2024 - Sinopse de Execução

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SINOPSE DO CASE: Cessão temporária de útero e a

Responsabilidade Civil ¹

Ketly Lohani Nascimento Freitas ²


Laura Beatriz da Silva Bertoldo 3
Heliane Sousa Fernandes 4
1 DESCRIÇÃO DO CASO
No case proposto, é apresentada a discussão referente ao servidor público federal André
Freitas, o qual deseja ser pai e opta pela fertilização in vitro em uma barriga solidária. Ele firma
contrato com Adriana Ribeiro, uma terceira pessoa, para que ela seja a receptora do embrião.
Durante a gravidez, Adriana se envolve com Ricardo e decide não entregar a criança a André após
o nascimento.
André move uma ação de Execução com base no contrato assinado, mas Adriana contesta
alegando inexequibilidade do título e incompetência absoluta do juízo. O juízo cível julga
procedente os embargos de Adriana, extinguindo a ação. Insatisfeito, André apela, questionando
a exequibilidade do título e citando direitos fundamentais da Constituição. O debate permeia a
questão envolvendo o tipo de procedimento executivo que poderia ser adotado e as características
executivas que podem ser visualizadas no título contratual apresentado, colocando em
questionamento: você, enquanto julgador, como decidiria o caso?

2 IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE
2.1 Descrição das decisões possíveis

a) Parecer possível
Conforme a legislação atual em vigor, é possível dizer que a vedação do venire contra
fatcum proprium está contida dentro do inciso I, do § 1º, do artigo 113, do Código Civil, onde
poderá ser usado para coibir a contradição perpetrada por uma parte na sequência de atos
posteriores à celebração do negócio jurídico, já que as condutas conflitantes não serão admitidas
dentro de quadrante de expectativas que criam ambiência de confiança.

2.2 Descrição dos argumentos


A priori, por se tratar de uma das técnicas disponíveis de reprodução assistida, a gestação
de substituição é disciplinada pelo ordenamento existente e, enquanto nenhum dos projetos de lei
em andamento no Congresso é aprovado, seus limites são impostos pela própria sociedade,
destacando-se os acordos entre os envolvidos e as normas éticas do Conselho Federal de Medicina
(CFM).
1 Case apresentado à disciplina de Execução no Processo Civil, no Centro Universitário Dom Bosco- UNDB.
2 Aluna do Sexto período, do curso de Direito, da UNDB.
3 Aluna do Sexto período, do curso de Direito, da UNDB.
4 Professora, Mestre
A doação temporária de útero não deve ter objetivo comercial ou lucrativo, sendo um dos
limites impostos pelo ordenamento jurídico brasileiro a gratuidade, assim como pelas normas
éticas que regem a reprodução assistida.
O fato é consequente dos mesmos princípios referentes à doação de gametas, uma vez que
o corpo humano e suas substâncias são objetos fora de comércio e, portanto, a denominação
“barriga de aluguel” é considerada imprópria, apesar de popular, não sendo lícito falar em
contrato. Torna-se adequado, assim, o emprego dos termos “cessão ou doação temporária de
útero”, que refletem exatamente o que se admite e pretende.
Atualmente, a gestação em substituição é regulamentada pela Resolução do Conselho
Federal de Medicina (CFM), que teve sua primeira edição de n.º 1.358 de 1992, após as de n.º
1.957/2010, n.º 2.013/2013, n.º 2.121/2015, n.º 2.168/2017, nº 2.294/2021 e, a mais recente,
regente, a de n.º 2.320/2022. As resoluções foram criadas com o intuito de como proceder com a
técnica do referido procedimento. Certo ainda é que a responsabilidade civil no caso em questão,
possui os elementos que a embasem, isto é, verdadeiros requisitos formadores do dever de
indenizar, levando-se em consideração que sem eles não há o que se falar na obrigação de
ressarcimento. São eles: a conduta humana, o nexo de causalidade e o dano ou prejuízo
(MOREIRA, 2017).
Mesmo que realizado um contrato no tocante ao útero de substituição, face à não
regulamentação específica da matéria. A controvérsia advinda deste ato deve ser resolvida no
sentido de se valer o que foi acordado dentro do contrato anteriormente realizado. No Brasil, não
há lei específica que regulamente essa prática, fazendo com que a decisão judicial para casos
levados a seu crivo se sustente na boa-fé contratual e dignidade da pessoa humana.
Camila Vendrami et al. (2010), assegura que fica estabelecido que a conduta contrária à
norma jurídica tem como efeito a imposição ao ofensor de reparar o dano que tenha acarretado,
como se vê, tem sua origem na violação de um dever inserido num contrato anteriormente
realizado. A conduta, absorvida pela prática danosa, faz com que o dano seja seu fruto e o dever
de indenizar sua consequência. Assim, o contrato de gestação de útero de substituição firmado
entre o genitor, hospedeira e terceiros, em comunhão das duas vontades, quando violado deve ser
reparado.
Mesmo não tendo uma determinação legal atribuída à prática do útero de substituição, uma
vez firmado o acordo, ele tem força obrigatória, compelindo os contratantes ao cumprimento do
conteúdo do negócio jurídico. Nesse sentido, Flávio Tartuce (2022) ensina ainda que o contrato
não tem foco no patrimônio, mas sim no indivíduo que contrata, a fim de atender o mínimo para
que a pessoa viva com dignidade.
A não entrega da criança gera uma grave quebra no acordo, sendo necessário que a mulher
hospedeira seja compelida a entregá-la a quem por ela espera. Destaca-se ainda que a barriga
solidária, a partir do momento em que firma o liame subjetivo, confere segurança àquela situação.
Diante de todo o exposto, imprescindível, também, neste processo, assegurar o princípio
do melhor interesse da criança e do adolescente, previsto tanto no Estatuto da Criança (ECA) e
do Adolescente quanto na Constituição Federal (1988), esta, especificamente no art. 227, in
verbis:

é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao


jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, [...]. (BRASIL, 1988)

Ainda com relação à quebra do contrato pela mulher hospedeira, no momento em que ela
decide não entregar a criança por ela gerada, há uma objeção ao princípio da função social dos
contratos. Por meio desse princípio, Vera Lúcia Raposo (2017), esclarece que o homem é
considerado como um ser de valor ético e moral, erguido a um grau de respeitabilidade que se
reflete nos atos que pratica durante seu cotidiano, com maior rigor ainda neste delicado contrato
que é o de gestação de útero de substituição. O que se vê, neste contrato, é muito mais do que uma
simples obrigação, e sim a concretização de um sonho e realização afetiva.
Além disso, face ao desrespeito às cláusulas contratuais, a medida a se realizar é a tutela
específica da entrega da criança, permitida pelo Código de Processo Civil no artigo 536, caput,
indicando que o juiz poderá determinar, de ofício ou a pedido, a efetivação da tutela específica na
obrigação inserida no contrato. Essa precaução é, sem dúvida, a única solução para a pessoa ou o
casal que idealizou o projeto parental e que esperam, acima de qualquer outra coisa, a companhia
e a guarda da sua criança.
Outrossim, o desgaste emocional e os danos psicológicos sofridos por André, face à
frustração na expectativa da entrega da criança devem ensejar a devida reparação pelo dano moral
experimentado, que é aquele que ocorre quando há vilipêndio a algum direito da personalidade.
A mulher hospedeira não detém em seu poder o juízo decisório de escolher se ou quando a criança
deve ser entregue. Ela simplesmente deve entregar, no tempo certo e de acordo com tudo o que
foi outrora pactuado por ela, uma vez que o Direito não protege comportamentos contraditórios
que causem qualquer tipo de prejuízo.

2.3 Descrição dos critérios e valores

Conselho Federal de Medicina: Trata-se de uma instituição governamental com


responsabilidades estabelecidas pela Constituição para supervisionar e estabelecer regras para a
prática médica no território brasileiro;

Vilipêndio: no contexto, trata-se de desrespeitar ou menosprezar um direito que está sujeito a


uma obrigação legal ou moral de ser respeitado ou protegido.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição Federativa da República do Brasil, de 1988. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 26 de
mar.2024.

BRASIL. Código Civil, Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 26 de mar.
2024.

BRASIL. Código de Processo Civil. Lei n° 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/113105.htm>. Acesso em: 26 de
mar.2024

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução nº 2.320/2022. Disponível em:


https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2022/2320. Acesso em: 27 de mar.
2024.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução nº 1.358/1992. Disponível em:


https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/1992/1358 . Acesso em: 27 de
mar.2024

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução n° 1.957 de 2010. Disponível em:


http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2010/1957_2010.htm. Acesso em: 26 de mar.
2024.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução nº 2.168/2017. Disponível em:


https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2017/2168. Acesso em: 29 mar
2024.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução nº 2.013/2013. Disponível em:


https://portal.cfm.org.br/images/PDF/resoluocfm%202013.2013.pdf. Acesso em: 29 de mar.
2024.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução nº 2.212/2015. Disponível em:


https://sistemas.cfm.org.br/normas/arquivos/resolucoes/BR/2015/2121_2015.pdf. Acesso em:
28 de mar. 2024.

MOREIRA, Raquel Veggi; BOECHAT, Hildeliza Lacerda Tinoco. Útero de Substituição: A


Responsabilidade Civil da Mulher Hospedeira em Caso de Recusa da Entrega da Criança. R.
EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p. 177 – 190, 2017 Disponível em:
https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista19_n4/revista19_n4_177.pdf.
Acesso em: 29 de mar. 2024.

RAPOSO, Vera Lúcia. Tudo aquilo que você sempre quis saber sobre contratos de gestação
(mas o legislador teve medo de responder). Revista do Ministério Público, v. 149, p. 9-51,
2017. Disponível em: https://rmp.smmp.pt/wp-
content/uploads/2017/05/2.RMP_149_Vera_Raposo.pdf. Acesso em 26 de mar. 2024.

TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 17. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2022, p. 139.

VENDRAMI, Camila Lopes et al. Cessão temporária de útero: aspectos éticos e ordenamento
jurídico vigente. Femina, 2010. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/0100-
7254/2010/v38n6/a1515.pdf. Acesso em: 28 de mar. 2024.

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