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Trajetória Da Universidade em Moçambique: História, Transformações, Desafios e Perspectivas.

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Trajetória da Universidade em Moçambique: História, transformações, desafios e

perspectivas.

Elidio Gilberto Luís Natingue1

Resumo

Desde a independência, o ensino superior em Moçambique cresce considerando as dinâmicas


contextuais e conjunturais. O estabelecimento do ensino superior data desde 1962, com a
criação dos Estudos Gerais e Universitários de Moçambique, passando para Universidade
Lourenço Marques em 1968 e, posteriormente, substituída por Universidade Eduardo
Mondlane. Nossa evidência é de que a função primordial da Universidade é formar e produzir
recursos humanos capazes de servir aos desafios técnico-científicos e profissionais com vista
à melhoria das condições de vida da população. Neste contexto, o incremento do ensino
superior foi também acompanhado pela criação de mecanismos para avaliar a sua qualidade.
O presente artigo teve como objetivo compreender o caminho percorrido por Moçambique na
construção do subsistema de ensino superior desde os tempos da colonização portuguesa aos
momentos da independência e até hoje.

Palavras-chave: Ensino Superior, História e transformação.

Introdução

A educação num contesto de ensino superior em Moçambique, tem vindo a registar um


crescimento exponencial, com a expansão tanto do número de universidades publicas e
privadas, como o seu acesso, em todas as províncias e de forma desproporcional.

O ensino superior em Moçambique expandiu-se ao mesmo tempo em que contribuiu para o


desenvolvimento da sociedade, possibilitando a inovação tanto das práticas comuns, da
ciência e da tecnologia, (ROSÁRIO, 2012).

1
Licenciado em Ensino de Matemática pela Universidade Pedagógica, Mestrando em Educação/Ensino de
Matemática na Universidade Rovuma, Nampula. natingue2017@outlook.com ou natingue@gmail.com
2

A pretensão deste artigo é descrever a trajetória das universidades em Moçambique, num


contexto histórico, suas metamorfoses. e seguidamente, incluímos elementos como desafios e
perspectivas.

Deste modo, o artigo está estruturado da seguinte maneira: a primeira secção faz uma breve
descrição histórica da génese das Universidades em Moçambique e suas transformações, na
segunda parte, apresentamos os desafios impostos ao ensino superior e perspectivas da
educação no ensino superior.

Breve historial do surgimento das Universidades em Moçambique e suas


transformações.

Historicamente, o ensino superior em Moçambique foi instituído em um momento muito


conturbado, o que levou Portugal, enquanto colonizador, a partir das pressões externas,
ligadas ao processo de descolonização, a criar instituições de ensino superior (IES) em
Moçambique, e não só. A criação das universidades nas colónias não significou
necessariamente a inclusão dos negros africanos, dando clara indicação que continuou com
privilégio de grupos como assimilados, filhos de colonos e filhos de índios, em detrimento
dos negros (Taímo, 2010).

Para melhor compreensão da evolução do Ensino Superior no país, foram consideradas quatro
(4) fases evolutivas, sendo as duas primeiras confinadas à então Colónia de Moçambique.

1. Primeira Fase (1962-1968) – Criação e Desenvolvimento da Primeira Instituição


Superior de Moçambique.

Com a criação dos Estudos Gerais Universitários de Moçambique (EGUM), em resposta às


críticas dos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas, esta fase é considerada a
existência de dois períodos. O primeiro período compreende o intervalo de 1962-1965,
caracterizado pela implantação das infraestruturas e abertura de alguns cursos entre os quais
cinco engenharias (Civil, Minas, Mecânica, Eletrotécnica e Química), Medicina e Cirurgia,
Medicina Veterinária, Ciências Pedagógicas e Agronomia e Florestas, e o segundo período de
1965-1968, determinado pela extensão dos Estudos Gerais Universitários de Moçambique,
no que se refere a abertura de novos cursos tais como: curso de Formação de Professores para
o ensino secundário e os cursos de Matemática Teórica e Aplicada, Física, Química, Biologia
e Geologia.
3

2. Segunda Fase (1968-1976) – Criação da Primeira Universidade em Moçambique


– Universidade de Lourenço Marques (ULM)

Através do decreto-lei 43.799 de Dezembro de 1968 do Conselho de ministros foi criada a


Universidade de Lourenço Marques (ULM), vocacionada para o ensino e investigação. Nessa
altura já funcionavam 17 cursos. Nesta fase verificou-se também a sua expansão em termos de
infraestruturas e recursos humanos (docentes, pessoal administrativo e discentes). No ano da
sua criação na ULM já frequentavam 2.400 estudantes dos quais só 1% eram Moçambicanos.
Verifica-se também a abertura de mais seis (6) cursos: Filologia Românica, História,
Geografia, Economia, Engenharia Metalúrgica e Matemática.

3. Terceira Fase (1976-1985) – Transformação da Universidade de Lourenço


Marques em Universidade Eduardo Mondlane

Como resultado das profundas transformações político-sociais decorrentes da ascensão do


País à Independência, o então Presidente Samora Moisés Machel atribuiu a Universidade de
Lourenço Marques (ULM) o nome de Universidade Eduardo Mondlane, em homenagem ao
relevante papel histórico representado em Moçambique pelo Doutor Eduardo Chivambo
Mondlane.

Esta fase pode dividir-se em dois períodos, nomeadamente:

3.1.O período de 1976 a 1983.

Caracterizado pela renovação e democratização das estruturas universitárias com a abertura de


novos cursos, recrutamento e formação de um corpo docente Moçambicano, adequação da
estrutura curricular às necessidades imediatas do mercado de trabalho com a abertura de
cursos com o nível de Bacharelato e formação rápida de estudantes pré-universitários (cursos
propedêuticos). Em 1981 é criada a Faculdade de Educação onde funcionam os Cursos de
Formação de Professores.

3.2.O Período, de 1983 a 1985

Demarca-se pelo desenvolvimento e aprovação de vários regulamentos nas áreas de formação


do corpo docente e gestão universitária assim como da melhoria do seu património, incluindo
o aprofundamento da cooperação com vários países e outros organismos internacionais que
financiam o ensino e a investigação. É neste período que se faz a reestruturação curricular que
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introduziu a licenciatura em cinco (5) anos nos cursos universitários, com o recrutamento,
formação e retenção de um corpo docente nacional e criação de estruturas colegiais de gestão
da universidade.

4. Quarta Fase (1985-2000) – Pluralidade de Instituições de Ensino Superior

Com a preocupação de formação de professores e de técnicos superiores para a educação, foi


criado em 1985 o Instituto Superior Pedagógico (ISP), subordinada a UEM. Em 1995, o ISP
foi transformado em Universidade Pedagógica, estabelecendo-se assim a segunda
Universidade Pública do país.

Ora, logo a seguir à criação do ISP em 1985, foi criado em 1986 o Instituto Superior de
Relações Internacionais (ISRI), vocacionado para a formação de quadros no âmbito das
relações internacionais e diplomacia, consistindo deste modo, a terceira Instituição de Ensino
Superior no país, todas elas públicas.

Com o crescimento da população estudantil do Ensino Superior é publicado em 1991 o


diploma ministerial que institui os exames de admissão ao Ensino Superior e em 1993 é
aprovada pela Assembleia Popular a Lei do Ensino Superior, criando assim o quadro legal
para a aprovação dos Estatutos Orgânicos de cada instituição, e para a instituição do Conselho
Nacional do Ensino Superior.

A introdução da economia de mercado em 1987, abre-se um espaço no campo do ensino


superior em Moçambique, com o envolvimento de novos actores no cenário socioeconómico e
cultural, designadamente o sector privado e a sociedade civil. E como resposta a esta
integração, cria se o espaço legal que permite a intervenção do sector privado no Ensino
Superior, através da Lei nº 1/93, de 24 de Junho (Lei do Ensino Superior), que regula o
Ensino Superior Público e Privado, iniciando-se desde modo o processo de criação das
primeiras Instituições Privadas do Ensino Superior em Moçambique. E nesta óptica que, em
1995, são criadas as primeiras instituições de ensino superior privada, nomeadamente a
Universidade Católica de Moçambique (UCM) e o Instituto Superior Politécnico e
Universitário (ISPU), cujas actividades iniciaram em Agosto de 1996. Em 1997 entra em
funcionamento o Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique (ISCTEM).

Hoje, em Moçambique o número de Instituições de Ensino Superior é de 53 de entre Públicas


(22) e privadas (31) de acordo com o quadro a seguir.
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INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DO ENSINO SUPERIOR EM MOÇAMBIQUE


Descrição Nº total
Universidades 9
Institutos 8
Escolas 2
Academias 3
Total 22
INSTITUIÇÕES PRIVADAS DO ENSINO SUPERIOR EM MOÇAMBIQUE
Descrição Nº total
Universidades 10
Institutos 19
Escolas 2
Total 31

Com a necessidade de levar e aproximar mais as instituições de ensino superior as


comunidades, em 2018, a Universidade Eduardo Mondlane, viu-se desintegrada, originando
deste modo a Universidade Lúrio (UL), com reitoria fora da capital do Pais, neste caso, na
cidade de Nampula, e a Universidade Zambeze, com a sede na cidade da Beira.

Em 2019, a Universidade Pedagógica de Moçambique é dividida, dando origem a três outras


universidades publicas do pais, nomeadamente: Universidade Save (UNISAVE), com reitoria
em Xai-Xai, Universidade Pungue (UNIPUNGUE) com reitoria em Manica, Universidade
Licungo (UNILICUNGO), com reitoria na cidade da Beira e a Universidade Rovuma
(UNIROVUMA), com a reitoria na cidade de Nampula.

No entanto, o ensino superior em Moçambique passou por um conjunto de transformações e


momentos de expansão e diversificação de IES depois da Constituição de 1990.
Entende-se que no período de partido único, a visão do Sistema Nacional de Educação (Lei
3/83 de 23 de Março de 1983), nas disposições sobre ensino superior, estabeleceu que o
conhecimento produzido na Universidade devesse ligar-se com as conquistas da nova
sociedade política. Duas dimensões importantes: a questão de ensino, que TAÍMO (2010)
considera de suma importância, pelo facto de este poder sustentar a necessidade do professor
continuamente ter a formação, para melhorar não só os conteúdos que ministra, bem como
melhorar as técnicas e metodologias de ensino. Por outro lado, a pesquisa, que significava que
a universidade estaria cumprindo o seu papel de busca constante das soluções dos problemas
que o país enfrenta.
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Desafios do Ensino Superior

As universidades jogam um papel de relevo na formação de quadros, difusão da ciência,


cultura e cidadania, investigação e extensão, os que os coloca numa posição de ser vector
determinante para assegurar que as políticas e estratégias de desenvolvimento tenham o
suporte técnico para a sua gestão, implementação e monitoria. É com base neste pressuposto
que me proponho a reflectir sobre alguns desafios que entendo colocarem-se ao
desenvolvimento do ensino superior em Moçambique.

Um dos desafios do ensino superior em Moçambique, consiste no estudo das condições


sociais em que este se constitui como tal e em que opera. Neste sentido, vamos abordar,
dentre vários desafios, apenas alguns que nos parecem prementes, mas sem descurar a
importância dos demais:

i. Desconhecimento do papel das instituições de ensino Superior

Nos debates académicos, nos artigos de opinião publicados em espaços públicos como jornais
diários ou semanais, mas particularmente naqueles debates que culminam com a provação de
documentos de políticas publicas para o ensino superior, suposições e convicções tem sido
veiculado com expressiva carga normativa sobre o estado, organização e funcionamento do
ensino superior (MATOS & MOSCA, 2010).

Ora, reconhecer que o ensino superior e a base do desenvolvimento, não se circunscreve na


proporcionalidade de qualidade como resultado da quantidade. Defende‑se com convicção a
existência ou não da qualidade do ensino superior, mesmo sem se estabelecer
conceptualmente o que se entende por qualidade. Uma coisa é estudar as várias disciplinas de
especialidade que se oferecem no ensino superior e a outra coisa, diferente, e estudar o ensino
superior ele próprio como uma instituição social, área de conhecimento e campo de
investigação.

Várias são as concepções populares e do senso comum que julgam de como uma universidade
ou uma gestão universitária supostamente devem ocorrer, mas são pouco informadas por
quadros teórico‑conceptuais e estudos empíricos sobre como as instituições de ensino superior
se constituem, organizam, funcionam e mudam.
7

ii. Financiamento do ensino superior;

O financiamento do ensino superior e um assunto complexo, devido as suas múltiplas fontes


de receita e as suas várias saídas, ou produtos, que são apenas vagamente conectadas a essas
fontes de receitas diferentes. Alem disso, esses padrões de receitas e despesas variam
significativamente por tipo de instituição (universidade, duração dos cursos e programas),
modo de governação (publica ou privada) e do Estado rico ou pobre. No sector privado, os
níveis de despesa, bem como os padrões de preços e descontos, variam muito de acordo com a
riqueza institucional, mas também de acordo com os níveis de financiamento, políticas de
propinas e os limites de admissão estabelecidos pelos governos ou direcções das IES.

iii. Necessidade dos Estudos de Ensino Superior em Moçambique

Em Moçambique, o ensino superior registou um crescimento significativo na década de 1990,


particularmente a partir de 1995. Ate 1994, havia apenas 3 instituições de ensino superior,
nomeadamente a Universidade Eduardo Mondlane, o Instituto Superior Pedagógico. Não
obstante este crescimento, o ensino superior ainda não e estudado, de forma sistemática, como
área científica.

Dado o ritmo acelerado das transformações do ensino superior em Moçambique, seria


imprescindível que estudos sistematizados fossem feitos, de modo a dar a conhecer, entre
outros aspectos, a natureza, o funcionamento, a evolução, as tendências, a eficiência, a
eficácia, os custos, os benefícios, a equidade, a relevância, a qualidade, os actores
interessados, as politicas do sector do ensino superior em Moçambique.
O conhecimento destes e de outros aspectos inerentes ao ensino superior ajudariam os
diferentes intervenientes, nomeadamente o governo, os gestores das instituições de ensino
superior, estudantes e financiadores externos a tomarem decisões mais informadas e
actualizadas. O conhecimento científico do ensino superior também ajudaria o governo a
delinear melhores acções para concretizar os objectivos preconizados nos seus planos
estratégicos do ensino superior, designadamente o acesso e equidade, a satisfação das
exigências de mercado e das necessidades nacionais, a garantia da eficiência e
sustentabilidade financeira, a diversificação da oferta de oportunidades de formação, a
garantia de qualidade e a redefinição do papel do governo.
Por conseguinte, as transformações estruturais do ensino superior e da sociedade em
Moçambique colocam, para alem da necessidade de produção sistemática de conhecimento
científico sobre o ensino superior, o desafio da formação de técnicos capazes não só de
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formular, analisar e implementar politicas de ensino superior compatíveis com as capacidades,


necessidades e prioridades de desenvolvimento do pais, mas também de gerir o sector do
ensino superior tanto a nível do governo, como a nível das próprias instituições de ensino
superior.

Outro desafio não menos importante, é a questão da qualidade de ensino superior, já realçada
no desafio i. Cada um dos desafios mencionados apontam, concomitantemente, para a
possibilidade de uma linha de investigação na área geral dos estudos do ensino superior, cuja
consolidação também constitui um desafio para o país.

Perspectivas do ensino superior em Moçambique.

Na era da globalização, quando verificamos que os grandes centros universitários procuram


fundir-se ou procuram colaborar para se transformarem em centros de excelência nos seus
programas, bom seria que neste movimento centrípeto dos centros universitários pudéssemos
ser parte, atraindo e sendo atraídos por centros de excelência lá de fora.

O futuro de Moçambique não depende apenas do investimento estrangeiro, nem do


recrutamento de mão-de-obra estrangeira qualificada para estar garantida a prosperidade da
sua população. Efectivamente temos vindo a sentir cada vez mais certa ansiedade por parte
dos governantes porque são pressionados pelo povo para que as riquezas que jazem um pouco
por todo o território moçambicano possam contribuir para o real desenvolvimento do país e
para que o povo moçambicano, viva sem esperanças de poder usufruir dos seus próprios
recursos. Mas este objectivo só será exequível se a universidade moçambicana conseguir
vencer os grandes obstáculos que se lhe coloquem ao longo destes últimos anos.

Considerações finais

Em última análise, podemos afirmar que as estratégias seguidas relativas à expansão do


ensino superior em Moçambique e as medidas tomadas para a sua efectivação não tomaram
em linha de conta a defesa dos padrões que, em princípio, deviam ser considerados como
fundamentais para que a educação superior se mantenha nos parâmetros adequados. Neste
momento não é possível estabelecer de uma forma objectiva qualquer avaliação comparativa
com os centros universitários mais avançados da região e até internacionais.

No ensino superior em Moçambique, há um pouco de tudo: bons programas de formação


graduada e pós-graduada, docentes universitários de reconhecido mérito, bons centros para
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investigação e produção de conhecimento, mas também existem instituições que desmerecem


completamente o desígnio de instituições de ensino superior, não se preocupam com o que se
dá na sala de aula, nem se preocupam em ter equipamento condigno. Também não se
preocupam senão com os números de graduados a quem conferem diploma. Perante este
cenário, é natural que a balança penda para o que é mau, por isso surgem afirmações de que o
ensino superior em Moçambique não tem qualidade.

Bibliografia.

DO ROSÁRIO, L. (2012) “Universidades moçambicanas e o futuro de Moçambique”. In: L.


de Brito et al. (orgs) Desafios para Moçambique 2012. Maputo, IESE. pp. 89-102.

MATOS, N. & MOSCA, J. (2010). Desafios do Ensino Superior. In: L. de Brito et al. (orgs)
Desafios para Moçambique 2010. Maputo, IESE. pp. 297‑318. Disponível:
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/livros/des2010/IESE_Des2010_13. EnsSup. Pdf

TAIMO, J. U. (2010). Ensino superior em Moçambique: história, política e gestão. Faculdade


de Ciências Humanas da Universidade Metodista de Piracicaba Tese (doutorado em
Educação). São Paulo.

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