2020 - Chilengue, Guilhermina Jossias
2020 - Chilengue, Guilhermina Jossias
2020 - Chilengue, Guilhermina Jossias
Monografia
EDUCAÇÃO
Monografia apresentada à
Faculdade de Educação em
cumprimento dos requisitos
parciais para a obtenção do grau de
licenciado em organização e gestão
da educação
Comité de Júri
O Presidente
O Supervisor
O Oponente
DECLARAÇÃO DE HONRA
Declaro por minha honra que este trabalho de monografia nunca foi apresentado, na sua
essência, para a obtenção de qualquer grau ou num outro âmbito e que constitui o
resultado da minha investigação pessoal, estando no texto e na bibliografia as fontes
utilizadas.
i
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho científico aos meus pais Jossias Chilengue (in memória) e
Ermelinda William Sambo que se empenharam em mostrar-me o caminho certo a
trilhar para viver com decência, amor e responsabilidade com base na educação.
Ao meu esposo Acácio Cumbe e filhas: Monalisa Ilda e Elionora Acácio Cumbe por
serem meus companheiros de dia a dia sobretudo por me terem apoiado nos momentos
difíceis, noites de trabalho e de perigo, fim de semanas árduos em trabalhos académicos
em busca de realização pessoal e académica. Faço-lhes votos de muita Bênção e
realizações de seus desejos na vida.
ii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela sua graça que me concede dia pós dia e por todas as realizações
que me proporciona. Agradeço a minha família e em particular ao mesmo esposo
Acácio Américo Cumbe pelo apoio incondicional, compreensão e reconhecimento da
necessidade desta realização.
Aos meus tios que deram me oportunidade de retomar a escola, me assistindo em tudo
que necessitava no momento difícil de meu crescimento que Deus os abençoe.
Aos meus irmãos Ana, Faustino, Palmira (in memória), Felizarda, Florentina, Cláudia e
Suzana Chilengue muito obrigada.
Agradeço igualmente aos meus colegas do curso e de trabalho, dras. Célia Mangue,
Filomena Barbosa, Alice Massingue, Anne Senkore, Joaquina da Silva, Quitéria Mário,
Evídia Zacarias, Hermínia Mboane e Manuel Baptista, que (in)directamente me
ajudaram a superar as barreiras e dificuldades as quais enfrentei no decorrer do curso.
À direcção da Escola Secundária da Zona Verde por ter permitido e colaborado para a
realização do estudo. Por fim, agradeço a todos os professores e alunos da Escola
Secundária da Zona Verde pela disponibilidade em participar deste estudo.
iii
LISTA DE TABELAS
iv
LISTA DE GRÁFICOS
v
LISTA DE ABREVIATURAS
vi
RESUMO
O assédio sexual é um fenómeno social que ocorre, quer numa organização escolar quer
não escolar. O presente trabalho se debruça sobre o assédio sexual da rapariga, estudo
de caso, a Escola Secundária da Zona Verde. Ao nível desta escola, o assédio sexual da
rapariga se tem verificado de forma frequente. Ao realizar-se a pesquisa pretendia-se
analisar os factores que estariam por detrás da ocorrência do assédio sexual da rapariga
na ESZV. Especificamente, procurou-se colher as percepções nos membros do conselho
da escola; professores e alunas em relação a ocorrência do assédio sexual da rapariga na
ESZV; Descrever os factores que influenciam para a ocorrência do assédio sexual da
rapariga na ESZV, e por fim, identificar as estratégias levadas a cabo pela ESZV com
vista a mitigação do assédio sexual da rapariga; Para a realização do estudo, optou-se
pela combinação da abordagem qualitativa-quantitativa e como instrumento de recolha
de dados o questionário. Quanto a amostra foi de 21 membros do conselho da escola; 20
professores e 155 alunas do ensino secundário geral do primeiro grau. Do estudo
realizado conclui-se que ao nível da ESZV o assédio sexual tem sido protagonizado
pelos professores. Relativamente aos factores, aponta-se a questão socioeconómica das
alunas; pretensão de querer-se aprovar de uma classe para outra com facilidade e
partilha dos mesmos espaços comuns como cantina. Uma das estratégias adoptadas pela
direcção da escola com vista a mitigação deste mal é o envolvimento dos demais actores
educativos.
vii
Índice
DECLARAÇÃO DE HONRA...........................................................................................i
DEDICATÓRIA................................................................................................................ii
AGRADECIMENTOS.....................................................................................................iii
LISTA DE TABELAS......................................................................................................iv
LISTA DE GRÁFICOS.....................................................................................................v
LISTA DE ABREVIATURAS.........................................................................................vi
RESUMO.........................................................................................................................vii
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO.......................................................................................1
1.1 Contextualização......................................................................................................1
1.2 Problema..................................................................................................................2
1.3 Objectivos................................................................................................................4
2.1.1 Sexualidade........................................................................................................6
2.1.2 Assédio..............................................................................................................7
2.1.3 Assédio sexual...................................................................................................8
2.2 Assédio sexual no contexto educativo.....................................................................8
3.4.1 Questionário.....................................................................................................20
3.5 Procedimentos de análise e tratamento de dados...............................................20
3.6 Questões éticas...................................................................................................20
CAPÍTULO IV - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS...................................21
CAPÍTULO V: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES...............................................36
5.1. CONCLUSÃO..........................................................................................................36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................38
ANEXOS.........................................................................................................................42
Anexo 1: Credencial.....................................................................................................43
APÊNDICES...................................................................................................................45
APÊNDICE 1: Guião do Questionário administrado aos Professores.........................46
1.1 Contextualização
O assédio sexual é um fenómeno social que origina efeitos físicos ou psicológicos das
vítimas inseridas tanto no meio laboral assim como escolar. No meio escolar, o assédio
sexual envolve muitas vezes o professor como protagonizador.
De acordo com o Save The Children (2007) existem três principais cenários que
acontecem quando se aborda o abuso e assédio sexual nas escolas. No primeiro cenário
a rapariga apresenta dificuldades no seu aproveitamento escolar e o professor oferece-
lhe a oportunidade de ser aprovada em troca de relações sexuais. No segundo cenário, a
rapariga é chantageada pelo professor para manter relações sexuais, e caso ela se recuse
será reprovada independentemente do aproveitamento ser positivo ou negativo. O
terceiro cenário envolve o professor a assaltar e violar sexualmente as estudantes.
Já Matavele (2005) faz uma análise pormenorizada das formas e contornos em que se
manifesta o abuso sexual e apresenta três situações nomeadamente: a forma verbal, o
contacto físico sem relação sexual e a relação sexual forçada.
1
contexto da violação dos direitos humanos da mulher, mas sim da ruptura das
expectativas relacionadas com o papel social atribuído à mulher nas relações de género,
onde a educação tradicional prevê a sua transacção como objecto.
Para Faleiros (2000) estima-se que 75% a 80% dos casos de abuso sexual não são
denunciados, isto é, resultado dos sentimentos de culpa, vergonha, medo e tolerância da
vítima e daqueles que são conhecedores de casos de abuso.
Vieira (2006) defende que a escola deve assegurar que os estudantes sejam informados
sobre os seus direitos, incentivando os jovens a falar sobre o assédio com a escola. O
autor reforça que os pais, professores e toda estrutura pedagógica devem estar cientes
que os alunos merecem um ambiente de aprendizagem em que o assédio sexual seja
punível e não como algo com a qual eles devam lidar com naturalidade.
O quarto capítulo diz respeito à apresentação discussão dos dados. E o quinto capítulo,
descreve as conclusões as recomendações do estudo.
1.2 Problema
Os órgãos de comunicação social têm reportado às práticas de violência que ocorrem
nas diversas instituições de ensino, causando, deste modo uma enorme preocupação aos
actores educativos. Arthur (2003) escreveu uma série de artigos sobre os casos de abuso
e assédio sexual. Num dos artigos faz referência das opiniões dos leitores,
2
problematizando a falta de uma legislação que permita sanções claras que penalizem os
professores que tenham abusado sexualmente as alunas.
De acordo com Barros e Tajú (1999) o abuso e assédio sexual estão associados ao
elevado número de crianças órfãs que por causa da guerra civil ocorrida no país, em sua
maior parte não vive com os seus progenitores directos, facto que as torna vulneráveis
ao assédio e abuso sexual. Também destacam o desemprego, a falta de atenção das
famílias ou ausência de um dos membros da família permite também a ocorrência de
situações de assédio e abuso sexual principalmente nas famílias constituídas do tipo
monoparental e naquelas em que uns dos progenitores estão constantemente ausentes.
Quanto aos locais propensos à ocorrência do assédio sexual, Baleira (2001) aponta:
discotecas, barracas/quiosques, hotéis, pensões, locais de violação de fronteira e outros
locais de entretenimento. E por consequência do abuso sexual, o mesmo estudo
menciona a contracção de doenças de transmissão sexual, incluindo o HIV, gravidez,
aborto e má impressão no seio da comunidade.
Por seu turno, Osório (2007) faz uma análise do género e sexualidade entre os jovens do
ensino secundário e constata que o assédio sexual é amplamente conhecido, debatido e
objecto de rumores pelos/as jovens (de todas as idades) e é reconhecido como um acto
visando estabelecer uma troca de favores sexuais em troca do aproveitamento escolar
das alunas. Neste estudo foram identificadas no discurso das entrevistadas três posições
relativamente ao perfil das raparigas no contexto de assédio sexual: as que são
assediadas e se conformam (70%), as que assediam (10%) e as que resistem ao assédio
(20%).
Num estudo realizado por Bagnol (1996) envolvendo as raparigas afirmaram ter
repetido o ano por se terem recusado a manter relações sexuais com o professor, e que
os professores recusavam dinheiro das raparigas e exigiam relações sexuais,
contrariamente ao que acontece com os rapazes.
3
Por outro lado, o estudo de Fitzgerald e Ormerod (1991) acerca da percepção sobre o
assédio sexual mostram que as mulheres tendem a interpretar mais casos como sendo
assédio sexual do que os homens, assim como a posição de poder hierárquico do
assediador influencia na maior identificação de comportamentos acediosos.
Os resultados dos estudos realizados por organizações como: Action Aid, (2011) e Save
The Children (2005) são unanimes em concluírem, por exemplo, que o baixo índice da
rapariga na escola não só resulta de factores socioculturais, como também do facto de a
escola não oferecer segurança para a progressão da rapariga. Nesta senda, Bagnol
(1997) refere que o assédio e o abuso sexuais começam a surgir como barreiras para o
acesso e permanência da rapariga na escola. Portanto, estes males afectam a integridade
da criança e do adolescente e causam frequentemente problemas de aprendizagem.
O assédio sexual sendo um fenómeno cuja ocorrência se nota em qualquer meio escolar,
tomando como estudo de caso a Escola Secundária Zona Verde em Maputo, levanta-se a
seguinte pergunta de partida: Que factores influenciam a ocorrência do assédio sexual
de rapariga na Escola Secundária da Zona Verde?
1.3 Objectivos
1.3.1 Objectivo geral
Analisar os factores que influenciam na ocorrência do assédio sexual da
rapariga na Escola Secundária da Zona Verde
4
Que estratégias são levadas a cabo pela escola com vista a mitigação do
assédio sexual da rapariga na Escola Secundária da Zona Verde?
1.5 Justificação
O assédio sexual da rapariga no contexto do ensino secundário moçambicano é um tema
relevante pois trata-se daquelas temáticas que, diariamente, tem sido reportado por
diferentes órgãos de comunicação social e actores educativos, revelando a ocorrência de
mais um caso que teria sucedido num determinado estabelecimento de ensino. Tais
casos, na maioria das vezes, são protagonizados pelos professores visto que em relação
à rapariga, estes se encontram numa posição privilegiada.
Por outro lado, o tema é deveras relevante uma vez que a escola é uma organização
aberta, isto é, encontra-se ao dispor de qualquer sujeito que nela se dirige com vista a
receber uma formação e qualificação que lhe permita desenvolver a comunidade na qual
esteja inserida.
5
CAPÍTULO II - REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo aborda os conceitos chaves do trabalho, nomeadamente: sexualidade; assédio e
assédios sexual. Ainda neste capítulo são abordados os seguintes subtítulos: Abordagem sobre o
assédio sexual no contexto educativo; Factores que influenciam na ocorrência de assédio nas
escolas; Consequências do assédio nas escolas; Tipos de abuso e assédio sexual no contexto
escolar; Papel da escola no combate e gestão de Assédio sexual nas escolas.
Loforte (2000) citado por Meyer (2003) afirma que a sexualidade é configurada pelos
papéis reprodutivos, sociais, económicos e religiosos que homens e mulheres
desempenham na sociedade. Esta autora enfatiza que a sexualidade é uma das
dimensões fundamentais da condição humana, que se apresenta e se desenvolve sempre
influenciada por sentimentos e valores.
Por seu turno, Nota (2000) citado por Costa (2005) refere que a sexualidade baseia-se
no corpo físico e a sua expressão é influenciada por forças pessoais e sociais. Ela
abrange todas as partes da vida relacionadas com o comportamento sexual e com o sexo
de uma pessoa. Assim, a sexualidade tem a ver com a auto-identidade de todo ser
humano pois é suportada pelos papéis reprodutivos, sociais, económicos e religiosos
que o homem e a mulher assumem na sociedade.
Para Bomfim (2009), a sexualidade não se encerra apenas nas funções reprodutivas ou
nos desejos sexuais, a mesma pressupõe intimidade, afecto, emoções, sentimentos e
bem-estar individual. O enfoque biológico não é suficiente para explicar essa dimensão
humana.
6
sociocultural contemplará as normas e os valores presentes na sociedade em diferentes
períodos históricos no que concerne a sexualidade, ibdem.
2.1.2 Assédio
Segundo Arthur (2003) o assédio é a busca de favores sexuais numa relação de poder.
Na maioria dos casos está envolvido um chefe, que sob pena de sanções, apresentadas
de forma mais ou menos explícita, compele uma subordinada a práticas sexuais que não
são do seu agrado, podendo culminar com o despedimento ou a exclusão da
possibilidade de promoção, caso haja recusa em ceder.
Barreto (2005) define o assédio como aquele que acontece dentro do local de trabalho,
ao longo da jornada, de forma repetitiva contra o trabalhador, colocando o numa
situação constrangedora, por parte do superior hierárquico, sendo o seu objectivo
desqualificar o outro, enquanto profissional e pessoa.
Por seu turno, Quine (1999) assinala três dimensões na tentativa de contribuir para a
definição do assédio: O assédio está mais centrado nos efeitos que tem sobre a vítima do
que na intencionalidade dos seus processos; O assédio traz sempre consequências
negativas para o indivíduo vítima de assédio; As condutas de assédio devem ser
persistentes. Propõe-se então uma definição que enquadra os aspectos anteriormente
abordados e que, por isso, parece-nos ser a mais adequada: ofender, excluir socialmente
alguém ou inferir negativamente nas suas tarefas laborais.
Para conceber uma acção de assédio sexual esta deve ocorrer regularmente
(semanalmente) e durante um prolongado período de tempo (pelo menos seis meses). O
assédio é um processo gradual, durante o qual uma pessoa submete-se a
comportamentos sociais negativos de forma sistemática. Um conflito não pode ser
entendido como uma situação de assédio se tratar-se de um único incidente isolado ou
se ambas as partes em conflito tiverem uma “posição similar” (Einarsen et al (2003)
citado por Einarsen e Hauge 2006).
7
A frequência e a duração dos actos a que um indivíduo vítima de assédio está sujeita
tornam-se elementos importantes para a definição deste conceito. Para haver assédio
deve-se considerar uma submissão a comportamentos negativos, por parte de um ou
mais sujeitos, durante algum período de tempo, por exemplo, seis meses, Hoel et al
(1999).
Queiroz (2001) define assédio sexual como uma situação em que um indivíduo é
submetido por um outro de modo a obter gratificação sexual. Envolve o emprego, uso,
persuasão, indução, coerção ou qualquer experiência sexual que interfira na saúde do
indivíduo incluindo componentes físicos, verbais e emocionais.
A partir destas definições aplicadas ao contexto escolar pode-se dizer que o assédio
sexual tem por vítima principal a rapariga, que muitas vezes em situações de
vulnerabilidade acaba se deixando assediar pois o assediador traz consigo argumentos
de coerção e se depara numa situação de sucesso ou insucesso.
8
rapariga a ser usada para a satisfação sexual de professores, funcionários da escola, ou
mesmo elementos da comunidade numa situação de desigualdade e coerção;
Envolvimento de uma rapariga em qualquer acto ou actividade sexual com um adulto ou
outra pessoa mais velha, ligados ao estabelecimento de ensino que frequenta, antes da
idade ou de consentimento reconhecido legalmente;
A situação de abuso sexual nas escolas em Moçambique ainda precisa de maior atenção
por parte dos pesquisadores e autoridades pois a cada dia que passa tem obtido
contornos alarmantes. Arthur (2003) explica que o facto de esses casos envolvam em
sua maioria professores, e os contornos de resolução não envolvem a lei são de maneira
directa com os familiares das vítimas, quando há gravidez. Onde o professor negoceia
com os pais, prometendo a estes, pagamento de multa ou casamento com a vítima, de
modo que estes não levem o caso a outras instâncias competentes instigando o silêncio
das vítimas.
Por seu turno, Save the Children (2007), considera que a rapariga apresenta dificuldades
no seu aproveitamento escolar e o professor oferece-lhe a oportunidade de ser aprovada
em troca de relações sexuais. A rapariga é chantageada pelo professor para manter
relações sexuais, e caso ela se recuse será reprovada independentemente de o
aproveitamento ser positivo ou negativo.
9
Ainda na perspectiva do autor acima, as características e o perfil social do abusador na
perspectiva dos diferentes actores sociais, incluindo dados relativos à idade, profissão,
estado psíquico no momento do abuso, existência ou não de parentesco com a vítima,
corroboram os apresentados pelas vítimas: de um modo geral, a idade do abusador vária
entre os 21 e 30 anos, na sua maioria são professores, no momento do abuso estão no
seu estado normal.
Martins (1998) explana que alguns factores sociais como miséria e desemprego têm sido
apontados como responsáveis pela ocorrência do abuso sexual. Estes, no entanto, não
podem ser considerados determinantes, pois pode-se constatar que o abuso sexual
também ocorre em famílias. Assim, o abuso sexual em muitos países, não é um
fenómeno restrito as camadas populares, mas envolve pessoas de todas as classes
sociais, de diverso crenças e áreas profissionais.
Machau (s/d) citado pela FDC (2008) aponta ainda factores culturais como os ritos de
iniciação como contributo para ocorrência da violência nas comunidades que por sua
vez culmina com a não frequência da rapariga nas escolas.
Já na visão da ActionAid (2008), existem várias causas do abuso sexual da rapariga nas
escolas dentre elas destacam-se:
10
O facto de a personalidade e as convicções da rapariga nesta idade estarem
ainda em processo de desenvolvimento, significando que elas não têm
capacidade de defesa, perante a situação de abuso;
Pobreza e vulnerabilidade económica;
Raparigas vivendo com pais separados, divorciados ou com outros parentes,
portanto, numa situação de vulnerabilidade;
Degradação dos valores morais por parte dos abusadores;
Crenças culturais, normas e instituições sociais que legitimam e perpetuam a
violência contra as mulheres em geral;
No entanto com base na explanação dos autores, os factores que influenciam para a
ocorrência do assédio sexual, são vários, mas há maior destaque para aspectos culturais
e sociais que incitam muita das vezes as raparigas a se deixar levar em troca de bens
materiais, para sair da situação de pobreza ou mesmo porque os pais já a exigem que
tenha um marido para ajudar a custear as despesas.
Do ponto de vista psicológico, a rapariga pode ser invadida por sentimento de culpa,
injustiça, impotência, agressividade, solidão, perda de memória, dificuldades de
concentração, perda de auto-estima, dificuldades para dormir, irritabilidade, nervosismo
excessivo, maus sonhos, pesadelos, medos. E socialmente as raparigas sentem-se
humilhadas e degradadas perante a família e a sociedade, verificam-se tensões
familiares, as raparigas interrompem temporária ou definitivamente os estudos.
Verifica-se um nível de insegurança por parte dos pais e/ou encarregados de educação
para mandarem as suas filhas à escola.
11
Maior vulnerabilidade a casamentos prematuros e gravidez precoce; e por
consequência à pobreza e outras formas de violência;
Sequelas dos problemas físicos gerados - lesões, hematomas, contracção de HIV
e DST´s que podem interferir na capacidade reprodutiva;
Sequelas psicológicas e emocionais. Depressão, ansiedade generalizada, baixa
auto-estima, auto-culpabilização; comportamento tenso, agressivo, sentimento
de culpa e vergonha;
Estigma; Rejeição social a nível da comunidade; reputação degradada pela dupla
penalização social.
Dias (2008) ressalta que o assédio sexual abala a vítima em sua saúde psicológica e
emocional, pois representa a perda da dignidade e da confiança depositada no outro.
Dentre as consequências causadas estão: sintoma psicológico como baixa auto-estima,
tristeza persistente, vergonha, irritabilidade, alterações de humor, raiva, medo,
insegurança e alucinações
Pesquisas feitas por Osório e Macuácua (2013) indicam que os abusos sexuais, os ritos
de iniciação, os casamentos prematuros, à iniciação sexual (precoce) e consequente
gravidez, reforçam a convicção de que as raparigas não têm direito a estudar.
Nos casos de abuso sexual cometido na escola, por professores ou outros estudantes, as
meninas acabam sendo culpabilizadas ou obrigadas a aceitar formas de mediação
insatisfatórias, que as deixam mais vulneráveis e ainda tornam a violência aceitável na
sociedade, o que muitas vezes culmina com o abandono, pois, de algum modo a escola
acaba sendo insegura para elas (Bergh-Collier, 2007, p.77).
12
2.5 Tipos de abuso e assédio sexual no contexto escolar
Matavele (2005), faz uma análise pormenorizada das formas e contornos em que se
manifesta o abuso sexual e apresenta três situações nomeadamente: a forma verbal, o
contacto físico sem relação sexual e a relação sexual forçada.
O abuso extrafamiliar é definido como qualquer forma de actividade sexual entre uma
criança e uma pessoa adulta que não faz parte da família. Geralmente, na maioria dos
casos, o adulto, pedófilo, é um conhecido da criança, como, por exemplo, vizinho,
amigo da família, algumas vezes chega a ser até um desconhecido.
Tomando como base diversos estudos (Morais et al (2014); Dias (2008) e Nóbrega
(2016) identificam-se três características que tipificam o assédio sexual:
Comportamento de natureza sexual indesejado;
Pressão pela ameaça e;
Exercício de poder. Importante ressaltar que este estudo não se refere
exclusivamente ao poder atribuído a um superior hierárquico, considera-se aqui
também, o poder social e histórico do homem sobre a mulher.
Por outro lado, Paulino (s/d) descreve as formas de assédio sexual de seguinte forma:
obtenção de gratificação através da observação de actos ou órgãos sexuais de outras
13
pessoas; exposição intencional (e não natural) a uma criança do corpo nu de um adulto
ou de partes dele; conversas abertas sobre actividades sexuais, destinadas a despertar o
interesse da criança ou dos adolescentes; propostas ou tentativas de contacto sexual no
ambiente de trabalho, valendo-se da posição de superioridade hierárquica;
De acordo com Arthur (2003), várias vezes, o tipo de violência praticada contra os
alunos, através do assédio sexual, é tão infame se considerarmos que os petizes esperam
de um adulto uma protecção, mas que no lugar desta passam por um cenário que as
deixa traumatizada para o resto da vida. Mais grave ainda, é que os que cometem este
tipo de actos são normalmente adultos próximos das suas vítimas, tais como familiares,
vizinhos ou professores.
14
Ainda na abordagem do autor acima, uma escola não pode tomar decisões isoladas mas
sim procurar interacção com as demais pessoas para que todas partes que a compõem
possam caminhar juntas para um objectivo comum. No contexto do tema em estudo é
papel da escola buscar soluções desses problemas junto da comunidade na qual está
inserida.
Dilys Went (s/d) citado por Alvarez e Marques (2012) para desenvolver acções de
educação sexual, é desejável que o professor se preocupe genuinamente com o bem-
estar físico e psicológico dos alunos, que aceite e respeite a sua sexualidade e a dos
outros, que procure o envolvimento dos pais e/ou encarregados de educação e outros
profissionais quando reconheçam que há situações em que não domina a informação
que necessita transmitir.
Entende-se deste modo que os autores afirmam que a escola é o lugar ideal uma vez que
para além de ser o lugar que as crianças passam mais tempo através do ensino e
aprendizagem transmite princípios e condutas de cidadania aceitáveis para o ser humano
e para a comunidade a qual esta inserida.
Debarbieux e Blaya (2002), enfatizam que os actos violentos no contexto escolar devem
levar em conta o que dizem as vítimas. O abuso do poder e situações que passam
despercebidas no dia-a-dia, muitas vezes podem causar mais danos do que os casos
mais caóticos e brutais. Portanto a voz das vítimas pode traduzir verdades e percepções
que passam longe das expressões violentas e das punições previstas no Código Penal ou
no Estatuto da Criança.
Ao nível da escola, sugerem Apple e Beane (2000), que deve se criar estruturas e
processos democráticos que orientarão a vida escolar bem como a construção de um
currículo que faculte experiências democráticas aos jovens. Nesta perspectiva, uma
escola democrática será aquela que indispensavelmente se pauta por uma participação
ampla de todos os seus intervenientes desde docentes e não docentes, alunos, pais e
outros membros da comunidade educativa ainda que para tal surjam conflitos e
controvérsias.
15
Em conformidade com FURNISS1, a prevenção do abuso sexual e todas as formas de
violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes ocorrerá em diferentes níveis:
A prevenção primária é constituída por campanhas de consciencialização da
população sobre o problema, sensibilização das pessoas que trabalham com
crianças e adolescentes;
Educação às crianças para o reconhecimento do adulto que quer dar carinho e
atenção (“toque bom”) daquele que quer se utilizar do seu corpo (“toque ruim”)
Educação aos pais, através da discussão da não utilização da força física no
processo disciplinador, do desenvolvimento da sexualidade infantil, por
exemplo.
1
Furniss, T (1993). Abuso sexual da criança: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artes
Médicas
16
CAPÍTULO III - METODOLOGIA
Este capítulo debruça-se sobre os procedimentos metodológicos utilizados na realização
do estudo. Os elementos abordados são: Descrição do Local do Estudo; Abordagem
Metodológica; População e Amostra; Instrumentos de Recolha de Dados;
Procedimentos de Análise e Tratamento de Dados e por último Questões Éticas.
17
O estudo considerou uma população de 1581 correspondentes ao número total de
alunas, 1520, Vide em Anexo 1, professores e membros do conselho da escola. Quanto
à amostra, envolveu-se 31 alunas; 20 professores e 21 membros do conselho escolar.
Como tipo de amostragem aplicou-se a Amostragem intencional. Gil (1999) refere que
no uso desta amostra, são seleccionados apenas os elementos considerados típicos ou
representativos da população que se deseja estudar.
Total 21 100%
Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa
18
Tabela 2: Caracterização da amostra (professores)
Classes 8ª 61 42%
9ª 59 39%
10ª 35 19%
Faixa etária 13-15 61 42%
14-16 59 39%
15-17 35 19%
19
3.4 Instrumento de recolha de dados
3.4.1 Questionário
Segundo Pruduente, Garganta e Anguera (2004) questionário é um instrumento de
recolha de dados ou uma técnica de pesquisa constituída por um número mais ou menos
significativo de questões apresentadas por escrito aos respondentes.
Como sustenta Gil (1999) o questionário garante o anonimato dos respondentes e evita a
exposição dos mesmos a influência do pesquisador. Este mesmo autor refere que o
questionário permite trabalhar com um número grande de participantes num curto
espaço de tempo permitindo também um tratamento mais fácil da informação recolhida.
20
CAPÍTULO IV - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS
O presente capítulo tem como objectivo apresentar e analisar os dados da pesquisa de
acordo com os objectivos e perguntas de pesquisa. Nesta ordem de ideias, o trabalho
procurou analisar os factores que influenciam na ocorrência do assédio sexual na Escola
Secundária da Zona Verde. Especificamente procurou-se identificar os factores que
influenciam para a ocorrência do assédio sexual da rapariga na Escola Secundária da
Zona Verde; Colher as percepções das alunas e professores em relação ao assédio
sexual da rapariga na Escola Secundária da Zona Verde e, por fim, descrever as
estratégias levadas a cabo pela Escola Secundária da Zona Verde com vista a mitigação
do assédio sexual da rapariga;
O gráfico abaixo ilustra que mais de 70% professores já presenciaram um acto relativo
ao assédio sexual.
30%
Sim (14)
70%
Não (6)
21
2. Caso na pergunta anterior, tenha respondido sim, que tipo de casos?
Como forma de apurar os casos do assédio sexual da rapariga que se registam ao nível
da ESZV, apresentamos as seguintes opções: a) Olhares maliciosos e/ou indiscretos b)
Elogios aos atributos físicos c) Conversas de cunho erótico, sensual e/ou sexual
descontextualizadas d) Contacto físico, além do conveniente e) Procura insistente (na
escola, aplicativos e/ou redes sociais) g) Convite para sair h) Proposta de relação sexual
i) Coacção para troca de favores sexuais j) Perseguição por não responder às
aproximações
Das opções apresentadas conforme se poder observar no gráfico abaixo, 50% dos
inqueridos escolheu a opção que diz Coacção por troca de favores sexuais, 30%
Convite para sair e 20% Insinuação para troca de favores sexuais. A troca de favores
sexuais foi apontada como sendo um dos principais actos que descrevessem o assédio
sexual.
45% 30%
Convite para sair (6)
No nosso entender, o assédio sexual sempre culmina com o envolvimento sexual entre
duas pessoas de sexo oposto e que uma detém o poder sobre a outra. No meio escolar,
normalmente tem sido entre professores e alunas.
De acordo com Conceição (2011) o assédio sexual nas escolas e o molestamento aos
estudantes por parte dos professores é preocupante, eles chantageiam as estudantes
ameaçando não lhes dar boas notas e os resultados dos exames. Esta é a táctica mais
usada pelos professores que querem praticar sexo com suas estudantes, do mesmo modo
o abuso sexual também ocorre entre os estudantes, os rapazes molestam as colegas para
fins sexuais.
22
Sobre este assunto, Paulino (s/d) descreve as formas de assédio sexual de seguinte
forma: obtenção de gratificação através da observação de actos ou órgãos sexuais de
outras pessoas; exposição intencional (e não natural) a uma criança do corpo nu de um
adulto ou de partes dele; conversas abertas sobre actividades sexuais, destinadas a
despertar o interesse da criança ou dos adolescentes; propostas ou tentativas de contacto
sexual no ambiente de trabalho, valendo-se da posição de superioridade hierárquica;
3. Qual foi a sua atitude como professor perante o caso do assédio sexual
registado?
Com o gráfico abaixo se pode notar que 52% dos professores respondeu que a atitude
tomada após presenciar o assédio sexual foi de encaminhar o caso à direcção da escola.
Ao passo que 29% afirmou que ficou indiferente por eventualmente temer possíveis
represálias por parte do colega que cometera o acto. Assim que 14% tomou uma atitude
desconhecida, cerca de 5% apontou ter tentado resolver o caso em privado junto de
quem protagonizou o acto.
23
Por seu turno, Vieira (2006), defende que a escola deve assegurar que os estudantes
sejam informados sobre os seus direitos, incentivando os jovens a falar sobre o assédio
com a escola. O autor reforça que pais, professores e toda estrutura pedagógica devem
estar cientes que os alunos merecem um ambiente de aprendizagem em que o assédio
sexual seja punível e não como algo com a qual eles devam lidar com naturalidade.
Gráfico 4: Importância da abordagem do assédio sexual nas reuniões com pais e/ou
encarregados de educação
20%
Sim (16)
80% Não (4)
Como afirma Dilys Went (s/d) citado por Alvarez e Marques (2012) para desenvolver
acções de educação sexual, é desejável que o professor se preocupe genuinamente com
o bem-estar físico e psicológico dos alunos, que aceite e respeite a sua sexualidade e a
dos outros, que procure o envolvimento dos pais e/ou encarregados de educação e
outros profissionais quando reconheçam que há situações em que não domina a
informação que necessita transmitir.
24
Gráfico 5: Razões da abordagem do assédio sexual nas reuniões com pais e/ou
encarregados de educação
Na nossa percepção, quando o caso do assédio sexual atinge índices elevados origina
consequências graves e de ordem psicológica e física na vida do ser humano sobretudo
quando o mesmo se encontra na fase da adolescência como é o caso das alunas da
ESZV. Ademais, as alunas que têm sido vítimas do assédio sexual podem não
apresentar um aproveitamento escolar positivo. Mesmo quando apresentar, já não se
sabe ao certo se é por mérito ou demérito uma vez que vem sofrendo o assédio sexual
por parte dos seus respectivos professores.
25
e medo de morrer. Após o acto, ela pode experimentar o estado de choque, solidão,
insónias, perda de apetite, agressividade e depressão. E também pode apresentar danos
como ferimentos, fracturas, dores diversas, desordens intestinais, problemas menstruais
e musculares, tensão alta ou baixa, gravidez indesejada, doenças de transmissão sexual,
inclusive HIV e SIDA a nível do corpo.
Do ponto de vista psicológico, a rapariga pode ser invadida por sentimento de culpa,
injustiça, impotência, agressividade, solidão, perda de memória, dificuldades de
concentração, perda de auto-estima, dificuldades para dormir, irritabilidade, nervosismo
excessivo, maus sonhos, pesadelos, medos. E socialmente as raparigas sentem-se
humilhadas e degradadas perante a família e a sociedade, verificam-se tensões
familiares, as raparigas interrompem temporária ou definitivamente os estudos.
Verifica-se um nível de insegurança por parte dos pais e encarregados de educação para
mandarem as suas filhas à escola.
Ainda no rol das consequências do assédio sexual, Dias (2008) ressalta que o assédio
sexual abala a vítima em sua saúde psicológica e emocional, pois representa a perda da
dignidade e da confiança depositada no outro. Dentre as consequências causadas estão:
sintoma psicológico como baixa auto-estima, tristeza persistente, vergonha,
irritabilidade, alterações de humor, raiva, medo, insegurança e alucinações.
Das opções abaixo apresentadas, 71% inquiridos afirmou que o assédio sexual ocorre no
início e final do ano, ao passo que para dos restantes 29%, os 10% apontam que ocorre
no meio do ano e 19% consideram que ela ocorre durante todo ano.
No nosso entendimento, o assédio sexual é um acto que ocorre a qualquer dia e local.
Entretanto, a distribuição percentual no gráfico faz nos perceber que a sua
predominância é no final do ano e isso prende-se ao facto de os professores protagonizar
26
o acto recorrendo o aliciamento como principal recurso, isto é, prestação de favores em
troca da aprovação de uma classe para outra, conforme afirma Save the Children (2007),
a rapariga apresenta dificuldades no seu aproveitamento escolar e o professor oferece-
lhe a oportunidade de ser aprovada em troca de relações sexuais. A rapariga é
chantageada pelo professor para manter relações sexuais, e caso ela se recuse será
reprovada independentemente de o aproveitamento ser positivo ou negativo.
Na nossa óptica, a pretensão de querer aprovar facilmente de uma classe para outra por
parte das alunas pode estar na origem da ocorrência do assédio sexual na ESZV. Aliado
27
à isso, a partilha dos mesmos espaços comuns como cantina também pode por um lado
ser encarrado como factor promotor do assédio, uma vez que os professores para a
efectivação desse acto tem recorrido ao aliciamento.
Bagnol (1996), num estudo feito envolvendo as raparigas, concluiu-se que as raparigas
repetiram o ano por se terem recusado a manter relações sexuais com o professor, e que
os professores recusavam dinheiro das raparigas e exigiam relações sexuais,
contrariamente ao que acontece com os rapazes.
No mesmo contexto, Bagnol (1997), refere que o assédio e o abuso sexuais começam a
surgir como barreiras para o acesso e permanência da rapariga na escola. Portanto, estes
males afectam a integridade da criança e do adolescente e causam frequentemente
problemas de aprendizagem.
Por seu turno, 30% dos inqueridos apontam que o assédio sexual da rapariga na ESZV
origina o abandono escolar. Osório (2007), afirma que o assédio sexual é uma das
causas do abandono escolar pois as raparigas são desencorajadas pela família e pela
direcção da escola a não denunciar o agressor, sendo em muitos casos responsabilizadas
pelo assédio sofrido em virtude do uso de roupas socialmente consideradas
inapropriadas. Por outro lado, em caso de gravidez o professor paga, uma taxa a família
de modo a segredar o caso alegando ser vergonha para os pais perante a sociedade.
28
5. Qual é o perfil familiar das alunas que são assediadas na ESZV?
a) Família unida b) Pais solteiros c) Mães solteiras d) Vivem com
os avos ) Outros
Com a pergunta acima, pretendia perceber se o perfil familiar influencia ou não no
assédio sexual por parte dos professores. A partir das opções: mães solteiras foi descrita
por 48% das inqueridas, 35% afirmaram que vivem com os avos e cerca de 17% das
identificaram outros perfis. Contudo, de acordo com as respostas escolhidas pelas
inqueridas pode se compreender que o facto de as alunas não conviverem com os pais e
viver com os avos, pode tornar as alunas vulneráveis ao assédio.
Em consonância com o nosso entendimento, Barros e Tajú (1999) afirmam que o abuso
e assédio sexual estão associados ao elevado número de crianças órfãs que por causa da
guerra civil ocorrida no país, em sua maior parte não vive com os seus progenitores
directos, facto que as torna vulneráveis ao assédio e abuso sexual. Também destacam o
desemprego, a falta de atenção das famílias ou ausência de um dos membros da família
permite também a ocorrência de situações de assédio e abuso sexual principalmente nas
famílias constituídas do tipo monoparental e naquelas em que uns dos progenitores
estão constantemente ausentes.
6. Qual tem sido o posicionamento dos pais e/ou encarregados de educação face ao
assédio sexual da rapariga?
a) Preocupam-se e tentam encoraja-los a não desistir de frequentar a classe b) Não
dão importância a isso c) Mudam de escola d) Na maioria das vezes não
chegam a saber porque os educandos não informam por temer represálias .
Com a pergunta acima, procurava-se saber o posicionamento dos pais e/ou encarregados
de educação, conforme pode se observar, há divergência em termos de respostas, 40%
29
dos inqueridos afirmam que optam pela permuta ou retirada das filhas da escola e 60%
na maioria das vezes os pais não chegam a saber porque os educandos não informam
por temer de represálias.
Gráfico 11: Posicionamento dos pais e/ou encarregados de educação face ao assédio
sexual da rapariga
No nosso entender, o posicionamento dos pais é errado pois, não trata-se de resolver o
problema mas sim perpetuar um mal cujos efeitos podem se replicar por vários tempos.
Portanto, no âmbito da relação entre a escola e comunidade, compreendemos que a
questão do assédio sexual pode ser abordada ao ponto de arranjar-se uma solução de
forma pacífica.
7. Quais têm sido as estratégias implementadas pela direcção da escola com vista a
eliminação do assédio sexual?
30
Gráfico 12: Estratégias implementadas pela direcção da escola com vista a eliminação
do assédio sexual
Envolvimento da comunidade
19% para uma resolução conjunta (8)
31
Gráfico 13: Ocorrência do assédio sexual na ESZV
36%
Sim (99)
64%
Não (56)
Conforme ora referido, o assédio sexual da rapariga na ESZV é uma realidade. 47% das
inqueridas afirma que ela ocorre durante todo ano. O assédio sexual é um fenómeno
cuja ocorrência não depende do mês ou trimestre. Ela ocorre em qualquer período do
ano. Por isso, compreendemos que se trata de um fenómeno anual.
Para conceber-se uma acção de assédio sexual esta deve ocorrer regularmente
(semanalmente) e durante um prolongado período de tempo (pelo menos seis meses). O
assédio é um processo gradual, durante o qual uma pessoa submete-se a
comportamentos sociais negativos de forma sistemática. Um conflito não pode ser
entendido como uma situação de assédio se tratar-se de um único incidente isolado ou
se ambas as partes em conflito tiverem uma “posição similar” (Einarsen et al (2003)
citado por Einarsen e Hauge 2006).
A frequência e a duração dos actos a que um indivíduo vítima de assédio está sujeita
tornam-se elementos importantes para a definição deste conceito. Para haver assédio
deve-se considerar uma submissão a comportamentos negativos, por parte de um ou
mais sujeitos, durante algum período de tempo, por exemplo, seis meses, Hoel et al
(1999).
28%
No início do ano (44)
47%
No meio do ano (30)
19% No final do ano (72)
Todo ano (9)
32
3. Que indicadores de assédio sexual predominam nesta escola?
A ocorrência do assédio sexual em qualquer área, ela resulta da acumulação de sinais ou
indicadores que levem as pessoas a praticar esse acto. Com a pergunta acima, soube-se
que ao nível da ESZV o aliciamento tem sido o sinal ou indicador que tem denunciado a
questão do assédio sexual da rapariga conforme apontaram 44% das inqueridas, para
além de que 41% considerou os discursos ofensivos de carácter sexual e 15% raparigas
escolheu a opção: agressões físicas.
15%
Aliciamento (72)
44%
41%
Discursos ofensivos de
carácter sexual (68)
Agressões físicas (25)
Matavele (2005) faz uma análise pormenorizada das formas e contornos em que se
manifesta o abuso sexual e apresenta três situações nomeadamente: a forma verbal, o
contacto físico sem relação sexual e a relação sexual forçada.
Por seu turno, Conceição (2011) afirma que o assédio sexual nas escolas e o
molestamento aos estudantes por parte dos professores é preocupante, eles chantageiam
as estudantes ameaçando não lhes dar boas notas e os resultados dos exames. Esta é a
táctica mais usada pelos professores que querem praticar sexo com suas estudantes, do
mesmo modo o abuso sexual também ocorre entre os estudantes, os rapazes molestam
as colegas para fins sexuais.
Por fim, a Action Aid (2008) refere que o abuso sexual na educação consiste em
molestar ou atacar sexualmente uma rapariga ou permitir que este acto ocorra na escola
ou fora dela, protagonizado por professores seus ou outros funcionários da escola, em
troca de benefícios materiais, nota para passar, matrícula, entre outros; Encorajar ou
forçar uma rapariga a ser usada para a satisfação sexual de professores, funcionários da
escola, ou mesmo elementos da comunidade numa situação de desigualdade e coerção;
Envolvimento de uma rapariga em qualquer acto ou actividade sexual com um adulto ou
outra pessoa mais velha, ligados ao estabelecimento de ensino que frequenta, antes da
idade ou de consentimento reconhecido legalmente;
33
4. Quais são os factores do assédio sexual da rapariga na ESZV?
Como resposta à pergunta acima, foram colocadas as seguintes opções: O uso de saias
curtas por parte das alunas ; Falta de condições da família ; Facilidade de
aprovação de uma classe para outra e outros diferentemente da resposta dada
pelos membros da direcção, as inqueridas, neste caso, 37% das raparigas apontaram
outros factores, isto é, não são os factores acima mencionados que influenciam a
ocorrência do assédio sexual da rapariga na ESZV.
No nosso ponto de vista, a resposta dada pelas 57 inqueridas abre espaço para que novas
pesquisas sejam realizadas, porém, Save the Children (2007) considera que existem três
principais cenários que acontecem quando se aborda o abuso e assédio sexual nas
escolas. No primeiro cenário a rapariga apresenta dificuldades no seu aproveitamento
escolar e o professor oferece-lhe a oportunidade de ser aprovada em troca de relações
sexuais. No segundo cenário, a rapariga é chantageada pelo professor para manter
relações sexuais, e caso ela se recuse será reprovada independentemente de o
aproveitamento ser positivo ou negativo. O terceiro cenário envolve o professor a
assaltar e violar sexualmente as estudantes.
34
Gráfico 17: Locais de ocorrência do assédio sexual na ESZV
Na nossa percepção, a cantina, como principal local da ocorrência do assédio sexual tem
a sua razão de ser visto que, de acordo com respostas apresentadas anteriormente, um
dos indicadores ou sinais do assédio sexual é o aliciamento. É compreensível que isso
ocorra na cantina.
35
CAPÍTULO V: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
5.1. CONCLUSÃO
O trabalho procurou analisar os factores que influenciam na ocorrência do assédio
sexual da rapariga na Escola Secundária de Zona Verde. Relativamente ao primeiro
objectivo, Identificar os factores que influenciam para a ocorrência do assédio sexual
da rapariga na Escola Secundária da Zona Verde, conclui-se que há divergências em
termos de posicionamento dos participantes do estudo conforme está descrito no IV
capítulo, daí que esta pesquisa abre espaço para a realização de uma outra a fim de
apurar-se os factores, que efectivamente, estariam por detrás do assédio sexual na
ESZV.
O assédio sexual sendo uma prática cuja ocorrência pressupõe e/ou resulta de relações
de poder, na ESZV, o assédio sexual é protagonizada pelos professores. De referir que
estes são os actores educativos que a princípio detém poder sobre as alunas. Por isso,
recorre-se ao aliciamento como recurso da efectivação do assédio sexual.
Por fim, descrever as estratégias levadas a cabo pela Escola Secundária da Zona Verde
com vista a eliminação do assédio sexual da rapariga; a direcção da escola, ciente de
que a escola é uma organização aberta e considerado património da comunidade local
na qual se encontra inserida, uma das estratégias que vem sendo usadas é o
envolvimento da comunidade. Ademais, os professores reportam a direcção da escola,
por seu turno, esta, aborda aos pais e/encarregados de educação ou aos órgãos
superiores hierárquicos que é a zona da influência pedagógica e direcção distrital da
educação a fim de se averiguar o caso e dar-se o devido tratamento.
36
5.2. SUGESTÕES
37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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survey, Manhiça District, Maputo, Mozambique. Relatório de pesquisa.
Maputo: Imprensa Universitária.
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Action Aid. (2008). Manual de Campanha. Não ao Abuso Sexual Contra a Rapariga na
Educação.
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Maio.
Baleira, S. (2001). Factors Influencing Violation of Child Rights, Prostitution and Child
Sexuall Abuse. A Case Study of Ressano Garcia. Campaign against Child
Sexual Abuse.
38
Bergh-Collier, E. V. (2007). Para igualdade de género em Moçambique - Um perfil das
relações de género. ASDI - Edição Actualizada de 2006. Edita
Communication, 2007. Disponível em:
http://www.escueladefeminismo.org/IMG/pdf/Genero_em_Mocambique.p
df
CESC. (2017). Percepção dos estudantes sobre o assédio sexual nas Escolas
Secundárias, usando o Cartão do Reporte do Cidadão. Maputo: CEP –
Programa Cidadania e Participação.
39
Fisher, W.A., Byrne D., White, L.A., & Kelley, K.W. (1998). Erotofobia-erotophilia
como uma dimensão da personalidade. J Res sexo.
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). (2005). Pequenas Vítimas.
Relatório UNICEF - Disponível em: <http://www.unicef.org/l/pt/>.
Acesso em: 8 Março. 2020.
Gil, A. (1999). Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª Ed. São Paulo: Editora Atlas.
Hoel, H., Rayner, C. & Cooper, C. L. (1999). Workplace bullying. International Review
of Industrial and Organizational Psychology. Chichester.
Leymann, B. (1996). Mobbing: la persécution au travail. Paris: Éditions du Seuil.
Stein, M.K., & Wang, M.C. (1988). Teacher development and school improvement: The
process of teacher change. Teaching and Teacher Education. 4, 171-187.
Teixeira, S. (2005). Gestão das Organizações. 2.ª ed. Madrid: McGraw Hill.
41
ANEXOS
42
Anexo 1: Credencial
43
Anexo 2: Mapa de aproveitamento pedagógico por classe/turma/geral III˚ trimestre
2019
44
APÊNDICES
45
APÊNDICE 1: Guião do Questionário administrado aos Professores
Caro (a) professor (a), o presente questionário visa recolher dados de uma pesquisa para
um estudo cujo tema: Análise dos factores que influenciam na ocorrência do assédio
sexual da rapariga no ensino secundário: Caso da Escola Secundária da Zona Verde.
Os dados por recolher são meramente académicos e não serão empregues para outros
fins. Toda a informação que o (a) funcionário (a) prestar, será tratada
confidencialmente. Por isso, sinta-se a vontade ao responder.
3. Qual foi a sua atitude como professor perante o caso do assédio sexual registado?
a) Encaminhei o caso a direcção da escola b) Fiquei indiferente uma vez que temia
represálias por parte do colega que cometeu o acto c) Tentei resolver o caso em privado
junto de quem protagonizou o acto d) outro
não o abordo.
46
Caro (a) membro do conselho da escola o presente questionário visa recolher dados de
uma pesquisa para um estudo cujo tema: Análise dos factores que influenciam na
ocorrência do assédio sexual da rapariga no ensino secundário: Caso da Escola
Secundária da Zona Verde. Os dados por recolher são meramente académicos e não
serão empregues para outros fins. Toda a informação que o (a) funcionário (a) prestar,
será tratada confidencialmente. Por isso, sinta-se a vontade ao responder.
6. Qual tem sido o posicionamento dos pais e/ou encarregados de educação face a este
fenómeno?
7. Quais têm sido as estratégias implementadas pela direcção da escola com vista a
eliminação do assédio sexual?
47
Que estratégia a escola tem usado para identificar e prevenir estes casos do assédio
escolar?
48
APÊNDICE 3: Guião do Questionário administrado aos alunos
Caro (a) aluno (a), o presente questionário visa recolher dados de uma pesquisa para um
estudo cujo tema: Análise dos factores que influenciam na ocorrência do assédio sexual
da rapariga no ensino secundário: Caso da Escola Secundária da Zona Verde. Os
dados por recolher são meramente académicos e não serão empregues para outros fins.
Toda a informação que o (a) funcionário (a) prestar, será tratada confidencialmente. Por
isso, sinta-se a vontade ao responder.
Questionário de alunos
a) Sim b) Não
a) O uso de saias curtas por parte das alunas b) Falta de condições da família
49