Aula 3. Amenorreia
Aula 3. Amenorreia
Aula 3. Amenorreia
Izabela Campos
AMENORREIA
Amenorreia
No início da vida reprodutiva, é muito comum a irregularidade menstrual por imaturidade do eixo
hipotálamo-hipófise. Quando o funcionamento do eixo é estabelecido, espera-se que a
menstruação seja regular.
Saúde da Mulher II
Izabela Campos
A amenorreia é a ausência de menstruação.
Pode ser primária ou secundária:
- Primária: significa que a menina nunca menstruou e não desenvolveu nenhum caractere
sexual secundário até 13-14 anos OU quando a menina nunca menstruou até a idade > 16 15
anos, mas já desenvolveu caracteres sexuais secundários. Até os três anos após o início do desenvolvimento
das mamas, se isto se deu antes dos anos
- Secundária: quando a mulher já menstruou e que, por algum motivo, ocorre interrupção
de menstruação por um período de mais de 3 meses ou mais de 3 ciclos menstruais.
15
o Amenorreia primária
Na amenorreia primária, deve-se identificar o estado de desenvolvimento gonadal da menina.
Assim, ela pode estar associada a:
- Eugonadismo: a gônada funciona normalmente, com produção normal de estrogênio e
progesterona.
- Hipogonadismo hipogonadotrófico: a gônada funciona menos do que deveria, por um
problema na secreção de gonadotrofinas.
- Hipogonadismo hipergonadotrófico: a gônada funciona menos do que deveria, mas
devido a um aumento das gonadotrofinas.
Fenótipo
feminino
Se a paciente tem um fenótipo feminino, ela pode ter o útero + ou ausente. Se o útero estiver
presente, deve-se buscar a dosagem do FSH, que pode estar baixo, normal ou alto.
Se o FSH estiver baixo, classifica-se como hipogonadismo hipogonadotrófico. Nesse caso, não
há a produção de gonadotrofinas, que pode ser causada por atraso constitucional do
desenvolvimento puberal ou por deficiência de GnRH.
Se o útero estiver presente e o FSH estiver alto, deve-se sempre considerar uma insuficiência
ovariana ou disgenesias gonadais. Entre as disgenesias gonadais, as mais comuns são a
síndrome de Turner (paciente tem ovário, mas é XO) e a Disgenesia Gonadal XY ou Síndrome
de Swyer (a paciente tem testículo, mas ele em fita, não ocorrendo a produção de androgênio, o
que impede a formação do pênis e da bolsa escrotal). Nesse caso da Síndrome de Swyer, pela
falta de androgênios e pelo não funcionamento do testículo, não ocorre a produção do hormônio
antimulleriano (hormônio inibidor dos ductos de Muller), o que leva ao desenvolvimento do
terço proximal da vagina e do útero.
A amenorreia primária também pode ser causada em um paciente com fenótipo feminino pela
ausência de útero.
Nesta condição, se o útero estiver ausente e o FSH estiver normal, existem duas condições que
podem acontecer: se a paciente for 46 XX, na maioria dos casos é uma malformação mulleriana,
como a Síndrome de Rokitansky, em que ocorre a ausência do útero (origem nos ductos de
Saúde da Mulher II
Izabela Campos
Muller), das trompas e do terço proximal da vagina (origem ectodérmica); em caso de paciente 46
XY, ocorre insensibilidade androgênica ou Síndrome de Morris.
OBS: a origem embrionária do útero e dos ovários é diferente. Portanto, no caso da Síndrome de
Rokitansky, a paciente tem ovários funcionantes, mas não tem útero.
No caso da síndrome de Morris, a paciente tem níveis de FSH normais porque ela tem testículo,
mas não tem receptor periférico para o androgênio que ela produz agir. Ou seja, a concentração
de androgênios é normal, mas não existem os receptores alvo para a ação desses hormônios.
Assim, a paciente não desenvolve bolsa escrotal e pênis, mas sim, genitália feminina.
A diferença com a Síndrome de Swyer está justamente no fato de que nesse caso, a paciente tem
testículos, mas eles não são funcionantes e não produzem o hormônio antimulleriano. Na Síndrome
de Morris, ocorre uma insensibilidade periférica aos androgênicos, pela falta de receptores. Na
hipófise, os androgênios conseguem agir e, por isso, o FSH é normal.
As mamas são desenvolvidas pela conversão periférica dos androgênios. A massa muscular é
aumentada pela quantidade de androgênios.
Como os testículos não descem para a bolsa escrotal, eles permanecem na região abdominal.
Contudo, a temperatura intra-abdominal aumentada pode se associar a ocorrência de tumor no
Saúde da Mulher II
Izabela Campos
testículo. Assim, nessas pacientes deve ser avaliada a gonadectomia para reduzir o risco de
transformação maligna nos testículos (gonadoblastoma, Disgerminoma, tumor de saco de yolk,
Coriocarcinoma). Indicação de cariótipo: não tem útero e FSH normal ou tem útero e o FSH está alto.
o Amenorreia secundária
Na avaliação inicial, deve-se atentar para:
- Excluir gravidez como investigação inicial.
- Anamnese;
- Exame físico:
Sinal de hiperandrogenismo clínico em amenorreia secundária leva a pensar em SOP
ou tumor adrenal produtor de testosterona.
- Dosagens hormonais:
FSH e Prolactina.
Em caso de FSH baixo e PRL alta, ou seja, em casos de hiperprolactinemia, deve-se pensar
como causa os tumores hipofisários, uso de medicamentos que reduzem dopamina,
hipotireoidismo, insuficiência renal ou causa idiopática. Alguns medicamentos que podem causar
hiperprolactinemia são: Risperidona, ADT, anti-tireoidianos, Metoclorpramida por tempo
prolongado, etc.
Em casos de adenoma, podemos classifica-los em micro ou macroadenomas produtores de PRL.
O microadenoma é caracterizado quando a PRL < 100 e o macroadenoma quando a PRL é > 100.
Saúde da Mulher II
Izabela Campos
Em caso de FSH e PRL normais, deve-se pensar em anovulação crônica. Para verificar a
funcionalidade do ovário, deve-se fazer o teste da progesterona. Administra 10 dias de
progesterona para a paciente e suspende o uso; se o endométrio tiver sido estimulado pelo
estrogênio, haverá sangramento – teste positivo. Se o endométrio for atrófico, ou seja, se não for
estimulado pelo estrogênio, não haverá sangramento e o teste será negativo.
Assim, FSH e PRL normais estão associados a duas condições na investigação da amenorreia
secundária:
Saúde da Mulher II
Izabela Campos
- Anovulação crônica: SOP.
- Defeito estrutural endometrial: em alguns casos, ocorre a destruição do endométrio devido
a curetagem uterina devido a retirada da camada basal, que impede que o endométrio se
reestabeleça. Infecção por Chlamydia pode levar a uma endometrite e levar a sinéquia
intrauterina também.
Para verificar a presença de defeito estrutural do endométrio, muitas vezes o US não é suficiente.
Deve-se verificar a resposta do endométrio ao estímulo hormonal. Nesse caso, realiza-se o teste
do estrogênio + progesterona. Administra-se estrogênio por 21 dias em uma dosagem mais alta
e, nos últimos 10 dias da administração do estrogênio, administra-se progesterona para verificar a
descamação do endométrio. Se a paciente sangrar, significa que o trato genital está pérvio. Se a
paciente não sangrar, significa que a paciente está com uma anormalidade no trato de saída.
Síndrome de Asherman's:
presença de sinequias fibróticas na
cavidade uterina após um trauma
endometrial
- Infecção por clamydia.
- Curetagem
Tratamento
O diagnóstico de amenorreia é sindrômico.
Deve-se avaliar onde está o problema:
hipotálamo, hipófise, ovário ou útero.
O tratamento depende das expectativas da
paciente, em especial, reprodutivas e sexuais.
Se a paciente apresenta uma IOP, deve ser avaliada a terapia hormonal, principalmente pelas
repercussões do hipoestrogenismo a longo prazo. O tratamento deve ser individualizado.
Key points
Deve-se diferenciar amenorreia primária de secundária.
Amenorreia primária deve ser investigada com base no perfil endócrino como Eugonadismo ou
hipogonadismo hipo ou hipergonadotrófico.
Amenorreia secundária deve ser investigada, após exclusão de gravidez e causas estruturais, com
base nas dosagens iniciais de prolactina e FSH.
Caso clínico
Saúde da Mulher II
Izabela Campos
OBS: A meia-vida da pílula é de 24 horas. A paciente retorna à fertilidade normal após suspensão
completa da pílula anticoncepcional em 3 meses.