35-Texto Do Artigo-184-1-10-20221229

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ESTUDO COMPARATIVO E INTEGRATIVO DE DETERGENTES ECOLÓGICOS

PRODUZIDOS A PARTIR DE MATÉRIAS-PRIMAS RENOVÁVEIS

Lucicleitor Oliveira Santos*


Grazielma Ferreira de Melo**

Resumo: Detergentes são compostos orgânicos sintéticos, eles têm como principal
função a limpeza de diversos componentes através do processo de emulsificação. Os
detergentes possuem uma capacidade de limpeza ampla, pois suas moléculas são
constituídas por micelas, micelas são componentes químicos que possuem uma parte
polar e uma parte apolar, desse modo, os detergentes são capazes de reagir com
diversas substâncias. Atualmente, o descarte do detergente acaba gerando resíduos
nos corpos hídricos, evidenciados em muitos casos pela espuma característica. Para
solucionar essa problemática, o uso de detergentes ecológicos acaba trazendo uma
enorme vantagem. O objetivo dessa pesquisa foi a verificação do detergente ecológico
produzido por diferentes fontes, a fim de encontrar qual o melhor detergente no que
tange a sustentabilidade. Os resultados analisados permitiram verificar que a maioria
dos autores realizaram a hidrólise do detergente utilizando hidróxido de sódio (NaOH),
enquanto outros utilizaram o cloreto de sódio (NaCl). O parâmetro físico-químico
escolhido para a análise dos detergentes foi o de pH, sendo que os únicos detergentes
que se enquadraram no parâmetro foram o de óleo de girassol (9,16) e o de azeite de
cozinha (8,0), os demais apresentaram um pH mais elevado. Dessa forma, é possível
comprovar que a utilização de detergentes ecológicos é uma alternativa sustentável
no mercado de produtos de limpeza, além disso, estudos prospectos podem verificar
a utilização de outras fontes para a produção de detergente biodegradável, como é o
caso do Ibaró (Sapindus saponaria L).

Palavras-chave: detergente ecológico; sustentabilidade; química verde.

COMPARATIVE AND INTEGRATIVE STUDY OF ECOLOGICAL DETERGENTS


PRODUCED FROM RENEWABLE RAW MATERIALS
Abstract: Detergents are synthetic organic compounds, whose main function is to
clean various components through the emulsification process. Detergents have a
broad cleaning capacity, as their molecules are made up of micelles, micelles are
chemical components that have a polar part and a nonpolar part, thus, detergents are
able to react with various substances. Currently, the disposal of detergent ends up
generating residues in water bodies, evidenced in many cases by the characteristic
foam. To solve this problem, the use of ecological detergents ends up bringing a huge
advantage. The objective of this research was to verify the ecological detergent
produced by different sources, in order to find the best detergent in terms of
sustainability. The analyzed results showed that most authors performed detergent
hydrolysis using sodium hydroxide (NaOH), while others used sodium chloride (NaCl).
The physicochemical parameter chosen for the analysis of detergents was pH, and the

* Centro Universitário do Vale do Ipojuca. E-mail: [email protected]


** Centro Universitário do Vale do Ipojuca. E-mail: [email protected]

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only detergents that fit the parameter were sunflower oil (9.16) and cooking oil (8.0),
the others showed a higher pH. In this way, it is possible to prove that the use of
ecological detergents is a sustainable alternative in the cleaning products market, in
addition, prospective studies can verify the use of other sources to produce
biodegradable detergent, as is the case of Ibaró (Sapindus saponaria L).

Keywords: Sustainability. Ecological Detergent. Green Chemistry.

INTRODUÇÃO

Um dos produtos indispensáveis para a higienização e a limpeza de diversos


ambientes tanto industriais quanto domésticos são os detergentes, e estes, por sua
vez, assim como descrito por Dias (2022), são compostos orgânicos derivados do
petróleo produzidos em laboratório, ou seja, de maneira sintética, e têm como principal
função a limpeza através do processo de emulsificação, isto é, a capacidade do
detergente em promover a dissolução de outras substâncias. Além disso, conforme
exposto por Neto e Del Pino (1997), os detergentes são capazes de reduzir a tensão
superficial de um líquido, e por isso são chamados de tensoativos. Os tensoativos,
consonante Daltin (2011), são compostos que possuem propriedades anfifílicas, ou
seja, são capazes de reagir tanto com componentes polares (possuem uma região
hidrofílica) quanto apolares (possuem uma região hidrofóbica), no que se refere às
regiões da estrutura molecular do detergente. Segundo Bertoncini (1989), a região
apolar é constituída por cerca de 8 a 18 átomos de carbono, sendo denominada de
“cauda”, pois possui uma longa extensão, enquanto a região polar, é constituída por
um grupo iônico, e é conhecida por “cabeça”.
Além do mais, segundo Malagrino e Rocha (1987), os primeiros detergentes
surgiram no contexto pós 1ª Guerra Mundial, e o primeiro país a produzir o produto foi
a Alemanha, ademais, conforme dito por Neto e Del Pino (1997), a escassez de
gorduras e óleos utilizados na fabricação de sabão levou o país a produzir
sinteticamente o detergente. Ainda assim, segundo os autores, no ano de 1953 os
Estados Unidos acabaram consumindo mais detergentes do que sabões,
demonstrando a crescente utilidade do produto. Ademais, segundo Malagrino e Rocha
(1987) e Gerós (2012), os detergentes foram muito eficazes na limpeza em ambientes
com água dura (água com altas concentrações de sais), divergindo dos sabões que
não possuem essa capacidade.

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O processo de formação do detergente, segundo Dias (2022), ocorre quando
um sal de ácido sulfônico reage com qualquer base inorgânica, essa base inorgânica
pode apresentar carga positiva, assim o detergente será denominado detergente
catiônico ou pode apresentar carga negativa, sendo chamado de detergente aniônico.
Conforme explicitado por Neto e Del Pino (1997), o produto da reação do sal de ácido
sulfônico com a base inorgânica é chamado de tensoativo (surfactante) e segundo os
autores, quando os surfactantes passam por uma concentração crítica eles geram
moléculas conhecidas como micelas. As micelas são estruturas de formato globular,
compostas por componentes anfipáticos (possuem uma região polar e apolar), as
micelas de acordo com Neto e Del Pino (1997) tem a função de solubilizar gorduras e
realizar a catálise micelar.
Os detergentes convencionais, após sua utilização, acabam sendo descartados
como resíduo doméstico, e vão para os corpos hídricos naturais. Isso é um problema
que afeta o equilíbrio ambiental, pois os detergentes, ao serem movidos pelas
correntes de água, acabam gerando espuma na superfície. Essa espuma impede a
penetração da luz solar na água e a entrada de oxigênio, fato esse que prejudica
animais e outros organismos marinhos, como algas e peixes. Além disso, os
detergentes convencionais, na maioria das vezes, não são detergentes
biodegradáveis, e acabando possuindo em sua estrutura molecular, ramificações, e
essas ramificações fazem com o que o detergente convencional não seja degradado
com facilidade pelos microrganismos, tornando o detergente um produto gerador de
poluição.
A fim de solucionar o problema dos detergentes convencionais, foram-se
produzindo ao longo dos anos, detergentes ecológicos, que além de serem produzidos
utilizando materiais sustentáveis, são ecologicamente mais benéficos para o meio
ambiente, além disso, para serem detergentes ecológicos, eles devem possuir em sua
estrutura, moléculas não ramificadas, o torna que fácil a sua biodegradação por
microrganismos. O objetivo dessa pesquisa é fazer um estudo comparado e
integrativo de sobre detergentes ecológicos produzidos na literatura, os detergentes
escolhidos foram os produzidos por óleo residual, óleo de colza, óleo de girassol, óleo
de palma, e azeite de cozinha, além de analisar a potencial utilização do Ibaró
(Sapindus saponária) para a produção de detergentes.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Detergentes

Os saneantes nomeados detergentes, são compostos orgânicos derivados do


petróleo, produzidos em laboratório, por esse motivo, são chamados de compostos
sintéticos, além disso, segundo Diógenes (2017), os detergentes também são
conhecidos como tensoativos, visto que possuem a capacidade singular de reduzir a
tensão superficial de líquidos. Os detergentes, possuem uma estrutura molecular que
os tornam capazes de dissolver tanto substâncias orgânicas, quanto inorgânicas, isso
confere aos detergentes maior capacidade de limpeza e utilização para higienização,
pois sua estrutura molecular, conforme apresentado na Figura 1, consiste em uma
longa cadeia carbônica (região hidrofóbica, ou seja, capaz de interagir com
substâncias apolares) e uma região externa composta por uma molécula iônica
(região hidrofílica, ou seja, capaz de interagir com substâncias polares). Na Figura 1,
as esferas azul, marrom, laranja, verde e amarela representam respectivamente os
átomos de hidrogênio (H), carbono (C), enxofre (S), oxigênio (O) e sódio (Na).

Figura 1 – Estrutura genérica de um detergente

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

As moléculas do detergente, quando agrupadas sobre condições críticas,


geram as estruturas chamadas de micelas. As micelas, conforme ilustrado na Figura
2, possuem uma estrutura globular, e regiões apolar, constituída pelo aglomerado das
caudas das moléculas, e polar, constituída pelos componentes iônicos dos
detergentes, ambas as regiões são o que tornam as micelas responsáveis pela
interação com as demais substâncias. De acordo com Neves (1987), as micelas
possuem uma importante propriedade, que é a capacidade de solubilizar
componentes de distintas características, agindo com os compostos de maneira
eletrostática, hidrofóbica ou a associação destes.

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Figura 2 – Estrutura geral de uma micela

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

Processo de produção global dos detergentes

O processo de produção geral dos detergentes, conforme citado por Dias


(2022) ocorre em uma reação química de ordem direta entre o ácido sulfônico (SO 3Na)
e qualquer base inorgânica. Esse processo de formação está descrito na Figura 3,
onde o ácido sulfônico está reagindo com uma base genérica, que na Figura 3 é o
hidróxido de sódio (NaOH). Nesse esquema, as esferas azuis, marrom, laranja, verde
e amarela representam respectivamente os átomos de hidrogênio (H), carbono (C),
enxofre (S), oxigênio (O) e sódio (Na).

Figura 3 – Processo de formação do detergente através da reação do ácido


sulfônico com o hidróxido de sódio

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

Além desse processo, os autores Neto e Del Pino (1997), destacam mais dois
processos de fabricação de detergentes, que são a sulfonação de alcanos de cadeia
longa, representado pelas Figuras 4 e 5, onde as esferas azul, marrom, laranja e verde
ilustram os átomos de hidrogênio (H), carbono (C), enxofre (S) e oxigênio (O).

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Figura 4 – Etapa 1: sulfonação de alcanos de cadeia longa

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

Figura 5 – Etapa 2: obtenção do detergente através da reação de neutralização

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

Outro processo de fabricação de detergentes é o processo de reação de


alcenos e álcoois de cadeia longa, ilustrado na Figura 6, nesta ilustração os as esferas
azul, marrom, verde, rosa e vermelha representam os átomos de hidrogênio (H),
Carbono (C), Oxigênio (O), Cloro (Cl) e Fósforo (P).

Figura 6 – Reação de síntese de Friedel – Crafts.

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

Detergentes ecológicos (biodegradáveis)

Os primeiros detergentes, de acordo com Neto e Del Pino (1997), eram


produtos altamente poluidores, pois assim que lançados nos corpos hídricos e quando
eram balançados pelas correntes das águas, eles produziam (devido a sua alta
capacidade de espumação) altas cargas de espuma, o que prejudicava os seres vivos
aquáticos comprometendo seu ciclo biológico. Esse fenômeno ocorria, porque
segundo Neto e Del Pino (1997), esses tensoativos tinham em sua estrutura o gás
propeno, por isso a parte hidrofóbica do detergente possuía muitas ramificações,
tornando esse produto de difícil degradação pelos microrganismos.
Outro tipo de detergente produzido no mercado é o detergente ecológico, esses
detergentes possuem como propriedade específica a capacidade de serem facilmente
biodegradáveis por outros microrganismos, além disso, quanto descartados como
resíduos, eles não agridem tanto o meio ambiente se comparados com os detergentes
convencionais, pois esses tensoativos ecológicos não produzem grandes quantidades

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de espuma na água, o que contribui para a equilibrada manutenção do ciclo ecológico
dos ambientes aquáticos. O que confere ao detergente ecológico a capacidade de ser
facilmente degradado é a estrutura atômica, que segundo Vidal Laura e Zorrilla Vivar
(2020), é composto por uma cadeia alquil longa sem ramificações, é a ausência dessa
estrutura ramificada que torna os detergentes ecológicos biodegradáveis, sendo
metabolizados por microrganismos da água e do solo. A Figura 7 ilustra um exemplo
de detergente ecológico.

Figura 7 – Exemplo de um detergente ecológico

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

As esferas azul, marrom, verde, laranja e amarela são os elementos hidrogênio


(H), carbono (C), oxigênio (O), enxofre (S) e sódio (Na).

Detergente de óleo residual

O óleo residual é o óleo proveniente geralmente da cocção de alimentos, esse


resíduo tem muitas aplicações, como por exemplo, a fabricação de biodiesel, sabão e
detergentes. No que se refere a produção de detergentes através do óleo residual,
Conceição et. al (2019) analisaram três amostras de óleo, onde realizaram-se os
testes de índice de acidez e saponificação. Além disso, para produzir o detergente
foram utilizados NaOH (hidróxido de sódio), água e essência de eucalipto, os autores
também realizaram a análise de pH do detergente produzido.

Detergente de óleos vegetais

Os óleos vegetais, segundo Osaki (2011), são gorduras extraídas das plantas,
é muito comum a extração do óleo vegetal através das sementes dos vegetais,
embora o óleo possa ser extraído de outros componentes das plantas como galhos,
folhas e raízes. Os óleos vegetais são constituídos por triglicerídeos, que nada mais
são do que moléculas constituídas pela união de três ácidos graxos e um glicerol.

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Possuem característica apolar, portanto são insolúveis em água, e solúveis através
de interações químicas em solventes apolares. Almeida (2020) produziu detergente
de óleos de vegetais utilizando três tipos de óleos, que foram o de colza, palma e
girassol virgens e usados. A produção do detergente consistiu em uma mistura
hidrolisada de 4%, 10% de hidróxido de sódio (NaOH) em relação à massa de óleo
utilizada para o procedimento de hidrólise, 1,4% de SLE2S (Efeito de concentração
de surfactantes), 1,75% de isopropanol, o resto da porcentagem utilizada foi de água
destilada. No processamento foi utilizado um agitador mecânico a fim de que a mistura
se tornasse homogénea. As propriedades físico-químicas analisadas foram: pH, Teste
de Espuma, Índice de Saponificação, Reologia e Tensiometria.

Detergente de azeite de cozinha

O azeite de cozinha é uma gordura líquida obtida a partir do esmagamento de


azeitonas, possui aplicabilidades na culinária, servindo essencialmente para fritar
alimentos e como tempero, geralmente usado em saladas. Além disso, por ser uma
espécie de gordura, também tem aplicação na produção de detergente ecológico.
Cajan Veliz (2020) produziu o detergente de azeite de cozinha utilizando o processo
de saponificação de agitação de amostras de azeite de cozinha misturados com
cloreto de sódio (NaCl), eles também agregaram fragrância e corante de clorofila na
proporção de 1g para cada 100g de detergente. As propriedades físico-químicas
analisadas pelo autor foram: Densidade, pH, Cor, Odor e Tensoativo aniônico.

Potencial utilização do ibaró (Sapindus saponaria L) para produção de


detergentes

O Ibaró (Sapindus saponaria L), também conhecido por nomes populares como
jequiri, jequiriti, jequitiguaçu e salta-martim é uma botânica nativa de regiões tropicais
da América, que possuem frutos arredondados de cor marrom com sementes pretas,
ademais, de acordo com Manzanero (2017), essa planta possui flores brancas,
pequenas e entomófilas (a polinização é realizada através de insetos). Em sua
estrutura atômica, o Ibaró possui moléculas chamadas de saponinas, e segundo o
autor, essas moléculas são solúveis em água, amorfas e incolores, e quando entram
em contato com água formam emulsões espumosas, fato esse que corrobora para a

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utilização do Ibaró, para a produção não apenas de detergentes, mas também de
sabões.
Relativo à produção de detergentes utilizando o Ibaró, Manzanero (2017)
coletou dados da utilização do Ibaró e de um detergente convencional frente a camisas
sujas, analisando a DBO (Demanda bioquímica de oxigênio) e DQO (Demanda
química de oxigênio), sendo que aquele se refere à quantidade de oxigênio que é
consumido na degradação de matéria orgânica em meio aquoso por microrganismos
biológicos, enquanto este corresponde a quantidade de oxigênio necessário que os
processos químicos necessitam degradar.

METODOLOGIA

A pesquisa consiste em um estudo comparativo e integrativo, que de acordo


com Broome (2006), é o tipo de estudo que faz uma síntese da literatura passada
teórica ou empírica, a fim de prover uma explicação mais abrangente sobre um estudo
ou fenômeno em particular, sobre detergentes ecológicos produzidos na literatura,
tendo como principal foco, os detergentes produzidos a partir de óleo residual, óleo
de colza, óleo de girassol, óleo de palma, azeite de cozinha e a potencial utilização do
Ibaró (Sapindus saponária) como matéria-prima para a produção do produto.
A seleção de pesquisas bibliográficas, ocorreu entre janeiro e março de 2021,
sendo selecionadas literaturas encontradas no Google Acadêmico e na Scientic Libray
Online (Scielo), foram considerados apenas literatura cujos indexadores utilizados
foram: Detergente, Detergente Ecológico e Produção de Detergentes.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os detergentes ecológicos foram escolhidos baseados nas literaturas


representadas na Figura 8, onde cada autor utilizou um material renovável e
biodegradável diferente, além de analisar propriedades físico-químicas dos
detergentes, os pesquisadores utilizaram métodos de produção por hidrólise e
agitação.

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Figura 8 – Matérias-primas para a produção de detergente utilizada pelos autores.

CONCEIÇÃO ET AL. (2019)


Produziram o detergente utilizando óleo residual

ALMEIDA (2020)
Produziu o detergente utilizando óleos vegetais
de colza, palma e girassol

CAJAN VELIZ (2020)


Produziu o detergente utilizando azeite de
cozinha

MANZANERO (2017)
Averiguou a potencial utilização do Ibaró para a
produção de detergente
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

Para produzir os detergentes, cada autor utilizou técnicas próprias, sendo que
ambos, Conceição et al. (2019) e Almeida (2020) realizaram a hidrólise do detergente
utilizando hidróxido de sódio (NaOH), enquanto Cajan Veliz (2020) utilizou o cloreto
de sódio (NaCl) no processo. Além disso, para dar odor ao detergente, cada autor
utilizou essências e fragrâncias distintas, sendo que Conceição et al. (2019) usaram
eucalipto, Almeida (2020) não utilizou nenhum tipo de essência, já Cajan Veliz (2020)
além de utilizar fragrância, utilizou também corante de clorofila no detergente.
Os resultados das principais propriedades físico-químicas analisadas pelos
autores estão descritos na Tabela 1, é importante ressaltar que Conceição et al. (2019)
se limitaram a análise do índice de saponificação e acidez das amostras e relativo ao
detergente eles realizaram análise do índice de pH, entretanto o dado quantitativo não
foi informado na pesquisa, restando apenas o dado qualitativo que afirma que o
detergente apresentou um bom índice de pH, enquanto Almeida (2020) e Cajan Veliz
(2020) realizaram uma análise físico-química mais global e completa do detergente,
além disso Almeida (2020) produziu o detergente usado óleos virgens e usados, nesta
pesquisa a análise limita-se apenas ao óleo usado, e Manzanero (2017) se limitou
apenas a análise DBO e DQO do Ibaró.

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Tabela 1 – Resultados das análises físico-químicas realizadas pelos pesquisadores
Índice de
Cor Densidade (g/mL) saponificação
(mg KOH/g)
Amarelo
Índice de
Conceição et al. Odor pH Emulsificação
(2019) (%) - Média
Eucalipto Bom
Tensiometria Teste de Espuma
Tensoativo aniônico
(mN/m) (cm)

Índice de
Cor Densidade (g/mL) saponificação
(mg KOH/g)
Colza - Amarelo
translucido
Girassol - Branco
Palma - Branco
Índice de
Odor pH Emulsificação
Almeida (2020) (%) - Média
Colza – 11,54 Colza – 50,3
Girassol - 9,16 Girassol - 37,3
Palma - 11,86 Palma - 54,0
Tensiometria Teste de Espuma
Tensoativo aniônico
(mN/m) (cm)
Colza - 39,00 Colza - 3,73
Girassol - 39,08 Girassol - 2,50
Palma - 43,98 Palma - 2,20
Índice de
Cor Densidade (g/mL) saponificação
(mg KOH/g)
Amarelo 1,00 – 1,10
Índice de
Cajan Veliz (2020) Odor pH Emulsificação
(%) - Média
Inodoro 8
Tensiometria Teste de Espuma
Tensoativo aniônico
(mN/m) (cm)
19+/-1.0
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

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Um dos parâmetros fundamentais para verificar a qualidade e eficácia de um
detergente é o parâmetro físico-químico de pH (potencial hidrogeniônico), que diz
respeito a quão ácido ou básico é uma substância, para ser considerada ácida o pH
deve ser baixo e para ser básica o pH deve ser alto. Ademais, de acordo com a
Resolução – RDC nº 13 de 28 de fevereiro de 2007 da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) os detergentes utilizados para a lavagem de utensílios domésticos
devem ter um pH compreendido na faixa de 5,5 e 9,5. Entretanto, um pH muito elevado
pode causar irritações na pele de pessoas mais sensíveis. De acordo com Cajan Veliz
(2020), produtos de limpeza com pH mais ácido são ideais para limpeza de manchas
de ferrugem, enquanto os de pH mais alcalino são mais utilizados para limpar sujeiras
com conteúdo gorduroso. A Figura 9 ilustra os resultados para o parâmetro pH obtido
nas análises dos pesquisadores.

Figura 9 – Escala de pH dos detergentes obtidos pelos pesquisadores

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

O parâmetro de pH é muito importante para determinar o quão ácido ou básico


é uma substância, os detergentes que se enquadraram nos limites estabelecidos pela
Anvisa foram o detergente de óleo de girassol e azeite de cozinha, sendo que o de
azeite de cozinha possui um pH relativamente mais neutro que os demais detergentes,
já os detergentes de óleo de colza e de palma possuíram um pH acima do limite
estabelecido pela Anvisa como produto para limpeza de utensílios domésticos. É
importante ressaltar que Conceição et al. (2019) não quantificou o pH, mas determinou
uma avaliação qualitativa do mesmo.

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CONCLUSÃO

O processo de preparação do detergente mais comumente utilizado é a


hidrólise com hidróxido de sódio (NaOh) realizada por dois autores, enquanto apenas
um autor utilizou o cloreto de sódio no processo (NaCl). Além disso, no que se refere
às matérias-primas utilizadas para a produção do detergente, cada uma apresenta
vantagens e desvantagens, sendo que o óleo de girassol e o azeite de cozinha foram
as únicas matérias-primas utilizadas que resultaram em um detergente com pH dentro
dos parâmetros estabelecidos pela Anvisa, ademais, com relação ao biodiesel de óleo
residual, Conceição et al. (2019) não coletaram o dado qualitativo do pH, restando
inferir que o pH enquadrava-se no limite estabelecido pela Anvisa, já que os autores
afirmaram que obtiveram um “bom” resultado para o parâmetro.
Portanto, os detergentes que estavam em conformidade com o parâmetro de
pH foram os detergentes de óleo de girassol e azeite de cozinha, além disso, o
processo de preparação mais comum para o detergente é a hidrólise com hidróxido
de sódio (NaOH). Estudos prospectivos devem ser realizados a fim de averiguar mais
matérias-primas para a produção de detergentes ecológicos, como é o caso do estudo
feito por Manzanero (2017), que averiguou a utilização do Ibaró para produção de
detergente e que concluiu que essa botânica tem um alto potencial de limpeza, desse
modo, mais pesquisas devem ser realizadas, para que sejam estudadas mais
matérias-primas potenciais para a produção de detergentes ecológicos, fato esse que
contribuirá não apenas para o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente, mas
também para a aplicação da Química Verde, beneficiando toda a sociedade.

REFERÊNCIAS

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Rev.Bras.Proc.Quím., Campinas, SP, v.3 n.2, p.1-79, jul./dez. 2022 32

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