História e Filosofia Da Ciência para o Ensino de Química
História e Filosofia Da Ciência para o Ensino de Química
História e Filosofia Da Ciência para o Ensino de Química
2020v22p3-28
Resumo
Neste artigo, apresentamos uma caracterização das produções acadêmico científicas sobre o uso da história e filosofia
da ciência (HFC) para o ensino de química. Centramos nossa análise nas seguintes revistas: Revista História da
Ciência e Ensino: construindo interfaces, Revista Brasileira de História da Ciência e Revista Química Nova na Escola,
buscando artigos publicados ao longo de dez anos (2008 a 2018). Foram identificados 43 trabalhos sobre essa
temática. Como decorrência da análise identificamos as competências e habilidades específicas das Ciências da
Natureza e suas Tecnologias sugeridas nos textos. E, dez temas específicos da química apresentados a partir de
diversos enfoques e abordagens. Considerando o período estudado, pudemos concluir que há baixa produção sobre
história da química mostrando o quanto este campo ainda encontra-se em construção e necessita de divulgação em
periódicos. Porém, entendemos que todos os trabalhos aqui citados tem a potencialidade de serem usados em salas
de aula do Ensino Médio, pois além de apresentarem os conteúdos específicos dessa ciência evidenciam as relações
entre ciência e outros campos, como a sociedade, economia, cultura, política e tecnologia, por exemplo.
Palavras-chave: História da Química, Ensino Médio, BNCC.
Abstract
In this paper, we present a characterization of the scientific academical productions about the use of history and
philosophy of science for chemistry teaching. We centered our analysis in the following journals: Revista História da
Ciência e Ensino: construindo interfaces; Revista Brasileira de História da Ciência and Revista Química Nova na
Escola searching for papers that were published in ten years (2008 to 2018). We identified 43 papers on this topic. As
a result of the analysis, we identified the specific skills and abilities of the Natural Sciences and its Technologies
suggested in the texts. And ten specific topics of chemistry presented from different perspectives and approaches.
Considering the period studied, we were able to conclude that there is low production on the history of chemistry,
showing how much this field is still under construction and needs to be published in journals. However, we understand
that all the works mentioned here have the potential to be used in high school classrooms, because in addition to
presenting the contents of this science, they also show the relationships between science and other fields, such as
society, economics, culture, politics and technology, for example.
Keywords: History of Chemistry, High School, BNCC.
INTRODUÇÃO
A história e filosofia da ciência (HFC) é uma forma de fundamentar, avaliar e explicitar as
particularidades das ciências no âmbito do ensino e da pesquisa científica.
A história da ciência (HC), em particular, pode ser usada como metodologia de ensino e têm a
potencialidade de humanizar e aproximar os conteúdos de ciências ao cotidiano dos alunos. Ao demonstrar
os fatos e pensamentos que cercam a ciência, o professor expande a cultura geral do aluno ao evidenciar
as relações entre ciência, sociedade, economia, cultura, política e tecnologia, por exemplo.
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Este movimento é fortemente apoiado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em vários
momentos. A primeira competência geral descrita na BNCC versa sobre a necessidade de “valorizar e utilizar
os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e
explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa,
democrática e inclusiva”1.
Além disso, no texto sobre a área da Natureza da Ciência e suas Tecnologias é salientado que a
“contextualização social, histórica e cultural da ciência e da tecnologia é fundamental para que elas sejam
compreendidas como empreendimentos humanos e sociais”2, e por este motivo, na BNCC,
1 BRASIL, 2018, p. 9.
2 Ibid., 549.
3 Ibid., 549-550.
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Sabendo que a maioria dos professores de ciências utilizam os livros didáticos como norteadores
de sua prática, e, portanto limitam os objetivos e abordagens da HC aos conteúdos trazidos neste tipo de
material, e que os livros didáticos de química destinados ao ensino médio e os principais livros texto usados
no ensino superior, apresentam uma historiografia extremamente simplista, encontramos um óbice.
Segundo autores como Vidal e Porto5, Fernandes e Porto6 e Prado7 nos livros de ensino médio é
comum encontrar somente os nomes de cientistas, seguidos de datas e histórias que em poucas linhas
evidenciam a genialidade ou a descoberta de alguma teoria científica. Desta mesma forma nos livros de
ensino superior analisados por Leite e Porto8, sequer se pode encontraram pontos que pudessem ser
considerados preocupados com a história da química (HQ).
Buscando preencher a lacuna entre a História da Química (HQ) e o Ensino de Química (EQ),
comumente presente nos materiais didáticos, pesquisadores da área de história e filosofia da ciência
compartilham por meio de teses, dissertações, artigos completos em periódicos e relatos de experiência,
considerações sobre o uso da HQ no EQ em que se avaliam o uso da HQ em salas de aula de todo país.
Sabendo que os professores de ciências utilizam os livros didáticos como norteadores de sua
prática, e, portanto limitam os objetivos e abordagens da HC aos conteúdos trazidos neste tipo de material,
e que os livros didáticos de química destinados ao ensino médio e os principais livros texto usados no ensino
superior, apresentam uma historiografia extremamente simplista, encontramos um óbice.
Segundo autores como Vidal e Porto (2012)9, Fernandes e Porto (2012)10 e Prado (2015)11 nos livros
de ensino médio é comum encontrar somente os nomes de cientistas, seguidos de datas e histórias que em
poucas linhas evidenciam a genialidade ou a descoberta de alguma teoria científica. Desta mesma forma
nos livros de ensino superior analisados por Leite e Porto (2015)12, sequer se pode encontraram pontos que
pudessem ser considerados preocupados com a história da química (HQ).
Buscando preencher a lacuna entre a História da Química (HQ) e o Ensino de Química (EQ),
comumente presente nos materiais didáticos, pesquisadores da área de história e filosofia da ciência
compartilham por meio de teses, dissertações, artigos completos em periódicos e relatos de experiência,
considerações sobre o uso da HQ no EQ em que se avaliam o uso da HQ em salas de aula de todo país.
Além da disseminação de boas práticas, observa-se também publicações preocupadas em discutir
sobre a HFC no cenário brasileiro. O trabalho de Martins (2007)13, por exemplo, afirma que a maioria dos
professores entende que a HFC é algo periférico e de ordem motivacional e que os materiais didáticos
reforçam essa ideia uma vez que dificilmente se encontram materiais de qualidade em relação a esta
temática.
8 Leite, Helena S. A.; Porto, Paulo A. “Análise da abordagem histórica para a tabela periódica em
livros de Química Geral para o Ensino Superior usados no Brasil no século XX.” Química Nova. 38, 4,
(2015): 580-587.
9 Vidal, Paulo H. O.; Porto, Paulo A. “A história da ciência nos livros didáticos de química do
PNLEM 2007.” Ciência e Educação, 18, 2, (2012): 291-308.
10 Fernandes, Maria A. M.; Porto, Paulo A. “Investigando a presença da história da ciência em
livros didáticos de Química Geral para o ensino superior.” Química Nova. 35, 2, (2012): 420-429.
11 Prado, Leticia “Pressupostos epistemológicos e a experimentação no Ensino de Química: o caso
de Lavoisier.” Dissertação de Mestrado em Educação para Ciência. Faculdade de Ciências. Universidade
Estadual Paulista. Bauru, 2015.
12 Leite, Helena S. A.; Porto, Paulo A. “Análise da abordagem histórica para a tabela periódica em
livros de Química Geral para o Ensino Superior usados no Brasil no século XX.” Química Nova. 38, 4,
(2015): 580-587.
13 Martins, André F. P. “História e filosofia da ciência no ensino: há muitas pedras nesse caminho…”
Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 24, 1, (2007): 112-131.
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Por isso é fundamental promover uma formação mais dinâmica e plural do professor, pois neste
cenário são imprescindíveis discussões sobre a contextualização histórico-social do conhecimento científico
e o alinhamento entre a HFC e o movimento Ciência-Tecnologia-Sociedade, por exemplo, já que o professor
é o responsável em guiar seus alunos rumo à superação de visões distorcidas e apropriações de visões
adequadas sobre a ciência e o trabalho científico.
Segundo Martins (2007)14 os professores de física que participaram de sua pesquisa entendem que
a HFC é ilustração, introdução de assunto e não parte do conteúdo propriamente dito, mostrando falta de
interesse pessoal pelo assunto que se refletindo no desconhecimento e no pouco conhecimento dessas
temáticas pelos alunos.
Tendemos a acreditar que o cenário não é diferente entre os professores de química, com o
agravante de que esta ciência mostra-se central no nível das práticas e marginal em questões
epistemológicas e históricas15.
As disciplinas que relacionam a HFC nos cursos de licenciatura em química, tendem a apresentar
em suas ementas discussões gerais deixando de lado aspectos relacionados diretamente à química, sua
epistemologia e historiografia. Na formação inicial desses professores são parcas e insuficientes as
discussões e as propostas para o ensino e aprendizagem que viabilizem questões que envolvam a
epistemologia e a historiografia de forma contextualizada, em consequência observa-se o desinteresse
pelas questões fundamentais e ontológicas da química enquanto ciência particular.
Segundo Martins16, a formação deficitária dos professores, a dificuldade dos alunos com a leitura e
interpretação de textos, a falta de material pedagógico adequado para o trabalho com HFC e/ou que faça
parte dos temas presentes nos currículos são alguns dos obstáculos presentes para o desenvolvimento
desta abordagem no ensino.
Diante desta conjuntura, este trabalho tem por objetivo olhar para o ensino de química e para a falta
de materiais pedagógicos alinhados a HFC, mais especificamente materiais sobre HQ e o ensino de química.
Cientes das deficiências dos materiais didáticos, optamos por usar materiais produzidos por professores e
pesquisadores da área como fonte de dados. Para isso, usamos como base as publicações de três revistas
brasileiras cujo foco centra-se em artigos de história da ciência e ensino de ciências em um período de dez
anos.
Buscamos a partir da revisão bibliográfica e da categorização temática, verificar os temas de HQ
mais recorrentes nos trabalhos publicados nestes periódicos a fim de identificar a analisar a potencialidade
14 Ibid.
15 Erduran, Sibel “Beyond philosophycal confusion: establishing the role of philosophy of chemistry
in chemical education research.” In International History, Philosophy and Science Teaching Conference,
1-24, Leeds, England, 2005.
16 Martins, “História e filosofia,” 112-131.
7
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de uso destes materiais no ensino de ciências da natureza e suas tecnologias, mais especificamente no
ensino de química ajustado as competências e habilidades descritas na BNCC.
O ENSINO COM BASE EM COMPETÊNCIAS E HABILIDADES: A ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
NO ENSINO MÉDIO
A BNCC foi elaborada considerando que o aluno tem direito a uma educação integral, ou seja, ao
final do ensino médio ele deve ter desenvolvido competências e habilidades para viver em sociedade e
formar-se um ser humano responsável, crítico e participativo no ambiente em que vive, pronto para o mundo
de trabalho e para o exercício da cidadania.
A área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias (CNT) para o Ensino Médio na qual se inserem
os conhecimentos conceituais de Física, Química e Biologia, deve ser orientada considerando o trabalho
por meio de duas áreas temáticas a saber, “Matéria e Energia” e “Vida, Terra e Cosmos” que derivam e
aprofundam as temáticas, “Matéria e Energia”, “Vida e Evolução” e “Terra e Universo”, provenientes do
Ensino Fundamental. Segundo a BNCC,
Na área de CNT, o professor assume o compromisso de desenvolver além das dez competências
gerais da educação básica, as três competências específicas da área e suas respectivas habilidades. Para
ilustrar, apresentamos no quadro 2 de forma resumida as competências e habilidades específicas das CNT.
É importante destacar que na BNCC, os conteúdos são entendidos como meios e não finalidades
do ensino de ciências da natureza, assim, eles são importantes, mas devem estar a serviço de algo mais
abrangente como as competências e habilidades19 acima destacadas que abrem por si uma gama de
possibilidades de trabalho por meio de conteúdos específicos da química, física e biologia além de ações
interdisciplinares.
Da mesma forma as competências e conteúdos de CNT abrem uma infinidade de tópicos de trabalho
para a história e filosofia da química. Independente da abordagem e objetivo que professor escolher, é
possível, por exemplo, apresentar a história do desenvolvimento de conhecimentos científicos, as relações
18 Quando adaptado a partir de Brasil (2018, p. 553-560) e material de apoio ao cursista “A BNCC
do Ensino Médio: Ciências da Natureza” disponível em http://avamec.mec.gov.br.
19 Por definição, na BNCC, competências são entendidadas como um conjunto de habilidades,
conhecimentos, valores e atitudes que buscam promover o desenvolvimento dos estudantes em todas
as suas dimensões (intelectual física, social, emocional e cultural). Já as habilidades expressam as
aprendizagens essenciais, explicitando o progresso cognitivo, o objeto do conhecimento e o contexto da
aprendizagem.
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humanas dos grupos de pesquisa e etc. Além de promover discussões sobre ética e as relações entre a
química e outros campos da atuação humana como a economia e a política.
No período em que escrevemos este trabalho, há muitas críticas e discussões acerca do documento
e poucos materiais revisados com base nas diretrizes da BNCC nas escolas públicas, segundo a previsão
divulgada por meio de material de formação de professores do ministério da educação, os livros didáticos
atualizados serão gradativamente inseridos na escola, primeiramente no ensino fundamental e em um
segundo momento no ensino médio. Segundo iconográfico disponibilizado na página oficial do ministério da
educação, somente em 2023 serão disponibilizados todos os materiais didáticos atualizados para o Ensino
Médio, considerando materiais didáticos os livros distribuídos por meio do Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD)20.
Concomitantemente os estados e sistemas de ensino estão reorganizando seus currículos. O estado
de São Paulo, por exemplo, tem a intenção de iniciar a implementação dos novos currículos de maneira
gradativa, iniciando com as primeiras séries do Ensino Médio em 2021 e finalizando a implementação total
em 202321.
Diante destes dados, voltemos nosso foco para a produção acadêmico científica relacionada a HQ
e o ensino de química nos últimos dez anos de publicações no cenário brasileiro. Há trabalhos preocupados
em promover a aproximação da história da química as demandas do ensino de química atual, centrado nas
competências e habilidades de ciências da natureza e suas tecnologias? Quais são os conhecimentos de
química mais abordados nestes trabalhos?
24 REIS, André S.; SILVA, Maria D. B.; BUZA, Ruth G. C.. O uso da história da ciência como
estratégia metodológica para a aprendizagem do ensino de química e biologia na visão dos professores
do ensino médio. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 5, p. 1-12, jun. 2012.
25 TARGINO, Arcenira R. L.; BALDINATO, José. O. Abordagem histórica da lei periódica nas
coleções do PNLD 2012. Química Nova na Escola, v. 34, n. 4, p. 324-333, 2016.
26 Quadro elaborado pelos autores.
11
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7 GANDOLFI, H. E. ; FIGUEIRÔA, S. F. M.. As nitreiras no Brasil dos séculos XVIII e XIX: uma abordagem histórica no ensino
de ciências. Revista Brasileira de História da Ciência, v. 7, n.2, p. 279-297, 2014.
8 TRINDADE, L. S. P.. História da Ciência na sala de aula: Conversando sobre Química. História da Ciência e Ensino:
construindo interfaces, v. 1, p. 16-22, 2010.
Química Orgânica
9 FARIAS, L. A.. Jardins Químicos, Stéphane Leduc e a Origem da Vida. Química Nova na Escola, v. 35, n. 3, p. 152-157,
2013.
10 LUTFI, M.; ROQUE, N. F.. História de Eugênias. Química Nova na Escola, v. 36, n. 4, p. 252-260, 2014.
11 SANTOS, S. A.; LUCA, A. G.. “Os botões de Napoleão”: moléculas de glicose e ácido ascórbico contextualizadas química
e biologicamente. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 9, p. 107-122, maio 2014.
12 ARAÚJO, M. C.; BALDINATO, J. O.. A síntese de amônia: uma proposta de estudo histórico para a formação de professores
de química vinculada ao Prêmio Nobel de Fritz Haber. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 11, p.
91-129, 2015.
13 VIDAL, P. H.; PORTO, P. A.. Algumas contribuições do episódio histórico da síntese artificial da ureia para o ensino de
química. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 4, p. 13-23, 2011.
14 DE LUCA, A. G.; SANTOS, S. A.; CAMPESTRINI, I. M.; ROMÃO, B. C.; WALZ, G. C.; LUCIANO, G. H.; ALBANO, J. C.;
ARAUJO, M. L. et al. Episódio Histórico de Louis Pasteur: Uma proposta interdisciplinar para o ensino de Química, Física
e Biologia. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 17, p. 81-98, 2018.
15 COELHO, M. M. P.; MOREIRA, M. D.; AFONSO, A. F.. A ciência nos perfumes: atribuindo significados a Química Orgânica
através da história da temática. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 17, p. 109-123, 2018.
Teoria Atômica
16 MELONI, R. A.; VIANA, H. E. B. O ensino de Química no Brasil e os debates sobre o atomismo: um estudo dos programas
da educação secundária (1850-1931). Química Nova na Escola, v. 39, n. 1,p. 46-51, 2017.
17 PEREIRA, L. S. ; SILVA, J. L. P. B.. Uma História do Antiatomismo: Possibilidades para o Ensino de Química. Química
Nova na Escola, v. 40, n. 1, p. 19-24, 2018.
18 CHAGAS, A. P.. Existem átomos? (abordando Jean Perrin). História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 3,
p. 7-16, 2011.
19 PEREIRA, C. F. C.; ROCHA, A. B.; TAMIASSO-MARTINHON, P.; ROCHA, A. S.; SOUSA, C.. Contextualização Histórico-
Filosófica de Orbitais Atômicos e Moleculares. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 16, p. 18-35,
2017.
20 DE CASTRO, L. O.; TAMIASSO-MARTINHON, P.; ROCHA, A. S.; SOUSA, C.. Contextualização histórica do experimento
de Franck-Hertz. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 16, p. 54-66, 2017.
21 FERNANDES, J. M.; FRANCO-PATROCÍNIO, S.; FREITAS-REIS, I.. O químico e físico inglês Willian Crookes (1832-1919)
e os raios catódicos: Uma adaptação tátil do tubo para o ensino de modelos atômicos para aprendizes cegos. História da
Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 17, p. 67-80, 2018.
22 FERREIRA, L. M. ; PEDUZZI, L. O. Q.. Uma proposta textual frente a problemas referentes à história do átomo no ensino
de química. Revista Brasileira de História da Ciência, v. 7, n. 2, p. 261-278, 2014.
Gases e Termodinâmica
23 PULIDO, M. D.; SILVA, A. N.. Do calórico ao calor: uma proposta de ensino de química na perspectiva histórica. História
da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 3, p. 52-77, 2011.
24 GORRI, A. P.; SANTIN FILHO, O.. Representação de temas científicos em pintura do século XVIII: um estudo
interdisciplinar entre química, história e arte. Química Nova na Escola, v. 31, n. 3, p. 184-189, 2009.
25 AURANI, K. M.. As ideias iniciais de Clausius sobre entropia e suas possíveis contribuições à formação de professores.
Revista Brasileira de História da Ciência, v. 11, n. 1, p. 155-163, 2018.
26 MARTORANO, S. A. A.; MARCONDES, M. E. R.. Investigando as ideias e dificuldades dos professores de química do
ensino médio na abordagem da história da química. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 6, p. 16-
31, 2012.
12
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27 MARTORANO, S. A. A.; CARMO, M. P.; MARCONDES, M. E. R.. A História da Ciência no Ensino de Química: o ensino e
aprendizagem do tema cinética química. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 9, p. 19-35, 2014.
28 PRADO, L.; CARNEIRO, M. C.. O episódio histórico das teorias do flogisto e calórico: criando interfaces entre a História e
Filosofia da Ciência e o Ensino de Química na busca pela humanização do trabalho científico. História da Ciência e
Ensino: construindo interfaces, v. 18, p. 153-180, 2018.
Tabela Periódica e Propriedades da Matéria
29 FLÔR, C. C.. A História da Síntese de Elementos Transurânicos e Extensão da Tabela Periódica Numa Perspectiva
Fleckiana. Química Nova na Escola. v. 31 n. 4, p. 246-250, 2009.
30 GALVÃO, R.; MENEZES, J. F. S. Breve Discussão Histórica sobre a “Descoberta” dos Lantanídeos e sua Relação com as
Teorias de Luz e Cores de Maxwell e Einstein. Química Nova na Escola , v. 38, n. 1, p. 25-32, 2016.
31 VIDAL, P. H. O.; PORTO, P. A.. Representações químicas e a história da ciência em sala de aula. História da Ciência e
Ensino: construindo interfaces, v. 10, p. 70-84, 2014.
32 GAMA RUSSO, A. L. R.. Primo Levi - Uma vida a descobrir. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 18,
p. 140-152, 2018.
33 PRADO, L.. Dorothy Hodgkin e seus estudos cristalográficos sobre a estrutura da penicilina. História da Ciência e Ensino:
construindo interfaces, v. 18, p. 128-151, 2018.
34 CECON, K.. Um exemplo de negação do conceito de elemento na filosofia natural. História da Ciência e Ensino:
construindo interfaces, v. 8, p. 68-89, 2013.
Química Inorgânica
35 SOUZA, C. R.; SILVA, F. C.. Discutindo o contexto das definições de ácido e base. Química Nova na Escola. v. 40, n. 1,
p. 14-18, 2018.
36 DA SILVA, M. P.; SANTIAGO, M. A.. Proposta para o ensino dos conceitos de ácidos e bases: construindo conceitos através
da História das Ciências combinada ao emprego de um software interativo de livre acesso. História da Ciência e Ensino:
construindo interfaces, v. 5, p. 49-82, 2012.
37 BELLETTATO, R. D.. Utilização de indicadores orgânicos de pH no ensino de ácidos e bases: considerando alguns
aspectos históricos. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 6, p. 71-77, 2012.
Radioatividade
38 BARP, E.. Contribuições da História da Ciência para o Ensino da Química: Uma Proposta para Trabalhar o Tópico
Radioatividade. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 8, p. 50-67, 2013.
39 LIMA, R. da S.; PIMENTEL, L. C. F.; AFONSO, J. C.. O despertar da radioatividade ao alvorecer do século XX. Química
nova na escola, v. 33, n. 2, p. 93-99, 2011.
40 PINTO, G. T.; MARQUES, D. M.. Uma Proposta Didática na Utilização da História da Ciência para a Primeira Série do
Ensino Médio: A Radioatividade e o cotidiano. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 1, p. 27-57,
2010.
Estequiometria
41 FREITAS DA SILVA, C. P.; SILVA, M. D. B.; DOS REIS, A. S.. Princesa Isabel e a estequiometria: a contribuição da História
da Ciência para o processo de ensino e aprendizagem numa abordagem voltada para formação de professores. História
da Ciência e Ensino: construindo interfaces, v. 18, p. 106-127, 2018.
Equilíbrio Químico
42 SILVA, A. N.; PATACA, E. M.. O Ensino de Equilíbrio Químico a partir dos trabalhos do cientista alemão Fritz Haber na
síntese da amônia e no programa de armas químicas durante a Primeira Guerra Mundial. Química Nova na Escola, v. 40,
n. 1, p. 33-43, 2018.
Métodos de Separação
43 ANDRADE, M. F. D.; SILVA, F. C.. Destilação: uma sequência didática baseada na História da Ciência. Química Nova na
Escola. v. 40, n. 2, p. 97-105, 2018.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
13
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As competências e habilidades das CNT que se encaixam nos objetivos e abordagens nos trabalhos
analisados não são excludentes, por exemplo, há trabalhos em que identificamos a pretensão de investigar
situações problemas e aplicações do conhecimento científico associadas a análise de interpretações sobre
a dinâmica da vida e por isso foram classificados nas competências 1 e 2 simultaneamente. Os gráficos das
figuras 1 e 2, a seguir, apresentam um panorama quantitativo de recorrências das competências e
habilidades identificadas nos artigos.
Figura 1: Resultado da análise das competências Figura 2:Resultados de análise das habilidades da CNT
específicas da CNT
Como se pode ver na figura 1, a competência 3, que sugere o uso de atividades de investigação de
situações-problema e avaliação de aplicações do conhecimento científico e tecnológico, utilizando
procedimentos e linguagens próprios das Ciências da Natureza está presente em quase todos os trabalhos
selecionados em nossa análise.
Neste mesmo sentido, a habilidade que sugere o uso de atividades para promover o debate em
torno de temas científicos e/ou tecnologias (302) lidera o número de recorrências nos trabalhos desta
análise, seguido pela habilidade 201, na qual se preocupa em analisar e utilizar modelos científicos e da
habilidade 307, que coloca em discussão as propriedades específicas dos materiais.
Não houveram casos em que os trabalhos não se enquadrassem em nenhuma competência ou
habilidade descrita na BNCC, houveram apenas habilidades (ver quadro 2) que não faziam parte dos
objetivos e abordagens dos trabalhos encontrados nesta pesquisa, como já esperado.
A leitura dos textos na íntegra nos permitiu a categorização dos artigos, também, por temas
relacionados aos conteúdos de química, desta forma ampliamos nossa análise considerando 10 categorias,
a saber: Temas para ensinar química; Química Orgânica; Teoria Atômica; Gases e Termodinâmica; Tabela
periódica e Propriedades da Matéria; Química Inorgânica; Radioatividade; Estequiometria; Equilíbrio
Químico e Métodos de Separação.
É interessante destacar que com exceção da categoria “Temas para ensinar química” que engloba
trabalhos interdisciplinares ou que usam de um tema para promover discussões sobre os conhecimentos
14
Prado & Trentin Volume 22, 2020 – pp. 3-28
relacionados a química, todas as categorias fazem referência a uma área do conhecimento químico de
maneira direta. A tabela 1, a seguir mostra um panorama quantitativo destas publicações.
maneira organizada segundo grandes temas que perpassam por discussões culturais, econômicas, sociais,
políticas e químicas.
Este movimento de trabalho exalta o nível das distorções inevitáveis apontadas por Mathews28 e
permite que os professores ensinem determinado conteúdo de ciências a partir de um recorte consciente da
história considerando a complexidade da ciência e suas relações com outros campos das relações humanas.
O trecho a seguir, apresenta um exemplo do trabalho desta categoria, nele podemos ver a
preocupação em explicar um pouco sobre a organização econômica e política das sociedades dominantes
no Brasil Colônia, além de explicar a composição química da cana de açúcar.
Para romper com o monopólio da produção de açúcar exercido pelo Oriente Médio, os
portugueses encontraram no Brasil Colônia uma alternativa para ingressarem
definitivamente nesse mercado e estimularem seu crescimento econômico. O clima
tropical e as boas condições do solo pareciam ideais para o cultivo da cana-de-açúcar
(...). Essa planta é a matéria-prima da sacarose, comumente conhecida como açúcar
comum, substância classificada como carboidrato, que é constituída por duas unidades
de monossacarídeos diferentes. A partir da união de uma molécula de β-frutose (1a) com
uma de α-glicose (1b), ocorre a formação da sacarose (1c) e água29
Além de apresentar uma visão contextualizada da ciência, a resolução de situações problema com
análise de gráficos, tabelas, leitura de artigos de opinião, reportagens e materiais de diversos estão
completamente de acordo com as competências gerais da educação básica, bem como as específicas da
área de CNT, tanto que estão muito presentes nas questões de avaliações em grande escala como o ENEM,
que desde suas primeiras edições propõem questões interdisciplinares e contextualizadas.
Sete (16,3%) trabalhos analisados pertencem a esta categoria. É possível subdividir esta categoria
em duas subcategorias, trabalhos cuja preocupação é apresentar a historiografia sobre o tema (3) e
trabalhos que relatam propostas didáticas aplicadas em sala de aula (4).
30 Vidal, Paulo H.; Porto, Paulo A. “Algumas contribuições do episódio histórico da síntese artificial
da ureia para o ensino de química.” História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, 4, (2011): 13-
23.
31 Araújo, Mariana C.; Baldinato, José O. “A síntese de amônia: uma proposta de estudo histórico
para a formação de professores de química vinculada ao Prêmio Nobel de Fritz Haber”. História da
Ciência e Ensino: construindo interfaces 11, (2015): 91-129.
32 Farias, Luciana A. “Jardins Químicos, Stéphane Leduc e a Origem da Vida.” Química Nova na
Escola, 35, 3, (2013): 152-157.
33 Lutfi, M.; Roque, N. F. “História de Eugênias”. Revista Química Nova na Escola, 36, 4, (2014):
252-260.
34 Santos, Sandra A.; Luca, Anelise G. “Os botões de Napoleão: moléculas de glicose e ácido
ascórbico contextualizadas química e biologicamente.” História da Ciência e Ensino: construindo
interfaces, 9, (2014): 107-122.
35 De Luca, Anelise G.; Santos, Sandra A.; Campestrini, Iara M.; Walz, Gabriel C.; Luciano,
Gabriela H .; Albano, Jéssica C. “Episódio Histórico de Louis Pasteur: Uma proposta interdisciplinar para
o ensino de Química, Física e Biologia.” História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, 17, (2018):
81-98.
36 Coelho, Márcia M. P.; Moreira, Marlon D.; Afonso, Andréia F. “A ciência nos perfumes: atribuindo
significados a Química Orgânica através da história da temática.” História da Ciência e Ensino:
construindo interfaces, 17, (2018): 109-123.
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partir das observações registradas (...) verificamos que a curiosidade dos estudantes foi
instigada desde o início. O interesse foi demonstrado através dos questionamentos e do
empenho para desenvolver as tarefas propostas (...) Acreditamos que um ensino que
proporcione uma abordagem mais ampla seja um dos caminhos para obtermos a
qualidade tão desejada na educação37.
37 Ibid., 109.
38 Ibid.
39 Pereira, Letícia S.; Silva, José L. P. B. “Uma História do Antiatomismo: Possibilidades para o
Ensino de Química.” Química Nova na Escola, 40, 1, (2018): 19.
40 Fernandes, Jomara M., Franco-Patrocínio, Sandra; Freitas-Reis, Ivoni “O químico e físico inglês
Willian Crookes (1832-1919) e os raios catódicos: Uma adaptação tátil do tubo para o ensino de modelos
atômicos para aprendizes cegos.” História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, 17, (2018): 67-
80.
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Crookies e uma adaptação tátil do tubo para o ensino de modelos atômicos para aprendizes cegos. Já o
trabalho de Ferreira e Peduzzi41 discutia os problemas referentes à história do átomo no ensino de química.
Em relação as competências e habilidades das ciências da natureza e suas tecnologias esta
categoria concentra-se na competência 2 e 3, mais especificamente na habilidade 201 (analisar e utilizar
modelos científicos) e 205 (utilizar noções de probabilidade e incerteza). Dois trabalhos, um sobre o
antiatomismo42 e outro sobre a história do experimento de Franck-Hertz43, preocupam-se também em
promover debates por meio as seleção de fontes confiáveis e mostrar situações controversas sobre a
aplicação dos conhecimentos (habilidades 302, 303 e 304).
Esta categoria contempla seis artigos (14%) e há pelo menos um trabalho em todas as revistas
analisadas.
Os artigos de Gorri e Santin Filho (2009)44, Aurani (2018)45, Martorano et al (2014)46 e Prado e
Carneiro (2019)47apresentam conteúdos de química a partir de sua história, mas não levam suas propostas
para a sala de aula.
Três artigos além de abordarem o tema “Gases e Termodinâmica” apresentam relatos de
experiências de aplicação de sequências didáticas em salas de aula ou o levantamento de concepções de
professores atuantes no Ensino Médio.
O único trabalho que apresenta um relato de atividade desenvolvida no ensino médio é intitulado
“Do calórico ao calor: uma proposta de ensino de química na perspectiva histórica” que usa textos originais
41 Ferreira, Larissa M.; Peduzzi, Luiz O. Q. “Uma proposta textual frente a problemas referentes à
história do átomo no ensino de química.” Revista Brasileira de História da Ciência, 7, 2, (2014): 261-
278.
42 Meloni, R. A.; Viana, H. E. B. “O ensino de Química no Brasil e os debates sobre o atomismo:
um estudo dos programas da educação secundária (1850-1931)”. Química Nova na Escola, 39, 1,
(2017): 46 -51.
43 De Castro, L et al. “Contextualização histórica do experimento de Franck-Hertz”. História da
Ciência e Ensino: construindo interfaces, 16, (2017): 54-66.
44 Gorri, Ana P.; Santin Filho, Ourides “Representação de temas científicos em pintura do século
XVIII: um estudo interdisciplinar entre química, história e arte.” Química Nova na Escola, 31, 3, (2009):
184-189.
45 Aurani, Katya M. “As ideias iniciais de Clausius sobre entropia e suas possíveis contribuições à
formação de professores.” Revista Brasileira de História da Ciência 11, 1, (2018): 155-163.
46 Martorano, Simone A. A.; Carmo, Maria P.; Marcondes, Maria E. R. “A História da Ciência no
Ensino de Química: o ensino e aprendizagem do tema cinética química.” História da Ciência e Ensino:
construindo interfaces, 9, (2014): 19-35.
47 Prado, Leticia; Carneiro, Marcelo C. “O episódio histórico das teorias do flogisto e calórico:
criando interfaces entre a História e Filosofia da Ciência e o Ensino de Química na busca pela
humanização do trabalho científico.” História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, 18, (2018):
153-180.
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de Jane Marcet como geradores das discussões. Segundo Pulido e Silva48 o trabalho foi desenvolvido com
alunos de 1º ano do Ensino Médio e mostrou como o calor aparece em diferentes situações e que em todas
se pode explorar seu potencial didático. Para os autores,
Chama nossa atenção o fato que em todos os trabalhos de revisão de materiais didáticos ou que
fazem o levantamento de concepções de professores sobre o uso da HFC apresentam resultados
semelhantes e discutem em sua maioria a falta de fontes de informação e discussões sobre o assunto,
mostrando que há muito tempo este cenário vem sendo esquecido pelos pesquisadores e ou pouco
divulgados.
Essas constatações vão também ao encontro dos resultados quantitativos encontrados neste
trabalho, uma vez que 43 artigos é uma baixa quantidade de publicações levando em consideração o
período e os periódicos analisados, ou seja, 3 periódicos em 10 anos completos de publicações.
Considerando esse pequeno volume de dados não é difícil de imaginar que os professores de química em
48 Pulido, Marcelo D.; Silva, Aroldo N. “Do calórico ao calor: uma proposta de ensino de química
na perspectiva histórica.” História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, 3, (2011): 58-59.
49 Ibid., 72-73.
50 Martorano, Simone A. A.; Marcondes, Maria E. R. “Investigando as ideias e dificuldades dos
professores de química do ensino médio na abordagem da história da química.” História da Ciência e
Ensino: construindo interfaces, 6, (2012): 16.
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exercício se sintam pouco preparados para ensinar seus conteúdos a partir da história e filosofia da ciência
e que se faz urgente a promoção de cursos de formação continuada para professores com essa temática.
É interessante destacar que pela primeira vez há trabalhos preocupados com a competência 1 e 3,
ou seja, a análise de fenômenos naturais e processos tecnológicos associados a investigações e resolução
de problemas. Destacam-se nesta categoria as habilidades 101 e 302, que se relacionam diretamente a
conversação e transformação da matéria e a promoção de debates em torno do tema gases e
termodinâmica.
Seis artigos (14%) pertencem a esta categoria, a partir da leitura atenta destes trabalhos podemos
realocá-los em duas subcategorias, são elas: estudos historiográficos (4), propostas didáticas (2).
Quatro trabalhos tem o objetivo de apresentar estudos historiográficos sobre um cientista em
particular e/ou a história de um tema relacionado a tabela periódica. São exemplos desta subcategoria, o
trabalho de Galvão e Menezes51 cujo objetivo era apresentar uma “Breve discussão histórica sobre a
“Descoberta” dos Lantanídeos e sua Relação com as Teorias de Luz e Cores de Maxwell e Einstein” e o
trabalho de Prado52, que apresentava Dorothy Hodgkin e o processo de obtenção da estrutura cristalográfica
da penicilina.
Em todos os trabalhos as propostas didáticas sobre o tema tabela periódica e propriedades da
matéria foram aplicadas em sala de aula, Russo53, por exemplo levou o livro “A Tabela Periódica” de Primo
Levi para a sala de aula, segundo a autora,
A leitura de dois capítulos do livro foi mediada junto a alunos do terceiro ano do Ensino
Médio. O objetivo foi compreender a possibilidade de emprego de sua leitura na formação
de alunos do ensino médio, visando a interdisciplinaridade e despertar o interesse pela
leitura. Observamos desconhecimento básico sobre acontecimentos recentes da história
da humanidade, dificuldades na interpretação de texto, contudo percebemos após a
leitura guiada dos dois capítulos uma melhor interpretação e compreensão dos fatos.54
51 Galvão, Rodrigo; Menezes, Jorge F. S. “Breve Discussão Histórica sobre a “Descoberta” dos
Lantanídeos e sua Relação com as Teorias de Luz e Cores de Maxwell e Einstein.” Química Nova na
Escola, 38 (1), (2016): 25-32.
52 Prado, Leticia; Carneiro, Marcelo C. “O episódio histórico das teorias do flogisto e calórico:
criando interfaces entre a História e Filosofia da Ciência e o Ensino de Química na busca pela
humanização do trabalho científico.” História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, 18, (2018):
153-180.
53 Russo, Ana L. R. G. “Primo Levi - Uma vida a descobrir.” História da Ciência e Ensino: construindo
interfaces, 18, (2018): 140-152.
54 Ibid, 140.
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Observamos que aplicar a História da Ciência em sala de aula não é uma estratégia trivial.
Alguns alunos não conseguiram relacionar as figuras com suas respectivas épocas.
Entretanto, mesmo aqueles que não conseguiram propor a sequência cronológica
esperada tiveram a oportunidade de refletir sobre a ideia de que as representações
químicas sofreram modificações ao longo da história. A escola deve ser um espaço no
qual existam momentos em que se pode errar e refletir sobre os enganos sem problemas.
Tendo isso em mente, foi proposto aos alunos que não haveria prejuízo caso eles
errassem, pois o que interessava para efeito de avaliação (e atribuição de uma nota) eram
seu esforço e envolvimento com a atividade.57
Os seis trabalhos apresentados nesta categoria apresentam as três competências específicas das
Ciências da Natureza e suas Tecnologias como planos de fundo. Desatacam-se as habilidades relacionadas
a composição e toxidade dos materiais (104), os ciclos dos elementos (105), a análise e utilização de
modelos científicos (201) e a utilização de noções de probabilidade e incerteza (205). Há trabalhos que
evidenciam o enfrentamento de situações problema por meio da seleção de fontes confiáveis, debates
relacionados a situações controversas e a apresentação das propriedades específicas dos materiais.
Apesar da abrangência destes trabalhos em relação ao desenvolvimento de competências e
habilidades de CNT, a baixa produção encontrada nesta categoria, retrata a escassez das discussões sobre
o uso da HFC como metodologia de ensino e a baixa produção de textos de professores e pesquisadores
da área que divulguem boas práticas ou propostas para o uso em sala de aula, deixando o ensino deste
tema a cargo dos materiais didáticos nem sempre preocupados em apresentar uma historiografia da ciência
ajustada aos moldes modernos de ensino.
Os conteúdos relacionados às teorias sobre ácidos e bases são predominantes nesta categoria,
bem como as habilidades relacionadas ao debate sobre as contribuições favoráveis ou limitantes à
manifestação da vida e a situações controversas sobre a aplicação de conhecimentos (habilidades 202, 302
e 304).
Infelizmente poucos trabalhos envolvem-se neste tema, apenas 3 (6,9%) dos trabalhos analisados
nesta pesquisa pertencem a esta categoria. O cenário torna-se ainda mais escasso quando vemos que
apenas o trabalho de Da Silva e Santiago58 descrevem uma atividade que foi levada à sala de aula. Estes
autores relatam o uso combinado da HQ e softwares, para eles os alunos devem ter
Assim como na categoria anterior, apenas três trabalhos, 6,9%, foram encontrados com este tema.
O trabalho de Lima, Pimentel e Afonso62, apresentaram os primeiros usos do elemento rádio na sociedade
do início do século XX, trazendo exemplos no
58 Da Silva, Marcos P.; Santiago, Maria A. “Proposta para o ensino dos conceitos de ácidos e bases:
construindo conceitos através da História das Ciências combinada ao emprego de um software interativo
de livre acesso.” História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, 5, (2012): 49-82.
59 Ibid., 48.
60 Bellettato, Rafael D. “Utilização de indicadores orgânicos de pH no ensino de ácidos e bases:
considerando alguns aspectos históricos.” História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, 6,
(2012): 71-77.
61 Souza, Cleuzane R.; Silva, Fernando C. “Discutindo o contexto das definições de ácido e base.”
Química Nova na Escola, 40, 1, (2018): 14-18.
62 Lima, Rodrigo Da S.; Pimentel, Luiz C. F.; Afonso, Júlio C. “O despertar da radioatividade ao
alvorecer do século XX.” Química nova na escola, 33, 2, (2011): 93-99.
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Apesar de não ser uma atividade didática, este texto e as ilustrações que nele se vê são muito
interessantes para o uso no Ensino de Química, pois mostram cosméticos e propagandas de produtos
radioativos podendo ser discutido também a relação entre desenvolvimento científico e sustentabilidade
dentro da sociedade, abordando desde o consumismo desenfreado, até o entendimento da natureza para a
saúde humana.
Os dois últimos trabalhos desta categoria apresentam propostas didáticas, mas não apresentam
relatos de experiência sobre a realização destas atividades. Desta forma entendemos que tratam de
materiais de apoio ao professor.
O trabalho de Barp64, busca retratar o contexto histórico da descoberta da radioatividade e os
personagens que contribuíram para este episódio desmistificando ideias sobre “a química como uma ciência
pronta ou como verdade absoluta e a questão dos pioneiros ou do pai (pai da química, pai da física)”65
Por fim Pinto e Marques66 apresentam um material de história da ciência para o apoio do trabalho
do professor em que são apresentados cinco planos de aula para a primeira série do Ensino Médio sobre o
tema radioatividade, para os autores esta atividade é
(…) promissora no sentido de suprir a deficiência de conteúdo ao se trabalhar somente
com o auxílio do livro didático, visando, dessa forma, um aprendizado mais abrangente e
com maior adequação de conteúdo para a alfabetização científica dos alunos, o que nos
trouxe extrema motivação em desenvolvê-lo.67
É possível encontrar nestes artigos todas as informações necessárias para o trabalho com a história
da radioatividade de maneira adequada aos objetivos e abordagens esperados na historiografia moderna,
ficando a cargo do professor adaptá-la a sua realidade escolar. Em relação as competências e habilidades,
63 Ibid., 97.
64 Barp, Ediana “Contribuições da História da Ciência para o Ensino da Química: Uma Proposta
para Trabalhar o Tópico Radioatividade.” História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, 8, (2013):
50-67.
65 Ibid., 50.
66 Pinto, Giovana T.; Marques, Deividi M. “Uma Proposta Didática na Utilização da História da
Ciência para a Primeira Série do Ensino Médio: A Radioatividade e o cotidiano.” História da Ciência e
Ensino: construindo interfaces, 1, (2010): 27-57.
67 Ibid., 49.
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“MÉTODOS DE SEPARAÇÃO”
Por apresentarem apenas um artigo cada para análise, optamos por discutir as categorias de 8 a
10 juntas. De forma geral é preocupante ver que em um decênio de publicações de três revistas
conceituadas na área encontramos apenas um artigo sobre cada tema. Na nossa opinião, torna-se uma
missão quase impossível fazer com que o professor do ensino médio tome conhecimento destes trabalhos
por si, uma vez que são pouco significativos até mesmo no cenário acadêmico.
O artigo selecionado sobre o tema estequiometria de autoria de Freitas da Silva; Silva; Dos Reis68,
é voltado para a formação inicial de professores e foi desenvolvido durante um minicurso em que foram
aplicados dois questionários, o primeiro versando sobre o conhecimento prévio dos graduandos acerca da
História da Ciência no ensino e o segundo sobre as contribuições do uso das aulas de química atribuídas à
Princesa Isabel no conteúdo de estequiometria. Os autores concluem que
Entendemos que atividades como esta, apesar de serem pontuais ajudam na desmistificação e no
treinamento do uso da HC no ensino de química, o que diante das considerações dos autores analisados
nesta pesquisa é fator imprescindível e primordial para o atual cenário brasileiro. Este trabalho também
desenvolve as habilidades 101 e 201, ou seja, a análise e utilização de modelos científicos sobre a utilização
68 Freitas Da Silva, Cassia P., Silva, Maria D. B.; Dos Reis, André S. “Princesa Isabel e a
estequiometria: a contribuição da História da Ciência para o processo de ensino e aprendizagem numa
abordagem voltada para formação de professores.” História da Ciência e Ensino: construindo interfaces,
18, (2018): 106-127.
69 Ibid., 106.
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70 Silva, Aroldo N.; Pataca, Ermelinda M. “O Ensino de Equilíbrio Químico a partir dos trabalhos do
cientista alemão Fritz Haber na síntese da amônia e no programa de armas químicas durante a Primeira
Guerra Mundial.” Química Nova na Escola, 40, 1, (2018): 33-43.
71 Ibid., 40.
72 Ibid., 40.
73 Andrade, Marcella F. D.; Silva, Fernando C. “Destilação: uma sequência didática baseada na
História da Ciência.” Química Nova na Escola 40, 2, (2018): 97-105.
74 Ibid., 104.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em dez anos de publicações das três revistas brasileiras analisadas observamos que dez temas de
química foram considerados, mesmo que em alguns casos como os temas estequiometria e equilíbrio
químico, por exemplo, tenhamos encontrado apenas um trabalho.
Alegra-nos constatar que temas geradores para o ensino de química que exaltam a
interdisciplinaridade das ciências abrangeu 20% dos trabalhos analisados, uma vez que este tipo de
abordagem se faz constantemente presente nas demandas da BNCC e em avaliações como o ENEM
mostrando a atualização dos profissionais da área de HFC quanto a este quesito.
Das três revistas consultadas, as revistas: Química Nova na Escola e História da Ciência e Ensino
abrangem mais de 90% das publicações sobre história da química mostrando o quando este campo ainda
encontra-se em construção e necessita de divulgação em periódicos tradicionais como na própria sociedade
brasileira de história da ciência, e na Revista Brasileira de História da Ciência.
Além da baixa produção sobre o assunto, nossa análise mostrou também certa escassez de
publicações (quando se pensa no período analisado) diretamente voltadas para orientações dos professores
sobre o uso da história da ciência em sala de aula. Dos 43 trabalhos analisados, 20 (46,5%) apresentavam
relatos de experiências de sala de aula ou orientações para elaboração de planos de aula tendo a HC como
preocupação metodológica central.
Porém, entendemos que todos os trabalhos aqui citados tem a potencialidade de serem usados pelo
professor em salas de aula do Ensino Médio, uma vez que estes trabalhos apresentam episódios e
personagens importantes da história da química cabendo mais uma vez ao professor fazer adaptações e
planejar aulas que aproximem o aluno da ciência mostrando o quão rica pode ser a formação do cidadão
protagonista de seu aprendizado e ciente das relações entre ciência e outros campos, como a sociedade,
economia, cultura, política e tecnologia.
Por fim, concluímos que se a deficiência na abordagem historiográfica é grande nos materiais
didáticos brasileiros também o é nas publicações em periódicos, mais especificamente sobre o tema história
da química e seu ensino.
SOBRE OS AUTORES:
Leticia do Prado
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências, Campus de Bauru
[email protected]
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