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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA REGULARIZAÇÃO DOS TOPOS DE

CORPOS-DE-PROVA CILÍNDRICOS SOBRE A RESISTÊNCIA À


COMPRESSÃO DO CONCRETO
ANALYSIS OF THE INFLUENCE OF REGULARIZATION OF THE TOPS OF
CYLINDRICAL SPECIMENS ON THE COMPRESSIVE STRENGTH OF CONCRETE

Valdith Lopes Jerônimo (1); Luiz Ailton de Araújo Souza (1); Bruno do Vale Silva (1); Guilherme
Granata Marques (2); Luiz Carlos Pinto da Silva Filho (3)

(1) Doutorandos do Departamento de Engenharia Civil, UFRGS


e-mail: [email protected]
e-mail: [email protected]
e-mail: [email protected]
(2) Mestrando do Departamento de Engenharia Civil, UFRGS
e-mail: [email protected].
(3) Professor Doutor Departamento de Engenharia Civil, UFRGS
e-mail: [email protected]

Resumo
Os corpos-de-prova preparados para o ensaio de resistência à compressão axial normalmente apresentam
irregularidades que devem ser corrigidas com o objetivo de torná-los planos e lisos. Por outro lado, a
resistência do concreto também está ligada ao tempo de cura. Neste trabalho, foi desenvolvido um
programa experimental para verificar a influência dessas variáveis sobre os resultados do ensaio de
resistência à compressão de corpos-de-prova cilíndricos de concreto. Compararam-se tipos de
regularização, e também, foi analisada a influência do tempo de retirada da câmara úmida sobre a
resistência do concreto. Foram moldados 72 corpos-de-prova, utilizando-se três traços distintos. Avaliou-se
a regularização das faces dos corpos-de-prova usando neoprene, argamassa de enxofre e retificação
mecânica, considerando tempos diferentes de permanência na condição de cura úmida. A regularização
com neoprene apresentou os melhores resultados, enquanto a retificação e argamassa de enxofre
apresentaram valores iguais, de acordo com o método estatístico aplicado. Para os tempos de retirada da
cura úmida observados, não foram encontradas diferenças significativas na resistência do concreto aos 28
dias.
Palavras-Chave: capeamento, regularização, tempo de cura

Abstract
The specimens prepared for the axial compressive strength test usually present irregularities that should be
corrected with the objective of turning them flat and smooth. On the other hand, the strength of the concrete
is also linked to the curing time. In this work, an experimental program was developed to verify the influence
of those parameters on the results of the compressive strength test applied on cylindrical concrete
specimens. A comparison was made among regularization types and the influence analysis of the humid
chamber taking off time on the concrete strength. Seventy two specimens were moulded, using three
different concrete dosages. The regularization of the specimens faces was evaluated using neoprene, sulfur
mortar and mechanical rectification, considering different span times of the humid curing condition. The
regularization with neoprene presented the best results, while the rectification presented the same results as
sulfur mortar, according to the statistical method applied. For the withdrawal times of moist curing observed, there
were no significant differences in strength of concrete after 28 days.
Keywords: covering, regularization, curing time

ANAIS DO 53º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2011 – 53CBC 1


1 Introdução
Cada vez mais, concretos com resistência à compressão convencionais e até superiores
a 40 MPa estão sendo produzidos e utilizados nas obras modernas. A validade dos
procedimentos tradicionais do ensaio de resistência à compressão do concreto, definidos
pela NBR 5739 (ABNT, 2007), para controle de qualidade ou efeito de aceitação de
concretos, tem sido objeto de vários estudos. De acordo com a NBR 5738 (ABNT, 2003),
diversos aspectos devem ser rigorosamente observados, no sentido de se controlar as
variáveis inerentes ao preparo e ruptura dos corpos-de-prova submetidos ao ensaio de
compressão axial.
Um destes aspectos diz respeito às faces onde se aplicam as cargas no ensaio de
compressão axial de corpos-de-prova. Estas devem ser planas, paralelas e lisas, de modo
que o carregamento seja uniforme. Pequenas irregularidades na superfície provocam
excentricidade pelo carregamento não uniforme, restringindo a resistência do material.
Para reduzir estas irregularidades, a NBR 5738 (ABNT, 2003) recomenda que as
superfícies dos corpos-de-prova sejam previamente preparadas, minimizando os desvios
de planicidade. Esta preparação consiste dos métodos de remate com pasta de cimento,
capeamento dos topos ou de retificação por meios mecânicos.
Por outro lado, as normas internacionais que regulamentam o ensaio de resistência à
compressão do concreto, por vezes diferem em termos de valores limitadores, tipo de
material e equipamentos utilizados. Em relação ao tratamento superficial realizado sobre
os topos dos corpos-de-prova, a ASTM C 617 (ASTM, 2010) e ASTM C 1231/C 1231M
(ASTM, 2010), além do capeamento colado usando pasta de cimento, argamassa de
enxofre ou gesso de alta resistência, regulamenta o uso de capeamento não colado, por
meio de almofadas de neoprene. Da mesma forma, a EN 12390-2 (CEN, 2009)
estabelece o uso de argamassa de cimento, argamassa de enxofre, retificação mecânica
e capeamento não colado por meio do método da caixa de areia.
Outra variável importante são as condições de cura do concreto. É de consenso geral que
os corpos-de-prova apresentam melhores resultados de resistência quando submetido às
condições de cura úmida, conforme prescrito pela NBR 5738 (ABNT, 2003). Em geral
corpos-de-prova curados ao ar apresentam valores inferiores de resistência à compressão
(BESERRA, 2005). Segundo Petrucci (2005), a cura úmida favorece a resistência à
compressão do concreto, mas caso o corpo-de-prova esteja saturado, ocorre redução de
resistência.
Compreende-se, então, a necessidade de realização de mais estudos e ensaios
comparando os tipos de regularização das faces dos corpos-de-prova, bem como das
condições de cura a que estão expostos as amostras. Neste trabalho, realizou-se a
análise experimental da influência dessas variáveis sobre os resultados do ensaio de
resistência à compressão de corpos-de-prova cilíndricos de concreto, tendo como
objetivos principais, a comparação entre diversos tipos de capeamento e a análise do
tempo de retirada da câmara úmida que antecede o ensaio. Analisou-se, também, de
forma secundária, a influência da área de contato entre as superfícies dos corpos-de-
prova e a base da prensa, durante o ensaio de compressão axial.

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2 Variáveis sob análise
São diversas as variáveis que influem nos resultados de um ensaio de resistência à
compressão, cujas prescrições são definidas pelas normas NBR 5738 (ABNT, 2003) e
NBR 5739 (ABNT, 2007). Dentre estas, estão os procedimentos de cura e a forma de
regularização dos topos dos corpos-de-prova.
Para a regularização das faces dos corpos-de-prova, existem diversos tipos de tratamento
superficial, que podem ser obtidos mecanicamente e ser ou não aderidos, ou seja,
colados. Esses tratamentos são a retificação por meios mecânicos, capeamento com
pasta de enxofre, remate com pasta de cimento e capeamento com almofada de
neoprene. A NM 77 (CMN, 1996) prevê ainda a utilização de corte com disco diamantado,
para os casos em que os corpos-de-prova apresentarem superfície muito irregular e o
capeamento com enxofre não puder ser realizado.
2.1 Retificação por processo mecânico
O processo mecânico de retificação é um método rápido e prático que objetiva regularizar
os topos dos corpos-de-prova antes de serem ensaiados, garantindo que suas faces
estejam lisas e planas proporcionando uma área de contato uniforme com a superfície da
prensa durante o ensaio de resistência à compressão. Um fator importante na qualidade
do acabamento das superfícies retificadas é o tipo de concreto que está sendo
desgastado, uma vez que sua porosidade influenciará no acabamento das faces polidas,
pois um concreto muito poroso, ao ser retificado, irá expor estes vazios, que no método
do capeamento, estariam a princípio preenchidos.
Outra característica do concreto da qual depende a qualidade da retificação é a sua
resistência, já que de um concreto pouco resistente, ou seja, com alto valor de relação
água/aglomerante, desprender-se-iam agregados no momento do desgaste mecânico do
topo do corpo-de-prova, tornando-o rugoso em vez de liso, não sendo alcançado o
objetivo principal da retificação, de modo que, um grande número destas falhas, irá levar
a resultados inferiores.
2.2 Capeamento com pasta de enxofre
A pasta de enxofre é o tipo de capeamento colado mais comum. Segundo Trejo et al.
(2003), cilindros capeados com enxofre geralmente produziram os maiores valores de
resistência com as variações de resistência mais baixas comparativamente às almofadas
de neoprene com diferentes valores de dureza e ao capeamento com gesso. Sobre essa
e outras técnicas aderidas, Pereira (2008) ressalta que o material de capeamento deve
possuir resistência mecânica e módulo de elasticidade semelhantes ou superiores ao dos
corpos-de-prova no instante do ensaio, desenvolver elevadas resistências em curto
espaço de tempo e ter boa aderência à superfície do corpo-de-prova. Segundo o autor, o
uso de enxofre como material de capeamento apresenta diversas vantagens, como o
endurecimento rápido, tempo despendido para sua aplicação relativamente curto, boa
aderência e elevada resistência à compressão após decorridas poucas horas. No entanto,

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o produto formado durante a combustão é altamente tóxico, causando irritação nas
mucosas das vias respiratórias, após ser inalado.
A temperatura ideal da pasta de enxofre para aplicação no capeamento deve garantir
fluidez suficiente para moldagem e envolvimento das faces dos corpos-de-prova. Uma
mistura de enxofre derretida muito líquida indica que está a ponto de endurecer, de
maneira que o seu uso acarretará num capeamento muito quebradiço e com fissuras. Por
outro lado, uma pasta de enxofre derretido muito viscosa, indica que a sua temperatura
está acima do ideal, tornando o capeamento mais demorado, além de haver o risco da
mistura pegar fogo. A NM 77 (CMN, 1996) determina que a mistura de enxofre seja
submetida à temperatura de 135 ºC ± 5 ºC, até atingir sua fusão.

2.3 Remate com pasta de cimento


A pasta de cimento é uma mistura de cimento e água, que pode ter diferentes
espessuras. Lobo et al. (1994) citam que, capeando as extremidades dos corpos-de-prova
ensaiados com esse material, obtiveram-se resistências medidas iguais às dos cilindros
retificados de concreto com resistências à compressão até 120 MPa, para as espessuras
de capeamento de 1,6 e 6,4 mm.
De acordo com a NBR 5738 (ABNT, 2003), a pasta de cimento deve ser preparada de 2 a
4 horas antes de seu emprego, com espessura menor ou igual a 3 mm e receber
acabamento com o auxílio de uma placa de vidro plana.

2.4 Capeamento com neoprene


O neoprene é um tipo de capeamento elastomérico não aderido em forma de disco,
fabricado com diferentes durezas Shore A, que pode ser utilizado confinado em base
metálica ou não. A forma em que se obtêm os melhores resultados de resistência à
compressão é confinando esse material, visto que, não confinada, a almofada de
neoprene deforma-se radialmente, gerando forças de tração na base dos corpos-de-
prova. Para diminuir esse efeito, se recomenda confinar a almofada de neoprene através
de uma base metálica (PEREIRA, 2008).
Os discos de neoprene deformam-se no carregamento inicial para conformarem-se às
extremidades do corpo-de-prova e são contidos da propagação excessiva da lateral por
placas e anéis de metal que garantem uma distribuição uniforme da carga aplicada pelo
equipamento de ensaio (BEZERRA, 2007). Além disso, o mesmo autor cita que os
corpos-de-prova ensaiados com almofadas de neoprene apresentam ruptura mais
violenta que os capeamentos colados, devido ao fato dos capeamentos elastoméricos
absorverem mais energia de deformação.

2.5 Condições de cura

De acordo com a NBR 5738 (ABNT, 2003), até o início do ensaio de resistência à
compressão, os corpos-de-prova devem ser conservados imersos em água saturada de

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cal ou permanecer em câmara úmida que apresente, no mínimo, 95% de umidade relativa
do ar, atingindo toda a sua superfície livre.
Segundo Petrucci (2005), a realização da cura adequada é fundamental para assegurar a
obtenção da resistência mecânica do concreto e garantir a sua vida útil. Com isso, faz-se
necessário a utilização de métodos adequados para minimizar estas perdas e garantir que
o concreto mantenha uma temperatura adequada para desenvolvimento de suas
propriedades e para sua máxima hidratação.
No entanto, corpos-de-prova na condição de saturação tendem a apresentar resultados
de resistência à compressão mais baixos. Na Figura 1, elaborada a partir de resultados
apresentados por Beserra (2005), apresenta-se valores de resistência de corpos-de-prova
ensaiados aos 28 dias, sob diferentes condições de cura. Pode-se observar que nas três
classes de resistência, os valores de ruptura dos corpos-de-prova curados 28 dias em
câmara úmida (condição de saturação) foram inferiores àqueles retirados da condição de
cura úmida aos 14 dias.

110
Resistência à Compressão

100
90 1 DIA CH
(MPa)

80 3 DIAS CH
70 7 DIAS CH0
60 14 DIAS CH
50 28 DIAS CH
T1 T2 T3

Tipo de traço

Figura 1: Resistência à compressão de corpos-de-prova aos 28 dias, retirados em diferentes datas da


condição de cura em câmara úmida, considerando três tipos de traço (Beserra (2005))

Vale salientar que em todos os ensaios o neoprene foi utilizado confinado, devido ao
estudo da literatura que mostram que Os resultados obtidos por Marco; Reginatto; Jacoski
(2003) mostram que são obtidos valores 48% menores em média com uso do neoprene
não confinado.
Apresentada uma sucinta revisão bibliográfica sobre o assunto, nos deteremos, no
próximo capítulo, ao programa experimental adotado neste trabalho.

3 Programa experimental
O programa experimental consistiu na análise de parâmetros que possuem potencial para
influenciar no ensaio de resistência à compressão do concreto. Os parâmetros analisados
foram o tipo de regularização de topos dos corpos-de-prova e o tempo de retirada da
câmara úmida que antecede o ensaio.
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Foram moldados corpos-de-prova com três distintas composições de concreto, ou seja,
três traços diferentes. Em todas elas, optou-se por avaliar duas retiradas da câmara
úmida, com o objetivo de observar se a diferença de porosidade do concreto, devido às
relações água/aglomerante e à introdução da sílica, poderiam ser percebidas na
resistência à compressão. No primeiro traço, com sílica e super plastificante, moldaram-se
12 corpos-de-prova, em que se testou apenas o capeamento com enxofre, e dois tempos
de retirada da câmara úmida, no dia do rompimento e dois dias antes. No segundo traço,
com menor consumo de cimento e maior relação água/cimento, sem adição de sílica,
moldaram-se 48 corpos-de-prova e testados diferentes regularizações dos topos e dois
tempos de retirada da câmara úmida, no dia e dois dias antes. No terceiro traço, com
menor relação água/cimento, sem sílica e com super plastificante, moldaram-se 12
corpos-de-prova, testaram-se dois tempos de retirada da câmara úmida, no dia e dois
dias antes, e o capeamento com enxofre.
A Tabela 1 ilustra resumidamente o planejamento experimental, onde foram rompidos à
compressão axial 72 corpos-de-prova, para que fosse avaliada a interferência do tipo de
capeamento e do tempo de retirada da câmara úmida.

Tabela 1 – Resumo do planejamento experimental


Composição Tempo de retirada Tipo de
Quantidade
(traço) câmara úmida regularização
6 CPs 2 dias antes Enxofre
T1
6 CPs no dia do rompimento Enxofre
6 CPs 2 dias antes Remate
6 CPs no dia do rompimento Remate
6 CPs 2 dias antes Enxofre
6 CPs no dia do rompimento Enxofre
T2
6 CPs 2 dias antes Neoprene
6 CPs no dia do rompimento Neoprene
6 CPs 2 dias antes Retificação
6 CPs no dia do rompimento Retificação
6 CPs 2 dias antes Enxofre
T3
6 CPs no dia do rompimento Enxofre

3.1 Materiais utilizados


3.1.1 Cimento
O cimento utilizado foi o CP V ARI, pois dentre os cimentos comercialmente utilizados, é o
mais puro. Na Tabela 2 estão suas propriedades físicas, químicas e mecânicas fornecidas
pelo fabricante.

3.1.2 Agregado graúdo

O agregado graúdo utilizado foi rocha basáltica britada, cujas características foram
obtidas através da NM 248 (ABNT, 2001) e NM 53 (ABNT, 2009) e apresentadas na
Tabela 3.

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Tabela 2 – Propriedades físicas, químicas e mecânicas do cimento
Análise Exigência
NBR
do cimento da norma
Finura Blaine (cm²/g) 5100 ≥ 3000 NM 76/98
Tempo de pega
Início (min) 160 ≥ 60
Término (min) 270 -
Massa Específica (g/cm³) 2,96 - NM 23/01
Resistência à compressão (MPa)
1 dia 28 ≥ 14 7215/96
3 dias 39 ≥ 24 7215/96
7 dias 44 ≥ 34 7215/96
28 dias 51 - 7215/96
Fonte: Fabricante

Tabela 3 – Características físicas e granulométricas do agregado graúdo


% retido
Abertura da peneira (mm) % retido
acumulado
25,0 0,0 0,0
19,0 3,18 3,18
12,5 60,07 63,25
9,5 27,31 90,56
6,3 8,58 99,13
4,75 0,47 99,60
< 4,75 0,40 100,00
Diâmetro máximo característico = 19,0 mm
Módulo de finura = 6,93
Massa específica = 2,90 g/cm³

3.1.3 Agregado miúdo

O agregado miúdo utilizado foi areia média natural, cujas características foram obtidas
através da NM 248 (ABNT, 2003) e NM 52 (ABNT, 2009) e estão apresentadas na Tabela
4.
Tabela 4 – Características físicas e granulométricas do agregado miúdo
Abertura da peneira % retido
% retido
(mm) acumulado
6,3 0,0 0,0
4,8 1,52 1,52
2,4 5,84 7,36
1,2 10,01 17,38
0,6 15,88 33,26
0,3 48,57 81,83
0,15 9,47 91,31
< 0,15 8,69 100,0
Diâmetro máximo característico = 4,75 mm
Módulo de finura = 2,33
Massa específica = 2,42 g/cm³

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3.1.4 Água e aditivo

A água utilizada na produção dos corpos de prova foi proveniente da rede pública de
abastecimento de Porto Alegre/RS. Utilizou-se um aditivo super plastificante de terceira
geração para concreto, à base de éter policarboxílico. Seus dados técnicos, fornecidos
pelo fabricante, estão apresentados na Tabela 5.
Tabela 5 – Dada técnicos do aditivo super plastificante
Teste Especificação
Aparência líquido branco turvo
pH 5-7
Densidade 1,067 g/cm³ - 1,107 g/cm³
Sólidos 38,0 % - 42,0 %
Viscosidade < 150 cps
Fonte: Fabricante

3.1.5 Sílica

As características da sílica ativa, fornecidas pelo fabricante, estão apresentadas na


Tabela 6.
Tabela 6 – Dada técnicos da sílica ativa
Características Valores
Massa específica 2,22 g/cm3
Superfície específica 200.000 cm²/g
Formato de partícula Esférico
Diâmetro médio 0,2 μm
Teor de SiO2 Mín. 85%
Umidade Máx. 3%
Equivalente Alcalino Máx. 0,5%
Fonte: Fabricante

3.1.6 Concreto

Utilizaram-se três composições de concreto distintas descritas na Tabela 7. A primeira,


com adição de sílica e aditivo super plastificante; a segunda, sem adição de sílica e sem
aditivo super plastificante; a última, sem adição de sílica e com aditivo super plastificante.
Vale salientar que as adições foram sobre a massa de cimento.
Tabela 7 – Traços utilizados no experimento
Nomenclatura Aditivo Sílica Consumo de
Traço a/agl.
adotada (%) (%) cimento (kg/m³)
T1 1: 2,12: 2,88 0,49 0,75 8,00 366,20
T2 1: 2,12: 2,88 0,60 - - 356,54
T3 1: 2,12: 2,88 0,40 0,75 - 383,92

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3.2 Métodos

Neste item estão descritos os métodos de regularização de topos dos corpos-de-prova


para os ensaios de resistência à compressão axial utilizados neste trabalho, juntamente
com o sistema de carregamento.

3.2.1 Sistema de regularização de topos de corpo-de-prova não colado

O sistema de regularização não colado trata-se do uso de material não aderente que
acomode e suporte as devidas cargas nos topos dos corpos-de-prova. Neste trabalho
optou-se por um elastômero policloroprene, conhecido, comercialmente, como neoprene.
A dureza escolhida foi de 70±5 Shore A, pois, segundo a C 1231/C 1231M (ASTM, 2010),
essa dureza é compatível com resistências entre 28 MPa e 80 MPa. A almofada de
neoprene com diâmetro igual a 10 cm e espessura de 2 cm foi confinada dentro de um
envoltório metálico, conforme ilustra a Figura 2, evitando assim o surgimento de tensões
não axiais nos corpos-de-prova.

(a)

Figura 2.a: Neoprene. Figura 2.b: CP no envoltório com neoprene.

Figura 2: Almofada de Neoprene no envoltório metálico

3.2.2 Sistema de regularização de topos de corpo-de-prova colado


Os sistemas de regularização colados utilizam materiais que aderem, fisicamente ou
quimicamente à superfície dos topos do corpo-de-prova, formando assim uma camada
regular. Os utilizados neste trabalho são:
 Capeamento com enxofre
O capeamento com enxofre seguiu as recomendações da NM 77 (ABNT, 1996), na qual
está descrito que o enxofre deve ser fundido e atender aos pré-requisitos de espessura da
camada, resistência compatível em pouco tempo e perpendicularidade da face com o eixo
longitudinal do corpo-de-prova.

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 Remate com pasta de cimento
Realizou-se um remate com pasta de cimento com relação a/c=0,35, em massa,
preparada duas horas antes de seu emprego, como recomendam as normas NBR 5738
(ABNT, 2003) e NM 77 (AMN, 1996). O remate foi feito nos corpos-de-prova, depois de
seis horas de moldados, com o auxílio de uma escova de aço para remoção da camada
superficial. A pasta foi nivelada com o auxílio de uma placa de vidro, com lubrificante, que
permaneceu em cima dos corpos-de-prova até o momento da desforma, como mostrado
na Figura 3.

Figura 3: Remate com pasta de cimento

3.2.3 Sistema de regularização de topos de corpo-de-prova por desgaste mecânico


Consiste na remoção de uma fina camada de material dos topos, mediante desgaste
mecânico. Para isto, utilizou-se uma retificadora onde o corpo-de-prova é fixado na
vertical enquanto um rebolo abrasivo diamantado em rotação realiza o desgaste,
mediante controle manual. A Figura 4 ilustra um corpo-de-prova sendo retificado.

Figura 4.a: Retífica. Figura 4.b: Detalhe do topo do CP sendo retificado.


Figura 4 – Retífica

3.2.4 Sistema de rompimento dos corpos-de-prova à compressão

Todos os ensaios de resistência à compressão axial foram realizados aos 28 dias,


seguindo as recomendações da NBR 5739 (ABNT, 2007). O equipamento utilizado foi
uma prensa Shimadzu computadorizada com capacidade de 2000 KN.

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Com o intuito de avaliar a área real de contato do topo do corpo-de-prova com as bases
da prensa, colocou-se um papel carbono junto com um papel branco entre o topo do
corpo-de-prova e a base da prensa durante o rompimento, como é mostrado na Figuras 5.
Após este procedimento, escaneou-se o papel e com a utilização do software Photoshop®
CS5 contabilizou-se o percentual das áreas reais de contato dos diferentes tipos de
regularizações dos topos dos corpos-de-prova. A partir desses valores, analisou-se qual o
tipo de regularização que melhor atende as recomendações das normas quanto à
planicidade e perpendicularidade dos topos com os corpos-de-prova.

Figura 5.a: Colocação dos CP na prensa Figura 5.b: Papel branco depois do rompimento

Figura 5: Marcação da área de contato em no papel branco

Apresentados os materiais e métodos, abordar-se-ão, no próximo capítulo, as análises


dos dados obtidos.

4 Apresentação e discussão dos resultados


A seguir serão mostrados os resultados obtidos e feitas algumas discussões sobre os
resultados aqui expostos.

4.1 Análise do tempo de retirada da câmara úmida.


Na Figura 6 estão ilustrados os resultados de resistência à compressão para os três
traços, com dois tempos de saída da câmara úmida, 2 dias de antecedência do ensaio e
no dia do ensaio. Em todos os corpos-de-prova foi utilizado capeamento com enxofre.

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70
Resistência à compressão (MPa)
60
50
40
2 dias
59,8
56,4

56,1
30

48,1
No dia
20

23,0
21,6
10
0
T1 (a/c=0,49) T2 (a/c=0,6) T3 (a/c=0,4)

Figura 6 - Resistência à compressão para diferentes traços e tempo de retirada da câmara úmida.

Nota-se que em todos os traços existem diferenças na resistência dos corpos-de-prova


retirados da câmara úmida com 2 dias de antecedência e no dia do ensaio, porém com
intuito de verificar se estas diferenças são significativas valeu-se da análise de variância
(ANOVA). Mediante este método verificou-se que as médias não são significativamente
diferentes, ou seja, são estatisticamente iguais a um nível de confiança de 95%. Portanto,
pode-se inferir que o tempo de retirada não influenciou na umidade do concreto na hora
do ensaio a ponto de interferir na resistência independentemente dos traços adotados.

4.2 Análises do tipo de regularização dos topos dos corpos-de-prova.


A Figura 7 apresenta os resultados do traço 2, em que foram utilizados três tipos distintos
de regularização dos topos, por retificação, com neoprene confinado e com enxofre. A
Figura 8 mostra o percentual de área dos topos dos corpos-de-prova que não tiveram
contato com a prensa.
30
Resistência à compressão (MPa)

25

20

15
27,8

2 dias
26,4

23,0
22,9
22,0

21,6

10 No dia

0
Neoprene Retificado Enxofre

Figura 7 - Resistência à compressão para diferentes regularizações.

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10

8
Redução de àrea (%)

6
2 dias

8,0
4

7,7
7,6
No dia

5,6
2
0,5
0,0

0
Neoprene Retificado Enxofre

Figura 8 - Area real de contato com a prensa

Os resultados de resistência à compressão obtidos com o traço 2 para regularizações


realizadas por retificação, com enxofre e neoprene confinado, mostraram que as melhores
resistências à compressão foram obtidas para o neoprene confinado, acredita-se este fato
está ligado ao neoprene ser flexível e se adequar perfeitamente às imperfeições dos
topos dos corpos-de-prova. Os resultados obtidos para os corpos-de-prova com utilização
de enxofre e retificados mostraram resultados estatisticamente iguais para um nível de
confiança de 95%. Também para esses ensaios a diferença percebida para os corpos-de-
prova retirados em tempos diferentes da câmara úmida não foi significativamente
considerável, ou seja, não influenciou na resistência dos corpos-de-prova.
É importante observar que onde houve mais área em contato com a prensa, houve maior
resistência à compressão. Observa-se na Figura 9 que com o aumento da perda de area
de contato da regularização com a prensa implica diretamente em diminuição da
resistência à compressão dos corpos-de-prova.
Resistência à compressão (MPa)

30

20

fc = -0,51x + 26,54
10

0
0 2 4 6 8 10 12 14
Redução de area (%)

Figura 9 - Relação da perda de área de contato e resistência à compressão

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Supondo-se a possibilidade de recalcular-se a resistência a compressão pela área de
contato real, mantendo-se a mesma carga, haveria uma maior aproximação nos
resultados para os diferentes tipos de regularizações. Refazendo a análise de variância
com esses novos valores, obtém-se resultados considerados estatisticamente iguais para
95% de confiança, como é mostrado na Figura 10.

30
Resistência à compressão (MPa)

25

20

15
27,9

2 dias
26,4

24,8

24,3
23,8

23,5
10 No dia

0
Neoprene Retificado Enxofre

Figura 10 - Resistência utilizando area real.

4.3 Imagens das areas de contato


A Figura 11 representa as imagens escaneadas correspondentes, respectivamente, aos
topos com neoprene confinado, retificados e capeamento com enxofre. As áreas pretas
correspondem à falta de contado com a prensa. Quando somadas as áreas sem contato,
os resultados encontrados nos topos regularizados com enxofre e com retificadora
mostraram resultados semelhantes.

Figura 11.a Regularização com neoprene Figura. 11.b Retificado Figura. 11.c Capeamento com enxofre

Figura 11: Imagens escaneadas correspondentes aos topos dos corpos-de-prova

Observou-se um padrão para os topos retificados, eles sempre apresentavam um leve


rebaixamento nas bordas dos corpos-de-prova, que parece ser inerente ao processo.
Sobre as regularizações testadas é possível se fazer algumas observações, como o
tempo gasto para os diferentes procedimentos e as dificuldades encontradas na
execução.
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A regularização com pasta de cimento apresentou problemas na sua execução que
impossibilitou que seus resultados fossem aqui apresentados. Mesmo tendo sido
colocado desmoldante nas placas de vidro para que não houvesse adesão no corpo-de-
prova, esta não foi evitada, pois no ato do desmolde parte da pasta foi arrancada.
O uso das almofadas de neoprene mostrou-se prática e rápida, porém, é importante
salientar que o neoprene tem limitações quanto a resistência do concreto, só sendo
utilizado para resistências iguais ou inferiores a 80 MPa, sendo que a partir de 50 MPa,
requer uma validação com a pasta de cimento. Isso faz com que o tempo de execução
economizado com este tipo de regularização seja equivalente aos outros materiais
testados. Além disso, não se pode perder de vista a falta de normalização para esse uso
de regularização no Brasil.

5 Conclusões

A análise das diferentes condições de umidade, para os períodos de tempo testados que
antecedem o ensaio não mostraram interferência significativa na resistência à
compressão, isso pode ter acontecido porque o tempo de retirada que antecedeu o
rompimento foi muito pequeno;
A regularização com utilização de Neoprene teve o melhor resultado de contato com o
corpo-de-prova, pois sendo flexível permite melhor acomodação com as imperfeições e
tem dureza compatível com a do concreto. A regularização por enxofre e retificação
apresentaram resultados semelhantes.
Vale esclarecer que estes resultados não são irrefutáveis e a partir destes, é importante
que novos estudos sejam aprofundados para que se observe se a eficiência do Neoprene
se mantém constante ao longo do tempo, como também para que tipos de concretos a
retificação é eficiente e, por fim, novas tentativas com o remate com cimento devem ser
experimentadas.

6 Referências
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standard practice for use of unbonded caps in determination of compressive strength of
hardened concrete cylinders. ASTM Committee C09 on Concrete and concrete
Aggregates, 2010.
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C 617: standard practice
for capping cylindrical concrete specimens. ASTM Committee C09 on Concrete and
concrete Aggregates, 2010.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5738: concreto -
procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova. Rio de Janeiro, 2003.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: concreto - ensaios de
compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 248: agregados -
determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro, 2003.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 52: agregado miúdo -
determinação da massa específica e massa específica aparente. Rio de Janeiro, 2009.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 53: agregado graúdo -
determinação da massa específica, massa específica aparente e absorção de água. Rio
de Janeiro, 2009.
ASSOCIAÇÃO MERCOSUL DE NORMALIZAÇÃO. NM 77: concreto - preparação das
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05 – Comitê Setorial de Cimento e Concreto, 1996.
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(Mestrado em Engenharia Civil) – Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de
Goiás, Goiânia, 2005.
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Dissertação (Mestrado em Construção Civil) - Escola de Engenharia, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
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