STF Processo SindSaúde GAPS Peca - 240820 - 201612

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RECLAMAÇÃO 69.

488 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ANDRÉ MENDONÇA


RECLTE.(S) : SINDICATO DOS EMPREGADOS EM
ESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE DE
BRASÍLIA/DF
ADV.(A/S) : JOSE EDUARDO MARTINS CARDOZO E
OUTRO(A/S)
RECLDO.(A/S) : TRIBUNAL DE JUSTICA DO DISTRITO FEDERAL E
DOS TERRITÓRIOS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
BENEF.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO
FEDERAL E TERRITÓRIOS

DECISÃO

RECLAMAÇÃO. ALEGADA VIOLAÇÃO


AO QUE DECIDIDO PELO STF NAS ADIS
Nº 4.616/DF, Nº 4.233/BA E Nº 4.303/RN.
INOCORRÊNCIA. NEGATIVA DE
SEGUIMENTO.

1. Trata-se de reclamação, com pedido liminar, proposta pelo


Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de
Brasília (SindSaúde), contra decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), na Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) nº 0733487-45.2023.8.07.0000, por meio da
qual alega violação ao que decidido por esta Suprema Corte nas ADIs nº
4.616/DF, nº 4.233/BA e nº 4.303/RN.

2. O reclamante entende que o acórdão do TJDFT afronta os


paradigmas desta Suprema Corte, uma vez que “entendeu que os incisos I e
II do parágrafo único do artigo 2º da Lei Distrital nº 6.903/2021, por meio de

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transposição de cargos, promoveram o enquadramento de servidores ocupantes


dos cargos de técnico em saúde e auxiliar de saúde da carreira Assistência
Pública à Saúde – dos quais se exigiam a conclusão de curso de nível médio e
fundamental respectivamente – em cargos de analista, assistente e técnico em
gestão e assistência pública à saúde da carreira de Gestão e Assistência Pública à
Saúde, recém-criada, cujos requisitos são cursos de nível superior e médio”.

3. Aduz que, conforme a Corte distrital, o dispositivo questionado na


ADI constituiria modo de provimento derivado vertical, vedado pelos
arts. 37, inc. II, da CRFB e 19, inc. II, da LODF.

4. Assevera que a interpretação conferida pelo Órgão reclamado,


para declarar os dispositivos inconstitucionais, apegou-se essencialmente
ao requisito da escolaridade exigida para os cargos, não obstante a
absoluta identidade de atribuições e padrão remuneratório.

5. Defende que a jurisprudência desta Suprema Corte é uníssona ao


reconhecer que, sendo as mesmas atribuições, o simples fato de o cargo
vir a ser ocupado por pessoas detentoras de nível superior de
escolaridade não traduziria provimento derivado. Nesse contexto,
acastela que o ato objurgado violaria o que decidido pelo STF nas ADIs nº
4.616/DF, nº 4.233/BA e nº 4.303/RN.

6. Assenta, ainda, ser parte legítima para propor a presente medida,


uma vez que, na condição de sindicato, “tem a prerrogativa e o dever de
representar e defender perante as autoridades administrativas e judiciárias os
interesses gerais e individuais da categoria e de seus sindicalizados (artigo 4º, I) e
instaurar e acompanhar ações que busquem assegurar os direitos da categoria
perante o Judiciário (artigo 4º, XV)”, o que também ficou consolidado no
Tema RG nº 823. Assevera que a legitimidade decorre, ainda, da sua
atuação como amicus curiae na ADI em que proferida a decisão

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impugnada.

7. Requer a concessão de liminar com base nos argumentos jurídicos


expostos e, quanto ao risco de resultado útil do processo, alega que “a
ADI nº 0733487-45.2023.8.07.0000 transitará em julgado no próximo dia 29 de
junho de 2024, o que culminará na retirada, definitiva, do artigo 2º, parágrafo
único, I e II, da Lei Distrital nº 6.903/2021 do mundo jurídico”, de modo que
“os servidores substituídos pelo RECLAMANTE retornarão aos seus cargos
anteriores, em prejuízo da atividade funcional e da própria liberdade
profissional”.

8. Ao final, requer “a confirmação da liminar, para cassar as decisões


reclamadas, de modo que seja proferida nova decisão na ADI nº 0733487-
45.2023.8.07.0000, com observância do entendimento adotado nas ADIs nº
4.616, 4.233 e 4.303”.

9. Em 02/07/2024, indeferi o pedido de liminar, bem como


determinei a citação do Ministério Público do Distrito Federal e dos
Territórios, beneficiário da decisão reclamada. Outrossim, requisitei as
informações do Tribunal reclamado e determinei a oitiva da
Procuradoria-Geral da República.

10. A autoridade reclamada prestou informações, encaminhando


cópia do acórdão prolatado no julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 0733487-45.2023.8.07.0000 (e-doc. 27).

11. A Procuradoria-Geral de Justiça do Distrito Federal e dos


Territórios apresentou defesa arguindo, em preliminar, a necessidade de
extinção do processo, sem resolução do mérito, ante o trânsito em julgado
do acórdão reclamado, em 28/06/2024. Quanto ao mérito, sustentou “a
manifesta diferença entre as atribuições dos cargos públicos, a tornar evidente a
inconstitucionalidade da referida transposição funcional” (e-doc. 28).
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12. Por fim, a Procuradoria-Geral da República ofertou sua


manifestação, a qual ostenta a seguinte ementa (e-doc. 31):

“Reclamação. Ato do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios que teria violado o quanto decidido
na ADIs n° 4.616/DF, nº 4.233/BA e nº 4.303/RN. 1. Quando do
ajuizamento da reclamatória já havia ocorrido o trânsito em
julgado da questão na origem, pelo que não atendido o
requisito do inc. I do § 5º do art. 988 do CPC, assim a
reclamação não deve ser conhecida. 2. Na espécie não houve
afronta às ADIs n° 4.616/DF, nº 4.233/BA e nº 4.303/RN. 3. Pelo
não conhecimento da reclamação e, caso conhecida, pela
improcedência.”

É o relatório.

Decido.

13. A reclamação, inicialmente concebida como construção


jurisprudencial, reveste-se de natureza constitucional, tendo como
finalidades a preservação da competência do Supremo Tribunal Federal,
a garantia da autoridade de suas decisões (art. 102, inc. I, al. “l”, da
CRFB), bem como a observância de enunciado da Súmula Vinculante do
STF (art. 103-A, § 3º, da CRFB).

14. Em sede infraconstitucional, encontra regulação nos arts. 988 a


993 do Código de Processo Civil e, especificamente no âmbito do
Supremo Tribunal Federal, nos arts. 156 a 162 do respectivo Regimento
Interno.

15. Compulsando detidamente os autos, após a vinda das

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informações da autoridade reclamada, da manifestação da parte


beneficiária e do parecer da Procuradoria-Geral da República, entendo
que a reclamação é manifestamente inadmissível.

16. Primeiramente, consoante observado na defesa da PGDFT e no


parecer da PGR, quando a reclamação foi proposta, já tinha sido
certificado o trânsito em julgado da decisão reclamada, o que atrai o óbice
do enunciado nº 734 da Súmula deste Supremo Tribunal Federal, in
verbis:

“Não cabe reclamação quando já houver transitado em


julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão
do Supremo Tribunal Federal.”

17. Além do supracitado óbice processual, rememoro que o


reclamante aponta contrariedade ao que decidido pelo STF nas ADIs nº
4.616/DF, nº 4.233/BA e nº 4.303/RN. Transcrevo, por oportuno, as
seguintes ementas:

“AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE.


JULGAMENTO CONJUNTO. REFORMULAÇÃO DA
ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA FEDERAL.
TRANSPOSIÇÃO DO CARGO DE TÉCNICO DO TESOURO
NACIONAL PARA O CARGO DE TÉCNICO DA RECEITA
FEDERAL. MEDIDA PROVISÓRIA 1.915/1999 E LEI FEDERAL
10.593/2002. TRANSFORMAÇÃO DO CARGO DE TÉCNICO
DA RECEITA FEDERAL EM CARGO DE ANALISTA-
TRIBUTÁRIO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL.
REDISTRISTRIBUIÇÃO DE CARGOS DA SECRETARIA DA
RECEITA PREVIDENCIÁRIA PARA A RECEITA FEDERAL
DO BRASIL. LEI FEDERAL 11.457/2007. AMPLIAÇÃO DOS
EFEITOS DA TRANSFORMAÇÃO A OUTROS CARGOS
INICIALMENTE NÃO CONTEMPLADOS. EMENDA
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PARLAMENTAR. PROJETO DE LEI DO PODER EXECUTIVO.


VETO. SUPERAÇÃO DO VETO. LEI FEDERAL 11.907/2009. 1.
A reestruturação de cargos públicos pressupõe a similitude
entre as atribuições, a equivalência salarial e a identidade dos
requisitos de escolaridade para ingresso nos cargos envolvidos.
A transposição do cargo de Técnico do Tesouro Nacional para o
cargo de Técnico da Receita Federal (Art. 9º da MP 1.915/1999 e
Art. 17 da Lei 10.593/2002) não implicou em alteração
substancial das atribuições dos cargos em questões. Constatada
a absoluta identidade de atribuições e padrão remuneratório, a
alteração tão somente do nível de escolaridade exigido para
ingresso na carreira não implica, consideradas as
particularidades do caso concreto, em provimento derivado de
cargo público. 2. A transformação do cargo de Técnico da
Receita Federal em cargo de Analista-Tributário da Receita
Federal do Brasil se mostra compatível com a Constituição
Federal ante a similitude entre as atribuições e a identidade dos
requisitos de escolaridade. Equivalência salarial. Comparação
inaplicável. Constitucionalidade. Precedentes. 3. Mostra-se
ofensivo à isonomia e à eficiência administrativa a não inclusão
do cargo de Analista Previdenciário dentre os cargos
transformados em Analista-Tributário da Receita Federal do
Brasil. Distinções e particularidades quanto ao requisito da
equivalência salarial. Interpretação conforme sem redução de
texto. 4. É inconstitucional, porque ofensiva à reserva de
iniciativa do chefe do Poder Executivo, a ampliação, via
emenda parlamentar, dos cargos inicialmente previstos na
estreita transformação de cargos enunciada na redação original
do Art. 10, II da Lei 11.457/2007. 5. Ação Direta de
Inconstitucionalidade 4.616 julgada improcedente. Ação Direta
de Inconstitucionalidade 4.151 julgada parcialmente
procedente. Ação Direta de Inconstitucionalidade 6.966 julgada
procedente, referendando-se a medida cautelar anteriormente
deferida.”

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(ADI nº 4.151/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal


Pleno, j. 27/11/2023, p. 31/01/2024).

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. ARTS.
2º, I E II, DA LEI 11.470/2009, E ART. 24 E ANEXO V DA LEI
8.210/2002, AMBAS DO ESTADO DA BAHIA. EXIGÊNCIA DE
NOVOS REQUISITOS PARA INGRESSO NO CARGO DE
AGENTE DE TRIBUTOS ESTADUAIS. ALTERAÇÃO DE
ATRIBUIÇÕES. INOCORRÊNCIA DE AFRONTA AO
PRINCÍPIO DO CONCURSO PÚBLICO (CF, ART. 37, II).
REESTRUTURAÇÃO ADMINISTRATIVA DO GRUPO
OPERACIONAL FISCO. POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO
CONFORME. EXCLUSÃO DOS AGENTES DE TRIBUTOS
ESTADUAIS QUE INGRESSARAM ANTES DA LEI 8.210/2002
DO ÂMBITO DE INCIDÊNCIA DOS DISPOSITIVOS
IMPUGNADOS DA LEI 11.470/2009. PARCIAL
PROCEDÊNCIA. 1. A legislação que promove o
enquadramento de ocupantes de cargos diversos em carreira
estranha à de origem configura ofensa à regra constitucional do
concurso público, prevista no art. 37, II, da Constituição
Federal. Inteligência da Súmula Vinculante 43 do SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. 2. A exigência de curso superior para os
novos candidatos ao cargo de Agente de Tributos Estaduais
configura simples reestruturação da administração tributária
estadual, fundada na competência do Estado para organizar
seus órgãos e estabelecer o regime aplicável ao seus servidores,
da qual não decorre, em linha de princípio, qualquer
inconstitucionalidade. Precedentes. 3. O art. 2º, incisos I e II, da
Lei 11.470/2009 do Estado da Bahia acrescentou novas
atribuições aos titulares dos cargos de Agentes de Tributos
Estaduais, todas pertinentes com a exigência de formação em
curso superior, já que relacionadas ao exercício de atividades de
planejamento, coordenação e constituição de créditos
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tributários. 4. No presente caso, as questões atinentes às


atividades desenvolvidas pelos antigos Agentes de Tributos
Estaduais, que concluíram somente o segundo grau, e àquelas
desenvolvidas pelos novos titulares, com curso superior,
guardam estrita conexão com regra constitucional do concurso
público, de modo que os antigos servidores passariam a
exercer, com a superveniência da Lei 11.470/09, atividades
exclusivas de cargo de nível superior, em afronta ao art. 37, II,
da Constituição Federal. 5. Necessária interpretação conforme à
Constituição para excluir do âmbito de incidência dos incisos I
e II do art. 2º da Lei 11.470/2009 do Estado da Bahia, os Agentes
de Tributos Estaduais cuja investidura se deu em data anterior
à Lei 8.210/2002. 6. Ação julgada parcialmente procedente.”

(ADI nº 4.233/BA, Rel. Min. Rosa Weber, Red. p/ Acórdão


Min. Alexandre de Moraes, Tribunal Pleno, j. 1º/03/2021, p.
29/04/2021).

“CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ART. 1º,


CAPUT E § 1º DA LEI COMPLEMENTAR N. 372/2008 DO RIO
GRANDE DO NORTE. 1. A reestruturação convergente de
carreiras análogas não contraria o art. 37, inc. II, da Constituição
da República. Logo, a Lei Complementar potiguar n. 372/2008,
ao manter exatamente a mesma estrutura de cargos e
atribuições, é constitucional. 2. A norma questionada autoriza a
possibilidade de serem equiparadas as remunerações dos
servidores auxiliares técnicos e assistentes em administração
judiciária, aprovados em concurso público para o qual se exigiu
diploma de nível médio, ao sistema remuneratório dos
servidores aprovados em concurso para cargo de nível
superior. 3. A alegação de que existiriam diferenças entre as
atribuições não pode ser objeto de ação de controle
concentrado, porque exigiria a avaliação, de fato, de quais

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assistentes ou auxiliares técnicos foram redistribuídos para


funções diferenciadas. Precedentes. 4. Servidores que ocupam
os mesmos cargos, com a mesma denominação e na mesma
estrutura de carreira, devem ganhar igualmente (princípio da
isonomia). 5. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada
improcedente.”

(ADI nº 4.303/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal


Pleno, j. 05/02/2014, p. 28/08/2014).

18. Conforme enfatizado na exordial, os paradigmas de controle


autorizam a exigência de requisitos de escolaridade diversos para os
novos candidatos aos cargos restruturados. Logo, a simples
reestruturação da Administração Pública não implicaria qualquer
inconstitucionalidade.

19. Consoante já ilustrado na decisão que indeferiu o pedido de


liminar, muito embora o acórdão impugnado tenha dado ênfase aos
requisitos de escolaridade, há expressa menção a diferenças nos feixes
de atribuições dos cargos. No ensejo, confira-se o seguinte excerto do
voto do desembargador relator (e-doc. 11, p. 7-10):

“Antes do advento da lei, a carreira de Assistência Pública


à Saúde, reestruturada pela L. Distrital n. 3.320/2004, era
composta pelos cargos de especialista em saúde, técnico em
saúde e auxiliar de saúde (art. 2º).
Estipulava a lei, no art. 4º, II e III, os seguintes requisitos
para os cargos de técnico em saúde e auxiliar em saúde:
‘(...) II – para o cargo de técnico em saúde: certificado
de conclusão de Ensino Médio ou habilitação legal
equivalente, com formação específica na área em que
ocorrer o ingresso;
III – para o cargo de auxiliar de saúde: comprovante

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de escolaridade até a 8ª série do Ensino Fundamental,


observada a especialidade em que ocorrer o ingresso e o
constante do anexo VI.’
Com a reorganização feita pela L. Distrital 6.903/21, o art.
5º trouxe os seguintes requisitos para investidura na nova
carreira:
’Art. 5º O ingresso nos cargos da carreira Gestão e
Assistência Pública à Saúde do Distrito Federal dá-se no
Padrão I da classe inicial do cargo, mediante concurso
público de provas ou provas e títulos, obedecendo, a
partir da vigência desta Lei, aos seguintes requisitos de
investidura:
I – para o cargo de Analista em Gestão e Assistência
Pública à Saúde: diploma de curso superior ou habilitação
legal equivalente, fornecido por instituição de ensino
devidamente reconhecida pelo Ministério da Educação;
II – para o cargo de Assistente em Gestão e
Assistência Pública à Saúde: certificado de conclusão de
curso de ensino médio expedido por instituição
educacional reconhecida pelo órgão próprio do sistema de
ensino ou curso de formação profissional na área e, nos
casos especificados no edital normativo do concurso,
registro no conselho de classe;
III – para o cargo de Técnico em Gestão e Assistência
Pública à Saúde: certificado de conclusão de ensino médio
expedido por instituição educacional reconhecida pelo
órgão próprio do sistema de ensino ou equivalente.’
Observa-se dos incisos I e II do parágrafo único do art. 2º
da L. Distrital 6.903/21 que os servidores que antes ocupavam
os cargos técnico em saúde e auxiliar de saúde, da carreira
Assistência Pública à Saúde, passaram a integrar a carreira
Gestão e Assistência Pública à Saúde nos cargos de analista e
assistente – os primeiros - e técnico.
Confira-se:
‘I - Os integrantes do cargo Técnico em Saúde das
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especialidades dispostas a seguir ficam enquadrados no


cargo Assistente em Gestão e Assistência Pública à Saúde:
Técnico de Laboratório – Anatomia Patológica; Técnico de
Laboratório – Hematologia e Hemoterapia; Técnico de
Laboratório – Histocompatibilidade;
Técnico de Laboratório – Patologia Clínica; Técnico
de Nutrição; Técnico em Higiene Dental; Técnico em
Radiologia. II - Os demais, enquadrados no cargo de
Analista em Gestão e Assistência Pública à Saúde. III - Os
integrantes do cargo de Auxiliar de Saúde ficam
enquadrados no cargo de Técnico em Gestão e Assistência
Pública à Saúde.’
Para os servidores que antes ocupavam os cargos de
técnico em saúde e auxiliar de saúde, exigia-se a conclusão de
curso de nível médio e fundamental, respectivamente. E os
cargos de analista, assistente e técnico em gestão e assistência
pública à saúde têm como requisito a conclusão de ensino
superior e médio.
A título exemplificativo, o cargo de auxiliar de saúde,
especialidade serviços gerais, para o qual se exigia nível
fundamental, tem como atribuições: ‘realizar trabalhos de
limpeza e conservação em geral; executar tarefas relacionadas
com o serviço; transportar material de expediente e documentos
oficiais; realizar serviços de carregamento, descarregamento e
armazenamento de material; transportar e arrumar móveis,
máquinas e materiais; auxiliar no recebimento e na distribuição
de expedientes e correspondências; coletar, selecionar,
classificar, dobrar, armazenar, lavar, passar e entregar roupas
quando necessário; auxiliar nos trabalhos relacionados com a
manutenção e reparos de material e obras; receber material para
análises clínicas; efetuar limpeza de instrumental de laboratório
e da sala de necropsia; identificar, reparar e revelar filmes
radiográficos nas câmaras escura e clara; limpar e conservar
máquinas processadoras; preparar revelador e fixador para
revelação de filmes radiográficos; zelar pela guarda e
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conservação de materiais; observar medidas de segurança


contra acidentes do trabalho; executar outras atividades de
natureza braçal; executar atividades auxiliares, sob supervisão e
orientação; executar outras atividades de mesma natureza e
nível de complexidade e responsabilidade. COMPETÊNCIAS
PESSOAIS: demonstrar responsabilidade; demonstrar
capacidade de organização; demonstrar boa vontade e
iniciativa; trabalhar em equipe; FORMA DE PROVIMENTO:
Concurso Público. REQUISITOS: Certificado, devidamente
registrado, de conclusão de curso de ensino fundamental,
expedido por instituição educacional reconhecida pelo órgão
próprio dos sistemas de ensino’ (Portaria Conjunta SGA/SES n.
8/2006).
Já o cargo de técnico em gestão e assistência pública à
saúde, para o qual o respectivo auxiliar em Saúde migrou, tem
como atribuições executar atividades de natureza operacional e
outras assemelhadas em nível de complexidade determinadas
em legislação específica, sob orientação e supervisão, para as
quais exige-se conclusão do ensino médio (arts. 5º, III c/c 13 da
L. 6.903/21).
Em outra situação, o cargo de técnico em saúde,
especialidade alfaiataria e costuraria (não disposta no anexo
único da nova lei), do qual se exige nível médio, tem como
atribuições: ‘efetuar serviços de corte e costura, fazer pacotes de
peças cortadas especificando o tipo e quantidade para
confecção. Controlar a produção de roupas confeccionadas e
outros serviços na área de alfaiataria e costuraria;
ATRIBUIÇÕES GERAIS PARA TODAS AS ÁREAS: zelar pela
guarda, conservação e manutenção de materiais e
equipamentos; zelar pelos bens patrimoniais da Instituição;
observar medidas de segurança contra acidente de trabalho;
participar de programas de treinamento; executar outras
atividades de interesse da área. COMPETÊNCIAS PESSOAIS
demonstrar capacidade de organização; demonstrar habilidade
manual; demonstrar criatividade e iniciativa; demonstrar
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objetividade e flexibilidade; agir com ética profissional; saber


ouvir; trabalhar em equipe. FORMA DE PROVIMENTO:
Concurso Público. REQUISITOS: Certificado, devidamente
registrado, de conclusão de curso de nível médio, expedido por
instituição educacional reconhecida pelo órgão próprio do
sistema de ensino e curso de qualificação profissional na área
de atuação’ (Portaria Conjunta SGA/SES n. 8/2006).
Ao passo que o cargo de analista em gestão e assistência
pública à saúde, para o qual o respectivo técnico de saúde
migrou, tem como atribuições executar atividades técnico-
administrativas correlacionadas à especialidade do cargo,
planejar e executar atividades específicas que demandem
conhecimentos próprios do cargo/especialidade ou atividades
da mesma natureza e nível de complexidade que envolvam
conteúdos relativos ou de interesse da área de atuação,
inerentes ao órgão, observadas as peculiaridades da
especialidade do cargo, determinadas em legislação, para as
quais exige-se conclusão de ensino superior (arts. 5º, I c/c 11 da
L. 6.903/21).
A lei impugnada, a pretexto de reestruturar carreira já
existente, promoveu verdadeira ascensão funcional de
servidores sem concurso público, que passaram a ocupar cargos
em carreira diversa, recém-criada, o que não se admite.
Alguns que ingressaram no serviço público para cargo de
nível médio foram promovidos a cargo de nível superior na
nova carreira, outros, que ocupavam cargos de nível
fundamental, ascenderam e passaram a ocupar cargo de nível
médio.
A promoção do servidor por ascensão funcional constitui
forma de provimento derivado vertical vedada pela CF/88 e
pela LODF que estabelecem só ser possível assumir cargo
público após aprovação em concurso público (art. 37, II da
CF/OO e art. 19, II da LODF), salvo as hipóteses excepcionais
previstas no texto constitucional.
A ascensão funcional – que, no caso, se fez por
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transposição de cargo - viola a regra do concurso público.”

20. Nesse contexto, em sede de cognição exauriente, verifico que o


TJDFT se curvou à orientação do Supremo Tribunal Federal, anulando os
atos centrados em disposições tidas por inconstitucionais, que estabeleciam
a transposição, transformação ou ascensão funcional de uma categoria a
outra, sem prévia aprovação em concurso público de provas e títulos,
consoante exige o art. 37, inc. II, da Constituição da República.

21. Reassento que as referências às complexidades das novas


atribuições, determinadas em legislação específica, para as quais se exige
determinado nível de escolaridade, de cargos previstos na Lei distrital nº
6.903, de 2021, foi destacada na fundamentação da decisão reclamada.

22. Com efeito, repiso que apontamento similar constou da ADI nº


4.233/BA, na qual esta Suprema Corte deliberou que “as questões atinentes
às atividades desenvolvidas pelos antigos Agentes de Tributos Estaduais, que
concluíram somente o segundo grau, e àquelas desenvolvidas pelos novos
titulares, com curso superior, guardam estrita conexão com regra constitucional
do concurso público, de modo que os antigos servidores passariam a exercer, com
a superveniência da Lei 11.470/09, atividades exclusivas de cargo de nível
superior, em afronta ao art. 37, II, da Constituição Federal”.

23. Por conseguinte, concluo que o ato reclamado não se distanciou


dos balizamentos fixados por esta Suprema Corte, quando do julgamento
das ADIs nº 4.616/DF, nº 4.233/BA e nº 4.303/RN.

24. Sem embargo do acima exposto, acrescento que a reclamação está


ancorada na alegação de que o TJDFT declarou a inconstitucionalidade
dos dispositivos legais essencialmente em função dos requisitos de
escolaridade exigidos para os cargos, a despeito de estarem mantidas as
atribuições originais. Entretanto, o fundamento concernente ao confronto

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dos feixes de atribuições dos cargos exige análise dos correlatos atos
normativos, conduzindo a discussão — referente à validade da lei
estadual diante da Constituição da República e da Lei Orgânica do
Distrito Federal — a uma seara inviável em sede de reclamação.

25. Com efeito, embrenhar-se nos fundamentos da decisão


reclamada, para além da higidez formal de sua análise, demandaria o
revolvimento do material fático-probatório dos autos, providência
vedada em sede reclamação. Logo, o presente feito assume a forma de
mero sucedâneo recursal, pois reflete apenas o inconformismo da parte
reclamante com a decisão reclamada, o que é incabível segundo a
remansosa jurisprudência desta Corte.

26. Ante o exposto, nego seguimento à reclamação, nos termos do


art. 21, § 1º, do RISTF. Sem honorários, de acordo com o entendimento
prevalente da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal.

Publique-se.

Brasília, 19 de agosto de 2024.

Ministro ANDRÉ MENDONÇA


Relator

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