Revistainterscientia, 014
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6 • Nº 1 • Ano 2018
RESUMO
O concreto pode ser sujeito acidentalmente a altas temperaturas ou estas podem fazer
parte de suas condições normais de trabalho. As características dos constituintes do
concreto, como teor de umidade e as condições para melhorar a resistência, podem
precipitar a desagregação do concreto submetido a altas temperaturas. O presente
estudo se justifica pela relevância no entendimento do comportamento de concretos
submetidos a elevadas temperaturas. Por isso, o trabalho tem como objetivo fazer uma
revisão da literatura no que diz respeito ao efeito da alta temperatura na estrutura do
concreto, a fim de auxiliar novas pesquisas no tocante a esse tema. Dessa forma, foi
possível compreender a importância dos materiais constituintes no que diz respeito
ao efeito da temperatura no concreto, sendo de fundamental importância um estudo
aplicado no comportamento do concreto frente a elevas temperaturas para aplicação
de concretos não convencionais.
ABSTRACT
Concrete can be accidentally subjected to high temperatures or these can be part
of your normal working conditions. The characteristics of the constituents of the
concrete, such as moisture content and the conditions to improve the resistance, can
precipitate the disintegration of the concrete subjected to high temperatures. The
present study is justified by the relevance in the understanding of the behavior of
concretes submitted to high temperatures. Therefore, the paper aims to review the
literature regarding the effect of high temperature on the concrete structure, in order
to support new research on this subject. In this way, it was possible to understand the
importance of the constituent materials with respect to the effect of the temperature
1 Graduada em Engenharia Civil pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). E-mail:
[email protected].
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on the concrete, being of fundamental importance a study applied in the behavior of
the concrete in front of elevated temperatures for the application of unconventional
concrete.
INTRODUÇÃO
Segundo Mehta e Monteiro (2014), atualmente, o concreto é o material da
construção mais utilizando e estima-se que seu consumo seja da ordem de 19 bilhões
de toneladas métricas ao ano; este fato pode ser compreendido devido à boa resistência
do concreto à água, à viabilidade de construir estruturas de diferentes formas e
tamanhos, à disponibilidade de materiais para sua produção e ao seu baixo custo,
quando comparados a outros materiais de mesma função.
Misturas semelhantes ao concreto eram utilizadas no tempo da Idade Média e
Renascimento, mas o que desencadeou o emprego do concreto em grandes proporções,
foi a invenção do cimento Portland. Atualmente, há uma busca por aplicações de novas
tecnologias que tragam melhorias e soluções para otimização na aplicação do concreto
que também minimizem os impactos ambientais. Assim, como alternativas para
finalidades de utilização distintas, surgem diferentes tipos de concretos, como com
adições e aditivos especiais e com a utilização de agregados leves (FONSECA, 2010).
O concreto pode ser sujeito acidentalmente a altas temperaturas ou estas
podem fazer parte de suas condições normais de trabalho (FERREIRA, 2011). A
boa resistência do concreto, quando submetido a temperaturas mais altas, é devida às
características térmicas dos materiais que o compõe, como incombustibilidade, baixo
coeficiente de dilatação e condutividade térmica. Porém, o aumento da temperatura
nos elementos de concreto provoca redução no módulo de elasticidade e na resistência
características de seus materiais constituintes, havendo prejuízos na rigidez do
elemento (COSTA, 2011).
Souza (2005) afirma que o fogo se manifesta em função da composição química
do material e depende da sua superfície específica e das condições de oxigenação e da
umidade contida. As características da pasta de concreto, como teor de umidade e as
condições para melhorar a resistência, podem acelerar a desagregação do concreto
submetido a elevadas temperaturas (COSTA, 2011).
Costa, Figueiredo e Silva (2002) citam que essa desagregação no concreto
se manifesta através de fenômenos como esfarelamento da superfície calcinada e
separação parcial de pequenas camadas superficiais do material (sloughing ou spalling).
Por isso, o presente estudo se justifica pela relevância no entendimento
do comportamento de concretos submetidos a elevadas temperaturas, pois um
conhecimento mais aprofundado dessa influência pode resultar em projetos mais
econômicos e seguros.
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OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão da literatura no que diz
respeito ao efeito da elevada temperatura na estrutura do concreto, a fim de auxiliar
novas pesquisas no tocante a esse tema.
REFERENCIAL TEÓRICO
Concreto
De acordo com Silva (2000), por mais de um século o concreto foi composto
por uma mistura homogênea de água, cimento, agregados e água. Segundo NEVILLE
(2016), misturas de concretos convencionais de cimento Portland podem não atender
as necessidades exigidas, por isso, a fim de superar tal carência, viu-se a necessidade
de desenvolvimento de tipos especiais de concreto.
Cardoso (2012) afirma que, quando submetidos a altas temperaturas, concretos
convencionais tem sua vida útil reduzida e normalmente necessitam de manutenção. A
fim de possibilitar propriedades limitadas pelo concreto tradicional, desenvolveram-se
concretos especiais, como o concreto refratário, que, de acordo com a NBR 8826 (ABNT,
2014), pode ser entendido como um produto não-conformado de pega hidráulica, pega
química ou pega ao ar e consiste na mistura de um ou mais agregados refratários
de granulometria adequada, com ligantes como cimento aluminoso, sílica coloidal,
alumina hidratada e fosfatos, podendo conter aditivos e componentes não cerâmicos.
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Aglomerante
A utilização de cimento Portland para concreto submetido a altas temperaturas
é limitada a aproximadamente 500ºC, pois, quando sujeito a elevadas temperaturas, o
hidróxido de cálcio (C-H) se decompõe dando origem ao óxido de cálcio (CaO) livre que
leva a deterioração do concreto exposto à umidade ou água (MEHTA E MONTEIRO,
2014).
De acordo com Freitas (1993, apud RAAD, 2008), a partir das propriedades
desejadas, é determinado o material ligante a ser utilizado, dessa forma, a fim de
obter um material que possa ser exposto a elevadas temperaturas mantendo grande
parte de suas características mecânicas e reológicas, em concretos refratários, é mais
utilizado o cimento de aluminato de cálcio (CAC), que, pela alta pureza, a formação de
fases indesejadas, como o óxido de cálcio e hidróxido de cálcio (Ca(OH)₂), ocorrem a
temperaturas acima de 1000 ºC.
Neville (2016) afirma que o cimento Portland branco apresenta baixo teor de
álcalis solúveis e é produzido a partir da mistura de caulim, que contém baixos teores
de óxido de ferro e manganês, com giz ou calcário livres de determinadas impurezas e
custa cerca de 3 vezes o preço do cimento Portland comum; além dele, é produzido o
cimento branco especial de aluminato de cálcio que pode suportar temperaturas ainda
mais elevadas, pois é produzido contendo entre 70 e 80% de Al2O3, 20 a 30% de cálcio
e apenas 1 % de ferro e sílica, possuindo porém, custo bastante elevado.
Água
Freitas (1993, apud CARDOSO, 2012) aponta que o principal agente
para a hidratação do concreto refratário na ligação hidráulica do aglomerante é a água,
que possui papel relevante nas propriedades do concreto fresco e endurecido, além de
atuar diretamente na fluidez da pasta e na continuidade dos constituintes, da matriz e
demais componentes do concreto.
As reações de hidratação definem a estrutura do compósito. A hidratação do
cimento se dá pela hidratação do C₃S, C₂S, C₃A e C₄AF, sendo o endurecimento da pasta
dominado pela hidratação dos aluminatos (C₃A e C₄AF) e a resistência do compósito
comandada pelos silicatos (C₃S, C₂S), que compõem cerca de 75% do cimento Portland
comum. É possível constatar silicato de cálcio hidratado (C-S-H) sobre a superfície
dos grãos de cimento depois de poucas horas de hidratação, sendo eles responsáveis
por ocupar de 50 a 60% do volume de sólidos da pasta de cimento completamente
hidratada (ALVES, 2002; BORJA, 2011; PAREDES E BRONHOLO, 2013).
A água pode existir de várias formas na pasta de cimento hidratada (Figura
1) e, de acordo com o grau de facilidade com que pode ser removida, é classificada
em água interlamelar que é retida pelas ligações de pontes de hidrogênio entre as
camadas do C-S-H, água capilar que está presente nos maiores vazios e está livre da
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influência das forças de atração, água adsorvida que se encontra próximo à superfície
sólida dos produtos de hidratação e a água quimicamente combinada que integra
parte da microestrutura de vários produtos de hidratação do cimento (MEHTA E
MONTEIRO, 2014).
Agregados
De acordo com Neville (2016), o tipo de agregado influencia a resposta do
concreto, sendo o coeficiente de dilatação térmica (quanto maior for o coeficiente do
agregado, maior será o coeficiente do concreto), calor específico e a condutividade
propriedades dos agregados importantes no desempenho do concreto.
O comportamento térmico de concretos usuais é determinado pelos agregados,
pois, além de ocuparem a maior parte do volume do concreto, restringem as eventuais
contrações e dilatações da pasta de cimento durante o aquecimento. Dessa forma,
devido à sua origem, as variações nas propriedades do agregado podem promover efeito
considerável no comportamento do concreto submetido a elevadas temperaturas. A
condutividade térmica do concreto, por exemplo, é influenciada pelo tipo de agregado,
sendo a sua escolha baseada em propriedades, como condutividade, fusão e expansão
térmica (BRITEZ, 2011).
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no estado fresco são determinadas pela porosidade, massa específica, composição
granulométrica, forma e textura superficial do agregado e as propriedades do estado
endurecido são influenciadas pela composição mineralógica e também pela porosidade
do agregado (METHA; MONTEIRO, 2014).
De acordo com Morales, Campos e Faganello (2011), acima de 300 °C a queda
da resistência mecânica do concreto convencional é acentuada, sendo o resfriamento
brusco da temperatura responsável pelas maiores perdas de resistência mas, dependendo
da temperatura máxima atingida, é possível recuperar até 90 % da resistência inicial
com o resfriamento lento do concreto.
Efeito do Fogo
De acordo com Souza (2005), o fogo é um fenômeno físico-químico que ocorre
com uma reação de oxidação com emissão de calor e luz e se manifesta diretamente
em função da composição química do material que pode queimar em função da sua
superfície especifica, das condições de exposição ao calor, da oxigenação e da umidade
contida.
A propagação do calor no concreto dá-se, principalmente, por condução devido
à temperatura fria no interior do concreto e quente na superfície, pela difusibilidade e
pelo calor específico. Além disso, o concreto não é um bom condutor de calor, por isso o
processo de propagação do calor no interior do concreto é lento quando comparado ao
aço, por exemplo, formando um intenso gradiente térmico no seu interior e provocando
modificações em suas propriedades (BRITEZ, 2011).
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densidade, dessa forma são os concretos com baixa condutividade térmica que
apresentam maior resistência ao fogo (GABRICH, 2008; BAUER, 2015).
Normalmente essa propriedade é calculada a partir da difusividade e,
aproximadamente entre os 50 °C e 60°C, a condutividade aumenta lentamente até
atingir um valor máximo, mas diminui subitamente por volta dos 120 ºC com a perda
da água do concreto. A condutividade volta a se estabilizar por volta dos 140 ºC e a 800
ºC é cerca da metade do valor a 20 °C (NEVILLE, 2016).
Outra propriedade relacionada à temperatura é o calor específico, ou
seja, a capacidade térmica, que varia de 800 a 1000 J/Kg°C em concretos usuais e
está relacionada com o teor de água e massa específica (MORALES, CAMPOS E
FAGANELLO, 2011; BAUER, 2015).
De acordo com Cardoso (2012), agregados porosos apresentam expansão
térmica menor, quando comparados aos agregados densos e concretos com coeficientes
de dilatação térmica maiores e são menos resistentes a variações de temperatura do
que concretos com um coeficiente menor.
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Tabela 1: Efeitos do fogo nas características do concreto.
Por isso, devido aos diversos fatores que influenciam nas alterações do concreto,
são apresentados a seguir a influência da elevada temperatura na microestrutura
em relação às propriedades térmicas e mecânicas. De acordo com Souza (2016), a
microestrutura do concreto é constituída em três regiões com polaridades distintas:
a fase do agregado, a matriz do cimento hidratada e uma zona de transição que as
conecta.
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Efeito da alta temperatura na pasta de cimento
A consequência do aumento de temperatura na pasta de cimento hidratada
depende do grau de hidratação e da umidade, pois o fator água/cimento interfere
diretamente na permeabilidade e a umidade livre na pressão de vapor. (CARVALHO,
2001;).
A pasta saturada apresenta grande quantidade de água livre, capilar e
adsorvida, enquanto uma pasta bem hidratada consiste, principalmente, em silicatos de
cálcio hidratados (C-S-H), hidróxido de cálcio e sulfoaliminatos de cálcio hidratados.
As alterações iniciais na pasta de cimento são predominantemente físicas e começa
a sofrer desgaste químico a partir dos 200ºC com a redução das forças de Van Der
Walls entre as camadas do C-S-H. Aos 300ºC, a água intermelar do C-S-H e parte da
água quimicamente combinada do C-S-H e dos sulfatosaluminatos hidratados será
perdida, provocando a evolução dos poros. Aproximadamente aos 500ºC, verifica-
se uma desidratação da pasta do cimento devido à decomposição do hidróxido de
cálcio (portlandita) e, aos 900ºC com a perda completa da água interlamelar, ocorre
a decomposição completa do C-S-H (tobermorita), que é responsável pela perda de
resistência do concreto e pela redução de volume da pasta aumentando a fissuração
(COSTA; SILVA, 2002; SOUZA, 2016).
O tempo de exposição à determinada temperatura deve ser considerado, pois,
como exemplo, o C-S-H mantido a 400°C por algumas horas perde tanta água quanto
aquecido até a temperatura de 600ºC por alguns minutos (WENDT, 2006).
Além disso, quando a amostra é aquecida em patamares superiores a 600°C e
depois resfriada, o CaO formado se re-hidrata, formando uma portlandita secundária
que apresenta arranjo cristalino de qualidade inferior à primeira, e provoca expansões
que acabam contribuindo para o aparecimento de fissuras no concreto. Acima de 800ºC,
a pasta sofre reações cerâmicas e, entorno dos 1100ºC, ocorre derretimento total dos
cristais. Após o resfriamento, todas as partículas podem se re-hidratar, formando
diferentes géis ou componentes cristalino (LIMA, 2005).
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inicial de 28 MPa com tipos distintos de agregados ensaiados a quente e sem aplicação
de carga.
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decorrem de reações físico-químicas provenientes do fluxo de calor submetido
e da distribuição da temperatura no interior do elemento que depende: do tipo de
cimento, agregado, adições, dimensão da seção transversal, relação água/cimento e da
porosidade do elemento de concreto (BRITEZ, 2011).
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Figura 3: Comportamento da Resistência à compressão e do Módulo de Elasticidade
em concretos submetidos a diferentes temperaturas.
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Aspectos físicos e químicos
De acordo com Bauer (2015), o concreto convencional apresenta mudança
na coloração após o resfriamento, mas essa alteração está sujeita a variações que
dependem da natureza dos constituintes. A Tabela 2 indica a sucessão de cores de um
concreto decorrentes do aumento da temperatura e a Figura 4 ilustra essas alterações.
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Figura 5: Relação entre a coloração e a perda de resistência de um
concreto submetido a elevadas temperaturas.
METODOLOGIA
Foi empregada uma metodologia descritiva, que consistiu em uma revisão
de literatura através de consultas em livros, monografias, artigos sobre o efeito da
elevada temperatura na estrutura do concreto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho apresentou uma revisão da literatura sobre o comportamento da
elevada temperatura na estrutura do concreto. Dessa forma, foi possível compreender
a importância dos materiais constituintes no que diz respeito ao efeito da temperatura
no concreto, sendo de fundamental importância um estudo no comportamento do
concreto frente a elevadas temperaturas essencial para aplicação de concretos não
convencionais.
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REFERÊNCIAS
ALVES, S. M. S. Desenvolvimento de compósitos resistentes Através da
substituição parcial do cimento por resíduo da indústria cerâmica. Dissertação
(mestrado). Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2002.
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COSTA, P. R. S. Manifestações patológicas nas estruturas de concreto sujeitas a
altas temperaturas. Monografia. Escola de Engenharia da Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.
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NEVILLE, A.M. Propriedades do Concreto. 5. Ed. São Paulo: Bookman, 2016, 912 p.
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