Os Vazios Urbanos Na Cidade de Joao Pessoa
Os Vazios Urbanos Na Cidade de Joao Pessoa
Os Vazios Urbanos Na Cidade de Joao Pessoa
João Pessoa – PB
Junho de 2018
DANIEL DAVID FERNANDES DANTAS
João Pessoa – PB
Junho de 2018
AGRADECIMENTOS
Aos colegas de graduação da Turma 2013.1 bem como os que foram surgindo
durante esta caminhada, muito obrigado.
The urban voids emerged in the city of João Pessoa mainly after the decades of 1970-
1980 associated with the dispersed urbanization model implemented by the Brazilian
National Housing Bank (BNH), and they areas are left unused waiting for real estate
valorization. After the 2000s is perceived that the new wave of housing programs
reproduces the same social phenomena. This is a descriptive and exploratory research,
aiming to understand how the process of production of urban voids in the city and its
current distribution took place. The research was done initially from bibliographical and
documentary reading, followed by obtaining data from government agencies. The
cartographic representations and analyzes of the database are based on data from the
Department of Urban Planning of João Pessoa, regarding land use and occupation. The
survey identified the use of these areas at the beginning and end of the cut (2006-2017),
and analyzed these transformations in the land use based on the legislative changes, and
with that found that more than 52% of the vacant properties remained idle for more than
a decade. In addition, there was a brutal land concentration in them.
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Imagem obtida de um site de compra e venda de imóveis que atua em todo o
país.............................................................................................................................................. 63
SUMÁRIO
Introdução ..................................................................................................................... 10
Capítulo 1 ...................................................................................................................... 15
Capítulo 2 ...................................................................................................................... 23
Capítulo 3 ...................................................................................................................... 29
3.1 - Vazios urbanos: Quais os mecanismos legais para lidar com este problema? ... 35
Capítulo 4 ...................................................................................................................... 39
Análise dos dados sobre vazios urbanos em João Pessoa (2006-2017) .................... 39
Recomendações ............................................................................................................. 64
Introdução
Capítulo 1
O processo de urbanização, a urbanização espraiada e a produção de
vazios urbanos
Outra grande diferença da urbanização das cidades nos países desenvolvidos dá-
se pela relação entre as áreas centrais e áreas periféricas. No modelo de urbanização dos
países desenvolvidos as áreas mais periféricas são onde normalmente se encontram a
população de maior poder aquisitivo e nas áreas mais centrais, encontra-se a população
de menor poder aquisitivo. Conforme Hansen (2016a), essa dinâmica é bastante efetiva
pois, como as áreas centrais das cidades normalmente concentram maior oferta de
emprego, este fator atrai a massa mais pobre para morar próxima aos centros.
Essas áreas então tornam-se geralmente mais adensadas, com intenso fluxo de
pessoas e veículos, e são normalmente habitadas pelos moradores de menor poder
aquisitivo, enquanto que as elites vão em busca de locais mais sossegados e amenos nos
subúrbios. Nesta relação Centro-Periferia onde os pobres moram próximos ao centro,
ocorre uma maior facilidade no transporte diário dessa população aos seus postos de
trabalho, consequentemente há menos trânsito nessas cidades, bem como, diminui-se os
gastos desta população até a sua jornada de trabalho e não necessariamente exclui os
pobres das cidades.
A população rica, que tem melhores condições de mobilidade e de arcar com os
custos do transporte moram nos subúrbios1. Estão são áreas onde se tem uma maior
qualidade de vida, maiores propriedades, áreas verdes, onde muitas das casas sequer
possuem muros, diferentemente dos subúrbios dos países subdesenvolvidos.
Nos países subdesenvolvidos, no entanto, a realidade é oposta. O processo de
urbanização ocorreu em um período posterior ao dos países desenvolvidos, por
conseguinte, o aparato tecnológico industrial, as técnicas empregadas e até mesmo o
modelo de produção (inspirados no Fordismo de 1914) contratavam menos mão de obra
desqualificada. (HANSEN, 2016b)
Nesses países, inicia-se o processo de urbanização se intensifica principalmente
a partir da década de 1950, quando houve um processo de urbanização em massa e que
ocorreu de forma muito rápida. A industrialização gerou um aumento na oferta de
empregos nas áreas urbanas, enquanto gerava desemprego na zona rural,
principalmente, devido às mudanças causadas pela reestruturação produtiva das
atividades no campo. Entre elas podemos destacar as mudanças nas relações de
trabalho, os processos de mecanização da produção, associadas às grandes
concentrações fundiárias da realidade brasileira que fazem com que cada vez menos
1
Aqui entendidos como áreas mais afastadas do centro
17
mão de obra fosse absorvida. Isso se configura como um grande problema, pois a maior
parte da população morava no campo e possuía atividades voltadas à economia agrária.
Tais mudanças acarretaram em um grande processo de migração campo-cidade,
conhecido por êxodo rural. (SANTOS, 1993)
Estas cidades por sua vez não possuíam estrutura para suportar tamanho
aumento da população em um período tão curto. O grande crescimento populacional
causado principalmente pela migração, não permitiram a esses países um adequado
planejamento urbano, sendo assim conforme posto por Hansen (2016a), diferente dos
países desenvolvidos onde diversas cidades eram desenvolvidas simultaneamente para
que a população tivesse a possibilidade de ir para diferentes centros urbanos e ainda
assim obter uma melhor qualidade de vida, nos países subdesenvolvidos a maior parte
dos postos de trabalho, serviços e infraestrutura, se concentram em determinadas
cidades. Desta forma as migrações dos países subdesenvolvidos são extremamente
concentradas nestas cidades.
Tal concentração dos fluxos migratórios por sua vez, fez com que aumentassem
cada vez mais a população destas cidades, população essa que em sua grande maioria
era composta de mão de obra desqualificada. Dessa forma, muitos acabam não tendo
acesso ao setor formal da economia, conforme posto por Santos (1993), e mesmo
aqueles que conseguem trabalhos, não recebem uma quantia condizente para o acesso à
terra.
Retomando aqui o modelo Centro-Periferia, em países subdesenvolvidos como o
Brasil, as áreas mais centrais são os locais onde normalmente moram as classes mais
ricas, portanto, eram nesse contexto as áreas mais valorizadas.
Consequentemente, as parcelas mais pobres da população acabam sendo levadas
a áreas cada vez habitar áreas cada vez mais distantes, contudo, contraditoriamente,
percebe-se que isso não se deve a indisponibilidade de terras, pois identificam-se áreas
“vazias” nas cidades. Instala-se uma realidade em que as menores parcelas da população
constituída pelos ricos moram próximas as áreas com infraestrutura, comércios,
serviços, ofertas de trabalho e melhor qualidade de vida, enquanto a maior parte da
população vê-se distante de tais benefícios e tendo que gastar mais recursos para o seu
deslocamento, tornando a cidade mais cara para os que têm menos recursos.
Tal processo acarretou uma grande expansão horizontal das cidades que é
denominada por Santos (1993) como sendo uma urbanização espraiada. É nesse
contexto que se tem a expansão das metrópoles e das chamadas “cidades médias”.
18
[...] uma concepção geral de análise que o define como as áreas sem
edificações, loteadas ou não, particulares e públicas. Consideramos,
também, as áreas públicas pois estas áreas - e aqui não estamos
falando de praças e áreas verdes –, mesmo que não participem do
processo de especulação imobiliária, estão encravadas no tecido
urbano, sem a função social da terra, prevista por lei pelo Estatuto da
Cidade. (p. 54)
Capítulo 2
O uso do solo urbano e a especulação imobiliária
Acreditamos que para se ter uma maior compreensão dos vazios urbanos
existentes é necessário um entendimento sobre a produção e apropriação do espaço; as
relações sociais desenvolvidas; a ação dos agentes que produzem o espaço urbano; os
interesses que os motivam e ainda investigar como tais agentes podem influenciar a
criação do espaço e, desta forma, moldar a paisagem. Uma vez que uma das
repercussões do capitalismo sobre a produção do espaço geográfico é a transformação
da terra em mercadoria. Para iniciar esta discussão, utilizaremos as considerações de
Martins (1990) ao dizer que:
Desta forma o capitalismo gera lucros sobre a terra na medida em que domina o
processo de produção e não através dos frutos do trabalho. Com isso, Brito (2008)
afirma que “para entender os vazios urbanos é preciso pressupor que a terra não está
‘vazia’, pois carrega o título de propriedade privada da terra.”
Contudo, o espaço não pode ser simplesmente visto como algum objeto a
venda frente ao capitalismo. A partir da afirmação de Corrêa (1993, p. 1) que “Eis o que
é espaço urbano: fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto
de símbolos e campo de lutas. É assim a própria sociedade [...], materializada nas
formas espaciais”.
Percebe-se com isso que o espaço é também um local de construção social,
onde, para o especulador, a terra é tratada como um produto com função de compra e
venda através de seu valor de troca, isto dificulta o acesso à terra das pessoas com
menor poder aquisitivo, para o qual a terra é um bem com valor de uso. Essa dinâmica
fica bem expressa conforme o pensamento de Neves (2003), ao afirmar que:
Dessa maneira o solo urbano não se constitui apenas de valores monetários, mas
também significado. Assim, para uma melhor compreensão de como ou porque a terra é
tratada como mercadoria, é necessário um melhor entendimento de alguns conceitos que
estão intrinsicamente relacionados aos vazios urbanos.
25
[...] uma forma pela qual os proprietários de terra recebem uma renda
transferida dos outros setores produtivos da economia, especialmente
através de investimentos públicos na infraestrutura e serviços urbanos
que são os meios coletivos de produção e consumo ao nível de espaço
urbano. [...] (p. 48)
Saboya (2008) descreve alguns fatores que valorizam o preço do solo, como as
ocupações ao redor de um terreno ou o simples fato de passar a existir residências ou
comércios ao seu redor, já valorizam um imóvel. Aqui é importante destacar que nem
toda a valorização fundiária é de origem especulativa, visto que a reprodução do espaço
urbano da cidade é um fator que também aumenta o preço dos terrenos.
O crescimento populacional é um outro fator que valoriza a terra, afinal quanto
maior a população maior a demanda de habitações. Quando a maioria das áreas ao seu
entorno estiverem ocupadas, os terrenos que continuam à venda são valorizados pela
simples lei da oferta e demanda. É uma prática especulativa comum determinados
grupos obter imóveis em grandes quantidades, ou em grandes áreas em uma mesma
região, criando uma valorização artificial nos preços de todos os imóveis do entorno.
Além disso, quanto melhor for sua infraestrutura, maior é o preço de um terreno,
do mesmo modo, terrenos sem infraestrutura são menos valorizados. O solo urbano se
valoriza a partir de sua localização e a sua estrutura, normalmente quanto mais
integrado ao sistema urbano maior é o preço de um terreno. Contudo a variação do
preço do solo depende à que grupos sociais se destina a área: alta ou baixa ou renda, isto
se reflete no tamanho dos lotes e na variação do preço por metro quadrado.
Conforme Bassul (2016) é desta forma que a cidade se torna cada vez mais cara
para os que tem menos recursos. Os vazios urbanos induzem a especulação imobiliária e
vice-versa, asseguram à desigual valorização do solo urbano, afinal de contas o Estado
não pode equipar todas as áreas ao mesmo tempo, desta forma tornando o investimento
público mais caro e menos justo. Vale a pena aqui destacar que a implementação de
acesso à água, esgoto, pavimentação, canalização das águas pluviais (“boca de lobo”),
distribuição de energia elétrica e iluminação pública, entre outros, são serviços caros e
que precisam de manutenção esporádica, e quem custeia tais equipamentos urbanos é a
28
sociedade como um conjunto, para que no fim haja uma privatização dos lucros. Com
isso, percebe-se de que forma os vazios urbanos não cumprem a função social da terra.
Além disso a especulação fomenta a própria especulação, a valorização das áreas
já urbanizadas aumenta o preço da terra que leva à expulsão dos pobres para bairros
mais distantes no periurbano, intensificando a segregação e a periferização, forçando o
poder público a investir em novas áreas. Aqui ocorre outro tipo de especulação, através
da transição do parcelamento do solo rural em solo urbano, bem como, uma vez que o
investidor venda os seus imóveis em uma área ele irá procurar outros locais para
adquirir e repetir o processo em um ciclo vicioso conforme registrado por Campos Filho
(2001).
Além das formalidades em se dizer que o vazio urbano, ou “terreno baldio” na
linguagem popular, não cumprem a função social da terra, tais espaços também trazem
outros problemas, visto que, muitas vezes são sinônimos de locais de acúmulo de lixo,
proliferação de ratos e baratas, depósito de entulho, ponto de uso de droga, entre outros.
Com base nestes pressupostos iremos agora entender como que se difundiu tal
fenômeno na cidade de João Pessoa.
29
Capítulo 3
Histórico e formação dos vazios urbanos em João Pessoa
Mapa 2 – Área urbana de João Pessoa em diversos períodos, adaptado de Oliveira (2006)2
2
OLIVEIRA, José Luciano Agra de. Uma contribuição aos estudos sobre a relação transportes e
crescimento urbano: O caso de João Pessoa – PB. (Dissertação). Mestrado em Engenharia Urbana.
UFPB. João Pessoa, 2006. Acrescentamos a malha urbana de 2017 com base nos dados da Seplan JP.
33
inciso XXIII que diz que “a propriedade atenderá a sua função social”, esta será
discutida neste trabalho com mais detalhes adiante.
A década de 1990 registra tendências de verticalização nos bairros nobres,
atraindo a ação do mercado imobiliário uma vez que o edifício vertical aumenta as
oportunidades de lucro sobre o terreno através da possibilidade de multiplicação do solo
(por andar), o que acaba valorizando ainda mais o solo urbano da área. (CHAVES,
2008).
A lógica é a de que os proprietários de imóveis aumentem ainda mais seu
patrimônio através transações de compra e venda da terra com altos lucros em virtude
da especulação e valorização gerada por investimentos públicos, ou simplesmente
assegurassem o seu patrimônio com a retenção de terra sem a intenção de lucro imediato
em transações imobiliárias, mas usando-a como reserva de capital.
Conforme Maia (2014) do início da década de 1990 até os primeiros anos da
década seguinte, que marca o início do século XXI, algumas políticas públicas foram
criadas para a habitação popular, contudo, sem grande impacto na modificação da
cidade.
Desta forma, vimos que a expansão espraiada incentivada, sobretudo pelas
políticas habitacionais do BNH, instaurou diversos vazios urbanos na cidade de João
Pessoa, como de forma geral nas cidades brasileiras. A ausência de legislação específica
para combater tal prática foi um dos agravantes que permitiu a intensificação do
processo como um todo, desta forma, veremos o surgimento de leis que buscam reverter
esse quadro.
3.1 - Vazios urbanos: Quais os mecanismos legais para lidar com este problema?
Silva (1999) afirma que se os vazios urbanos são gerados como consequência do
modo de expansão da cidade, e pelas facilidades dadas pelas prefeituras, estes se
mantêm devido à ausência de instrumentos fiscais para penalizar a retenção de terras.
Nesse sentido, sobre as políticas públicas Teixeira (2002, p. 02) afirma:
mesmo, pois a cidade é um bem coletivo e o uso da cidade deve respeitar a coletividade,
desse modo busca-se subordinar o uso dos imóveis não edificados, subutilizados e não
utilizados a um aspecto voltado a melhoria da coletividade. (MARICATO, 2001)
.Esta política urbana, em suas diretrizes gerais, com base no Artigo 2, visa
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana
em prol do bem coletivo e do bem-estar dos cidadãos, buscando, entre outros, garantir o
direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao
transporte, aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, por meio de uma gestão
democrática com participação de diversos segmentos da sociedade na formulação,
execução e acompanhamento dos projetos de desenvolvimento urbano.
Tudo isso de forma a evitar a utilização inadequada dos imóveis urbanos, seja
pela retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte em sua subutilização ou não
utilização, seja pelo uso incompatível ou inconveniente como o parcelamento do solo, a
edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infra-estrutura urbana de
modo a evitar a deterioração das áreas urbanizadas Desta forma seria capaz de buscar
gerar uma justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de
urbanização.
De acordo com o Art. 4°, serão utilizados para isso, entre outros instrumentos:
I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e
de desenvolvimento econômico e social;
II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões;
III – planejamento municipal, em especial:
a) plano diretor;
b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo;
c) zoneamento ambiental;
d) plano plurianual;
e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual;
f) gestão orçamentária participativa;
g) planos, programas e projetos setoriais;
h) planos de desenvolvimento econômico e social; (BRASIL, 2001)
da dívida pública. A lei do Estatuto das Cidades diz que é competência dos municípios a
adequação dos planos diretores à mesma. Desta forma, iremos posteriormente analisar a
adequações realizadas pelo Plano Diretor da cidade de João Pessoa no ano de 2009 à
esta lei, destacando os principais instrumentos da política urbana no que diz respeito à
Legislação vigente.
Contudo, como o banco de dados é referente à um período anterior a
mencionada adequação, acreditamos ser importante inicialmente apresentar o quadro de
João Pessoa durante este período.
39
Capítulo 4
Análise dos dados sobre vazios urbanos em João Pessoa (2006-2017)
Mapa 3 - Malha urbana e os vazios urbanos em João Pessoa referente ao periodo de 2006
Totalizando uma área de aproximamente 105 km² de malha urbana, sendo 27,5
km² de vazios urbanos, dentre os 176.723 lotes presentes no shapefile, 44.064 lotes
eram marcados como “vazios urbanos” na coluna de “atividades” que se refere ao uso e
ocupação do solo, ou seja, aproximadamente um quarto dos lotes totais. É possível
observar a dispersão das áreas vazias, notoriamente nos bairros da zona sul nas zonas
mais periurbanas, destas áreas com grande quantidade de vazios partindo da direita para
41
3
Disponível em: http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2015/08/bairros-de-joao-pessoa-so-existem-
oficialmente-ha-menos-de-20-anos.html
42
Nos termos do Artigo 5° do Estatuto da cidade (Brasil, 2001)4, que trata sobre
o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, está expresso que a partir da Lei
Municipal específica para área incluída no Plano Diretor poderá ser determinado o
parcelamento, a edificação ou a utilização compulsória do solo urbano não edificado,
subutilizado ou não utilizado. Devendo assim, serem fixadas as condições e os prazos
para implementação da referida obrigação; sendo tido como subutilizado o imóvel cujo
aproveitamento seja inferior ao mínimo estabelecido pelo Plano Diretor do município.
Com isto, o proprietário será notificado pelo Poder Executivo Municipal para o
cumprimento da obrigação (Artigo 5; Parágrafo 1, Inciso 1).
O Parágrafo 3 deste artigo determina ainda que, caso não cumpra com esta
determinação, o proprietário do imóvel receberá uma notificação que se fará através de
4
Disponível em: Estatuto da cidade. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm
43
5
Plano Diretor da Cidade de Joao Pessoa 2009. Disponível em
http://www.joaopessoa.pb.gov.br/portal/wp-content/uploads/2012/04/planodiretor2009.pdf
44
Mapa 4 - Áreas em João Pessoa no ano de 2017 que estão susceptíveis a utilização dessa
ferramenta
45
Municipal, cuja alíquota máxima pode chegar à quinze por cento (Artigo 7°. Parágrafo
1).
O parágrafo 2 determina que caso a obrigação de parcelar, edificar ou utilizar
não seja atendida em cinco anos, o Município manterá a cobrança da alíquota máxima,
até que seja cumprida a referida obrigação ou garantida a possibilidade de
desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública. Já o 3º§ expressa que não
devem ser concedidas isenções ou perdão das cobranças progressivas a estes imóveis.
Ou seja, o IPTU Progressivo é um regime que se aplica às propriedades já sob o efeito
do parcelamento, edificação e utilização compulsórias.
Na adequação do Plano Diretor da Cidade de João Pessoa, a definição do IPTU
progressivo é tida conforme o Artigo 7º, inciso XXV, como sendo o aumento da
alíquota do IPTU pelo prazo de cinco anos consecutivos, até a alíquota máxima de dez
por cento (10%) do valor venal6 do imóvel. O IPTU progressivo de João Pessoa
escalona de dois em dois por cento ao ano sucessivo de não cumprimento do
parcelamento, edificação ou utilização compulsórias.
É importante aqui fazer o destaque de que o Estatuto das Cidades dava a
possibilidade de estabelecer a alíquota máxima com o valor de até quinze por cento
(15%) do valor venal do imóvel, contudo, ficaria competido a responsabilidade do
município estabelecer o topo da alíquota através do Plano Diretor, no caso da cidade de
João Pessoa o limite se estabeleceu como sendo dez por cento (10%) do valor venal do
imóvel.
Aqui é importante salientar que identificamos, com base nos dados os terrenos
que estão vazios a mais de 11 anos, pois estes já se encontravam vazios antes mesmo do
primeiro levantamento da Prefeitura. Dessa forma, na teoria, todas essas áreas estão
sujeitas a cobrança do IPTU progressivo e, muito possível, da desapropriação. Contudo,
esta representação será apresentada posteriormente, pois estará contextualizada com
outros processos.
Passados cinco anos ou mais as alíquotas do IPTU progressivo se mantem no
limite máximo estabelecido e o imóvel então estaria sujeito a aplicação sucessiva da
próxima ferramenta.
6
O valor venal é a base de cálculo para o IPTU.
47
7
O Artigo 8 do Estatuto da cidade aborda a desapropriação com pagamento em título da dívida pública.
Está disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm
8
Artigo 7, Inciso XIV do Plano Diretor da Cidade de Joao Pessoa 2008. Disponível em:
http://www.joaopessoa.pb.gov.br/portal/wp-content/uploads/2012/04/planodiretor2009.pdf
48
Mapa 5 - Uso e ocupação do solo encontrado no ano de 2017 das áreas que eram tidas como
vazios urbanos9 no ano de 2006
9
Na análise deste mapa identificamos através de uma sobreposição com uma versão georreferenciada do
Macrozoneamento (2012) algumas das áreas na porção ao leste do bairro Costa do Sol que permaneceram
como vazios urbanos, porém foram enquadradas como Zona de Preservação Ambiental – ZPA de acordo
com o novo zoneamento, desta forma excluímos desta representação as áreas públicas conforme os
parâmetros de vazios urbanos utilizados na pesquisa, as áreas privadas na ZPA contudo permanecem na
representação.
50
As áreas representadas pela cor laranja, permaneceram vazias desde 2006, até o
ano de 2017, totalizando mais de 10 anos de ociosidade.
As áreas representadas em verde neste mapa foram destinadas a habitações, não
fazendo distinção entre áreas residenciais comuns cujo valor de aproveitamento do solo
no mínimo igual a 1, condomínios edílicos residenciais (condomínios verticais) e
condomínios residenciais também chamados de condomínios horizontais.
Foram enquadrados como “outros”, diversos usos e ocupações que mesmo
agregados continuam tendo uma baixa porcentagem, foram eles:
Indefinido: 60;
Serviços relacionados a Educação: 20;
Serviços relacionados a Saúde:11;
Igrejas e Templos de qualquer culto: 17;
Hospital: 1, localizado no bairro do Tambiá (Santa Casa da Misericórdia da
Paraíba) e 1 área somada ao 15° Batalhão de Infantaria Motorizada de Cruz das Armas.
Desta forma fica claro perceber uma forte dinâmica relacionada a retenção de
terras com fins de especulação, uma vez que 52,20% de todos os terrenos tidos como
vazios urbanos desde 27 de Dezembro de 2006 continuaram como terrenos ociosos em
27 de Fevereiro de 2017, com base nos dados da SEPLAN.
Com base na representação do mapa, devido à vasta diferença entre as
proporções de utilizações que foram dadas a estes terrenos, pode-se perceber com maior
51
clareza a dinâmica de permanência desses vazios urbanos, de forma mais intensa nos
eixos do litoral norte, litoral sul10 e das zonas periurbanas e a dispersão das habitações
ao longo dos bairros do eixo sudeste e sul, impulsionados principalmente com a
construção habitacional com apoio de financiamento público.
Além disso, entendemos que a conversão de 46,0% dos vazios urbanos de 2006
em habitações, principalmente nos eixos sul e sudeste, é um fruto conjunto da
“urbanização natural” da cidade onde os preços das terras nestes locais não são tão
exarcebantes quanto por exemplo nas áreas centrais, associado a isto tem a ação do
Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) e suas linhas de financiamento.
A partir de 2001, com a aprovação do Estatuto da Cidade, e em 2003, com a
criação do Ministério das Cidades, há uma retomada das construções de interesse social
em João Pessoa. Segundo Maia (2014), neste período, foram criados diversos
programas voltados à habitação popular ou a famílias com baixa renda, realizadas
principalmente pela Companhia Estadual de Habitação Popular (CEHAP) e pelo Fundo
Nacional de Habitação de Interesse Social (FHNIS).
É importante destacar que houve um atraso na adequação do Plano Diretor de
João Pessoa ao Estatuto das Cidades, uma vez que deveria ser elaborado em 2002, este
veio a ser instituído apenas em 20 de Março de 2009 através do Decreto N.°6.499,
durante a gestão do Prefeito Ricardo Coutinho (2005-2010) e trouxe a adequação aos
artigos 182 e 183 da constituição, bem como algumas mudanças no zoneamento da
cidade, podemos aqui incluir a mudança na permissão de uso no bairro do altiplano que
removeu algumas restrições de construção, aumentando o índice de aproveitamento para
construções. Sobre isso, podemos comentar com base em Bassul (2016) que o
patrimônio de um cidadão é formado não só por seus bens materiais, mas também pelos
direitos que este possui, desta forma, um proprietário de imóvel tem seu patrimônio
aumentado quando o potencial construtivo de seu imóvel passa a ser maior.
Segundo Leal (2014, p.59) “A fase Ministério das Cidades equivale à produção
pública de habitação de interesse social entre 2000 e 2012, totalizando 11.464
moradias”, distribuídas pela cidade de João Pessoa, sendo a Companhia Estadual de
Habitação a responsável pelas políticas públicas habitacionais, porém a autora destaca
que houve maior atuação nos bairros de Gramame e Valentina no eixo sul e no conjunto
Mangabeira no eixo sudeste. Conforme mostra o mapa a seguir elaborado pela autora:
10
Litoral sul aqui tido como o recorte geográfico trabalhado por Barbosa (2005).
52
Mapa 6 - Bairros onde houveram construções do período pós Ministério das Cidades,
representados por um círculo preto. Mancha urbana da cidade de João Pessoa até o ano de 2012,
juntamente com os conjuntos habitacionais produzidos no período entre os anos de 2000 e 2012.
Fonte: Leal (2014 p. 59)
11
É importante lembrar que Mangabeira que além destas habitações, também recebeu grandes
equipamentos urbanos, como por exemplo o Shopping Mangabeira em 2014 e o Trevo das Mangabeiras
em 2015.
53
Gramame foram construídas 910 habitações (Colinas do Sul I, II e III) dentre os anos de
2008 a 2012, e no bairro de Mumbaba o Condomínio São Rafael, que foi entregue no
ano de 2017 com 704 habitações. Outras 606 habitações foram construídas de maneira
dispersa na cidade em diversos bairros.
Desta forma totalizando 3.609 habitações realizadas pelo órgão desde o ano de
2005 à 2017, todas estas construções em terrenos de patrimônio estadual. Percebe-se
que isso condiz com as representações da autora, bem como de nosso mapa 5.
Não podemos deixar de mencionar aqui a criação do conjunto Gervásio Maia,
com 1.336 unidades habitacionais, localizado no bairro do Gramame, segundo Leite
(2011), o qual abrigou populações que viviam em estado de precariedade, sendo o
segundo maior conjunto popular na cidade, ficando atrás apenas de Mangabeira. Dita
autora ainda afirma que “A política habitacional do Governo municipal, através da
SEMHAB, entre os anos de 2006 até 2011, produziu de forma fragmentada e dispersa,
dentro do tecido urbano na cidade de João Pessoa, 7.270 casas populares.” (p. 27)
Contudo, esta política habitacional novamente é a de expansão dispersa, e
reproduz os mesmos fenômenos sociais que a implementada pelo Banco Nacional de
Habitação nas décadas de 1970-1980, quando a construção dos grandes conjuntos
habitacionais deslocou a população de baixa renda para uma área distante e com
infraestrutura precária, e aumentando os preços das terras tornando-as financeiramente
inviável a essa população, assim criando mais segregação.
Ainda com destaque para o Gramame, pois o bairro possui a maior área dentre
todos os bairros de João Pessoa e recebeu diversos conjuntos de habitações populares já
dotados de serviços de infraestrutura, segundo o site do Jornal da Paraíba12 (2011), nos
anos 2000 a população do bairro do Gramame era de 6,2 mil habitantes, já em 2010,
segundo dados do IBGE, o bairro contava com 24.9 mil habitantes.
Retomando Leite (2011 p. 54 e 55) a autora afirma que:
12
Disponível em: http://www.jornaldaparaiba.com.br/vida_urbana/ibge-mangabeira-e-o-bairro-mais-
populoso-e-gramame-cresceu-mais.html
54
Com base nas análises, a malha urbana de João Pessoa no ano de 2017
apresentou um crescimento de aproximadamente 15 km² quadrados, atingindo agora
uma mancha urbana14 de aproximadamente 120 km², destes, 29.2 km² encontram-se
como vazios urbanos. Ou seja, aproximadamente 25% da área urbana de João Pessoa é
tida como vazios urbanos de acordo com os dados da SEPLAN, são terras não
ocupadas, que não cumprem a função da social da terra, e são apenas reserva de capital
a ser especulado.
No arquivo shapefile, contendo os dados referentes ao ano de 2017, existiam ao
todo 185,841 lotes, segundos dados da SEPLAN, dentre os quais 31.172 são vazios
urbanos, se comparamos com o banco de dados de 2006, onde, haviam 176.723 lotes,
dos quais 44.064, estes equivaliam a uma área de 27,5 km², categorizados de vazios
urbanos. Desta percebe-se que a quantidade do número total de lotes totais de 2017
aumentou, o número total de lotes vazios diminuiu se comparado a 2006, ainda assim, a
área equivalente aos vazios urbanos aumentou em 2,7 km².
Isso se deve principalmente à incorporação de novas áreas do periurbano com o
crescimento da malha urbana.
Com bases nessas informações elaboramos o mapa a seguir que mostra uma
sobreposição da malha urbana do ano de 2006 sobre a de 2017, conforme a
representação a seguir:
13
Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pb/joao-pessoa/panorama
14
Malha urbana computa tanto as áreas ocupadas quanto não ocupadas, afinal são vazios – urbanos -.
Utilizado aqui de maneira que se assemelha ao empregado por Silva (et al. 2015).
55
Mapa 7 - Áreas de expansão da malha urbana da cidade dentre os anos de 2006 e 2017
Retomando aqui as considerações feitas no capítulo anterior, uma vez que estas
refletem o que aconteceu com os terrenos vazios em 2006 e sua utilização em 2017.
Como nele já explicamos as dinâmicas relacionadas as transformações ocorridas com os
vazios urbanos na cidade, iremos agora tratar das dinâmicas de permanências dos
mesmos. Desta forma elaboramos um mapa 8 com os vazios urbanos presentes em
2017:
Mapa 8 - Dinâmica dos vazios urbanos, no início e no termino da pesquisa, das suas
transformações e também das suas permanências
57
15
Aqui entendido enquanto mudanças das características rurais de uma área pelas características urbanas
ao se implantar infraestrutura e equipamentos urbanos.
59
“vendidos” pela mídia pessoense, à uma primeira vista foi até surpreendente a
quantidade de vazios urbanos na área, além de que o bairro também se destacou durante
as representações onde identificamos os vazios ociosos por mais de 10 anos, bem como
nas representações das áreas que não são isentas do Parcelamento, Edificação
compulsórias, ou seja, aqueles terrenos com mais de 450,00 m².
Associado a isso quando georreferenciamos o macrozoneamento urbano atual16,
afim de entender melhor algumas dinâmicas, muito embora não tenhamos nos
aprofundado nele nesta pesquisa, percebemos que o bairro Portal do Sol se encontra na
mesma condição de zoneamento que boa parte do bairro Altiplano que possui as
restrições construtivas, ambos se enquadrando como Zona não adensável – ZNA.
Retomamos então uma leitura do Plano Diretor da cidade e vimos que, segundo o
Artigo 13:
16
Macrozoneamento de João Pessoa disponível em: http://www.joaopessoa.pb.gov.br/portal/wp-
content/uploads/2012/04/ANEXO-I-MAPA-1-DIVISAO-DE-ZONAS-A3-JANEIRO-2012.pdf
60
Considerações Finais
mais inclusiva seria necessário mudar as lógicas de sua produção. Trazer à tona um
debate sobre vazios urbanos não tem por objetivo tornar a cidade compacta, mas refletir
sobre a lógica de produção desse fenômeno, alertando sobre a produção de novos vazios
urbanos que sempre vêm associados com a expansão territorial da área urbana via de
regra espraiada, e que são regidos e/ou atendem principalmente o interesse da expansão
imobiliária com intuitos especulativos, fazendo com que o poder público invista para
qualificar uma área que não será utilizada. Como mencionado por Saboya (2008) isso
torna um gasto público pago pelos impostos da sociedade em um lucro privado, e o
único retorno disso para a sociedade são os custos econômicos, sociais e ambientais.
É preciso entender aqui que a especulação é nociva também para o próprio
Estado, visto que se houver a necessidade de construir uma creche, um hospital, uma
escola, ele terá que adquirir terras ao preço de mercado. João Pessoa ainda não é
considerada metrópole e vem recebendo um aumento populacional considerável, se não
tomar ações firmes para combater tal problema, este só tende a se agravar.
Evidentemente, até mesmo no país menos desigual do mundo irá de haver uma
distribuição desigual dos espaços urbanos mas essa desigualdade não pode ser tão
brutal. Desta forma, percebe-se que o Plano Diretor em sua lógica de execução só
impacta os especuladores com pouco capital, enquanto beneficia os grandes agentes
imobiliários através de cobranças e qualificações irrisórias, propiciando o processo de
acumulação de terras servidas de infraestrutura e agravando ainda mais as contradições
sociais.
Em contrapartida tem-se o acúmulo de carências e dificuldades representadas
na forma de infraestrutura precária, dificuldade no acesso à saúde, educação, transporte,
lazer, e etc. tornando expresso que o espaço urbano vai sendo regido apenas pela relação
de preço da terra e o padrão de quem possa pagar por ela, conforme discutido por
Moreira Junior (2010).
A “solução” ou medida para combater os vazios urbanos não são fáceis, não há
por parte do poder público uma medida que de fato instigue a ocupação destes vazios
urbanos, uma vez que as ferramentas do Plano Diretor apesar de atuarem nestas áreas de
ociosidade não se fazem como solução do problema à medida em que “não pesam no
bolso”.
A primeira ferramenta, o parcelamento, edificação e utilização compulsórios, se
estende por até três anos, além disso, conforme vimos no Capítulo IV, esta ferramenta
isenta todos os vazios urbanos menores que 450m² e maiores de 450m² cujo proprietário
62
só possui um terreno nestas condições, desta forma, vimos também a partir do Mapa 4
que apenas cerca de 15% das propriedades estão sujeitas a esta aplicação. Em seguida
vem a aplicação de IPTU progressivo, que nas palavras de Saboya (2008) é “irrisório”.
É importante ressaltar que o preço do IPTU progressivo é sobre o valor venal dos
terrenos, que de modo algum condiz com o valor de mercado.
Imagine por exemplo um lote que custe 200.000 reais no valor de mercado, e
que tenha valor venal de 15.000 reais; o imposto vai ser abatido na base dos 15.000,
totalizando 1.500 reais e não pelo valor de mercado do terreno, que seria 20.000 reais.
Sendo assim, um especulador pode muito bem manter a terra ociosa por vários anos
mesmo com o IPTU Progressivo na sua alíquota máxima, pois este será cobrado sobre o
valor venal do terreno.
A valorização do terreno por si só, frente a dinâmica de mercado consegue
cobrir muito facilmente tais custos. Além do mais o teto da alíquota previsto pelo
Estatuto da Cidade para o IPTU Progressivo era de 15%, em João Pessoa este teto é de
10%.
No documento da Assessoria técnica da SEPLAN comentado sobre a Lei
tributária N. 12.145, a qual impõe o IPTU Progressivo no Plano Diretor da cidade,
disponível no site da própria prefeitura17, aborda o IPTU Progressivo tanto para o
imóvel construído e não utilizado (vazio de uso) quanto para o imóvel não construído
(vazio físico). O jurista responsável, Neto (2011, s/p) afirma:
17
Disponível em: http://www.joaopessoa.pb.gov.br/secretarias/seplan/leis-importantes/
“IPTU Progressivo 02”. Acessado em Maio de 2018.
63
Figura 1 - Imagem obtida de um site de compra e venda de imóveis que atua em todo o país.
18
Disponível em: https://www.vivareal.com.br/ Acessado em: Maio de 2018.
64
Este terreno foi identificado em nossas analises como ocioso por mais de 10
anos apenas especulando, e está, ao mesmo tempo, suscetível às três ferramentas de
Parcelamento, Edificação ou Utilização compulsórias, IPTU progressivo na alíquota
máxima e portanto está sujeito a desapropriação com pagamentos da dívida pública
Contudo, temos consciência que, muito embora o poder público possa atuar com
a desapropriação em pagamentos da dívida pública nos terrenos que estão plenamente
ociosos não implica que ele esteja fazendo isso ou que tenha intenções de fazê-lo.
Tomando as considerações de Correia (1993) ao discorrer sobre os agentes que
produzem o espaço, percebe-se que nesta fase do capitalismo, Estado, proprietários dos
meios de produção e setor imobiliário estão extremamente ligados, quase como um
único agente.
Apesar disso, muito embora se possa discutir sobre a eficácia ou não destes
mecanismos, é indubitavelmente um primeiro passo no avanço destas questões.
Recomendações
método muito comum entre arquitetos e urbanistas, abordando aqui questões como
renda diferencial.
Pode-se também utilizar da Planta Genérica de Valores, que é uma ferramenta a
qual o município dispõe para a cobrança tributária do IPTU, desta forma seria possível
entender a relação entre a cobrança do IPTU Progressivo destes terrenos que pode
atingir 10% sobre o valor venal, contudo este valor não chega nem a 2% do valor de
mercado de determinadas áreas que é na verdade o valor real do preço do terreno.
Para trabalhos de menor escala recomenda-se elaborar o próprio banco de dados
a partir da utilização de imagens de satélite para delimitar os polígonos, assim, é
possível ter um banco de dados com uma maior acurácia.
É possível associado a este tema realizar discussões de diversos aspectos como a
questão da renda da terra, o papel das áreas de zoneamento urbano, os agentes
produtores do espaço conforme discutido por Corrêa (1993), o capital incorporador
conforme discutido por Smolka (1987), entre outros.
66
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VÍDEOS CONSULTADOS: