2024 - Sinopse de Execução
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Responsabilidade Civil ¹
2 IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE
2.1 Descrição das decisões possíveis
a) Parecer possível
Conforme a legislação atual em vigor, é possível dizer que a vedação do venire contra
fatcum proprium está contida dentro do inciso I, do § 1º, do artigo 113, do Código Civil, onde
poderá ser usado para coibir a contradição perpetrada por uma parte na sequência de atos
posteriores à celebração do negócio jurídico, já que as condutas conflitantes não serão admitidas
dentro de quadrante de expectativas que criam ambiência de confiança.
Ainda com relação à quebra do contrato pela mulher hospedeira, no momento em que ela
decide não entregar a criança por ela gerada, há uma objeção ao princípio da função social dos
contratos. Por meio desse princípio, Vera Lúcia Raposo (2017), esclarece que o homem é
considerado como um ser de valor ético e moral, erguido a um grau de respeitabilidade que se
reflete nos atos que pratica durante seu cotidiano, com maior rigor ainda neste delicado contrato
que é o de gestação de útero de substituição. O que se vê, neste contrato, é muito mais do que uma
simples obrigação, e sim a concretização de um sonho e realização afetiva.
Além disso, face ao desrespeito às cláusulas contratuais, a medida a se realizar é a tutela
específica da entrega da criança, permitida pelo Código de Processo Civil no artigo 536, caput,
indicando que o juiz poderá determinar, de ofício ou a pedido, a efetivação da tutela específica na
obrigação inserida no contrato. Essa precaução é, sem dúvida, a única solução para a pessoa ou o
casal que idealizou o projeto parental e que esperam, acima de qualquer outra coisa, a companhia
e a guarda da sua criança.
Outrossim, o desgaste emocional e os danos psicológicos sofridos por André, face à
frustração na expectativa da entrega da criança devem ensejar a devida reparação pelo dano moral
experimentado, que é aquele que ocorre quando há vilipêndio a algum direito da personalidade.
A mulher hospedeira não detém em seu poder o juízo decisório de escolher se ou quando a criança
deve ser entregue. Ela simplesmente deve entregar, no tempo certo e de acordo com tudo o que
foi outrora pactuado por ela, uma vez que o Direito não protege comportamentos contraditórios
que causem qualquer tipo de prejuízo.
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei n° 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/113105.htm>. Acesso em: 26 de
mar.2024
RAPOSO, Vera Lúcia. Tudo aquilo que você sempre quis saber sobre contratos de gestação
(mas o legislador teve medo de responder). Revista do Ministério Público, v. 149, p. 9-51,
2017. Disponível em: https://rmp.smmp.pt/wp-
content/uploads/2017/05/2.RMP_149_Vera_Raposo.pdf. Acesso em 26 de mar. 2024.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 17. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2022, p. 139.
VENDRAMI, Camila Lopes et al. Cessão temporária de útero: aspectos éticos e ordenamento
jurídico vigente. Femina, 2010. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/0100-
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