Senhor, quer pela prpria lei moral que existe na sociedade, mas tudo aquilo que reprovvel aos olhos do Senhor, ainda que tal no tenha tomado forma fsica. Desta forma considerado pecado qualquer pensamento maligno, quer conduza ou no a uma aco errada, bem como, as atitudes e os desejos contra a vontade e atributos morais de Deus. por isso que Grudem afirma que a vida agradvel a Deus aquela que exibe pureza moral no s em actos, mas tambm em desejos ntimos.2 Levanta-se a questo de como que o pecado entrou no mundo. Ora sabemos que no foi atravs de Deus que justo e perfeito, e sim atravs de anjos cados, nomeadamente Satans, e do Homem, Pois, apesar da criao ser perfeita (Dt.32:4), Deus dotou os anjos e o Homem de livre arbtrio, e como tal, estes podiam escolher fazer ou no o bem. Sabemos tambm que Deus no foi surpreendido pelo pecado, Ele atemporal, sabe perfeitamente o que est l atrs e frente como se do mesmo tempo se tratasse, ento o pecado no foi algo que fugiu ao controlo de Deus, mas pelo contrrio. Segundo Grudem, Deus ordenou de facto que o pecado entrasse no mundo e que ele surgisse por meio das decises voluntrias dos seres humanos. Desta forma, primeiramente o pecado fez-se presente no mundo por meio da queda de Satans e dos demnios, mas no que diz respeito ao inicio do pecado humano, este teve inicio com Ado e Eva no jardim do den tal como relatado no capitulo 3 de Gnesis dos versculos 1 ao 19. com base neste relato que mais tarde os autores do Novo Testamento afirmam que por um s homem entrou o pecado no mundo (Rm.5:12). Porqu? Pela dvida lanada por Satans acerca da palavra de Deus sobre aquela rvore, que gerou
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GRUDEM, Wayne, Teologia Sistemtica, So Paulo, Vida Nova, 1999, p.403 GRUDEM, Wayne, Teologia Sistemtica, So Paulo, Vida Nova, 1999, p.403
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incerteza no corao da mulher e consequente desobedincia vontade expressa por Deus, muito provavelmente pela ambio de ser como Deus (Gn 3:5). O facto que o homem ambicioso, e gosta do poder, gosta de ser o senhor da sua vida, quer sentir que ele que tem o controlo da mesma e tem muita dificuldade em deixar esse controlo nas mos de algum, sobretudo de um Deus que no consegue ver visivelmente. Tendo o pecado entrado no mundo por um homem, levanta-se a questo da doutrina do pecado herdado. Como que o pecado de Ado afecta toda a humanidade? A Bblia diz-nos que herdamos o pecado de Ado, e isto de dois modos diferentes. Em primeiro lugar, somos considerados pecadores por causa do pecado de Ado, trata-se da culpa herdada observada de forma clara em Rm 5:12-19. No querendo tornar esta questo muito extensa escolho dois versculos que parecem mais directos, Rom.5:12 que diz que por um homem entrou o pecado no mundo () por isso que todos pecaram, e Rom.5:18 que diz que pois assim como por uma s ofensa veio o juzo sobre todos os homens para condenao ( ). Ado era o representante da humanidade e ao pecar, ns fomos considerados to pecadores quanto ele. A culpa de Ado foi-nos imputada justamente, pois como est escrito: no h um justo, nem um sequer.3 Em segundo lugar, temos uma natureza pecaminosa por causa do pecado de Ado, trata-se da corrupo herdada. Isto significa que alm da nossa culpa herdada temos uma predisposio natural para o pecado tambm herdada, ideia esta que podemos ver por exemplo no Salmo 58:3 que diz que desviamse os mpios desde a sua concepo; nascem e j se desencaminham proferindo mentiras. Esta corrupo de todo o nosso ser, tambm pode ser chamada de depravao total. Isto no significa que o ser humano completamente perverso mas que apesar da nossa capacidade de fazer o bem aos nossos olhos, em ns no h nada verdadeiramente que possamos fazer que agrade a Deus. Isto visvel tanto na nossa natureza (totalmente
Rom.3:10
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necessitada de bem espiritual perante Deus), bem como nos nossos actos (somos totalmente incapazes de fazer o bem perante Deus), que reflectem a nossa incapacidade total de responder correctamente a Deus. Na doutrina do pecado h duas questes principais a reter. Estas so que todas as pessoas so pecadoras perante Deus (Rm.3:23) e todo o pecado tem consequncias na vida e perante Deus (Rm6:23). Ento, de forma resumida, como j vimos, Deus criou o mundo e tudo o que nele h, inclusive o Homem que a jia da sua criao. Quando Deus criou a humanidade foi com o intuito de ter com ela um relacionamento. Assim como Deus, enquanto trindade, tem relacionamento entre si, o ser humano criado imagem e semelhana de Deus tambm foi criado como um ser relacional, visando tanto a relao entre seres humanos, como com Deus e com a prpria criao. O facto do homem ter pecado quebrou esse relacionamento com Deus que Santo e no se pode relacionar com o pecado. Logo, ele j no pode viver na presena de Deus, nem fazer a sua vontade, pois injusto perante Deus e a sua lei, e tornando-se insensvel sua Palavra devido ao orgulho e rebeldia. O temor a Deus d lugar ao medo de Deus, pois olhamos Deus de forma distorcida. Tambm afectou o relacionamento do homem com o prximo,
trazendo conflitos de vrios tipos com os outros, explorao do prximo, mal entendidos, medo de mostrarmos quem somos verdadeiramente. O pecado tambm afectou a relao do homem consigo mesmo, gerando conflitos internos, frustrao, ansiedade, vergonha, inquietao, etc. Por fim o pecado afectou a relao com a criao, pois o homem habituou-se a explorar e perder os recursos do mundo enfrentando actualmente problemas de poluio e extino de espcies, e com o tempo, pois, devido ao pecado, os nossos dias tornaram-se limitados, quando o plano original do Senhor era que tivssemos vida eterna. O facto de, ns cristos, sermos conhecedores do que o pecado e de quais as suas consequncias leva-nos ento a pensar no ponto seguinte deste trabalho.
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A responsabilidade do Cristo face ao homem perdido S a humanidade foi criada imagem e semelhana de Deus. Ela foi criada para reflectir e representar a Deus. Depois da queda o Homem manteve a imagem de Deus mas de forma corrompida e incompleta devido ao pecado. No entanto a redeno e restaurao da imagem e semelhana a Deus possvel atravs de Jesus Cristo, que deu a sua vida pelo pecador. Como tal, de forma muito clara os crentes tm a responsabilidade de criar (e investir em) relacionamentos, e levar o evangelho aos que ainda no conhecem a Cristo. Deus quer que os perdidos venham ao seu conhecimento. Jesus cumpriu o seu papel aqui na Terra, Ele deu-se a si mesmo em resgate de muitos e obteve a salvao para ns, ainda que para os incrdulos a sua morte no represente remisso alguma. Mas para que a graa de Deus e o sacrifcio de Jesus tenham maior alcance necessrio que os perdidos ouam o evangelho, sejam regenerados pelo Esprito Santo, que quem convence do pecado, da justia e do juzo (Jo 16:8), e respondam com f e arrependimento. S quando estas condies acontecem na vida do descrente que Deus perdoa os pecados (I Jo 1:9) e concede filiao (Jo 1:12), conferindo o crescimento na vida crist e ajudando o cristo a manter-se fiel a Deus ao longo da vida. Romanos 10:9 diz: ()Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu corao creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, sers salvo. Parece muito simples aquilo que qualquer descrente precisa fazer para ser salvo, levando-nos a ns cristos talvez a sermos negligentes, uma vez que h tantas igrejas espalhadas por a, onde, supostamente, qualquer perdido pode entrar e encontrar a Jesus. De facto os descrentes podem entrar livremente nas igrejas, mas ser que entram? Ser que se sentem vontade no nosso meio? Ser que no algo estranho para eles e at constrangedor? Em muitos casos sim. E por isso que importante o evangelismo natural, pela amizade, pelos relacionamentos, aproveitando as oportunidades que nos so oferecidas em cada lugar onde somos colocados, quer seja na escola, no trabalho, na famlia, num grupo de teatro, de dana, num ginsio, etc. Deus constantemente nos oferece oportunidades e a ns cabe-nos agarr-las e us-las com ousadia,
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pois sabemos que temos o Esprito Santo connosco para nos dar as palavras certas. Ainda em Romanos 10:13-15 somos confrontados com a responsabilidade que temos de levar o evangelho aos que no o conhecem, para que estes possam ter a oportunidade de ouvir e assim tambm de crer e invocar ao Senhor. Assim, a responsabilidade do cristo perante os perdidos lev-los ao evangelho. Para tal o cristo tem em primeiro lugar a responsabilidade e dever de orar pelos perdidos, por aqueles que conhece e que pretende falar de Cristo mas tambm por aqueles que no conhece. A orao a base de qualquer trabalho, e com a evangelizao no diferente. O Senhor diz: Pede-me, e eu te darei as naes por herana, e as extremidades da terra por possesso.4 Pede-me pressupe dilogo com Deus, orao. E a resposta do Senhor qual ? E eu te darei. Ser que se formos perseverantes na orao pelos perdidos no vamos ter resposta s nossas peties? Penso que o problema que oramos uma e duas vezes e desanimamos porque no vemos logo resposta, queremos tudo para ontem. Que possamos orar para que o Senhor nos d a perseverana para orar sem desanimar pelos perdidos, e para que sejamos pacientes em esperar o tempo de Deus para as nossas oraes. Alm da orao, quando temos a oportunidade de apresentar o evangelho, devemos ter em conta os seguintes aspectos, segundo Grudem:5 Em primeiro lugar, devemos apresentar e explicar os factos que dizem respeito salvao. Nomeadamente que todas as pessoas pecaram, que a pena desses pecados a morte e que Jesus morreu para pagar a nossa pena. Em segundo lugar, devemos fazer o convite pessoa para aceitar Cristo pessoalmente com arrependimento e f. Isto necessrio pois o simples conhecimento dos factos sem uma tomada de posio individual de nada vale para a salvao da pessoa. Logo, importante convidar a pessoa a tomar uma deciso pessoal perante os factos que agora conhece, ou seja, fundamental que a pessoa tome uma deciso consciente de renunciar aos prprios pecados
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Salmos 2:8 GRUDEM, Wayne, Teologia Sistemtica, So Paulo, Vida Nova, 1999, p.581-582.
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e de ir a Cristo com f, pedindo perdo pelos seus pecados. Sem este passo, no se pode afirmar que houve uma proclamao plena e verdadeira do Evangelho. Em terceiro e ltimo lugar devemos deixar aos novos convertidos a promessa de perdo e vida eterna dada por Deus (Jo 3:16). Aliada a esta promessa deve estar tambm a garantia de que Cristo aceitar todo aquele que vai a ele em arrependimento sincero em busca da salvao, sem fazer acepo de pessoas nem rejeitar ningum (Jo 6:37). Para terminar deixo as palavras de Jesus na sua ltima instruo deixada aos seus discpulos, em Mateus 28:18-20:
E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no cu e na terra. Portanto ide, fazei discpulos de todas as naes, baptizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, at a consumao dos sculos.
Esta foi uma chamada especial de Jesus a todos os seus seguidores, no apenas aos 12 apstolos mas a todos os discpulos, inclusive a ns na actualidade, para fazerem parte do seu plano e parte da aco, agindo de vrias formas nos vrios campos missionrios que temos nossa volta, quer seja viajando para outro pas, quer seja falando com o nosso vizinho, ou alcanando algum longe ou perto atravs da Internet, etc. Na grande comisso Jesus deixa no apenas um convite mas uma ordem para que cada cristo compartilhe o evangelho, dando-nos assim a oportunidade e responsabilidade de nos tornarmos participantes da Missio Dei.
() aprouve a Deus salvar pela loucura da pregao os que crem (I Corntios 1:21b).
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