Sistemática Vegetal e Aplicações Botânicas

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Ciclo 2 – Sistemática Vegetal e Aplicações


Botânicas

Marco Antonio Gomes Souto

Objetivos
Compreender os aspectos gerais de alguns processos fisiológicos
vegetais.
Estabelecer a relação entre os órgãos vegetais e suas funções.
Identificar a importância de alguns processos fisiológicos para a ma-
nutenção da vida no planeta.
Compreender os aspectos básicos da Ecofisiologia Vegetal.
Identificar a importância dos fenômenos ecofisiológicos para as espé-
cies vegetais.
Conhecer as funções básicas de um herbário.
Aprender as etapas de estruturação de um herbário.
Apresentar e caracterizar os procedimentos de manutenção de um
herbário.
Abordar aspectos gerais sobre Botânica econômica.
Compreender os aspectos básicos da Etnobotânica.
Destacar a importância do ensino dos conhecimentos etnobotânicos.

Conteúdos
Preparação de grupos vegetais.
Herbário na escola.
Principais processos fisiológicos nos vegetais.
Ecofisiologia, Botânica econômica e Etnobotânica.
Problematização
O que é um herbário? E uma exsicata? Como podem contribuir para a reali-
zação de atividades pedagógicas diversas nas aulas de Ciências e Biolo-
gia? O que é fotossíntese? Qual a importância da respiração para o vegetal?
Como ocorre, em linhas gerais, o desenvolvimento vegetal? Como se rea-
liza o transporte de água no vegetal? Quais alternativas para o ensino de
Fisiologia Vegetal? O que é Ecofisiologia Vegetal? Qual a influência do
clima e da radiação luminosa para o desenvolvimento vegetal? Como a fo-
tossíntese é influenciada pelas características ambientais? Qual a relevân-
cia dos elementos minerais para os vegetais? Como é a relação entre as
plantas e a água disponível no ambiente? O que é Botânica econômica?
Quais os principais produtos vegetais com importância para a sociedade
atual? Quais os principais produtos de extração importantes para o ho-
mem? Como relacionar conhecimento tradicional e direito de uso? Quais
as plantas tóxicas e medicinais? Quais os aspectos básicos da Etnobotâ-
nica brasileira?

1. Introdução
Neste segundo ciclo de aprendizagem, estudaremos sobre Fisiologia Vege-
tal, Ecofisiologia e Botânica econômica. Na Fisiologia Vegetal, estudaremos
brevemente como ocorrem respiração, fotossíntese além de processos rela-
cionados a crescimento, desenvolvimento e transporte de água. Já em Eco-
fisiologia Vegetal, abordaremos como as regiões climáticas e a radiação lu-
minosa impacta os processos fisiológicos. Além disso, estudaremos sobre
Botânica econômica, abordando os metabolismos primários e secundários,
além de produtos florestais e de extração. Por fim, estudaremos a Etnobotâ-
nica, cujo objeto de estudo são os espécimes vegetais, sejam elas de rele-
vância comercial ou não, principalmente focando em conhecimento
tradicional.

Bons estudos!

2. Fisiologia e Ecofisiologia Vegetal


Para iniciarmos os estudo deste ciclo, daremos sequência ao estudo da Bo-
tânica, abordando os principais processos fisiológicos dos vegetais, pas-
sando pelo crescimento e o desenvolvimento, além de processos metabóli-
cos que interferem diretamente no crescimento e desenvolvimento vegetal,
tal como respiração e fotossíntese.

Neste momento, daremos início ao estudo de Fisiologia Vegetal, com ênfase


em alguns processos de funcionamento dos tecidos e órgãos vegetais.

É sempre importante destacar a ligação entre a forma e o funcionamento,


isto é, entre a Anatomia (estudada no CRC Fundamentos e Métodos do En-
sino de Biologia Vegetal I) e a Fisiologia Vegetal, pois uma é intrinseca-
mente relacionada com a outra.

Segundo Raven (2001), devemos também recordar que as diversas divisões


feitas são artificiais, isto é, foram realizadas com um caráter didático, para
facilitar, e muitas vezes possibilitar, o estudo detalhado dos vários aspectos
vegetais. Devemos sempre ter em mente que nenhum tecido, órgão ou pro-
cesso fisiológico é isolado, porque faz parte de um todo, que, no nosso caso,
é um indivíduo vegetal.

Os vegetais, como todos os outros seres vivos, realizam vários processos fi-
siológicos, envolvidos nos inúmeros aspectos de desenvolvimento, sobrevi-
vência e reprodução. Esses processos, apesar de possuírem particularida-
des para cada espécie – e, em alguns casos, essas diferenças podem ser
percebidas entre indivíduos de uma mesma espécie –, seguem os mesmos
padrões básicos.

Dentre os vários processos fisiológicos dos vegetais, abordaremos respira-


ção, fotossíntese, crescimento e transporte de água.

Conforme as ideias de Raven (2001), ao final deste estudo, você deverá


saber:

1. Como todo ser vivo, as plantas respiram. Durante esse processo, elas
retiram a energia imediata, armazenada na forma de moléculas com-
plexas, para realizar as outras atividades relacionadas ao crescimento,
manutenção e reprodução.
2. Os vegetais são os produtores primários em nosso planeta, responsá-
veis por captar a energia luminosa do sol e convertê-la em energia quí-
mica, disponível para os consumidores. Nesse processo, chamado de
fotossíntese, os vegetais realizam a síntese de carboidratos utilizando
dióxido de carbono e água.
3. Com exceção de poucas estruturas reprodutivas, os vegetais não são
móveis. Para substituir essa característica e conseguir alcançar recur-
sos vitais para seu desenvolvimento, como luz, água e nutrientes, as
plantas desenvolveram a capacidade de crescer durante toda sua vida.
4. As plantas terrestres possuem um mecanismo para o transporte de
água do solo aos locais de fotossíntese e de crescimento constituído de
um delicado equilíbrio entre transpiração e absorção de água.

Nos próximos tópicos, realizaremos de forma breve e resumida uma apre-


sentação dos principais processos fisiológicos das plantas. Nosso principal
objetivo é apresentar as características básicas dos processos vegetais,
apresentando sua importância para as plantas e para a biosfera de forma
geral.

3. Respiração
Segundo Ferri (1985), fisiologicamente, respiração é o processo em que um
organismo realiza trocas gasosas (inspirando oxigênio e expirando dióxido
de carbono) com o meio ambiente. Esse processo é vital para a manutenção
da vida, pois é por meio dele que os indivíduos conseguem transformar a
energia disponível nos alimentos em energia útil para suas células.

É necessário destacar que todas as células, animais ou vegetais, respiram.


Mas a respiração, por fornecer energia para as atividades de manutenção e
crescimento, é mais intensa nos órgãos de maior desenvolvimento e ativi-
dade metabólica, já que, nesses órgãos, a demanda de energia é grande
(TAIZ, 2004).

Como veremos mais detalhadamente no próximo tópico, as plantas são se-


res autótrofos, que, por meio do processo da fotossíntese, são capazes de
transformar a energia luminosa em energia química.

De acordo com Raven (2001), essa energia química é armazenada em diver-


sas moléculas orgânicas, como os lipídios e carboidratos, alimentos alta-
mente energéticos. Partindo desses componentes orgânicos complexos,
juntamente com o oxigênio (O2), ocorre sua oxidação a dióxido de carbono
(CO2) e água (H2O), resultando em liberação de energia na forma de calor e
em energia química “utilizável” pela planta, a adenosina trifosfato (ATP).

Esse processo, a oxidação de compostos orgânicos para a obtenção de ener-


gia, é chamado de respiração. Nesta primeira análise, poderíamos deduzir
que a respiração tem a única função de produzir energia. No entanto, a res-
piração, conforme ressalta Ferri (1985), é um processo muito mais com-
plexo, que envolve uma série de reações químicas na produção de compos-
tos intermediários, necessários para a produção de diversas substâncias,
como DNA, esteroides e aminoácidos.

As três principais substâncias usadas como substratos para a respiração


são: carboidratos (mais importantes para a respiração vegetal), lipídios e
proteínas.

As moléculas desses substratos passam por muitas fases no catabolismo


das plantas, resultando, ao final, CO2 e H2O. Praticamente toda a energia uti-
lizada pelo vegetal é produzida por meio de complexas etapas bioquímicas
envolvendo os carboidratos.

A seguir, observe um resumo das principais fases do processo respiratório


nos vegetais, segundo Raven (2001):

glicólise ou fermentação: ocorre no citoplasma e não está ligada, ne-


cessariamente, ao consumo de oxigênio. É o primeiro passo para a oxi-
dação total dos carboidratos a CO2 e H2O, o que só será completamente
realizado no Ciclo de Krebs e na cadeia respiratória. Essa etapa é indis-
pensável, pois, apesar de produzir uma pequena quantidade de energia,
fornece precursores para diversas vias biossintéticas, além de preparar
os substratos para o Ciclo de Krebs.
Ciclo de Krebs: a manutenção da vida da planta no escuro é devida às
atividades do Ciclo de Krebs. Ele utiliza as substâncias de reserva acu-
muladas durante o dia e produz energia para a biossíntese de compo-
nentes celulares, além de gás carbônico e água. Todas as reações desse
ciclo ocorrem na organela chamada mitocôndria.
Cadeia respiratória: etapa de transferência de elétrons (cadeia de
transporte de elétrons), a qual libera grande quantidade de energia li-
vre, que é conservada por meio da síntese de ATP, na fosforilação
oxidativa.
Como indica Taiz (2004), podemos resumir o fenômeno da respiração dos
carboidratos como sendo a oxidação desses açúcares (que são constituídos
de carbono, oxigênio e hidrogênio) pela remoção de hidrogênios canaliza-
dos para a cadeia respiratória, em que os elétrons são transferidos de um
composto para o outro até chegar ao oxigênio, que é o último receptor. Reti-
rados os hidrogênios dos carboidratos, sobram carbonos e oxigênios, elimi-
nados na forma de gás carbônico.

4. Fotossíntese
A fotossíntese possui uma importância vital não apenas para as plantas,
mas para toda a biosfera. Vamos entender por quê?

Se analisarmos detalhadamente, toda a vida na Terra depende da energia


proveniente do Sol, sendo que a fotossíntese é o único processo biológico
que pode utilizar-se diretamente dessa fonte de energia, transformando
energia luminosa, indisponível para os animais, em energia química, passí-
vel de utilização para eles (RAVEN, 2001).

Além da energia química dos alimentos, é importante destacar que grande


parte dos recursos energéticos do planeta é resultado da fotossíntese, seja
em épocas recentes (biomassa, lenha, etanol, biodiesel), seja em épocas pas-
sadas (combustíveis fósseis).

Segundo Ferri (1985), o termo “fotossíntese” significa “síntese utilizando a


luz”. Dessa forma, os organismos considerados fotossintetizantes utilizam a
energia solar para formar compostos à base de carbono, utilizando dióxido
de carbono e água, com subsequente liberação de oxigênio.

Para visualizar esse processo, veja a equação da fotossíntese:

Ainda de acordo com Ferri (1985), apesar de a glicose (molécula com seis
carbonos) ser comumente apresentada como produto essencial da fotossín-
tese, o principal carboidrato resultante desse processo são as trioses, que
possuem apenas três carbonos.

É a energia armazenada nas ligações químicas que forma essas moléculas,


que poderá ser utilizada, posteriormente, nos processos celulares da própria
planta ou servir de fonte de energia para outras formas de vida
(heterótrofos).

Ferri (1985) ainda ressalta que o tecido fotossintético mais ativo em uma
planta é o mesofilo presente nas folhas, pois as células que o compõem são
ricas em cloroplasto, organela celular que contém clorofilas, pigmentos ver-
des especializados na absorção da luz.

Até o momento, conclui-se que:

A reação entre o CO2 e H2O, com a produção de carboidratos e oxigênio,


ocorre apenas na presença de luz e é realizada nos cloroplastos.
A síntese de carboidratos resulta na disponibilidade de energia quí-
mica, que pode ser utilizada pela célula em vários processos
metabólicos.

Conforme Raven (2001), o processo da fotossíntese apresenta, basicamente,


duas etapas, que ocorrem em condições diferentes:

Reações fotoquímicas: acontecem na presença de luz, pois dependem


da absorção da energia luminosa e resultam na formação de NADPH
(carreador de elétrons) e ATP (molécula altamente energética).
Reações bioquímicas: não dependem da presença de luz para ocorrer.
Há a utilização de ATP e NADPH para a síntese dos carboidratos.

Alguns fatores podem afetar diretamente a taxa de fotossíntese, como, por


exemplo, a quantidade de luz, a concentração de CO2 na atmosfera, a tempe-
ratura e a disponibilidade de água.

Quando algum desses fatores se torna limitante, a planta atinge o ponto de


compensação fótico, momento em que as velocidades nas taxas de fotos-
síntese e respiração são iguais, como veremos mais adiante. Nessas condi-
ções, todo o carboidrato produzido na fotossíntese é consumido na respira-
ção, e todo o dióxido de carbono utilizado na fotossíntese é proveniente da
respiração.
A fotossíntese possui muitas fases, etapas e processos bioquímicos extre-
mamente complexos, e, por essa razão, não discutiremos todo esse processo
em nosso material. Entretanto, é importante sabermos que existem três ti-
pos de fotossíntese, sendo que essa classificação está relacionada com os
diferentes ciclos metabólicos para a fixação do carbono. São eles, de acordo
com Taiz (2004):

Ciclo C3: seu primeiro produto estável é uma molécula com três átomos
de carbono. Uma enzima denominada “RuBisCO” (ribulose-bisfosfato
carboxilase oxigenasse) tem papel de destaque nas etapas de carboxi-
lação. É característico de plantas de clima moderado com alta umi-
dade no solo, como algumas plantas herbáceas.
Ciclo C4: o primeiro produto estável é uma molécula com quatro carbo-
nos. Apresentam alta produtividade e afinidade com CO2 e, também,
um alto ponto de saturação da luz, o que caracteriza vegetais que habi-
tam áreas com grande disponibilidade luminosa, assim como muitas
gramíneas.
CAM: a fixação do carbono ocorre por meio do mecanismo ácido-cras-
suláceo. Apresenta alta eficiência na utilização de água, e os estômatos
só se abrem à noite. É comum em plantas que podem sofrer intenso dé-
ficit hídrico, como, por exemplo, as cactáceas.

Ponto de compensação fótico


Segundo Lazzari (2014), o ponto de compensação fótico é uma importante
característica dos vegetais, indicando a quantidade de luz necessária para
que as taxas de fotossíntese e respiração sejam iguais.

A fotossíntese e a respiração são eventos fisiológicos essencialmente inver-


sos (confira as reações químicas na Figura 1), já que a fotossíntese repre-
senta a síntese de alimento, e a respiração, o seu consumo. Quando esses
dois eventos acontecem na mesma intensidade, todo o alimento produzido
na fotossíntese é consumido por meio da respiração para a manutenção do
metabolismo vegetal.
Figura 1 Fórmulas básicas da fotossíntese e da respiração.

Esse é um fator importante para compreender a Fisiologia Vegetal, pois a


sobrevivência das plantas, com o acúmulo de matéria orgânica, só se torna
possível quando a fotossíntese é maior do que a respiração, ou seja, a produ-
ção é maior do que o próprio consumo.

Baseado nesse contexto, podemos classificar as plantas, de acordo com Laz-


zari (2014), em dois grandes grupos:

Heliófitas: também conhecidas como “plantas de sol”, são os vegetais


que possuem um alto ponto de compensação fótico.
Umbrófilas: chamadas de “plantas de sombra”, apresentam baixo ponto
de compensação fótico.

Analise o gráfico da Figura 2 para visualizar as diferenças básicas entre as


heliófitas e as umbrófilas, considerando-se o ponto de compensação fótico.

Figura 2 Gráfico representativo do ponto de compensação fótico (A) e das plantas heliófitas e umbrófilas (B).

5. Crescimento e desenvolvimento
No desenvolvimento das plantas, o que pode nos parecer simples, como o
crescimento de um ramo, o amadurecimento de um fruto ou a germinação
de uma semente, torna-se extremamente complexo quando analisados os
processos envolvidos nesses eventos.

Segundo Raven (2001), o ritmo de crescimento de uma planta, de forma ge-


ral, segue conforme o gráfico da Figura 3, a seguir, que apresenta uma curva
hipotética do crescimento de um vegetal, expresso em termos de peso seco.
Vamos analisar com atenção esse gráfico.

Figura 3 Curva sigmoide.

Conforme observamos, no período inicial, o crescimento é lento, seguido de


uma fase de rápido aumento e, finalmente, uma estabilização na acumula-
ção de matéria seca. Essa é a interpretação mais direta e simples do gráfico.

Conforme Raven (2001), a interpretação fisiológica dessas fases do cresci-


mento é:

no início, ou seja, logo após a germinação, a planta depende unica-


mente das reservas da semente para a produção dos órgãos que com-
põem a plântula;
após a emissão da radícula e a emergência dos primeiros pares de fo-
lhas, a planta começa a realizar a fotossíntese e a produzir grande
quantidade de biomassa, que se traduz em rápido crescimento;
atingida a “idade adulta”, com seu tamanho próximo do definitivo, a
planta inicia sua fase de senescência, que se reflete, inicialmente, na
diminuição da produção de matéria orgânica até atingir o decréscimo
de biomassa do indivíduo, já perto de sua morte.
A análise de crescimento dos vegetais tem aplicação, por exemplo, na avali-
ação da produção líquida das plantas, ou seja, a quantidade de biomassa
que é produzida no processo da fotossíntese em um intervalo de tempo.
Esse é um processo importante para avaliar a produção agrícola ou a assi-
milação de carbono de uma floresta.

É relevante destacar que biomassa é todo tecido metabolicamente ativo que


forma uma comunidade vegetal.

Em ecossistemas, a taxa de produção de biomassa vegetal também pode


ser chamada de “produtividade primária” e pode ser expressa em quanti-
dade de peso seco, matéria orgânica, carbono, gás carbônico, energia solar
fixada etc. (FERRI, 1985). Quanto maior a taxa de produção primária de de-
terminado ecossistema, maior é o seu crescimento e dos indivíduos e espé-
cies que o compõem.

As plantas, para crescerem, necessitam, primariamente, de luz do sol, dió-


xido de carbono do ar, água e sais minerais do solo. Mas, ao crescer, elas fa-
zem mais do que simplesmente acumular biomassa – elas também se dife-
renciam, adquirindo sua forma característica, multiplicando suas células,
tecidos e órgãos, aumentando consideravelmente sua complexidade.

Mas o desenvolvimento vegetal não segue uma simples “receita de bolo”, na


qual, juntando os ingredientes na medida correta, chega-se ao resultado fi-
nal. O crescimento de uma planta depende de uma série de interações entre
numerosos fatores, dentre os quais abordaremos os internos (aqueles de na-
tureza química, com destaque para os hormônios) e os externos (relaciona-
dos à luz, gravidade, temperatura etc.).

Fatores internos – hormônios vegetais


Os hormônios vegetais, ou fitormônios, são moléculas orgânicas pequenas
que atuam como sinais químicos altamente específicos entre as células e
tecidos, ativos em quantidades muito pequenas (RAVEN, 2001).

Os fitormônios são as principais substâncias orgânicas que regulam o cres-


cimento vegetal e estão relacionados com todos os aspectos do desenvolvi-
mento vegetal – o crescimento em tamanho, desenvolvimento e senescên-
cia das folhas, amadurecimento dos frutos, morte celular, entre muitos ou-
tros processos.

Os fitormônios não necessariamente atuam no mesmo local em que são


produzidos, sendo que alguns podem ser produzidos em um tecido e trans-
portados para outro (RAVEN, 2001). Mas independentemente de seu local de
produção, os hormônios vegetais produzem respostas fisiológicas específi-
cas, de acordo com o tecido em que atuam.

Tradicionalmente, há cinco grupos ou classes de hormônios vegetais que


recebem maior atenção dos pesquisadores: auxinas, citocininas, etileno,
ácido abscísico e giberelinas.

No Quadro 1, apresentamos um breve resumo sobre características impor-


tantes de cada um desses hormônios. Entretanto, é importante destacar que
as plantas possuem um repertório de sinais químicos maior do o que já co-
nhecemos e novas descobertas são feitas frequentemente (IB-USP, 2004).

Quadro 1 Fitormônios: seus locais de produção, o meio de transporte mais


comum e seus efeitos principais.

FITORMÔ- LOCAIS DE
TRANSPORTE EFEITOS
NIO BIOSSÍNTESE

Dominância apical; res-


postas trópicas; diferen-
ciação dos tecidos vascu-
Primariamente
lares; promoção de ativi-
nos primórdios De célula a cé-
dade cambial; indução de
foliares, folhas lula e o trans-
raízes adventícias em es-
Auxina jovens e nas se- porte é unidi-
tacas; inibição da absci-
mentes em recional
são de folhas e frutos; ini-
desenvolvi- (polar).
bição ou promoção da
mento.
floração; estimulação do
desenvolvimento do
fruto.
As citocininas Divisão celular; promo-
são transpor- ção da formação de ge-
Primariamente
tadas das raí- mas em cultura de teci-
Citocinina nos ápices
zes para os dos; atraso na senescên-
radiculares.
caules, via cia foliar; quebra da do-
xilema. minância apical.

Na maioria dos
Sendo um gás,
tecidos em res-
o etileno Amadurecimento de fru-
posta ao es-
move-se por tos; senescência de fo-
Etileno tresse; tecidos
difusão a par- lhas e flores; abscisão de
senescentes ou
tir do seu sítio folhas e frutos.
amadureci-
de síntese.
mento.

Fechamento estomático;
indução do transporte de
Em folhas ma- fotoassimilados das fo-
duras, especial- lhas para as sementes
mente em res- O ABA é ex- em desenvolvimento; in-
Ácido posta ao es- portado das dução da síntese de pro-
abscísico tresse hídrico. folhas pelo teínas de reserva nas se-
Pode ser sinteti- floema. mentes; embriogênese;
zado em pode afetar a indução e a
sementes. manutenção de dormên-
cia nas sementes e
gemas.

Crescimento dos ramos


As GAs são pelo estímulo da divisão
Nos tecidos jo-
provavel- e alongamento celular;
vens dos ramos
mente trans- indução da germinação
Giberelina e sementes em
portadas no de sementes; estimulação
desenvolvi-
xilema e da floração; regulação da
mento.
floema. produção de enzimas em
sementes.
Fonte: adaptado de Raven (2001, p. 201).
Fatores ambientais
Todos os seres vivos regulam suas atividades de acordo com as caracterís-
ticas ambientais ao seu redor. Os animais, devido à sua mobilidade, procu-
ram ativamente por locais que supram suas necessidades de alimento, par-
ceiro ou abrigo, alterando, assim, as características do seu ambiente de en-
torno (TAIZ, 2004). Mas os vegetais possuem apenas um curto período de
grande mobilidade por ocasião da dispersão de suas sementes e, mesmo as-
sim, não é uma dispersão voluntária, como nos animais. Dessa forma, ao
emitir sua primeira raiz, a planta fica imobilizada naquele lugar por toda
sua vida, devendo, ali, obter todos os recursos necessários ao seu pleno de-
senvolvimento (RAVEN, 2001).

Para tentar suprir a necessidade de buscar ativamente por recursos, as


plantas possuem a capacidade de responder e se ajustar a um amplo as-
pecto de fatores ambientais. Essa capacidade se manifesta, principalmente,
nas mudanças dos padrões de crescimento. As respostas aos sinais do am-
biente são responsáveis pela grande variação nas formas dos vegetais,
mesmo entre aqueles geneticamente idênticos.

Com o intuito de elucidar alguns fatores ambientais importantes para o


crescimento dos vegetais, vamos entender mais um pouco sobre tropismos
e ritmos circadianos.

Tropismos

Segundo Ferri (1985), os tropismos são respostas de crescimento relaciona-


das à curvatura da planta em direção a um estímulo ambiental externo (tro-
pismo positivo) ou contrário a ele (tropismo negativo).

Os tropismos podem ser:

1. Fototropismo: crescimento em direção à incidência direcional da luz.


Esse crescimento é provocado pelo alongamento (sob influência do
hormônio auxina) das células do lado sombreado do ápice.
2. Gravitropismo: crescimento em resposta à gravidade. Se uma planta
for colocada com seu eixo na horizontal, sua raiz crescerá para baixo
(gravitropismo positivo) e seu caule crescerá para cima (gravitropismo
negativo), também sob influência da auxina.
3. Hidrotropismo: crescimento em resposta ao gradiente de umidade. As
raízes crescem em direção a regiões de maior potencial hídrico.
4. Tigmotropismo: crescimento em resposta ao toque, ao contato com um
objeto sólido. Um exemplo típico são as gavinhas, que se enrolam em
qualquer objeto e permitem à planta fixar-se a um substrato.
5. Quimiotropismo: crescimento em resposta a um agente químico. Por
exemplo, o crescimento do tubo polínico em direção ao óvulo.

Devemos ter atenção para não confundirmos tropismo com nastismo.


Como mencionamos anteriormente, no tropismo, a posição ou direção do
estímulo ambiental interfere na resposta da planta em seu crescimento, en-
quanto os nastismos são respostas não direcionais, isto é, independentes da
posição ou direção do estímulo (RAVEN, 2001). Podemos citar como exem-
plos de nastismos o fotonastismo, quando o estímulo ambiental é a luz, que
pode afetar a abertura das flores, ou o tigmonastismo, no caso das chama-
das “plantas carnívoras”, que reagem ao toque do inseto em sensores espe-
cíficos, aprisionando-o.

Ritmos circadianos

Alguns eventos do desenvolvimento vegetal, como a fotossíntese, a produ-


ção de hormônios e a divisão celular, possuem ritmos regulares de aproxi-
madamente 24 horas, compondo o ritmo circadiano ou relógio biológico
(RAVEN, 2001).

Esses processos são regulados pelo ambiente por meio do ciclo diário de
claro-escuro. Essa habilidade é importante, pois, além de coordenar as ati-
vidades diárias, possibilita que a planta responda às mudanças das esta-
ções do ano por meio da alteração do comprimento dos dias e noites, medi-
dos por ela.

Dessa maneira, os vegetais conseguem sincronizar alguns eventos, como a


floração e/ou frutificação, entre os indivíduos da mesma espécie, fatos im-
portantes tanto ecologicamente quanto para sua reprodução, e com as con-
dições ambientais ideais, relacionadas à umidade ou temperatura.

Concluindo, as mudanças ambientais podem estimular o resultado das res-


postas fisiológicas dos vegetais relacionadas ao seu crescimento, reprodu-
ção e várias outras atividades.
6. Transporte de água
Como vimos anteriormente, o transporte de água a longa distância nas
plantas ocorre no tecido vascular chamado xilema, que percorre todo o
corpo da planta, desde as raízes até as folhas. Já sabemos, também, que as
raízes são responsáveis pela absorção de água do solo. Todos os nutrientes
orgânicos e inorgânicos, assim como a água, são transportados através do
corpo da planta, sendo essa uma capacidade fundamental para a manuten-
ção e o desenvolvimento do vegetal (TAIZ, 2004).

Mas como a água penetra na raiz e vai parar nas folhas, que, em muitas ár-
vores, podem estar distantes do solo?

De forma resumida, de acordo com Ferri (1985), a água entra na planta atra-
vés das células da raiz e vai até os tecidos condutores, sendo carregada até
as folhas, onde sai do vegetal por meio da superfície das células do mesofilo
para os espaços intercelulares, na forma de vapor d’água. Esse vapor d’água
se difunde dos espaços intercelulares para a atmosfera através da abertura
dos estômatos, em um processo chamado transpiração. A água perdida na
transpiração é reposta pela água absorvida pelas raízes e levada em direção
às folhas através do xilema.

Vamos entender agora como esse processo ocorre fisiologicamente?

As células, que estão em contato direto com os espaços intercelulares, per-


dem água na forma de vapor para esses espaços intercelulares, através da
membrana plasmática, que é permeável à água, mas não aos solutos da cé-
lula. Assim, com a perda de água, a concentração de solutos no interior da
célula aumenta, diminuindo seu potencial hídrico.

Dessa maneira, cria-se um gradiente osmótico entre essa célula e suas célu-
las vizinhas, mais saturadas, provocando uma reação em cadeia até alcan-
çar a água presente no xilema, o que resulta em uma “sucção”, que podería-
mos também chamar de tensão (RAVEN, 2001).

Em virtude de uma das características da água, a coesão, que é a proprie-


dade de as moléculas de determinada substância permanecerem unidas,
toda a tensão é transmitida até as células da raiz, que “perdem” água para o
xilema. Essa perda de água das células da raiz aumenta sua capacidade de
absorver a água do solo. Esse gradiente de potencial hídrico, iniciado pela
transpiração, é o que move de forma contínua a água pelo sistema solo-
planta-atmosfera, em uma teoria chamada de tensão-coesão (RAVEN, 2001).

Quando comparamos a quantidade de água absorvida por uma planta com


qualquer animal de peso semelhante, vemos que ela absorve muito mais
água do que o animal. Isso ocorre devido ao fato de que, nos animais, de
forma geral, há uma contínua recirculação da água no organismo, princi-
palmente na forma de plasma sanguíneo. Já nas plantas não ocorre essa
circulação de líquidos, sendo que aproximadamente 99% da água absorvida
do solo pelas raízes é perdida como vapor d’água, o que pode corresponder
de 200 a 400 litros de água em um único dia, como indica Raven (2001).

Mas sendo a água uma das substâncias mais importantes para a manuten-
ção da vida, por que as plantas perdem tanta água na transpiração? Para
responder a essa questão, temos de voltar nossa atenção para outro pro-
cesso fisiológico fundamental para os vegetais, a fotossíntese, que pode ser
explicado por Taiz (2004).

Segundo o autor, para maximizar a captação de luz solar para a realização


da fotossíntese, a planta deve expor o máximo de sua superfície ao sol, o
que nos parece bem lógico, não é? Mas, com isso, a planta cria uma grande
superfície de transpiração. Outro “ingrediente” indispensável para a fotos-
síntese é o dióxido de carbono, disponível na atmosfera. Porém, para a en-
trada do CO2 na célula, é necessário que esse gás esteja em contato direto
com a superfície celular úmida. Então, toda vez que a água está exposta ao
ar, ocorre a evaporação, ou seja, para captar o dióxido de carbono para a fo-
tossíntese, é necessário perder água por transpiração, sendo necessário
atingir um complexo e delicado equilíbrio na vida da planta.

Por esse motivo, a transpiração é chamada, muitas vezes, de “mal necessá-


rio” ou “inevitável” para a planta. Todavia, quando o equilíbrio entre absor-
ção e transpiração é quebrado, os danos podem ser enormes para a planta,
causando, por exemplo, o retardo do desenvolvimento ou, em casos extre-
mos, a morte do vegetal por desidratação.
7. Métodos de ensino da fisiologia vegetal
Alguns professores fogem das aulas de Fisiologia Vegetal por considerá-las
complicadas ou desestimulantes, deixando-as para o final do ano letivo.
Uma das justificativas para essa atitude é que a Fisiologia Vegetal é muito
teórica, com todos os seus processos químicos e físicos.

É justamente para auxiliar na aprendizagem desses processos que não con-


seguimos visualizar, no cotidiano, que as experiências são tão úteis quando
tratamos da aprendizagem dos principais processos fisiológicos. Descreve-
remos na sequência alguns experimentos simples que podem ser utilizados
em sala de aula.

Absorção de água e transpiração


Esse primeiro experimento, baseado no site da Biblioteca Digital de Ciências
da Unicamp (2014), provará que a raiz é o principal órgão responsável pela
absorção de água nos vegetais. O experimento deverá ser montado con-
forme demonstrado a seguir.

1º experimento: absorção

Coloque quatro plântulas de feijão em quatro recipientes (pode ser um copo


ou uma proveta, desde que seja transparente) com a mesma quantidade de
água. Você deverá colocar uma plântula em cada recipiente, sendo que, no
primeiro, deverá colocar a plântula inteira, com toda a raiz submersa. No
segundo recipiente, a plântula deverá ter sua raiz completamente retirada, e
o caule, imerso na água. No terceiro recipiente, mantenha apenas a parte
apical da raiz imersa em água e, no último recipiente, apenas a zona pilosa
deverá estar imersa, e a zona apical, fora da água (para isso, a raiz deverá
ser cuidadosamente dobrada).

Será necessário prender as plântulas com um arame para mantê-las em


sua posição. Para evitar a evaporação da água, coloque um pouco de óleo de
cozinha em cada recipiente, para “vedá-lo”.

Para finalizar, envolva os recipientes com um papel alumínio, evitando con-


tato com a luz. Mantenha o conjunto de recipientes em um mesmo ambi-
ente, arejado e iluminado. Após 24 horas, retire o papel alumínio e compare
o nível de água de cada um. É esperado que o recipiente em que a raiz está
totalmente imersa na água tenha menos volume de água quando compa-
rado com aquele em que a raiz foi retirada e, quando compararmos os reci-
pientes com partes diferentes da raiz imersa, esperamos que o que contém
a zona pilífera em contato com a água tenha menor quantidade do líquido.

Estimule seus alunos a fazerem essas observações e a relacioná-las com a


função da raiz e suas partes.

2º experimento: transpiração

Uma forma muito simples de demonstrar que as plantas transpiram será


apresentada neste segundo experimento. Acompanhe.

Escolha uma pequena árvore do pátio da escola ou uma planta em um vaso,


preferencialmente em um dia de sol. Regue-a previamente. Escolha um ga-
lho com folhas e coloque-o no interior de um saco plástico transparente, to-
mando o cuidado de amarrar a boca do saco, de forma que não haja troca de
gases entre o interior do saco e o meio externo. Observe-o por alguns minu-
tos. Em pouco tempo, serão formadas gotículas de água no interior do saco
plástico.

Estimule seus alunos a observarem e elaborarem hipóteses sobre a origem


dessa água, com questionamentos sobre, por exemplo, qual a origem da-
quela água. Isso pode ser feito na forma de uma roda de conversa no próprio
pátio.

Uso de tecnologias
É relevante sugerir, novamente, alguns arquivos presentes no Banco Inter-
nacional de Objetos Educacionais (2014), que contém animações interativas
que podem ser aplicadas de forma participativa em sala de aula.

Por meio de um computador e um projetor, você poderá utilizar animações


para tornar sua aula mais dinâmica e esclarecedora. Caso não possua os re-
cursos tecnológicos necessários, mas a escola tenha um laboratório de in-
formática, será interessante organizar-se para fazer uso dessa ferramenta.
Se nenhuma das opções for viável, os alunos poderão visitar o site em suas
casas ou quando estiverem em algum computador com acesso à internet.
Movimentos nos vegetais
O movimento dos vegetais é um assunto que desperta muito interesse nos
alunos: afinal, ninguém vê uma planta se mexendo por aí, não é mesmo?
Por isso, esse experimento pode gerar grande curiosidade por parte dos
alunos.

Pegue um vaso com uma planta qualquer e uma caixa de papelão com um
tamanho suficiente para comportar o vaso inteiro. Faça um furo em uma la-
teral da caixa, coloque o vaso com a planta em seu interior e feche bem a
caixa, de forma a evitar que qualquer outra luz consiga entrar. Mantenha a
caixa em ambiente iluminado por alguns dias.

A resposta esperada pode variar de acordo com a espécie de planta e seu


estágio de desenvolvimento, mas, em pouco tempo, você notará que a
planta se curvou em direção ao furo pelo qual a luz penetrava na caixa. Dis-
cuta em sala o que motivou esse curvamento.

8. Fisiologia vegetal
Tradicionalmente, a Fisiologia Vegetal não é uma área de estudo que gera
muito interesse por parte dos alunos, de forma que diversificar as estraté-
gias pedagógicas é fundamental para diminuir as barreiras, apresentando
novas formas de abordagem e uma maior contextualização dos temas da
Fisiologia Vegetal com o cotidiano.

É muito importante que você acesse os links apresentados, consulte os ma-


teriais indicados e os considere como, efetivamente, parte dos estudos.

PRISCO, J. T. Unidade I – Introdução à Fisiologia Vegetal: conceito e


aplicações. Disponível em:
<http://www.fisiologiavegetal.ufc.br/APOSTILA/INTRODUCAO.pdf>.
Acesso em: 27 nov. 2014.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN). Atlas
Virtual de Botânica. Disponível em:
<http://inct.florabrasil.net/participantes/herbarios-curadores/ufrn/>.
Acesso em: 19 nov. 2013.
Conhecer os processos fisiológicos é importante para entender as necessi-
dades vegetais e ser capaz de relacionar os processos fisiológicos ao ambi-
ente que o vegetal em questão habita, o que nos leva a nosso próximo tó-
pico: a Ecofisiologia Vegetal, ou como o ambiente influencia os processos fi-
siológicos vegetais. Para conhecê-lo em detalhe, ouça o podcast a seguir:

A Ecofisiologia é uma temática importante pelo fato de mostrar como os


conteúdos se relacionam. Na área da Botânica, essa relação causa impactos
diretos nos produtos de metabolismo primário e secundário, por exemplo, e
isso pode causar o aumento ou a diminuição de produtos com interesses
econômicos e, com isso, entramos no próximo e último tópico deste ciclo de
aprendizagem, a botânica econômica.

9. Botânica econômica e Etnobotânica


Passemos agora ao estudo da Botância econômica, no qual apresentaremos
alguns exemplos de como a Biologia vegetal pode influenciar a vida hu-
mana em termos econômicos.

Apesar dos avanços tecnológicos da sociedade moderna, o homem ainda


depende muito dos recursos naturais, destacando-se os recursos vegetais. E
essa dependência resulta em importantes relações comerciais envolvendo
os vegetais. Devido a isso, a exploração e o comércio de recursos vegetais
constituem uma atividade econômica muito importante em várias regiões
do mundo (IB-USP, 2014).

Saber quais os principais recursos vegetais e como são extraídos e comerci-


alizados é fundamental para a formação do biólogo, permitindo uma forma-
ção ampla. Vale destacar também que, em um curso de licenciatura, é
muito importante estudar os aspectos aplicados da Ciência, oferecendo ao
futuro professor uma visão abrangente do seu universo de trabalho (IB-USP,
2014).

As plantas estão envolvidas com a espécie humana desde o início do seu


desenvolvimento. Alimento, vestuário, remédio e outras indicações torna-
ram os vegetais fundamentais para a estruturação da sociedade atual (FA-
RIA, 2014).

Vamos conhecer melhor as diversas aplicações dos vegetais iniciando nos-


sos estudos sobre Botânica Econômica.

10. Metabolismo primário e secundário


Antes de iniciar a abordagem específica, é necessário compreender dois
importantes conceitos da Fisiologia Vegetal envolvidos diretamente com a
Botânica Econômica: metabolismo primário e secundário.

O metabolismo primário envolve todos os processos fisiológicos básicos vi-


tais para a planta (FÁVERO; PAVAN, 1997). Dentre estes processos fisiológi-
cos, pode-se destacar a fotossíntese e a respiração.

O metabolismo, de forma geral, forma elementos chamados metabólitos. Os


metabólitos formados no metabolismo primário são substâncias essenciais
para a manutenção da vida do vegetal, como açúcares, lipídeos, proteínas
etc.

Ainda de acordo com Fávero e Pavan (1997), o metabolismo secundário, por


sua vez, produz diversas substâncias a partir de diferentes processos fisio-
lógicos. A principal diferença entre os metabólitos primários e secundários
é que, diferentemente dos metabólitos primários, os metabólitos secundá-
rios não são indispensáveis para a sobrevivência da planta. Até hoje, desco-
briu-se cerca de 40.000 substâncias diferentes originárias do metabolismo
secundário.

Mas existem outras diferenças entre o metabolismo primário e o secundá-


rio. Confira o Quadro 1 comparativo a seguir.

Quadro 2 Diferenças entre metabolismo primário e metabolismo


secundário.

PARÂMETROS
Metabolismo primário Metabolismo secundário
COMPARATIVOS
Elementos necessá-
Água, CO2, luz, cloro- Sais, metabólitos primá-
rios para sua
fila, enzimas rios, enzimas
ocorrência

Local ou estrutura ne-


Cloroplastos Protoplasma celular
cessária ao processo

Produção de alimento Defesa entre outras fun-


Função básica e geral
para obtenção de ções relacionadas à inte-
para o vegetal
energia ração com o meio

Local de acúmulo no Em plastos de reserva No protoplasma, espalha-


vegetal das substân- nos diversos órgãos da dos genericamente na es-
cias produzidas planta trutura do vegetal

De inúmeros tipos
Tipos (variedades) de Principalmente açúca-
(grande variedade) tais
substâncias res, portanto, uma pe-
como alcaloides, glicosí-
produzidas quena variedade
deos, flavonas etc.

Quantidade de subs- Muito grande, da or- Muito pequena, da ordem


tâncias produzidas dem de gramas de micro/miligramas

Grandes, tais como medi-


Variedade de usos
Pequena, o principal camentos, temperos, vá-
econômicos dos meta-
uso é como alimento rios tipos de indústrias
bólitos produzidos
etc.
Fonte: FÁVERO; PAVAN (1997, p. 17).

Se os metabólitos secundários não são essenciais, você poderia se pergun-


tar: por que as plantas produzem essas substâncias? Existem algumas ex-
plicações que tentam indicar as funções e a importância dos metabólitos
secundários. Vamos conferir as principais explicações apresentadas por
Fávero e Pavan (1997).

Uma explicação afirma que os metabólitos secundários são reservas de ni-


trogênio para as plantas, em virtude de parte deles serem alcaloides. Entre-
tanto, ao analisar essa possibilidade, verifica-se que ela não reflete a reali-
dade, pois o nitrogênio é um elemento muito importante para a planta e ar-
mazená-lo como metabólito secundário não seria viável para o vegetal.
Outra explicação afirma que os metabólitos secundários seriam equívocos
do metabolismo vegetal. Mas essa explicação é totalmente discutível, pois
em alguns vegetais os metabólitos secundários, apesar de não serem essen-
ciais, são muito importantes, como veremos a seguir.

Atualmente, a explicação mais aceita para a existência dos metabólitos se-


cundários é em virtude de suas funções para o vegetal, pois esses compos-
tos atuam na defesa do vegetal contra a herbivoria, pois atua diretamente
em diversas relações das plantas com animais ou plantas, por exemplo, nos
processos de polinização e dispersão.

Outra importância dos metabólitos secundários é na relação da planta com


os diversos fatores ambientais, como radiação, seca etc. Essas funções se-
rão melhor apresentadas a seguir.

De forma geral, todos os tecidos da planta possuem a capacidade de produ-


zir metabólitos secundários. Entretanto, em virtude da especialização dos
tecidos que ocorre em todos os seres vivos “complexos”, os metabólitos se-
cundários podem ser produzidos em órgãos ou tecidos específicos do corpo
vegetal.

Dependendo da forma de produção do metabólito secundário, que tecnica-


mente chamamos de rota metabólica, alguns metabólitos secundários so-
mente são produzidos em situações particulares, dependendo, diretamente,
da função realizada pelo metabólito. Por exemplo, algumas espécies produ-
zem metabólitos secundários que as protegem contra a herbivoria (FÁVERO;
PAVAN, 1997).

Em algumas espécies, o metabólito secundário específico somente será pro-


duzido se a planta sofrer algum tipo de herbivoria. Nesse caso, o metabólito
secundário produzido tem a intenção de afastar o herbívoro. É importante
destacar que esse processo de produção do metabólito secundário inde-
pende da “vontade” ou do “desejo” do vegetal, porque eles não existem. Ge-
ralmente, existem etapas das rotas metabólicas que servem como “gatilho”
para o aumento da produção de determinado metabólito secundário (FÁ-
VERO; PAVAN, 1997).

O homem aprendeu a utilizar alguns metabólitos secundários de acordo


com suas necessidades. Assim, muitos metabólitos secundários são utiliza-
dos como medicamento, conservante e outras matérias-primas de uso
industrial.

Além do estudo científico dos metabólitos secundários, analisando sua


composição, aplicação e como indicadores de relações entre as espécies ve-
getais, é relevante analisarmos as possibilidades de uso dos metabólitos se-
cundários pelo homem em diversas situações.

Funções dos metabólitos secundários para os vegetais


Interação plantas-animais

Sabemos que as plantas formam um componente importante da biosfera,


realizando uma série de relações ecológicas. Neste tópico destacaremos a
interação planta-animal: a polinização.

Em algumas espécies, para que a polinização seja realizada efetivamente,


há a necessidade da participação de um agente polinizador ativo. Este
agente polinizador pode ser um inseto, uma ave ou um mamífero. Cada um
desses grupos de animais sente-se atraído por um tipo de estímulo
diferente.

Dessa forma, alguns metabólitos secundários estão envolvidos, direta-


mente, com a atração dos polinizadores (PERES, 2014). Dentre esses meta-
bólitos secundários, destacamos os óleos essenciais (cheiros, aromas) e os
pigmentos coloridos (cores).

Os metabólitos secundários que conferem cheiro a uma flor, por exemplo,


participam diretamente do processo de polinização ao atrair os polinizado-
res, indicando que as flores estão prontas para ser fecundadas. O mesmo
acontece com as cores, já que grande parte das flores são coloridas para
atrair o polinizador.

Vale a pena destacar que os cheiros atraem não apenas os polinizadores,


mas também os herbívoros. Assim, para algumas espécies, a liberação de
aroma aumenta a herbivoria da planta.

Interação planta-planta
Algumas espécies vegetais realizam um processo chamado alelopatia. A
UFSM (2014) define alelopatia como

Qualquer efeito causado, direta ou indiretamente, por um organismo sobre outro,


através da liberação no meio ambiente de produtos químicos por ele elaborados.

Os produtos químicos citados são metabólitos secundários.

Nos vegetais, o exemplo mais comum são metabólitos secundários produzi-


dos por determinada espécie que inibe a germinação de sementes de outras
espécies. Dessa forma, a espécie que produz o metabólito secundário é a
única que consegue germinar e se desenvolver. Assim, há uma menor com-
petição por substâncias nutritivas, luz e espaço.

Interação planta-microrganismos

Outros tipos de metabólitos secundários possuem uma função antibiótica,


isto é, não permitem o desenvolvimento de organismos microscópicos (FÁ-
VERO; PAVAN, 1997). Em alguns casos, o homem consegue extrair esses
compostos e utilizar em seu benefício.

Defesa

Uma aplicação muito difundida dos metabólitos secundários está relacio-


nada à defesa da planta contra animais herbívoros (UFC, 2014). Geralmente,
estes metabólitos secundários agem por meio do envenenamento do herbí-
voro, devendo ser extremamente específicos, pois a planta não pode afastar
ou matar os animais polinizadores e dispersores.

Outros tipos de defesa envolvendo os metabólitos secundários são classifi-


cados como defesa passiva e têm o principal objetivo de afastar os herbívo-
ros, assim como as substâncias repelentes de insetos, por exemplo.

Funções para o homem

O homem já descobriu e ainda tem descoberto diversos usos para os meta-


bólitos secundários. Vamos elencar alguns desses usos segundo Fávero e
Pavan (1997):
1. Óleos essenciais: compostos extraídos de um número muito grande de
plantas. São utilizados em diversas situações: essências (perfumes e
cosméticos), temperos para alimentos, produtos de limpeza para casa e
higiene pessoal, terapêuticos (antissétpticos), digestivos etc.
2. Ácidos graxos: produto-base para a confecção de diversos produtos
como alimentos, sabões e terapêuticos.
3. Glicosídeos: podem possuir um nível de toxicidade, mas em pequenas
porções são utilizados como remédios e outras utilizações
terapêuticas.
4. Borracha: substância extraída de algumas espécies vegetais, mas que,
gradualmente, vem sendo substituída por componentes sintéticos.
5. Resinas e bálsamos: conhecidos como vernizes naturais.
6. Alcaloides: engloba algumas substâncias terapêuticas, como anestési-
cos, analgésicos, estimulantes, depressores etc.
7. Taninos: substâncias amplamente utilizadas para o curtimento do
couro.
8. Ligninas: importantes substâncias utilizadas na indústria de tecela-
gem e na construção.
9. Flavonoides: principais corantes naturais.

11. Produtos florestais


Neste tópico serão apresentados alguns importantes recursos vegetais ex-
plorados pelo homem. É importante sempre buscar as relações de tais pro-
dutos com o nosso cotidiano para que o conteúdo faça mais sentido à me-
dida que for sendo estudado.

Fibras
De acordo com Fávero e Pavan (1997), as fibras são materiais de origem ve-
getal muito utilizadas pelo homem. Assim como as plantas utilizadas na
alimentação, as plantas produtoras de fibras tiveram papel fundamental
para a evolução da sociedade humana.

Desde o “homem das cavernas” ou homem primitivo, as fibras desempe-


nham função fundamental para a nossa espécie, com destaque para a pro-
dução de abrigos e vestimentas, já que o couro de animais não era um ar-
tigo fácil de ser obtido e trabalhado, comparado às fibras vegetais.
Pode-se definir fibra como todo material, natural ou sintético, que possa ser
trabalhado na forma de fios e para a tecelagem (FÁVERO; PAVAN, 1997), con-
forme as Figuras 4 e 5.

Figura 4 Exemplo de fibra de origem vegetal.

Figura 5 produto de tecelagem.

A definição botânica indica que as fibras são células longas, finas, que
atuam diretamente na estruturação física do indivíduo vegetal.

As fibras naturais podem ter três origens:

1. animal: lã, seda, pelos de animais etc.;


2. vegetal: sisal, linho, algodão etc.;
3. mineral: amianto.

Já as fibras artificiais, isto é, fabricadas pelo homem, podem ser semissinté-


ticas, como o rayon, ou sintéticas, como as poliamidas e os poliésteres.
Neste CRC, iremos focar as fibras naturais de origem vegetal, certo?
As fibras vegetais são células do esclerênquima (tecido estudado no CRC
Fundamentos e Métodos do Ensino de Biologia Vegetal I) especializadas na
sustentação física do indivíduo vegetal. As paredes celulares das fibras são
espessas, pois, além da parede primária, também apresentam uma parede
secundária, segundo Raven (2001), oferecendo maior resistência à
estrutura.

Classificação das fibras

Como possuem uma ampla utilização nas mais diversas atividades huma-
nas, as fibras foram classificadas utilizando-se dois critérios, de acordo com
Fávero e Pavan (1997):

1) Classificação botânica – as fibras podem ser divididas nos seguintes


grupos:

Fibras de sementes: como algodão e paina;


Fibras de folhas: como sisal;
Fibras de entrecasca: como linho, juta, rami e cânhamo;
Fibras de palmeiras: como piaçava, carnaúba e buriti.

2) Classificação econômica – divide as fibras em seis grupos:

Fibras têxteis: como algodão, linho, juta, rami, cânhamo e sisal;


Fibras para escova: piaçavas;
Fibras para trançar: folhas utilizadas para a confecção de esteiras, ces-
tas, chapéus etc.;
Fibras para construção: como sapé;
Fibras para papel: celulose;
Fibras para esponja: buchas vegetais.

Madeira
Todos nós temos contato diário com diferentes objetos feitos de madeira.
Mas será que sabemos, realmente, o que é a madeira?

Segundo Fávero e Pavan (1997), a madeira é uma


Substância organizada que constitui as partes mais sólidas do caule, galhos e
raiz da árvore. Constitui o sistema vascular e o tecido de sustentação das plan-
tas, portanto, um tecido rígido, produto de plantas lenhosas.

A madeira é resistente em virtude da presença de células com parede


lignificada. Analisando morfologicamente um tronco de árvore, encontrare-
mos as estruturas apresentadas na Figura 6.

Figura 6 Corte de um caule tipo tronco. No centro, o ponto escuro é a medula, ao redor da medula (parte mais es-

cura), encontra-se o cerne e a parte mais clara é o alburno.

Diversos elementos compõem a madeira, e o tipo ou a qualidade da madeira


serão determinados diretamente pela quantidade dos seguintes elementos:

Elementos traqueais: envolvidos com a condução da seiva bruta, são


formados basicamente pelos traquídeos e elementos do vaso;
Fibras: participam diretamente da sustentação do indivíduo vegetal e
de suas partes. Pode-se encontrar dois elementos que formam esse
grupo: os fibrotraqueídeos e as fibras libriformes;
Parênquima: tecido envolvido com a reserva de substâncias.
De acordo com a proporção dos diferentes elementos que compõem a ma-
deira, e outras características relacionadas, existem diferentes tipos ou qua-
lidades de madeira:

1) Madeira dura: presente na maioria das angiospermas dicotiledôneas.


Suas principais características são:

estrutura anatômica mais complexa no lenho;


presença de vasos e fibras verdadeiras;
predominância de raios multisseriados.

2) Madeira mole: presente na maioria das gimnospermas. As principais ca-


racterísticas são:

estrutura anatômica mais simples no lenho;


presença de fibras finas;
raios finos e uniformes (unisseriados);
presença de muitos canais resiníferos.

Propriedades da madeira

A madeira possui uma série de características que variam de acordo com a


espécie. Vamos descrever algumas das principais características da ma-
deira segundo Moreschi (2012):

1. Cor: característica influenciada pelas diferentes substâncias encontra-


das no lenho. De forma geral, madeiras mais moles são mais claras, e
madeiras mais duras, mais escuras;
2. Cheiro e gosto: derivadas diretamente dos óleos essenciais presentes
na madeira;
3. Veios: diferentes desenhos formados pelos filamentos da madeira. Es-
sas características são valorizadas em madeiras utilizadas para a con-
fecção de móveis e outros objetos;
4. Textura: as madeiras, mesmo antes de algum tratamento, podem ser
ásperas ou lisas.

Veja exemplos na Figura 7:


Figura 7 Amostras de madeira com diferentes cores, veios e texturas.

Outro grupo de características da madeira indicam suas propriedades me-


cânicas. As principais são:

1. Firmeza: resistência a forças diversas, como tensão, compressão, fle-


xão, tração etc.;
2. Retrabilidade: proporção de contração da madeira no processo de
dessecação;
3. Dureza: resistência a cortes e outras forças deformantes.

Utilizações econômicas

As madeiras possuem uma importância econômica muito grande, pois são


utilizadas como matéria-prima para a elaboração de muitos objetos e outras
utilidades. Vamos ver quais as principais utilizações da madeira na socie-
dade atual, de acordo com Fávero e Pavan (1997):
1. Combustível: produção de calor e energia para indústrias, residências
etc. Para esse fim, a madeira pode ser utilizada na forma de lenha ou
carvão vegetal;
2. Construção: civil, naval, móveis, utensílios diversos, brinquedos, ins-
trumentos musicais, objetos de arte, postes, laminado, compensado
etc.;
3. Papel: papel, embalagens, polpa de celulose;
4. Forragem: forragem para granjas e afins;
5. Substâncias químicas diversas: óleo combustível e lubrificante, teci-
dos, rayon, gomas plásticas, ferragens plásticas, álcool, resina para sa-
bão, aguarrás, ácido acético, acetona, álcool metílico e oxálico, taninos,
tintas, fertilizantes, removedores de tintas e vernizes etc.;
6. Medicinal: extração de alguns medicamentos ou substâncias utiliza-
das na sua produção;
7. Tanoaria: fabricação de barris para envelhecimento de bebidas.

Cortiça
Pode-se definir cortiça como um “tecido morto constituinte do caule e ra-
mos de certos vegetais, denominado periderme” (FÁVERO; PAVAN, 1997).

A cortiça é formada por células completamente justapostas, isto é, sem es-


paços entre elas, e, como estão mortas, as células são repletas de ar. Além
de celulose e lignina, as paredes celulares que compõem a cortiça são ricas
em ceras e suberina, conferindo impermeabilidade ao tecido. Veja a extra-
ção da cortiça na Figura 8:

Figura 8 Extração da cortiça.

Utilizando os conceitos botânicos, a cortiça é formada por uma estrutura


chamada periderme. A periderme é um tecido secundário que substitui a
epiderme em indivíduos vegetais que apresentam crescimento secundário
de seus troncos ou caules. Quanto mais antiga é a árvore, maior é o acúmulo
de cortiça em seu caule.

Na planta, a cortiça é muito importante, pois realiza a função básica de pro-


teção contra a dessecação e os agentes patogênicos.

Utilizações econômicas

Em virtude de suas características anatômicas e morfológicas, a cortiça é


um tecido leve, durável e elástico, além de ser um ótimo isolante térmico e
acústico, impermeável e flutuante. Devido a essas muitas características, a
cortiça possui inúmeras aplicações, segundo Fávero e Pavan (1997):

isolante térmico e sonoro;


impermeabilizante;
boias e flutuadores;
cabos de utensílios;
rolhas de garrafas.

12. Produtos de extração


O conceito de extrativismo aborda muitas aplicações, sendo as mais co-
muns a extração, a coleta de diversos recursos naturais, sejam eles de ori-
gem animal, vegetal ou mineral (FÁVERO; PAVAN, 1997).

Atualmente, a extração ainda é uma atividade econômica importante, em-


bora após o domínio das técnicas agrícolas a extração vegetal, tenha se re-
sumido a alguns poucos produtos.

Vamos saber um pouco mais sobre os principais produtos de extração


vegetal.

Gomas
As gomas são o resultado da mistura de alguns componentes dos tecidos do
vegetal com algumas substâncias deles próprios, destacando-se a celulose.
São formadas por muito açúcar e pectinas. Pectinas são substâncias pre-
sentes nas paredes celulares que agem como um cimento da membrana
(WASCHECK, 2008).
As gomas são eliminadas naturalmente pelo caule, mas também podem ser
extraídas fazendo-se cortes nos caules de indivíduos produtores. Podem ser
utilizadas para muitas atividades, como a fabricação de adesivos, para en-
gomar tecidos, como liga para doces, em tintas etc.

Atualmente, muitas gomas naturais foram substituídas por semelhantes


sintéticos, que possuem maior uniformidade na composição e menor custo
na fabricação. Alguns exemplos de gomas naturais são: goma arábica,
goma tragacanto, goma karaya (FÁVERO; PAVAN, 1997).

Resinas
As resinas são substâncias quimicamente complexas, compostas de muitos
óleos essenciais. As plantas produtoras de resina possuem, principalmente
em seus caules, os canais resiníferos, onde as resinas são produzidas e
secretadas.

As resinas são eliminadas pelo caule em direção ao ar atmosférico. Quando


atingem o ambiente exterior ao corpo da planta, as resinas endurecem em
virtude da perda de água e oxidação das essências (FÁVERO; PAVAN, 1997).
Para a extração comercial da resina, é necessário fazer cortes no caule do
vegetal produtor e colhê-la quando escorre.

No vegetal, as resinas são importantes, pois agem como protetoras; em al-


guns casos, são antibióticas, com efeito cicatrizante.

O homem utiliza as resinas em algumas atividades, como a fabricação de


vernizes, impermeabilizantes, sabões e perfumes, na medicina, entre outros
usos (FÁVERO; PAVAN, 1997).

Açúcares e amido
Os açúcares são metabólitos primários das plantas, pois são substâncias
fundamentais para a sua sobrevivência, relacionadas diretamente com a
produção e o armazenamento de energia, ou seja, o alimento produzido pe-
las plantas (RAVEN, 2001).

Em decorrência de sua importância metabólica, os açúcares estão presen-


tes em todas as células da planta. Em virtude da alta demanda celular por
açúcares, estes devem estar facilmente disponíveis. Dessa forma, pode-se
encontrar açúcar nas raízes, nos caules, nas flores e nos frutos (FÁVERO;
PAVAN, 1997).

Quando os açúcares não são utilizados rapidamente, formam uma reserva


energética para a planta. As moléculas de açúcar se unem quimicamente e
formam o amido, que se acumula principalmente em células parenquimáti-
cas de raízes e frutos.

O açúcar e o amido têm diversas funções para o homem, tanto na alimenta-


ção quanto em outras atividades, como a pecuária. Atualmente, a produção
e extração do açúcar é feita baseando-se em duas espécies vegetais: a cana-
de-açúcar e a beterraba. O Brasil é um dos grandes produtores mundiais de
cana-de-açúcar, e a beterraba tem sua produção mais destacada em países
europeus.

Para a indústria, o amido pode ter duas origens básicas: frutos e sementes,
em que o produto extraído é chamado de polvilho. Nas raízes e nos tubércu-
los, o produto é chamado de fécula. Os principais produtos originados dos
açúcares e amidos são a fécula de batata, a fécula de mandioca, o amido de
trigo, o amido de arroz, o centeio, a cevada, a aveia, o amido de milho (FÁ-
VERO; PAVAN, 1997).

13. Botânica econômica


Sendo uma área de pesquisa e estudo que, tradicionalmente, não é muito di-
fundida nos meios acadêmicos e muito pouco tratada nos ensinos Funda-
mental e Médio, a Botânica Econômica merece maior atenção e dedicação.

Ao pensarmos que grande parte de objetos que utilizamos no cotidiano tem


origem em recursos vegetais, percebemos a necessidade de estudar tais re-
cursos e, sobretudo, de embasar cientificamente as atividades extrativistas,
visando a sustentabilidade.

O conteúdo complementar apresentado a seguir pretende apresentar mais


informações sobre essa importante área de estudo.

Desenvolvimento sustentável. Disponível em:


<http://www.youtube.com/watch?v=WYQauL2ZIJk>. Acesso em: 3 dez.
2014.
INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
(ICMBIO). Reserva extrativista do Médio Juruá (documentário). Dispo-
nível em: <https://www.youtube.com/watch?v=P2Wnq-NlDYI>. Acesso
em: 3 dez. 2014.
A Botânica econômica é uma área muito interessante dentro da Biologia,
pois gera renda para os seres humanos e seu conhecimento dela demonstra
a importância de estudar e manter uma formação acadêmica de forma con-
tinuada, dada a interdisciplinaridade que essa temática envolve.

Já a Etnobotânica é uma área cujo objeto de estudo são os espécimes vege-


tais, sejam eles com relevância comercial ou não, principalmente focando
em conhecimento tradicional. Para abordar essa temática, clique nos íco-
nes a seguir e assista a dois vídeos sobre o assunto, focando o uso medici-
nal das plantas.

Neste momento, reflita sobre sua aprendizagem, respondendo às questões a


seguir.

14. Considerações
Este ciclo de aprendizagem finalizou os estudos na área da Botânica, mas
sem esgotar os conteúdos. Eles permitem ao discente do curso de Biologia
elaborar aulas práticas que facilitam a aprendizagem e tornam esta mais
significativa. Além disso, encerramos o ciclo com a Etnobotânica e a forma
com a qual as plantas medicinais e até mesmo a fitoterapia são importantes
e influentes nas sociedades. Esperamos que essa temática tenha sido incor-
porada ao seu dia a dia, já que ela possibilita, inclusive, a realização de pro-
jetos em sala de aula, relacionando qualidade de vida, saúde e a alimenta-
ção saudável, por exemplo.

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