Teoria Do Aparelho Psíquico

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Por Maynah

Pinheiro
PSICANALISTA E
NEUROPSICANALISTA
CLÍNICA E FORENSE

SIGMUND FREUD, PAI


DA PSICANÁLISE .
MÉDICO E PESQUISADOR QUE
CRIOU A PSICANÁLISE, MÉTODO
PARA TRATAR DOENÇAS MENTAIS.

Sigmund Freud é uma das figuras históricas mais marcantes do século XX. É
considerado o pai da psicanálise - método de investigação e clínica.

Freud nasceu no dia 6 de maio de 1856, em Příbor, na região da Morávia,


atualmente município da República Tcheca. Filho de família religiosa, recebeu
educação judaica não tradicionalista e aberta à filosofia do Iluminismo.
Em outubro de 1859, em meio a introdução do maquinismo e do desenvolvimento da
industrialização, os negócios de lã e têxteis familiares ruíram, o que culminou na
mudança para Leopoldstrasse, bairro judeu da cosmopolita cidade de Viena.

Em 1873, em um momento de restabelecimento da ciência médica devido à


descoberta dos neurônios, F. iniciou os estudos de Medicina na Universidade de
Viena, apaixonando-se pela ciência positiva e biologia darwiana. Sua trajetória,
contudo, foi marcada pela falta de espaço para pesquisar conforme almejava,
levando-o a buscar possibilidades fora da academia.

Então, eis um marco: em 1893, iniciou suas correspondências com o médico Josef
Breuer, que estava estudando a enigmática histeria. Juntos, acompanharam o caso
de Anna O. e publicaram o livro O Estudo sobre a Histeria. Nele, relataram que os
sintomas histéricos, como anestesia e hiperestesia, eram simulados durante a
hipnose, logo, não poderiam ser explicados por hipóteses relacionadas às
terminações nervosas. Assim, apresentam a teoria de que estes seriam tratáveis por
palavras, reversíveis por alterações da consciência e curados em relações. Tal
acontecimento é considerado o embrião da psicanálise.

Freud prosseguiu com os estudos, orientado por sua inferência de que a alma
humana poderia estar dividida em uma dualidade entre psique e eros, que em
tentativas de união, ocasionavam os sintomas. Com o desenvolvimento da teoria
(até então simples), estruturou a hipótese do inconsciente.

Em 1896, passou a estudar a natureza sexual dos traumas infantis e a delinear uma
de suas principais teorias, o Complexo de Édipo.

Interessado nas manifestações do inconsciente, em 1900 publicou a primeira obra


psicanalítica propriamente dita, Intitulada A Interpretação dos Sonhos.

Seis anos depois, juntou-se aos intelectuais Adler, Jung, Jones e Stekel, que em
1908 se reuniram no primeiro Congresso Internacional de Psicanálise, em Salzburg.
No ano seguinte, foram convidados a dar conferências nos EUA, na Clark University,
em Worcester. Em 1910, por ocasião do segundo congresso internacional de
psicanálise, realizado em Nuremberg, o grupo fundou a Associação Psicanalítica
Internacional.

Entre 1911 e 1913, ocorreram diversas divergências teóricas que resultaram na


separação dos pesquisadores. Foi especialmente marcante o afastamento com
Jung, com quem nutria intensa amizade.
Os últimos anos de Freud consistiram em tempos de sofrimento com um câncer e
expansão do nazismo na Europa. Já doente quando o exército tomou Viena, teve
seus bens confiscados e biblioteca queimada. Resgatado, refugiou-se em Londres,
Reino Unido.
Faleceu no dia 23 de setembro de 1939. Além de ter como legado a psicanálise,
deixou uma extensa obra, traduzida em cerca de 30 línguas, composta por 24 livros,
123 artigos, 5 grandes casos clínicos (Dora, Pequeno Hans, Schereber, Homem dos
Ratos e Homem dos Lobos), prefácios, necrológicos, intervenções diversas em
congressos, contribuições para enciclopédias e aproximadamente de 20 mil cartas.

O que é a psicanálise
O profissional psicanalista é o responsável por utilizar as chaves para que esse
mesmo paciente possa encontrar o caminho que o tirará daquela angústia que tanto
lhe causa mal. A escuta atenta é a principal ferramenta utilizada pelo psicanalista,
pois é a partir dela que são feitas as análises dos conflitos existentes, os quais são
indicados no ato da fala de uma pessoa.

Quem, por algum motivo, acaba se submetendo a clínica psicanalítica passa a ser
estimulado a interagir, da forma mais natural possível, com questões que se interligam
e acabam por se intensificar ao longo do tempo. Por esse método torna-se possível o
acesso aos campos conflitantes existentes na psique humana, fazendo com que o
psicanalista transfira, para um olhar mais simples da pessoa que está sendo
analisada, todos aqueles processos que causam desordem aos aspectos da
personalidade.

Ao contrário do que muitos pensam, a psicanálise não tem a intenção de tornar


complexos os procedimentos terapêuticos os quais, por muitas vezes, são vistos
como obscuros. Na verdade essa terapia, colocando de uma forma metafórica,
acaba por desenrolar os nós existentes em nossa mente através da investigação e
análise profunda, desvendando nossas relações interpessoais e facilitando a maneira
como nós nos vemos e interagimos com o mundo ao redor.
O que é a psicanálise e o profissional
O profissional dessa área jamais deve atuar como um juiz, atribuindo valor aos
problemas trazidos para a clínica. Deve-se ter em mente que o simples fato do
paciente ter buscado a terapia já se configura em um grande passo dado rumo a
resolução de processos mentais que podem se tornar patológicos.

É necessário que se tenha em mente que tudo faz parte de um processo integrado e
que em muitos casos a psicanálise trará à tona uma série de questões que estão
guardadas nos mais profundos lugares de nosso inconsciente e isso pode, por vezes,
causar desconforto àquele que está sendo analisado.

É sabido que, em muitos casos, as pessoas só procuram esse método quando a


situação já está bem crítica, porém é importante fazer o paciente se sentir tranquilo
e ciente dos bons resultados que essa terapia pode trazer para a vida de quem a
procura.

O exercício da Psicanálise
Um outro tema importante dentro desse complexo ambiente da psicanálise se refere a
como uma pessoa pode se tornar psicanalista. Esse é um assunto recorrente e que,
muitas vezes, causa uma certa confusão em quem pretende se tornar um profissional da
área.

É importante pontuar que a psicanálise é uma ciência que não responde a nenhum
cânone institucional, seja ele político ou religioso e, portanto, não existe, por exemplo,
uma regulação especificamente de ordem municipal, estadual ou federal que alinhe
questões referentes à qual curso deve-se fazer; horas aulas que se deve cumprir; dentre
outras coisas desse tipo.

Na verdade, aqui no Brasil, existe uma lei que ampara e reconhece o exercício da
psicanálise como sendo um ofício de caráter laico, podendo ser exercido por qualquer
pessoa desde que essa faça um curso de formação livre e que leve em conta o tripé
psicanalítico: teoria, supervisão e análise.]
O mundo da Psicanálise
Na parte teórica, aquela pessoa que pretende se autorizar psicanalista, terá contato com
um série de conteúdos que o ajudará a entender todos os meandros dessa área do saber
tão complexa e que, ao mesmo tempo, contribui para o autoconhecimento através da
expansão do nosso olhar para o mundo em torno de nós, e que pode ser usada,
também, para direcionar a vida das pessoas nesse mesmo sentido.

Uma série de autores, durante esse percurso, são apresentados: Sigmund Freud, Carl
Jung, Donald Woods Winnicott, Jacques-Marie Émile Lacan, Melanie Klein, entre
outros. Tudo isso para tornar rico o aprendizado, melhorando a percepção de quem
pretende ser um psicanalista.

Um outro alicerce diz respeito a supervisão. Em geral essa etapa é composta por uma
série de estudos de casos clínicos os quais são discutidos entre o aluno de formação e
um psicanalista mais experiente. Algumas pessoas costumam confundir essa etapa
com uma espécie de estágio, no entanto, essa ideia não faz parte da construção
psicanalítica.

A análise
Por fim, a análise é uma outra etapa importante nesse contexto de formação em
psicanálise. Nesse momento o aluno será analisado por esse psicanalista mais
experiente, onde as questões particulares desse aluno serão pensadas e todos os
procedimentos utilizados nessa análise poderão ser, posteriormente, colocados em
prática por esse mesmo aluno caso ele queira se tornar clínico.

Concluindo
Diante do que foi colocado, podemos entender a importância da psicanálise não apenas
em um sentido individual, onde o psicanalista lida diretamente com os problemas
particulares de um paciente específico.
Jacques Lacan.
PSICANALISTA

Jacques Lacan (1901-1981) foi um grande psicanalista, sendo considerado um dos


principais intérpretes de Sigmund Freud. Sua obra é considerada como complexa de se
compreender. Ele fundou uma corrente psicanalítica própria: a Psicanálise Lacaniana. Em
resumo, Lacan é considerado um pensador revolucionário da psicanálise. De modo que
tem um lugar próprio na teoria psicanalítica: a psicanálise lacaniana ou linha francesa de
psicanálise.

Traremos um resumo sobre Jacques Lacan. O que significa seu retorno a Freud, quais
suas diferenças com Freud? Quais as ideias mais importantes em sua teoria psicanalítica
e na sua prática clínica? E o que são Seminários, como está organizada sua obra
escrita?

Quais são as diferenças entre Lacan e Freud?


Lacan concordava com Freud sobre a importância do inconsciente, mas tinha uma
visão diferente de sua natureza. Para Lacan, o inconsciente é estruturado como uma
linguagem. Isso significa que os pensamentos, sentimentos e desejos inconscientes são
expressos através da linguagem.

Lacan também tinha uma visão diferente do desejo. Para Freud, o desejo é um impulso
sexual reprimido. Para Lacan, o desejo é mais amplo do que isso. É o desejo de ser
reconhecido pelo outro.

Além disso, Lacan tinha uma visão diferente da estrutura da personalidade. Para Freud, a
personalidade é composta por três instâncias: o id, o ego e o superego. Para Lacan, a
personalidade é composta por três registros: o real, o simbólico e o imaginário.

A psicanálise lacaniana é uma abordagem psicanalítica que é relevante para o mundo


contemporâneo. Isso ocorre porque ela é capaz de lidar com a complexidade do mundo
contemporâneo.

Além disso, a psicanálise lacaniana também é capaz de promover a transformação


social.

Psicanálise de Lacan: uma síntese


A Psicanálise de Jacques Lacan constitui um sistema de pensamento que inovou a
teoria e a prática clínica propostas por Freud. Lacan propôs um retorno a Freud,
ampliando e criando novos conceitos, além de ter criado uma técnica de análise e uma
abordagem clínica próprias. As dimensões da linguagem, do simbólico, do desejo e o
papel do Outro na constituição do sujeito são marcas de Lacan.

Lacan apresentou inovações na psicanálise, tanto do ponto de vista teórico, como no


ponto de vista prático. Segundo Lacan, a psicanálise tem apenas uma interpretação
possível, que é a interpretação linguística. Isso porque os significados atribuídos às
coisas são fatores determinantes na vida psíquica de uma pessoa. E esses significados
só podem ser construídos ou expressos pela linguagem.

Na psicanálise, o inconsciente é tido como fonte dos fenômenos patológicos. Sendo


assim, conforme também defendido por outros psicanalistas, é uma tarefa descobrir as
leis pelas quais se rege o inconsciente. Leis que são descobertas pelas manifestações do
inconsciente, e assim, pode-se tratar essas patologias.

Jacques Lacan é considerado como o único dos grandes intérpretes de Freud que
procurou retornar literalmente aos seus textos e à sua doutrina. Isto é, Lacan não apenas
o estudou com o intuito de ultrapassar ou de conservar a sua doutrina.

Dessa forma, a sua teoria acabou se tornando uma espécie de revolução às avessas.
Como se fosse uma substituição ortodoxa da doutrina preconizada por Freud. Um fator a
ser relevado é que não se sabe se Lacan e Freud se conheceram pessoalmente.
Carl Gustav Jung
O PAI DA PSICOLOGIA ANALÍTICA, QUE SE AFASTOU DA
PSICANÁLISE DE FREUD POR DIVERGÊNCIAS TEÓRICAS

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça em 1875. Criado numa atmosfera religiosa que não
compreendia e que custava a sustentar, Jung interessou-se pelo mundo dos sonhos,
da fantasia, da religião e dos mitos. Alguns estudos dizem que a proximidade com o
divino é algo que Jung atribuiu a uma espécie de herança materna, enquanto que a fé
no sentido do ritual cego e inquestionado teria sido algo herdado de seu pai.

Além das questões religiosas, Jung aproximou-se de conhecimentos em ciências


naturais, com um interesse desperto pela possibilidade de compreensão da realidade
através desses estudos. Para Jung, a contrariedade entre ciência e religião era a base
de suas insatisfações. Em meio a esses questionamentos acerca do mundo, Jung
decidiu-se pelos estudos em psiquiatria, como forma de compreender o biológico e o
espiritual cientificamente. Entre os autores que estudou, podemos destacar as
influências filosóficas de Kant, Platão , Goethe e Schopenhauer.

Em seus estudos em psiquiatria e na prática clínica, Jung tentou humanizar o serviço


de atendimento aos pacientes, buscando investigar, para além dos sintomas, as
questões existenciais que cada sujeito lhe trazia, tornando cada sessão clínica um
encontro único, repleto de significados. Dessa forma, evitava rotulações aos pacientes
e padronizações em termos de cuidados e tratamentos, ressaltando os aspectos
individuais de cada caso. Nessa época, Jung já utilizava uma técnica rudimentar de
associação de palavras, que dava grande valor aos relatos de seus pacientes."

Carl Gustav Jung não acreditava em Deus, acreditava na espiritualidade e na forma


como cada uma das suas vertentes define e traça a essência das nossas culturas e a
própria humanidade.

Carl Gustav Jung foi um dos autores que mais estudou a personalidade humana,
interessado e preocupado com as relações do homem com o mundo externo e com a
comunicação entre as pessoas.

Carl Gustav Jung foi um dos precursores da visão do homem por inteiro que hoje é
tão usada na medicina alternativa, nas práticas holísticas e inclusive na psicologia.

DO APARELHO
T E O R IA META

PSÍQUICO
PSICOLOG
IA

O aparelho psíquico, ou somente psique, é o nome dado ao método estrutural


proposto por Freud. Primeiramente foi dividido em inconsciente, pré-consciente e
consciente, o que posteriormente foi modificado e dividido em três elementos que
unidos trabalham nas ações e reações, o Id, Ego e Superego.

O Id, instinto primitivo, bastante destacado em crianças é a forma irracional da mente


que faz as pessoas agirem de forma impulsiva e irracional, ou seja, é a forma de
ação e reação onde a pessoa se expressa sem ao menos pensar. Como dito
anteriormente, o Id é bastante visto em crianças porque essas agem irracionalmente,
por exemplo, quando uma criança deseja um brinquedo não pensa duas vezes antes
de cair no chão e espernear até que o responsável faça sua vontade. É a
manifestação do Id.

O Ego, denominado equilibrador das forças irracionais e racionais, age sempre


pressionado pelo Id e pelo Superego cabendo a ele a dosagem entre as vontades
liberadas pelo Id e entre as limitações liberadas pelo Superego. É a parte consciente
do aparelho psíquico que faz com que um indivíduo consiga regular suas ações e
reações.
O Superego, denominado repressor do Id, atua influenciado por regras, crenças, leis
morais, ética e outros métodos que nos são ensinadas no decorrer da vida e limitam
as ações e reações, fazendo com que pensemos nas conseqüências. A partir de
suas influências, busca através do Ego reprimir o Id para que nenhuma ação e
reação sejam realizadas irracionalmente.

Tal divisão acima citada foi uma remodelação feita entre 1920 e 1923 para distinguir
o inconsciente do consciente.

Psicanálise e sua origem


A psicanálise é um método de investigação da mente humana e dos seus processos,
que eleva a mente para além das suas relações biológicas e fisiológicas. Para tanto,
ela toma como objeto os processos mentais (emoções, sentimentos, impulsos e
pensamentos) que determinam os indivíduos.

A história da psicanálise está relacionada com a figura de seu precursor, Sigmund


Freud (1856-1939). Ao longo de seus estudos, Freud elaborou toda uma teoria
psicanalítica que formou as bases para uma nova ciência, dotada de métodos
próprios para a investigação dos processos da mente humana.

Freud revolucionou o modo de compreensão do ser humano. Se opôs à tradição da


modernidade, onde havia o apelo da razão como uma faculdade plenamente livre e
consciente de suas escolhas e atos.

O inconsciente e a Psicanálise
A psicanálise traz a ideia do inconsciente como a parte mais significativa dos
processos mentais, influenciando todo o modo de viver dos sujeitos.

Para Freud, o inconsciente é constituído de desejos e pulsões, que reprimidos podem


gerar efeitos nocivos à saúde psíquica do sujeito (neuroses).

Ele desenvolveu a análise como um método de cura dessas neuroses. Através da fala,
em uma relação entre o analisando (sujeito que se submete à análise) e analista
(psicanalista) busca-se a origem dos problemas de ordem psíquica.

Freud afirmava que dar voz ao inconsciente era a forma mais eficaz para a superação
de traumas e a cura das desordens nos processos mentais.

Id, Ego e Superego


O sujeito em Freud é composto por duas partes inconscientes, id e superego, e uma
consciente, o ego.

O id representa o lugar das pulsões. As pulsões são impulsos orgânicos e desejos


inconscientes, que visam ao prazer e a satisfação imediata do indivíduo. Está
relacionado com o prazer sexual, a libido.

O Ego,"eu", é a consciência. Desenvolve-se após o id, realiza uma espécie de


mediação entre as pulsões do id e sua adequação com a realidade. Cabe ao ego
encontrar um equilíbrio entre o id e a terceira parte da mente, o superego.

O Superego é a outra parte inconsciente relacionada com a censura das pulsões


realizadas pela sociedade através da moral, da educação recebida pelos pais e os
ensinamentos de como se deve agir ou se comportar. Essa estrutura cria uma
representação do "eu ideal", o superego ("super eu") impõe suas repressões ao id.

A Psicanálise e os Transtornos Mentais


A psicanálise freudiana tem como base a relação do "eu consciente" e do "eu
inconsciente". Os diversos tipos de transtornos mentais decorrem de questões
relacionadas ao inconsciente, possuindo algum tipo de manifestação.

Em uma mente equilibrada o ego recalca os impulsos do id ao mesmo tempo que


impõe limites ao poder do superego. O desequilíbrio dessa função é a origem dos
principais transtornos mentais. Dentre eles, a neurose e a psicose.

Sobre a relação do "eu consciente" com as forças inconscientes que atuam sobre ele,
Freud afirmou:
‘’O EGO NÃO É O MESTRE EM
SUA PRÓPRIA CASA.’’

SIGMUND FREUD

A neurose é uma forma que o inconsciente encontra para lidar com traumas e conflitos. A partir da
impossibilidade de lidar com esses eventos a mente produz efeitos observáveis que influenciam em
maior ou menor grau a vida dos indivíduos.

A psicose, por sua vez, distingue-se da neurose pela incapacidade do indivíduo perceber o que é e
o que não é real.

Desse modo, a psicanálise busca acionar, por meio da fala, as causas desses traumas e conflitos
inconscientes através da interpretação.

Para Freud, o inconsciente jamais se tornará consciente, mas alguns pontos podem ser
interpretados através das técnicas da psicanálise. Por exemplo: a interpretação dos sonhos e a livre
associação de palavras.

O Legado de Freud

Ao longo dos anos, a revolução gerada pelo pensamento freudiano influenciou todas
as áreas das ciências humanas. Isso levou os autores a desenvolver suas ideias,
tomando o pensamento de Freud ora como base, ora como alvo para contestações e
melhorias.

Numa comparação, Freud está para a psicanálise assim como Sócrates está para a
filosofia.

Não desejo suscitar convicções, o que desejo é estimular o pensamento e derrubar


preconceitos. (Freud, 1917)

Outros autores importantes no desenvolvimento da psicanálise:

Carl Jung
Karl Abraham
Wilhelm Reich
Anna Freud
Melanie Klein
Margaret Mahler
Heinz Kohut
Donald Winnicott
Jacques Lacan
Wilfred Bion

Concepções Metapsicológicas : a Transferência em Questão.

Podemos observar que a questão relativa à proposta terapêutica do processo


psicanalítico sofreu uma reformulação radical durante a construção da
metapsicologia freudiana. Neste período extremamente fértil de elaboração teórica
e de aplicação clínica, a crença no êxito terapêutico da psicanálise permaneceu
incontestável, porém, se viu, dialeticamente, modificada. Ultrapassando a
produção do alívio do sofrimento obtido através da dissolução dos sintomas para
se referir ao que, se expressando através destes, diz respeito à revelação de uma
verdade singular sobre o desejo inconsciente de cada paciente. Essa mudança
teve início a partir do momento no qual o fenômeno transferencial se deslocou da
periferia do processo clínico para a centralidade do mesmo, tornando-se, como
afirma Lacan (1977), o veículo através do qual a cura opera. Perspectiva que foi
aberta a partir da compreensão, por parte de Freud, de que reside na transferência
a possibilidade de se encenar, no processo analítico, o caráter metapsicológico
das atividades mentais. Ou seja, em seus aspectos econômico (na medida em que
se apresenta como um investimento libidinal na figura do analista), tópico (uma
vez que ela reedita o funcionamento dos movimentos inconscientes) e dinâmico
(enquanto se presentifica como resistência ao processo clínico).
Podemos observar que não levou muito tempo para que Freud passasse a
identificar a transferência, concomitantemente à resistência, a um momento de
movimento de emergência do material recalcado (Freud,1905[1901]). No processo
terapêutico, o convite feito pelo analista ao paciente, em dizer, sem restrições,
tudo que lhe vier à mente, empreende, neste, o início de uma ação psíquica. À
essa ação se contrapõe uma força psíquica oposta e de igual intensidade. Fato
este que implica na ocorrência de uma resistência ao avanço das associações e
da emergência do material inconsciente que aquelas possam permitir emergir.
Neste momento, a clínica demonstra que a instauração da transferência se
apresenta como uma tentativa de resolução para esse conflito entre forças
opostas : o material inconsciente que procura vir à tona e a resistência à essa
possibilidade (Freud, 1912). Com isto fica determinado a dupla face da
transferência, já que ao mesmo tempo em que sua instauração assinala a
emergência de um material proveniente do inconsciente, aponta para um momento
de fechamento do mesmo (Lacan,1964).
Por outro lado, a emergência do desejo inconsciente do paciente se presentifica,
clinicamente, através da repetição de formas arcaicas de investimento libidinal.
Segundo Freud (1912a), as bases para a instauração da transferência situam-se
na própria estrutura neurótica. Nesta, o modo específico de encontrar a satisfação
pulsional forma um "clichê estereotipado" o qual é disparado e repetido cada vez
que um processo de investimento libidinal se inicia. No transcorrer de um processo
analítico, ocorre, também, a reinstalação deste dispositivo, agora endereçado à
figura do analista. Este último, passa a ser incluído nessa série estereotipada de
encontrar a satisfação pulsional, a qual vem sendo repetida inconscientemente, ao
longo da vida do paciente. Nesse processo, a transferência, além de demarcar a
interrupção do fluxo associativo e de permitir a emergência do material patogênico,
pela repetição que lhe é fundamental, passa a ser concebida como uma forma de
produção da própria neurose no interior do espaço clínico. Por ser a reprodução
ou a substituição do processo neurótico primevo e, portanto, representar a
instauração de uma neurose artificial, uma 'neurose de transferência', ela permite
que o analista possa atuar sobre sua produção, permitindo que ela receba uma
nova significação (Freud,1913).
Claro está que a tentativa de alcançar uma ressignificação para a neurose
transferencial, encontra vários obstáculos. E ainda que possamos apontar, como
Freud (1913), o sofrimento neurótico como a força motivadora para o início do
tratamento, a vontade consciente do paciente, não é suficiente para mantê-lo
engajado na análise. Não podemos esquecer que a construção da neurose foi, na
verdade, a melhor forma encontrada para lidar com o conflito psíquico e evitar o
sofrimento que este trazia. Desta forma, o paciente não estará disposto a abrir
mão tão facilmente dos "lucros secundários" que a doença lhe proporciona. Razão
pela qual, à essa força motivadora inicial, o analista deve contar com uma outra: o
poder da sugestão compreendido no vínculo transferencial (Freud,1913).
Nesse ponto, há que ser feita uma consideração no sentido de promovermos uma
distinção entre psicanálise e métodos terapêuticos sugestivos. Para tal, tomemos
a analogia utilizada por Freud. Para ele, os métodos que se utilizam da sugestão,
poderiam ser comparados à técnica da pintura, enquanto a psicanálise poderia ser
comparada à técnica da escultura. A pintura se caracteriza por colocar, sobre uma
tela vazia e incolor, partículas coloridas até então inexistentes. A sugestão agiria
de forma equivalente, posto que sua utilização não se vincula a uma preocupação
em elucidar a origem, a força ou o sentido dos sintomas. Ela apenas supõe que a
sua utilização deposite algo suficientemente forte que seja capaz de impedir a
emergência da ideia patogênica. Em contrapartida, a psicanálise, trabalhando
como a escultura, "retira da pedra tudo o que encobre a superfície da estátua nela
contida" (Freud, 1905 [ 1904] pg 244). Agindo desta forma, a proposta de seu
método procura antes de tudo entender o jogo das forças psíquicas subjacentes
aos sintomas. Assim, nada é colocado de fora, mas a trama psíquica que liga as
ideias patogênicas é submetida a um processo de desvelamento objetivando a
dissolução do conflito. Pode-se observar que, de forma diversa, ou até mesmo
inversa, a um método sugestivo, a análise permite a identificação da dialética da
transferência/resistência, a qual, por um lado se aferra à doença se opondo à
recuperação, e que , ao mesmo tempo, se constitui como aquilo que permite o
entendimento da forma pela qual o paciente vem se comportando em sua vida
(Freud, 1905[1904]). Sem o submetimento da transferência à análise, seu método
não se distinguiria dos outros métodos psicoterápicos. Desta forma, o momento de
resolução dos vínculos transferenciais assinala o término de seu processo de cura,
o qual se coloca, assim, para além da dissolução dos sintomas
(Freud,1905[1904]).
Importa salientar um aspecto crítico para o transcorrer desse processo de análise.
A instauração da transferência tem o poder de produzir a cessação da produção
dos sintomas, uma vez que os investimentos libidinais se transferem destes para a
figura do analista. Na medida em que a instauração da transferência produz esse
efeito grandioso, ela pode atuar, no analista, como puro poder de sedução. O
perigo recai na possibilidade do analista se deixar paralisar por este fascínio de
poder. Razão pela qual, sua atuação deve ir além do efeito terapêutico obtido pelo
alívio sintomático. A análise requer, para sua consecução, que se penetre na
estrutura mesma da neurose. Paralisá-la representaria a vitória da resistência
sobre a proposta terapêutica da psicanálise. Desta forma, o nascimento da
especificada da proposta clínica psicanalítica, naquilo que a diferencia dos outros
métodos psicoterápicos, residiu na edificação de um trabalho o qual, embora
englobando o alívio dos sintomas, comporta uma dimensão de construção de uma
verdade sobre o sujeito em análise.
Em relação à clínica, esse posicionamento trouxe, entre outras consequências,
novas atribuições para o analista e para o paciente no desenvolvimento do
tratamento. Pelo lado do analista, este perdendo o conforto desfrutado
anteriormente ao ocupar uma posição de exterioridade em relação ao processo
clínico, passa a ocupar um lugar de interioridade o qual lhe é imputado pelos
movimentos transferenciais do paciente. Deste lugar, ele deverá agir através da
utilização da interpretação. Esta última não se refere à possibilidade de aplicação
de um saber racional do médico sobre o material patogênico do paciente. Mas,
partindo do lugar que lhe foi reservado pela transferência, a interpretação deverá
soar como um enigma, e não como um oráculo que porta uma verdade. Se
verdade existe, esta se dá por um processo em construção (Lacan, 1977b). O
analista, então, deve permitir um trabalho que se coloca do lado do paciente. Este
sim, por seu turno, não ocupa uma posição passiva de espera por uma solução
salvadora para seus sofrimentos. Mas deve produzir um trabalho psíquico de
elaboração, que não se restringindo à ab-reação dos afetos, permite que as
resistências sejam decisivamente ultrapassadas e o material recalcado
simbolizado.
Porém, nem tudo são flores. A compulsão à repetição apresentada pelos pacientes
em análise se coloca como novo obstáculo a ser clinicamente transposto. A rigor,
esse fenômeno clínico se referia, também, ao limite terapêutico da palavra, ao
indicar que nem tudo no psiquismo é passível de simbolização.

O Trabalho Clínico: Limites e Especificidade

Podemos observar que o questionamento e a tematização sobre a existência de


elementos psíquicos resistentes ao processo de simbolização demandado pelo
processo clínico se tornou preponderante na obra freudiana a partir de 1920. A
esse respeito, acreditamos que a introdução do conceito de pulsão de morte no
corpo teórico da psicanálise veio, em certo sentido, procurar responder às
questões impostas pelos obstáculos ao progresso do tratamento que se referem,
em última instância, ao limite à ação terapêutica da palavra.
Podemos indicar que essas considerações se iniciaram a partir do impasse
introduzido pelo fenômeno clínico da compulsão à repetição, o qual sintetizava, de
forma exemplar, o problema que vinha acompanhando a psicanálise em relação à
impossibilidade encontrada, em se alcançar a simbolização daquilo que, agindo
sobre o aparelho anímico se tornara traumático e, na clínica, se mostrava
resistente à elaboração e à restauração. A nosso ver, possivelmente essa tenha
sido uma das razões pelas quais, nesse período de construção teórica, Freud
tenha se dedicado a especificar e problematizar os obstáculos que se opõem ao
progresso do processo clínico, demonstrando uma constante preocupação em
promover uma análise sistemática sobre as inúmeras resistências à análise.
Assim, podemos entender que a suposta "desesperança" freudiana quanto à
eficácia terapêutica da psicanálise creditada por alguns comentaristas mais
apressados, na verdade revela a discussão de uma questão teórica e clínica que
necessitava mesmo ser problematizada. Afinal, se tomarmos como termo
comparativo a finalidade dos outros métodos de tratamento psíquico (a eliminação
dos sintomas) podemos perceber que este também ocorre na psicanálise. Freud
não o negou, muito ao contrário. Apenas não era esta a questão que estava em
pauta, pois o que a psicanálise propõe está em trabalhar com um mais além disso.
O que gostaríamos de destacar aqui é que, entre todos os fatores que se opõem
ao tratamento, Freud (1937) apontou como obstáculo o complexo da castração,
"rochedo" diante do qual o processo terapêutico esbarra e paralisa. Segundo o
autor, nas mulheres, esse complexo aparece como uma inveja do pênis, um
esforço para possuir um órgão genital masculino do qual ela teve que abdicar
durante a passagem do Édipo. Na análise, a constatação de que o processo
terapêutico não realizará seu desejo por um pênis é sentida como uma forte
depressão e desinteresse pelo trabalho. Já nos homens, a situação analítica
parece reproduzir uma luta masculina contra sua atitude passiva para com outro
homem, acarretando uma forte resistência transferencial. Razão pela qual os
homens se recusam a se submeterem ao analista e a aceitar, deste, o seu
restabelecimento, uma vez que isto representaria estar em dívida com seu próprio
pai. Ou seja, pode-se inferir que frente à questão da diferença sexual, os
processos psíquicos esbarram para encontrarem o seu limite.
Interessa notar que, em Freud, esse limite permaneceu fundamentado em uma
questão biológica já que, em sua concepção, a diferença sexual se pautava, em
última instância, no registro da anatomia. Com Lacan podemos entender esse
processo a partir de uma perspectiva mais abrangente, que, desvinculando da
anatomia, relaciona a questão sexual com a estrutura de linguagem do aparelho
psíquico. Nessa perspectiva, devemos entender a passagem pelo complexo de
Édipo como o momento estruturador da subjetividade humana, uma vez que se
caracteriza por ser o processo através do qual ocorre a simbolização e inscrição
de três funções primordiais no sujeito:
• a função materna (enquanto Outro)
• a função paterna (enquanto mediadora das exigências feitas ao Outro)
• a função do falo (enquanto representativa das relações).
O que aí se opera, através do Édipo, é o símbolo da relação com o Outro, o
símbolo da própria relação (falo) e o símbolo da legalidade de toda relação (a lei
intermediada pelo pai) (Cabas,1988).
Inicialmente esse processo ocorre através de uma identificação alienante da
criança em sua mãe, enquanto Outro primordial, e, posteriormente, através de
uma gama variada de identificações com objetos que supostamente interessam à
mãe e que poderiam completá-la. Objetos estes que se apresentam, ao sujeito,
como sendo o próprio falo. Sendo que, no momento no qual a criança percebe que
ninguém é, realmente, o falo, lhe é fornecida a possibilidade de tê-lo. Processo
este permitido a partir da entrada do pai em cena ao produzir um corte na relação
dual mãe/bebê. Aqui, a castração atua duplamente, ao privar a criança de ter sua
mãe, e ao privar a mãe do objeto de seu desejo, instaurando a lei que regula as
relações entre os semelhantes. Momento fundamental caracterizado pelo acesso
ao simbólico pela criança que pode, através desta ferramenta, exercer um controle
sobre o objeto perdido. Indicando com isso, que pela linguagem, a criança passa a
controlar, simbolicamente, o fato de não ser, exclusivamente, o objeto de desejo
da mãe. Ou seja, de não ser o falo, ou aquilo que poderia, supostamente,
preencher a falta do Outro. Aqui, fica demarcado que, pela linguagem a criança
deixa de ser o objeto de desejo do Outro, para aventurar-se como "sujeito", ao
designar, simbolicamente, sua renúncia ao objeto perdido. Segundo a proposta
lacaniana, a saída encontrada pela criança para dar conta da operação que
recalca o desejo de ser pelo desejo de ter o falo, será a de nomear, pela palavra, o
seu próprio desejo. Engajando-se, desta forma, na sequência interminável de
significantes de seu discurso, os quais, procurando designar o objeto perdido, se
fazem deste, eternos substitutos. Cativo desta cadeia infindável, o desejo se torna
para sempre insatisfeito a partir do momento no qual o sujeito foi impelido a
nomeá-lo. E ao fazê-lo, ou seja, ao transformar o desejo em símbolo, fica
determinado a divisão de sua subjetividade em um "eu" consciente e um sujeito do
inconsciente, o qual é contudo barrado, tornando impossível dizer sobre o que há
de mais íntimo em seu ser (Besset,1996).
Concluindo, a mãe, ao desempenhar sua função de erotização do bebê, através
dos cuidados maternos, exerce uma ação de sedução sobre a criança totalmente
dependente deste Outro todo poderoso. Por ser exercida em um período anterior
ao advento da fala pela criança, a sedução materna diz respeito à uma ação
impossível de ser simbolizada. A sexualidade, vinda do Outro, se torna traumática,
na medida em que diz respeito ao real inapreensível pelo registro simbólico. A
castração, ao escancarar uma falta fundamental no sujeito e no Outro, abre a
brecha para a instauração do sujeito desejante, que se ordena em torno de uma
fantasia fundamental construída para dar conta de uma questão imposta, ao
sujeito, pelo desejo do Outro. Fantasia fundamental, que marca a relação do
sujeito com o Outro e com seus semelhantes, formulada para dar conta de um real
inominável que nele irrompeu e sobre a qual o sujeito se fixou (Besset,1997).
Sendo, justamente, essa dupla vertente da fantasia, como resposta ao desejo do
Outro e como vinculada a uma falta no cam podo significante, que permite, na
clínica, um trabalho que, incluindo a categoria do real, ultrapassa o alívio dos
sintomas para se instaurar na possibilidade de produzir uma "modificação da
relação do sujeito com o real da fantasia"(Miller, 1986 pg 113).
Acreditamos que essas noções forneçam as bases pelas quais, pode-se entender
como o complexo de castração, em uma perspectiva lacaniana, passou de uma
posição na qual se colocava como o fim a que se chegava no processo clínico
para ponto fundamental da mudança psíquica. Nesse processo, da mesma forma
que Freud havia indicado a necessidade de se entender os processos físicos e
psíquicos pela articulação estabelecida entre ambos, o estudo lacaniano propôs
que o registro simbólico só se torna inteligível quando articulado aos registros do
imaginário e do real.
E embora o real não seja apreensível pelo simbólico, ou seja, esse último não tem
poderes para modificá-lo, pelo simbólico encontra-se possibilidades de alterar a
posição do sujeito frente os efeitos produzidos pela ação do real sobre ele. Razão
pela qual o autor indicará que o complexo de castração não deve ser tomado
como o obstáculo derradeiro do processo analítico, contra o qual o paciente se
debate em desesperança. Porém, ponto a partir do qual o sujeito se reorganiza
frente sua fantasia fundamental, assumindo uma posição diferente da ocupada
anteriormente (Besset,1996). Em essência, na psicanálise, isso é a cura.
Enfim, se há mais em um processo analítico do que nossas palavras alcançam,
esse fato é convidativo ao discurso e não ao silêncio. Talvez, exatamente por isso,
a clínica psicanalítica esteja aí, recebendo pessoas que demandam um alívio para
seus sofrimentos. E, como disse Lacan (1993), o interessante é que existe
resposta para essa demanda, anunciada, pelos próprios pacientes, quando
afirmam terem se modificado, pelo trabalho psicanalítico.
Considerações Finais
Inicialmente, gostaríamos de destacar a relação dialética existente entre teoria e
clínica encontrada na obra freudiana. Em nenhum momento desta, os campos
teórico e clínico se afastam. De tal forma que, encontra-se nas possibilidades e
limites circunscritos pela prática clínica, o espaço no interior do qual a teoria pode
ser construída. E vice-versa. Foi, justamente, a partir desse caráter dialético, que
pudemos destacar, em nosso estudo, que a obra freudiana não apresenta uma
resposta única em termos de seu objetivo terapêutico. Ao contrário, à cada
momento de elaboração teórica corresponde uma proposta terapêutica específica,
implicando no avanço paralelo de seu corpo teórico e de suas aplicações práticas.
Na verdade esta proposição, por um lado, impede que a teoria psicanalítica,
desvinculada de sua prática, se transforme, conforme nos advertui Freud
(1933[1932]), em uma visão de mundo (Weltanschauung). Por outro, não permite
que sua clínica se torne um espaço privilegiado a serviço da teoria, onde esta
possa ser verificada e ampliada. Uma espécie de laboratório, que seria, no
mínimo, injusto para com as pessoas que a procuram em busca de um alívio para
seu sofrimento. E, na medida em que a psicanálise se coloca em uma posição de
acolhimento dessa demanda, necessita prestar contas de seu ato. Um ato de
oferta, que deixa subentendido que ela é capaz de fazer algo que torne possível,
ao paciente, alcançar um alívio para o desprazer produzido por seus sintomas.
Isso implica que há uma promessa de cura veiculada por cada tratamento clínico
que se inicia. Freud, ele próprio, nunca o negou. Ao contrário, encontramos em
sua obra várias passagens que indicam a confiança do autor no poder de cura da
psicanálise. Para ele, nos tratamentos desenvolvidos, se podia obter "em
condições favoráveis, sucessos terapêuticos não menores do que os mais belos
resultados alcançados no âmbito da medicina" (Freud, 1917[1916] pg 534).
Porém, ainda que aqui, Freud tenha aproximado os conceitos de cura na medicina
e na psicanálise, a sua diferenciação se torna imprescindível. Essa diferenciação
se dá, justamente, porque cada uma dessas ciências situa o entendimento dos
sintomas em registros diversos: registro anatômico para uma, registro linguístico,
para a outra. Assim, para a medicina, o sintoma é orgânico, pura anatomia, que
depende do bom funcionamento dos órgãos. Isso é fácil de entender. Qual de nós,
que já passou por um tratamento médico, não sentiu como neste só o corpo é
priorizado, única e exclusivamente. Médicos e enfermeiros, dele dispõem, sem
cerimônias e sem pudores. Os pacientes, nesses casos, são pura massa corpória,
deslibinizada, que nada significam para além do registro fisiológico. Nada contra,
até porque muitas vezes, é desse tratamento mesmo que o corpo necessita para
se manter vivo.Outras vezes, no entanto, a questão é diferente. Para a
psicanálise, há sintomas que podem ser entendidos por aquilo que eles
representam, ou por aquilo que eles falam do sujeito que os porta. A partir de
Freud, o sintoma se atrelou à linguagem determinando que este seja concebido
como possuindo uma mensagem que merece ser desvelada. É o deciframento
dessa mensagem que produz, como resultado, um efeito terapêutico, o qual não
se refere somente a um alívio dos sintomas, mas que acopla a este, a construção
de uma verdade sobre o sujeito em análise (Besset, 1996). A rigor, esse processo
de simbolização, contudo, se mostra ineficiente no momento em que o paciente se
depara com o "rochedo da castração". É aqui que as contribuições lacanianas se
mostram necessárias, pois, através delas se torna possível entendermos esse
limite clínico em relação, não à anatomia (como o fez Freud), mas à estrutura de
linguagem do aparelho psíquico.Uma noção que implica na concepção da
existência de um real, que embora diga respeito e afete o sujeito, é radicalmente
irredutível ao simbólico. Denotando, por um lado, um limite ao poder terapêutico
da palavra, e por outro, a especificidade da proposta terapêutica da psicanálise. À
medida que esta se inscreve na possibilidade de permitir, através da palavra, uma
mudança, não no real, mas na posição do sujeito frente a esse.
E nesse sentido que propomos o entendimento que, a castração, ao indicar um
limite, ao impor uma lei, ao expor a falta no sujeito e no Outro, coloca aquele face
aos enígmas de sua existência. Enígmas, suscitados pelo desejo do Outro e para
os quais o sujeito constrói uma fantasia, fundamental, na qual se fixa e em torno
da qual organiza seu desejo. Se esse mecanismo é o responsável por tornar a
análise, como observou Freud (1937), uma tarefa impossível, ela é impossível na
medida em que não poderá "desfazer" o recalque, ou "curar" o sujeito da divisão
subjetiva que lhe é fundamental e que o constituiu como humano. O limite do
analisável, apontado por Freud (1937) como sendo o complexo de castração se
refere à essa divisão fundamental. A castração, enquanto assinalando a diferença
sexual, denuncia que há algo de não nomeável, de não simbolizável nessa
operação. Denuncia que nem tudo no psiquismo se insere no registro simbólico da
linguagem, e que há, para além deste, o inapreensível real.Por esta razão, a
promessa de cura, na psicanálise, não se refere ao encontro de uma harmonia, de
um bem-estar total, ou de uma plenitude, mas à elucidação de uma verdade,
sempre singular, sobre o desejo inconsciente de cada paciente (Besset,1996). A
partir desse processo se torna possível, não a simbolização da castração, posto
que irrealizável, mas uma nova postura do paciente em relação aquilo que, nele, é
causa de seu sofrer.
Para finalizar, gostaríamos de fazer uma última consideração. Todos nós que
lidamos com a dimensão clínica da psicanálise sabemos a importância que tem,
para o paciente, o encontro de um alívio para seus sintomas. Ou seja, por mais
que tenhamos em mente que o objetivo da análise aí não se coloca, este fato
contudo, não implica que esse efeito deva ser negligenciado ou desprezado.
Como nos assegurou Freud (1933[1932] pg 191) em relação à psicanálise, "se não
tivesse valor terapêutico, não teria sido descoberta, como o foi, em relação a
pessoas doentes, e não teria continuado a se desenvolver por mais de trinta
anos". Ou, por mais de cem anos, poderíamos acrescentar.
Agora, que já terminou essa apostila, vá ao portal do aluno e assista ao vídeo
complementar da Professora no módulo 1 - Aula 1

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