Tecnologias para A Agricultura Familiar

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ISSN 1679-043X

Março / 2020
DOCUMENTOS
122
Tecnologias para a
Agricultura
Familiar
4ª edição revista e atualizada
ISSN 1679-043X
Março, 2020

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária


Embrapa Agropecuária Oeste
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

DOCUMENTOS 122

Tecnologias para a
Agricultura
Familiar
Marciana Retore
Carmen Regina Pezarico

Editoras Técnicas

4ª edição revista e atualizada

Embrapa Agropecuária Oeste


Dourados, MS
2020
Embrapa Agropecuária Oeste Comitê Local de Publicações
BR 163, km 253,6 da Unidade
Trecho Dourados-Caarapó
79804-970 Dourados, MS Presidente
Caixa Postal 449 Harley Nonato de Oliveira
Fone: (67) 3416-9700
www.embrapa.br/ Secretária-Executiva
www.embrapa.br/fale-conosco/sac Silvia Mara Belloni

Membros
Alexandre Dinnys Roese, Christiane Rodrigues
Congro Comas, Éder Comunello, Luís Antonio
Kioshi Aoki Inoue, Marciana Retore, Marcio Akira
Ito e Oscar Fontão de Lima Filho

Supervisão editorial
Eliete do Nascimento Ferreira

Revisão de texto
Eliete do Nascimento Ferreira
Silvia Zoche Borges

Normalização bibliográfica
Silvia Mara Belloni
A Embrapa é uma
empresa que respeita os Projeto gráfico da capa
Direitos Autorais. Em Carlos Eduardo Felice Barbeiro
algumas fotos utilizadas
nesta obra, não foi Editoração eletrônica
possível, porém, identificar
Eliete do Nascimento Ferreira
o autor. Se você é autor de
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Agropecuária Oeste. 4ª edição revista e atualizada
E-book (2020)

Todos os direitos reservados


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Agropecuária Oeste

Tecnologias para a agricultura familiar / Marciana Retore,


Carmen Regina Pezarico, editoras técnicas. 4. ed. rev. e atual.
─ Dourados, MS : Embrapa Agropecuária Oeste, 2020.

245 p. : il. color. ; 16 x 21 cm. – (Documentos / Embrapa Agropecuária


Oeste, e-ISSN 1679-043X ; 122).

1. Agricultura familiar – Tecnologia. I. Retore, Marciana.


II. Pezarico, Carmen Regina. III. Embrapa Agropecuária Oeste.
IV. Série.

Silvia Mara Belloni (CRB-1/1662) Embrapa, 2020


Autores
Agenor Martinho Correa
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, professor adjunto da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Unidade
Universitária de Aquidauana, Aquidauana, MS.

Alexandre Dinnys Roese


Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, analista de apoio à
pesquisa da Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Ana Maria Costa


Engenheira-agrônoma, doutora em Patologia Molecular, pesquisadora da
Embrapa Cerrados, Planaltina, DF.

Araci Molnar Alonso


Engenheira-agrônoma, doutora em Produção Vegetal, pesquisadora da
Embrapa Cerrados, Planaltina, DF.

Auro Akio Otsubo


Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa
Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Carlos Ricardo Fietz


Engenheiro-agrônomo, doutor em Irrigação, pesquisador da Embrapa
Agropecuária Oeste, Dourados, MS.
Carmen Regina Pezarico
Engenheira-agrônoma, mestre em Agronomia, analista (gestora de
negócios tecnológicos) da Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Cássia Regina Yurico Ide Vieira


Engenheira-agrônoma, doutora em Agronomia, pesquisadora da Agência
de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), Dourados, MS.

Christiane Abreu de Oliveira Paiva


Engenheira-agrônoma, doutora em Biologia Vegetal, pesquisadora da
Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG.

Daniel da Silva Ferreira


Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, analista da Embrapa
Algodão, Campina Grande, PB.

Danilton Luiz Flumignan


Engenheiro-agrônomo, doutor em Irrigação e Drenagem, pesquisador da
Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Éder Comunello
Engenheiro-agrônomo, doutor em Engenharia de Sistemas Agrícolas,
pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Eliane Aparecida Gomes


Bióloga, doutora em Genética, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo,
Sete Lagoas, MG.

Eliel Souza Freitas Júnior


Engenheiro-agrônomo, assessor técnico da Associação Estadual de
Cooperação Agrícola – MS (Aesca), Campo Grande, MS.

Elsio Antonio Pereira de Figueiredo


Zootecnista, doutor em Animal Breeding, pesquisador da Embrapa Suínos
e Aves, Concórdia, SC.
Eny Duboc
Engenheira-agrônoma, doutora em Agronomia, pesquisadora da Embrapa
Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Erika do Carmo Ota


Bióloga, doutora em Recursos Naturais, bolsista DTI/BRS-Aqua,
Dourados, MS.

Everton Luis Krabbe


Engenheiro-agrônomo, doutor em Zootecnia, pesquisador da Embrapa
Suínos e Aves, Concórdia, SC.

Fábio Gelape Faleiro


Engenheiro-agrônomo, doutor em Genética e Melhoramento, pesquisador
da Embrapa Cerrados, Planaltina, DF.

Fernando Mendes Lamas


Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa
Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Flávio de Oliveira Ferreira


Engenheiro-agrônomo, mestre em Fitotecnia, coordenador regional da
Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer),
Dourados, MS.

Francimar Perez Matheus da Silva


Engenheira-agrônoma, doutora em Agronomia, gestora de
desenvolvimento rural da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão
Rural (Agraer), Dourados, MS.

Francisco Pinheiro de Araújo


Engenheiro-agrônomo, doutor em Horticultura, analista aposentado da
Embrapa Semiárido, Petrolina, PE.
Gessí Ceccon
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, analista de apoio à
pesquisa da Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Gisele de Fátima Dias Diniz


Engenheira-agrônoma, doutoranda em Microbiologia, Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), Sete Lagoas, MG.

Harley Nonato de Oliveira


Engenheiro-agrônomo, doutor em Entomologia, pesquisador da Embrapa
Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Huberto Noroeste dos Santos Paschoalick


Engenheiro-agrônomo, mestre em Agronomia, pesquisador aposentado
da Embrapa Produtos e Mercado – Escritório de Dourados, Dourados,
MS.

Ítalo Lüdke
Engenheiro-agrônomo, mestre em Agronomia, supervisor do Setor de
Implementação da Programação de Transferência de Tecnologia (SIPT),
Embrapa Hortaliças, Brasília, DF.

Ivanildo Evódio Marriel


Engenheiro-agrônomo, doutor em Biologia Celular, pesquisador da
Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG.

Ivo de Sá Motta
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa
Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Jacqueline Cavalcante Barros


Administradora, mestre em Administração, analista da Embrapa Gado de
Corte, Campo Grande, MS.
Jovelina Maria de Oliveira
Zootecnista, gestora de desenvolvimento rural da Agência de
Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), Campo Grande, MS.

Laurindo André Rodrigues


Zootecnista, doutor em Aquicultura, pesquisador da Embrapa
Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Leandro de Oliveira Souza Higa


Biólogo, mestre em Ciência Animal, bolsista DCR na Embrapa Gado de
Corte, Campo Grande, MS.

Liliane Aico Kobayashi Leonel


Engenheira-agrônoma, mestre em Agronomia, gestora de desenvolvi-
mento rural da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural
(Agraer), Dourados, MS.

Luciano Oliveira Geisenhoff


Engenheiro-agrônomo, doutor em Engenharia Agrícola, professor adjunto
da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, MS.

Luciano Viana Cota


Engenheiro-agrônomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa
Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG.

Luís Antonio Kioshi Aoki Inoue


Engenheiro-agrônomo, doutor em Genética e Evolução, pesquisador da
Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Luís Armando Zago Machado


Engenheiro-agrônomo, doutor em Pastagem e Forragicultura,
pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Luiz Carlos Guilherme


Zootecnista, doutor em Genética e Bioquímica, pesquisador da Embrapa
Cocais, São Luís, MA.
Marcelo Mikio Hanashiro
Engenheiro-agrônomo, mestre em Desenvolvimento Econômico, analista
da Embrapa Hortaliças, Brasília, DF.

Marciana Retore
Zootecnista, doutora em Produção Animal, pesquisadora da Embrapa
Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Marcio Akira Ito


Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa
Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Marco Antonio Sedrez Rangel


Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa
Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA.

Marcos Valério Garcia


Biólogo, doutor em Microbiologia Agropecuária, bolsista DCR na Embrapa
Gado de Corte, Campo Grande, MS.

Maria do Carmo Vieira


Engenheira-agrônoma, doutora em Fitotecnia, professora titular da
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, MS.

Nair Helena Castro Arriel


Engenheira-agrônoma, doutora em Produção Vegetal, pesquisadora da
Embrapa Algodão, Campina Grande, PB.

Nelson Pires Feldberg


Engenheiro-agrônomo, mestre em Agronomia, analista da Embrapa Clima
Temperado, Pelotas, RS.

Néstor Antonio Heredia Zárate


Engenheiro-agrônomo, doutor em Fitotecnia, professor titular da
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, MS.
Nilton Tadeu Vilela Junqueira
Engenheiro-agrônomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa
Cerrados, Planaltina, DF.

Oscar Fontão de Lima Filho


Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciências, pesquisador da Embrapa
Hortaliças, Brasília, DF.

Paulo Evaristo de Oliveira Guimarães


Engenheiro-agrônomo, doutor em Genética e Melhoramento de Plantas,
pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG.

Renato Andreotti
Médico-veterinário, doutor em Ciências Biológicas, pesquisador da
Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, MS.

Ricardo Borghesi
Zootecnista, doutor em Ciência Animal e Pastagens, pesquisador da
Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Rita de Cássia Félix Alvarez


Engenheira-agrônoma, doutora em Agronomia, professora adjunta da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus de
Chapadão do Sul, Chapadão do Sul, MS.

Rudiney Ringenberg
Engenheiro-agrônomo, doutor em Entomologia, pesquisador da Embrapa
Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA.

Sabrina Castilho Duarte


Médica-veterinária, doutora em Ciência Animal, pesquisadora da Embrapa
Suínos e Aves, Concórdia, SC.

Sylvia Morais de Sousa


Bióloga, doutora em Genética e Biologia Molecular, pesquisadora da
Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG.
Tarcila Souza de Castro Silva
Zootecnista, doutora em Ciência Animal e Pastagens, pesquisadora da
Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Ubiraci Gomes de Paula Lana


Químico, doutor em Genética, analista da Embrapa Milho e Sorgo, Sete
Lagoas, MG.

Valdir Silveira de Avila


Engenheiro-agrônomo, doutor em Zootecnia, pesquisador da Embrapa
Suínos e Aves, Concórdia, SC.

Vanderlei da Silva Santos


Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa
Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA.

Vitória Palhares Ribeiro


Bióloga, doutoranda em Bioengenharia, Universidade Federal de São
João del-Rei (UFSJ), Sete Lagoas, MG.

Walder Antônio Gomes de Albuquerque Nunes


Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa
Agropecuária Oeste, Dourados, MS.

Walter Fernandes Meirelles


Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa
Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG.
Apresentação
Em 2014, a Embrapa lançou a publicação “Tecnologias para a Agricultura
Familiar”, a qual reuniu diversas tecnologias voltadas ao agricultor familiar,
em um formato simples e objetivo. Os capítulos continham informações
básicas, mas também apresentavam sugestões bibliográficas e links de
acesso, onde o leitor poderia se aprofundar nos temas de interesse.
O sucesso da publicação foi tal que, de lá para cá, em função de
demandas, foram realizadas revisões com incrementos de tecnologias.
Esta quarta edição, além de ter sido revisada, ampliada e editada em forma
de e-book, também está disponível por meio de aplicativo, fruto de uma
parceria com o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) – Campus
de Dourados, o qual, depois de instalado, trabalha offline. Assim,
informações mais detalhadas poderão ser facilmente acessadas por meio
dos links disponibilizados pelos autores no final de cada capítulo. A ideia é
conectar o produtor ao cenário de inovação tecnológica, para expandir a
disseminação da informação e do acesso ao conhecimento.
A Embrapa está constantemente trabalhando para viabilizar soluções de
pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da
agricultura, em benefício da sociedade brasileira. Entregamos esta
publicação, junto com nossos parceiros, especialmente para os produtores
familiares, buscando propiciar cada vez mais o acesso a essas soluções,
de forma que elas sejam propulsoras de uma agricultura pujante, forte e
cheia de oportunidades.

Harley Nonato de Oliveira


Chefe-Geral
Sumário
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)
Eny Duboc..............................................................................................17

Planejamento Alimentar na Bovinocultura Leiteira


Marciana Retore.....................................................................................25

Consórcio de Milho com Forrageiras: Silagem e Pasto no


Período da Seca
Gessí Ceccon.........................................................................................31

Capins-Elefantes BRS Kurumi e BRS Capiaçu


Marciana Retore.....................................................................................37

Pastagens para Gado de Leite


Luís Armando Zago Machado ................................................................41

Preparo e Seleção de Material de Plantio de Mandioca


Auro Akio Otsubo e Marco Antonio Sedrez Rangel................................49

Poda da Goiabeira
Cássia Regina Yuriko Ide Vieira .............................................................53

Feijão-Comum
Oscar Fontão de Lima Filho e Marcio Akira Ito ......................................59
Feijão-Caupi na Agricultura Familiar
Gessí Ceccon, Agenor Martinho Correa e Rita de Cássia Félix
Alvarez ...................................................................................................67

Milhos Especiais da Embrapa


Walter Fernandes Meirelles e Paulo Evaristo de Oliveira Guimarães ..71
Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs)
Maria do Carmo Vieira, Néstor Antonio Heredia Zárate e Liliane Aico
Kobayashi Leonel...................................................................................77

Cultivares de Mandioca da Embrapa Recomendadas para Mato


Grosso do Sul e Paraná
Marco Antonio Sedrez Rangel, Vanderlei da Silva Santos e
Auro Akio Otsubo ...................................................................................83

Adubação Verde
Oscar Fontão de Lima Filho ...................................................................87

Controle Biológico de Doenças


Alexandre Dinnys Roese........................................................................95

Cultivo da Erva-Mate em Sistemas Agroflorestais


Eny Duboc............................................................................................101

Semeadura de Espécies Arbóreas para Revegetação de Áreas


Desmatadas por Meio de Sistemas Agroflorestais
Eny Duboc............................................................................................109

Baculovirus erinnyis para o Controle Biológico do Mandarová


da Mandioca
Rudiney Ringenberg ............................................................................115

Controle Biológico de Insetos


Harley Nonato de Oliveira ....................................................................121

Caldas e Biofertilizantes – Proteção das Plantas na Agricultura


Orgânica
Ivo de Sá Motta ....................................................................................125
Aproveitamento de Materiais Orgânicos e Produção de Húmus
Ivo de Sá Motta ....................................................................................131

Compostagem
Ivo de Sá Motta e Walder Antonio Gomes de Albuquerque Nunes......135

Piscicultura Familiar
Luís Antonio Kioshi Aoki Inoue, Ricardo Borghesi, Tarcila Souza de
Castro Silva e Erika do Carmo Ota ......................................................139

Poedeira Colonial Embrapa 051


Valdir Silveira de Avila, Elsio Antonio Pereira de Figueiredo,
Everton Luis Krabbe e Sabrina Castilho Duarte ..................................143

A Meliponicultura em Mato Grosso do Sul


Jovelina Maria de Oliveira e Eliel Souza Freitas Júnior .......................149

Aquaponia
Luís Antonio Kioshi Aoki Inoue, Tarcila Souza de Castro Silva e
Oscar Fontão de Lima Filho .................................................................155

Algodão Colorido
Fernando Mendes Lamas ....................................................................159

Produção de Flores Ornamentais Tropicais


Francimar Perez Matheus da Silva, Liliane Aico Kobayashi Leonel
e Huberto Noroeste dos Santos Paschoalick.......................................167

Cultivo de Antúrio
Flávio de Oliveira Ferreira e Francimar Perez Matheus da Silva .........171

Cultivares BRS de Tomate e Alface


Marcelo Mikio Hanashiro e Ítalo Lüdke ................................................177

Irrigação na Agricultura Familiar


Luciano Oliveira Geisenhoff e Danilton Luiz Flumignan.......................183

Guia Clima: Monitoramento Climático de Mato Grosso do Sul


Carlos Ricardo Fietz, Éder Comunello e Danilton Luiz Flumignan ......187
Cultivares de Maracujazeiro-Azedo da Embrapa
Fábio Gelape Faleiro e Nilton Tadeu Vilela Junqueira .........................193

Cultivares de Maracujazeiro Ornamental da Embrapa


Fábio Gelape Faleiro, Nilton Tadeu Vilela Junqueira, Araci Molnar Alonso
e Nelson Pires Feldberg.......................................................................199

Cultivares de Maracujazeiros Doce e Silvestres da Embrapa


Fábio Gelape Faleiro, Nilton Tadeu Vilela Junqueira, Ana Maria Costa e
Francisco Pinheiro de Araújo ...............................................................205

Produção Sustentável de Maracujá-Amarelo


Ivo de Sá Motta ....................................................................................211

Inoculantes de Microrganismos Solubilizadores de Fósforo


Christiane Abreu de Oliveira Paiva, Gisele de Fátima Dias Diniz, Vitoria
Palhares Ribeiro, Ivanildo Evódio Marriel, Eliane Aparecida Gomes,
Luciano Viana Cota, Sylvia Morais de Sousa e Ubiraci Gomes de Paula
Lana .....................................................................................................219

Controle Estratégico para Combater o Carrapato-do-Boi em Vacas


Leiteiras
Renato Andreotti, Marcos Valério Garcia, Leandro de Oliveira Souza
Higa e Jacqueline Cavalcante Barros ..................................................223

Cultivares de Gergelim
Nair Helena Castro Arriel e Daniel da Silva Ferreira ............................229

Sisteminha Embrapa/UFU/Fapemig
Laurindo André Rodrigues, Luiz Carlos Guilherme, Luís Antônio Kioshi
Inoue e Tarcila Souza de Castro Silva .................................................235

Grão-de-Bico
Oscar Fontão de Lima Filho .................................................................239
17

Integração
Lavoura–Pecuária–Floresta (ILPF)
Eny Duboc

1. O que é
É a interação econômica e ecológica positiva, complementar ou
sinérgica, entre cultivos agrícolas e/ou de pastagens com
espécies lenhosas (árvores, arbustos ou palmeiras) em uma
mesma área. Pode ser em consórcio, em sucessão ou em
rotação.
São diversas as combinações possíveis entre agricultura,
pecuária e floresta. Para definição de qual o melhor modelo ou
sistema, deve-se levar em consideração a região, o solo, o clima
e as condições do agricultor. Esses sistemas também são
chamados de sistemas agroflorestais e podem ser classificados
em sistema silvipastoril (floresta x pastagem), silviagrícola
(floresta x lavouras) e agrissilvipastoril (lavouras x floresta x
pastagens), que é o sistema mais complexo.
Lembrando que:
a) Rotação é a alternância de cultivos na mesma safra, mas em
anos agrícolas diferentes (ex.: soja e algodão).
b) Sucessão é o plantio de uma cultura na sequência da outra,
no mesmo ano agrícola (ex.: soja e milho safrinha).
c) Consórcio é o cultivo de duas ou mais espécies na mesma
área, na mesma safra (ex.: milho e braquiária).
Os sistemas integrados são mais complexos e há necessidade
de assessoramento técnico de qualidade. O agricultor precisará
investir em cercas, aguadas, currais e outras infraestruturas
necessárias para a criação de animais. Por sua vez, o pecuarista
18 DOCUMENTOS 122

terá que adequar seu sistema de escoamento da produção


agrícola. Também é necessário que existam na região os demais
elos da cadeia produtiva da pecuária e, em especial, da florestal,
considerando que é preciso adequar a madeira produzida às
demandas do mercado local (usos na própria propriedade,
carvão, lenha, celulose ou serraria, etc.).

2. Benefícios e/ou vantagens


n Permite amortizar custos de recuperação de pastagens
degradadas pela produção dos cultivos associados e
aproveitar a adubação residual da lavoura.
n Possibilita reduzir os riscos climáticos e de mercado pela
obtenção de maior número de produtos.
n Propicia microclima favorável, com manutenção da pastagem
verde por mais tempo, mesmo na entressafra, devido ao
sombreamento das árvores e à diferença de profundidade
dos sistemas radiculares que captam água em camadas
distintas.
n Produz forragem de melhor qualidade e aumenta a
produtividade de carne e/ou leite.
n Promove conforto animal pelo abrigo do sol, ventos e/ou frio,
e, com sombra, o gado aumenta o tempo de pastejo,
diminuindo o tempo necessário para engorda.
n Melhora a eficiência no uso dos recursos, das máquinas e
equipamentos, dos insumos e da mão de obra, reduzindo os
custos das atividades agrícola e pecuária, principalmente no
caso de renovação das pastagens.
n Raízes mais profundas, sejam das árvores ou das gramíneas,
proporcionam maior sustentabilidade dos sistemas pelo
aumento da ciclagem de nutrientes do solo, o que pode
reduzir o uso de adubos e defensivos.
n Melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do
solo e incrementa o teor de matéria orgânica e a ativação dos
ciclos biogeoquímicos.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 19

n Contribui para conservar o solo e a água, diminui a erosão e


aumenta a recarga de aquíferos e o sequestro de carbono.
n Diversifica a renda e amplia a qualidade de vida do produtor e
sua família.
n O alto valor agregado da madeira ao final do ciclo propicia
renda extra, compensando a terra alocada para essa
atividade, enquanto os custos de implantação da floresta são
amortizados pelos ingressos da produção agropecuária e,
ainda, pelas entradas esporádicas relativas aos desbastes
intermediários, cuja madeira é destinada para fins menos
nobres, como estacas ou escoras para construção civil, ou
mesmo carvão.
n Propicia a intensificação do uso da terra e a diversificação da
produção: grãos, tubérculos, fibras, forragens, carne, leite,
madeira, ou ainda produtos florestais não madeireiros (frutos,
látex, taninos, resinas, etc.) na mesma área.

3. Como utilizar
Para a implantação da lavoura, da pastagem e das árvores deve-
se seguir as recomendações de cultivo específicas de cada
espécie, como: variedades, preparo e correção do solo, uso de
fertilizantes e outros insumos. Em geral, a introdução das árvores
deve ser feita, preferencialmente, durante a renovação das
pastagens, junto com o cultivo agrícola, por, pelo menos, 2 anos
e, no máximo, 4 anos, de modo que, ao retornar com as
forrageiras e os animais, as árvores já estejam com
desenvolvimento adequado, não sendo danificadas.
Para o Bioma Cerrado, as espécies agrícolas mais utilizadas na
ILPF são algodão, soja, milho, sorgo, feijão, arroz e girassol. Os
principais consórcios são de milho + capim/forrageiras, sorgo
(granífero ou silagem) + capim/forrageiras e, em pequena
escala, outros consórcios (milheto, sorgo pastejo, guandu).
Como espécies forrageiras, a grande maioria é do gênero
Brachiaria. Espécies de Panicum e outras entram em menores
proporções. Como principais espécies florestais têm-se o
eucalipto, a teca, o cedro australiano e o mogno.
20 DOCUMENTOS 122

A forma de plantio, disposição e distância entre as árvores


(aleatória, em bosquetes, ou em faixas com uma ou mais linhas)
e o distanciamento entre as faixas dependerão do objetivo que
se quer alcançar: quebra-ventos, sombreamento, fixação de
nitrogênio, renovação e produção de forragem, ou madeira e
energia, entre outros. O plantio em faixas facilita a entrada de
máquinas na área, e a maior distância entre as faixas reduz o
sombreamento, propicia o consórcio agrícola por mais tempo e
pode produzir madeira com maior valor agregado.
O manejo correto do componente florestal, com podas de galhos
e até mesmo desbastes, com retirada de algumas árvores no
sistema, pode aumentar a luminosidade. Entretanto, eventuais
perdas de produtividade das lavouras podem ser compensadas,
ao fim do ciclo, com a venda da madeira. Na colheita das árvores
recomenda-se retirar apenas os troncos descascados. O
restante da planta deve retornar para o solo. Isso melhora a
capacidade para suportar novos cultivos, pelo retorno de
nutrientes.

Aspectos a serem observados na escolha da árvore

Existem muitas arbóreas nativas com características


adequadas para integrar os sistemas agroflorestais, seja por
possuírem boa velocidade de crescimento e arquitetura de
copa, ou por serem propícias ao forrageamento, à produção de
madeira ou de outros produtos não madeireiros, ou ainda por
serem fixadoras de nitrogênio.
As espécies de crescimento rápido (caroba, pinho-cuiabano,
cedro-rosa, bordão-de-velho, cajá, louro-pardo, jenipapo,
mamica-de-porca e sumaúma-preta) trazem os benefícios mais
rapidamente para o sistema, e aceleram o retorno dos animais à
área. Árvores com pouca ramificação, copas altas e ralas
(farinha-seca, amburana, jacarandá-de-espinho, garapeira,
pinho-cuiabano) também são preferidas, pois diminuem a
necessidade de manejo, como a poda de galhos, para regular a
luminosidade ou entrada de luz no sistema.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 21

Outro aspecto importante diz respeito à capacidade de


regeneração natural da espécie em pastagens, para que a
mesma não se torne uma espécie invasora, como é o caso da
leucena e da goiaba, que devem ser evitadas. A facilidade ou a
regeneração excessiva pode reduzir a capacidade de suporte da
pastagem, além de aumentar a necessidade de manejo da
espécie. Outras espécies a serem evitadas são as tóxicas para
os animais, como a timbaúba e a orelha-de-negro.
Deve-se preferir espécies arbóreas leguminosas fixadoras de
nitrogênio (angico-branco, jacarandá-branco, vinhático,
mulungu) pois favorecem o desenvolvimento da pastagem,
agregando qualidade à forragem. Árvores que fornecem frutos
com valor forrageiro (babaçu, baru, baginha, bordão-de-velho,
cajá, jatobá, jenipapo), também podem contribuir para
complementar a alimentação do rebanho, pois, muitas vezes,
essa frutificação acontece no inverno, época em que a pastagem
apresenta menor qualidade.
Quando o objetivo for produção comercial de madeira para
serraria, laminação, produção de estacas ou mourão para cercas
deve-se atentar para a qualidade do fuste da espécie. Espécies
com dominância apical, com fuste retilíneo ou poucas
ramificações, possuem melhor qualidade e valor de sua madeira
(cedro-rosa, amburana, garapeira, jatobá, freijó-preto, caroba,
jenipapo, farinha-seca, babaçu, bordão-de-velho, ipê-amarelo,
ipê-roxo, jacarandá-de-espinho, mulungu, pau-sangue,
guatambu-do-cerrado e sumaúma-preta).

4. Onde obter mais informações


Vídeos:
Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF):
https://bit.ly/2LPc99G
Sistema silvipastoril com uso de gliricídia: parte 1 – Dia de
Campo na TV: https://bit.ly/2RRZTt7
22 DOCUMENTOS 122

Sistema silvipastoril com uso de gliricídia: parte 2 – Dia de Campo


na TV: https://bit.ly/2qJZddW
Eucalipto, solução para pastagens e solos degradados:
https://bit.ly/2RKNuXG
Sistemas silvipastoris: melhoria das pastagens e proteção do
solo: parte 1 – Dia de Campo na TV: https://bit.ly/38rIw8h
Espécies arbóreas nativas em sistema agrosilvipastoril – Dia de
Campo na TV: https://bit.ly/2qKjeB5
Tecnologia Social ILPF – Integração Lavoura, Pecuária,
Floresta – Parte 1: https://bit.ly/34iC9AK
Tecnologia Social ILPF – Integração Lavoura, Pecuária,
Floresta – Parte 2: https://bit.ly/2shMcca
Sistema de integração faz aumentar a produtividade de fazendas
do cerrado: https://bit.ly/36xuEro
Produtores enfrentam o desafio de dobrar a produção sem
desmatar: https://bit.ly/36veqis

Publicação:
Sistemas silvipastoris: https://bit.ly/36xQN8X

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
https://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Tecnologias para a Agricultura Familiar 23

Foto: Eny Duboc


Sistema silvipastoril (ILPF) em faixas com linhas triplas de eucalipto
e pastagem com Brachiaria brizantha cv. BRS Piatã.
Fazenda Minerva, Ivinhema, MS, maio de 2013.

Foto: Eny Duboc

Cultivo de soja em plantio direto na palhada do capim entre fileiras


simples de eucalipto (ILPF). Fazenda Experimental da
Embrapa Agropecuária Oeste, Ponta Porã, MS, dezembro de 2011.
Foto: Eny Duboc 24 DOCUMENTOS 122

Sistema silvipastoril (ILPF).


25

Planejamento Alimentar na
Bovinocultura Leiteira
Marciana Retore

1. O que é
O planejamento alimentar é um conjunto de ações programadas
que são realizadas durante um determinado período de tempo
(por exemplo, durante 1 ano), com o objetivo de não faltar comida
para os animais.
Sabe-se que a pastagem é a forma mais econômica para a
alimentação do rebanho. No entanto, a alimentação exclusiva em
pastagens é difícil de ser alcançada ao longo do ano, porque as
condições climáticas nem sempre são favoráveis ao crescimento
das forrageiras, resultando em períodos de safra e entressafra na
produção de leite.
Para minimizar, ou até mesmo solucionar esse problema, pode-
se utilizar algumas tecnologias já amplamente difundidas, como
capineiras, cana-de-açúcar com ureia e forrageiras conservadas
(silagens e fenos); ou adotar tecnologias mais recentes, como é o
caso do consórcio de milho com forrageiras, utilizado em
sistemas integrados de produção.
A adoção de uma ou outra ferramenta irá depender da
infraestrutura de cada propriedade e do nível de produção dos
animais. Porém, independentemente da escolha, todas
requerem planejamento.

2. Benefícios e/ou vantagens


Adotando-se o planejamento alimentar:
26 DOCUMENTOS 122

n Os animais têm comida o ano todo e mantêm estável (ou até


aumentam) a produção de leite.
n A taxa de lotação das pastagens pode ser mantida devido ao
fornecimento de suplementação alimentar no cocho.
n O excesso de produção de forragem será estocado para ser
utilizado no período de carência de comida.

3. Como utilizar
A seguir serão abordadas algumas práticas visando à
alimentação do rebanho durante o inverno, em Mato Grosso do
Sul:
a) Para o manejo correto da capineira, onde a gramínea mais
utilizada é o capim-elefante, o ideal é dividi-la em talhões,
para que cada talhão seja utilizado em 1 semana, a fim de
não comprometer a qualidade da forragem produzida. Na
época das águas, o excesso de forragem poderá ser
utilizado para produção de silagem. A capineira de cana-de-
açúcar também é uma reserva interessante de alimento para
o inverno, pois apresenta alta produtividade, grande
concentração de açúcar e não tem o problema de “passar do
ponto”, como é o caso do capim-elefante. No entanto,
precisa ser substituída a cada 5–6 anos.
b) Para a produção de silagem, as principais forrageiras
utilizadas são milho, sorgo e capim-elefante. O ponto de
colheita é fundamental para a qualidade da silagem e
depende fundamentalmente da maturidade da planta. O
milho deve ser colhido com 30% a 35% de matéria seca, ou
quando a linha do leite estiver entre ½ e 2/3 do grão; o sorgo
quando apresentar 30% a 35% de matéria seca ou quando
os grãos estiverem na fase farinácea; para os capins-
elefantes, a idade de corte varia em função da espécie:
Napier, Cameroon, etc. com 70–90 dias e necessitam de
desidratação ou uso de inoculantes ou aditivos; e BRS
Capiaçu com 90–110 dias de idade.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 27

A compactação é fundamental para a qualidade final da


silagem. Por isso, deve-se distribuir a silagem de maneira
regular e em camadas finas, e compactadas com trator de
rodado simples. Depois de cheio e bem compactado, o silo
precisa ser vedado com lona plástica, de alta resistência
(200 micras), se possível, no mesmo dia do enchimento.
Sobre a lona pode-se colocar terra, pneus, etc., para eliminar
o ar existente entre a lona e o material ensilado. Após 30 dias,
o silo estará pronto para ser aberto. A silagem deve ser
retirada em corte transversal, de cima para baixo, e deverá
ser utilizada, no mínimo, uma fatia de 20 cm de espessura ao
dia para evitar perdas. Por isso, é fundamental que o silo seja
bem dimensionado ao número de animais, de tal forma que a
quantidade mínima a ser retirada na fatia diária (20 cm x
largura x altura) seja consumida no dia. Após a retirada da
quantidade necessária, o silo deve ser fechado.
c) Para implantação do consórcio de milho com forrageira,
visando à produção de forragem para alimentação animal,
durante o inverno, há um capítulo específico sobre este tema
na Cartilha – Consórcio de milho com forrageiras: silagem e
pasto no período da seca.
d) O preparo da suplementação alimentar utilizando cana-de-
açúcar + ureia melhora o teor proteico da dieta a ser
fornecida aos animais no cocho. Com a adição de 1 kg de
ureia para cada 100 kg de cana-de-açúcar (peso fresco), o
teor de proteína bruta da dieta é aumentado de 2% a 3% para
10% a 12%, na matéria seca. No entanto, deve-se adicionar
uma fonte de enxofre para que a ureia possa ser
transformada em proteína no rúmen do animal. É importante
que seja fornecido aos animais sal mineral de boa qualidade
quando a dieta é baseada em cana-de-açúcar, para não
haver deficiência e para não limitar a produção de leite. Além
disso, pode ser necessário o fornecimento de um
concentrado em função do nível de produção de leite.
Mistura da fonte de enxofre com ureia: a proporção é de
uma parte de sulfato de amônio (fonte de enxofre) para nove
partes de ureia. Pode ser previamente misturada em
28 DOCUMENTOS 122

quantidade suficiente para alimentar o rebanho por vários


dias. Para isso, a mistura deve ser guardada em saco
plástico, em local seco e fora do alcance dos animais.
O sulfato de cálcio (gesso agrícola) pode substituir o sulfato
de amônio, dependendo do preço e da disponibilidade.
Neste caso, utilizar a proporção de oito partes de sulfato de
cálcio para duas partes de ureia.

O fornecimento da cana com ureia deve atender, obrigatoria-


mente, aos seguintes passos:
1) Na primeira semana, processo de adaptação, usar 0,5% de
ureia na cana-de-açúcar: a mistura consiste em 100 kg de
cana triturada (sem as folhas secas) e 500 gramas da
mistura de ureia + sulfato, já preparada, ou seja, 450 g de
ureia e 50 g de sulfato.
Dica 1 – Na cana triturada, antes de misturá-la à ureia +
sulfato, pode-se adicionar cal virgem microprocessada. A cal
tem a função de afastar insetos, como moscas e abelhas, e
permite armazenar a cana por até 4 dias. Sem adição da cal,
a cana não pode ser estocada por mais de 2 dias após a
colheita, para evitar fermentações indesejáveis. Além disso,
só deve ser picada no momento de fornecer aos animais.
Como fazer – Para cada 100 kg de cana triturada deve ser
acrescentado 1 kg de cal virgem microprocessada, diluída
em 4 litros de água. A solução de cal deve ser espalhada de
forma homogênea sobre a cana com um regador. Depois de
bem misturada, deve-se esperar, no mínimo, 3 horas para
fornecer a cana às vacas.
Dica 2 – A mistura de ureia + sulfato com cana-de-açúcar
deve ser feita no momento do fornecimento aos animais. A
mistura ureia + sulfato deve ser dissolvida em 4 L de água e
distribuída de forma homogênea, com uso de regador, sobre
a cana picada. Misturar bem o material antes de fornecê-lo
aos animais. Essa mistura nunca deve ficar armazenada. As
sobras que ficarem no cocho, de um dia para o outro, devem
ser descartadas.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 29

2) da segunda semana em diante, usar 1% de ureia na cana:


para cada 100 kg de cana-de-açúcar triturada adicionar 1 kg
de ureia + sulfato (900 g + 100 g, respectivamente) da
mistura preparada.
– Toda vez que um novo animal for submetido à alimentação
com ureia, deve-se fazer sua adaptação. Caso o animal já
adaptado fique mais de 2 dias sem a mistura, é necessário
fazer a readaptação.
Muito cuidado! A utilização inadequada de ureia pode levar à
intoxicação e à perda de animais. Nesse caso, deve-se
suspender a alimentação e procurar um médico veterinário. Em
caso de emergência, fornecer 6 a 8 litros de vinagre, a cada
8 horas, e movimentar o animal.
Existem diversas opções de volumosos para alimentar o rebanho
leiteiro. Todas apresentam vantagens e desvantagens. A escolha
de uma ou outra opção vai depender do nível de intensificação da
atividade. Quanto maior a produção leiteira dos animais, maior
será a exigência nutricional e a necessidade de se conhecer a
composição química dos alimentos que irão compor a dieta. Por
isso, antes de pensar em melhorar a genética do rebanho é
preciso planejar a alimentação, para que os animais tenham
comida o ano todo.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Cana-de-açúcar na alimentação de vacas leiteiras – Dia de
Campo na TV: https://bit.ly/35G60Ei

Publicações:
Cana com ureia na alimentação de bovinos:
https://bit.ly/2XWE6Dj
Formação e manejo de capineiras: https://bit.ly/33uxlbe
30 DOCUMENTOS 122

Sete passos para uma boa ensilagem de milho:


https://bit.ly/34zZ4bH
10 passos para produção da silagem de capim-elefante:
https://bit.ly/2L7nPnT

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Foto: Marciana Retore

Produção de silagem em silo tipo superfície.


Foto: Marciana Retore

Corte de capineira para fornecimento no cocho.


31

Consórcio de Milho com Forrageiras:


Silagem e Pasto no Período da Seca
Gessí Ceccon

1. O que é
É o cultivo simultâneo de milho com uma forrageira perene
(braquiária ou Panicum) para produção de pasto para os animais
e cobertura do solo para plantio direto das culturas.

2. Benefícios e/ou vantagens


n O cultivo de milho safrinha consorciado a uma forrageira
perene mantém o solo protegido, sem reduzir significativa-
mente o rendimento de grãos do milho.
n Os resíduos vegetais na superfície protegem o solo do
aquecimento excessivo e da perda de água, devido à alta
refletividade da radiação solar, especialmente nas regiões de
clima quente.
n É possível produzir 10 toneladas de forragem ou mais (milho
safrinha + forrageira), que, somando com as raízes,
proporcionam melhores condições para o solo e para a soja e
milho safrinha subsequentes, com retorno econômico até
15% superior à sucessão convencional.
n Na produção de silagem, o milho é retirado mais cedo da
lavoura e, com isso, o solo permanece mais tempo com
umidade para o crescimento da forrageira.
n O pastejo por animais facilita a entrada de luz na base da
planta e, consequentemente, aumenta a rebrota da
forrageira, proporcionando maior quantidade de pasto. Após o
32 DOCUMENTOS 122

pastejo, haverá maior eficiência dos herbicidas na


dessecação da braquiária.

3. Como utilizar
Semeadura do milho
O milho é cultivado como se não tivesse a forrageira, com a
tecnologia normalmente utilizada pelo agricultor.

Adubação
A adubação deve ser realizada preferencialmente para o milho,
reduzindo assim a competição da braquiária com o milho.

Semeadura da forrageira
A semeadura da forrageira pode ser realizada na mesma
operação de semeadura do milho, visando diminuir os custos
operacionais de implantação. As sementes da forrageira podem
ainda ser distribuídas a lanço, manualmente, pelo agricultor,
desde que este tenha prática e conhecimento para realizar a
distribuição uniforme delas, e que a semeadura do milho possa
promover alguma incorporação dessas sementes.
A utilização de caixa exclusiva para sementes da forrageira
facilita a regulagem da quantidade de sementes para estabelecer
a população de plantas desejada e realizar a semeadura do milho
e da forrageira na mesma operação de semeadura.

Momento de implantação da forrageira


A semeadura da forrageira realizada na mesma operação de
semeadura do milho é indicada porque diminui os custos de
implantação.
A semeadura da braquiária realizada em torno de 5 dias após a
semeadura do milho é importante para diminuir a competição da
Tecnologias para a Agricultura Familiar 33

braquiária com o milho e ainda produzir grande quantidade de


pasto após a colheita do milho.
A braquiária semeada antes do milho pode competir
demasiadamente com o milho e isso torna necessária a
aplicação de herbicida para supressão da braquiária,
aumentando os custos de produção.

População de plantas da forrageira


Quando o objetivo do consórcio é produção exclusiva de palha
para cobertura do solo, deve-se utilizar pequenas populações de
plantas, posicionadas o mais distante possível das linhas do
milho; porém, quando se quer formar pasto, deve-se aumentar a
quantidade de plantas e distribuí-las da forma mais uniforme
possível.
Utilizando-se uma população de 10 a 20 plantas por metro
quadrado da forrageira é suficiente para formação de pastagem,
que será utilizada para pastejo após a colheita do milho. A
quantidade de sementes depende da pureza e germinação, e
deve-se dar preferência em adquirir sementes da maior pureza e
germinação possível, a fim de obter plantas de maior vigor inicial.
A boa germinação das sementes em campo é importante para
uma pastagem bem estabelecida.

Profundidade das sementes da forrageira


As sementes da forrageira devem ser distribuídas numa
profundidade de 3 cm a 5 cm. Profundidades menores podem ser
realizadas nas semeaduras de verão ou nas primeiras
semeaduras da safrinha, quando há probabilidade de boas
quantidades de chuva após a semeadura. Sementes de Panicum
devem ter menor incorporação.
34 DOCUMENTOS 122

Braquiária a ser utilizada


A escolha da braquiária está relacionada com o objetivo do
consórcio, tipo e fertilidade do solo, entre outros fatores. A
braquiária-ruziziensis (Brachiaria ruziziensis) destaca-se em
semeaduras de safrinha, pelo crescimento inicial rápido,
excelente cobertura do solo e facilidade de dessecação para
retorno com a soja no verão. Quando o objetivo do consórcio é
formar pasto perene, deve ser utilizada a braquiária-brizantha
(B. brizantha), com diversas cultivares no mercado, tais como
Marandu, Xaraés, Piatã, etc.; pode ser utilizada, também,
alguma cultivar de Panicum, tais como Mombaça, Zuri e Tamani.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Embrapa – Consórcio Milho-Braquiária:
https://youtu.be/BNOQ3FzLS30

Publicação:
Implantação e manejo de forrageiras em consórcio com milho
safrinha: https://bit.ly/34UX9iS

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Tecnologias para a Agricultura Familiar 35

Foto: Gessí Ceccon


Silagem de milho safrinha consorciado com
Brachiaria brizantha.

Foto: Gessí Ceccon

Semeadura de milho com distribuição de sementes de braquiária


a lanço para incorporação pela passagem da semeadora.
36 DOCUMENTOS 122

Foto: Gessí Ceccon

Semeadora com caixa adicional


para distribuição de sementes miúdas.
Foto: Gessí Ceccon

Animal em pastejo após a colheita


do milho consorciado com braquiária.
37

Capins-Elefantes
BRS Kurumi e BRS Capiaçu
Marciana Retore

1. O que é
Os capins-elefantes BRS Kurumi e BRS Capiaçu, desenvolvidos
pela Embrapa e parceiros, são da mesma espécie do Napier,
indicados para alimentação do gado leiteiro, porém com
finalidades diferentes.
A cultivar BRS Kurumi apresenta porte baixo (anão), com alta
proporção de folhas, de excelente qualidade, recomendada para
pastejo rotacionado.
Já a BRS Capiaçu é uma cultivar de porte alto, atingindo 4,2 m de
altura. É indicada para cultivo de capineiras, visando à
suplementação volumosa, na forma de silagem ou picada verde
no cocho.

2. Benefícios e/ou vantagens


n A BRS Kurumi apresenta 18% a 20% de proteína bruta e 68%
a 70% de coeficiente de digestibilidade nas folhas, que é a
parte consumida pelos animais. Em função do elevado teor de
proteína do capim é imprescindível o fornecimento de
alimento energético às vacas, para garantir o aporte
adequado de energia e proteína no rúmen, para que a
produção de leite ocorra em quantidade e qualidade.
A cultivar possui elevada produção de folhas e pequeno
alongamento do colmo, devido aos entrenós curtos, o que
facilita o manejo do capim, não necessitando de roçadas após
o pastejo. Além disso, apresenta intenso perfilhamento.
38 DOCUMENTOS 122

n A BRS Capiaçu é indicada para a produção de silagem,


apresentando, em média, 5,5% de proteína bruta, e também
para ser fornecida picada verde no cocho, com 8% a 9% de
proteína bruta. A produção de massa seca é 30% superior aos
demais capins da espécie, alcançando 50 toneladas de
matéria seca por hectare. Além do elevado potencial
produtivo, apresenta resistência ao tombamento, ausência de
joçal (pelos), facilidade para colheita mecanizada e permite
três a quatro cortes por ano.

3. Como utilizar
O plantio de ambos os capins deve ser feito durante a estação
chuvosa, em solos bem drenados e de boa fertilidade, por meio de
propagação vegetativa (colmos).
Para o plantio da BRS Kurumi, fazer covas com espaçamento de
50 cm x 50 cm ou 80 cm x 80 cm, com cerca de 10 cm de
profundidade; colocar e cobrir os colmos, que devem conter cerca
de três nós. Recomenda-se a entrada dos animais no piquete
quando o capim apresentar 80 cm de altura e a saída quando este
for rebaixado a 40 cm de altura. Pastejos muito severos irão
esgotar as reservas orgânicas, diminuindo a capacidade de
rebrota do capim.
Para a BRS Capiaçu, o plantio deve ser feito em sulcos espaçados
entre si de 0,80 m a 1,20 m, o que dependerá do maquinário de
cada propriedade, com o objetivo de evitar que o rodado do trator e
dos implementos agrícolas esmague as touceiras do capim. Os
colmos podem ser distribuídos inteiros ou fracionados (contendo
três a quatro nós) e enterrados na profundidade de 10 cm a 15 cm.
Para fornecimento do material fresco, o ideal é cortá-lo com idade
entre 50 dias e 70 dias, por apresentar melhor qualidade nutritiva.
Para produção de silagem, a idade indicada para o corte da planta
é entre 90 dias e 110 dias; essa faixa de idade é onde o capim
apresenta melhor relação entre produção de matéria seca e
composição química. A adição de milho triturado (4% a 8%), por
exemplo, aumenta o teor de matéria seca da silagem e melhora
sua qualidade, por reduzir a produção de efluentes (chorume).
Tecnologias para a Agricultura Familiar 39

Tanto a BRS Kurumi quanto a BRS Capiaçu são muito exigentes


em fertilidade. Por isso, antes do plantio, o ideal é fazer a análise
de solo para realizar a correção necessária. Após cada pastejo ou
corte, recomenda-se aplicação de nitrogênio. Outro ponto
importante é que as cultivares são suscetíveis à cigarrinha das
pastagens. No entanto, existem inseticidas químicos e biológicos
para controle do inseto.
As cultivares são materiais de excelente qualidade, porém, como
qualquer outro capim-elefante, precisam de água e temperaturas
elevadas para se desenvolverem. Portanto, considerando as
condições climáticas de Mato Grosso do Sul, é necessário
planejar a produção de volumoso durante o período das águas
para ter oferta de alimento o ano todo.

4. Onde obter mais informações


Vídeos:
Capins para gado leiteiro, BRS Kurumi e BRS Capiaçu –
Pastagem: https://bit.ly/2YOFLcz

Produção de mudas de capim-elefante anão BRS Kurumi:


https://bit.ly/2YJUMMM

Publicações:

BRS Capiaçu e BRS Kurumi – Cultivo e uso: bit.ly/livro-brs-


capiacu-brs-kurumi-PDF

Características do pasto e desempenho de novilhas leiteiras em


pastagem de capim-elefante cv. BRS Kurumi:
https://bit.ly/2VsGoIM

BRS Capiaçu: cultivar de capim-elefante de alto rendimento para


produção de silagem: https://bit.ly/2XVTwrv
40 DOCUMENTOS 122

Viveiristas credenciados para aquisição de mudas:


Capim-elefante – BRS Capiaçu: https://bit.ly/38ypKMp
Capim-elefante – BRS Kurumi: https://bit.ly/2EgJ4Qh

Instituições:
Embrapa Gado de Leite
https://www.embrapa.br/gado-de-leite
Fone: (32) 3311-7405
Juiz de Fora, MG

Embrapa Agropecuária Oeste


https://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Foto: Marciana Retore

Foto: Marciana Retore

BRS Kurumi com 80 cm de altura,


ponto ideal para pastejo,
com elevada proporção de folhas.

BRS Capiaçu, com rebrota


de 50 dias.
41

Pastagens para Gado de Leite


Luís Armando Zago Machado

1. O que é
A pastagem é a base da alimentação do gado de corte e de leite. O
potencial de produção das pastagens tropicais é elevado, porém o
valor nutritivo não atende à necessidade, principalmente, de vacas
na fase de produção de leite. Houve evolução na adaptação de
cultivares, na adubação e no manejo das pastagens, mas elas
continuam sendo subutilizadas, pela desinformação no meio rural.
Uma vez que o agricultor tenha conhecimento sobre a forrageira
que utiliza, poderá intensificar a produção e reduzir o custo,
adequando o manejo da pastagem ao seu rebanho. Dessa forma,
é possível evitar erros elementares, como o cultivo de espécies
muito exigentes, como Cynodon spp. e capim-elefante, em solo
pobre, sem uso de corretivos e fertilizantes. Ou, ainda, o cultivo de
Brachiaria humidicola para alimentação de uma categoria
exigente, como vacas leiteiras em produção.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Evitar erros na formação de pastagens.
n Adequar o tipo de pasto à necessidade dos animais.

3. Como utilizar
As forrageiras podem ser divididas quanto ao grau de adaptação
ao nível de fertilidade do solo em: muito exigentes, exigentes,
moderadamente exigentes e pouco exigentes. Em geral, as
espécies mais exigentes são mais adaptadas a solos com melhor
fertilidade natural. Porém, é possível cultivar espécies exigentes
em solos pobres, desde que seja dada maior atenção quanto à
correção e à adubação.
42 DOCUMENTOS 122

Muito exigentes
Neste grupo estão as forrageiras mais produtivas e que
apresentam melhor valor nutritivo, tais como o capim-elefante e
espécies de Cynodon (Tifton e outras). A porcentagem de área
ocupada com esses capins é pequena, já que eles são
multiplicados por mudas. Eles necessitam de solo corrigido e
adubações periódicas. São os capins com melhor qualidade para
produção de leite, desde que as exigências em solo e manejo
sejam atendidas. As principais espécies são:
Capim-elefante – É uma forrageira muito produtiva e com
melhor valor nutritivo entre os capins tropicais. Existem muitas
cultivares, sendo algumas de porte elevado, como os capins
Napier, Cameroon, Roxo e BRS Capiaçu, que são mais
adequadas ao corte; e também de menor porte, como o capim
BRS Kurumi, desenvolvida para o pastejo. Por formar touceiras,
o capim-elefante não cobre totalmente o solo e, por ser ereto e de
grande porte, é necessário maior atenção quanto ao manejo.
Cynodon – Neste grupo existe grande número de cultivares que
se destacam pela produtividade e qualidade, como também pela
facilidade de cobertura do solo. São capins menos adaptados às
condições brasileiras. As cultivares mais comuns são Tifton 85,
Estrela-Africana e Vaqueiro.

Exigentes
Pertencem a este grupo as cultivares de Panicum maximum
(Colonião), que apresentam boa produtividade e valor nutritivo,
porém levemente inferior às do grupo anterior. Necessitam de
correção do solo e, pelo menos, uma adubação anual de
manutenção. São plantas que se multiplicam por sementes, o
que facilita a formação de pastagem. Elas apresentam hábito de
crescimento ereto, formam touceiras e, por isso, são exigentes
em manejo, exceto a cultivar BRS Tamani, que apresenta
pequeno porte. Por essas qualidades, são pastos preferenciais
para uso com rebanho leiteiro.
As principais cultivares são:
Tecnologias para a Agricultura Familiar 43

Mombaça e Tanzânia – São as cultivares mais antigas, que


estão saindo do mercado com o lançamento de novas
forrageiras.
BRS Zuri – Esta cultivar apresenta porte semelhante ao capim
Mombaça, porém é mais produtiva e apresenta melhor valor
nutricional.
BRS Tamani – É a cultivar com menor porte nesta espécie. Não é
tão produtiva quanto o capim BRS Zuri, mas apresenta melhor
valor nutricional e é de mais fácil manejo.
BRS Quênia – É uma cultivar com características intermediárias
entre os capins BRS Tamani e BRS Zuri, quanto ao valor
nutricional e produção de forragem.
Paredão – É uma cultivar de porte intermediário, mas ainda
existe pouca informação a seu respeito.

Moderadamente exigentes
Neste grupo estão as cultivares de Brachiaria brizantha, que têm
moderada exigência em fertilidade, necessitam de correção e
adubação para a formação, mas não necessitam de adubação de
manutenção todos os anos. São capins tolerantes a pragas e
apresentam menor diferença de produção de forragem entre a
estação das águas e da seca. Esta espécie possui qualidade
inferior ao P. maximum, sendo limitante para o gado de leite.
Porém, como continua produzindo forragem no início da seca,
pode ser utilizada por categorias menos exigentes.
Marandu (braquiarão) – É a primeira cultivar de B. brizantha
lançada no Brasil. Uma vez implantada com correção e
adubação, permanece por vários anos produzindo forragem de
boa qualidade.
Xaraés/MG 5 – É a braquiária mais produtiva e de maior porte,
mas por apresentar qualidade ligeiramente inferior às demais, se
não for adubada e manejada adequadamente, tende a acumular
caules fibrosos, dificultando seu manejo.
44 DOCUMENTOS 122

BRS Piatã – Apresenta características intermediárias às duas


anteriores.
BRS Paiaguás – É a cultivar com melhor valor nutritivo e uma
das mais produtivas durante a estação seca, em relação às
demais cultivares de braquiária. Apresenta porte baixo e cobre
bem o solo. Dentre as cultivares de B. brizantha, a cultivar BRS
Paiaguás é a que menos tolera a cigarrinha-das-pastagens.

Pouco exigentes
São espécies mais adaptadas a solos pobres. São plantas que
apresentam alguma limitação e, por isso, são mais indicadas
para sistemas menos produtivos.
Brachiaria humidicola – É uma espécie de estabelecimento
lento, menos produtiva e com valor nutricional limitado.
Brachiaria decumbens (braquiarinha) – Espécie adaptada a
solos menos férteis, mas responde moderadamente à adubação
e produz forragem com razoável qualidade. A maior limitação
desta espécie é a suscetibilidade ao ataque da cigarrinha-das-
pastagens.
Andropogon gayanus – É uma forrageira de estabelecimento
lento, mas produz forragem em quantidade e de boa qualidade
no período chuvoso. Sua limitação é a reduzida produção de
forragem durante a estação seca. Tem importância por ser
tolerante à cigarrinha-das-pastagens e ao percevejo-castanho.
Estilosantes cv. Campo Grande – É uma leguminosa muito
adaptada aos solos do Cerrado, produz forragem rica em
proteína. É pouco apreciada pelos animais durante a estação
chuvosa, mas bem consumida durante a estação seca.
Apresenta estabelecimento lento e, como as plantas duram
2 anos, em média, é necessário cuidado no manejo de formação,
priorizando a produção de sementes no primeiro ano. Essa
medida garante a perenidade da pastagem.
Feijão-guandu ou andu – É uma leguminosa adaptada a solos
pobres. Apresenta rápido estabelecimento e é muito produtiva.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 45

Seu valor nutritivo é limitado, embora seja rica em proteína,


apresenta muita fibra, tornando-a pouco digestível. É mais aceita
pelos animais durante a estação seca.
Observação: quando leguminosas (guandu, estilosantes) forem
utilizadas para pastejo, recomenda-se que sejam consorciadas
com gramíneas. Essa medida evita a ocorrência de distúrbios
metabólicos nos animais.

Forrageiras para solos úmidos e encharcados


São poucas as espécies que toleram solos úmidos ou
encharcados. As que mais se destacam são:
Hemarthria altissima – É uma espécie próxima ao Andropogon,
mas se assemelha ao Tifton. Tolera solo úmido e até alagamento
permanente. É mais tolerante à geada, recuperando-se mais
rápido do que as demais espécies, em condições de baixa
temperatura. Produz forragem com valor nutricional
relativamente bom. Tem a limitação de ser propagada por mudas.
Brachiaria humidicola – Também tolera solos úmidos, mas é
mais sensível ao alagamento prolongado em relação à anterior.

Forrageiras anuais
Além das forrageiras perenes tratadas acima, outro grupo é
formado pelas espécies anuais, como milheto, sorgo e aveia, que
estão entre os capins mais exigentes em termos de fertilidade do
solo. Elas podem ser interessantes para alimentação do gado
leiteiro, por apresentarem bom valor nutritivo e por suprirem a
falta de forragem em períodos específicos. Por serem plantas
anuais, o custo de formação é, proporcionalmente, mais elevado.
Por isso, justifica-se seu cultivo após os cultivos anuais.
B. ruziziensis também é uma espécie perene, mas como ela é
suscetível à cigarrinha-das-pastagens e como produz muita
semente, o seu cultivo tem tido sucesso na entressafra das
culturas de verão, como uma forrageira anual.
46 DOCUMENTOS 122

Considerações finais
Para vacas leiteiras em produção, os capins das categorias
exigentes e muito exigentes em fertilidade do solo são mais
indicados, porque apresentam melhor valor nutritivo e, por serem
mais produtivos, são adequados à produção intensiva. Para
vacas vazias e para recria de novilhas, são indicados os capins
com moderada exigência, já que a necessidade dessa categoria
não é tão elevada e o custo para manutenção desses pastos é
menor.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Manejo alimentar de gado leiteiro – Agricultura familiar:
https://youtu.be/NjD2I34zYj8

Publicações:
Características do pasto e desempenho de novilhas leiteiras em
pastagem de capim-elefante cv. BRS Kurumi:
https://bit.ly/39UkEdz
BRS Zuri Panicum maximum. BRS Zuri, produção e resistência
para a pecuária: https://bit.ly/2IQHoPV
Avaliação de forrageiras tropicais submetidas à irrigação e doses
de nitrogênio e potássio, em condições de Cerrado:
https://bit.ly/2QjDp2w
Gado de Leite – Coleção 500 perguntas, 500 respostas:
https://bit.ly/3aZiuJR

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Tecnologias para a Agricultura Familiar 47

Fotos: Luís Armando Zago Machado


Capim BRS Zuri sendo pastejado.

Capins BRS Tamani (esquerda) e BRS Zuri (direita).


49

Preparo e Seleção de Material


de Plantio de Mandioca
Auro Akio Otsubo e Marco Antonio Sedrez Rangel

1. O que é
Diferentemente da maioria das culturas tradicionalmente
cultivadas pelos agricultores familiares, como o feijão, o milho, o
caupi e os adubos verdes, cuja multiplicação se dá por sementes,
a planta de mandioca propaga-se através das ramas. Com isso,
muitas doenças e pragas podem ser disseminadas. Assim,
cuidados devem ser seguidos no preparo e na seleção do
material de plantio, conhecido por ramas ou manivas. Caso
sejam realizados novos plantios em novas áreas, deve-se ficar
mais atento ainda com a seleção, para não introduzir doenças ou
pragas nessas regiões.

2. Benefícios e/ou vantagens


Se pensarmos que o custo das ramas situa-se próximo a 2% em
períodos normais e 6% em períodos de grandes demandas, e
compararmos, por exemplo, com a cultura do milho, cujo custo
das sementes pode representar até 27% do custo final, pode-se
concluir que ainda há um grande “espaço” para se investir nessa
área.
O plantio do mandiocal com manivas de boa qualidade permite
brotação uniforme e vigorosa. Também garante bom estande, o
que implica em menor necessidade de capinas, ausência de
doenças e pragas e, consequentemente, aumento na
produtividade.
50 DOCUMENTOS 122

3. Como utilizar
Deve-se entender que uma boa lavoura começa por uma boa
“semente”, no caso, rama ou maniva. A observação da sanidade
das ramas é muito importante, pois doenças como bacteriose,
superalongamento, antracnose e podridão radicular, vírus e
micoplasmas, e pragas como a cochonilha, pulgão, tripes,
percevejo-de-renda, mosca-branca, brocas-do-caule, larvas de
mosca-das-frutas, larvas dos brotos, além de ácaros, podem ser
disseminados pelo material de plantio.
Portanto, o produtor deverá conhecer a origem ou a procedência
do material que vai utilizar. A escolha da gleba que fornecerá as
ramas deverá ser feita através de inspeções periódicas do
mandiocal, especialmente entre os meses de dezembro e
fevereiro, que são mais indicados para a avaliação da sanidade.
A queda natural das folhas, da parte mais alta da planta (ápice), é
indicador seguro da maturação normal das ramas. Por sua vez, a
morte das folhas do ápice (mais novas), para a base (mais
velhas), indica problemas de sanidade. Não utilizar ramas que
revelem vestígios de ataques de pragas ou doenças. É
importante que o mandiocal tenha sido adubado, especialmente
com potássio, e que tenha obtido boas produções.
Deve-se selecionar ramas dos terços médio e inferior de plantas
com idade entre 8 meses e 12 meses. As ramas finas,
herbáceas, do terço terminal da haste, não devem ser utilizadas,
pois possuem poucas reservas e desidratam-se facilmente,
originando plantas fracas. Também não se deve utilizar a parte
mais basal, por ser mais lenhosa. Não utilizar ramas
provenientes de lavouras onde foi observada a ocorrência de
queda de granizo ou geadas.
A viabilidade da maniva é feita golpeando o caule da planta e
observando a exsudação do látex (leite), característico da
mandioca. A presença do látex, em maior ou menor quantidade,
está relacionada com a presença de umidade na rama e é um
indicador da capacidade de brotação da maniva.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 51

O tamanho da maniva deverá ser de 20 cm de comprimento, pois


propicia melhor estande por causa da presença de maior número
de gemas e reservas nutritivas por estaca; deve ter de 2 cm a
3 cm de diâmetro e apresentar mais de cinco gemas.
O ângulo de corte da maniva deverá ser reto ou perpendicular ao
comprimento. É frequente a utilização de facão para realizar o
corte. Nesse caso, recomenda-se dar um pequeno golpe com a
ferramenta e, em seguida, girá-la 180º e, com outro golpe, cortar
a maniva. Outros equipamentos podem ser utilizados para
realizar tal procedimento, como a serra circular e a motosserra.
Ambos apresentam bom rendimento e cortes com qualidade.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Embrapa desenvolve técnicas com variedades mais resistentes
às pragas: https://bit.ly/2wsmjIL

Publicações:
Mandioca: Coleção 500 perguntas, 500 respostas:
https://bit.ly/2xdjdZs
Aspectos do Cultivo da Mandioca em Mato Grosso do Sul:
https://bit.ly/3cy6gcR
Cultivo da mandioca na região Centro-Sul do Brasil:
https://bit.ly/39qz5Wt

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
52 DOCUMENTOS 122

Foto: Carmen Regina Pezarico


Foto: Carmen Regina Pezarico

Comprimento da maniva
indicado de 20 cm.

Medula ocupando

Foto: Anderson Rogélio Bonin


50% ou menos
da área central
da maniva.

Exsudação do látex da mandioca,


indicação de viabilidade.
53

Poda da Goiabeira
Cássia Regina Yuriko Ide Vieira

1. O que é
A poda é uma prática que visa à formação da copa, facilitando as
práticas de manejo na planta (raleio e ensacamento de frutos,
desbaste de ramos e tratos fitossanitários) e regularidade na
produção, determinando a época da colheita e a melhoria na
qualidade dos frutos.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Programar a época da colheita de frutos, ofertando o produto
em vários meses do ano.
n Obter boas produtividades e frutos de qualidade.

3. Como utilizar
Existem três tipos de podas em goiabeiras: poda de formação,
poda de limpeza e poda de produção ou frutificação.

Poda de formação
A poda de formação tem por finalidade dar uma forma adequada
à planta, buscando melhor arquitetura, ou seja, porte baixo,
capacidade de suportar a produção e facilitar os manejos na
planta (raleios, desbastes, pulverizações, etc.) e colheita.
Após o plantio, as mudas com haste única devem ser podadas,
eliminando-se a porção terminal a 50 cm e 30 cm do nível do solo,
respectivamente, para as variedades de hábito de crescimento
horizontal (Paluma, Século XXI e Kumagai Branca) e vertical
(Pedro Sato e Novo Milênio).
54 DOCUMENTOS 122

A escolha das pernadas principais deve ser criteriosa, deixando


três ou quatro ramos principais bem distribuídos, em direções
opostas.
A segunda poda de formação consiste no encurtamento dos
ramos primários ou pernadas principais ainda jovens, de forma
que o ramo permaneça com 50 cm de comprimento em relação
ao tronco.

Poda de limpeza
Consiste na eliminação de ramos secos, quebrados, doentes e
em excesso, de forma a permitir maior penetração de luz no
interior da copa, importante para a sanidade da planta e
qualidade dos frutos. O excesso de ramos dificulta a penetração
dos produtos, durante as pulverizações.

Poda de frutificação
A poda de frutificação consiste no encurtamento dos ramos que
já produziram e pode ser realizada em qualquer época do ano. A
definição da época de poda deverá ser em função do mercado e
do ciclo de produção (período entre a poda e a colheita).
Há dois tipos de poda de frutificação:
1) Poda contínua ou escalonada – A mesma planta produz o
ano todo. Na poda contínua, cada ramo é podado
individualmente a cada repasse no pomar, quando
encurtamentos são realizados nos ramos, 1 mês após a
colheita dos frutos, para que se produza uma segunda safra.
Desse modo, em uma mesma planta poderão ser
encontradas brotações novas, botões florais, flores abertas,
frutos em diferentes estágios de desenvolvimento e em ponto
de colheita. O problema da poda contínua é a dificuldade de
se cumprir as exigências fitossanitárias, principalmente com
relação ao período residual dos produtos aplicados, uma vez
que, na planta, podem ser encontrados diferentes estádios
fenológicos e, dessa forma, enquanto a colheita está sendo
realizada, há necessidade de pulverizar a planta para o
Tecnologias para a Agricultura Familiar 55

controle de pragas e doenças, para as produções sucessivas.


Na poda contínua deve-se podar apenas os ramos maduros,
pois estes estão aptos a florescer e produzir.
2) Poda drástica ou total – Todos os ramos são podados ao
mesmo tempo e a produção ocorre no mesmo período. Neste
tipo de poda, é aconselhável deixar ramos pulmões na planta,
com a finalidade de manter a transpiração, assegurar a
uniformidade da brotação e obter maior frutificação,
eliminando-os após a brotação dos ramos. Na poda drástica
ou total o tronco da planta não pode ficar totalmente
desprovido de folhas, deve-se deixar alguns ramos ou então
proteger o tronco com a folhagem eliminada pela poda, para
reduzir o efeito danoso causado pelo sol (escaldadura).
A temperatura é um fator importante a ser considerado por
ocasião da poda, pois determina a época de produção da
goiabeira. Plantas podadas no inverno poderão apresentar ciclo
de produção maior em relação a plantas podadas no verão.
Podas realizadas no período de maio a julho poderão resultar em
justaposição da produção, em função das baixas temperaturas e
do período de colheita coincidentes, com início em janeiro do ano
seguinte.
A goiabeira não tolera geadas e temperaturas muito baixas, que
podem causar queimaduras de folhas e ramos, reduzindo o
potencial de desenvolvimento e produção da planta. Em algumas
áreas da região sul de Mato Grosso do Sul, sujeitas a geadas, o
produtor deve evitar a poda drástica nos meses de baixas
temperaturas, para evitar a perda de plantas.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Cultura da goiabeira: https://bit.ly/2U3XSe1
56 DOCUMENTOS 122

VIEIRA, C. R. Y. I.; OLIVEIRA, I.; REIS, H. F.; MACEDO, G. S.


Cultura da goiabeira. Dourados: AGRAER, 2015. (AGRAER.
Cartilha técnica). 43 p.

Instituição:
Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural
(Agraer)
http://www.agraer.ms.gov.br/
Fone: (67) 3318-5100
Campo Grande, MS
Foto: Cássia Regina Yuriko Ide Vieira

Goiabeira em produção, submetida à poda drástica.


Tecnologias para a Agricultura Familiar 57

Fotos Cássia Regina Yuriko Ide Vieira


(A)

(B)

Planta da goiabeira antes da seleção das pernadas


principais (A); planta da goiabeira após a seleção de
quatro pernadas principais (B).
58 DOCUMENTOS 122

Foto: Cássia Regina Yuriko Ide Vieira


(A)
Foto: Cássia Regina Yuriko Ide Vieira

(B)

Goiabeira não podada (A) e submetida à poda drástica,


com ramos pulmões (B).
59

Feijão-Comum
Oscar Fontão de Lima Filho e Marcio Akira Ito

1. O que é
O gênero Phaseolus pertence ao grupo das leguminosas. É
originário do continente americano. Compreende cerca de 55
espécies, mas apenas cinco são cultivadas no mundo,
destacando-se no Brasil a Phaseolus vulgaris L., ou feijão-
comum, com inúmeras cultivares. É considerado alimento básico
na mesa do brasileiro e a principal fonte de proteína vegetal.
Bastante cultivado em pequenas e médias propriedades.
Existe uma ampla diversidade de cultivares desenvolvidas por
universidades e instituições de pesquisa, levando-se em conta
as diferentes condições de clima e solo do Brasil. Essas
cultivares estão divididas basicamente em três grupos: carioca,
preto e especial.
O ciclo varia de 65 a 110 dias, com dois hábitos de crescimento:
1) determinado – a planta tem um número determinado de nós e o
caule principal e os ramos terminam com uma inflorescência;
2) indeterminado – crescimento contínuo da planta, com uma
sequência de nós e entrenós, com as inflorescências (parte da
planta onde se localizam as flores) ocorrendo nas axilas (junção
da folha com o ramo) das folhas.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Alimento rico em proteínas, carboidratos, fibras alimentares,
minerais e vitaminas (principalmente do complexo B).
n Pode ser cultivado em três períodos ao longo do ano,
proporcionando oferta constante no mercado.
60 DOCUMENTOS 122

n Por ter um ciclo vegetativo curto e tolerância razoável à


competição com outra cultura, é uma planta indicada para
consórcios, principalmente com milho ou mesmo com
mandioca e milho.

3. Como utilizar
Preparo do solo
A área escolhida deve ser em solo solto, com facilidade para o
destorroamento. Basicamente, há três tipos de preparo do solo
para o feijoeiro: convencional (utilizam-se arados ou grades),
reduzido (menor número de operações) e plantio direto
(semeadura em solo não revolvido). Preferencialmente, deve-se
utilizar o Sistema Plantio Direto, que assegura maior tolerância a
períodos de deficiência hídrica e altas temperaturas, além de
assegurar menor incidência de doenças, como o mofo-branco.

Semeadura
É fundamental utilizar sementes com alto vigor, sadias e tratadas
com fungicida, aumentando a possibilidade de produtividades
mais altas. São três épocas de semeadura: 1) das águas ou
primeira safra – setembro a novembro; 2) da seca ou segunda
safra ou safrinha – janeiro a março; 3) outono/inverno ou terceira
safra – maio a julho, neste caso, somente em regiões com inverno
ameno e sem geadas. Em Mato Grosso do Sul (MS), a semeadura
é concentrada na segunda safra, devido às condições ambientais
mais favoráveis, principalmente com a ocorrência de
temperaturas mais amenas, de forma estratégica para “escapar”
da ocorrência do tombamento inicial ou “dumping off” e também
da doença conhecida como mela, causada pelo fungo Rizoctonia
solani, que é favorecido por condições de alta temperatura e
umidade.
A profundidade das sementes deve ser de 4 cm a 5 cm, sendo
que os melhores rendimentos são obtidos com espaçamentos de
40 cm a 60 cm entre fileiras e com oito a dez plantas por metro
linear. Considerando-se as variações em relação a espaçamento
entre as linhas, número de plantas por metro, massa das
Tecnologias para a Agricultura Familiar 61

sementes e seu poder germinativo, o gasto de sementes varia


entre 45 kg/ha e 120 kg/ha. Para um cálculo exato, utilizar a
fórmula: Q = (D x P x 10)/(PG x E); onde: Q = quantidade de
sementes, em kg/ha; D = número de plantas por metro; P =
massa de 100 sementes, em gramas; PG = poder germinativo,
em %; E = espaçamento entre fileiras, em metros.

Adubação
A correção do solo, preferencialmente com calcário dolomítico,
deve ser feita para elevar a saturação por bases para 70%. A
adubação com nitrogênio, fósforo, potássio e, eventualmente,
enxofre e micronutrientes, depende de vários fatores e critérios
para a definição do manejo nutricional. Não existe uma receita
única para se adubar a cultura. É importante realizar a análise do
solo para que o técnico responsável possa indicar a melhor
opção, em função da interpretação da análise do solo e das
condições locais. Na impossibilidade deste procedimento, pode-
se aplicar no sulco de semeadura 20 kg/ha de N, 60 kg/ha de P2O5
e 60 kg/ha de K2O. Após 25 dias a 30 dias da germinação, aplicar
40 kg/ha de N, em cobertura, ao lado das plantas.

Plantas daninhas, pragas e doenças


A base de dados Agrofit, do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, apresenta informações de plantas daninhas,
pragas e doenças, incluindo produtos indicados para controle.
O feijoeiro é bastante sensível à competição com plantas
daninhas, principalmente entre 10 a 30 dias após emergência,
dependendo do ciclo da cultivar, pois nesse período as plantas
daninhas reduzem a produtividade.
Existem inúmeras pragas que atacam o feijoeiro, como ácaros,
cigarrinhas, lagartas, larva-minadora, mosca-branca,
percevejos, pulgões, tripes, vaquinhas e, esporadicamente,
lesmas. A tecnologia de manejo integrado de pragas do feijoeiro
da Embrapa (MIP-feijão) é uma forma racional e econômica de
controlar as pragas.
62 DOCUMENTOS 122

Doenças fúngicas, bacterianas, viróticas e nematoides podem


causar danos expressivos no feijoeiro, devendo-se consultar a
assistência técnica para a recomendação de defensivos.
Principais doenças fúngicas da parte aérea: antracnose, mancha
angular e ferrugem. Doenças causadas por fungos que podem
sobreviver muitos anos no solo: murcha de Fusarium, podridão-
cinzenta da haste, podridão-radicular, mela do feijoeiro e mofo-
branco. Doenças bacterianas mais frequentes: crestamento-
bacteriano-comum e a murcha de Curtobacterium. Vírus mais
comuns: vírus do mosaico-comum, vírus do mosaico-dourado e
Carlavirus.

Irrigação
O crescimento e a produção do feijoeiro são bastante afetados
pelas condições hídricas do solo. As fases mais críticas, em
função da falta de água, são as de floração e desenvolvimento
das vagens. Excesso de água é prejudicial ao desenvolvimento
vegetativo e à produtividade, sendo crítico durante a formação
das sementes, devido à má aeração do solo. Deve-se irrigar,
principalmente, em condições de redução hídrica temporária (por
exemplo, na safra da seca e em veranicos), ou em condições de
restrição de água mais prolongada, como no outono/inverno.
Devido ao alto custo energético, a irrigação deve ser realizada,
preferencialmente, no período noturno e com previsão de preços
favoráveis para o período de comercialização.

Colheita
A colheita deve ser realizada no período correto, para evitar a
perda de grãos. Se a planta é deixada no campo por um longo
período após a maturação, ocorrem perdas por causa da
abertura das vagens de forma natural ou durante a colheita.
Também os grãos ficam mais sujeitos ao ataque de pragas. As
plantas devem estar secas e serem colhidas no período da
manhã, com poucas folhas e umidade das sementes ao redor de
20%. No caso de colheita manual, o arranquio e enleiramento
das plantas é seguido pela secagem e separação de grãos e
palha. A colheita também pode ser semimecanizada ou
mecanizada. Na semimecanizada, o arranquio das plantas é
Tecnologias para a Agricultura Familiar 63

manual e o trilhamento feito com recolhedora trilhadora. O


processo mecanizado pode ser indireto, com duas operações
(uso de ceifadora e trilhamento com recolhedora trilhadora) ou
direto, com uma única operação com colhedora automotriz
apropriada. Para a colheita mecanizada, deve-se utilizar cultivar
de feijão de porte ereto, com maior altura de inserção de vagens,
reduzindo assim perdas na colheita.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Embrapa Arroz e Feijão: https://www.embrapa.br/arroz-e-feijao
Árvore do Conhecimento – Produção do Feijão:
https://tinyurl.com/ro9d9s8
Árvore do Conhecimento – Manejo integrado de pragas do
feijoeiro: https://tinyurl.com/srkhral
Época de semeadura da cultura do feijão-comum, com base no
risco climático, na região sul de Mato Grosso do Sul:
https://bit.ly/3eNkozQ

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
https://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
64 DOCUMENTOS 122
Foto: Sebastião José de Araújo

Feijão-comum em plantio direto


na fase vegetativa.

Foto: Sebastião José de Araújo


Foto: Sebastião José de Araújo

Feijão-comum na fase de
enchimento dos grãos.

Feijão-comum na fase de
maturação.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 65

Foto: Sebastião José de Araújo


Feijão Pérola (grupo comercial carioca).

Foto: Sebastião José de Araújo

Feijão Preto (grupo comercial preto).


Foto: Sebastião José de Araújo

Feijão Jalo (grupo comercial especial).


67

Feijão-Caupi na Agricultura Familiar


Gessí Ceccon, Agenor Martinho Correa e
Rita de Cássia Félix Alvarez

1. O que é
O feijão-caupi (Vigna unguiculata) é uma leguminosa também
conhecida como feijão-de-corda, feijão-catador, feijão-fradinho,
dentre outros. É tradicional na agricultura familiar nas regiões
Norte e Nordeste do Brasil, sendo cultivado também em
pequenas propriedades de Mato Grosso do Sul (MS).

2. Benefícios e/ou vantagens


n É uma leguminosa anual, fixadora de nitrogênio atmosférico,
podendo ser cultivada sem a aplicação de nitrogênio mineral,
diminuindo o custo de produção.
n É tolerante às altas temperaturas e pouco exigente em água e
fertilidade do solo. Por isso, o feijão-caupi é indicado para
cultivo nas regiões Norte, Nordeste e Centro do estado de MS,
principalmente em solos arenosos, em rotação com
braquiárias, tanto para produção de sementes quanto para
formação de pastagem.

3. Como utilizar
Pode ser utilizado para colheita de vagem-verde e também
comercialização de grãos secos em feiras locais e exportação. A
produção em grande escala tem espaço em MS, visto que a
maior parte do feijão-caupi consumido é importada de outros
estados.
68 DOCUMENTOS 122

O agricultor familiar precisa ficar atento a cinco fatores: épocas


de plantio, espaçamento entre linhas, população de plantas por
metro quadrado, cultivares e controle de pragas.

Épocas de semeadura
São identificadas duas épocas de semeadura do feijão-caupi em
Mato Grosso do Sul: 1) entre setembro e outubro, destinada à
colheita de vagem-verde e/ou grãos para comercialização nas
festas de final de ano; 2) entre janeiro e fevereiro, para colheita de
vagem-verde e/ou grãos que são comercializados em feiras e
festas juninas.

Espaçamento entre linhas


a) 80 cm a 100 cm: espaçamentos maiores devem ser preferidos
quando o feijão for destinado para colheita de vagem-verde,
tendo em vista que as vagens são produzidas nas pontas dos
ramos. Isso proporciona vagens maiores e fácil trânsito entre
as linhas para colheita e devido às várias floradas do feijão-
caupi.
2) 50 cm a 60 cm: espaçamentos menores são preferidos para
colheita mecanizada de grãos secos, pois proporcionam
floração mais uniforme, possibilitando uma só colheita.

População de plantas
São indicadas de seis a oito plantas por metro quadrado, sendo
as menores populações utilizadas para colheita de vagem-verde
e as maiores populações para colheita de grãos secos. Nos
espaçamentos de 50 cm a 60 cm entre linhas utilizar quatro a
cinco plantas por metro, e nos espaçamentos de 80 cm a 100 cm
entre linhas utilizar seis a oito plantas por metro, o que equivale a
aproximadamente 40 kg de sementes por hectare.

Cultivares
Em MS são utilizadas cultivares tradicionais, pelo conhecimento
dos agricultores em relação ao seu cultivo e manutenção da
semente na propriedade. Considerando-se as avaliações de
Tecnologias para a Agricultura Familiar 69

cultivares realizadas pela Embrapa Agropecuária Oeste,


Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, desde 2009, visando à
produtividade de grãos, destacam-se as cultivares BRS
Tumucumaque, BRS Cauamé, BRS Tapaihum, BRS Potengi e
BRS Guariba.

Fragilidades
O feijão-caupi é suscetível a doenças, principalmente a viroses,
que são transmitidas por cigarrinhas e pulgões. Por isso, é
necessário realizar o controle desses insetos. Cuidados também
devem ser tomados com percevejos provenientes de lavouras de
soja.
Não tolera frio nem excesso de chuva, tanto na floração quanto
na colheita, pois podem causar a queda de flores e a perda na
qualidade de grãos, respectivamente.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Feijão-caupi: https://www.embrapa.br/feijao-caupi
Produtividade e viabilidade econômica de feijão-caupi em Mato
Grosso do Sul: https://bit.ly/2S1JMsd

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
70 DOCUMENTOS 122
Foto: Gessí Ceccon

Foto: Gessí Ceccon


Cultivo de feijão-caupi por
agricultor (Daniel da Silva)
da região de Dourados, MS.

Vagens de feijão-caupi em
ponto de comercialização para
consumo de grãos verdes.
Foto: Gessí Ceccon

Grãos de feijão-caupi para comercialização


em feira municipal.
71

Milhos Especiais da Embrapa


Walter Fernandes Meirelles e
Paulo Evaristo de Oliveira Guimarães

1. O que é
São cultivares de milho desenvolvidas para fins de utilização na
agricultura familiar ou por pequenos agricultores em geral, tanto
pelas suas características nutricionais, quanto para diversificar a
alimentação humana e animal. As cultivares permitem a
diversificação de renda com agregação de valor, podendo ser
comercializadas como um produto diferenciado.
A BR 451 tem grãos brancos e a BR 473 tem grãos amarelo-
alaranjados. As duas variedades são QPM (Qualidade Proteica
Melhorada), apresentando maior valor nutricional do grão, com
níveis de lisina e triptofano 50% maiores que no milho comum.
Isto resulta em maior engorda de animais monogástricos, como
frangos, suínos, peixes, equídeos e o próprio homem. Estas
cultivares são recomendadas para pequenos produtores,
especialmente para tratar animais de subsistência (criação
“caipira”), agregando valor à produção de carne/ovos.
Milho pipoca BRS Ângela – Variedade precoce, com grãos
brancos. Sua característica especial é a boa capacidade de
expansão, quando o grão é aquecido. Interessante para o
consumo doméstico e boa opção para comércio do grão.
Milho doce – O milho doce possui alto teor de açúcar no
endosperma. Destinado especificamente ao consumo humano
in natura como um milho verde, com bom valor nutricional. Por
causa de seu baixo teor de amido, não é indicado para confecção
de pamonha e curau, não serve para venda como grão e não é
adequado à alimentação animal devido ao baixo peso do grão.
72 DOCUMENTOS 122

As variedades da Embrapa que permitem multiplicação na


propriedade são as seguintes: Superdoce (BR 400), Doce de
Ouro (BR 401) e Doce Cristal (BR 402), desenvolvidas pela
Embrapa Hortaliças e Embrapa Milho e Sorgo. O híbrido de milho
doce BRS Vivi está licenciado e com semente comercial
disponível no mercado pela empresa AgroCinco.
Como cultivares especiais também incluem-se o minimilho, a
variedade BRS 4104 – milho biofortificado (rico em pró-vitamina
A) e os híbridos especiais: BRS 3046 para milho verde e silagem
e BR 2121 QPM, com alto teor de lisina e triptofano (hoje sem
semente disponível no mercado). A Embrapa tem disponibilizado
pequenas quantidades de semente para testes.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Melhora a qualidade e diversifica a alimentação humana e
animal.
n No caso do milho com Qualidade Proteica Melhorada (QPM),
disponibiliza-se um grão mais nutritivo a um custo baixo.
n Proporciona a manutenção permanente da pureza genética
de cada variedade, por meio do plantio na mesma área,
porém em lotes isolados.
n A variedade possibilita a produção da própria semente pelo
agricultor.

3. Como utilizar
As cultivares especiais de milho podem ser utilizadas na
alimentação humana e animal. A semente das variedades, ou
variedades de polinização aberta, pode ser multiplicada e
reutilizada por vários anos seguidos. Para isso, basta plantar
cada cultivar isoladamente, para que não aconteça troca de
pólen entre elas. Há duas formas de isolamento: por distância,
deixando-se cerca de 200 m–300 m de distância entre as
variedades, ou por tempo, deixando-se 30 dias de intervalo entre
Tecnologias para a Agricultura Familiar 73

o plantio de diferentes milhos, na mesma área. Com isso, as


cultivares manterão suas características genéticas e
agronômicas por longo tempo.
Recomenda-se o plantio dessas cultivares preferencialmente no
verão e no cedo (setembro); opcionalmente, plantar também na
segunda safra (safrinha), mas com risco de redução do potencial
produtivo. Pode-se usar espaçamento padrão de 75 cm–80 cm
entre fileiras e cinco plantas por metro linear, com ajuste para
quatro plantas por metro linear na safrinha, onde é necessário
reduzir a população de plantas.
As sementes deverão ser semeadas a 5 cm de profundidade e o
adubo deverá ficar mais profundo; de 8 cm a 10 cm, por exemplo.
Usar adubo NPK no plantio e adubação nitrogenada em
cobertura. Na ausência destes adubos, usar alternativas
disponíveis na propriedade, como estercos ou compostagens e
também a tradicional adubação verde com leguminosas.
No plantio dos milhos especiais também se recomenda o uso dos
inoculantes Azospirillum brasilense e BiomaPhos (solubilizador
de fósforo), a utilização do controle biológico (Baculovirus
spodoptera), contra a lagarta-do-cartucho, e o uso do capim-
braquiária para produção de palhada durante e após a colheita
do milho.
Durante a colheita das variedades "para uso como semente
própria", recomenda-se:
a) Entre as plantas mais produtivas e sadias, selecionar
aquelas com melhores espigas, com bom peso, formato
cilíndrico, maior número de fileiras de grãos, maior
comprimento e ausência de deformidades e de doenças
nos grãos.
b) Colher as espigas com melhor empalhamento, bem
protegidas pela palha, para menor incidência de insetos,
principalmente caruncho e traça. Dar preferência às
espigas viradas para baixo (decumbentes), o que evita
podridões pela entrada de água das chuvas.
74 DOCUMENTOS 122

c) Realizar a colheita precocemente, iniciando quando a


palha da espiga estiver branca, as folhas ainda
esverdeadas e o grão com a camada preta já formada.
Neste ponto, a semente apresenta alto vigor e germinação
e a incidência de doenças e pragas é baixa.
d) Secar as espigas selecionadas ao sol durante cerca de
2 semanas, até que a semente esteja bem seca.
e) Para manter a variedade, coletar sementes de 50 espigas
selecionadas, no mínimo, para evitar endogamia (indivíduos
aparentados) e a consequente perda de vigor e produtivi-
dade nas próximas gerações.
f) Para inibir e diminuir o risco de proliferação de insetos, a
semente pode ser tratada com o pó inerte chamado terra de
diatomácea, produto natural à base de sílica que provoca
dessecação e morte dos insetos por desidratação.
g) Armazenar as sementes em local fresco, arejado e seco, e
livre do contato com insetos e roedores.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Milho doce BRS Vivi:
http://agrocinco.com.br/categorias/milho
Árvore do conhecimento: milho doce: https://bit.ly/33pqJux
Variedade de milho pipoca BRS Ângela – novo ciclo de seleção:
https://bit.ly/2VxI7wE
Milho verde – híbrido BRS 3046: https://bit.ly/2XX01IQ
BRS 4104 – rica em pró-vitamina A – saúde à vista:
https://bit.ly/33v3IX0
Terra de diatomáceas como alternativa no controle de pragas de
milho armazenado em propriedade familiar:
https://bit.ly/2DBwbAh
Tecnologias para a Agricultura Familiar 75

Pesquisa valida em fazendas o uso de inoculante associado à


redução de adubação no milho: https://bit.ly/33mCodG
Inoculante inédito no mercado brasileiro será apresentado hoje
na Embrapa:
https://bit.ly/2DpJqDV

Instituições:
Embrapa Milho e Sorgo
http://www.embrapa.br/milho-e-sorgo
Fone: (31) 3027-1100
Sete Lagoas, MG
Embrapa Hortaliças
https://www.embrapa.br/hortalicas
Fone: (61) 3385-9000
Brasília, DF
Foto: Embrapa Milho e Sorgo

Foto: Embrapa Milho e Sorgo

Milho QPM BR 473 amarelo.

Espigas de milho-doce.
76 DOCUMENTOS 122

Foto: Embrapa Milho e Sorgo

Milho QPM BR 451 branco.


Foto: Carlos Solano

Sementes do milho-pipoca BRS Ângela.


77

Plantas Alimentícias
Não Convencionais (Pancs)
Maria do Carmo Vieira, Néstor Antonio Heredia Zárate e
Liliane Aico Kobayashi Leonel

1. O que é
Pouco se conhece sobre a flora alimentícia, e poucas espécies
nativas do Brasil e do planeta, como um todo, foram estudadas
em relação à composição nutritiva e quanto à possibilidade de
serem cultivadas e consumidas. Por isso, esse potencial
permanece subutilizado e desconhecido. Muitas espécies de
plantas espontâneas são chamadas de “daninhas”, “matos” e
outras denominações reducionistas, pois suas utilidades e
potencialidades econômicas são pouco conhecidas; outras são
próprias da culinária de determinada região e, por isso, são
cultivadas e consumidas apenas por esses povos. Essas
plantas são chamadas de plantas alimentícias não
convencionais (Pancs), ou seja, plantas que possuem uma ou
mais partes ou porções que pode(m) ser consumida(s) na
alimentação humana, mesmo que não sejam comuns no dia a dia
da maioria da população.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Utilizar plantas em estado silvestre ou cultivadas, ricas em
nutrientes, sabores e aromas, visando aumentar e melhorar a
diversidade da alimentação humana.
n Aumentar a matriz agrícola do Brasil com plantas nativas,
evitando-se explorar comercialmente poucas espécies e que
são, em geral, exóticas, ou seja, introduzidas de outros
países.
78 DOCUMENTOS 122

n Serem colhidas nos nossos quintais e, dessa forma, gerar


economia evitando-se, assim, a compra nos mercados.
n Por serem cultivadas nos quintais, podem gerar renda aos
pequenos produtores rurais e até urbanos.

3. Como utilizar
Seguem alguns exemplos de Pancs e sua utilização:
Açafrão-da-terra (Curcuma longa) – É um corante (amarelo)
condimentar, fonte de curcumina, minerais, vitamina A, ácido
fólico, riboflavina e vitamina C, essenciais para uma boa saúde.
Usado em mostardas, curries, queijos, manteigas, molhos e até
em pipocas.
Araruta (Maranta arundinacea) – Na culinária, o uso da fécula
desta planta se destaca por ser alimento de fácil digestão,
recomendada para pessoas com restrições alimentares ao
glúten (doença celíaca), idosos, crianças e pessoas com
debilidade física ou doentes em recuperação. A fécula da araruta
é usada no preparo de mingaus, bolos e biscoitos.
Bardana (Arctium lappa) – As raízes tuberosas (gobô) são
muito utilizadas pela colônia nipônica, em saladas, refogadas,
ensopadas ou na confecção de doces e geleias. São ricas em
potássio, magnésio e inulina, podendo ser usadas por diabéticos.
Capuchinha (Tropaeolum majus) – As folhas e flores podem
ser preparadas em forma de salada e sanduíche. As sementes
verdes têm sabor acre e picante, que lembra o do agrião
(Nasturtium officinale), podendo substituir o uso do rabanete e,
em vinagre, assemelha-se a alcaparras.
Hibisco (Hibiscus sabdariffa) – As folhas fazem parte da
culinária da região Norte do Brasil, onde é conhecida como
vinagreira. A parte mais utilizada mundialmente são os cálices
frescos (frutos), em sucos, geleias, conservas, pães e molhos.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 79

Inhame (Dioscorea sp.) – O inhame é uma hortaliça com


expressivo consumo mundial e considerada cultura alternativa
em expansão, pois seu consumo ultrapassou o da batata-doce,
da mandioca e da própria batata. Como alimento, é rico em
carboidratos, proteínas, fósforo, cálcio, ferro e vitaminas B1 e B2.
Seu amido é parecido com o do milho, em sabor, textura e cor.
A farinha pode ser adicionada à do trigo para a fabricação de pães
ou ser utilizada em diversos pratos, doces ou salgados.
Jambu (Acmella oleracea) – Muito cultivada nas regiões Norte e
Nordeste, onde faz parte da culinária como condimento e para
preparo do tacacá e do pato no tucupi. A presença do espilantol,
nas folhas e inflorescências, causa certa dormência na língua e
nos lábios.
Mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza) – Seu produto
mais valioso são as raízes, com amido de fácil digestibilidade e
alto valor energético, de valor nutritivo elevado; ricas em fósforo,
cálcio, ferro, vitaminas do complexo B e fibras. É importante na
dieta de crianças, idosos e convalescentes e também muito
apreciada pelo seu sabor e aroma característicos. Pode ser
consumida na forma de sopa, cremes e cozidos. É usada,
também, para a fabricação de pães e bolinhos.
Mangarito (Xanthosoma mafaffa) – No Brasil, tem sido cultivado
principalmente na agricultura de subsistência, em hortas
domésticas e por pequenos agricultores, assumindo importância
étnica, cultural e econômica. Considerado por gastrônomos uma
iguaria, os rizomas são consumidos cozidos, ensopados com
carnes e ao molho e seu valor nutricional é comparável ao da
batata (Solanum tuberosum).
Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata) – A planta é uma Cactaceae
trepadeira, cujas folhas são ricas em proteína, daí o nome de
carne de pobre. Também é fonte de aminoácidos essenciais,
ferro e vários outros minerais. As folhas, cruas ou refogadas, com
frango ou carne de porco, são utilizadas na culinária de Minas
Gerais. Podem ser utilizados, também, os frutos e as flores. As
folhas secas e trituradas podem ser usadas para enriquecer pães,
bolos, farofas e, até mesmo, como alternativa para compor a
merenda escolar.
80 DOCUMENTOS 122

Peixinho-da-horta (Stachys byzantina) – Muito cultivada no Sul


do Brasil, para consumo como hortaliça. As folhas podem ser
consumidas empanadas e fritas, em omelete e molhos.
Taro (Colocasia esculenta) – Tem possibilidade de uso humano
sob diferentes formas de preparo, podendo substituir, total ou
parcialmente, a batatinha, a mandioca, o milho, o trigo e outras
espécies amídicas. A farinha de taro pode ser adicionada à de
trigo para a fabricação de pães ou pode ser utilizada em diversos
pratos, doces ou salgados. Isso, porque o consumo de pão, em
seus vários tipos, constitui uma fonte alternativa de vitaminas,
sais minerais e proteínas.
Taioba (Xanthosoma sagittifolium) – Hortaliça rica em
vitamina A, vitaminas do complexo B, vitamina C, potássio,
cálcio, ferro, fósforo, entre outros. Faz parte da culinária de Minas
Gerais e Goiás, onde as folhas e talos são consumidos
refogados, acompanhados de polenta. Nos outros estados do
Brasil é pouco consumida, por não ser encontrada nos
mercados.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Projeto PANCs – Parte 1: https://bit.ly/37DsC9Q
Projeto PANCs – Parte 2: https://bit.ly/3aSagEc
Projeto PANCs – Parte 3: https://bit.ly/2vp3cP0
Projeto PANCs – Parte 4: https://bit.ly/315go7K
PANCs – Plantas alimentícias não convencionais:
https://bit.ly/2U18eM2
PANC – Hortaliças não convencionais: https://bit.ly/35F0Icj
Tecnologias para a Agricultura Familiar 81

Instituições:
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
https://www.ufgd.edu.br/
Fone: (67) 3410-2426
Dourados, MS
Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural
(Agraer)
http://www.agraer.ms.gov.br/
Fone: (67) 3422-1440
Dourados, MS

Foto: Orivaldo Benedito da Silva


Foto: Maria do Carmo Vieira

Peixinho.
Foto: Maria do Carmo Vieira

Ora-pro-nóbis.

Hibisco.
Foto: Néstor Antonio Heredia Zárate Foto: Néstor Antonio Heredia Zárate 82

Taro.

Mandioquinha-salsa.
jambu e capuchinha.
Salada com tansagem, ora-pró-nobis,
DOCUMENTOS 122

Foto: Maria do Carmo Vieira


83

Cultivares de Mandioca da Embrapa


Recomendadas para
Mato Grosso do Sul e Paraná
Marco Antonio Sedrez Rangel, Vanderlei da Silva Santos e
Auro Akio Otsubo

1. O que é
A cultura da mandioca é bastante expressiva nos estados do
Paraná e de Mato Grosso do Sul, particularmente quando se trata
do processamento industrial, como o da farinha e o da fécula.
Porém, não menos importante, é o mercado de mandioca de
mesa, voltado para o consumo fresco.
Neste contexto, a Embrapa, por meio do Programa de
Melhoramento Genético da Mandioca, coordenado pela
Embrapa Mandioca e Fruticultura, em conjunto com a Embrapa
Agropecuária Oeste e parceiros, lançou as seguintes cultivares
de mandioca adaptadas para as condições edafoclimáticas de
Mato Grosso do Sul e Paraná: BRS 396, BRS 399 e BRS CS 01.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Adaptação às condições locais.
n Elevadas produtividades de raiz e amido.
n Tolerância às principais doenças que ocorrem na região.
n Excelente padrão de cozimento.
84 DOCUMENTOS 122

3. Como utilizar
BRS 396
n Cultivar de mesa, para consumo “in natura”.
n Polpa amarela, por causa do alto teor de carotenoides.
n Tempo médio de cozimento de 21 minutos.
n Produtividade média de raízes superior a 32 toneladas por
hectare.
n Tolerante à bacteriose e ao superalongamento.
n Facilidade de colheita.
n Cor de película da raiz: marrom-clara.
n Cor do córtex da raiz: amarela.

BRS 399
n Cultivar de mesa.
n Polpa amarela.
n Tempo médio de cozimento de 24 minutos.
n Produtividade média de raízes superior a 38 toneladas por
hectare.
n Tolerante à bacteriose e ao superalongamento.
n Facilidade de colheita, devido às raízes horizontais,
favorecendo o arranquio.
n Cor da película da raiz: marrom-clara.
n Cor do córtex da raiz: arroxeada.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 85

BRS CS 01
n Cultivar destinada ao processamento industrial (fécula e
farinha).
n Apresenta boa cobertura de solo, reduzindo o número de
capinas.
n Possui bom porte, com boa produção de parte aérea, o que
é importante para o fornecimento de ramas para novos
plantios e facilidade de plantio mecanizado.
n Tolerante às principais doenças, como a antracnose, o
superalongamento e a bacteriose.
n Precoce, apresentando produtividades até 30% superior
às principais cultivares atualmente plantadas, quando
colhidas aos 10 meses.
n Para a colheita de dois ciclos, apresentou produtividades
de até 60 toneladas por hectare.
n O teor de matéria seca das raízes chegou a ser superior a
100% em relação aos materiais hoje cultivados.

4. Onde obter mais informações


Vídeos:
Cultivares de Mandioca BRS 396, BRS 399 e CS 01:
https://youtu.be/_spEZhTPpMU
Mandioca BRS CS01: https://youtu.be/LlwDdgbzS1E
Nova mandioca: https://youtu.be/GqEHwbArcsY
Mandioca BRS CS01: https://youtu.be/uP_QtTeokGw

Publicações:
BRS 396: Nova cultivar de mandioca de mesa, de polpa amarela,
para o Paraná e o Mato Grosso do Sul: https://bit.ly/2IJCAMi
86 DOCUMENTOS 122

BRS 399 – Nova cultivar de mandioca de mesa, de polpa


amarela, para o Paraná e o Mato Grosso do Sul:
https://bit.ly/2Q6dI5q
BRS CS 01 – Nova cultivar de mandioca para os estados do
Paraná e Mato Grosso do Sul: https://bit.ly/2wKxM6C

Instituições:
Embrapa Mandioca e Fruticultura
http://www.embrapa.br/mandioca-e-fruticultura
Campo Avançado do Centro-Sul
Tel.: (43) 3371-6241 e 3371-6201

Embrapa Agropecuária Oeste


http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS

Embrapa Cerrados
http://www.embrapa.br/cerrados
Fone: (61) 3388-9898
Planaltina, DF

Associação Técnica das Indústrias de Mandioca do Paraná


(Atimop)
Fone: (45) 8405-9678
Marechal Cândido Rondon, PR

Universidade Estadual de Maringá (UEM)


Campus Regional de Diamante do Norte (UEM/CRN)
http://www.crn.uem.br
Fone: (44) 3261-4367
Diamante do Norte, PR
87

Adubação Verde
Oscar Fontão de Lima Filho

1. O que é
O nome adubo verde refere-se à planta cultivada, para servir de
cobertura ou ser incorporada por ocasião do seu florescimento
pleno, para proteção contra a erosão e para enriquecer o solo
com nutrientes provenientes do próprio adubo verde. Assim, a
adubação verde nada mais é do que o plantio de determinadas
espécies como cultura solteira, em rotação, consórcio ou cultivo
intercalar com culturas anuais ou perenes.
Os adubos verdes podem ter ciclo anual ou perene, cobrindo o
solo por um tempo ou durante todo o ano. Após o corte, o adubo
verde pode ser mantido em cobertura ou incorporado ao solo.
Podem ser utilizadas leguminosas ou gramíneas, tanto em
sistemas orgânicos quanto em sistemas tradicionais.
O uso de leguminosas na adubação verde é mais comum do que
o uso de gramíneas, pelo fato de as leguminosas terem a
capacidade de se associar a bactérias que incorporam o
nitrogênio da atmosfera, sendo a maior parte desse elemento
transferido para a planta.

2. Benefícios e/ou vantagens


Os principais benefícios são:
n Diminui a erosão, a incidência excessiva de radiação solar, as
plantas daninhas, as pragas e as doenças nas culturas
principais.
n Proporciona descompactação e arejamento do solo,
permitindo uma melhor estruturação. Com isso, há aumento
na capacidade de armazenar água e nutrientes.
88 DOCUMENTOS 122

n Como algumas leguminosas (por exemplo, crotalária-


spectabilis) são eficientes em controlar alguns tipos de
nematoides. O seu uso na adubação verde acaba diminuindo
sensivelmente a presença desses fitoparasitas.
n Leguminosas enriquecem o solo com o nitrogênio que foi
fixado diretamente da atmosfera, por bactérias associadas às
raízes das plantas.
n Fornece matéria orgânica ao solo e aumenta sua atividade
biológica.
n Recicla os nutrientes que estão em camadas mais profundas
do solo.
n Mantém ou aumenta a fertilidade do solo a longo prazo.
n Ajuda a recuperar solos degradados, bem como aqueles que
são naturalmente pobres em nutrientes e matéria orgânica,
além de conservar os solos que já são férteis e produtivos.

3. Como utilizar
A escolha do adubo verde depende, principalmente, da
disponibilidade de sementes, do objetivo do seu plantio e da
cultura subsequente. Deve ser levado em conta, também, o
histórico da área e a adaptação das plantas ao clima e solo da
região. A modalidade de adubação verde varia de acordo com a
época de semeadura, com o tempo que os adubos verdes ficam
vegetando no campo (ciclo das espécies) e com a maneira como
podem ser cultivados, considerando-se as configurações e os
arranjos entre si e em plantios simultâneos com as culturas de
interesse econômico (sistema de cultivo).

Época de semeadura
Os adubos verdes são agrupados de acordo com a época do ano
que podem ser semeados. Assim, tem-se a adubação verde de
primavera/verão e adubação verde de outono/inverno.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 89

a) Adubação verde de primavera/verão: a semeadura vai de


setembro/outubro até janeiro/fevereiro. As espécies mais
utilizadas são as crotalárias, mucunas, guandus, feijão-de-
porco, feijão-caupi, feijão-bravo-do-ceará, lab-lab, milheto
e sorgo, dentre outros. O plantio, nesse período, propicia
alta produção de massa vegetal e significativa contribuição
de entrada de nitrogênio no sistema solo-planta, pela
fixação biológica de nitrogênio, se o adubo verde for uma
leguminosa. Se os adubos verdes são semeados na época
ideal (outubro a novembro), pode haver competição com a
cultura comercial. Nesse caso, a adubação verde é mais
utilizada em solos degradados, que necessitam de
recuperação ou em sistema de consórcio com algumas
culturas, como a crotalária-juncea com milho.
b) Adubação verde de outono/inverno: nesse caso, o plantio
ocorre a partir de março, podendo estender-se até junho.
As espécies mais conhecidas são as aveias, nabo-
forrageiro, tremoço-branco, ervilhaca, ervilhaca-peluda,
centeio e azevém.

Ciclo das espécies


Os adubos verdes podem ser anuais, ou seja, permanecem
vegetando por apenas um ciclo de crescimento na lavoura, tanto
na primavera/verão quanto no outono/inverno, ou a espécie pode
permanecer na lavoura por alguns anos. Neste caso, a espécie
pode ser semiperene, com alguns ciclos de crescimento (2 a
4 anos) ou perene, com vários ciclos de crescimento (acima de
5 anos). Guandu-arbóreo e crotalária-mucronata são exemplos
de adubos verdes semiperenes. Já soja-perene, siratro,
calopogônio, centrosema, alfafa, leucena e amendoim-forrageiro
são exemplos de espécies perenes.

Sistema de cultivo
Há várias maneiras de se cultivar os adubos verdes, que podem
servir para a cobertura do solo ou, ocasionalmente, para
alimentação animal ou humana:
90 DOCUMENTOS 122

a) No cultivo exclusivo, o adubo verde pode ser semeado


como cultura solteira, em rotação ou sucessão com
culturas anuais (por ex.: arroz, feijão, soja, trigo).
b) Em rotação com hortaliças e algumas frutíferas rasteiras
(morango, melancia, melão).
c) Na reforma de pastagens degradadas e em áreas para
reforma com cana-de-açúcar.
d) No consórcio ou cultivo intercalar com culturas anuais,
onde, por exemplo, pode-se usar a mucuna com milho no
verão, sendo a mucuna semeada no estágio de floração
ou grão leitoso do milho. Para o milho safrinha, a partir da
sua floração, pode-se semear um adubo verde de
inverno, como, por exemplo, a aveia-preta, a ervilhaca ou
o nabo-forrageiro. Outra opção, amplamente utilizada, é o
consórcio do milho safrinha com braquiária, produzindo-
se grãos e palha de milho e palha ou pasto da braquiária.
e) No consórcio ou cultivo intercalar com culturas perenes,
como cafeeiro, seringueira, citros e outras frutíferas, que
pode ser feito em todas as ruas ou em ruas alternadas.
Pode, também, ser realizada a rotação de espécies de
adubos verdes ao longo dos anos, com leguminosa em
um ano e gramínea em outro.
f) No cultivo em faixas ou aleias, como em mandioca e em
pastagens.
g) Nas misturas ou coquetéis, onde são semeadas duas ou
mais espécies de adubos verdes em conjunto.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 91

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Adubação verde:
https://bit.ly/37fYWj3
Adubação verde com leguminosas:
https://bit.ly/3cFoecA
Bancos comunitários de sementes de adubos verdes –
informações técnicas:
https://bit.ly/3axCgNl

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
https://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Foto: José Aparecido Donizeti Carlos Foto: José Aparecido Donizeti Carlos Foto: José Aparecido Donizeti Carlos
92

Milheto.
Mucuna-preta.

Guandu-forrageiro.
DOCUMENTOS 122
Tecnologias para a Agricultura Familiar 93

Foto: José Aparecido Donizeti Carlos


Crotalária-spectabilis.

Foto: José Aparecido Donizeti Carlos

Crotalária-júncea.
95

Controle Biológico de Doenças


Alexandre Dinnys Roese

1. O que é
O ambiente agrícola, especialmente o solo, é repleto de
microrganismos (fungos, bactérias, nematoides, etc.), seus
habitantes naturais. São responsáveis por processos ecológicos
dentro do ecossistema, como a decomposição da matéria
orgânica, ciclagem de nutrientes, agregação, aeração e
infiltração de água no solo e controle de doenças, pragas e
plantas daninhas. As doenças ocorrem quando uma alteração no
ambiente leva à multiplicação exagerada de um microrganismo,
que acaba causando danos nas plantas.
O controle biológico de doenças, portanto, consiste na regulação
da atividade microbiana no ambiente, de modo a promover o
retorno do equilíbrio entre os microrganismos. Normalmente,
isso pode ser feito através de outros microrganismos, que são
denominados de agentes de controle biológico (ACB). Esse
controle biológico acontece de forma espontânea no ambiente,
mas também pode ser induzido por meio da aplicação de
produtos que contenham ACB e de práticas culturais que
favoreçam a atividade microbiana em geral.

2. Benefícios e/ou vantagens


O uso do controle biológico em substituição ao controle químico
de doenças:
n Reduz os riscos de poluição do ambiente e de intoxicação das
pessoas.
n Tem efeito de longo prazo, já que os ACB se estabelecem no
ambiente.
96 DOCUMENTOS 122

n Reduz os desequilíbrios ambientais em comparação ao uso


de produtos químicos de amplo espectro.
n Requer menores períodos de carência entre a aplicação e a
entrada na área ou colheita.
n Não provoca o surgimento de populações de patógenos
resistentes.
n Não afeta outras táticas de controle.
n E, muitas vezes, ainda estimula o crescimento das plantas,
independentemente do controle de doenças, já que diversos
ACB são também promotores do crescimento de plantas.
No entanto, o uso do controle biológico é mais difícil do que o uso
do controle químico. A eficiência, muitas vezes, depende da
própria ocorrência dos patógenos (que servem de substrato para
o desenvolvimento do ACB). Sua ação é mais lenta, a aplicação
inicial normalmente envolve maiores custos e exige
conhecimento especializado.

3. Como utilizar
O sucesso do controle biológico de doenças depende da
capacidade do ACB colonizar os substratos e se estabelecer no
ambiente. Esta capacidade, por sua vez, é influenciada pelas
condições ambientais que oferecemos aos ACB.
Sabendo disso, a primeira providência é tornar o ambiente
propício para o controle biológico, o que envolve aumentar o
aporte e a diversidade de fontes de carbono e matéria orgânica
no solo, aumentar a capacidade de retenção de água no solo e
modelar o microclima, de modo a reduzir os extremos de
temperatura, velocidade de vento e umidade de ar. Esses efeitos
são mais facilmente obtidos através da diversificação e rotação
de culturas, tornando o ambiente mais complexo. Sistemas de
produção agroflorestais, agropastoris, silvipastoris e
agrosilvipastoris contribuem sobremaneira para essa melhoria
do ambiente. Além de favorecer a ocorrência espontânea do
controle biológico, ambientes assim manejados favorecem o
estabelecimento de ACB introduzidos no sistema.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 97

A aplicação de um produto para controle biológico (comercial ou


produzido pelo próprio agricultor, associações de agricultores,
etc.) tem a finalidade de introduzir ou aumentar, no ambiente, a
densidade de um microrganismo que promova o controle
biológico de uma ou mais doenças. Frequentemente o ambiente
(solo ou plantas) já contém aquela espécie de microrganismo, e a
aplicação aumenta sua densidade ou introduz uma população
mais eficiente em estabelecer-se no ambiente e controlar os
microrganismos que causam doenças.
Exemplos de produtos para controle biológico de doenças são
aqueles que contêm fungos dos gêneros Trichoderma,
Paecilomyces, Gliocladium, Clonostachys, Rhizoctonia
binucleada e Pochonia; e bactérias dos gêneros Bacillus,
Pasteuria, Pseudomonas fluorescentes, Streptomyces e
Burkholderia. No entanto, a quantidade de produtos para
controle biológico de doenças registrada no Brasil é muito
pequena, provavelmente porque o controle biológico ainda é
pouco utilizado. Em consulta realizada ao Sistema de
Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit), do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, foram encontrados registros de
produtos comerciais contendo ACB dos gêneros Bacillus,
Trichoderma, Pasteuria e Paecilomyces. Os dois primeiros
registrados para o controle de uma ampla gama de patógenos,
incluindo fungos, bactérias e nematoides, e os dois últimos
registrados apenas para o controle de nematoides. Além destes,
existem extratos vegetais que são eficientes no controle de
doenças de plantas, como os extratos de raiz e caule de
Reynoutria sachalinensis, extrato de folhas de Melaleuca
altemifolia, e azadiractina (obtido da planta Azadirachta sp.).
Importante ressaltar que essas informações podem sofrer
alterações, e qualquer utilização desses produtos deve ser
orientada por um profissional habilitado.
É comum observar produtos para controle biológico de doenças
que são registrados para uso em todas as culturas agrícolas, já
que a interação entre o ACB e o patógeno, na maioria das vezes,
não depende da planta hospedeira. Isso permite que casos de
sucesso no controle biológico de determinada doença numa
98 DOCUMENTOS 122

espécie de planta possam ser replicados em outras espécies de


plantas que estejam sob ataque da mesma doença.
Exemplos de sucesso na utilização do controle biológico de
doenças são o fungo Gliocladium roseum no controle do mofo-
cinzento causado por Botrytis cinerea em morango. O fungo
Trichoderma spp. pode ser utilizado para o controle de doenças
em espécies florestais, principalmente em viveiro, para o
controle de tombamento em fumo e de podridão de raízes em
macieira, para o controle de mela causado por Thanatephorus
cucumeris em feijoeiro e para o controle de mofo-branco
causado por Sclerotinia sclerotiorum em soja, sendo que, neste
último exemplo, uma bactéria do gênero Bacillus também foi
eficiente. Trichoderma spp. pode ser usado ainda para o controle
de diversas doenças causadas por fungos, como mofo-cinzento,
tombamento, murcha-de-fusarium e podridão-das-raízes em
tomateiro e outras espécies olerícolas. A utilização desses
produtos deve ser orientada por um responsável técnico
(engenheiro-agrônomo ou profissional com habilitação
semelhante) e seguir estritamente as orientações da bula, no
caso de emprego de produtos comerciais.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Produtos biológicos de controle registrados no Brasil desde
2005: https://www.abcbio.org.br/biodefensivos-registrados/
Controle de doenças de plantas com agentes de controle
biológico e outras tecnologias alternativas:
https://bit.ly/2N4KzG6
Controle biológico de doenças de plantas na América Latina:
https://bit.ly/36wRkbj
Solo saudável: https://bit.ly/2R0gcSv
Produção de Morangos no Sistema Semi-Hidropônico:
https://bit.ly/2takG0P
Tecnologias para a Agricultura Familiar 99

Controle biológico da mela do feijoeiro: https://bit.ly/2RGHfDZ


Controle Biológico de Doenças e Pragas do Tomateiro:
https://bit.ly/2RHNnM9
Efeito de preparados caseiros no controle da queima-
acinzentada, na cultura da cebola: https://bit.ly/318bir0
Isolados nativos e comerciais de Trichoderma são mais
eficientes no controle de doenças quando cultivados em grãos:
https://bit.ly/2FwZ80Y

Ensaios cooperativos de controle biológico de mofo-branco na


cultura da soja: https://bit.ly/3aS5JBE
Foto: Alexandre Dinnys Roese

Aplicação de Trichoderma sp. em solo de vaso


por meio de grãos de aveia inoculados.
100 DOCUMENTOS 122

Grãos de arroz inteiros (acima) e triturados (abaixo)


colonizados com Trichoderma sp.
para aplicação no campo.
Fonte: adaptado de Harman et al. (2010).

Referência
HARMAN, G. E.; OBREGÓN, M. A.; SAMUELS, G. J.; LORITO, M. Changing
models for commercialization and implementation of biocontrol in the developing
and the developed world. Plant Disease, v. 94, n. 8, p. 928–939, Aug. 2010.
DOI: 10.1094/PDIS-94-8-0928
101

Cultivo da Erva-Mate em
Sistemas Agroflorestais
Eny Duboc

1. O que é
É o cultivo da erva-mate em consórcio com árvores de outras
espécies e cultivos agrícolas para obter diversos produtos ou
serviços ambientais. Existem diferentes tipos de ervais:

Ervais com sombreamento

n Os nativos – de onde provém a maior parte da produção


nacional.
n Os adensados – com o plantio de mudas nas clareiras
existentes no erval nativo.
n Os ervais de conversão – quando a vegetação existente sob a
copa das árvores na mata é transformada em erval.
n Os ervais em sistemas agroflorestais – cultivo da erva-mate,
em consórcio com culturas agrícolas, e com sombreamento
de outras espécies de árvores.
Ervais não sombreados
n Os ervais homogêneos – plantio solteiro a pleno sol.
n Os ervais consorciados – plantio a pleno sol consorciado com
lavouras e/ou pastagens.

2. Benefícios e/ou vantagens


A erva-mate nativa sombreada, ou a cultivada em sistemas
agroflorestais, de forma orgânica, sem adição de agroquímicos e
102 DOCUMENTOS 122

certificada, permite ao produtor alcançar preços diferenciados no


mercado. As folhas produzidas em ervais sombreados, quando
comparadas com as de ervais cultivados a pleno sol, produzem
bebida cujo sabor mais suave é preferido pelos consumidores.
Nas folhas das plantas sombreadas também há maior
concentração de compostos químicos, como as saponinas e a
cafeína, responsáveis pela sensação de saciedade e efeito
estimulante. Além disso, se a erva-mate for cultivada na área de
Reserva Legal, em sistema agroflorestal com outras espécies de
árvores nativas, possibilita, além dos ganhos monetários e
ambientais, atender à legislação florestal.

3. Como utilizar
Para converter ou adensar um erval nativo, pode-se fazer o plantio
de mudas, tanto de erva-mate quanto de árvores nativas, a fim de
aumentar a diversidade e a densidade das espécies de interesse
econômico (madeireiras, apícolas, fruteiras, medicinais, entre
outras). O plantio, sob a copa das árvores, na mata, pode ser
realizado durante todo o ano, desde que haja umidade suficiente e,
neste caso, não existe um espaçamento definido. Antes do plantio
deve-se roçar a vegetação de pequeno porte e, posteriormente,
podar as erveiras nativas existentes a 1 metro de altura do solo,
para conduzir e limitar seu crescimento, facilitando futuras
colheitas. Após demarcação do local de plantio das mudas, deve-
se abrir covas grandes (30 cm x 30 cm), sendo recomendável a
adubação orgânica.
Para o cultivo em sistemas agroflorestais não existe ainda
recomendação quanto ao nível ideal de sombreamento para
atingir o máximo de produtividade da erva-mate. No Rio Grande do
Sul já existem plantios com 15 anos de idade ou mais de ervais
sombreados, com elevada densidade de erva-mate, cultivada em
espaçamento convencional, com cerca de 120 a 200 árvores
nativas por hectare.
Nos sistemas agroflorestais, caso o cultivo agrícola seja
mecanizado, o espaçamento entre as linhas da erva-mate deve
ser, no mínimo, de 3,5 m a 4,0 m, ou com um espaçamento que
Tecnologias para a Agricultura Familiar 103

permita a entrada dos implementos agrícolas da propriedade,


sem causar danos às plantas na linha. As demais árvores para
sombreamento podem ser plantadas na mesma linha da erva-
mate. As mudas de erva-mate devem ser espaçadas entre si, na
linha, em pelo menos 1,5 m. O ideal é que as culturas agrícolas,
ou mesmo os adubos verdes, sejam cultivados primeiro,
fornecendo sombra para o desenvolvimento inicial das árvores e
da erva-mate.

Características desejáveis das espécies arbóreas


para sombreamento da erva-mate
Alguns aspectos devem ser levados em consideração, como por
exemplo: preferir espécies de crescimento rápido, com pequena
ramificação; copas altas e ralas também são preferidas, pois
diminuem a necessidade de manejo, como a poda de galhos,
para regular a luminosidade ou entrada de luz no sistema. Deve-
se preferir espécies arbóreas leguminosas fixadoras de
nitrogênio, pois favorecem o desenvolvimento das espécies
consorciadas, além daquelas espécies que forneçam frutos com
valor alimentício, que podem ser consumidos na propriedade ou
comercializados. Quando o objetivo das espécies arbóreas for
produção comercial de madeira para serraria, laminação,
produção de estacas ou mourão para cercas, deve se atentar
para a qualidade do fuste da espécie. Espécies com dominância
apical, com fuste retilíneo ou poucas ramificações, possuem
melhor qualidade e valor de sua madeira.

Produção de mudas e cuidados iniciais no plantio da


erva-mate
A escolha de mudas de qualidade é fundamental para o sucesso
do erval. A qualidade está ligada ao vigor da muda e,
principalmente, a um sistema radicular bem formado. Muitas
vezes a semente recém-germinada, ao ser repicada da
sementeira para a sacola plástica ou para o tubete, enrola o
sistema radicular (cachimbamento) e, nesse caso, esta muda
não irá sobreviver ao ser plantada no campo. A baixa qualidade
104 DOCUMENTOS 122

das mudas é responsável por elevadas taxas de replantio,


encarecendo o custo de implantação e causando desuniformi-
dade no erval.
Outro fator de qualidade das mudas diz respeito à origem das
sementes. As sementes devem ser adquiridas de produtores
certificados, ou no caso de serem coletadas na própria
propriedade ou região, a escolha das matrizes deve seguir
alguns critérios, como por exemplo: possuir sanidade; ser
vigorosa e grande produtora de folhas e não de sementes;
possuir folhas com sabor agradável ou o desejado pelo mercado
consumidor; possuir bom formato de copa, com grande produção
de galhos finos, e bastante ramificada; e ter idade superior a 7
anos.
Para realizar o plantio no campo, deve-se fazer a análise do solo,
para indicação da adubação adequada para a erva-mate e para
os cultivos agrícolas plantados nas entrelinhas, em consórcio. De
maneira geral, a erva-mate, assim como muitas espécies
arbóreas nativas, reage mal ao uso de calcário, quando este é
usado para correção do pH ou da acidez. Caso a análise de solo
identifique a necessidade de adição de cálcio ou de magnésio, o
calcário pode ser usado na quantidade necessária apenas para
repor esses nutrientes. Procure um técnico para indicar a
adubação adequada, de acordo com os resultados da análise de
solo. Dê preferência para a adubação orgânica para a erva-mate.

Nos estados do Sul, cujos invernos são mais chuvosos, o plantio


é realizado preferencialmente nos meses de inverno. Em Mato
Grosso do Sul, as mudas devem estar muito bem protegidas da
insolação direta e, desde que não haja limitação hídrica, o plantio
pode ser feito também no outono/inverno. O plantio deve ser
cuidadoso, evitando-se a formação de bolsas de ar junto às
raízes. Um cuidado especial deve ser dispensado às mudas da
erva-mate, pois danos nas raízes resultam em alta taxa de
mortalidade.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 105

Podas de formação
Em todos os sistemas de cultivo da erva-mate, as mudas
necessitam ser podadas no início do seu desenvolvimento, para
quebrar a dominância apical e induzir o crescimento de brotos
laterais, que irão estimular a produção de folhas e formar uma
copa adequada (tipo cálice). Apesar de não haver um padrão
para esta prática, é comum realizar duas podas no período de 2 a
3 anos após o plantio, cortando galhos finos, entrelaçados ou
tortos e eliminando ou reconduzindo os galhos internos. Deve-se
realizar a poda de formação quando o caule alcançar espessura
maior que 2 cm e a casca estiver madura – com cor marrom-
acinzentada, a cerca de 15 cm a 20 cm do solo. Podas, no
primeiro ano de campo, devem ser realizadas somente em
plantas com bom desenvolvimento, e que apresentem tecido
maduro na base de sua haste principal. Não é a idade da muda
que indica a necessidade de poda, mas o seu desenvolvimento.
É indicado iniciar a poda entre agosto e setembro, fazendo um
repasse entre janeiro e fevereiro.

Podas de colheita
Em abril/maio deve-se fazer a desrama, com as próprias mãos,
dos ramos finos. Os ramos dominados e os orientados para o
centro da copa devem ser retirados sem deixar porção basal. Em
agosto/setembro devem ser podados com tesoura de poda ou
serrote, os ramos bandeira, deixando 10 cm a 15 cm de porção
basal. Nessa poda também devem ser retirados, sem deixar
porção basal, os ramos entrecruzados, mal formados e com
tendência para crescimento para o centro da copa. Não se deve
cortar as bandeirinhas, especialmente aqueles galhos que
tendem a crescer para fora; eles devem permanecer para serem
podados na temporada seguinte.
Durante a poda de produção, não se deve desfolhar totalmente
as erveiras, e é muito importante utilizar as ferramentas corretas,
limpas e afiadas, evitando o uso de facões, preferindo tesouras
de poda e serrotes. Os cortes devem ser feitos em bisel, lisos e
sem lascas, e em cada galho deve permanecer pelo menos um
ramo com folhas.
106 DOCUMENTOS 122

4. Onde obter mais informações


Vídeos:
Produção de erva-mate orgânica gera renda até da indústria
cosmética:
https://bit.ly/2VSjwRV
Como preparar o solo para o plantio da erva-mate:
https://bit.ly/3by5pln
Experiências bem-sucedidas de sistemas agroflorestais (SAF):
https://bit.ly/3bzT0n0

Publicação:

GIEHL. A. L.; SILVA, P. R. da; TSURUMAKI, O. L. Erva-mate:


orientações para plantio e condução de ervais. 28p. Campo
Grande: AGRAER / SEPROTUR. 2007.

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Tecnologias para a Agricultura Familiar 107
Foto: Eny Duboc

Muda de erva-mate com sistema radicular bem formado (A)


e com “cachimbamento” (B).

Ponto de corte (A) (B)

10 cm a 15 cm

1ª poda de formação

10 cm a 15 cm

2ª poda de formação

Podas de formação para obter


copa tipo cálice (A).

10 cm a 15 cm Tronco de erva-mate após


poda de produção (B).

3ª poda de formação
108 DOCUMENTOS 122

Foto: Eny Duboc

Arquitetura de copa desejada em erveira comercial em fase de produção.


As setas vermelhas indicam os ramos bandeira e as setas azuis
os galhos que devem ser podados na temporada seguinte.
109

Semeadura de Espécies Arbóreas para


Revegetação de Áreas Desmatadas
por meio de Sistemas Agroflorestais
Eny Duboc

1. O que é
Utilização da semeadura manual ou mecanizada, de uma
mistura de sementes de várias espécies arbóreas, arbustivas e
até mesmo de herbáceas nativas, em consórcio com culturas
agrícolas, visando recompor a vegetação de áreas desmatadas.

2. Benefícios e/ou vantagens


O interesse pela semeadura de espécies florestais, ao invés do
plantio convencional por mudas, tem crescido bastante. O motivo
é a melhoria da eficiência e diminuição do custo de
reflorestamentos para a recuperação da vegetação em Áreas de
Preservação Permanente (APP) e de Reserva Legal (ARL),
especialmente quando a semeadura das espécies arbóreas é
feita em consórcio com o cultivo de espécies agrícolas, nos
chamados sistemas agroflorestais.
Entre as vantagens da semeadura direta das espécies nativas,
podem ser citadas a possibilidade de:
n Reduzir os custos operacionais, pela diminuição de gastos
com mão de obra e mudas, e o tempo empregado nas
operações de plantio e manutenção.
n Viabilizar o reflorestamento de grandes áreas.
n Aumentar a diversidade de espécies, pois permite incluir,
além das árvores, sementes de arbustos, gramíneas
nativas, leguminosas e, até mesmo, de cultivos agrícolas.
110 DOCUMENTOS 122

n Aumentar a velocidade e a taxa de recobrimento do solo,


por causa da maior diversidade de espécies, o que
contribui para diminuir processos erosivos e a infestação
com gramíneas exóticas.
n Aumentar a densidade por hectare das espécies de
interesse econômico como, por exemplo, as madeireiras,
fruteiras, apícolas, oleaginosas e medicinais, entre outras.
n Aumentar a densidade de espécies com funções
ambientais, como, por exemplo, as leguminosas, para
fornecer nitrogênio e matéria orgânica, acelerando a
recuperação da fertilidade e da estrutura do solo.
n Aumentar a densidade de espécies atrativas à fauna,
como os pequenos mamíferos, roedores, aves, em
especial os morcegos, que são importantes dissemina-
dores de sementes e fundamentais na ampliação da
diversidade da vegetação e no fortalecimento do processo
de sucessão de espécies.
n Possibilitar a recuperação do capital investido na
revegetação, por meio dos rendimentos dos cultivos
agrícolas e até de espécies arbustivas e arbóreas quando
se usa os sistemas agroflorestais.

3. Como utilizar
De acordo com a Resolução Semade nº 28 de 2016, para a
recuperação de APP, de ARL e Áreas de Uso Restrito (AUR) é
obrigatória a apresentação de Projeto de Recuperação de Área
Degradada ou Alterada (Prada). Nos casos específicos de
recuperação de APP e ARL, o Prada poderá indicar, isolado ou
conjuntamente, um dos seguintes métodos: a) condução da
regeneração natural de espécies nativas; b) plantio de espécies
nativas; c) plantio intercalado de espécies nativas de ocorrência
regional com espécies exóticas lenhosas, perenes ou de ciclo
longo, em até 50% da área a ser recuperada. Para recuperação
de APP, o método de plantio intercalado de espécies exóticas
com nativas, se aplica apenas às propriedades com até quatro
Tecnologias para a Agricultura Familiar 111

módulos fiscais, e na recuperação de ARL o plantio deve ser feito


na forma de sistemas agroflorestais, em qualquer tamanho de
propriedade rural.

Quais espécies plantar? – As espécies, sua variedade ou


diversidade e o número de plantas de cada espécie, por hectare,
variam de acordo com o tipo de vegetação da área a ser
revegetada. Por exemplo: em qual bioma, dos três existentes em
Mato Grosso do Sul (Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica) está
localizada a área a ser revegetada? Deve-se considerar,
também, que dentro de um mesmo bioma existem vários tipos de
formações vegetais nativas. Assim, no bioma Cerrado, existem
11 tipos de fitofisionomias diferentes, desde formações florestais
de grande porte, como o Cerradão, até as formações savânicas,
como um Cerrado Ralo.
Uma vez identificado o bioma, e dentro do bioma a fitofisionomia,
a área a ser recomposta trata-se de uma Reserva Legal ou uma
Área de Preservação Permanente (mata ciliar ou de galeria)?

Quantas espécies plantar? – Ainda de acordo com a legislação


de Mato Grosso do Sul, para revegetação da Reserva Legal
devem ser plantadas, no mínimo, 50 espécies arbóreas nativas
de ocorrência regional, sendo que, dessas, pelo menos 10
espécies devem ter dispersão de sementes intermediada pela
fauna, e representem 50% dos indivíduos.
Como plantar? – Para reflorestar um ambiente degradado, o
produtor precisa coletar as sementes na sua região e no mesmo
tipo de vegetação nativa da área que será recuperada. Deve
coletar sementes de gramíneas nativas e de várias árvores e
arbustos. Nesse processo, incluem-se árvores de crescimento
rápido e madeira mole, como: angicos, aroeirinha, capixingui,
capororoca, guapuruvu, pau-formiga e pata-de-vaca; até as de
vida mais longa e com madeira de lei, como: baru, canafístula,
cedro, garapa, ipê, jatobá e jacarandá. O produtor também deve
dar especial atenção para as espécies cujos frutos e sementes
são apreciados pela fauna: araçás, araticum, cagaita, embaúba,
ingás, jenipapo, lobeira, marmeleiros, morcegueira, murici,
pessegueiro-bravo e pimenta-de-macaco, entre outras. De cada
112 DOCUMENTOS 122

espécie devem ser coletadas e misturadas, em proporções


iguais, sementes de pelo menos 10 árvores, distantes entre si em
50 metros ou mais.
Para a maioria das espécies nativas, o processo de germinação
no campo ainda é desconhecido, mas, em geral, é muito baixo.
Para calcular a quantidade de sementes necessária, de cada
espécie, para reflorestar um hectare, é preciso avaliar a
qualidade das sementes coletadas.
Na sombra de uma árvore ou telado, em sementeira ou caixote
com areia, semear 100 sementes de cada espécie, e anotar em
um caderno a data e o nome de cada uma. Uma vez por semana,
contar e anotar no caderno as que nasceram, até que parem de
germinar. Por exemplo: germinaram 60 sementes das 100
semeadas, então 60% é a porcentagem de germinação obtida.
Este cálculo deverá ser feito para cada espécie. Algumas espécies
possuem dormência, ou seja, demoram muito para germinar,
mesmo em condições adequadas; como é o caso do amendoim-
bravo, da canafístula, da farinha-seca, do guapuruvu e do jatobá.
Para quebrar a dormência, as sementes grandes podem ser
lixadas ou, como as demais, podem ser imersas em água no início
do ponto de fervura (água para chimarrão), e permanecer no
molho entre 12 e 24 horas. Já para outras sementes, como as do
araticum, macaúba e pequi, esses métodos não são eficientes e
levarão de 6 meses a até 1 ano para germinar.
Devido à perda de sementes e de plantas pelo ataque de
doenças e predadores, principalmente herbívoros, roedores e
insetos, e por fatores climáticos, entre outros, aconselha-se
utilizar um fator de correção de, no mínimo, 20 vezes.
Por exemplo: quantas sementes deverão ser semeadas para se
obter 15 pés de jatobá, se as sementes apresentaram 60% de
germinação? Neste caso deve-se multiplicar o número de
árvores desejado por 100; o resultado alcançado deverá ser
dividido pelo percentual de germinação das sementes e, por
último, multiplicado pelo fator de correção (15 x 100 = 1.500;
1.500 ÷ 60 = 25 e, finalmente 25 x 20 = 500). Desse modo, deve-
se semear 500 sementes de jatobá para obter as 15 árvores.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 113

Depois de separada a quantidade necessária de sementes de


todas as espécies, elas devem ser agrupadas por semelhança no
tamanho e formato.
A semeadura mecanizada pode ser feita com plantadeira
adaptada, com as linhas de plantio distantes entre si em, pelo
menos, 3,5 metros, para possibilitar consórcio com culturas
agrícolas e a mecanização nas entrelinhas. Também pode ser
feita utilizando calcareadeira, com plantio em área total. Nesse
caso, as culturas agrícolas, abóboras, maracujás, feijões, entre
outras, poderão ser semeadas juntas, mas a colheita e os tratos
culturais serão mais difíceis. No plantio mecanizado, as
sementes menores e mais leves devem ser misturadas com areia
e inoculantes, formando a “muvuca de sementes”. Durante a
semeadura, a “muvuca” dentro do depósito deve ser
constantemente revirada para evitar a separação das sementes,
por causa dos diferentes pesos. Posteriormente, as sementes
muito grandes poderão ser semeadas a lanço, ou com nova
adaptação dos implementos. Também pode ser feito o plantio
futuro de bananas, mandioca e abacaxi, por exemplo.
A semeadura também pode ser manual, em linha, em covas ou a
lanço em área total. Neste caso, a semeadura das sementes
menores e mais leves pode ser simultânea à das sementes
grandes. O sucesso da semeadura direta depende da escolha e
da diversidade de espécies, da qualidade das sementes, da
época adequada de plantio (no início da estação chuvosa) e dos
tratos culturais (eliminação de gramíneas exóticas e formigas
cortadeiras).

4. Onde obter mais informações


Vídeos:
Plantio Mecanizado de Florestas: https://bit.ly/33s2r32
Plantio Mecanizado de Florestas – Parte 2: https://bit.ly/2Dt4068
Plantio Mecanizado de Florestas – Parte 3:
https://bit.ly/2rwLTd0
114 DOCUMENTOS 122

Publicações:
Resolução SEMADE nº 28 de 22/03/2016 –
https://bit.ly/34zScva
Guia do Programa de Regularização Ambiental (PRA) de Mato
Grosso do Sul – https://bit.ly/37JiT2h

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Ilustração: Eny Duboc

Biomas existentes no
estado de Mato Grosso
do Sul.

Foto: Eny Duboc

Muvuca de sementes.
115

Baculovirus erinnyis para o


Controle Biológico do
Mandarová da Mandioca
Rudiney Ringenberg

1. O que é
Dentre as várias espécies de insetos associados à cultura da
mandioca e que causam danos econômicos, destaca-se o
mandarová da mandioca (Erinnyis ello L.) ou “gervão”. A praga
pode provocar completo desfolhamento e redução na produção
de até 64%, principalmente quando o ataque ocorre em plantas
jovens (até 5 meses). Embora possa ocorrer em qualquer época
do ano, é mais frequente em períodos chuvosos. Seu ciclo é
relativamente curto, varia de 33 dias a 55 dias (ovo a adulto),
podendo ter várias gerações no ano. A lagarta passa por cinco
estágios larvais, sendo sua maior capacidade de desfolha
observada no quinto estágio larval.
O mandarová é de fácil controle quando se faz um
monitoramento constante da lavoura para se detectar o início do
seu ataque. Algumas estratégias podem ser utilizadas para
detectar a chegada da praga na lavoura, tais como: observação
da presença de mariposas em lâmpadas próximas à lavoura;
vistoria da lavoura para detectar a presença de ovos e lagartas
pequenas (até 4 cm) que ficam no ponteiro da planta e instalação
de armadilhas luminosas a, pelo menos, 5 m de altura, para
coleta de adultos.
Na escolha do método de controle deve-se levar em conta que o
mandarová tem um número expressivo de inimigos naturais, que
devem ser preservados. Recomenda-se para isso o uso de
produtos biológicos. O controle do mandarová utilizando o
baculovírus (Baculovirus erinnyis) é uma alternativa viável,
116 DOCUMENTOS 122

econômica e segura, que pode causar mortalidade de até 100%


das lagartas. O baculovírus é um vírus de ocorrência natural,
específico, que ataca somente lagartas do mandarová,
causando infecção generalizada nas larvas e levando-as à
morte.

2. Benefícios e/ou vantagens


n É seguro ao homem, plantas e animais, sendo seletivo aos
inimigos naturais do mandarová ou de outras pragas.
n Pode ser produzido pelo agricultor e armazenado por vários
anos para ser aplicado nos cultivos seguintes, com baixo
custo, em substituição aos inseticidas químicos.
n Possui elevada capacidade de permanência na área e alto
poder de dispersão, infectando lagartas em locais onde não
se aplicou o produto.
n Seu uso frequente restabelece a fauna benéfica (inimigos
naturais).
n É eficiente no controle do mandarová da mandioca.

3. Como utilizar
O baculovírus pode ser inicialmente obtido adquirindo-se o
inóculo de empresas, de outros agricultores ou a partir de
aplicações no campo, onde pode ser obtido de lagartas doentes.
Para se obter o inóculo a partir da aplicação do baculovírus em
áreas atacadas pelo mandarová, o agricultor deve coletar as
lagartas doentes que já estejam com o sintoma de perda de
movimentos, não respondendo quando tocada. As lagartas
recém-mortas podem ser coletadas, porém o agricultor deve
tomar cuidado para não coletar lagartas que estejam com
sintomas de contaminação por bactérias, ou seja, que estejam
escurecidas. A coleta de lagartas em fase inicial da doença
também não é recomendada, pois diminui a viabilidade e
qualidade do produto.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 117

Após a coleta, as lagartas devem ser lavadas em água corrente


e, posteriormente, armazenadas em freezer, inteiras ou
esmagadas (maceradas); neste caso, acrescenta-se um pouco
de água e, posteriormente, coa-se com auxílio de tecido tipo gaze
dobrada várias vezes, a fim de obter uma calda sem restos do
inseto. A maceração pode ser manual ou feita em liquidificador ou
processador. Esta calda produzida poderá ser aplicada
imediatamente ou armazenada em frascos no freezer, para uso
na próxima safra. Recomenda-se dividir a calda em várias
dosagens menores correspondente àquela a ser usada
futuramente. Quando bem armazenado, o vírus poderá
permanecer viável por mais de 3 anos, sem perda de qualidade.
A dosagem ideal a ser utilizada depende muito da qualidade da
calda; de forma generalizada, recomenda-se de 50 mL a 100 mL
por hectare. No momento da aplicação, alguns cuidados devem
ser observados:
a) Aplicar quando as lagartas estiverem pequenas na
lavoura.
b) Descongelar o vírus somente no momento da aplicação.
c) Manter uniforme a pressão do pulverizador e a velocidade
da aplicação, e direcionar o bico de forma a obter
molhamento uniforme das folhas.
d) Dissolver a dose do vírus a ser utilizada em água e filtrar
(coar) a mistura antes de colocá-la no pulverizador.
e) Verificar o pH da calda, que deve ser ácido.
f) Fazer a aplicação no final da tarde ou à noite, pois o vírus é
sensível à luz ultravioleta (sol forte), o que permite que a
lagarta se alimente durante a noite e até o meio da manhã
seguinte sem que haja perda da atividade do vírus.
118 DOCUMENTOS 122

4. Onde obter mais informações


Publicação:
Mais dicas para aplicação do baculovírus como controle do
mandarová: https://bit.ly/2QW4nOL

Instituições:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Embrapa Mandioca e Fruticultura
http://www.embrapa.br/mandioca-e-fruticultura
Fone: (75) 3312-8048
Cruz das Almas, BA
Tecnologias para a Agricultura Familiar 119

Foto: Vanda Pietrowski


Lagartas de mandarová com colorações diferentes.

Foto: Thaína Sanches

Material preparado e congelado com Baculorivus erinnyis.


Foto: Vanda Pietrowski 120 DOCUMENTOS 122

Foto: Vanda Pietrowski


Foto: Vanda Pietrowski

Fase da infestação com Fase da infestação com


mais vírus extracelular. mais vírus ocluso “protegido”.
Inóculo não adequado. Inóculo adequado.
Foto: Vanda Pietrowski

Fase final da infecção com presença de bactérias


secundárias. Inóculo não adequado.
121

Controle Biológico de Insetos


Harley Nonato de Oliveira

1. O que é
O controle biológico é uma tecnologia que consiste na regulação
da população de insetos-praga através do uso de inimigos
naturais, que podem ser outros insetos benéficos, tais como,
predadores e parasitoides, ou microrganismos, como fungos,
vírus e bactérias.

2. Benefícios e/ou vantagens


n O controle biológico apresenta maior especificidade, ou seja,
menor risco de atingir organismos não alvo.
n Não deixa resíduos químicos em alimentos, água e solo.
n Não há período de carência entre a liberação do inimigo
natural e a colheita.
n Não provoca o surgimento de populações de pragas
resistentes.
n Não afeta outras táticas de controle.
De outra forma, tem ação mais lenta, requer mais tecnologia,
uma vez que a sua utilização deve estar associada a uma fase
específica do inseto-praga, e nem sempre pode ser utilizado em
qualquer condição climática.

3. Como utilizar
Antes de tudo, o produtor deve estar ciente de que uma série de
agentes naturais está presente no campo, contribuindo para
diminuir a população de insetos-praga na cultura implantada. No
122 DOCUMENTOS 122

entanto, muitos deles apresentam tamanho diminuto, sendo de


difícil visualização, e o seu efeito benéfico muitas vezes não é
percebido pelos agricultores. Assim, um dos primeiros cuidados
que se deve ter é dar a esses amigos ocultos condições para que
eles atuem, preservando-os e/ou incrementando-os, por meio de
manipulação do ambiente de maneira favorável a eles. Isso pode
ser realizado quando se utiliza práticas como plantio direto,
preservação de áreas cobertas por vegetação nativa nas
proximidades dos campos cultivados, redução do uso de
defensivos agrícolas nas lavouras, entre outras; ou seja, práticas
que contemplam a sustentabilidade ambiental e que promovam a
biodiversidade no agroecossistema, favorecendo, assim, a
manutenção de inimigos naturais na área.
Outra maneira de utilização dessa técnica é por meio do uso de
parasitoides e predadores, que são criados em grande
quantidade em laboratórios. Normalmente, são de empresas
especializadas na criação e comercialização, sendo então
liberados para o controle da praga alvo (ex.: o parasitoide Cotesia
flavipes para o controle da broca-da-cana; Trichogramma
pretiosum para a traça do tomateiro e a falsa-medideira). Pode-
se, ainda, realizar pulverizações com fungos, vírus, etc. (ex.:
Metarhizium anisopliae para controle de cigarrinha na cana-de-
açúcar; Baculovirus anticarsia para a lagarta da soja, Anticarsia
gemmatalis, etc.).
É importante destacar que, para se ter essas vantagens quando
se realiza a liberação de inimigos naturais nas áreas, deve-se
buscar bons fornecedores, que primam pela qualidade do
produto oferecido/disponibilizado, e atentar para as quantidades
e épocas de liberação.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Aplicativo Guia InNat: https://bit.ly/2DqGVBi
Tecnologias para a Agricultura Familiar 123

Publicações:
Amigo oculto do agricultor: https://bit.ly/2XZbWFN
Recomendações para obter um controle biológico mais eficaz da
broca-da-cana-de-açúcar: https://bit.ly/34DPpRH
Controle Biológico de Insetos-Praga na Soja:
https://bit.ly/34rBw8Q
Espaço temático da Embrapa: Controle biológico:
https://www.embrapa.br/tema-controle-biologico
Prosa Rural: Benefícios do controle biológico de pragas:
https://bit.ly/2sitZei

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS

Foto: Harley Nonato de Oliveira

Trichogramma galloi parasitando ovos da broca-da-cana.


124 DOCUMENTOS 122

Foto: Harley Nonato de Oliveira

Cotesia flavipes parasitando lagarta da broca-da-cana.


Foto: Harley Nonato de Oliveira

Percevejo Podisus nigrispinus predando lagarta falsa-medideira.


125

Caldas e Biofertilizantes – Proteção


das Plantas na Agricultura Orgânica
Ivo de Sá Motta

1. O que é
As caldas (bordalesa, sulfocálcica e Viçosa) e os biofertilizantes
são importantes insumos agrícolas, também denominados
fertiprotetores. Além de fornecerem nutrientes às plantas,
contribuem para o controle de fitoparasitas (pragas e doenças). A
utilização desses “defensivos alternativos” é permitida pelas
normas de produção orgânica. São considerados como medidas
terapêuticas complementares, dentro de uma estratégia mais
ampla, que é o manejo ecológico de pragas e doenças. Apesar de
serem insumos de baixa toxicidade, para sua manipulação
devem ser utilizados equipamentos de proteção individual
(EPIs).

2. Benefícios e/ou vantagens


n Controle ou redução da incidência de fitoparasitas (pragas e
doenças).
n Diminuição das deficiências nutricionais, contribuindo para a
saúde das plantas.
n Eliminação do uso de agrotóxicos, que têm potencial de
causar a contaminação ambiental, dos agricultores e
alimentos.
n Economia propiciada pelo uso dos produtos alternativos.
126 DOCUMENTOS 122

3. Como utilizar
Na agricultura orgânica, para a saúde das plantas, é fundamental
adotar uma estratégia de manejo que considere o sistema de
produção como um todo (visão sistêmica). Portanto, para o
controle de pragas e doenças, antes de tudo, é preciso
considerar a saúde do solo, que envolve um manejo adequado,
onde algumas práticas são fundamentais: rotação de culturas,
adubação verde, plantas de cobertura, cobertura morta
(mulching), plantio direto, cultivo mínimo, biofertilizantes,
adubação orgânica com composto e/ou húmus de minhoca e
adubação mineral complementar (solo sadio = planta sadia).
Ainda, na visão sistêmica, para proteção das plantas, o controle
de fitoparasitas compreende também um conjunto de práticas a
serem utilizadas de forma integrada: controle biológico, controle
físico (armadilhas), práticas culturais (época de plantio,
variedades resistentes, catação, etc.) e o controle alternativo
(extratos vegetais diversos, preparados homeopáticos, caldas,
biofertilizantes, entre outros).
A seguir são abordados aspectos gerais relacionados à utilização
de caldas e biofertilizantes.

Calda bordalesa
É um insumo muito utilizado na agricultura orgânica, por causa
de sua baixa toxicidade e alta eficiência, principalmente em
controlar várias doenças causadas por fungos (míldio, ferrugem,
requeima, pinta-preta, cercosporiose, antracnose, manchas
foliares e podridões) em diversas culturas, tendo efeito
secundário contra bacterioses. Também tem efeito repelente
contra alguns insetos, tais como: cigarrinha-verde, cochonilhas,
tripes e pulgões. Existem formulações prontas do produto no
comércio; porém, pela facilidade de preparo, eficiência e
economia, compensa a sua preparação caseira.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 127

Calda sulfocálcica
É um produto eficiente, de custo relativamente baixo, preparado
com elementos que também são nutrientes para as plantas
(cálcio e enxofre). Em função de sua alta alcalinidade e
corrosividade, é um produto que deve ser manejado com os
devidos cuidados para não causar queima de plantas e corrosão
de equipamentos. Possui ação inseticida, acaricida e fungicida. É
uma calda mais trabalhosa para preparar, pois a solução com os
ingredientes precisa passar por fervura. Existem produtos
prontos encontrados no mercado; no entanto, a preparação
caseira pode ser mais econômica. Para medir a concentração da
calda depois de pronta, é necessário utilizar o areômetro. O
areômetro é um instrumento que mede a densidade de líquidos,
medida em graus Baumé (°Bé). Pode ser adquirido em casas de
revenda de equipamentos e materiais químicos.

Calda Viçosa
Esta calda foi desenvolvida pela Universidade Federal de Viçosa
(UFV) a partir da calda bordalesa. É recomendada para controle
de diversos fitopatógenos. Também funciona como adubo foliar,
porque sua composição contém sais à base de zinco, magnésio,
boro e cobre. Pode ser utilizada em várias culturas para
prevenção de diversas pragas, doenças e deficiências
nutricionais. Devem ser tomados os mesmos cuidados indicados
para a calda bordalesa. Apresenta excelente aderência às folhas
das plantas, dispensando o uso de espalhante adesivo. A ureia,
que compõe a fórmula original, não deve ser adicionada à
receita, pois não é permitida pelas normas de produção orgânica.

Biofertilizantes
São adubos orgânicos líquidos, resultantes da mistura de
materiais orgânicos e minerais, ricos em microrganismos vivos
(fungos, leveduras e bactérias). Podem conter estercos animais,
urina, farelos (arroz, trigo, soja, mamona), farinha de sangue, de
peixe e ossos, plantas verdes, leite integral ou soro, garapa,
melaço, cinzas, pós de rocha, sais de micronutrientes e água não
128 DOCUMENTOS 122

clorada. Passam por um processo simples de fermentação, que


pode ser aeróbico ou anaeróbico. Para auxiliar o processo de
fermentação, pode-se promover a aeração do líquido com a
utilização de compressor (bombinha) de aquário ou com a
utilização de uma pá de madeira. Pode-se também inocular
microrganismos, por exemplo EM caseiro (microrganismos
eficazes).
Recomenda-se a aplicação de biofertilizantes pelo aspecto
nutricional complementar, assim como pela fitoproteção
conferida. Os biofertilizantes fornecem macro e micronutrientes
às plantas, além dos microrganismos inoculados, tornando-as
mais resistentes às pragas e doenças. Os biofertilizantes podem
ser aplicados em pulverizações da parte aérea, no solo (ou
substrato) e/ou via fertirrigação. Existem diversas formulações:
supermagro, agrobio, hortibio, húmus líquido, extrato de
composto, biofertilizante Epagri, entre outros. Na escolha do
biofertilizante deve se considerar quais os materiais mais
acessíveis, assim como considerar as necessidades das plantas
alvo. Depois de coada, a parte sólida do biofertilizante pode ser
utilizada como adubo orgânico.
Conforme já ressaltado, na produção orgânica é necessária a
visão sistêmica, adotando-se o manejo ecológico integrado de
doenças e pragas. Para a saúde das plantas, a utilização de
caldas e biofertilizantes é complementar ao processo como “um
todo”, no qual o agricultor adota diversas práticas em conjunto,
tais como: diversificação, consorciação e rotação de culturas,
manejo da matéria orgânica do solo, nutrição mineral equilibrada
(com macro e micronutrientes), barreiras vegetais, cultivares
resistentes, extratos vegetais, controle biológico, sementes e
mudas sadias, entre outras.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 129

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Biofertilizantes e defensivos naturais para controle de pragas -
Dia de Campo na TV : https://youtu.be/WXD-BNDteb8

Publicações:
Calda bordalesa – utilidades e preparo: https://bit.ly/335eFjG
Calda sulfocálcica – preparo e indicações: https://bit.ly/33c1VYr
Calda Viçosa: https://bit.ly/2YbnoAg
Biofertilizantes: https://bit.ly/2Y9hxvm
Biofertilizante Hortbio®: propriedades agronômicas e instruções
para o uso: https://bit.ly/38EeLzX
Preparo e Uso de Biofertilizantes Líquidos:
https://bit.ly/335eSmY
Programa de fortalecimento da viticultura familiar da Serra
gaúcha – Biofertilizantes: https://bit.ly/2Wc5rkm
Tecnologias alternativas para o fortalecimento da agricultura
familiar na Serra gaúcha: https://bit.ly/3cQ1mrT

Instituição:

Embrapa Agropecuária Oeste


http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Foto: Ivo de Sá Motta 130 DOCUMENTOS 122

Produção de biofertilizante em bombona de 200 litros


com compressor de aquário para aeração.
131

Aproveitamento de Materiais
Orgânicos e Produção de
Húmus de Minhoca
Ivo de Sá Motta

1. O que é
São resíduos de origem animal e vegetal, transformados em
húmus por minhocas gigante-africana ou vermelha-da-califórnia
(com aeração e umidade adequados).

2. Benefícios e/ou vantagens


n Destinação adequada de materiais contaminantes.
n Reciclagem de matéria orgânica e nutrientes.
n Contribuição para a vivificação dos solos e nutrição das
plantas.
n Melhoria do aproveitamento da água no solo pelas plantas.
n Melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo.
n A produção pode ser feita a partir de resíduos locais.
O produto final, o húmus de minhoca, pode ser utilizado como
adubo orgânico, substrato para mudas e adubo líquido (húmus
líquido), utilizado via pulverização foliar, ou em adubação de
cobertura, feita com regador ou via fertirrigação.

3. Como utilizar
Para a produção de húmus de minhoca, o local não deve ser sujeito
a encharcamento, sendo necessária fonte de água próxima para
132 DOCUMENTOS 122

irrigação das leiras, fácil acesso e, de preferência, próximo aos


cultivos. Nesta área, depositam-se os resíduos orgânicos para a
montagem das leiras. Os materiais fibrosos devem ser triturados em
pedaços de 1 cm a 5 cm.
Na montagem das leiras, a dimensão final deve ser de 0,6 m de
largura da base; 0,5 m de altura e comprimento variável. Misturar
homogeneamente os resíduos que formarão as leiras. Materiais
vegetais, de alta relação carbono/nitrogênio (C/N), como folhas,
palhas e capins, devem ser misturados com materiais mais ricos em
nitrogênio, como estercos, camas de criações e restos de alimentos,
de baixa relação C/N. Os resíduos utilizados devem ser misturados
em proporção que componham uma relação C/N média em torno de
30/1.

Composição aproximada de alguns materiais utilizados

(1) P2O5 K 2O
Material Relação C/N N (%) (%) (%)

Esterco bovino 18/1 1,92 1,01 2,79


Capim-napier 62/1 0,80 0,25 1,74
(1)
Relação carbono/nitrogênio.

No período de pré-compostagem (aproximadamente 15 dias), a


leira deve ser irrigada até atingir 50% a 60% de umidade (ao apertar
o material na palma da mão com pressão média forma um torrão que
se desmancha facilmente). Colocar 500 g de minhocas por metro
cúbico. Após colocadas as minhocas, aumentar a umidade para
60% a 70%, podendo ser utilizada a tripa de irrigação. Cobrir as
leiras com palha. Se necessário, pode-se proteger as leiras, de aves
e excesso de calor, com telas sombreadoras (túneis baixos). Após
50 a 60 dias, o húmus de minhoca estará pronto e deverá ser
armazenado em local protegido do sol e da chuva, para evitar
perdas de nutrientes.
Dependendo da exigência da cultura, condição do solo e
composição do húmus, pode-se utilizar, em média, 2 kg a 8 kg por
metro quadrado de canteiro, na horta; e para espécies frutíferas
Tecnologias para a Agricultura Familiar 133

10 kg a 20 kg por cova no plantio, e 10 kg a 30 kg em superfície,


como adubação de manutenção, dependendo da espécie, idade e
produtividade da planta. Para informação mais precisa, são
necessárias a análise química do solo e do composto e a
recomendação de adubação de um engenheiro-agrônomo.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Húmus líquido: https://youtu.be/76W7ClGThmA

Publicações:
Preparo e uso de húmus líquido: opção para adubação orgânica
em hortaliças: https://bit.ly/38H9yas
Húmus líquido: adubação orgânica líquida visando a transição
agroecológica: https://bit.ly/3cRApTF

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
134 DOCUMENTOS 122
Foto: Ivo de Sá Motta

Leiras de vermicompostagem com tripa de irrigação.


135

Compostagem
Ivo de Sá Motta e
Walder Antonio Gomes de Albuquerque Nunes

1. O que é
É um processo em que resíduos de origem animal e vegetal são
transformados em composto (adubo orgânico) por
microrganismos, principalmente fungos, bactérias e
actinomicetos.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Destinação adequada de passivos ambientais.
n Reciclagem de matéria orgânica e nutrientes.
n Melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo.
n Contribuição para diversificar a presença de organismos
benéficos no solo e na nutrição das plantas.
n Melhoria do aproveitamento da água no solo pelas plantas.
n Produção a partir de resíduos locais.
n O produto final, o composto, pode ser utilizado como adubo
orgânico, substrato para mudas e adubo líquido (chá de
composto) utilizado em cobertura.

3. Como utilizar
Na escolha do local para a produção de composto, é desejável
que seja semissombreado, com árvores esparsas (para evitar o
maior consumo de água), não sujeito a encharcamento, porém
com disponibilidade de água para irrigação da pilha/leira, além
136 DOCUMENTOS 122

de fácil acesso e próximo aos cultivos. Nesta área serão


depositados os resíduos orgânicos (por ex.: palhas e estercos)
para montagem das pilhas.
Na montagem das pilhas, de formato trapezoidal, a dimensão
final deve ser de 2 m de largura da base; 1,5 m de altura e
comprimento variável. Recomenda-se alternar camadas de
materiais vegetais (folhas, palhas, capins, serragens, etc.), de
alta relação carbono/nitrogênio (C/N), com materiais mais ricos
em nitrogênio (baixa relação C/N), como estercos, camas de
criações, restos de alimentos, entre outros.
A proporção a ser utilizada é de 3:1, formando camadas com
espessura de 30 cm de palhas e camadas com 10 cm de esterco.
Os materiais fibrosos devem ser triturados em pedaços de 1 cm a
5 cm. Na montagem da pilha, cada camada deve ser irrigada até
atingir 50% a 60% de umidade (ao apertar o material na palma da
mão, com pressão média, começa a formar água, mas não chega
a escorrer). É necessário que haja contato entre os materiais
utilizados nas camadas, porém a pilha não pode ser
compactada, pois os microrganismos decompositores
necessitam de aeração.
Para enriquecimento do material, pode-se adicionar nutrientes
de origem mineral, tais como fosfato natural ou termofosfato
magnesiano, na quantidade de 1%. Para proteger a pilha de
chuvas fortes e raios solares é importante cobrir a pilha com
palha. Irrigar a pilha sempre que necessário. Após,
aproximadamente, 10 a 15 dias, a pilha começa a esquentar e,
em condições normais, atinge 60 °C a 70 °C (com uma barra de
ferro de construção, com comprimento de 70 cm, inserir no
centro da pilha para verificação da temperatura. O ideal é que
esteja aquecido de forma que não seja possível segurar com a
mão). O aquecimento da pilha é indicativo da atividade dos
microrganismos, que liberam energia na forma de calor durante a
decomposição.
Revirar a pilha a cada 15 dias, repetindo três vezes, para agilizar
e melhorar o processo, bem como corrigir a umidade (no interior
da pilha), temperatura, aeração e uniformização dos materiais.
Para montar e revirar a pilha, utiliza-se o forcado reto e curvo.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 137

Dependendo dos materiais utilizados, pode-se obter o produto


pronto com aproximadamente 90 dias. O aspecto do produto final
é cor escura marrom-café, cheiro agradável de terra de mato,
aspecto gorduroso e consistência friável. Depois que o composto
ficar pronto, deve-se utilizá-lo logo em seguida, ou então, quando
possível, armazená-lo protegido do sol e da chuva, para evitar
perdas de nutrientes.
Dependendo da exigência da cultura, condição do solo e
composição do composto, para se ter uma referência
aproximada, pode-se utilizar, em média, em torno de 2 kg a 8 kg
por metro quadrado de canteiro na horta; para espécies
frutíferas, 10 kg a 20 kg por cova no plantio e de 10 kg a 30 kg em
superfície como adubação de manutenção, dependendo da
espécie, idade e produtividade da planta. Para informação mais
precisa, é necessária a análise química do solo e do composto,
bem como a recomendação de adubação fornecida por um
técnico ou engenheiro-agrônomo.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Dia de campo na TV - Compostagem manejo e utilização na
agricultura orgânica: https://youtu.be/dp8L1yTK2-k

Publicações:
Instruções práticas para produção de composto orgânico em
pequenas propriedades: https://bit.ly/33cpgJO
Adubação no sistema orgânico de produção de hortaliças:
https://bit.ly/339R7tX
Fertilidade do solo e nutrição de plantas: https://bit.ly/36VhhDg
Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
138 DOCUMENTOS 122

Ilustração: Ivo de Sá Motta

Modelo esquemático de pilha de


compostagem com camadas
alternadas de diferentes resíduos.

Composição aproximada de alguns materiais empregados no


preparo do composto (resultados em material seco a 110 °C).

(1) P2O5 K 2O
Material C/N N (%)
(%) (%)

Capim Napier 62/1 0,80 0,25 1,74


Crotalaria juncea 26/1 1,95 0,40 1,81
Esterco bovino 18/1 1,92 1,01 2,79
Esterco galinha 10/1 3,04 3,70 1,89
Milho palhas 112/1 0,48 0,38 1,64
Palha feijão 32/1 1,63 0,29 1,94
Palha café 38/1 1,37 0,26 1,96
(1)
Relação carbono/nitrogênio.
Fonte: adaptado de Kiehl (1985).

Referência
KIEHL, E. J. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba: Agronômica Ceres, 1985.
492p.
139

Piscicultura Familiar
Luís Antonio Kioshi Aoki Inoue, Ricardo Borghesi,
Tarcila Souza de Castro Silva e Erika do Carmo Ota

1. O que é
Criação racional de peixes favorecendo ou não a produção
natural de alimentos por meio de adubação (água verde) e o
fornecimento de ração.

As instalações podem ser de variadas dimensões e volume


d´água. As estruturas devem ser bem planejadas para facilitar o
manejo dos peixes e o melhor aproveitamento da área. A
produção pode ter destinação para indústria, mas, nesse caso,
pode haver exigências específicas das instalações e manejo, tais
como viveiros com sistemas de drenagem tipo monge (para
esgotamento rápido), caixa de coleta de peixes, etc.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Diversificação das atividades.
n Geração de renda.
n Produção de proteína animal de alta qualidade para as
famílias.
n Aproveitamento dos resíduos (efluentes e sedimentos) em
culturas agrícolas.
n Possibilidade (se bem manejada) da preservação de mata
ciliar e de áreas de mananciais.
140 DOCUMENTOS 122

3. Como utilizar
Para iniciar a atividade é indispensável conhecer as regulamen-
tações dos órgãos de fiscalização ambientais, por exemplo: o
Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul),
quanto ao uso dos recursos naturais e necessidade de obtenção
das licenças ambientais.
O tanque deve ser construído em local com água disponível,
preferencialmente com o abastecimento por gravidade.
A escolha da espécie a ser criada deve levar em consideração o
mercado no qual se pretende comercializar o produto e as
condições climáticas do local de criação. Destaca-se a
temperatura como fator importante, ou seja, utilizar a espécie de
peixe própria para a região. As fotos destacam as mais indicadas
para a região de Mato Grosso do Sul, pois crescem satisfato-
riamente, apresentam tolerância às condições de inverno e
possuem disponibilidade de alevinos no mercado.
Recomenda-se procurar a assistência técnica para obter
orientações a respeito da construção dos tanques, obtenção de
alevinos, alimentação, saúde e comercialização dos peixes.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Construção de viveiros escavados: https://bit.ly/384D5eq

Publicações:
Noções para piscicultura familiar – qualidade de água:
https://bit.ly/35r9o5u
Noções para piscicultura familiar – espécie, densidade:
https://bit.ly/2s667uQ
Noções para piscicultura familiar – aeração:
https://bit.ly/2Qya3Ol
Licenciamento ambiental : http://www.imasul.ms.gov.br
Tecnologias para a Agricultura Familiar 141

Instituições:

Embrapa Agropecuária Oeste


http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS

Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural


(Agraer)
http://www.agraer.ms.gov.br/
Fone: (67) 3318-5100
Campo Grande, MS
Foto: Ricardo Borghesi

Tanque escavado.

Foto: Ricardo Borghesi

Canal de abastecimento
de água por gravidade.
Foto: Tarcila S. C. Silva Foto: Luís Antonio Kioshi Aoki Inoue Foto: Luís Antonio Kioshi Aoki Inoue
142

Tilápia.
Pacu.

Cachara.
DOCUMENTOS 122
143

Poedeira Colonial Embrapa 051


Valdir Silveira de Avila, Elsio Antonio Pereira de Figueiredo,
Everton Luis Krabbe e Sabrina Castilho Duarte

1. O que é
A avicultura representa um segmento muito importante na
economia brasileira. Em se tratando mais especificamente da
avicultura de postura, o objetivo é a produção de ovos para a
alimentação da população. O ovo é um alimento completo, que
apresenta um balanço de nutrientes exclusivo, além de conter
propriedades naturais, que preservam o conteúdo interno até a
chegada à mesa do consumidor. A produção de ovos
diferenciada, com rastreabilidade e/ou certificação orgânica, tem
apelo competitivo no mercado, gerando maior renda aos
produtores.
Para a produção alternativa, a Embrapa desenvolveu a poedeira
Embrapa 051, que possui grande potencial de utilização, por
causa da melhor adaptação aos sistemas orgânicos e de base
ecológica (colonial, caipira, capoeira), criadas soltas, com ótima
capacidade de produção de ovos. As poedeiras coloniais
Embrapa 051 são galinhas híbridas, semipesadas, resultantes
do cruzamento entre linhas Rhode Island Red e Plymouth Rock
Branca, selecionadas e especializadas para produção de ovos
de mesa de casca marrom e, por serem rústicas, se adaptam
bem aos sistemas menos intensivos.

2. Benefícios e/ou vantagens


n A principal vantagem de utilizar as galinhas poedeiras
coloniais Embrapa 051, na produção de ovos em sistemas
alternativos, é a fácil adaptação dessa linhagem, aliada à boa
produtividade, alcançando viabilidade, no final da cria e recria,
de 99% e, ao final do período de produção, acima de 92%,
144 DOCUMENTOS 122

com 90 semanas de idade. O esperado, durante o período de


postura, é até 345 ovos por ave, com início na 20ª semana, e
pico de produção entre a 27ª e a 29ª semana de idade. A ave
produz ovos com peso médio de 57 gramas na 40ª semana.
n Os principais beneficiados pela criação da galinha são
agricultores familiares de todo o Brasil. A Poedeira Colonial
Embrapa 051 está disponível em praticamente todo o País,
por meio da empresa multiplicadora e seus distribuidores,
com a proposta de criação em sistemas semiconfinados para
produção de ovos com valor agregado e a possibilidade de
redução no custo inicial de investimento com instalações.

3. Como utilizar
O produtor deverá saber a procedência do material genético que
vai utilizar. As aves devem ser adquiridas de incubatórios
registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa). A vacinação é obrigatória contra a
doença de Marek, antes da expedição das aves de um dia.
Matrizes devem ser livres de enfermidades, tais como
salmonelose, micoplasmose, gumboro, bronquite infecciosa,
doença de Newcastle e encefalomielite aviária.
As aves podem contrair doenças de diversas formas: pelo
contato com outras aves de pátio; pelo contato com aves
silvestres resistentes a doenças, mas portadoras; pelo contato
com pessoas que carregam bactérias e vírus nos calçados e
roupas; pela água ou alimento contaminados e, inclusive, pela
reutilização de bandejas para ovos que circulam no comércio e
depois retornam para as granjas.
Por isso, a adoção de boas práticas de produção é extremamente
importante, como:
a) Usar tela nos galpões, com abertura máxima de 2,5 cm
(1 polegada).
b) Não permitir o acesso de outras aves e animais domésticos
nas instalações.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 145

c) Não permitir o acesso de pessoas estranhas dentro dos


aviários e piquetes.
d) Utilizar água e alimento isento de contaminação.
e) Adotar um bom programa de alimentação, com rações
balanceadas para todas as fases, pois representam 60% a
70% do custo de produção.
f) A água de bebida das aves deve ser limpa, fresca e com
características compatíveis às do consumo humano.
g) Adotar programa de luz apropriado, pois ele funciona como
estímulo para a preparação, amadurecimento do sistema
reprodutor e sincronização do início e da manutenção da
curva de produção.
h) Os ovos devem ser coletados, pelo menos, quatro vezes por
dia e armazenados imediatamente em salas frescas, arejadas
e adequadamente higienizadas.
i) Adotar um bom programa de vacinação, controle de
parasitos, roedores e outras pragas, como moscas e ácaros.
Devem ser levadas em consideração as realidades climáticas de
cada região. A construção deve ter por finalidade amenizar as
condições extremas. Por exemplo: em regiões muito quentes, o
aviário deve ter um pé direito mais elevado para permitir um
ambiente mais confortável para as aves. Em regiões frias, é
importante instalar cortinas duplas nas laterais dos aviários para
proteger as aves das baixas temperaturas. O local para a
construção também deve ser escolhido de forma a evitar solo
muito úmido (partes baixas), e ser mais elevado para propiciar
melhor ventilação.
A instalação de ninhos é indispensável para que as aves não
produzam ovos diretamente sobre o piso (cama), diminuindo a
quantidade de ovos sujos e, por consequência, contaminados.
Recomenda-se a instalação de poleiros, para que as aves
possam exercer seus hábitos naturais, reduzindo o estresse e,
consequentemente, favorecendo o bem-estar animal.
146 DOCUMENTOS 122

No momento da chegada das aves na propriedade o aviário deve


estar devidamente preparado. Todos os equipamentos deverão
ser testados anteriormente à chegada dos pintos para garantir
um ambiente apropriado. No caso dos aquecedores, estes
deverão ser ligados algumas horas antes da chegada das aves
para estabilizar a temperatura, aquecer a cama e áreas de piso
onde as aves permanecerão durante a cria. Os bebedouros e
comedouros deverão ser abastecidos com uma hora de
antecedência à chegada das aves. Manusear as pintainhas com
cuidado, mantendo-as junto à fonte de aquecimento e próximas
ao bebedouro e ração. Anotar o peso das aves e retirar os
refugos encontrados e destiná-los adequadamente.
Imediatamente após o alojamento, retirar todas as caixas de
papelão e o material de forração utilizados no transporte e
proceder a incineração.
O objetivo das boas práticas de manejo nas fases de cria e recria
das aves é possibilitar que o lote atinja a maturidade sexual na
idade adequada. O referencial mais utilizado é o controle do peso
corporal, o qual deve atingir uma uniformidade mínima de 80%.
Para tanto, devem ser considerados todos os cuidados ao longo
do desenvolvimento das aves, desde o preparo do pinteiro (local
de alojamento das pintainhas com 1 dia de idade), até o momento
em que elas atingem a idade de transferência para as instalações
de produção (13 a 16 semanas) e, posteriormente, durante todo o
período de produção de ovos da Poedeira Colonial Embrapa 051.
O produtor deve seguir as orientações contidas no manual de
manejo da linhagem. Contudo, antes de construir as instalações,
é importante consultar um técnico para buscar auxílio quanto à
escolha do melhor local.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Poedeira Embrapa 051: https://bit.ly/395Jeax
Produção de ovos em sistemas de base ecológica:
https://bit.ly/2Sbp8Vu
Tecnologias para a Agricultura Familiar 147

Produção de ovos em sistema orgânico: https://bit.ly/2umRPqP


Portaria nº 1 de 21 de fevereiro de 1990. Aprova as normas
gerais de inspeção de ovos e derivados, propostas pela
Divisão de Inspeção de Carnes e Derivados – DICAR:
https://bit.ly/2VOClp2
Manual de segurança e qualidade para a avicultura de postura:
https://bit.ly/2RYHyKz

AVILA, V. S. de; KRABBE, E. L.; CARON, L.; SAATKAMP, M. G.;


SOARES, J. P. G. Produção de ovos em sistemas de base
ecológica. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2017. 32 p.
Instituição:
Embrapa Suínos e Aves
https://www.embrapa.br/suinos-e-aves
Fone: (49) 3441-0400
Concórdia, SC
Foto: Levino J. Bassi

Poedeira Colonial Embrapa 051.


148

Ilustração: Amadeu G. Mascelani


Sistema de produção de ovos com rodízio de piquetes.
Fonte: Avila et al. (2017).
DOCUMENTOS 122
149

A Meliponicultura em
Mato Grosso do Sul
Jovelina Maria de Oliveira e Eliel Souza Freitas Júnior

1. O que é
Meliponicultura é o nome dado à criação racional de abelhas
nativas (Meliponíneos), especialmente dos gêneros melípona e
trigona, também chamadas de abelhas sem ferrão ou abelhas
indígenas.
As abelhas nativas já foram abundantes em todos os biomas do
estado de Mato Grosso do Sul (MS). No entanto, a supressão da
vegetação nativa para implantação de culturas em grande escala
tem levado a uma progressiva destruição dos locais de
nidificação, colocando em risco de extinção as espécies nativas.
A diversidade ambiental do estado permite a existência de uma
grande diversidade de espécies. Estudos realizados mostram
que, apesar da destruição dos habitats destas abelhas, ainda são
encontradas em Mato Grosso do Sul mais de 30 espécies de
meliponídeos.

2. Benefícios e/ou vantagens


n As abelhas nativas são as principais polinizadoras das
espécies florais tropicais, participando com 40% a 90% na
reprodução das plantas nativas, um dos principais benefícios
para a agricultura.
n Sua criação pode contribuir diretamente para a melhoria da
renda familiar através da comercialização de colônias e de
seus produtos (mel, própolis, pólen) e com o aumento
significativo da produção (grãos, frutas), por meio da
polinização das culturas agrícolas.
150 DOCUMENTOS 122

3. Como utilizar
A criação racional de abelhas nativas envolve tanto o uso de
colmeias padronizadas, que permitem o conforto para a colônia,
quanto a adoção de boas práticas de produção, assim como o
respeito à legislação vigente.
O levantamento inicial feito pela Agência de Desenvolvimento
Agrário e Extensão Rural (Agraer), em 2019, com 14 criadores,
localizados nos municípios de Campo Grande, Aquidauana,
Jaraguari, Dois Irmãos do Buriti, Bela Vista e Três Lagoas,
evidenciou que em MS são criadas mais de 30 espécies,
perfazendo um total de mais de 800 colmeias. As principais
espécies criadas estão descritas a seguir.
Jataí (Tetragonisca fiebrigi e T. angustula) – É uma abelha
rústica e pode ser encontrada com facilidade tanto no meio rural
quanto na zona urbana, pois tem grande capacidade para fazer
ninhos (nidificação) e sobreviver em diferentes ambientes.
A Jataí constrói sua entrada em forma de tubo, com o uso de cera.
Já o mel da Jataí, além de saboroso e suave, é procurado por
suas propriedades medicinais. Além do mel, a Jataí produz
própolis, cera e pólen de boa qualidade.
É uma excelente polinizadora do morango. As principais plantas
atrativas para Jataí são: alecrim-do-campo, alecrim-de-vassoura
(Bidens segetum); angelim-do-campo, angelim (Andira humilis);
copaíba, copaúba (Copaifera langsdorffii); estoraque (Styrax
ferrugineum); fedegoso, amarelinho (Senna rugosa); murici,
murici-miúdo (Byrsonima intermedia); pau-paratudo, unha-
d'anta (Acosmium dasycarpum); picão ou picão-de-cipó (Bidens
gardneri); e sucupira (Bowdichia virgilioides).
Manduri-do-Mato-Grosso (Melipona orbignyi) – A Manduri é
considerada uma das mais sensíveis à degradação e
descontinuação dos habitats, uma vez que a área de ação de voo
é de aproximadamente 800 metros, além de outros fatores como
a necessidade de locais amplos para a área do ninho.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 151

É uma abelha que, quando se sente ameaçada, defende-se com


suas mandíbulas, mordiscando a vítima.
As colônias são pouco populosas, tendo por volta de 500
indivíduos. Entretanto, em enxames fortes podem chegar a mil
indivíduos.
A entrada do ninho é feita com argila, em formato estriado,
passando apenas uma abelha de cada vez.
Considerando a população, é uma grande produtora de mel.
Produz, em média, 3 litros por safra.
Canudo/Mandaguari (Scaptotrigona depilis/S. postica) – As
abelhas Mandaguari são abelhas bastante defensivas, com
população entre dois mil e cinco mil indivíduos.
A entrada do ninho é feita de cerume mais claro, em forma de
funil. Os discos de cria são protegidos por cerume e envolvidos
pelos potes de alimento.
São boas produtoras de mel e excelentes produtoras de própolis.
Podem chegar a produzir 3 litros de mel por temporada,
dependendo da oferta de alimento na região.
Marmelada (Frieseomelitta varia) – A abelha Marmelada é
bastante defensiva, quando ameaçada. Uma das formas de
defesa é o depósito de própolis pegajoso sobre quem a
importuna, e sua colmeia é coberta com própolis depositado pela
própria abelha.
A cria é produzida em células que encostam levemente umas nas
outras ou são ligadas por cerume, formando grupos parecidos
com cachos de uva.
A Marmelada possui um mel muito saboroso, bastante denso e
viscoso. É uma excelente produtora de pólen, que é saboroso e
seco.
152 DOCUMENTOS 122

4. Onde obter mais informações


Vídeos:
Dedê e o Mel: https://bit.ly/3b2e1H5
A importância das abelhas sem ferrão – Programa Rio Grande
Rural: https://youtu.be/np2isGsFvg4
Meliponicultor ipatinguense cria abelhas sem ferrão em casa e
destaca benefícios: https://youtu.be/A5xRo5HEsVI

Publicações:
Abelhas e sua importância para a agricultura e manutenção da
vida: https://www.embrapa.br/meio-norte/abelhas
S.O.S Abelhas sem ferrão:
http://sosabelhassemferrao.com.br/site/

Instituições:
Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural
(Agraer)
http://www.agraer.ms.gov.br
Fone: (67) 3318-5100
Campo Grande, MS

Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal


(Iagro)
http://www.iagro.ms.gov.br/
Telefone: (67) 3901-2717
Campo Grande, MS

Embrapa Meio-Norte
https://www.embrapa.br/meio-norte
Telefone: (86) 3198-0500
Teresina, PI
Tecnologias para a Agricultura Familiar 153
Foto: Eliel Souza Freitas Júnior

Entrada de
abelha Jataí
(Tetragonisca
fiebrigi).

Foto: Eliel Souza Freitas Júnior


Entrada de
abelha
Mandaguari
(Scaptotrigona
depilis).
Foto: Eliel Souza Freitas Júnior

Entrada de
abelha Manduri-
pantaneira
(Melipona orbignyi).
Foto: Eliel Souza Freitas Júnior

Entrada de abelha
Marmelada-amarela
(Frieseomelitta varia).
Foto: Eliel Souza Freitas Júnior
154 DOCUMENTOS 122

Foto: Eliel Souza Freitas Júnior


Entrada de abelha Marmelada-
amarela (Frieseomelitta varia).

Ninho de abelha Marmelada-


amarela.
Foto: Eliel Souza Freitas Júnior

Foto: Eliel Souza Freitas Júnior

Entrada de abelha Manduri


(Melipona orbignyi).

Ninho de abelha Manduri.


155

Aquaponia
Luís Antonio Kioshi Aoki Inoue, Tarcila Souza de Castro Silva e
Oscar Fontão de Lima Filho

1. O que é
Aquaponia é a integração da aquicultura à produção vegetal,
para o melhor aproveitamento dos recursos naturais água,
plantas e peixes. O princípio básico de funcionamento é o
equilíbrio das quantidades de peixes, ração fornecida e plantas,
de modo a manter ativas as populações de bactérias do ciclo do
nitrogênio (naturalmente presentes no ambiente aquático), que
ficam aderidas em substratos como grãos de argila expandida
e/ou pedras (= seixos rolados). A isso se denomina mídia
filtrante, que pode estar contida em recipientes como bombonas
de 200 L. A filtragem biológica propicia, então, que os resíduos
dos organismos aquáticos sejam insumos para o crescimento de
plantas.
A aquaponia é diferente da hidroponia, que é a produção vegetal
por meio da nutrição das plantas em água enriquecida com sais
(produtos químicos), especificamente manipulados.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Menor consumo de água na produção de alimentos.
n Até 98% da água no sistema pode ser reaproveitada
continuamente.
n A produção de alface pode consumir até 200 vezes menos
água do que na produção convencional, em solo.
n As plantas “limpam” a água para os peixes, permitindo a sua
reutilização, reduzindo consideravelmente a geração de
156 DOCUMENTOS 122

efluentes de piscicultura; ainda assim, se gerados, podem ser


utilizados para irrigação de plantios em vasos ou diretamente
no solo.

3. Como utilizar
Os sistemas de aquaponia podem ser construídos em diversos
tamanhos e com materiais oriundos de muitas atividades, como
restos da construção civil (caixas d'águas, tubos e conexões).
Bombas submersas de aquários (2.000 L/h) podem ser
compradas na internet a preços razoáveis.
De modo geral, um tanque de 1.000 L comporta de 15–20
peixes/m3. O fornecimento de 50 g de ração por dia aos peixes
libera na água nutrientes para 20–25 plantas (as proporções
aumentam ou diminuem, dependendo do caso).
A manutenção do sistema requer alimentação diária dos peixes,
remoção dos restos de ração e fezes. Também é necessária a
verificação e controle de vazamentos de água, além de limpeza
periódica (pelo menos uma vez por semana) do sistema, como
sifonagem e esfregar as paredes com esponja ou escova.

4. Onde obter mais informações


Vídeos:
Aquaponia – produção integrada de peixes e hortaliças:
https://www.youtube.com/watch?v=FW8XRUXhcZI
Aquaponia MS: https://www.youtube.com/aquaponiams

Publicação:
Montagem e Operação de um Sistema Familiar de Aquaponia
para Produção de Peixes e Hortaliças: https://bit.ly/2MT53lj
Tecnologias para a Agricultura Familiar 157

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Foto: Luís Antonio Kioshi Aoki Inoue

Sistema de aquaponia doméstica: caixa de 1.000 L para estocagem de


peixes; bomba submersa (2.000 L/h) leva água da caixa ao tambor de
100 L, preenchido com pedras, argila expandida ou mídias de filtro
biológico, parte da água retorna diretamente para a caixa dos peixes e
parte da água abastece a bancada de plantas.
159

Algodão Colorido
Fernando Mendes Lamas

1. O que é
O algodão naturalmente colorido tem origem na América antiga,
onde tecelões já fiavam e teciam os algodões de cores marrom e
verde, desde sua domesticação há 4.500 anos. Esse tipo de
algodão tinha fibras curtas e fracas, que não serviam para a
fabricação de fios e tecidos. Por isso, pesquisadores da Embrapa
e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) trabalharam para
criar uma planta com pluma colorida, que pudesse ser
aproveitada na indústria têxtil. Para dar mais resistência e
aumentar o comprimento das fibras, os pesquisadores fizeram o
cruzamento de cultivares de algodão de fibra branca de boa
qualidade com tipos silvestres, existentes na natureza e com
qualidade inferior, mas que tinham a fibra colorida. Assim, surgiu
o algodão colorido da Embrapa, um produto diferenciado para o
mercado de consumo natural, que respeita o meio ambiente, a
saúde do homem do campo e o consumidor.

2. Benefícios e/ou vantagens


n A partir das diferentes tonalidades de fibra, são confeccio-
nados roupas, acessórios e artesanatos. Isso possibilita a
articulação de uma cadeia produtiva que vem contribuindo
para a sustentabilidade da agricultura familiar e do artesanato
em diversas regiões do Brasil, incluindo Mato Grosso do Sul.

3. Como utilizar
O cultivo do algodoeiro colorido pelos agricultores familiares
deve ser feito de forma organizada e com visão de cadeia
produtiva. Para isso, é fundamental que os produtores estejam
160 DOCUMENTOS 122

organizados em associações. Por exemplo, em Mato Grosso do


Sul, a Associação da Escola Família Agrícola da Fronteira (Aefaf),
que possui uma pequena produção de algodão colorido, já está
associada à Cooperativa Central Justa Trama, que compõe a
maior cadeia produtiva no segmento de confecção da economia
solidária, articulando 600 cooperados/associados. Fibras de
algodão naturalmente coloridas dispensam o uso de corantes
químicos, por isso não poluem o meio ambiente. Em geral, o
algodão colorido também é produzido de forma orgânica, sem o
uso de insumos e fertilizantes químicos.
Informações para implantação da cultura:
a) Época de semeadura: o algodoeiro colorido deve ser
semeado entre novembro e dezembro.
b) Espaçamento: o espaçamento entre fileiras deve ser de
0,80 m a 0,90 m com seis a oito plantas por metro. No caso
de semente com línter, utilizar de 12 a 15 sementes por
metro; sementes deslintadas, de oito a dez sementes. Se
for necessário, realizar o desbaste deixando de seis a oito
plantas por metro. Quando necessário, o desbaste deve ser
realizado entre 20 a 25 dias após a emergência.
c) Cultivares: IAC FC1 e IAC FC2 são cultivares que produzem
fibra de cor caqui. Pela Embrapa estão disponíves
cultivares que produzem fibra de diferentes tonalidades,
que vão do verde-claro aos marrons: claro, escuro e
avermelhado. Informações sobre sementes de algodão
colorido das cultivares desenvolvidas pela Embrapa podem
ser obtidas em quaisquer unidades da Embrapa.
d) Adubação: o algodoeiro deve ser cultivado em solo
corrigido, sem impedimento ao crescimento das raízes. A
adubação com nitrogênio, fósforo e potássio deve ser
realizada tendo como referência os resultados da análise
química do solo. O algodoeiro é muito exigente em boro.
Recomenda-se a aplicação de boro no sulco de
semeadura, em cobertura e via foliar, a partir do
florescimento.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 161

e) Plantas daninhas: especialmente, durante os primeiros 30


dias após a emergência, o algodoeiro deve ser mantido
livre da interferência de plantas daninhas. O controle
destas pode ser com enxada, cultivador ou químico. Deve
ser evitado o uso de cultivador após o florescimento. O
controle químico, quando necessário, deve ser feito
somente mediante orientação de um técnico.
f) Pragas: para o controle de pragas, é fundamental que
sejam realizadas amostragens, duas vezes por semana,
para que se tenha conhecimento das pragas existentes e o
nível populacional das mesmas. O método de controle
deve ser definido com o apoio de um técnico.
g) Colheita: é uma operação importantíssima, pois a
qualidade do algodão pode ser prejudicada durante o
processo de colheita. Feita manualmente, é extremamente
onerosa, em razão da elevada necessidade de mão de
obra. Um colhedor que prima pela qualidade do produto
apanha cerca de 45 kg a 60 kg de algodão em caroço, por
dia. O saco utilizado para colheita deve ser de tecido de
algodão, para que o algodão colhido não seja contaminado
com pedaços de saco (quando se utilizam sacos de tecido
sintético ocorre contaminação da pluma). Para se realizar
uma boa colheita e se obter algodão em caroço dos tipos
“superior” e “bom”, além dos cuidados com a lavoura,
como controlar adequadamente pragas, doenças e
plantas daninhas, o produtor deve seguir os seguintes
procedimentos: a) colher o algodão colocando-o
rapidamente no saco de colheita, não deixando o produto
na mão por muito tempo; b) não colher capulhos atacados
por pragas ou doenças, pois comprometem a qualidade
final do produto, reduzindo seu tipo; c) colher no seco; e
d) caso ocorram plantas daninhas cujas estruturas fiquem
aderidas à fibra, como carrapicho e picão-preto, deve-se
proceder a eliminação destas plantas daninhas no campo
antes da colheita.
162 DOCUMENTOS 122

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Algodão colorido – um produto desenvolvido pela Embrapa
para preservar o meio ambiente e gerar renda para o agricultor
familiar: https://bit.ly/2Y2IGzX
Algodão – 500 perguntas, 500 respostas:
https://bit.ly/2VCJV7E
Algodão colorido: https://bit.ly/2VWt7XZ
Algodão colorido – “Tecnologia Embrapa para a geração de
emprego e renda na agricultura familiar do Brasil”:
https://bit.ly/3cWvKAb
Sistema de Produção para o Algodão Colorido BRS 200
Marrom para a Agricultura Familiar no Cerrado do Mato
Grosso, com Ênfase para a Adubação: https://bit.ly/2zuuWnB
Justa Trama – Fibra Ecológica: https://justatrama.com.br/

Instituições:

Embrapa Algodão
http://www.embrapa.br/algodao
Fone: (83) 3182-430
Campina Grande, PB
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS
Tecnologias para a Agricultura Familiar 163

Foto: Luiz Paulo de Carvalho


Aspecto visual da fibra da cultivar de algodão colorido
da Embrapa, BRS Topázio.

Foto: Luiz Paulo de Carvalho

Aspecto visual da fibra da cultivar de algodão colorido


da Embrapa, BRS Safira.
164 DOCUMENTOS 122

Foto: Luiz Paulo de Carvalho

Aspecto visual da fibra da cultivar de algodão colorido


da Embrapa, BRS Rubi.
Foto: Luiz Paulo de Carvalho

Aspecto visual da fibra da cultivar de algodão colorido


da Embrapa, BRS 200 Marrom.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 165

Foto: Luiz Paulo de Carvalho


Aspecto visual da fibra da cultivar de algodão colorido
da Embrapa, BRS Jade.

Foto: Luiz Paulo de Carvalho

Aspecto visual da fibra da cultivar de algodão colorido


da Embrapa, BRS Verde.
Foto: Júlio Kondo. 166 DOCUMENTOS 122

Cultivar de algodão colorido IAC FC1,


fibra de cor caqui.
167

Produção de Flores
Ornamentais Tropicais
Francimar Perez Matheus da Silva, Liliane Aico Kobayashi
Leonel e Huberto Noroeste dos Santos Paschoalick

1. O que é
É a produção de flores e folhagens, originárias da região tropical,
destinadas à decoração de ambientes internos e externos. As
flores tropicais possuem características peculiares que as
diferenciam das demais, como exoticidade, coloração
contrastante e longevidade pós-colheita, que têm atraído cada
vez mais consumidores e aumentado o valor nos mercados
nacional e internacional.
Além do mercado de flores e folhagens de corte, que atende à
demanda do segmento de decoração com arranjos florais, entre
outros produtos, as plantas ornamentais tropicais também são
amplamente empregadas no segmento da jardinagem e do
paisagismo. A rusticidade de muitas espécies vem despertando o
interesse de produtores e empresários para a produção em
escala comercial.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Diversificação da produção e geração de renda na maior
parte do ano.
n Aumento das alternativas de cultivos consorciados.
n Geração de trabalho no campo.
n Durabilidade da espécie.
168 DOCUMENTOS 122

3. Como utilizar
Helicônia – No paisagismo e como flor de corte é uma das
principais espécies com demanda crescente e possui várias
espécies originárias do Brasil. Existem plantas de todos os portes.
Conforme a variedade, a inflorescência pode ser pendente ou
ereta e estar em um único plano ou em mais de um plano. No sul
de Mato Grosso do Sul, a maioria da produção de flores inicia-se
na primavera, concentrando-se no verão. No período do inverno,
não há floração.
Bastão do imperador – No paisagismo e como flor de corte, vem
conquistando o mercado no Brasil, por causa de sua rusticidade e
tipo de inflorescência. Algumas são semelhantes a uma tulipa e
outras de forma cônica piramidal, com as cores branca, porcelana,
rosa e vermelha. Na culinária, podem ser utilizadas as flores e os
brotos.
Alpínia – Excelente espécie, usada tanto no paisagismo (planta
ornamental), quanto na decoração de ambientes (folhas e flor de
corte). Apesar de não ser nativa do Brasil, adaptou-se bem na
região Centro-Oeste, em função de produzir inflorescências na
maior parte do ano. A comercialização de folha é da variedade
alpínia variegada.
Sorvetão – Esta planta pode ser utilizada no paisagismo, mas
requer uma barreira vegetal e sombreamento parcial para suas
folhas ficarem intactas e na tonalidade verde; porém, a
luminosidade é fundamental para produção da inflorescência.
Como flor de corte, o mercado é consolidado principalmente na
região Nordeste do Brasil. Essa espécie também é conhecida
como gengibre ornamental e como cotonete de elefante.
Musa ou Bananeira ornamental – A beleza da inflorescência
dessa planta, com diferentes cores das brácteas e infrutescência
ereta, vem conquistando mercado, principalmente na região
Nordeste do País. Em Pernambuco, as espécies de corte mais
produzidas são Musa ornata e M. coccinea e em Sergipe,
M. ornata e M. velutina.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 169

Cúrcuma – É originária das áreas tropicais e subtropicais do Norte


da Tailândia e do Camboja, onde as brácteas são usadas na
alimentação. Dentre as espécies com valor ornamental, destaca-
se a Curcuma alismatifolia. Em estudos recentes, realizados no
estado de Mato Grosso do Sul, constatou-se a viabilidade de
cultivo das variedades Siam Shadow, Snow White e Sunset para
produção comercial de flores de corte.
Calathea – No paisagismo, é interessante por ser planta perene e
de folhas grandes, com inflorescência em diferentes cores: azul,
branca, verde, amarronzada, etc. Como flor de corte, algumas
espécies apresentam grande potencial de mercado.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Flores e plantas ornamentais do Brasil – Volume 1:
https://bit.ly/2TCK2hk
Cultivo de flores tropicais: https://bit.ly/2VJxrvf

Introdução de cultivares de cúrcuma para produção de flores


de corte em Mato Grosso do Sul - Página 152:
https://bit.ly/3awJ64z
Instituição:
Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural
(Agraer)
http://www.agraer.ms.gov.br/
Fone: (67) 3423-3561
Dourados, MS
170 DOCUMENTOS 122
Foto: Liliane K. Leonel

Foto: Flávio de Oliveira Ferreira


Heliconia bihai.
Foto: Liliane K. Leonel

Arranjo floral com flores tropicais


(helicônias e sorvetão).

Foto: Francimar Perez Matheus

Musa-bronze.
Foto: Liliane K. Leonel

Cúrcuma.

Heliconia rostrata.
171

Cultivo de Antúrio
Flávio de Oliveira Ferreira e Francimar Perez Matheus da Silva

1. O que é
O antúrio, Anthurium andraeanum, é uma espécie tropical de
grande valor ornamental. É comercializado como planta de vaso,
para decoração de jardins e interiores, e como flor de corte.
A flor do antúrio, na verdade, é bem pequena, alcançando o
tamanho da cabeça de um alfinete. A parte colorida e exótica, que
normalmente achamos que é a flor, na verdade é uma
inflorescência, ou seja, o conjunto formado pela espádice – espiga
onde brotam as minúsculas flores - e espata do antúrio – a bráctea
colorida, ou a folha modificada. As verdadeiras flores do antúrio
são os pontinhos amarelos que brotam na espiga.
A planta se destaca pelo tamanho e colorido de suas espatas e
beleza de suas folhas.

2. Benefícios e/ou vantagens


n O antúrio é um dos principais produtos de exportação da
floricultura brasileira.
n Em Mato Grosso do Sul, a produção de flores, em geral, é
insignificante em relação a outros estados brasileiros; porém, o
estado possui condições de solo e clima excelentes para a
produção de flores tropicais e, assim, atender à demanda local.
n Para a implantação de cultivos, a demanda de área é pouca, o
que viabiliza sua implantação, bem como a diversificação
produtiva em pequenas propriedades; isso favorece a
ampliação de renda do produtor.
n A produção de antúrio é uma alternativa viável para a
agricultura familiar, pois, apesar de existirem sistemas
172 DOCUMENTOS 122

produtivos bem tecnificados, é possível produzir plantas de


vasos em condições mais rudimentares.

3. Como utilizar
Essa planta é muito utilizada no Brasil, por sua excelente
adaptação ao clima tropical e por possuir um ótimo aspecto.
Por ser originário das florestas tropicais da América do Sul, o
antúrio é sensível ao calor excessivo e ao sol. Portanto, o
cultivo deve ser implantado em locais sombreados ou
protegidos da incidência direta dos raios solares. Para a
produção, o plantio deve ser realizado em viveiro coberto com
malha preta, com 80% de sombreamento.
Os antúrios se adaptam a uma ampla faixa de solos, porém, de
preferência, nos bem drenados, porosos e com alto teor de
matéria orgânica. De maneira geral, recomenda-se o uso de
substratos leves, compostos por mistura de solos e matéria
orgânica, resíduos ou produtos disponíveis na região como o
bagaço de cana-de-açúcar, casca de arroz carbonizada e
esterco de bovino, entre outros. A saturação de bases deve ser
superior a 60% e o pH entre 5,2 e 6,0.
Tradicionalmente, utiliza-se a propagação vegetativa por
divisão de touceiras ou secção do caule. Porém, o mais
recomendado é a utilização de mudas provenientes de cultura
de tecidos ou micropropagação, por causa da melhor
sanidade e da garantia de maior uniformidade do plantio.
O transplante das mudas para o local definitivo deve ser
realizado com as raízes nuas (sem solo), de preferência no
início da estação quente, para favorecer o estabelecimento,
crescimento e desenvolvimento da planta. O espaçamento
entre plantas pode variar entre 0,25 m x 0,25 m e 0,50 m x
0,50 m, dependendo da variedade.
A adubação complementar deve ser realizada com adubos
orgânicos, de preferência. Entretanto, a adubação mineral
Tecnologias para a Agricultura Familiar 173

também pode ser adotada, principalmente com o uso da


fertirrigação.
Embora o antúrio seja uma cultura relativamente rústica, com
baixa incidência de pragas e doenças, podas de limpeza
devem ser realizadas regularmente para a remoção de folhas
velhas e doentes.
A colheita das flores deve ser feita quando a espata estiver
totalmente aberta e a espádice apresentar-se com metade a
três quartos do seu tamanho, com coloração modificada.
Flores colhidas, antes ou depois desse período, tendem a durar
menos. Na produção de plantas de vasos a comercialização,
obviamente, é favorecida no período de floração.
Em uma pesquisa realizada recentemente foram avaliadas a
adaptação e a produção de quatro cultivares de antúrio
(Pacora, White Heart, Sangria e Red Rocket) nas condições
edafoclimáticas de Mato Grosso do Sul, e constatou-se que as
cultivares Pacora e Sangria apresentaram melhor adaptação
para produção comercial, com maior produção de flores,
inclusive. As demais cultivares, embora tenham apresentado
bom desenvolvimento das plantas, não apresentaram
crescimento e desenvolvimento necessário para viabilizar a
produção comercial.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Planta que era moda nos anos 50 está de volta:
https://youtu.be/M_H20J-hZDQ

Publicações:
Técnicas de cultivo do antúrio: https://bit.ly/2qojVjo
Estiolamento in vitro – Uma alternativa para a produção de
mudas micropropagadas de antúrio: https://bit.ly/3eUlmKQ
174 DOCUMENTOS 122

CUQUEL, F. L.; GROSSI, M. L. Produção de antúrio no litoral do


Estado do Paraná. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental,
v. 10, n. 1/2, p. 35-37, 2004.
TOMBOLATO, A. F. C.; RIVAS, E. B.; COUTINHO, L. N.;
BERGAMAN, E. C.; IMENES, S. L.; FURLANI, P. R.; CASTRO,
C. E. F.; MATTHES, L. A. F.; SAES, L. A.; COSTA, A. M. M.;
TAGLIACOZZO, G. M. D.; LEME, J. M. O cultivo de antúrio:
produção comercial. Campinas: Instituto Agronômico, 2002.
47 p. (IAC. Boletim técnico, 194).

Instituição:
Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural
(Agraer)
http://www.agraer.ms.gov.br/
Fone: (67) 3318-5100
Campo Grande, MS

Inflorescência em
espiga

Espata

Detalhamento de uma inflorescência de antúrio.


Fonte: Instituto de Biologia – Universidade Federal de Uberlândia.
Foto: Flávio de Oliveira Ferreira Tecnologias para a Agricultura Familiar 175

Foto: Flávio de Oliveira Ferreira


Flor de antúrio.

Plantas jovens.
177

Cultivares BRS de Tomate e Alface


Marcelo Mikio Hanashiro e Ítalo Lüdke

1. O que é
Os tomates de mesa BRS Laterrot, BRS Imigrante, BRS Nagai,
BRS Iracema e BRS Zamir são todos materiais híbridos,
desenvolvidos pela Embrapa Hortaliças, em parceria com a
empresa Agrocinco. O BRS Laterrot é um tomate longa vida de
elevada produtividade e ótimo enfolhamento. O BRS Imigrante é
do tipo salada, tem crescimento semideterminado, com
condução de duas a três hastes e ótima cobertura foliar. O BRS
Nagai é do tipo saladete indeterminado, de alta produtividade. Já
o BRS Iracema é do tipo cereja, com ótima cobertura foliar.
Finalmente, o BRS Zamir é do tipo grape multifloral, com
formação de pencas.
Também em parceria com a Agrocinco, a Embrapa Hortaliças
lançou os materiais de alface BRS Leila e BRS Mediterrânea. A
BRS Leila é uma alface crespa de grande tamanho, vigor e
produtividade, com folhas verdes. Já a BRS Mediterrânea é uma
planta mais ereta, com folhas de cor verde-oliva.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Cada tomate apresenta características próprias. O BRS
Laterrot possui frutos pesados (de 220 g a 240 g, em média),
com ótima coloração e excelente comportamento sob chuvas
(em campo aberto). Tem boa tolerância a bactérias e a diversas
raças de Verticillium, Fusarium, Cladosporium, nematoides e
ao vírus do mosaico do tabaco e geminivírus. O BRS Imigrante
é indicado tanto para estufas quanto para campo aberto.
Possui frutos firmes, com coloração bem vermelha e peso
médio de 230 g a 250 g. É tolerante a inúmeras raças de
Verticillium, Fusarium, à mancha de estenfílio, ao vírus do
mosaico do tabaco e a geminivírus, e necessita de pouca
adubação nitrogenada.
178 DOCUMENTOS 122

n O BRS Nagai também necessita de pouca adubação


nitrogenada, sendo utilizado tanto para campo aberto quanto
para cultivo protegido. Seus frutos longa vida pesam de 180 g
a 200 g, em média. Este material tem boa tolerância a
bactérias em campo, a variadas raças de Verticillium,
Fusarium, Cladosporium, à pinta-bacteriana, às manchas de
estenfílio, a nematoides e aos vírus mosaico do tabaco, vira-
cabeça e geminivírus.
n O BRS Iracema tem frutos com cerca de 15 g, ricos em
licopeno e muito adocicados. São tolerantes a algumas raças
de Verticilium, Fusarium e Cladosporium.
n Quanto aos frutos do BRS Zamir, são saborosos e
adocicados, pequenos (10 g a 15 g), com vida de prateleira de
até 18 dias. O seu teor de licopeno é muito alto e tem sido o
grande diferencial deste material. É indicado para estufas e
tolerante a algumas raças de Verticilium e Fusarium.
n Em relação às alfaces, a BRS Leila e a BRS Mediterrânea são
tolerantes à queima das bordas (deficiência de cálcio) e ao
pendoamento. Os dois materiais são tolerantes a míldio, LMV
(vírus do mosaico da alface), Fusarium e nematoide-das-
galhas. Não amargam após a passagem do ponto de colheita
e apresentam de 4 dias a 6 dias de precocidade, em média.

3. Como utilizar
No que se refere aos tomates, há inúmeras recomendações. O
BRS Laterrot tem melhor resultado em lavouras conduzidas
com o sistema de duas hastes. Nesse formato, o material
apresenta entre 13 e 15 pencas, com os frutos atingindo 230 g
por unidade (250 g no início da colheita e 180 g no final),
atendendo plenamente às demandas de mercado. Este material
tem um padrão de pencas que não requer mão de obra específica
para desbastar frutos. O BRS Laterrot apresenta ciclo médio e
mostrou potencial de produzir até 480 caixas de 25 kg por 1.000
plantas (12 kg/planta) em sistema de cultivo protegido em quatro
localidades de dois estados diferentes. A planta do híbrido BRS
Laterrot apresenta rápido crescimento (enchimento) de frutos,
devendo-se, portanto, evitar a aplicação excessiva de nitrogênio.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 179

É importante garantir um bom suprimento de cálcio e boro


durante todo o ciclo do cultivo. A relação nitrogênio/potássio deve
ser mantida em 1:2 após o início do florescimento para evitar o
aparecimento de frutos deformados (“barcas”) ou ocos.
O BRS Imigrante apresentou melhores resultados em lavouras
conduzidas com o sistema de três hastes. Apresenta número de
pencas por planta e peso médio dos frutos de forma idêntica ao
material acima. Inicia-se a colheita cerca de 80 dias após o
transplante. Potencial produtivo de até 480 caixas de 25 kg por
1.000 plantas (12 kg/planta) em avaliações conduzidas em
cultivo protegido, em três estados de diferentes regiões
brasileiras. Apresenta rusticidade e excelente cobertura foliar.
Deve-se evitar a aplicação excessiva de nitrogênio, pois a planta
enche rapidamente os seus frutos. É fundamental garantir um
bom fornecimento de cálcio e boro. Já a relação
nitrogênio:potássio deve ser mantida em 1:2 após o início do
florescimento, para evitar frutos deformados ou ocos.
O híbrido BRS Nagai apresenta hábito de crescimento
indeterminado (para cultivo estaqueado). Possui excelente
cobertura foliar, reduzindo a incidência de escaldadura solar nos
frutos. A planta tem rápido desenvolvimento inicial, com a
primeira floração perto do nível do solo, o que aumenta a
produtividade e o período de colheita. O potencial produtivo do
tomate BRS Nagai pode chegar a 440 caixas de 25 kg por 1.000
plantas, o que equivale a 11 kg por planta. A cultivar auxilia na
redução de custos, devido à menor necessidade de aplicações
de agrotóxicos e demanda mais baixa por adubação
nitrogenada.
O BRS Iracema apresenta potencial de produzir 8 kg/planta a
10 kg/planta. Manejo inadequado na irrigação ou colheita muito
tardia dos frutos poderá provocar a rachadura de frutos maduros.
A causa mais frequente de rachaduras são as alterações bruscas
na umidade do solo. A irrigação por gotejamento, o uso de
cobertura morta ou “mulch” e a colheita dos frutos não muito
maduros apresentaram efeitos positivos na redução da
incidência de rachaduras.
180 DOCUMENTOS 122

Quanto ao BRS Zamir, os frutos são alongados e pesam entre


10 g e 15 g. Apresentam boa conservação após serem colhidos –
até 18 dias em temperatura ambiente. Têm sabor adocicado e
adequado equilíbrio de ácidos orgânicos, com o teor de sólidos
solúveis de até 11 °Brix. A cultivar é indicada para todas as regiões
produtoras, seja sob cultivo protegido ou em campo aberto no
período seco. Em cultivo protegido, o tomate BRS Zamir
apresenta potencial produtivo de 6 kg a 8 kg de frutos por planta.
Esse híbrido tem um gene que estimula o grau de bifurcação dos
cachos, o que aumenta o número de frutos por penca (45 a 50
frutos/penca) e resulta em maior produtividade. Possui boa
rusticidade e cobertura foliar. O hábito de crescimento é
indeterminado, indicado para cultivo estaqueado, e o início da
colheita ocorre 80 dias após o transplantio. Manejo inadequado na
irrigação ou colheita muito tardia dos frutos poderá rachar os
frutos maduros. A redução na incidência das rachaduras pode ser
feita da mesma forma que para o BRS Iracema.
No que se refere às alfaces, tanto a BRS Leila quanto a BRS
Mediterrânea são recomendadas para cultivo nas principais
regiões produtoras do Brasil e em todos os sistemas de produção.
Ambas possuem grande tolerância ao florescimento
(pendoamento) precoce por causa do calor, sendo, assim,
sugerida para as regiões tropicais. O ciclo apresenta variação em
função das condições climáticas: de 35 dias para épocas mais
quentes até 45 dias para as mais frias. Apresentam necessidade
menor de água por serem cultivares precoces, não necessitando
de adubação especial em solos com pH corrigido. Os pés
normalmente pesam entre 700 g e 800 g, dentro dos
espaçamentos mais utilizados.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Tomate híbrido BRS Nagai (Agrocinco/Embrapa):
https://bit.ly/2R9VyiE
Publicações:
Tomate BRS Laterrot: https://bit.ly/35U5P8e
Tomate BRS Imigrante: https://bit.ly/35Sqauz
Tecnologias para a Agricultura Familiar 181

Tomate BRS Nagai: https://bit.ly/3abrNa8


Tomate BRS Iracema: https://bit.ly/35TU1Tt
Tomate BRS Zamir: https://bit.ly/3a2A93E
Alface BRS Leila: https://bit.ly/2TnBbS4
Alface BRS Mediterrânea : https://bit.ly/3hVNJvz

Instituição:
Agrocinco
http://www.agrocinco.com.br
Fone: (19) 3879-6307
Monte Mor, SP
Foto: arquivo Embrapa

Tomate
BRS Laterrot.

Foto: Luís Galhardo

Tomate
BRS Nagai.
182 DOCUMENTOS 122

Foto: Leandro Lobo


Foto: Leandro Lobo

Tomate BRS Zamir.

Tomate BRS Iracema

Foto: Ítalo Lüdke


Alface
BRS Mediterrânea
Foto: Ítalo Lüdke

Alface
BRS Leila
183

Irrigação na Agricultura Familiar


Luciano Oliveira Geisenhoff e Danilton Luiz Flumignan

1. O que é
Trata-se de uma técnica que tem por objetivo o fornecimento
controlado de água às plantas, já que a chuva pode não ser
suficiente para atender às suas necessidades hídricas. Esta
prática tem custo, mas, se adequadamente utilizada, a renda
proveniente dela é superior ao custo, tornando o balanço
financeiro favorável. Para realizar a irrigação é importante
responder a três perguntas: Como, quando e quanto irrigar?
Porém, não existem respostas padronizadas para nenhuma
delas. Elas variam conforme a realidade ou necessidade de cada
produtor. Os conceitos de uma boa irrigação são simples, mas a
prática é, de fato, mais complexa. Por isso é importante que o
produtor procure sempre o auxílio de um profissional qualificado.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Aumento de renda para a família e melhoria da qualidade de
vida.
n Segurança econômica ao produtor.
n Melhor aproveitamento da área de produção.
n Convivência com veranicos e estiagens (convivência com a
seca).

3. Como utilizar
Como irrigar?
Podem ser utilizados diferentes sistemas. Na irrigação de
pastagens para bovinos de leite ou criação de outros animais,
utiliza-se bastante a irrigação por aspersão. Embora esta
184 DOCUMENTOS 122

também seja muito usada na produção de olerícolas (folhosas,


tomate, pimentão e outras), atualmente o uso de sistemas de
irrigação por gotejamento tem se tornado cada vez mais
frequente. Na produção de espécies frutíferas (maracujá, goiaba,
banana e outras) existe o predomínio da irrigação por
gotejamento e a microaspersão.

Quando e quanto irrigar?


Estas duas perguntas não podem ser desvinculadas uma da
outra. Elas sempre “caminham” juntas. A resposta a elas trata do
que é chamado de manejo da irrigação, e isso envolve
planejamento prévio e tomada de decisão com frequência.
“Quando irrigar” refere-se à definição do momento de iniciar e
interromper a irrigação, ao passo que “quanto irrigar” refere-se à
quanta água deverá ser fornecida, sendo esta quantidade
chamada de lâmina de água.

O manejo da irrigação deve ser realizado de acordo com as


necessidades específicas de cada situação, levando em
consideração, principalmente, qual a espécie vegetal explorada,
as características do solo, as condições climáticas e o sistema de
irrigação que está sendo utilizado.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Sistemas de irrigação para agricultura familiar:
https://bit.ly/37r8xmP
Sistemas e manejo de irrigação de baixo custo para agricultura
familiar: https://bit.ly/2QEAxwj
Sistemas de irrigação localizada: https://bit.ly/2ZUEmC5
Sistemas de irrigação por aspersão: https://bit.ly/36h9Ggs
Manejo de irrigação em hortaliças com Sistema Irrigas:
https://bit.ly/2rS5xRk
Tecnologias para a Agricultura Familiar 185

Instituições:
Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural
(Agraer)
http://www.agraer.ms.gov.br/
Fone: (67) 3318-5100
Campo Grande, MS

Embrapa Agropecuária Oeste


http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS

Foto: Luciano Oliveira Geisenhoff

Irrigação por gotejamento em alface


Foto: Luciano Oliveira Geisenhoff 186 DOCUMENTOS 122

Bulbo molhado na irrigação por gotejamento.


Foto: Luciano Oliveira Geisenhoff

Irrigação por aspersão em hortaliças.


Foto: Luciano Oliveira Geisenhoff

Irrigação por microaspersão em bananeiras.


187

Guia Clima: Monitoramento Climático


de Mato Grosso do Sul
Carlos Ricardo Fietz, Éder Comunello e Danilton Luiz Flumignan

1. O que é
O Guia Clima é um sistema de monitoramento climático,
desenvolvido pela Embrapa Agropecuária Oeste, de Dourados,
MS, que disponibiliza na internet informações meteorológicas,
em tempo real.
O sistema presta serviços relevantes, pois disponibiliza produtos
que ajudam a tomar decisões, principalmente nas atividades
agrícolas, possibilitando o uso racional dos recursos naturais e a
redução dos riscos climáticos. O Guia Clima também apresenta
estatísticas (temperatura, chuva, etc.), calcula o balanço hídrico
das principais culturas (milho, soja, feijão, etc.), além de Avisos e
Alertas relacionados ao clima e a boletins meteorológicos.
Em funcionamento desde 2013, o Guia Clima opera atualmente
com três estações meteorológicas: Dourados, Rio Brilhante e
Ivinhema. Há previsão de instalação de novas estações em
outros locais de Mato Grosso do Sul.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Fornece dados e informações de chuva, temperaturas
médias, máximas e mínimas, velocidade do vento, entre
outros.
n O usuário também pode verificar os alertas de sensação
térmica em virtude de temperaturas altas ou baixas,
ocorrência de ventos fortes, risco de geadas e umidade do ar
muito baixa.
188 DOCUMENTOS 122

3. Como utilizar
O Guia Clima pode ser acessado em
http://clima.cpao.embrapa.br/
A página principal do sistema na internet apresenta medidas
meteorológicas a cada 15 minutos, com Alertas e Avisos. O menu
de navegação, onde estão os assuntos referentes ao Guia Clima,
está na parte esquerda da página, juntamente com o resumo do
boletim meteorológico mais recente.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 189

Na opção "Busca de Dados" são disponibilizados os principais


dados meteorológicos de cada dia. No caso de Dourados, podem
ser consultadas informações dos últimos 40 anos. Na Figura a
seguir, uma tela da opção "Busca de Dados", com os primeiros
dias de fevereiro de 2020, do município de Dourados.

A figura seguinte apresenta a opção "Estatística", em que está


selecionado o elemento meteorológico "chuva". Clicando em
"Mostrar", são apresentadas as médias históricas de cada mês;
neste caso, para Dourados. O mesmo procedimento deve ser
usado para as estatísticas dos demais elementos
meteorológicos e locais. Essas estatísticas fornecem uma visão
panorâmica do clima de cada local e podem ser utilizadas no
dimensionamento de projetos.
190 DOCUMENTOS 122

Aplicativo
A Embrapa Agropecuária Oeste também desenvolveu um
Aplicativo (APP) do Guia Clima. Publicado em dezembro de
2018, o APP é uma adaptação da versão desktop e disponibiliza
dados on-line para dispositivos móveis no sistema Android.
Por meio do APP Guia Clima, o usuário também tem acesso ao
sistema de monitoramento agroclimático, com informações
atualizadas em tempo real, a cada 15 minutos.
Além disso, o usuário pode consultar dados de séries históricas,
na função "Estatística". Existe ainda o módulo "Balanço Hídrico",
que fornece as condições de umidade do solo em tempo real.
Para baixar o aplicativo, basta acessar a Play Store do Google,
digitar Guia Clima. O usuário deve então selecionar a opção de
instalação do aplicativo.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 191
4. Onde obter mais informações
Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9791
Dourados, MS
193

Cultivares de Maracujazeiro-Azedo
da Embrapa
Fábio Gelape Faleiro e Nilton Tadeu Vilela Junqueira

1. O que é
São cultivares de maracujazeiro-azedo (Passiflora edulis Sims),
desenvolvidas pela Embrapa, que possuem alta produtividade,
maior nível de resistência a doenças e características físicas e
químicas de frutos para atender ao mercado de frutas frescas e
também às agroindústrias. Essas cultivares estão descritas a
seguir.
BRS Gigante Amarelo (BRS GA1) – Cultivar de maracujazeiro-
azedo com alta produtividade e qualidade de frutos para mercado
in natura. É normal produzir, principalmente no início da
produção, frutos com mais de 500 g. Sua produtividade, quando
irrigado e com uso de tecnologia no sistema de produção, no
espaçamento de 2,5 m x 2,5 m, pode superar 50 t/ha no primeiro
ano e 30 t/ha no segundo ano. Esta cultivar tem sido utilizada
para cultivo em ambiente protegido com alta tecnologia com
produtividade superior a 100 t/ha no primeiro ano de produção.
Apresenta flores grandes muito dependentes da polinização
manual, que é muito importante para obtenção de altas
produtividades. Apresenta boa tolerância à antracnose. Com
base nas áreas de avaliação e validação, há indicadores da
adaptação da cultivar em praticamente todos os Estados do
Brasil com plantio em qualquer época do ano (quando irrigado),
em diferentes tipos de solo. Em regiões sujeitas a geadas,
recomenda-se a produção de mudas maiores (acima de 90 cm)
em ambiente protegido. Depois do risco das geadas, as mudas
são levadas ao campo.
194 DOCUMENTOS 122

BRS Sol do Cerrado (BRS SC1) – Cultivar de maracujazeiro-


azedo com produtividade e características de frutos semelhantes
às da cultivar BRS Gigante Amarelo. Apresenta flores grandes,
sendo que algumas delas são achatadas, facilitando a polinização
por insetos pequenos. Em pomares próximos de matas, com a
presença de polinizadores, pode-se obter alta produtividade
mesmo sem a polinização manual. Independentemente do
tamanho do pomar, a polinização manual é muito importante para
complementar a polinização natural por insetos na obtenção de
altas produtividades. Tem certa tolerância a doenças foliares,
como bacteriose, antracnose e virose. Regiões de recomendação
são as mesmas da cultivar BRS Gigante Amarelo.
BRS Rubi do Cerrado (BRS RC) – Cultivar de maracujazeiro-
azedo com alta produtividade e certa tolerância a doenças de
parte aérea, principalmente virose e bacteriose. Produz
aproximadamente 50% de frutos de casca vermelha ou
arroxeada com peso de 120 g a 300 g (média de 170 g), com teor
de sólidos solúveis de 13 °Brix a 15 °Brix (média de 14 °Brix) e
rendimento de suco em torno de 38%. Possui uma polpa com
coloração alaranjada muito apreciada pelos consumidores e
indústrias de suco. Devido às características físicas e químicas
dos seus frutos, maior resistência a doenças foliares e maior
resistência ao transporte (casca mais dura), a cultivar BRS Rubi
do Cerrado tem sido cultivada em muitas regiões para atender a
demanda das agroindústrias. Nas condições do Distrito Federal,
Rio de Janeiro, Mato Grosso e Paraná, dependendo das
condições de manejo da cultura, pode atingir produtividades
superiores a 50 t/ha no primeiro ano de produção. Regiões de
recomendação são as mesmas das cultivares BRS Gigante
Amarelo e BRS Rubi do Cerrado. A obtenção de frutos para
indústria e para mesa evidenciam a característica de dupla
aptidão da cultivar.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 195

2. Benefícios e/ou vantagens


n Possuem grande importância social e econômica no Brasil,
que atualmente é o maior produtor e consumidor mundial
dessa fruta. Essa importância social está relacionada à
geração de empregos no campo, no setor de venda de
insumos, nas agroindústrias e nas cidades, além de ser
importante opção de geração de renda, principalmente para
micros e pequenos fruticultores, especialmente aqueles
ligados à agricultura familiar.

3. Como utilizar
Para iniciar o plantio de maracujazeiro, deve-se conhecer o
sistema de produção. A exemplo de outras fruteiras, o maracujá
exige adoção de tecnologia no sistema de produção (análise do
local de plantio, correção da fertilidade e acidez do solo, podas,
controle fitossanitário, polinização manual, adubações de
formação e produção, colheita e pós-colheita).
Para conhecer o sistema de produção, é importante: a) buscar
assistência técnica, b) visitar produtores que cultivam com
sucesso o maracujá e c) buscar informações e novas tecnologias
em centros de pesquisa e na literatura disponível.
Além de conhecer todo o sistema de produção, o produtor deve
saber também: a) qual o mercado que ele deseja atingir, b) se vai
comercializar frutos in natura ou polpa e c) se vai colocar o
produto no mercado ou na indústria.
É muito importante que o produtor tenha diferentes alternativas
para comercializar sua produção. De preferência, que tenha um
canal para comercialização de frutos in natura e outro de frutos
para polpa, de modo a conseguir destino para todos os frutos
produzidos.
196 DOCUMENTOS 122

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Maracujá azedo BRS Gigante Amarelo (BRS GA1):
https://bit.ly/2Ts8umZ
Maracujá azedo BRS Sol do Cerrado (BRS SC1):
https://bit.ly/361rc7z
Maracujá azedo BRS Rubi do Cerrado (BRS RC):
https://bit.ly/2QZnoiZ

Maracujá – 500 perguntas, 500 respostas:


https://bit.ly/3aePDSh

EMBRAPA. Embrapa Cerrados. Material didático – Minicurso


Maracujá: http://www.cpac.embrapa.br/minicursomaracuja/

Onde conseguir sementes e mudas com garantia de origem:


https://www.embrapa.br/cultivar/maracuja

Outros:
EMBRAPA. Embrapa Cerrados. Memória do Lançamento dos
Híbridos de Maracujazeiro Azedo.
http://www.cpac.embrapa.br/lancamentoazedo/
EMBRAPA. Embrapa Cerrados. Lançamento do híbrido de
maracujazeiro azedo - BRS Rubi do Cerrado.
http://www.cpac.embrapa.br/lancamentobrsrubidocerrado/
Tecnologias para a Agricultura Familiar 197
Foto: Fábio Gelape Faleiro

Foto: Fábio Gelape Faleiro


BRS Gigante Amarelo BRS Sol do Cerrado
(BRS GA1) (BRS SC1)
Foto: Fábio Gelape Faleiro

BRS Rubi do Cerrado


(BRS RC1).
199

Cultivares de Maracujazeiro
Ornamental da Embrapa
Fábio Gelape Faleiro, Nilton Tadeu Vilela Junqueira,
Araci Molnar Alonso e Nelson Pires Feldberg

1. O que é
Maracujazeiros ornamentais são plantas que possuem
diferentes possibilidades de uso para decoração de ambientes e
paisagismo de grandes áreas, com grande potencial comercial,
considerando a beleza e a exuberância de suas flores e a
ramificação densa. São utilizados há mais de um século em
países do Hemisfério Norte como elemento de decoração e
também como fonte de geração de emprego e renda.
Diante deste potencial, a Embrapa desenvolveu os primeiros
híbridos de maracujazeiros ornamentais de flores com coloração
vermelha (BRS Estrela do Cerrado, BRS Rubiflora e BRS
Roseflora), rosada (BRS Rosea Púrpura - BRS RP) e azulada
(BRS Céu do Cerrado - BRS CC). Em 2019, foram estabelecidas
estratégias para a logística de produção e comercialização de
mudas destas cultivares de maracujazeiros ornamentais por
meio do licenciamento de viveiristas que produzem e enviam as
mudas para todo Brasil.
BRS Estrela do Cerrado – Primeira cultivar híbrida de
maracujazeiro ornamental, desenvolvida como alternativa para o
mercado das plantas ornamentais, seja para o cultivo em vasos,
seja para a composição de jardins, sobre muros e pérgulas, bem
como para a ornamentação de parques e construção de
borboletários. Apresenta produção de grande quantidade de
flores durante todo o ano. Possui grande vigor e tem mostrado
resistência às principais doenças do maracujazeiro,
especialmente àquelas causadas por patógenos de raízes. A
200 DOCUMENTOS 122

produção de mudas é feita por propagação vegetativa por


estacas por não produzir frutos em condições naturais devido à
autoincompatibilidade. Mudas com 40 dias já começam a
florescer.
BRS Rubiflora – Cultivar com características e indicações
semelhantes à BRS Estrela do Cerrado. A principal característica
desta cultivar é um vermelho intenso das pétalas e sépalas.
Apresenta florações contínuas durante todo o ano com diferentes
picos de florescimento. Assim como a cultivar BRS Estrela do
Cerrado, tem apresentado resistência às principais doenças do
maracujazeiro. A propagação é vegetativa por estacas e, em
consequência, não produz frutos em condições naturais, mas
florescem rapidamente após o início do cultivo no campo ou em
vasos.
BRS Roseflora – Cultivar com características e indicações
semelhantes à BRS Estrela do Cerrado. Apresenta produção de
grande quantidade de flores com diâmetro de aproximadamente
14 cm, com pétalas e sépalas com coloração vermelho-
alaranjada. Apresenta florações contínuas e resistência às
principais doenças do maracujazeiro. Assim como a BRS Estrela
do Cerrado e a BRS Rubiflora, a produção de mudas é feita por
estacas, não produzindo frutos em condições naturais, mas
florescendo 40 dias após o plantio.
BRS Rósea Púrpura (BRS RP) – Cultivar de maracujá
ornamental com tonalidade de flores rosadas para atender uma
demanda de mercado e para complementar o espectro de cores
vermelhas das cultivares BRS Estrela do Cerrado, BRS Rubiflora
e BRS Roseflora já lançadas pela Embrapa. As plantas da BRS
Rosea Púrpura produzem grande quantidade de flores com
diâmetro de aproximadamente 8 cm. Apresenta frutos com
coloração esverdeada, sem sementes, na ausência de
polinização. Quando irrigadas, as plantas apresentam florações
contínuas. Possui nível de resistência a doenças superior às
cultivares de maracujazeiro disponíveis no mercado,
principalmente às doenças de parte aérea, como bacteriose,
virose, verrugose, septoriose e antracnose.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 201

BRS Céu do Cerrado (BRS CC) – Cultivar de maracujá


ornamental com tonalidade de flores azuladas. As plantas da BRS
Céu do Cerrado produzem flores com diâmetro de
aproximadamente 7 cm. Quando irrigadas, as plantas
apresentam florações praticamente o ano todo, exceto nos meses
de julho, agosto e setembro, com picos de floração de novembro a
maio em regiões com latitude acima de 20º. Como a cultivar é
propagada vegetativamente e apresenta autoincompatibilidade
genética, a produção de frutos é condicionada à presença de
outras plantas de maracujazeiro azedo próximas ao local de
plantio e à polinização cruzada realizada manualmente ou pelas
mamangavas (polinizador natural do maracujazeiro-azedo).
Apresenta resistência moderada a doenças de parte aérea
(bacteriose, septoriose e antracnose), porém é suscetível à virose
e à fusariose. Em regiões mais secas, o ataque por ácaros merece
atenção dos produtores.

2. Benefícios e/ou vantagens


n As cultivares de maracujazeiro, quando adaptadas ao
ambiente, formam cortinas volumosas que trazem uma
sensação de frescor. Quando conduzidas em caramanchões,
fornecem sombreamento intenso, além de floração
abundante. As flores atraem pássaros e insetos, com
destaque para beija-flores e borboletas multicoloridas, que
também são de grande beleza. Muitas espécies de
Passifloras são usadas na estruturação de borboletários em
jardins zoológicos. A beleza, a mística, a exuberância e as
várias combinações de cores das flores do maracujá também
merecem destaque.
n Em muitos países do Hemisfério Norte, a produção de mudas
e cultivo é uma atividade altamente rentável e viável
economicamente. Uma muda ou planta de maracujazeiro
ornamental pode custar mais de US$ 100 dólares. O
consumidor final das plantas ornamentais de maracujazeiro
são paisagistas e consumidores, e os principais produtos
concorrentes são outras espécies de plantas trepadeiras.
202 DOCUMENTOS 122

3. Como utilizar
Como toda planta ornamental, o maracujá também exige
cuidados especiais relacionados à nutrição e à irrigação das
plantas. Outro desafio para o maracujazeiro ornamental é
trabalhar alternativas de exposição, considerando que as flores
duram apenas 1 dia. As cultivares de maracujá ornamental
lançadas pela Embrapa foram selecionadas com base na
quantidade e na beleza das flores e também com base na maior
resistência a pragas e doenças.
A viabilidade econômica do maracujazeiro ornamental, que ainda
não tem uma cadeia produtiva totalmente estruturada, vai
depender da relação entre oferta e procura, mas, principalmente,
de trabalhos de divulgação, marketing e desenvolvimento de
mercado para a devida apresentação de todas as
potencialidades do produto tecnológico.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Maracujá ornamental BRS Estrela do Cerrado:
https://bit.ly/2RiAFlC
Maracujá ornamental BRS Rubiflora: https://bit.ly/2QXuK6s
Maracujá ornamental BRS Roseflora: https://bit.ly/2RluHAA
Maracujá Ornamental BRS Rósea Púrpura (BRS RP):
https://bit.ly/2uWYFDp
Maracujá BRS Céu do Cerrado (BRS CC): https://bit.ly/2RlSctb

Maracujá – 500 perguntas, 500 respostas: https://bit.ly/2Nvoq3S

Onde conseguir sementes e mudas com garantia de origem:


https://www.embrapa.br/cultivar/maracuja
Tecnologias para a Agricultura Familiar 203

Outros:
Memória do Lançamento dos Híbridos de Maracujazeiro
Ornamental: https://bit.ly/2TFobaH
Foto: Fábio Gelape Faleiro

Cultivares de maracujazeiro ornamental.


204 DOCUMENTOS 122
Foto: Fábio Gelape Faleiro

Cultivares de maracujazeiro ornamental.


205

Cultivares de Maracujazeiros
Doce e Silvestres da Embrapa
Fábio Gelape Faleiro, Nilton Tadeu Vilela Junqueira,
Ana Maria Costa e Francisco Pinheiro de Araújo

1. O que é
O maracujazeiro-doce (Passiflora alata Curtis) e os
maracujazeiros-silvestres (Passiflora setacea DC. e Passiflora
cincinnata Mast.) são importantes alternativas para os
produtores de maracujazeiro-azedo (Passiflora edulis Sims) e
também para outros fruticultores. O maracujazeiro-doce é
cultivado comercialmente no Brasil desde a década de 1970,
mas a primeira cultivar (BRS Mel do Cerrado – BRS MC) foi
registrada e protegida no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) somente em 2017. A primeira cultivar de
maracujazeiro-silvestre da espécie P. setacea (BRS Pérola do
Cerrado – BRS PC) foi lançada pela Embrapa em 2013 e a da
espécie P. cincinnata (BRS Sertão Forte – BRS SF) lançada em
2016. A seguir são apresentadas as características de cada
cultivar.
BRS Mel do Cerrado (BRS MC) – Cultivar da espécie P. alata
destinada ao mercado de frutas especiais de alto valor agregado.
É uma boa opção para fruticultores altamente tecnificados e para
cultivo em estufa, onde se pode obter frutos de alta qualidade
física e química com alto valor no mercado. É também uma boa
opção para pequenos produtores e para a agricultura praticada
em sítios, chácaras e ambiente urbano. As principais
características desta cultivar, trabalhadas no melhoramento
genético, foram a alta produtividade, a qualidade física e química
de frutos e o maior nível de resistência a doenças foliares.
206 DOCUMENTOS 122

Sua flor exuberante, vermelho-arroxeada e com longos


filamentos multibandeados, evidenciam também o seu potencial
ornamental para paisagismo de grandes áreas, como muros e
pérgulas. Os frutos, quando maduros, têm coloração de casca
amarela. A massa dos frutos varia de 120 g a 300 g (média de
200 g), os quais apresentam polpa amarelo-alaranjada
adocicada com teor de sólidos solúveis muito alto (acima de
17 °Brix). Além da polpa/sementes, a casca também é
comestível, podendo ser utilizada para fazer salada, compotas,
entre outras receitas. Dependendo das condições de manejo da
cultura, pode atingir produtividades acima de 30 t/ha no primeiro
ano de produção.
BRS Pérola do Cerrado (BRS PC) – Esta cultivar, da espécie
P. setacea, possui quatro aptidões: consumo in natura,
processamento industrial, ornamental e funcional-medicinal.
Trata-se de uma alternativa para o mercado de frutas especiais e
de alto valor agregado destinadas a indústrias de sucos,
sorvetes, doces e para consumo in natura. Suas belas flores
brancas e sua ramificação densa evidenciam seu potencial
ornamental para paisagismos de grandes áreas. Por ser
altamente vigorosa e por não terem sido verificados, nas
condições de avaliação, problemas importantes com relação a
doenças e pragas, apresenta grande potencial para cultivo em
sistemas orgânicos e agroecológicos. Outro ponto relevante da
cultivar é o grande potencial produtivo (superior a 25 t/ha/ano) e a
qualidade físico-química e funcional da polpa. A cultivar é
recomendada para a região do Cerrado, embora trabalhos de
validação tenham ampliado a sua recomendação para outras
regiões do Brasil.
BRS Sertão Forte (BRS SF) – Cultivar da espécie P. cincinnata
como alternativa para o mercado de frutas especiais e de alto
valor agregado destinadas a indústrias de sucos, sorvetes e
doces. Apresenta flores roxas, com diâmetro em torno de 10,6 cm
e que abrem no período da manhã. Os frutos são arredondados
e, quando maduros, têm coloração de casca verde-clara e são
fortemente ácidos. A massa dos frutos varia de 120 g a 160 g,
com polpa amarelo-esbranquiçada contendo 9,8 °Brix a
14,4 °Brix.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 207

A cultivar é recomendada para a região do Semiárido e Cerrado,


onde pode produzir mais de 25 t/ha/ano em polinização aberta.
Apresenta como característica de destaque maior tolerância a
estresse hídrico. Sua flor exuberante, arroxeada e com longos
filamentos, evidencia também o seu potencial ornamental. As
flores abrem no período da manhã e são muito visitadas por
mamangavas (Xylocopa sp.), que são os insetos polinizadores
do maracujazeiro-azedo comercial.

2. Benefícios e/ou vantagens


n O produtor de maracujá-doce e silvestre deve dedicar parte
do seu tempo para a abertura de mercado. As cadeias
produtivas destes maracujás estão em consolidação e, por
isso, muitos consumidores ainda não conhecem estas frutas.
O produtor deve estabelecer uma estratégia de marketing
para apresentar estes maracujás aos potenciais
consumidores. Como são novidades no mercado, estes
maracujás têm grande potencial de venda a preços altos no
mercado varejista.

3. Como utilizar
A princípio, o sistema de produção das cultivares de
maracujazeiro-doce (BRS Mel do Cerrado) e dos
maracujazeiros-silvestres (BRS Pérola do Cerrado e BRS Sertão
Forte) segue as recomendações técnicas do maracujazeiro-
azedo comercial, com relação às exigências edafoclimáticas,
preparo e correção do solo, necessidade de espaldeiramento,
podas, irrigação e adubações de formação e produção.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Maracujá doce – BRS Mel do Cerrado (BRS MC):
https://bit.ly/2RoBwRS
208 DOCUMENTOS 122

Maracujá silvestre BRS Pérola do Cerrado (BRS PC):


https://bit.ly/370rpJz
Maracujá silvestre BRS Sertão Forte: https://bit.ly/370rrkF
Maracujá, 500 perguntas, 500 respostas: https://bit.ly/2TvgYKb
EMBRAPA. Embrapa Cerrados. Material didático – Minicurso
Maracujá: https://bit.ly/30sQVor

Onde conseguir sementes e mudas com garantia de origem:


https://www.embrapa.br/cultivar/maracuja

Outros:
EMBRAPA. Embrapa Cerrados. Lançamento Oficial da Cultivar
de Maracujazeiro Doce BRS Mel do Cerrado (BRS MC):
https://bit.ly/2Rn4Sjl
EMBRAPA. Embrapa Cerrados. Lançamento da cultivar de
maracujazeiro silvestre BRS Pérola do Cerrado:
https://bit.ly/2FWBRpw
EMBRAPA. Embrapa Cerrados. Lançamento Oficial da Cultivar
de Maracujazeiro Silvestre BRS Sertão Forte (BRS SF):
https://bit.ly/3ajoD3U
Tecnologias para a Agricultura Familiar 209

Foto: Fabiano Bastos


Foto: Fabiano Bastos

Foto: Fabiano Bastos

BRS Mel do Cerrado (BRS MC), BRS Pérola do Cerrado (BRS PC) e
BRS Sertão Forte (BRS SF).
211

Produção Sustentável de
Maracujá-Amarelo
Ivo de Sá Motta

1. O que é
É a produção de maracujá-amarelo (ou azedo) com a adoção de
práticas agrícolas integradas, em um sistema economicamente
viável, ambientalmente amigável e que, do ponto de vista social,
pode contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar com a
geração de emprego e renda.

2. Benefícios e/ou vantagens


n Produção com maior regularidade.
n Obtenção de maior produtividade e rentabilidade.
n Menor impacto ambiental propiciado pelo manejo integrado
de pragas e doenças.
n Redução de problemas fitossanitários e menor custo de
produção.

3. Como utilizar
Barreiras vegetais
Para a proteção de maracujazeiros o estabelecimento de
barreira vegetal (ou quebra-ventos) no entorno do pomar é
prática indispensável, que deverá ser implantada com
antecedência ao plantio da cultura.
Barreiras vegetais temporárias de fácil propagação, rápido
crescimento e facilidade de manejo, por meio de roçadas, são
212 DOCUMENTOS 122

obtidas com cana-de-açúcar e/ou capim-elefante (Napier ou


outras variedades). Essas espécies formam barreiras físicas ou
renques compactos que amenizam e filtram os ventos, reduzindo
prejuízos como: danos mecânicos nas plantas (quebra e
ferimentos de ramos, queda de flores e frutos), evaporação e
transpiração (do solo e das plantas), disseminação de pragas e
doenças (por ex.: pulgões transmissores de viroses) e
fitotoxidade causada por deriva de herbicidas. A barreira vegetal
deverá ficar distante das linhas dos maracujazeiros a, no mínimo,
3 metros.

Manejo integrado do solo e das plantas de cobertura


Para manutenção e/ou melhoria da capacidade produtiva dos
solos recomenda-se um conjunto de práticas que inclui:
terraceamento ou cordões (leiras ou camalhões) em nível
vegetados; preparo correto do solo; adubação verde e cobertura
morta. Com o manejo integrado do solo, obtém-se maiores
produtividades de maracujá.
Entre as principais espécies de adubos verdes destacam-se:
crotalárias (juncea, ochroleuca e spectabilis), mucunas (cinza,
preta e anã), milheto, aveia, Brachiaria ruziziensis e nabo
forrageiro. O manejo dessas plantas de cobertura deve ser
realizado quando elas se encontram no estádio de florescimento
a início de formação das sementes. A parte aérea das plantas
deve ser deixada na superfície do solo, utilizando-se para esse
manejo roçadeiras, trituradores ou rolo-faca.
Utilizadas como plantas de cobertura, para proteção e melhoria
geral do solo, não devem ser semeadas leguminosas
intercaladas aos maracujazeiros. Essas são hospedeiras de
viroses que inviabilizam a produção de maracujá. Leguminosas
(crotalárias e mucunas) somente devem ser utilizadas
antecedendo o cultivo dos maracujazeiros, solteiras ou em
consórcio com gramíneas (milheto, aveia, braquiárias).
Tecnologias para a Agricultura Familiar 213

Adubação orgânica e mineral


Para o ótimo crescimento, desenvolvimento e produção do
maracujazeiro, inicialmente é necessário coletar e analisar
amostras de solo, para recomendação de calagem, gessagem e
adubação. Para o atendimento das exigências da planta, deve-
se realizar a adubação orgânica-mineral de plantio e de
manutenção. Durante o ciclo da cultura poderá ser adotada
também adubação foliar, por meio de biofertilizantes
enriquecidos com micronutrientes.

Escolha da cultivar de maracujazeiro-amarelo


A principal forma de propagação ou multiplicação do
maracujazeiro-amarelo (ou azedo) é por sementes. É importante
utilizar sementes de cultivares com qualidade genética superior. É
interessante experimentar diferentes cultivares para conhecer as
suas características principais e adaptação às condições de solo e
clima locais. Existem no mercado diversas cultivares registradas
no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A
Embrapa lançou híbridos comerciais de maracujazeiro-amarelo,
com destaque para as cultivares BRS Gigante Amarelo, BRS Sol
do Cerrado e BRS Rubi do Cerrado. Os materiais têm
apresentado bons resultados em diversas regiões do Brasil.

Produção de mudas com qualidade


As mudas deverão ser produzidas em estufas cobertas com filme
plástico transparente (espessura 100 µm) e laterais fechadas
com tela contra entrada de pulgões, para proteger principalmente
da contaminação de virose do endurecimento dos frutos. Podem
ser utilizados tubetes de 290 mm ou sacos plásticos de 18 cm x
30 cm. Nos tubetes, a muda deverá permanecer até 70 dias após
a semeadura (DAS) e no saco plástico até 150 DAS.

Época de plantio (e vazio sanitário)


Por questões de segurança fitossanitária, sugere-se a renovação
anual das plantas de maracujazeiro. O sistema de sustentação,
constituído pelos palanques de eucalipto tratado e fio de arame
214 DOCUMENTOS 122

liso é mantido. A semeadura das mudas no viveiro deverá ocorrer


de início de março até final de maio (mudas poderão ser
transplantadas com 60 dias a 150 dias de idade). O transplantio
das mudas no campo deverá ser realizado de agosto até no
máximo setembro, após um mês de vazio sanitário (julho). Em
regiões com alta incidência de viroses, recomenda-se o plantio de
mudas mais desenvolvidas no campo, com aproximadamente
150 dias de idade (mudão). O período de produção geralmente
estende-se de janeiro a junho.

Sistema de condução – amarração e desbrota


O sistema de condução mais utilizado é o de espaldeira montado
com palanques de eucalipto tratado com um fio de arame liso. A
orientação ideal das espaldeiras, sempre que possível, é no
sentido leste-oeste. Após o transplantio da muda no campo,
realiza-se a amarração de forma contínua em um tutor (bambu ou
semelhante) até o arame horizontal. O arame deverá ficar na
altura de 1,90 m a 2,00 m. No sistema anual de cultivo, além do
sistema de poda tradicional tipo “cortina”, também adota-se o
sistema sem poda, somente com as desbrotas do caule principal
(vertical).

Irrigação por gotejamento


Para obtenção de altas produtividades, a irrigação da cultura é
indispensável. O sistema de irrigação por gotejamento, além de
propiciar economia de água, evita o molhamento da folhagem,
reduzindo a incidência de doenças foliares.

Polinização do maracujazeiro
A polinização do maracujazeiro naturalmente é realizada por
abelhas mamangavas (Xylocopa spp.). A presença de
mamangavas no local de produção é favorecida pela ocorrência
de matas, tocos ocos e evitando-se o uso de inseticidas na
região. Caso seja necessário utilizar inseticidas, fazer a aplicação
no período da manhã ou no final da tarde (evitando produtos
altamente tóxicos às abelhas). Geralmente, as mamangavas
Tecnologias para a Agricultura Familiar 215

existentes no local são insuficientes para realizar a polinização de


forma plena. Por isso, a polinização manual é compensadora,
pois sempre aumenta significativamente a produtividade da
cultura.

Controle do mato
As capinas devem ser superficiais para evitar o ferimento das
raízes. Evitar também o ferimento do colo do caule com a
enxada. Se houver necessidade de gradear nas entrelinhas
(para semear plantas de cobertura), fazê-lo logo, enquanto o
sistema radicular do maracujazeiro não estiver muito
desenvolvido (logo após o transplantio das mudas). Recomenda-
se a manutenção das entrelinhas sempre vegetadas com
gramíneas, como milheto na primavera-verão e aveia preta no
outono. Pode-se deixar a vegetação espontânea (gramíneas,
entre outras), manejadas por roçadas.

Controle alternativo de pragas e doenças (protetores


de plantas)
Para a sanidade do maracujazeiro, entre os protetores de plantas
utilizados, com menor toxicidade e impacto ambiental, tem-se:
a) Calda bordalesa (sulfato de cobre + cal virgem) para controle
de antracnose, verrugose, septoriose e bacteriose.
b) Calda sulfocálcica (enxofre pecuário + cal virgem) para
controle de ácaros e repelente para alguns insetos.
c) Calda Viçosa (sulfato de cobre + sulfato de magnésio +
sulfato de zinco + ácido bórico + cal virgem): equivalente à
calda bordalesa com a adição de micronutrientes.
d) Enxofre em pó molhável para controle de ácaros.
e) Bacillus thuringiensis para controle de lagartas.
f) Óleo de nim para controle de insetos (percevejos, lagartas e
broca-da-haste).
216 DOCUMENTOS 122

Para facilitar o diagnóstico de pragas e doenças, pode-se utilizar


o aplicativo AgroPragas do Maracujá (da Embrapa) no celular.

Medidas preventivas complementares contra viroses

Nas regiões onde já foi constatada a incidência de virose do


endurecimento do fruto (CABMV), deverá ocorrer a renovação
anual do pomar, realizando o plantio das mudas no campo em
agosto, de forma uniforme em toda região, após um mês de vazio
sanitário (julho). Esse pomar deverá ser erradicado, no final do
mês de junho do ano seguinte.

As mudas deverão ser produzidas por viveiristas registrados no


Mapa. Caso o agricultor produza as suas próprias mudas, deverá
utilizar viveiro protegido com tela anti-afídeo. Se a incidência for
alta do CABMV na região, realizar o plantio no campo com
mudão (mudas tutoradas com até 150 dias e 1,50 m–1,80 m de
altura).

Para evitar a contaminação de plantas no pomar, nas operações


de poda e desbrota, realizar a desinfecção das tesouras de poda,
canivetes e unhas, além de outras ferramentas. Também devem
ser eliminadas plantas velhas de maracujazeiro na propriedade
ou vizinhança quando for plantar áreas novas e realizar o
roguing, ou a eliminação de plantas que manifestarem os
sintomas da doença no pomar.

Porta-enxerto resistente
A fusariose é uma doença que afeta os sistemas radicular e
vascular das plantas e que pode inviabilizar a produção de
maracujá. A ocorrência desse fungo (Fusarium oxysporum f. sp.
passiflorae) pode justificar a enxertia da planta em porta-
enxertos mais resistentes, com a garfagem no topo em fenda
cheia de enxerto realizado com material das cultivares
normalmente cultivadas. Geralmente utilizam-se como porta-
enxerto as espécies silvestres (Passiflora nitida, P. giberti,
P. alata, P. foetida, entre outras).
Tecnologias para a Agricultura Familiar 217

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Maracujá: do cultivo à comercialização:
https://bit.ly/36B80Oc
Maracujá – 500 perguntas, 500 respostas:
https://bit.ly/2TvgYKb
Recomendações técnicas para o cultivo do maracujazeiro:
https://bit.ly/2u2L7G9
Manejo de pragas no Sistema Orgânico de Produção do
Maracujazeiro para a Região da Chapada Diamantina, Bahia:
https://bit.ly/3rrr0Lj
219

Inoculantes de Microrganismos
Solubilizadores de Fósforo
Christiane Abreu de Oliveira Paiva, Gisele de Fátima Dias Diniz,
Vitoria Palhares Ribeiro, Ivanildo Evódio Marriel,
Eliane Aparecida Gomes, Luciano Viana Cota,
Sylvia Morais de Sousa e Ubiraci Gomes de Paula Lana

1. O que é
É um produto que utiliza microrganismos solubilizadores de
fosfatos (MSP), que são capazes de aumentar a disponibilidade
de fósforo no solo, o qual é indispensável para o crescimento e
para a produção vegetal, já que interfere nos processos de
fotossíntese, respiração, armazenamento e transferência de
energia. O inoculante biológico contém bactérias eficientes na
solubilização de fosfatos, que passaram por seleção, e um
veículo que as mantém vivas, desde a sua produção no
laboratório até o momento de sua aplicação.

2. Benefícios e/ou vantagens


n A adição de inoculantes biológicos no solo é uma alternativa
atrativa, que pode acelerar a ciclagem de fósforo, presente na
matéria orgânica, e enriquecer o solo biologicamente.
n Os inoculantes biológicos à base de MSP permitem uma
eficiência do uso de fertilizantes químicos fosfatados, que
geralmente são importados, e aumentam os custos de
produção. Com a utilização do inoculante é possível obter o
aumento no crescimento e produtividade de cerca de 10% em
diferentes culturas e gerar redução de custos para o produtor.
220 DOCUMENTOS 122

n A inoculação é considerada uma alternativa ambientalmente


correta com relação às aplicações de fertilizantes químicos,
contribuindo para a sustentabilidade na agricultura.
n Aos produtores que optarem pela adubação com fosfatos de
rocha, ou pela mistura de fontes solúveis ou de menor
solubilidade, o inoculante permite maior disponibilidade deste
nutriente para as plantas. É útil para áreas com alto teor de
fósforo orgânico, como aquelas sob plantio direto, onde
haverá maior ciclagem e disponibilização do fósforo de forma
mais eficiente.
n Os inoculantes contendo MSP são bastante estáveis por
causa da capacidade de formação de esporos das bactérias
selecionadas, permitindo sua utilização mesmo em
condições extremas, como em locais sujeitos a grandes
elevações de temperatura (65 °C) e pH ou expostos a
pesticidas.

3. Como utilizar
O produto pode ser usado tanto para o tratamento de sementes
quanto em aplicação direta no sulco de semeadura. O inoculante
se associa à planta desde o início da formação das raízes, onde
as bactérias do produto se multiplicam e colonizam a rizosfera da
planta, formando uma camada de biofilme. Ali inicia o processo
de solubilização do fósforo que está ligado ao cálcio, alumínio e
ferro do solo e de fertilizantes adicionados, deixando-o disponível
para a absorção e assimilação pela planta.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
Conexão Ciência – BiomaPHOS: https://bit.ly/2QQ2anG

Publicações:
BiomaPHOS: https://bit.ly/2UB5JTa
Tecnologias para a Agricultura Familiar 221

Embrapa e Bioma lançam primeiro inoculante nacional para


fósforo: https://bit.ly/2R0eB0o
Instituição:
Embrapa Milho e Sorgo
http://www.embrapa.br/milho-e-sorgo
Fone: (31) 3027-1193
Sete Lagoas, MG
Ilustração: Christiane Abreu de Oliveira Paiva/Simbiose e Sylvia Morais de Sousa.

Efeito da inoculação ou não de sementes com microrganismos


solubilizadores de fósforo no desenvolvimento de raízes de milho.
223

Controle Estratégico para


Combater o Carrapato-do-Boi
em Vacas Leiteiras
Renato Andreotti, Marcos Valério Garcia, Leandro de
Oliveira Souza Higa e Jacqueline Cavalcante Barros

1. O que é
Controle estratégico é um conjunto de medidas recomendadas
aos produtores que, quando adotadas de forma correta e
sistematizada, tendem a controlar as infestações do carrapato
nos bovinos, evitando assim contínuas perdas, seja na aquisição
de carrapaticidas, seja na diminuição da produção de leite e/ou
carne.
O carrapato-do-boi, cujo nome científico é Rhipicephalus
microplus, tem o ciclo de vida parasitária em torno de 21 dias em
um único hospedeiro que, preferencialmente, são os bovinos de
origem europeia (vaca holandesa) e seus cruzamentos, por
serem também mais sensíveis. Vacas com produção média de
20 kg/dia, com uma infestação de 38 carrapatos/dia, vão produzir
90 kg/ano a menos de leite.
Vale ressaltar que os carrapatos observados no animal
representam apenas 5% da população total, sendo que o restante
(95%) se encontra livre na pastagem. Sabe-se também que este
parasito é responsável pela transmissão dos patógenos que
causam a tristeza parasitária bovina (TPB), que pode levar os
animais à morte. Segundo a literatura, esse carrapato é
responsável por um prejuízo de aproximadamente 3,24 bilhões
de dólares por ano na cadeia produtiva bovina no Brasil.
Atualmente, a principal forma de controle utilizada é realizada por
meio de acaricidas, que podem ser aplicados de diferentes
formas nos bovinos: injetáveis, por banhos (aspersão) e pour-on.
224 DOCUMENTOS 122

No entanto, estudos têm mostrado que os carrapaticidas de


contato (banho, aspersão), quando bem aplicados, apresentam
melhores resultados na eficácia do controle. Mesmo assim, existe
um grande problema: surgimento de populações de carrapatos
resistentes a diversas classes de acaricidas relacionado com o
emprego contínuo do mesmo produto. Também há outros fatores,
como o mau uso destes carrapaticidas e as características
genéticas do carrapato. No Brasil, mais de 50% dos estados já
apresentam relatos de populações desses carrapatos resistentes
às diversas classes de acaricidas.

2. Benefícios e/ou vantagens


n O benefício principal do controle estratégico é a economia
gerada pela redução na quebra na produção do leite e no
emprego de acaricidas.

n Está alinhado à demanda do mercado, cada dia mais


exigente em relação à procedência e qualidade dos produtos
de origem animal.

n Vai ao encontro do alto interesse em preservar e assumir um


comprometimento de reduzir a poluição ambiental.

3. Como utilizar
Para a realização do controle estratégico do carrapato, é
necessário o produtor tomar conhecimento e utilizar os passos
recomendados:
1) Fazer o teste de laboratório (Bioensaio) para avaliar a
sensibilidade dos carrapatos aos acaricidas e, assim, saber
qual deles é o mais adequado, e para poder comprar o
produto certo, lembrando que, para cada propriedade, existe
a necessidade de um teste. Esse teste pode ser realizado na
Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS) de maneira
gratuita para todos os produtores interessados.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 225

2) Aplicar o carrapaticida na época do ano mais adequada. A


sugestão é iniciar o controle no final do período seco
(setembro), época desfavorável à população de carrapatos
na pastagem. Realizar de cinco a seis tratamentos com
carrapaticidas de contato, dentro de intervalos menores que
21 dias cada.
3) Seguir com rigor as recomendações do fabricante do produto
a ser utilizado, tais como: misturar bem o produto, dosagem,
período de carência para o uso do leite e permissão para uso
em vacas lactantes.
4) Tomar cuidados na hora da aplicação do produto. O operador
deve usar equipamentos de proteção individual (EPIs), tais
como: macacão adequado, luvas, máscara e óculos. Tomar
muito cuidado com a direção do vento, procurar sempre
banhar os animais a favor do mesmo para evitar intoxicação.
5) Realizar o tratamento sempre com o animal contido (preso).
No caso de tratamento com acaricida de contato (aspersão), a
aplicação deve ser feita no sentido contrário ao pelo e com
pressão suficiente para alcançar os carrapatos em todo o
corpo (cara, orelha e entre pernas). É importante lembrar que
é preciso evitar horários de sol forte e dias chuvosos.
6) Reduzir ao máximo a infestação de larvas na pastagem. O
animal recém-tratado deve retornar ao mesmo pasto para que
as larvas que lá estão possam subir no animal e entrar em
contato com o produto e morrer. As larvas que sobreviverem
serão mortas no próximo tratamento.
7) Ficar atento aos animais que sofrem maiores infestações,
“animais de sangue doce”. Eles merecem maior atenção e, se
necessário, devem receber o tratamento mais vezes, pois são
os responsáveis pela recontaminação do pasto.
8) Controlar a entrada de novos animais no sistema. Estes
devem ser tratados no local de origem e mantidos isolados até
a constatação de que estão livres de carrapatos para, só
então, colocá-los junto com os demais animais da
propriedade.
226 DOCUMENTOS 122

9) Evitar misturar animais (cavalo, vaca, cabra, carneiro, etc.) no


mesmo pasto, pois cada uma dessas espécies pode
apresentar um carrapato de espécie diferente, dificultando
assim o tratamento e controle.
10) Repetir anualmente o teste de sensibilidade dos carrapatos.
Trocar o produto utilizado para controlar os carrapatos
somente quando aparecer resistência constatada pelo teste
de sensibilidade. O produto deve ser substituído por outro
que tenha mecanismo de ação diferente e tenha sido
aprovado no teste.

4. Onde obter mais informações


A Embrapa Gado de Corte mantém uma página na internet com
informações sobre controle de carrapatos, o Museu do carrapato:
https://bit.ly/2Hn69CB

Vídeos:
Museu do carrapato 2015 – Sanidade:
https://youtu.be/DAHmkNIV8fg
Museu do carrapato e curiosidades – Sanidade:
https://youtu.be/GBGxvKQRY4Q

Publicações:
Museu do carrapato da Embrapa Gado de Corte: espécimes de
carrapatos descritos no Brasil e depositados na coleção até o
momento: https://bit.ly/2Smxk6I
Espécies de carrapatos relatadas no estado de Mato Grosso
do Sul: https://bit.ly/2Sdsp7E
Carrapatos (Acari: Ixodidae) associados ao ambiente em Campo
Grande, Mato Grosso do Sul: https://bit.ly/3zljfJi
Tecnologias para a Agricultura Familiar 227

Instituição:
Embrapa Gado de Corte
http://www.embrapa.br/gado-de-corte
Fone: (67) 3368-2000
Campo Grande, MS
Foto: Marcos Valério Garcia

Capim com aglomerados de larvas à espera dos bovinos.


228 DOCUMENTOS 122

Foto: Renato Andreotti

Ciclo de vida do carrapato-do-boi.


229

Cultivares de Gergelim
Nair Helena Castro Arriel e Daniel da Silva Ferreira

1. O que é
O gergelim (Sesamum indicum L.) é uma das plantas
oleaginosas mais antigas e usadas pela humanidade com ampla
adaptabilidade às condições edafoclimáticas de clima quente.
Possui bom nível de resistência à seca e é fácil de ser cultivado
em sistemas de produção voltados à agricultura familiar com
baixos níveis de investimento, características estas que o
transformam em excelente opção de diversificação agrícola por
seu grande potencial econômico, tanto para o mercado nacional
quanto internacional.

Em termos de cultivares destacam-se:

BRS Seda – Cultivar de gergelim com sementes de coloração


branca. Potencial para produção de até 2.500 kg/ha, ciclo de 90
dias, crescimento ramificado e cápsulas deiscentes, que se
abrem na maturação completa.

BRS Anahí – Cultivar de alta produtividade, de interesse da


indústria, com sementes de coloração creme, grandes e
possíveis de colheita mecanizada. Apresenta cápsulas
semideiscentes, ciclo de 90 dias, crescimento não ramificado e
potencial produtivo de até 1.600 kg/ha.

BRS Morena – Cultivar de coloração marrom-avermelhada, com


potencial produtivo de 980 kg/ha em regime de sequeiro e
1.800 kg/ha sob irrigação. Seu ciclo tem cerca de 100 dias, em
condições de cerrado.
230 DOCUMENTOS 122

2. Benefícios e/ou vantagens


O cultivo do gergelim contribui para o aumento da produtividade,
para a inclusão produtiva, para a redução de custos e
sustentabilidade da cadeia produtiva do gergelim. Possui alto
potencial agronômico, podendo ser usado em rotação e
sucessão a culturas, proporcionando a diversificação da matriz
de produção de grãos para além da sucessão soja/milho, no
período de cultivo denominado de safrinha. Com o crescimento
do mercado produtor de pulses no Brasil e cultivos especiais,
presentes nos mercados internacionais, em especial da China e
da Índia, existe um mercado potencial para o agronegócio do
gergelim com ampliação da viabilidade técnica e econômica para
produção de grãos nas regiões Centro-Oeste, Sudeste, Nordeste
e Norte.

3. Como utilizar
O gergelim é uma planta de elevado nível de adaptabilidade,
sendo cultivado em quase todos os países de clima quente. É
pouco exigente em água; por isso, não suporta encharcamento.
Requer cuidadoso preparo do solo, em virtude do pequeno
tamanho de suas sementes e do lento crescimento das plântulas
nas primeiras semanas. A planta atinge a plenitude em solos
profundos, sem a acidez e fertilizados.
Nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, onde o período chuvoso é
bem definido, o gergelim pode ser usado como primeira ou
segunda cultura, conforme o interesse do produtor.
Para o plantio de 1 ha são necessários de 3 kg a 7 kg de
sementes por hectare, dependendo da cultivar e configuração de
plantio a ser usada. No plantio de cultivares ramificadas,
recomenda-se o espaçamento de 0,60 m a 0,90 m entre fileiras e
de 0,20 m entre plantas. Para cultivares não ramificadas, usar o
espaçamento de 0,45 m a 0,60 m entre fileiras com 0,10 m entre
plantas.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 231

A operação de colheita será realizada tão logo as hastes, folhas


e cápsulas atinjam o amarelecimento completo e antes que as
cápsulas estejam totalmente abertas. As cápsulas da base, nas
cultivares deiscentes, abrem-se mais cedo, o que indica o
momento exato para se iniciar a colheita. Além disso, a qualidade
das sementes também pode ser afetada caso haja chuvas nos
frutos abertos. A colheita do gergelim deve ser programada para
a época de estiagem e em sincronia com o ciclo da cultivar
que, na maioria, é de 90 a 130 dias.

4. Onde obter mais informações


Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=EJfZtQiSnzg

Publicações:
Gergelim – Coleção 500 perguntas, 500 respostas:
https://bit.ly/3NZk7Mw
Produção de gergelim orgânico nas comunidades de produtores
familiares de São Francisco de Assis do Piauí:
https://bit.ly/3WR64wg
Cultivo do gergelim: https://bit.ly/3A35SQO

Instituição:
Embrapa Algodão
http://www.embrapa.br/algodao
Fone: (83) 3182-4300
Campina Grande, PB
232 DOCUMENTOS 122

Tarcísio Marcos de Souza Gondim

Frutos de gergelim BRS Seda.


Foto: Sérgio Cobel da Silva

Sementes de gergelim, cultivar BRS Anahí.


Tecnologias para a Agricultura Familiar 233

Foto: Sebastião Lemos


Cultivo de gergelim BRS Morena.

Foto: Sérgio Cobel da Silva

Sementes de gergelim, cultivar BRS Morena.


235

Sisteminha
Embrapa/UFU/Fapemig
Laurindo André Rodrigues, Luiz Carlos Guilherme,
Luís Antônio Kioshi Inoue e Tarcila Souza de Castro Silva

1. O que é
É um Sistema Integrado de Produção de Alimentos que
preconiza o combate à fome, popularmente conhecido como
SISTEMINHA. Trata-se de uma tecnologia social que utiliza a
piscicultura intensiva praticada em pequenos tanques, em
recirculação de água. O reaproveitamento dos nutrientes
oriundos do tanque de peixe possibilita a produção integrada e
escalonada de hortaliças, frutas, aves e outros pequenos
animais. A produção de diversos produtos alimentícios, com
diferentes perfis nutricionais, irá proporcionar uma alimentação
saudável e balanceada, garantindo segurança alimentar e
nutricional. O processo produtivo foi dimensionado para atender
as necessidades nutricionais de uma família de quatro pessoas,
de acordo com as recomendações da Organização Mundial de
Saúde (OMS).

2. Benefícios e/ou vantagens


Os principais benefícios são a segurança alimentar, onde as
famílias saem de uma situação de fome ou má nutrição para uma
condição de fartura; a diversidade de alimentos o ano todo e a
transformação do modo de vida de pequenos agricultores em um
processo de inclusão tecnológica.
O usuário do Sisteminha pode se tornar um microempreendedor,
pelas oportunidades de negócios geradas a partir do momento
que tem consciência que pode produzir satisfatoriamente uma
diversidade de alimentos em pequena escala, podendo optar
236 DOCUMENTOS 122

pela ampliação e comercialização dos excedentes de sua


produção. Por se tratar de uma iniciativa e determinação pessoal,
a possibilidade de obtenção de resultados positivos será maior,
principalmente se houver o apoio dos órgãos de extensão e
facilitadores de crédito.

3. Como utilizar
O pacote básico inicial indicado é composto por cinco módulos:
tanque de peixes, galinhas de postura, horticultura, compostagem
de resíduos sólidos e produção de húmus. Há, ainda, a
possibilidade de agregar a criação de outros animais.
O tanque de cultivo de peixes com aproximadamente 10 m³ de
água tem capacidade de produção de 30 quilos de peixe por ciclo
de 100 dias. Todas as produções integradas aproveitam de
alguma forma os resíduos ricos em nutrientes produzidos pela
piscicultura. A ração industrializada utilizada para alimentação
dos peixes, por meio de sobras e dejetos, deixa disponível na
água nitrogênio, fósforo, potássio e outros nutrientes que serão
aproveitados para a irrigação e adubação das plantas.
Os interessados na tecnologia podem procurar capacitação por
meio do Ambiente Virtual de Aprendizado da Embrapa ou a

4. Onde obter mais informações


Vídeos:
https://youtu.be/PNxpzdQ5kps
https://youtu.be/WTnWdvdVX1M
Publicações:
Sistema integrado alternativo para produção de alimentos -
agricultura familiar: https://bit.ly/3EgIJNw
Tecnologias para a Agricultura Familiar 237

Sisteminha Embrapa - UFU - FAPEMIG - Sistema Integrado de


Produção de Alimentos: https://bit.ly/3tm0DYE
Sisteminha integrado alternativo para produção de alimentos:
https://bit.ly/3A3RW9j
Tecnologia barata para produzir alimentos é adotada por 4,5 mil
famílias em 12 estados: https://bit.ly/3fYHjO6

Instituição:
Embrapa Agropecuária Oeste
http://www.embrapa.br/agropecuaria-oeste
Fone: (67) 3416-9700
Dourados, MS

Foto: Claudia Alba Leal

Tanque de cultivo de peixes.


238 DOCUMENTOS 122
Ilustração: Luciana Fernandes

Modelo ilustrado do Sisteminha


Fonte: Guilherme et al. (2019)

5. Referência
GUILHERME, L. C.; SOBREIRA, R. dos S.; OLIVEIRA, V. Q. de.
Sisteminha Embrapa - UFU - FAPEMIG: Sistema Integrado de
Produção de Alimentos - Módulo1: tanque de peixes. Teresina: Embrapa
Meio-Norte, 2019. 63 p. il. Color. (Embrapa Meio-Norte. Documentos,
259). Editor técnico: Magda Cruciol. Disponível em:
<https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/201476/1/Sistemin
ha-Embrapa-UFU-Fapemig-Baixa2019.pdf>. Acesso em 16 maio 2019.
239

Grão-de-Bico
Oscar Fontão de Lima Filho

1. O que é
O grão-de-bico é uma leguminosa, pertencente ao grupo das
pulses, que são leguminosas cujas sementes secas são
utilizadas para a alimentação humana. Também estão incluídas
nesse grupo o feijão-comum, a lentilha, a ervilha, o feijão-caupi, o
guandu, o tremoço, a fava e o feijão-bambara. Os grãos dessas
plantas são fontes importantes de proteína de baixo custo, em
todo o mundo.
As cultivares dessa espécie são classificadas em dois grupos:
desi e kabuli. As do grupo desi são originárias da região Sudoeste
da Ásia, têm plantas menores que as do tipo kabuli, as flores
normalmente têm coloração púrpura e as sementes têm
coloração variável entre amarela e preta e formato irregular.
As cultivares do grupo kabuli são originárias da região do
Mediterrâneo, têm flores brancas, com sementes maiores que as
do grupo desi e cor clara, normalmente bege.
Há vários modos de consumo, como grãos verdes (inteiros e
temperados), secos, partidos (dhal), em pasta (homus), farinha
(besan), reidratados, à vácuo, cozidos, snacks (petiscos),
massas, leite, chips, etc. Opções para a agricultura familiar
incluem a produção orgânica, de brotos e de farinha,
principalmente.
A Embrapa possui cinco cultivares de grão-de-bico do tipo kabuli
(BRS Cícero, BRS Aleppo, BRS Cristalino, BRS Toro e BRS
Kalifa) e uma do tipo desi (BRS Hari). Informações detalhadas,
de cada cultivar, podem ser acessadas nos links mencionados no
final do texto.
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2. Benefícios e/ou vantagens


O grão-de-bico é uma cultura de outono/inverno, ou seja, cultura
de safrinha ou segunda safra, mas, dependendo da região do
País, pode ser semeada a partir de dezembro/janeiro. É utilizado
principalmente na alimentação humana por meio de suas
sementes, mas também pode ser usado como forragem e adubo
verde.
As sementes têm alto teor proteico, sendo que sua qualidade é
considerada a melhor dentre todas as pulses, com a mais alta
digestibilidade. Têm quantidades significativas de aminoácidos
essenciais, especialmente o triptofano, que, dentre outras
funções, é precursor bioquímico da melatonina e da serotonina.
São ricas em importantes lipídeos não saturados, como o ácido
linoleico e o ácido oleico e em fitosteróis, como beta-sitosterol,
campesterol e stigmasterol, além de serem ótima fonte de
elementos minerais, vitaminas (principalmente vitamina E e do
complexo B) e fibra alimentar.

3. Como utilizar
Preparo do solo
Solos com textura média, profundos, com alto teor de matéria
orgânica e pH entre 6,5 e 7,0 são naturalmente os mais
indicados. Entretanto, pode-se cultivar o grão-de-bico em
diversos tipos de solos, manejando-os de acordo com as
condições edáficas locais.
Sempre que possível, dar preferência ao sistema de plantio
direto, por aumentar a aeração e a infiltração da água no solo,
propiciar maior resistência à seca e ao calor, diminuir a erosão,
além da melhor germinação de sementes e emergência das
plantas.
Tecnologias para a Agricultura Familiar 241

Semeadura
As sementes devem ser tratadas tanto com inseticida quanto
com fungicida, pois as doenças de solo são as que mais atacam o
grão-de-bico no Brasil.
A profundidade de semeadura deve ficar entre 3 cm e 5 cm. O
espaçamento de plantio deve ser de 40 cm a 50 cm entre linhas e
7 a 10 sementes por metro linear. O ideal é que haja uma
população final de 150 a 200 mil plantas por hectare.

Adubação
Sempre que possível, realizar a análise do solo, para que o
técnico responsável possa indicar o manejo mais adequado para
a correção e adubação do solo. Para cultivos menos intensivos,
áreas pequenas, é interessante aproveitar todos os insumos
locais possíveis, tanto químicos quanto orgânicos. Para altas
produtividades, pode-se aplicar na adubação de plantio, por
hectare, 50 kg a 70 kg de N, 40 kg a 60 kg de P2O5 e 70 kg a 90 kg
de K2O. Para a adubação de cobertura, 25 a 30 dias após a
emergência, 20 kg a 30 kg de N.

Plantas daninhas, pragas e doenças


Como o grão-de-bico tem crescimento inicial lento, com
fechamento tardio das entrelinhas, o controle das plantas
daninhas é fundamental. Até 65 dias após germinação é
importante que o terreno fique no limpo.
As pragas mais importantes na cultura de grão-de-bico, as quais
merecem atenção e controle imediato, são principalmente
Heliothis ou Chloridea virescens (lagarta-da-maçã), Helicoverpa
armigera e Helicoverpa zea (lagarta-da-espiga-do-milho).
Especial atenção deve ser dada durante o período reprodutivo,
pois as lagartas que atacam as vagens podem causar prejuízos
significativos.
O monitoramento da cultura é fundamental para realizar o
controle das pragas. Consultando o Agrofit, no site do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), são
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encontrados os princípios ativos que podem ser utilizados, sendo


importante efetuar rodízio de inseticidas a cada 28 dias, caso
haja infestação intensa.
As doenças de solo são as principais e mais importantes para a
cultura. Podridão-radicular (Rhizoctonia solani) e Pythium spp.
(tombamento de planta) diminuem o estande e, com o decorrer
do crescimento, pode ocorrer fusariose (Fusarium spp.), às
vezes murcha-de-esclerócio ou podridão-de-colo (Sclerotium
rolfsii). Para diminuir a ocorrência desses patógenos em solos
muito contaminados, é interessante utilizar gramíneas por pelo
menos 2 anos, já que normalmente não são atacadas por essas
doenças e acabam diminuindo o potencial de inóculo, mas não
eliminando.

Colheita
Após 60 dias a 70 dias do florescimento, quando as vagens e
folhas tornam-se amarronzadas e ou amareladas, ocorre a
maturação das sementes. Para a colheita manual, é interessante
efetuá-la quando os grãos estiverem com umidade em torno de
20%. Desse modo, evitam-se perdas devido à deiscência
(abertura das vagens) no momento do arranquio ou corte. O
armazenamento dos grãos deve ser feito com 13% de umidade,
obtida por meio de secagem natural.

4. Onde obter mais informações


Publicações:
Cultivar BRS Hari: https://tinyurl.com/yenzvx98
Cultivar BRS Kalifa: https://tinyurl.com/5bpszcf6
Cultivar BRS Aleppo: https://tinyurl.com/3wtyeu7c
Cultivar BRS Cícero: https://tinyurl.com/4f9xf9mv
Cultivar BRS Toro: https://tinyurl.com/2mstbb4v
Tecnologias para a Agricultura Familiar 243

Cultivar BRS Cristalino: https://tinyurl.com/urfwhw7r


Produtos Agroquímicos e Afins (Agrofit):
https://tinyurl.com/2ejvztej
Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC):
https://tinyurl.com/232dk4ht

Instituição:
Embrapa Hortaliças
https://www.embrapa.br/hortalicas
Fone: (61) 3385-9000
Brasília, DF
Foto: Oscar Fontão de Lima Filho

Grão-de-bico: planta com vagens.


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Foto: Oscar Fontão de Lima Filho

Grão-de-bico: plantas no ponto de colheita.

Grão-de-bico: visão geral da cultura.


Tecnologias para a Agricultura Familiar 245

Foto: Oscar Fontão de Lima Filho

Kabuli Desi

Grão-de-bico: sementes de plantas do tipo Kabuli


e do tipo desi.
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