O Satanismo Das Bruxas

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O Satanismo das Bruxas

O satanismo na bruxaria antiga é um tema complexo e multifacetado que envolve


a intersecção entre crenças populares, religiões pagãs e a interpretação cristã da bruxaria.
Durante a Idade Média e o Renascimento, a figura de Satanás tornou-se central na
narrativa das perseguições aos bruxos e bruxas, apesar de muitas práticas rotuladas como
"bruxaria" serem profundamente enraizadas em tradições pré-cristãs e práticas
folclóricas.

A concepção de Satanás como uma entidade malévola e opositor direto de Deus é


um desenvolvimento teológico que se consolidou com o crescimento do cristianismo na
Europa. No entanto, a ideia de entidades malignas ou espíritos adversos é muito mais
antiga, encontrando paralelos em diversas culturas e religiões ao redor do mundo. Com a
cristianização da Europa, as práticas e crenças locais que não se alinhavam com a doutrina
cristã passaram a ser vistas como ameaças espirituais, frequentemente associadas ao diabo
ou a forças demoníacas.

Durante a Idade Média, a Igreja Católica começou a consolidar seu poder e


influenciar profundamente a vida espiritual e social das comunidades. A bruxaria,
inicialmente percebida como um conjunto de práticas supersticiosas ou remanescentes de
cultos pagãos, foi reinterpretada como uma forma de heresia que envolvia mais a
radicalização cultural pelos interesses políticos da época do que necessariamente uma
preocupação em conter práticas supostamente satânicas. A bruxaria medieval foi, então,
gradualmente moldada pela demonologia cristã, sendo instrumento de acusações como
obra de Satanás que realizavam pactos demoníacos e sabás, onde acusavam hereges de se
reunirem para venerar o diabo e praticar magia maléfica.

Para a Igreja, especialmente durante a Idade Média e o Renascimento, a heresia


era qualquer crença ou doutrina que se desviasse da ortodoxia estabelecida pela Igreja
Católica. Heresia não era apenas uma diferença de opinião teológica; era vista como uma
ameaça direta à unidade e autoridade da Igreja, bem como à salvação das almas dos fiéis.

Heresia envolvia a rejeição ou distorção de uma ou mais doutrinas essenciais da


fé cristã, conforme definido pelos concílios ecumênicos e os ensinamentos papais. Isso
podia incluir crenças errôneas sobre a natureza de Cristo, a Trindade, os sacramentos, a
salvação, e outros aspectos fundamentais que questionava a tradição cristã.

Para ser considerada heresia, a crença divergente precisava ser sustentada de


maneira obstinada, mesmo após a pessoa ter sido instruída sobre a posição correta pela
autoridade da Igreja. Isso diferenciava os heréticos de meros ignorantes ou
equivocadamente informados, assim foi criada uma instituição chamada Inquisição para
investigar, julgar e punir heréticos. A Inquisição utilizava interrogatórios, tortura e
execução para erradicar a heresia e restaurar a ortodoxia.

Heréticos convictos eram frequentemente excomungados, o que significava a


exclusão da comunhão com a Igreja e a perda dos sacramentos, considerados essenciais
para a salvação. Em casos graves, a punição podia incluir confisco de bens, prisão, e até
a execução, muitas vezes pela fogueira. A luta contra a heresia teve impactos profundos,
não apenas religiosos, mas também sociais e políticos. Movimentos heréticos muitas
vezes desafiavam a autoridade secular e eclesiástica, resultando em conflitos e guerras.
Para a Igreja, a heresia representava uma ameaça existencial à unidade e à pureza
da fé cristã. As respostas vigorosas, incluindo a Inquisição e os concílios ecumênicos,
refletem a seriedade com que a Igreja tratava a questão. A luta contra a heresia moldou
não apenas a história da Igreja, mas também a história da Europa, influenciando
desenvolvimentos teológicos, sociais e políticos por séculos.

A associação entre bruxaria e adoração satânica, promovida pela Igreja, teve


profundas implicações sociais, resultando em uma das perseguições mais notórias da
história, implicado na prática de perseguição das classes sociais mais vulneráveis em
recorrência do renascimento. Este período revela muito sobre os mecanismos de controle
social e religioso, bem como sobre a capacidade humana de criar bodes expiatórios em
tempos de crise onde a Igreja Católica estava perdendo o poder e enquanto comunidades
secretas estabeleciam suas práticas cientificas apoiadas pela alta classe, a caça às bruxas
predominou como tradição nos campos, principalmente no meio protestante.

Apesar da reforma protestante, os crimes mais hediondos da Igreja não foi uma
preocupação nas teses de seus executores. Talvez este seja um marco da transição de uma
Satanás como ferramenta de acusação do herege medieval para o crente em satanás
renascentista, executando mulheres que praticavam medicina botânica em uma suposta
crença de estar impedindo um mal satânico.

A “caça às bruxas” como tradição levou a uma série de perseguições, julgamentos


e execuções que varreram a Europa e o Novo Mundo, culminando em eventos notórios
como os Julgamentos de Salém. Milhares de pessoas, predominantemente mulheres,
foram acusadas de bruxaria, torturadas e executadas, em um clima de medo e superstição
exacerbado pela crença no satanismo como uma ameaça real e presente.

A bruxaria medieval e a bruxaria renascentista diferem em vários aspectos,


incluindo suas percepções sociais, as práticas associadas, o contexto histórico e as
respostas das autoridades religiosas e civis. O período medieval, que vai
aproximadamente do século V ao XV, viu a bruxaria principalmente como uma questão
de heresia e superstição. A Igreja Medieval considerava a bruxaria uma afronta direta à
fé cristã e frequentemente a associava com cultos pagãos antigos.

As perseguições durante a Idade Média eram esporádicas e geralmente locais,


conduzidas por autoridades eclesiásticas, enquanto no renascimento, século XIV ao XVII,
foi um período de intensa caça às bruxas, especialmente entre os séculos XVI e XVII. A
bruxaria renascentista foi frequentemente vista através das lentes de uma crescente
paranoia sobre o diabo e suas supostas atividades na Terra, exacerbadas pela Reforma
Protestante e a Contrarreforma Católica.

As respostas à bruxaria na Idade Média eram relativamente limitadas e focadas na


heresia. Ocasionalmente, havia perseguições locais, mas não havia uma caça às bruxas
sistemática e generalizada. As penas para a bruxaria na Idade Média podiam incluir
penitência pública, excomunhão e, em casos graves, execução, mas eram menos comuns.
O período renascentista viu a institucionalização da caça às bruxas, com tribunais civis e
eclesiásticos realizando julgamentos e execuções em grande escala.

A caça às bruxas foi marcada pelo uso frequente da tortura para extrair confissões,
e as penas eram severas, incluindo enforcamento, queima na fogueira e afogamento.
Estima-se que entre 40.000 e 60.000 pessoas foram executadas por bruxaria durante este
período.

Durante o Renascimento, a bruxaria foi reinterpretada como uma conspiração


diabólica. Havia um forte foco na ideia de um pacto com o diabo, sabás de bruxas e a
prática de magia maléfica, conciliando com a prática da magia dos negros africanos em
um contexto preconceituoso de “magia negra”. A literatura demonológica, como o
"Malleus Maleficarum", descrevia a bruxaria como uma ameaça organizada e maléfica,
levando a uma resposta muito mais agressiva das autoridades.

A principal diferença entre a bruxaria medieval e a bruxaria renascentista reside


na mudança de percepções e respostas. Enquanto a Idade Média via a bruxaria
principalmente como uma questão de superstição e heresia local, o Renascimento a
redefiniu como uma conspiração demoníaca global, resultando em perseguições muito
mais agressivas e sistemáticas. Essa evolução refletiu as mudanças culturais, religiosas e
sociais da época, destacando a crescente paranoia sobre o diabo e a luta pelo poder entre
diferentes facções religiosas.

A caça às bruxas é um fenômeno histórico que ocorreu principalmente entre os


séculos XV e XVIII, caracterizado pela perseguição, julgamento e execução de pessoas
acusadas de praticar bruxaria. Esta investigação histórica abordará as causas, os principais
eventos, as consequências e o legado deste período sombrio.

A obra Malleus Maleficarum ou “Martelo das Bruxas”, publicado em 1487 pelos


inquisidores Heinrich Kramer e Jacob Sprenger, forneceu uma base teológica e prática
para a identificação, julgamento e execução de bruxas. Ele descrevia métodos para
detectar bruxas e argumentava que as mulheres eram mais propensas à bruxaria devido à
sua suposta natureza fraca e pecaminosa.

A Reforma Protestante e a subsequente Contra-Reforma Católica aumentaram as


tensões religiosas, levando a uma intensificação da caça às bruxas. Ambas as facções
procuraram reafirmar a pureza religiosa e eliminar qualquer influência considerada
demoníaca ou herética. Em períodos de crise, como guerras, fome, epidemias e desastres
naturais, as sociedades procuravam culpados para suas desgraças. As bruxas eram
frequentemente vistas como responsáveis por tais calamidades.

A caça às bruxas também serviu como uma forma de controle social,


particularmente contra mulheres. A maioria dos acusados eram mulheres, muitas vezes
viúvas, curandeiras ou pessoas marginalizadas. A caça às bruxas teve seu auge na Europa
entre os séculos XVI e XVII. Países como Alemanha, França, Suíça e Escócia foram
particularmente afetados.

As acusações de bruxaria muitas vezes começavam com rumores e denúncias


feitas por vizinhos ou familiares. As motivações podiam variar desde disputas pessoais
até o medo genuíno de práticas ocultas. A tortura era comumente usada para extrair
confissões dos acusados. Métodos incluíam o uso da roda, o estiramento em cavaletes e
a aplicação de fogo ou gelo.

Os julgamentos eram frequentemente conduzidos por tribunais eclesiásticos ou


civis. A condenação geralmente resultava em execução por enforcamento, queima na
fogueira ou afogamento. Milhares de vidas foram perdidas, e comunidades inteiras
sofreram com o medo e a desconfiança gerados pela caça às bruxas. Famílias foram
destruídas, e a coesão social foi severamente prejudicada.

A caça às bruxas gradualmente diminuiu à medida que o racionalismo e o


Iluminismo ganharam força no século XVIII. A descrença crescente na bruxaria e nas
superstições levou a mudanças nas leis e práticas judiciais. A caça às bruxas deixou uma
marca indelével na tradição cristã. O satanismo contemporâneo continua a explorar esse
período como um exemplo de injustiça por parte do cristianismo.

A caça às bruxas foi um período de intensa perseguição, caracterizado por medo,


superstição e controle social. Impulsionada por fatores religiosos, sociais e econômicos,
resultou na execução de milhares de pessoas, predominantemente mulheres. Embora
tenha diminuído com o avanço do racionalismo, seu legado persiste, oferecendo lições
valiosas sobre os perigos da intolerância e da ignorância. No satanismo “a caça às bruxas”
é frequentemente utilizada como uma metáfora para descrever perseguições irracionais e
injustas em contextos contemporâneos. Ela serve como um lembrete dos perigos da
intolerância e do fanatismo cristão.

O Satanismo Segundo Mellis Maleficarum

"Malleus Maleficarum" ou "O Martelo das Bruxas" é um tratado sobre bruxaria e


caça às bruxas escrito pelos inquisidores dominicanos Heinrich Kramer e James Sprenger,
publicado pela primeira vez em 1487. Este texto não trata diretamente do Satanismo como
é entendido nas tradições modernas, mas está centrado na demonologia e na crença na
intervenção demoníaca nas atividades das bruxas.

O "Malleus Maleficarum" descreve o Satanismo na perspectiva da demonologia


cristã da época, retratando Satanás como o líder supremo dos demônios e o arqui-inimigo
de Deus e da humanidade. O texto sugere que as bruxas, através de um pacto com o diabo,
renunciam à sua fé cristã e dedicam-se a praticar magia maléfica para prejudicar outras
pessoas e servir aos desígnios malignos de Satanás.

No entanto, é importante notar que o "Malleus Maleficarum" é uma obra escrita


dentro do contexto da caça às bruxas durante a Idade Média e o início da era moderna, e
reflete as crenças supersticiosas e a intolerância religiosa da época. Muitas das práticas
atribuídas às bruxas, assim como o próprio Satanismo, eram frequentemente exageradas
ou inventadas pelos inquisidores em suas tentativas de erradicar o que viam como uma
ameaça à ordem religiosa e social. Portanto, o retrato do Satanismo presente no "Malleus
Maleficarum" deve ser entendido dentro desse contexto histórico específico.

Enquanto geralmente associamos a Inquisição à Igreja Católica Romana,


especialmente durante a Idade Média e a Renascença, é importante reconhecer que
também houve formas de inquisição praticadas por grupos protestantes em certos
períodos da história. No entanto, essas práticas não foram tão sistematizadas pelo Malleus
Maleficarum ou amplamente documentadas como a Inquisição Católica, porém o Malleus
Maleficarum foi significativo para a tradição inquisitiva adotada pelos protestantes,
desenvolvendo abordagens próprias em relação à bruxaria e às questões sobrenaturais,
baseadas em suas interpretações teológicas e práticas reformadas.
João Calvino, o teólogo e líder da Reforma Protestante na Suíça, exerceu uma
influência significativa sobre a cidade de Genebra. Lá, ele estabeleceu um regime
teocrático rigoroso, conhecido por sua aplicação estrita da lei moral e pela perseguição
de dissidentes religiosos, como os anabatistas e os partidários de Miguel Servet, que foi
condenado e executado por heresia.

Após a Reforma Protestante na Inglaterra, sob o reinado de Henrique VIII e seus


sucessores, os protestantes anglicanos estabeleceram sua própria forma de inquisição para
lidar com dissidentes religiosos e católicos romanos. A perseguição de católicos durante
os reinados de Elisabete I e de seus sucessores é um exemplo disso.

Enquanto a Inquisição Católica era uma instituição formalizada e altamente


organizada, com tribunais especializados e procedimentos estabelecidos, as formas de
inquisição protestante muitas vezes eram menos institucionalizadas e mais dependentes
do poder civil local ou de líderes religiosos individuais.

Embora menos sistematizada e menos amplamente documentada do que a


Inquisição Católica, a inquisição praticada por grupos protestantes durante a Reforma e
nos séculos seguintes foi uma realidade em certas regiões da Europa. Ela reflete as tensões
religiosas e políticas da época e serve como um lembrete das consequências trágicas da
intolerância religiosa e da perseguição aos dissidentes.

Condenações Satânicas

A Inquisição por bruxaria foi um fenômeno complexo que ocorreu ao longo de


vários séculos e em diferentes regiões da Europa, com variações significativas em
intensidade e métodos, foi responsável por numerosos julgamentos e execuções de
pessoas acusadas de bruxaria ao longo dos séculos. As perseguições formais por bruxaria
começaram a ser registradas no século XIV, quando a Igreja Católica começou a reforçar
a doutrina contra a magia e a feitiçaria. O Papa João XXII emitiu a bula "Super illius
specula" em 1320, condenando a feitiçaria como heresia.

A Bruxa Petronilla de Meath

Petronilla de Meath é uma das figuras mais notórias da história das acusações de
bruxaria na Irlanda medieval. Ela é conhecida por ser a primeira mulher a ser queimada
na fogueira por bruxaria na Irlanda, em 1324. Sua história está intrinsecamente ligada à
de Alice Kyteler, uma rica e influente senhora acusada de bruxaria na mesma época.

A sociedade medieval irlandesa era profundamente religiosa e supersticiosa, com


uma forte crença no sobrenatural e no poder da Igreja para combater o mal. Embora a
Inquisição não fosse tão proeminente na Irlanda como em outros lugares da Europa, a
influência da Igreja e seu poder de perseguir heréticos ainda era significativo.

Petronilla de Meath era a serva de Alice Kyteler, uma rica viúva que foi acusada
de bruxaria em 1324. Alice foi acusada de envenenar seus maridos, sacrificar animais ao
diabo e usar feitiços para controlar pessoas e adquirir riquezas. Quando Alice foi acusada,
as autoridades precisavam de provas para condená-la. Petronilla foi presa e torturada até
confessar que havia participado de práticas de bruxaria sob a direção de Alice.
Sob intensa tortura, Petronilla confessou que ela e Alice realizavam rituais de
bruxaria, incluindo a fabricação de poções e a realização de feitiços. A confissão de
Petronilla foi usada como prova contra Alice. No entanto, Alice conseguiu fugir da prisão
e escapar da execução.

Em 3 de novembro de 1324, Petronilla de Meath foi queimada viva na fogueira


em Kilkenny, tornando-se a primeira mulher na Irlanda a ser executada por bruxaria. Sua
execução serviu como um aviso para outros sobre os perigos da bruxaria e a autoridade
da Igreja para punir os heréticos.

Petronilla é frequentemente vista como uma vítima das circunstâncias e das


brutais práticas judiciais da época. Sua execução ilustra como a superstição e a pressão
da Igreja podiam levar à morte de inocentes. Sua história é lembrada como um exemplo
dos horrores da caça às bruxas e do uso de tortura para extrair confissões.

Petronilla de Meath se tornou um símbolo das vítimas da caça às bruxas e da


brutalidade das práticas inquisitoriais. Sua história é contada como um aviso sobre os
perigos da superstição e do abuso de poder.

A história de Petronilla de Meath é uma lembrança sombria das injustiças


cometidas durante os tempos de caça às bruxas. Sua vida e morte destacam a
vulnerabilidade das pessoas comuns frente às acusações de bruxaria e a brutalidade dos
métodos usados para obter confissões e punir os acusados. Como primeira mulher
queimada na fogueira por bruxaria na Irlanda, Petronilla representa as muitas vítimas do
fanatismo cristão que marcaram a Europa medieval.

Referência Bibliográfica:
FERS, Luiz. O Caminho da Serpente: Satanismo para Iniciantes. Goiânia-GO: Ed. Autoral,
2024.

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