TCC Apresentado para Obtencao Do Titulo de Especialista em Direito Penal e Processual Penal

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

ADAILTON FERREIRA DA COSTA


SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A REINCIDÊNCIA
SÃO PAULO
2019
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
ADAILTON FERREIRA DA COSTA
SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A REINCIDÊNCIA
Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes - UCAM, como requisito para a
obtenção do título de Especialista em Direito Penal e Processual Penal.
SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A REINCIDÊNCIA

ADAILTON FERREIRA DA COSTA¹


RESUMO
O presente estudo analisa as características do Sistema Penitenciário Brasileiro.
Demonstra-se a origem do sistema penitenciário, bem como a evolução da pena. Os efeitos
inerentes à natureza do cárcere aglutinam-se às deficiências estruturais dos
estabelecimentos penais, à superlotação, à ociosidade e inúmeros outros, que constituem
óbice à ressocialização do condenado. As condições precárias em que é desenvolvida a
pena no cárcere, configuram ofensa a um dos principais direitos do homem que não é
atingido pela condenação, à dignidade da pessoa humana. A superlotação dos presídios
impede a aplicação de um tratamento reeducativo eficiente ante a falta de estrutura para
atendimento a todos, e dessa forma não se atende à individualização da pena. As causas da
ineficácia do sistema prisional brasileiro, abordando suas mazelas e a precariedade e as
condições sub-Humanas que os detentos vivem hoje são de muita violência. Os presídios se
tornaram depósitos humanos, onde a superlotação acarreta violência sexual entre presos,
faz com que doenças graves se proliferam, as drogas cada vez mais são apreendidas dentro
dos presídios, e o mais forte, subordina o mais fraco.
Palavras-chave:Direito Penal. Sistema Penitenciário Brasileiro. Penitenciária.
ABSTRACT
This study examines the characteristics of the Brazilian Penitentiary System. Depicts the
rise of the penitentiary system as well as the evolution of the sentence. The effects inherent
in the nature of the prison coalesce the structural deficiencies of the prisons, overcrowding,
idleness and countless others, which constitute obstacles to reintegrating convicted. The
precarious conditions in which it is developed his sentence in prison offense to make up
one of the main duties of man who is not affected by the condemnation of human dignity.
The overcrowding in prisons to prevent application of a treatment reeducated efficient
compared to the lack of infrastructure to meet everyone, and thus not meets the
individualization of punishment. The causes of the ineffectiveness of the Brazilian prison
system, addressing its ills and precarious and inhuman conditions that prisoners are living
today are of much violence. The prisons have become human warehouses where
overcrowding leads to sexual violence among inmates, causes serious diseases to
proliferate, the drugs are increasingly being seized in the prisons, and stronger, makes it
weaker.
Keywords: Penal Law. Brazilian Penal System. Penitentiary.
¹ Pós-graduando em Direito Penal e Processual Penal Pela Ucamprominas. Graduado em
Direito Na UNIP- Campus Alphaville. Curriculum lattes:
http://lattes.cnpq.br/9336474653790895
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 5
2. HISTÓRIA DO DIREITO PENITENCIÁRIO E A EVOLUÇÃO DA PENA...... 6
3. ESTABELECIMENTOS PENITENCIÁRIOS................................................... 15
3.1 Centro de Observação............................................................................... 16
3.2 Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP)....................... 17
3.3Cadeia Pública............................................................................................ 18
3.4Penitenciária............................................................................................... 19
3.5 Colônia Agrícola ou Industrial.................................................................. 21
3.6 CasadoAlbergado.................................................................................... 22
4 INEFICÁCIA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO............................................... 23
4.1 População e Superlotação Carcerária..................................................... 25
4.2 Assistência Médica, Hospitalar E Alimentação....................................... 27
4.3 Trabalho e Assistência Jurídica............................................................... 29
5. CONCLUSÃO................................................................................................. 32
6. REFERÊNCIAS.................................................................................................. 34
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo principal corroborar para uma solução justa a respeito do
sistema carcerário, que como se sabe encontra-se em crise. Foi dedicada uma vasta
pesquisa sobre o instituto supracitado, desde a história do direito penitenciário e a
evolução da pena, até ao direito ao trabalho e assistência judiciário a que o detento pelo
menos em “tese” teria direito. A pena privativa de liberdade, embora seja a última medida
para a proteção da sociedade, também tem caráter ressocializador, mas como o leitor verá
o sistema prisional já esqueceu a importância dessa medida.
Para melhor compreensão, foi estudado o sistema prisional brasileiro, desde seu
surgimento, e como chegou ao Brasil, com base em Doutrinadores de alto nível, dentre eles,
Focault. Existe uma enorme preocupação em deixar bem claro o objetivo primordial da
pena privativa de liberdade, através do estudo dos estabelecimentos penitenciários, que foi
tratado com exaustão no capítulo 3, e nos subcapítulos como, por exemplo: Centro de
observação, Hospital de Custódia e tratamento Psiquiátrico conhecido como HCTP, cadeia
pública, penitenciária, colônia agrícola ou industrial e casa do albergado.
A obra traz consigo a preocupação não só em mostrar os estabelecimentos em que são
colocados os detentos, mas também trata da ineficácia do sistema penitenciário em seu
capítulo 4, ápice desta monografia, uma vez que o descaso que o Estado trata o instituto em
tela é assustador, não existem políticas públicas de prevenção à criminalidade, poucas são
as penitenciárias que se preocupam com os direitos dos presos, na verdade essas pessoas
ao entrar nesse sistema deixam de ser tratados como tal, e voltam à idade média onde
simplesmente o mais forte engole o mais fraco.
Foi de extrema importância o estudo da superlotação Carcerária, pois a falta de
investimentos para construção de novos presídios, a não criação de medidas preventivas
eficazes de combate ao crime faz com que as poucas unidades carcerárias existentes no
Brasil fiquem superlotadas deixando a população que ali vive em condições subumanas.
Além disso, o sistema não foi criado para atender “criminosa”, deixando as mulheres em
uma situação ainda mais degradante e promíscua.
A assistência médica, hospitalar a alimentação é outro fator que vem preocupando os
estudiosos do direito penitenciário, além dos defensores dos direitos humanos, pois falta
estrutura para um atendimento clínico de qualidade, deixando a saúde dos encarcerados
muitas vezes comprometida, a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis
também ajuda os detentos a entrar no caos profundo, pois não existe um exame preventivo
realizado no detento antes de adentrar no presídio, e nem um exame periódico daqueles
que já estão presos para avaliar sua saúde, com o objetivo de manter a população
carcerária saudável, situação extremamente preocupante e vexatória uma vez que esse
direito não lhes foi tirado com a sentença.
Para terminar foi dedicada uma intensa pesquisa sobre os direitos que os presos têm ao
seu labor, a uma educação voltada para a sua profissionalização, dando possibilidades ao
infrator de se reintegrar dignamente no convívio social, este sim é o objetivo principal, ou
pelo menos deveria ser para que a própria sociedade se sentisse segura com o retorno
digno à sociedade não como ex-presidiário, mas como cidadão brasileiro.
HISTÓRIA DO DIREITO PENITENCIÁRIO E A EVOLUÇÃO DA PENA
O Direito Penitenciário é um conjunto de normas jurídicas que disciplinam o tratamento
dos sentenciados.
Ferreira (1997) expressa sua opinião sobre a pena quando diz que a pena é a retribuição do
mal do crime por outro mal.
Segundo Bittencourt (1993), a prisão é concebida modernamente como um mal necessário,
sem esquecer que guarda em sua essência contradições indissolúvel.
A pena aplicada nos processos penais é distinguida por uma série de conotações que se
destacam de outras sanções jurídicas ou morais, pois é o centro do Direito Penal. Em face
desta disposição de punibilidade inserta no processo penal que delimita faremos um
estudo sobre o processo histórico pelo qual a pena de prisão tem passado.
A Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 em seu artigo 5º, XLVIII declara
que a pena de prisão deverá ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a
natureza do delito, a idade e o sexo do apenado. Todavia, diante da precariedade em que se
encontra a maior parte dos estabelecimentos penais brasileiros, com a estrutura
inadequada impossibilitando abrigar com o mínimo de segurança necessária a enorme e
crescente população carcerária, resultante do aumento da criminalidade e, ainda, da
insuficiência de penitenciárias que possam abrigar condizentemente esta população,
acarreta uma situação de inobservância da finalidade destas prisões, no atual sistema
carcerário, provocando reações e efeitos sociológicos e psicológicos que o sistema produz.
Existem relatos da existência de prisões na bíblia e muito antes dos registros cristãos. Os
primeiros cativeiros datam de 1700 a.C. e sua finalidade inicial era a de reclusão dos
escravos angariados como espólios de guerra.
Beccaria (1999) é um precursor, é um pioneiro da defesa dos direitos humanos. Ele
insurgiria contra as leis “que deveria ser convenções entre homens livres”, com a finalidade
de dirigir as ações da sociedade em benefício da maioria, mas que se transformavam em
“instrumentos das paixões da maioria”, e se revolta contra a “insensível atrocidade que os
homens poderosos encaram como um dos seus direitos: [...] os dolorosos gemidos do fraco,
sacrificado a ignorância cruel e aos
opulentos covardes; os tormentos atrozes que a barbárie inflige por crimes sem provas, ou
por delitos quiméricos, o aspecto abominável dos xadrezes e das masmorras, cujo horror é
ainda aumentado pelo suplício mais insuportável para os infelizes - a incerteza, tantos
métodos odiosos, espalhados por toda porte, deveriam ter despertado a atenção dos
filósofos, essa espécie de magistrados que dirigem as opiniões humanas.
Existem várias formas de punir o condenado no processo penal, entretanto, nos
restringirmos ao estudo da pena de prisão. Para melhor exposição da parte histórica,
estabelecemos sua divisão por períodos.
Durante a história da humanidade, a pena aparece como um dado cultural e nunca se
afastou do homem. A pena sempre foi tratada como um fenômeno constante, logo, vem
sofrendo um processo de evolução comparada com as novas civilizações que vão surgindo.
Desta forma as teorias que procuram explicá-la, submetem-se a evolução geral de seu
conceito. Assim sendo, as ideias e conceitos sobre os fins da pena se associam as ideias ou
necessidades que surgem, em épocas e períodos que o assunto retoma espaço dentro da
própria sociedade.
A pena em sua origem era considerada como uma vindita, pois naquela época pode se
compreender que naquelas criaturas, dominadas apenas pelo instinto, o revide à agressão
sofrida deveria ser total, deixando de existir qualquer preocupação com a proporção da
agressão sofrida e muito menos pensar-se em justiça. (NORONHA,2009).
A fase primitiva foi dividida em dois períodos: o primeiro, denominado Consuetudinário ou
de Reparação, caracterizou-se pela vingança privada, divina e pública. O segundo,
conhecido por Direito Penal Comum, resultou da combinação do Direito grego, romano,
germânico e canônico, com ênfase na intimidação e expiação.
A fase humanitária, também chamada Clássica, caracterizou-se pela reação às atrocidades
dos castigos aplicados e pela transformação do direito punitivo, humanizando as penas e
evidenciando o respeito à dignidade humana. (TEIXEIRA, 2008).
O Período Humanitário suscitava, na consciência comum, a necessidade de modificações e
reformas no direito repressivo. Caracterizou-se pelo princípio inspirado pela expiação
emenda do condenado. O intérprete desse anseio foi César
Bonesana, Marquês de Beccaria, que se dedicou às pessoas infelizes e desgraçadas que
sofriam os rigores e as arbitrariedades da justiça da época.
Após o Período Humanitário, novos rumos para o Direito Penal são traçados e que se
ocupam com o estudo do homem delinquente e explicação causal do delito. Aparecendo a
figura do médico Cesar Lombroso, 1875, que ao contrário de considerar o crime como fruto
do livre arbítrio e entidade jurídica, tem no qual manifestação da personalidade humana e
produto de várias causas. A pena não possui fim retributivo, mas, sobretudo, de defesa
social e recuperação do criminoso, necessitando, então, ser individualizado o que
evidentemente supõe o conhecimento da personalidade daquela a quem será aplicada. O
ponto central de Lombroso é a consideração do delito como fenômeno biológico e o uso de
método experimental para estudá-lo. (SALA, 2000).
A fase científica contemporânea, ou Escola Positiva, foi subdividida em três períodos:
primeiro, o Antropológico, no qual se dava especial valor a fatores biológicos, físicos e
psíquicos do criminoso; o segundo, Sociológico, onde se procurou dar especial destaque às
influências externas que atuavam sobre o criminoso e o crime como fenômeno social; e o
terceiro, o Jurídico, em que, por meio dos estudos já desenvolvidos, deu-se estrutura aos
princípios já estabelecidos.
A vingança privada se caracteriza principalmente pela reação à agressão, como regra. No
início reação do indivíduo contra o indivíduo, depois não só dele como de seu grupo e mais
tarde o aglomerado social colocava-se ao lado deste. A reação era puramente pessoal, sem
intervenção ou auxílio de estranhos. Surge como primeira conquista no terreno repressivo,
o talião, por ele delimita-se o castigo; a vingança não seria mais arbitrária e
desproporcionada.
Na Vingança Privada, cometido um crime, ocorria à reação da vítima e\ou de seus parentes
e\ou até de seu grupo social (clã, família ou tribo), que agiam de forma desmedida, sem se
preocuparem com proporção à ofensa, podendo atingir não só o ofensor, mas, caso
quisessem, também todo o seu grupo.
Essa vingança do particular realizava-se através de um ato de guerra contra o ofensor,
restando claro que o ofendido pegava as armas de que dispunha e guerreava contra o seu
agressor. Era a chamada “Vingança de Sangue”, considerada como verdadeira guerra
movida pelo grupo ofendido àquele que pertencia o ofensor, culminando, não raro, com a
eliminação completa de um dos grupos. (GARCES,1972).
Imperava, contudo, a lei do mais forte e não havia preocupação em se fazer justiça ou em
avaliar a proporcionalidade da pena. Na verdade, impunha-se pela força, contra o ofensor, o
castigo que o ofendido quisesse.
Vale destacar que, de regra, a guerra ou duelo era travado contra um grupo ofensor
estranho ao clã, família ou tribo, todavia, não era também incomum envolver membros de
um mesmo grupamento humano. Neste caso, o vencedor normalmente impunha ao vencido
a pena de banimento, e este, daí para frente, passaria a viver isoladamente, enfrentando
todas as adversidades do meio, e isso, invariavelmente, o levava à morte, quer pela extrema
dificuldade de se viver sozinho, quer pela sujeição que ficava aos ataques de antigas tribos
rivais. (MIRABETE,1992).
A pena, então, tinha, em essência, a ideia de castigo, de retribuição, sem nenhuma
preocupação, repita-se, com proporção à ofensa praticada pelo vencido.
É nessa época que surge um novo alento com a Pena de Talião, também conhecida como Lei
da Retaliação, espécie do direito vindicativo, que consistia em infligir ao agressor um dano
ou mau idêntico ao que ele causara à sua vítima. O instituto do talião foi seguido em várias
ordenações, valendo citar o Código de Hamurábi, da Babilônia (séc. XVIII a. C.), os livros da
Bíblia (Pentateuco) e a Lei das XII Tábuas, de Roma (séc. V a. C.). (TEIXEIRA, 2008).
Na fase da Vingança Divina já existe um poder social capaz de impor aos homens normas de
conduta e castigo. Pune-se com rigor, antes com notória crueldade, pois o castigo deve
estar em relação com a grandeza do deus ofendido. E o direito penal religioso, teocrático e
sacerdotal, tinha por princípio a purificação da alma do criminoso através do castigo, para
que pudesse alcançar a bem- aventurança. (SALA,2000).
A diferença básica era que nesta fase já se começava a esboçar um poder de coesão social
capaz de estabelecer condutas sob pena de castigos.
A repressão ou castigo era voltado à satisfação da divindade ofendida pelo crime, cabendo
ao sacerdote à imposição de rigoroso castigo, aplicado com notória crueldade, uma vez que
guardava relação com a grandeza do deus ofendido.
As penas eram severas e desumanas, visando especialmente à intimidação. (TEIXEIRA,
2008).
O que caracteriza a Vingança Pública e que o objetivo era a segurança do príncipe ou
soberano, através da pena, severa e cruel. O princípio básico era lastreado na expiação e
intimidação. (SALA, 2000).
A pena, como antes, mostrava-se severa e cruel, buscando proteger o príncipe ou soberano
que, diga-se, afirmava agir em nome da divindade, ainda confundindo a punição com a ideia
de religião.
Vale registrar que os príncipes ou soberanos viam na pena mais do que uma forma de
punir, simplesmente. Era ela o símbolo do poder, uma forma de amedrontar todos aqueles
que se opusessem aos interesses dos governantes. As penas eram, de regra, aplicadas em
praça pública, com obrigação dos populares assistirem aos martírios e suplícios. Havia
dilacerações, mutilações, penas capitais, exposição de vísceras, tudo como forma de
demonstrar o poder absoluto do soberano.
Em processo de evolução, ao final desse período, a pena livrou-se de seu caráter religioso,
transformando a responsabilidade do grupo em individual, o que, apesar de estar longe da
ideia de pena que hoje vigora, representou efetiva contribuição ao aperfeiçoamento de
humanização dos costumes penais. (MIRABETE, 1992).
No contexto histórico das sociedades greco-romanas, a rigidez estrutural da família e os
cultos dedicados aos diversos deuses delineiam as principais características dessas
sociedades antigas, fundamentadas na dedicação da crença politeísta e no poder absoluto
da autoridade paternalista.
A rigidez social se mostrava inflexível no tratamento destinado aos infratores que
cometessem atos considerados possíveis atentados aos interesses do grupo social. Os
romanos foram grandes difusores e arquitetos do que viriam a serem os fundamentos do
direito penal nas épocas mais tardias das civilizações ocidentais.
Por volta do século XIII, a idade média das civilizações ocidentais foi marcada
profundamente pela atuação da igreja católica através do direito canônico nos campos
social e econômico. As civilizações enxergavam no direito canônico a luta pela humanização
das penas, que no passado retirou a vida de inúmeras pessoas pela prática de sanções
capitais e aflitivas.
O direito canônico, que nasceu no século XIII e se estendeu até o século XVIII (precedente a
Revolução Francesa), promulgou incansavelmente o direito penal como caráter público,
para que sua abrangência de atuação fosse a mais extensa possível e que pudesse ser
reconhecida como ferramenta de educação social.
Diante a extensa gama de crimes praticados pelas pessoas, a igreja os entendia como
possíveis fraquezas do ser humano e que penas haveriam de
mostrar claramente os erros cometidos pelos infratores. A prática do crime passaria a ser
vista como uma forma de expiação ao homem. (BELÉM,2011).
A pena privativa de liberdade perde sua real eficácia quando deixa de ser praticada
concomitantemente com a intenção de reeducação e reintegração do criminoso a
sociedade.
Na esfera da nossa sociedade, a doutrina brasileira tenta dosar um equilíbrio no
cumprimento das penas através da fusão entre as teorias retributiva e punitiva. Com a
constante expansão da criminalidade, a sociedade exige o prolongamento das penas
privativas de liberdade e a redução da maioridade penal, e o estado alimenta uma estrutura
judiciária obsoleta e um sistema penitenciário falido, ineficiente, descumpridor da
responsabilidade social de reeducação do criminoso.
A prisão figurando como pena é de aparecimento tardio na história do direito penal. No
Brasil não foi diferente. No princípio, a prisão como cárcere era aplicada apenas aos
acusados que estavam à espera de julgamento. Essa situação perdurou durante as
Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, as quais tinham por base um direito penal
baseado na brutalidade das sanções corporais e na violação dos direitos do acusado.
Essa situação perdurou até a introdução do Código Criminal do Império, em 1830. Este
estatuto já trazia consigo ideias de justiça e de equidade, influenciado pelas ideias liberais
que inspiraram as leis penais europeias e dos Estados Unidos, objeto das novas correntes
de pensamento e das novas escolas penais.
As leis penais sofreram sensíveis mudanças ao final do século XIX em razão da Abolição da
Escravatura e da Proclamação da República. O Código Penal da República, de 1890, já
previa diversas modalidades de prisão, como a prisão celular, a reclusão, a prisão com
trabalho forçado e a prisão disciplinar, sendo que cada modalidade era cumprida em
estabelecimento penal específico.
Já no início do século XX, a prisões brasileiras já apresentavam precariedade de condições,
superlotação e o problema da não separação entre presos condenados e aqueles que eram
mantidos sob custódia durante a instrução criminal.Em 1940, é publicado através de
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940, o atual Código Penal Brasileiro, o qual trazia várias inovações e tinha por princípio a
moderação por parte do poder punitivo do Estado. No entanto, a situação prisional já era
tratada com descaso pelo Poder Público e já era observado àquela época o problema das
superlotações das prisões, da promiscuidade entre os
detentos, do desrespeito aos princípios de relacionamento humano e da falta de
aconselhamento e orientação do preso visando sua regeneração. (ASSIS, 2007).
Privando o ser humano de sua liberdade, como forma de punição pela prática de delitos, de
crimes, fez surgir estabelecimentos destinados a guardar indivíduos que apresentassem
riscos para a sociedade.
A pena deve ser cumprida em sistema progressivo, como forma de humanizar a pena e
incentivar o condenado a reabilitar-se por seus méritos, sendo de suma importância o
cumprimento de suas determinações para a efetiva recuperação dos infratores.
O Estado deveria criar outras e estruturar as unidades já existentes desta natureza, para
que estas recebam maior número de apenados, os quais se encontram em verdadeiros
depósitos de homens, na maioria das vezes sem ter uma ocupação e uma perspectiva de
melhora. (OLIVEIRA, 1997).
A ciência penitenciária é assunto novo em se comparando com outros ramos da Ciência
Jurídica e se formou a partir de estudos enfocados na organização das prisões, dos regimes
disciplinares, dos direitos e deveres do preso, das regras mínimas para a prisão, das penas
aplicáveis e, ainda, da arquitetura prisional, firmando-se no cenário mundial a partir do X
Congresso Penal e Penitenciário Internacional, em Praga, na República Checa, no ano de
1930.
Fundada na ideia de individualização da pena, as Regras Mínimas para Tratamento do
Preso apontaram para a exigência de um estudo da personalidade e um programa para
tratamento individual do encarcerado, referenciando ainda sobre a vedação a qualquer
espécie de discriminação (cor, raça, língua, religião etc.) como critério de separação de
presos no interior das prisões, além de orientar sobre higiene e serviços médicos no
cárcere, espaço físico e forma de punição, vedação à punição desumana, cruel ou
degradante, bem como o bis in idem, ou seja, a dupla punição pelo mesmo fato criminoso.
(TEIXEIRA,2008).
O Direito penitenciário se perfaz a partir de um compêndio de normas que visam nortear o
tratamento pelo qual terá os sentenciados. Já a Penalogia é um ciência essencialmente
comportamental, ou seja, é o estudo do fenômeno social com o objetivo de tratar os
delinquentes, estudar suas personalidades, é uma ciência chamada causal explicativa
inserida nas ciências humanas e não só isso, estuda medidas alternativas para a prisão,
medidas de segurança, o tratamento reeducativo e principalmente a organização
penitenciária.
Com o crescimento da criminalidade, o Estado é cobrado a dar uma resposta à sociedade,
aplicando a devida sanção ao indivíduo que pratica o que doutrinariamente é chamado de
conduta típica, ou seja, a prisão (via de regra é claro). Podemos observar que “o todo” acaba
se tornando um efeito dominó, ou seja, a desigualdade social aumenta, dentre diversas
consequências, a criminalidade aumenta e o Estado, em seu “poder de império” aplica a
sanção penal aos indivíduos que violam a lei. Sendo levados ao cárcere, surge o grande
problema (dentre vários) que aflige nossa sociedade: o sistema carcerário. Para que
possamos diluir tal assunto, se faz necessário a compreensão do direito penitenciário, bem
como a evolução da pena prisional.
Durante anos, o condenado fora tratado sempre como um objeto, ou seja, era aquela pessoa
que praticou um crime e precisava pagar por seus atos. Por volta do século XVIII é que
surgiu o estudo do Direito Penitenciário, formando um elo do Direito Público entre o
Estado e o condenado reconhecendo assim, os direitos da pessoa humana que até então
eram ignorados, se tornando o marco inicial da proteção ao apenado.
Já no século XX, percebeu-se que a execução penal apresentava sérios problemas. Houve
então uma unificação orgânica onde o Direito Penal e Processual, atividade da
administração e função jurisdicional obedeceram a uma profunda lei de adequação às
exigências modernas da Execução Penal. Com o código penal de 1930, surgem dessa
adequação dois princípios: A individualização da execução e o reconhecimento dos direitos
subjetivos do condenado.
No Brasil, o primeiro Código Penal individualizou as penas, mas somente no segundo
Código é que realmente houve o surgimento do pensamento correcional do regime
penitenciário, com a finalidade de reintegrar o detento a sociedade. Surgem então os mais
modernos estabelecimentos carcerários da época: Walnut Street Jail, na Filadélfia em 1929;
Auburn, Nova York em 1817; e o sistema da Pensilvânia, todos na terra do Tio Sam. Esses
sistemas, embora baseados no isolamento, eram tidos como exemplos, pois reeducava o
detento de seus maus hábitos, a conscientização de seus atos para que assim o mesmo
respeitasse a ordem e autoridade.
Percebe-se que a realidade prisional hoje no Brasil é totalmente destoante do modelo
acima elencado. Os presos são segregados em cadeias públicas, mesmo muitos do que estão
ali ainda estejam esperando julgamento, mas são tratados
como se já tivessem sido condenados (não que os condenados devem ser tratados dessa
forma, pelo contrário) em virtude da inexistência de vagas nas penitenciárias. Estas, que se
apresentam superlotadas, acarretando abusos sexuais, a presença de substâncias
entorpecentes e a falta de higiene causando diversas doenças. (ROBERTO JUNIOR, 2010).
A prisão em si é uma violência amparada pela lei. O desrespeito aos direitos dos presos é
uma violência contra a lei. Autoridades devem ter em mente que o simples fato de aplicar
uma pena severa ao preso não será uma garantia de que este estará totalmente recuperado
e sim, muitas vezes, o tomará mais revoltado com a situação e o total descaso pelas
condições subumanas a que foi submetido.
Assim, para que possamos ter uma sociedade organizada e segura é de suma importância
que comecemos a rever nossos conceitos em certos assuntos, pois seria e é muito mais fácil
deixar toda a culpa para os políticos, mas temos que começar a agir com relação a tal tema,
oferecendo também uma oportunidade de uma vida melhor, não precisa ser com emprego,
mas uma simples atenção, um diálogo que realmente é o que muitos desses indivíduos não
tiveram, pois uma palavra de afeto e consideração pode mudar uma vida.
ESTABELECIMENTOS PENITENCIÁRIOS
O sistema penitenciário brasileiro vive, ao final deste século XX, uma verdadeira falência
gerencial. A nossa realidade penitenciária é arcaica, os estabelecimentos prisionais, na sua
grande maioria, representam para os reclusos um verdadeiro inferno em vida, onde o preso
se amontoa a outros em celas sujas, úmidas, anti-higiênicas e superlotadas.
Por sua vez, a promiscuidade interna das prisões, é tamanha, que faz com que o preso, com
o tempo, perca o sentido de dignidade e honra que ainda lhes resta, ou seja, em vez do
Estado, através do cumprimento da pena, nortear a sua reintegração ao meio social,
dotando o preso de capacidade ética, profissional e de honra, age de forma contrária,
inserindo o condenado num sistema que para Oliveira (1997, p. 55) nada mais é do que:
Um aparelho destruidor de sua personalidade, pelo qual: não serve o que diz servir;
neutraliza a formação ou o desenvolvimento de valores; estigmatiza o ser humano;
funciona como máquina de reprodução da carreira no crime; introduz na personalidade e
prisionalização da nefasta cultura carcerária; estimula o processo de despersonalização;
legitima o desrespeito aos direitos humanos.
São várias as finalidades que o regime prisional visa alcançar. Augusto Thompson enumera
essa multiplicidade de fins em: “confinamento, ordem interna, punição, intimidação
particular e geral e regeneração”. Outra finalidade de grande importância não mencionada
seria a necessidade de fornecer ao preso um aprendizado técnico ou profissional que lhe
permita exercer uma atividade laborativa honesta, para que assim se adapte de forma
completa à sociedade. (KRUCHINSKI JUNIOR, 2009).
A prisão torna-se uma aparelhagem para tornar os indivíduos dóceis e úteis correndo o
risco de constituir-se em uma oficina qualificadora de mão de obra, produzindo indivíduos
mecanizados segundo as normas gerais de uma sociedade industrial, mas, porém
impossibilitada de eliminar o desemprego, pois dificilmente através da profissionalização
os reeducando, ao sair da prisão, conseguirão emprego, pois carregam consigo o estigma de
ex-presidiários, além de que o próprio mercado não absorve os trabalhadores existentes.
Sabe-se que existem inúmeras repercussões negativas com o encarceramento, pois o
sistema prisional exerce influência não apenas no reeducando que é privado de liberdade,
mas também em toda a família. Contudo, é importante percebermos que, apesar de toda a
problemática enfrentada com o aprisionamento, a família busca estratégias para se adaptar
à nova situação, portanto estas transformações tanto em sua composição quanto em seu
cotidiano não significam desestruturação, mas sim a organização de forma diferente
segundo as suas necessidades. E que apesar de grande parte da população está acostumada
com as práticas de caridade e assistencialismo é possível oferecer uma intervenção
diferenciada, pois analisando a realidade percebemos que a população demanda o que lhes
é oferecido, se a oferta for caridade e filantropia é isto que a população vai desejar, porém
se a proposta for diferente e de interesse da população esta passará a demandá-la.
(KLEIN,2004).
O sistema penitenciário brasileiro contempla vários tipos de unidades prisionais, sendo a
destinação para presos provisórios, denominadas: CDP ou Presídio e a condenados:
Penitenciária, Colônia ou similar e Albergue; regimes: fechado, semiaberto e aberto
respectivamente. Os conjuntos penais são unidades híbridas, capazes de custodiar internos
nos diversos regimes, como também, presos provisórios, ao mesmo tempo.
O sistema carcerário brasileiro, na quase totalidade, é formado por unidades pertencentes
à esfera estadual de governo, a imensa maioria com excesso populacional carcerário, não
possibilitando aos administradores, por falta de espaço físico, a individualização da pena,
muitas vezes não havendo condições para separação entre os presos provisórios e os
condenados, descumprindo uma norma da Lei de Execução Penal, que estabelece a custódia
separada entre processados e sentenciados, e estes, pelos respectivos regimes. (SENNA,
2008).
Centro de Observação
O centro de observação, bem como a sua função e localização, está previsto nos arts. 96 e
97 da Lei de Execucoes Penais, Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984.
Mas, como acontece com a casa do albergado, nunca foi implantado da maneira
estabelecida em lei. “Na maior parte do País não existe qualquer tipo de
centro de observação, sendo que os condenados são classificados segundo os crimes que
cometeram quantidade de pena etc.”. (MESQUITA JÚNIOR, 2005).
É o local onde serão realizados os exames gerais e o exame criminológico, cujos resultados
serão encaminhados à Comissão Técnica de Classificação. Pode ser uma unidade autônoma
ou em anexo a estabelecimento penal e onde serão realizadas as pesquisas criminológicas.
Pode-se afirmar que o exame criminológico é um instrumento técnico- científico de
avaliação da periculosidade da clientela mais desajustada ao convívio na sociedade,
constituindo-se no meio judicial de se evitar a reincidência e as reinserções antecipadas
dos condenados por fatos gravemente censurados, com maior margem de risco social,
enquanto tivermos que admitir a pena privativa de liberdade como última solução para a
criminalidade. (COSTA,2006).
Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP)
O HCTP é um estabelecimento penal para o qual são destinadas às pessoas que cometeram
fato típico, mas são inimputáveis ou semi-imputáveis elencados no art. 26 do CP e que são
submetidos à medida de segurança, conforme estabelece o art. 99 da LEP/1984.
A sua característica estrutural é de um hospital-presídio, que tem por objetivo o
tratamento psiquiátrico e a custódia do internado, sendo que para isso, sua liberdade de
locomoção é restringida. Tal ambiente deve ser salutar, para possibilitar condições de
melhora ou de restabelecimento. (MIRABETE, 2004).
Destina-se aos inimputáveis e semi-imputáveis, sendo obrigatória a realização do exame
psiquiátrico e demais exames para o tratamento dos internados. O tratamento ambulatorial
será nele realizado ou em outro local com dependência médica adequada.
Cadeia Pública
A separação instituída com a destinação a Cadeia Pública é necessária, pois a finalidade da
prisão provisória é apenas a custódia daquele a quem se imputa a prática do crime a fim de
que fique à disposição da autoridade judicial durante o inquérito ou ação penal e não para
cumprimento da pena, que não foi imposta ou que não é definitiva. Como a Execução Penal
somente pode ser iniciada após o trânsito em julgado da sentença, a prisão provisória não
deve ter outras limitações senão as determinadas pela custódia e pela segurança e ordem
dos estabelecimentos. Evita-se, com a separação do preso irrecorrivelmente condenado, a
influência negativa que este possa ter em relação ao preso provisório.
Um grande número de presos no Brasil permanece por longos períodos de tempo sob
custódia da polícia. De fato, em alguns estados, as proporções normais são revertidas: o
sistema penitenciário mantém apenas uma fração da população carcerária e a autoridade
policial uma grande fração de presos sob sua custódia.
As Cadeias Públicas são destinadas apenas aos indivíduos que aguardam julgamento, mas
nelas misturam-se indiciados, denunciados e condenados por crimes de diversas
gravidades. Suas celas ou xadrezes não possuem infraestrutura razoável para acomodar os
presos em condições mínimas de dignidade, o que constitui violação frontal a dispositivos
de nossa Carta Magna e, consequente, à legislação infraconstitucional correspondente,
especialmente aos arts. 88 e 104 ambos da LEP ( Lei de Execução Penal). (FOUCAULT,
2007).
A Cadeia Pública, ao contrário dos outros estabelecimentos penais mencionados acima, é o
local previsto legalmente para o recolhimento dos presos provisórios. A redação do art.
102 da LEP/1984 não deixa dúvida, “a cadeia pública destina-se ao recolhimento de presos
provisórios”.
Mirabete explica que são presos provisórios, nos termos do Código de Processo Penal: o
autuado em flagrante delito, o preso preventivamente, o pronunciado para julgamento
perante o Tribunal do Júri, o condenado por sentença recorrível e o preso submetido à
prisão temporária, este último devendo ficar separado dos outros presos. (MIRABETE,
2004).
Portanto, a finalidade da Cadeia Pública é custodiar os presos provisórios para que fiquem
à disposição da justiça durante o inquérito policial e a ação penal e não para ser usada para
o cumprimento de pena.
Destina-se ao recolhimento de presos provisórios, localizado próximo ao centro urbano e
ser dotado de cela individual com área mínima de seis metros quadrados. Também ficarão
alojados os sujeitos à prisão civil e administrativa, em seção especial. (COSTA, 2006).
Está previsto ainda, no art. 103 da LEP/1984,in verbis, “cada comarca terá, pelo menos 1
(uma) Cadeia Pública a fim de resguardar o interesse da Administração da Justiça Criminal
e a permanência do preso em local próximo ao seu meio social e familiar”.
Acontece que dificilmente as comarcas são dotadas de cadeia pública e quando são criadas
novas comarcas esse requisito é esquecido, fazendo com que as pessoas que são presas
provisoriamente sejam colocadas em presídios, às vezes distante da família e do Juízo pelo
qual está respondendo.
A Cadeia Pública também é o local onde devem ficar os presos civis, ou seja, aqueles que
são presos por inadimplemento da prestação alimentícia, contudo, devem
obrigatoriamente ficar em local separado dos demais. (PERIN, 2008).
Penitenciária
Destina-se ao condenado a pena de reclusão em regime fechado, construída em local
afastado do centro urbano, alojando o condenado em cela individual com área mínima de
seis metros quadrados, contendo dormitório, aparelho sanitário e lavatório, com
salubridade, isolação e condicionamento térmico. (COSTA, 2006).
No decorrer da história, o conceito de penitenciária mudou bastante. No século XVIII, os
devedores do governo passavam meses isolados em porões. Em geral, a punição terminava
com espancamento, tortura e a pena de morte. No século seguinte, a ideia de
enclausuramento e isolamento foi muito difundida. Acreditava-se que, só ficando sozinho, o
preso seria penitente e poderia ser “reformado”. No final do século XIX, as primeiras
experiências de trabalhos coletivos em colônias agrícolas apareceram nos Estados Unidos.
A curiosidade é que havia também uma lei do silêncio. Enquanto trabalhavam, os presos
não podiam trocar uma palavra sequer entre si. Caso o fizessem, eram transferidos para a
solitária. O conceito de mega complexos penitenciários foi introduzido por volta de 1930,
com a inauguração do presídio de Alcatraz,nos Estados Unidos.Celebrado Em Filmes Livros,
Alcatraz
simbolizava o controle total do Estado. Dali, não se fugia e se controlava todos os passos do
preso. A decadência e o consequente fechamento de Alcatraz se deram exatamente depois
da fuga de alguns detentos. Atualmente, as prisões menos populosas, com presos separados
pelo grau de periculosidade, são uma ideia difundida em âmbito internacional. (PINHEIRO,
2000).
Penitenciária é para aqueles que já foram condenados. Em termos de higiene e alimentação
é um pouco melhor, se comparada a uma cadeia pública, pois a superlotação é mais difícil
de ocorrer porque a maioria dos condenados ainda está nas cadeias públicas.
O conceito de Presídio pode ser definido como uma instância que visa acolher, detentos em
regime de processo de condenação, pessoas que cometeram atos antissociais. Na prisão
esperam pela sentença. O presídio na verdade apenas guarda o detento provisoriamente.
Depois de julgado, o detento, passa então a ficar encarcerado em uma Penitenciária.
Penitenciária é uma unidade prisional que recebe os detentos sentenciados, julgados e
condenados. É na penitenciária que os mesmos ficam até o final da sua pena.
Fisicamente, o presídio é um local gradeado em suas janelas e portas, seus muros externos
são altos e dotados de guaritas de segurança. De acordo com as normas brasileiras quanto à
LEP/1984, as celas devem possuir, no mínimo, 6m², ventilação adequada (arejadas) e
condições humanas de sobrevivência para os seus atuais e futuros ocupantes.
No entanto as unidades prisionais brasileiras não oferecem uma estrutura nem física, nem
humana, o sistema precisa de mudanças emergenciais para poder colher os detentos numa
forma mais humana. E assim tentar ressocializar o preso de forma mais rápida.
(VIEIRA,2011).
Porquanto, o caráter sócio-educativo das penas nem de longe atende à sua finalidade, que é
reeducar e ressocializar os presos para reinseri-los na convivência social. Esses apenados
são, na verdade, amontoados em lugares, muitas vezes insalubres, e lá são esquecidos à
margem da dignidade mínima do indivíduo.
Colônia Agrícola ou Industrial
Destina-se ao cumprimento da pena em regime semiaberto, podendo o apenado ser alojado
em compartimento coletivo, obedecidos os requisitos da seleção adequada e o limite da
capacidade máxima para os fins de individualização da pena. (COSTA,2006).
Há condenados que, em razão de sua personalidade e do tipo de delito cometido ou pena
aplicada, só não fogem da prisão diante do aparato físico da arquitetura e da vigilância
constante sobre eles exercida; há outros que, com a aceitação da sentença condenatória e
da pena aplicada, submetem-se à disciplina do estabelecimento, sem conflitos e sem
intentar fuga. Assim, ao lado dos estabelecimentos penais com condições de manter a
disciplina e evitar fuga, é preciso que existam outros para os condenados que, capazes de
observar a disciplina, são guiados pelo seu senso de responsabilidade estão aptos a
descontar a pena de regime aberto.
Como bem assinala Miotto (1992, p. 35), entre a prisão fechada, servida de aparatos físicos
ou materiais que lhe garantem máxima em favor da disciplina e contra as fugas, e a prisão
aberta, despida de quaisquer aparatos semelhantes, existe um meio termo, que é
constituído pela prisão semiaberta. Além disso, a evolução da pena se mostrou se
necessária à redução ao máximo possível do período de encerramento na prisão de
segurança máxima. Daí a origem da prisão semiaberta como estabelecimento destinado a
receber o preso na sua transição do regime fechado tradicional para o regime aberto ou de
liberdade condicional.
A Colônia Agrícola, industrial ou similar destina-se ao cumprimento da pena em regime
semiaberto, conforme determina o artigo 91 da LEP/1984. O par do inegável avanço com o
sistema de prisão semi aberta notou-se nele alguns inconvenientes, entre os quais o de
estarem os estabelecimentos situados na zona rural e serem destinados ao trabalho
agrícola, situações a que não se adaptaram os condenados das cidades. Contornando tal
dificuldade idealizou-se um sistema misto, com setores industriais nas prisões semiabertas
ou mesmo com a instalação de colônias industriais. Em razão disso, a lei de execução
destina esses condenados a cumprir a pena em semiaberto às colônia agrícolas, industriais
ou similar (entre esta a agroindustrial).
Funda-se o regime parcialmente na capacidade do senso de responsabilidade do
condenado, estimulado e valorizado, que o leva a cumprir com os deveres próprios do seu
status, em especial o de trabalhar, submeter-se à disciplina e não fugir. Diante da legislação
brasileira, que destinou os estabelecimentos de segurança média para os condenados que
cumprem a pena em regime fechado (penitenciárias), a prisão semiaberta deve estar
subordinada apenas a um mínimo de segurança e vigilância. Nela, os presos devem
movimentar-se com relativa liberdade, a guarda do presídio não deve estar armada, a
vigilância deve ser discreta e o sentido de responsabilidade do preso enfatizado. (LEITE et
al.2011).
Casa do Albergado
Destina-se ao cumprimento da pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de
limitação de fim de semana, devendo ficar situado no centro urbano, ausentes obstáculos
físicos contra a fuga, possuir local próprio para cursos e palestras e orientação dos
condenados. (COSTA, 2006).
A casa de albergado é o estabelecimento penitenciário destinado à execução do regime
aberto de cumprimento da pena privativa de liberdade.
A casa de albergado deve ser posta em centros urbanos e não pode ter obstáculos para a
fuga, haja vista que o regime aberto é fundado no princípio da responsabilidade e da
autodisciplina do condenado. Deve, ainda, ser dotada de aposentos para acomodar os
condenados, além de instalações para o pessoal do serviço de fiscalização e orientação.
(MENDONÇA, 2005).
A Casa do Albergado foi criada pela Lei n.º 1694, de 15 de julho de 1985, é um
estabelecimento de segurança mínima, baseado na autodisciplina e senso de
responsabilidade do condenado e destina-se ao cumprimento de penas em regime aberto e
da pena de limitação de fim de semana, sendo diretamente subordinada à Secretaria de
Estado de Justiça e Direitos Humanos –SEJUS.
Sabe-se que as penitenciárias brasileiras passam longe das descrições da lei, demonstrando
as falhas de um sistema corrupto, não confiável e que sofre com a falta de infraestrutura
necessária para garantir o devido cumprimento da lei. Em face disso, a sociedade se
apresenta descrente na ressocialização do preso, continuando
a vê-lo como um preso, o qual, apenas, tem direito a permanecer extramuros, rejeitando-o.
É neste momento que o egresso encontra maiores dificuldades, pois além de enfrentar a
exclusão social, depara-se com a atual situação brasileira, cujos índices de desemprego e de
criminalidade aumentam a cada dia, o que o impossibilita ensejo para auferir mesmo as
condições mínimas para uma vida digna.
A INEFICÁCIA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO
Sabemos que o sistema carcerário no Brasil está falido. A precariedade e as condições
subumanas que os detentos vivem hoje são de muita violência. Os presídios se tornaram
depósitos humanos, onde a superlotação acarreta violência sexual entre presos, faz com
que doenças graves se proliferam, as drogas cada vez mais são apreendidas dentro dos
presídios, e o mais forte, subordina o mais fraco.
O artigo 5º, XLIX, da CRFB/1988, prevê que “é assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral”, mas o Estado não garante a execução da lei. Seja por descaso do
governo, pelo descaso da sociedade que muitas vezes se sente aprisionada pelo medo e
insegurança, seja pela corrupção dentro dos presídios. (CAMARGO,2006).
Compulsando o histórico da formação do sistema penitenciário, observa-se que desde os
tempos mais remotos, em diversos países a perspectiva é crítica. Neste sentido, segue uma
tradição com mazelas que acompanham o sistema prisional desde sua fundação e no Brasil
a questão penitenciária é ainda mais precária.
“Nós temos depósitos humanos, escolas de crime, fábrica de rebeliões.” Não podemos mais
“tapar o sol com a peneira”, e fingir que o fato em questão não nos diz respeito. O Brasil
possui um dos maiores sistemas prisional do planeta e são notórias as condições cruéis e
desumanas de cumprimento de pena em nosso país. As condições sanitárias são
vergonhosas e as condições de cumprimento da pena beiram a barbárie. (SENNA, 2008).
Dessa forma, o Direito Penal, assim como as prisões,estariam servindo de instrumento para
conter aqueles não “adequados” às exigências do modelo econômico neoliberal excludente,
que são os miseráveis que acabam não resistindo à pobreza e acabam sucumbindo às
tentações do crime tornando-se delinquentes.Assim, o sistema penal e, consequentemente
o sistema prisional,não obstante sejam apresentados como sendo de natureza
igualitária,visando atingir indistintamente as pessoas em função de suas condutas, têm na
verdade um caráter eminentemente seletivo, estando estatística e estruturalmente
direcionado às
camadas menos favorecidas da sociedade. (ASSIS, 2011).
Mudanças radicais neste sistema se fazem urgentes, pois as penitenciárias se
transformaram em verdadeiras “usinas de revolta humana”, uma bomba-relógio que o
judiciário brasileiro criou no passado a partir de uma legislação que hoje não pode mais ser
vista como modelo primordial para a carceragem no país. Ocorre a necessidade urgente de
modernização da arquitetura penitenciária, a sua descentralização com a construção de
novas cadeias pelo Estado, ampla assistência jurídica, melhoria de assistência médica,
psicológica e social, ampliação dos projetos visando o trabalho do preso e a ocupação,
separação entre presos primários e reincidentes, acompanhamento na sua reintegração à
vida social, bem como oferecimento de garantias de seu retorno ao mercado de trabalho
entre outras medidas.
Segundo Ottoboni (2001) o delinquente é condenado e preso por imposição da sociedade,
ao passo que recuperá-lo é um imperativo de ordem moral, do qual ninguém deve se
escusar. A sociedade somente se sentirá protegida quando o preso for recuperado. A prisão
existe por castigo e não para castigar, jamais devemos nos esquecer disso. O Estado não se
julga responsável pela obrigação no que diz respeito ao condenado. A superlotação é
inevitável, pois além da falta de novos estabelecimentos, muitos ali se encontram já com
penas cumpridas e são esquecidos. A falta de capacitação dos agentes, a corrupção, a falta
de higiene e assistência ao condenado também são fatores que contribuem para a falência.
O Estado tenta realizar, na prisão, durante o cumprimento da pena, tudo quanto deveria ter
proporcionado ao cidadão, em época oportuna e, criminosamente deixou de fazê-lo. Mas
este mesmo Estado continua a praticar o crime, fazendo com que as prisões fabriquem
delinquentes mais perigosos, e de dentro das cadeias os presos continuam praticando
crimes e comandando quadrilhas.
A doutrina penitenciária moderna, com acertado critério, proclama a tese de que o preso,
mesmo após a condenação, continua titular de todos os direitos que não foram atingidos
pelo internamento prisional decorrente da sentença condenatória em que se impôs uma
pena privativa de liberdade. Com a condenação, cria-se especial relação de sujeição que se
traduz em complexa relação jurídica entre o Estado e o condenado em que, ao lado dos
direitos daquele, que constituem os deveres do preso, encontram-se os direitos deste, a
serem respeitados pela Administração. Por estar privado de liberdade, o preso encontra-se
em uma situação especial que condiciona uma limitação dos direitos previstos na
CRFB/1988 e nas
leis, mas isso não quer dizer que perde, além da liberdade, sua condição de pessoa humana
e a titularidade dos direitos não atingidos pela condenação.
A falência de nosso sistema carcerário tem sido apontada, acertadamente, como uma das
maiores mazelas do modelo repressivo brasileiro, que, hipocritamente, envia condenados
para penitenciárias, com a apregoada finalidade de reabilitá-lo ao convívio social, mas já
sabendo que, ao retornar à sociedade, esse indivíduo estará mais despreparado,
desambientado, insensível e, provavelmente, com maior desenvoltura para a prática de
outros crimes, até mais violentos em relação ao que o conduziu ao cárcere. (MIRABETE,
2006).
População e Superlotação Carcerária
A superlotação devido ao número elevado de presos, é talvez o mais grave problema
envolvendo o sistema penal hoje. As prisões encontram-se abarrotadas, não fornecendo ao
preso um mínimo de dignidade. Todos os esforços feitos para a diminuição do problema,
não chegaram a nenhum resultado positivo, pois a disparidade entre a capacidade instalada
e o número atual de presos tem apenas piorado. Devido à superlotação muitos dormem no
chão de suas celas, às vezes no banheiro, próximo a buraco de esgoto. Nos
estabelecimentos mais lotados, onde não existe nem lugar no chão, presos dormem
amarrados às grades das celas ou pendurados em rede. (CAMARGO, 2006).
Com a lotação do sistema prisional, não existem mais estabelecimentos prisionais
destinados, exclusivamente, aos presos que aguardam julgamento. Cadeias públicas,
delegacias, presídios, penitenciárias, todos foram transformados em depósito de pessoas,
que não são tratados como tais. As rebeliões que tem acontecido em todos os países, com
tamanha frequência, já fazem parte do dia a dia e é o resultado da caótica realidade do
sistema penitenciário. A reivindicação mais comum é a de melhores condições nos
estabelecimentos prisionais. Foucault (2004,
p. 107-8), nos mostra que as causas das rebeliões, não diferem das nossas atuais:
Nos últimos anos, houve revoltas em prisões em muitos lugares do mundo. Os objetivos
que tinham suas palavras de ordem, seu desenrolar tinham certamente qualquer coisa
paradoxal. Eram revoltas contra toda miséria
física que dura há mais de um século: contra o frio, contra a sufocação e o excesso de
população, contra as paredes velhas, contra a fome, contra os golpes. Mas também revoltas
contra as prisões-modelos, contra os tranquilizantes, contra o isolamento, contra o serviço
médico ou educativo. Revoltas cujos objetivos eram só materiais? Revoltas contraditórias
contra a decadência, e ao mesmo tempo contra o conforto; contra os guardas, e ao mesmo
tempo contra os psiquiatras? De fato, tratava-se realmente de corpos e de coisas materiais
em todos esses movimentos: como se trata disso nos inúmeros discursos que a prisão tem
produzido desde o começo do século XIX. O que provocou esses discursos e essas revoltas,
essas lembranças e invectivas foram realmente essas pequenas, essas ínfimas coisas
materiais.
Foucault (2004, p.108) ainda afirma que as rebeliões, ou revoltas, apresentavam
reivindicações dos presos não atendidas, principalmente com relação ao tratamento
dispensado pelos funcionários do sistema penitenciário.
Quem quiser tem toda a liberdade de ver nisso apenas reivindicações cegas ou suspeitar
que haja aí estratégias estranhas. Tratava-se bem de uma revolta, ao nível dos corpos,
contra o próprio corpo da prisão. O que estava em jogo não era o quadro rude demais ou
ascético demais, rudimentar demais ou aperfeiçoado demais da prisão, era sua
materialidade medida em que ele é instrumento de vetor de poder; era toda essa tecnologia
do poder sobre o corpo, que a tecnologia da “alma” – a dos educadores, dos psicólogos e
dos psiquiatras – não consegue mascarar nem compensar, pela boa razão de que não passa
de um de seus instrumentos. É desta prisão, com todos os investimentos políticos do corpo
que ela reúne em sua arquitetura fechada que eu gostaria de fazer a história. Por puro
anacronismo? Não, se entendemos com isso fazer a história do passado nos termos do
presente. Sim, se entendermos com isso fazer a história do presente.
As alternativas para solucionar o problema que se agrava, seria a construção de novos
presídios, o livramento condicional de presos ou a privatização do sistema prisional que
continua em excesso.
A falta de investimento público é um grande fator que impede a solução da superlotação.
Há necessidade de construção de novos estabelecimentos no Brasil com infraestrutura
capaz de proporcionar a ressocialização do condenado e que o mesmo tenha condições de
sobrevivência de forma digna e humana. Este, porém, não é a única solução existente para
resolver o problema da superlotação do sistema prisional. (COSTA,2011).
Assistência Médica, Hospitalar e Alimentação
Segundo a LEP/1984 em seus arts. 12 e 14 o preso ou internado, terá assistência material,
em se tratando de higiene, as instalações higiênicas e acesso a atendimento médico,
farmacêutico e odontológico. Mas a realidade hoje não é bem assim. Muitos dos presos
estão submetidos a péssimas condições de higiene. (CAMARGO, 2006).
As condições higiênicas em muitos estabelecimentos são precárias e deficientes, além do
que o acompanhamento médico inexiste em algumas delas. Quem mais sofre pela carência
de assistência médica são as detentas, que necessitam de assistência ginecológica. Além
disso, muitas penitenciárias não possuem sequer meios de transporte para levar as
internas para uma visita ao médico ou a algum hospital. Os serviços penitenciários são
geralmente pensados em relação aos homens, não havendo assistência específica para as
mulheres grávidas, por exemplo. Sanitários coletivos e precários são comuns, piorando as
questões de higiene. A promiscuidade e a desinformação dos presos, sem acompanhamento
psicossocial, levam à transmissão de AIDS entre os presos, muitos deles sem ao menos
terem conhecimento de que estão contaminados. Muitos chegam ao estado terminal sem
qualquer assistência por parte da direção das penitenciárias. Mas não somente a AIDS é
negligenciada.
Tratando da assistência à saúde do preso e do internado, dispõe o art. 14 da LEP/1984:
Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado, de caráter preventivo e curativo,
compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico.
§ 2º Quando o estabelecimento penal não tiver aparelhamento para prover a assistência
médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do
estabelecimento.
Conforme a redação do art. 14 da LEP/1984, a assistência médica consistirá de caráter
preventivo e curativo. O preso, ao ingressar no estabelecimento prisional, deverá ser
submetido a exames a fim de diagnosticar possíveis doenças, infecciosas ou não, buscando
a preservação de sua saúde e dos demais presos.
Aqueles que já se encontravam presos e no curso do cumprimento de sua pena forem
acometidos por doença, deverão receber tratamento adequado à cura da enfermidade,
devendo contar com a visita diária de um médico até que sua saúde seja restabelecida.
(PIRES,2010).
Constitui também direito do preso à alimentação, que apesar de muitas vezes não faltar,
chega a ser desigual. No mesmo relatório apresentado pela Comissão de Direitos Humanos,
muitos presos denunciam policiais corruptos, pois quem possuía mais recurso recebia mais
comida. O desvio de comida é muito grande, sendo feita até mesmo pelos guardas ou
pessoas subordinadas a eles.
A alimentação é precária, por isso é complementada pela família do detento, além de
vestuário e produtos de higiene. Já as assistências médicas, odontológicas, educacionais e
principalmente, jurídicas, quando disponível, são bastante deficientes (SENNA, 2008).
Em relação à alimentação, deve o Estado fornecer-lhes no mínimo três refeições diárias,
como desjejum, almoço e jantar, sempre com qualidade e em quantidade suficiente a
manter-lhes energia suficiente até o recebimento da próxima refeição.
Diversos estabelecimentos prisionais permitem que terceiros façam o envio de pacotes de
alimentos aos presos, alimentos estes que poderão ser consumidos entre os intervalos das
refeições fornecidas pelo Estado. (PIRES,2010).
No estado de Minas Gerais, a parte a que toca em alimentação é feita através de processo
licitatório, onde empresas concorrem para a prestação do serviço de alimentação aos
detentos. A alimentação é fornecida pelas empresas sem que não haja contato com os
presos no processo de preparo. As instalações são próprias das empresas, sendo fora dos
estabelecimentos penitenciário.
Nos presídios onde a cozinha ainda está em atividade, estas se apresentam, como as demais
partes dos estabelecimentos, velhas e sem manutenção, sem as mínimas condições de
higiene, onde até as áreas destinadas ao estoque de mantimentos são geralmente sujas,
servindo como lugar de moradia de ratos e insetos. (CAMARGO, 2006).
Trabalho e Assistência Jurídica
De acordo com a LEP/1984, todos os presos condenados devem trabalhar. É preciso notar,
porém, que as obrigações legais com relação ao trabalho prisional são recíprocas: os
detentos têm o direito de trabalhar e as autoridades carcerárias devem, portanto, fornecer
aos detentos oportunidades de trabalho. Apesar das determinações legais, entretanto, os
estabelecimentos penais do país não oferecem oportunidades de trabalho suficientes para
todos os presos. (CAMARGO, 2006, p.4).
Art. 28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá
finalidade educativa e produtiva.
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir,
pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena.
Art. 128. O tempo remido será computado para a concessão de livramento condicional e
indulto.
Poderá os detentos desenvolver atividades que varia da manutenção do presídio,
panificação, cozinha e faxina, até atividades como a confecção de bolas, caixões e outras
tantas atividades mais que possam ser desenvolvidas dentro dos presídios.
As prisões devem ser reformuladas com a criação de oficinas de trabalho, para que a
laborterapia possa ser aplicada de fato, dando oportunidade para que o condenado possa
efetivamente ser recuperado para a vida em sociedade. Embora a proporção de detentos
que se dedicam a alguma forma de trabalho produtivo varie significativamente de prisão
para prisão, apenas em algumas prisões femininas foram encontradas de fato
oportunidades de trabalho abundantes.
Deve-se ressaltar que o reduzido número de detentos empregados é resultado da escassez
de oportunidades de trabalho, e não de falta de interesse da parte dos detentos. A escassez
de trabalho nas carceragens das delegacias é uma das muitas razões pelas quais os
detentos se revoltam para serem transferidos para as prisões.
O art. 5º da CRFB/1988 em seu inciso LVII se lê “ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado da sentença penal condenatória”. Mas, o que ocorre é que inocentes se
encontram juntos a criminosos.
A assistência jurídica é de direito de todos os presos, mas parte destes é de classe baixa,
tendo que esperar o serviço de assistência gratuita, que possui um número muito baixo de
defensores públicos, o que não resta a estes esperar por uma oportunidade. No sentido da
assistência social, o preso deve receber amparo para ser preparado para sua liberdade.
Não obstante todo o aparato legal posto em resguardo aos direitos do preso, e a incidência
do princípio do contraditório também em sede de execução penal, não raras vezes nos
deparamos com execuções, nas mais diversas comarcas, correndo praticamente à revelia
da defesa. Impulsionada pelo Juízo e fiscalizada pelo Ministério Público, que no mais das
vezes também a impulsiona, a atuação defensória, como regra, é quase inexistente.
(MARCÃO,2005).
Todos sabem o que ocorre na realidade. Estabelecimentos prisionais em número reduzido,
que não atende à demanda. Celas superlotadas e espaços físicos exíguos até mesmo para
outras necessidades básicas e muitas vezes fisiológicas. Acomodações, em geral, precárias,
mercê da crescente criminalidade, só superada pelo descaso do Poder Executivo na seara
de que cuidamos.
O governo só investe neste sistema quando não há mais saída, ou seja, quando por
imperativo de segurança nacional, o Estado não tem alternativa, pois os estabelecimentos
prisionais se transformaram em verdadeiros barris de pólvora prontos a explodir e pôr em
risco toda a sociedade.
Diante da situação econômica inviável e da falta de vontade política para a recuperação do
sistema penitenciário brasileiro, teremos que buscar alternativas, como a aplicação do
direito penal alternativo conjugado com o princípio da intervenção mínima onde a prisão
seria a última das alternativas.
O nosso legislador deve se inteirar da situação calamitosa na qual se encontram os
presídios e cadeias públicas e, com inteligência e determinação, com a ajuda de
especialistas da área penal, penitenciária, pedagógica e psicológica elaborar leis, além das
já existentes, que permitam a substituição, nos casos de crimes menos graves, das penas
privativas de liberdade por pesadas penas restritivas de direito e de multa.
Estas penas seriam aplicadas levando em conta várias condições de caráter pessoal do
condenado, de modo a lhe dar possibilidade de cumprir a obrigação ou sofrer a restrição de
um direito. É importante que tais penas substitutas sejam, por um lado, penosas para o
condenado, desestimulando-o a reincidência e servindo de
ameaça legal de mesma intensidade que a pena privativa de liberdade para aqueles que
pretendam ou pretenderem algum dia realizar ilícitos penais. Por outro lado, a pena não
poderá perder o caráter educativo e social, para que o condenado no final do cumprimento
esteja em condições de se reintegrar satisfatoriamente à sociedade. (KRUCHINSKI JUNIOR,
2009).
Mediante essa adequação de penas, seguindo as orientações das resoluções da ONU e
vontade política de nossos governantes na liberação de verbas públicas para recuperar
reestruturar e manter nosso sistema penitenciário teria, além de uma significativa redução
em nossa população carcerária, uma estrutura material e de pessoal suficientes para
trabalhar na recuperação e reintegração social do preso.
CONCLUSÃO
Depois de intensa pesquisa sobre o instituto (sistema prisional brasileiro), utilizando dos
meios eficazes como: jurisprudência, súmula, legislações e outros, notam-se claramente
inúmeras falhas na organização interna e externa do instituto em tela, além da falta de
políticas públicas para prevenção da criminalidade, o que leva a uma superlotação
carcerária, deixando os detentos em condições degradantes, falta de novos presídios e de
vontade do Estado (Poder Público) em investir na melhoria dessa realidade.
A idéia de sancionar o indivíduo que se comportasse de uma forma prejudicial à sociedade,
já existia desde os primórdios, com a idéia tipicamente de retribuir ao infrator, prejuízo
igual ou pior ao que a vítima teria sofrido. Na idade média, principalmente no período
aquisitivo a pena passou a ter como escopo a punição do delinqüente e a intimidação da
sociedade, mostrando o poder da igreja perante os cidadãos. Atualmente, a pena possui
três características fundamentais: a retribuição, a prevenção e, principalmente, a
reeducação, mas o problema atual é que o sistema não consegue sequer atingir nenhum
desses objetivos, nem se mostra preocupado com a população carcerária, ao contrário
muitos agentes penitenciários, delegados, promotores e juízes que têm por obrigação
representar o Estado mantendo a ordem e o respeito dentro das penitenciárias se vendem
e tornam-se espécies de empregados do crime organizado, que dá ordens de dentro dos
presídios.
Sabe-se que se os poderes constituídos Executivo, Legislativo e Judiciário enfrentam essa
situação com o devido respeito que ela merece a ressocialização do apenado seria uma
realidade e não apenas uma utopia. A administração Pública tem por obrigação criar
presídios com estruturas ideais para atender a população carcerária, de forma digna
separando os presos por tipos de delitos como está previsto na legislação, além disso,
proporcionar um sistema voltado para as mulheres para que estas possam amamentar seus
filhos, fazer seus exames periódicos etc. O legislativo pode atuar na criação de leis
realmente eficazes, que ajudem a solucionar o problema da criminalidade respeitando o
princípio de que o Direito penal é a ultima ratio, procurando soluções viáveis para punir e
ressocializar sem que de pronto já tenha que estabelecer normas que automaticamente
tenham pena privativa de liberdade. Por fim ao judiciário fica a tarefa árdua de aplicar o
direito caso concreto,mas não apenas com decisões enraizadas em leis
positivadas dentro do ordenamento jurídico, mas, sobretudo julgando aquela situação com
o olhar em um direito natural (subjetivo), buscando fazer justiça e não apenas manter o
cumprimento de leis muitas vezes injustas.
Chega-se a conclusão que o sistema carcerário brasileiro ainda pode ser reformulado, com
medidas governamentais, pois conforme o caput do artigo 5º da nossa lei maior diz “Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade à vida, a liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade”, sendo assim os únicos direitos retirados do infrator que é
punido com pena privativa de liberdade são os direitos políticos e a seu direito de ir, vir e
permanecer. Os outros direitos precisam ser mantidos como assistência jurídica,
alimentação, dignidade dentre outros. Pois embora o sistema se encontre em uma situação
lastimável o poder público dispõe de recursos suficientes para consertar o sistema
carcerário para que essas pessoas tenham uma punição e principalmente a sua
ressocialização, a única coisa que falta é a vontade política do Estado.

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