LEITURA DE ARTIGO!!!!!!weslen - Mendes,+01 - Degradacao - Riacho - Ipucaba

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

Revista Homem, Espaço e Tempo março de 2016 ISSN 1982-3800

A DEGRADAÇÃO DO RIACHO IPUÇABA-IPU/CEARÁ: UM ESTUDO DO MEIO


AMBIENTE URBANO NO ENSINO DE GEOGRAFIA

Roberta da Cunha Farias1


Hélio Alves Rodrigues2

RESUMO
O presente artigo visa trabalhar propostas de Educação Ambiental na escola de E.F.
Deputado Murilo Rocha Aguiar, a partir de series iniciais, discutindo o tema desde o local
ao global, para melhor compreensão dos discentes, na ótica do local, trabalhou-se o Riacho
Ipuçaba na cidade de Ipu/CE, que é de total conhecimento dos alunos, analisando as causas
que levaram a degradação do riacho e a relação cidade e meio ambiente, objetivando
promover a Educação Ambiental e a conscientização das práticas de preservação. Fez-se
uso de recursos didáticos, como: vídeo, fotografia e o próprio livro, onde abordou-se
assuntos como: crescimento urbano, degradação ambiental e sustentabilidade. Levantou-se
uma discussão acerca de tudo que foi trabalhado, para analisar as percepções dos alunos
diante do tema exposto, onde foi possível perceber a mudança de pensamento e a
conscientização referentes as questões ambientais.
Palavras-chave: Geografia, Educação Ambiental, Riacho Ipuçaba.

ABSTRACT
The present article aims at work school environmental education proposals at E.F.
Deputado Murilo Rocha Aguiar school, from initial grades, discussing the theme since the
local from the global, for a better understanding of the students, in the local view it was
work the Riacho Ipuçaba in the city of Ipu/CE, which is common knowledge of the
students, analyzing the causes that brought about the stream’s degradation and the relation
town and the environment, objecting promote the Environmental Education and the raise
awareness of the preserve practices. It made use of educational resources, such as: video,
photograph and the book itself. Where it was deal with subjects such as: urban growth,
environmental degradation and sustainability. It was raise a discussion about all which was
work, for analyze the students perceptions faced with the exposed theme, where it was
possible realize the thought change and the raise awareness relating to environmental
questions.
Keywords: Geography, Environmental Education, Riacho Ipuçaba

1 Aluna do curso de Geografia – Licenciatura da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.


E-mail: [email protected]
2 Professor Substituto do curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA
E-mail: [email protected]

1
4

1. INTRODUÇÃO

A Geografia tem como principal pressuposto a análise da relação sociedade e


natureza, que se manifesta no espaço geográfico através de inúmeros processos derivados
dessa relação. Essa por sua vez, permitiu ao longo do tempo que a sociedade fosse pouco a
pouco moldando e modificando à natureza do espaço. E com o advento do capitalismo, que
tem como principal objetivo a obtenção do lucro a qualquer custo, deu-se em função disso
um vertiginoso processo de aceleração do ritmo da produção o qual intensificou
sobremaneira a extração das principais fontes de energias e das riquezas naturais em prol
do lucro em si. Não bastasse isso tudo, já que hoje elas estão em rápido processo de
esgotamento de sua condição, transformou-a em grandes espaços tais como as metrópoles
e megalópoles e materializou a sociedade urbana.
E sobre a égide desta condição, acredita-se que a sociedade como um todo em sua
ideologia de que a natureza era uma grande fonte inesgotável de recursos, fazendo uso
abusivo, alterando e destruindo suas paisagens, modificando e ao mesmo tempo
construindo paisagens, ora artificiais, ora modificada pelas forças produtivas da sociedade.
Isto nos faz lembrar da velha canção Sampa, de Caetano Veloso, quando retrata as rápidas
transformações que vem a passar São Paulo - em “que o homem destrói e constrói coisas
belas...”
O ensino de geografia, bem como de outras ciências vem se modificando,
principalmente diante do processo de globalização e diante das políticas ainda em curso –
as políticas ideológicas de cunho neoliberais. Elas têm modificado as relações sociais, as
formas de sociabilidades e as formas de nos relacionar com mundo e as pessoas e é de total
importância que o professor esteja atento a essas mudanças, que se inteire sobre o uso de
novos recursos metodológicos e de novas técnicas para que haja uma construção do
conhecimento como todo, sem fragmentações. É interessante relacionar os conteúdos ao
cotidiano dos alunos, ao local de vivencia dos mesmos, para uma melhor compreensão e
percepção dos espaços e lugares o quão estão inseridos bem como de seu entorno.
É importante que a escola vise trabalhar as questões referentes ao meio ambiente,
como forma de conscientização e de desenvolvimento de práticas de preservação, e em
seguida, trabalhe as práticas cotidiana dos alunos. Foi nesse sentindo que se deu a
construção da pesquisa, buscando conscientizar e formar os alunos sobre a importância da
preservação ambiental, trazendo-os a discutir acerca do tema, possibilitando aos mesmos
uma visão crítica do assunto, não meros reprodutores das mídias.

4
5

Faz-se indispensável a análise do meio ambiente, da relação sociedade-natureza,


discutindo as possíveis transformações e consequências que essa relação traz. Neste
contexto, o intuito é conscientizar sobre as questões ambientais, a importância da
preservação, as práticas de preservação e as consequências da degradação ambiental,
abarcando a discussão do meio ambiente urbano, numa escala local e global. Na escala
local será trabalhada a questão ambiental da Cidade de Ipu/CE, abordando a degradação do
riacho Ipuçaba.
A Geografia necessita estar relacionada ao cotidiano dos alunos, como ressalta
Castellar e Vilhena (2011):

[...] Para pensar o mundo conceitualmente, é necessário relacionar o


significado com o significante; a concretização do conceito pode se dar
ao se estabelecer uma relação mais eficaz entre o saber formal e o
informal. Ou seja, trata-se de concatenar o saber escolarizado e o saber
que o aluno formula a partir da vivência, dos seus valores e cultura.
(CASTELLAR; VILHENA, 2011, p. 8)

Portanto é de fundamental importância a formação dos discentes para a Educação


Ambiental, como ressalta Mendonça (1993, p.10) “A discussão da temática ambiental se
reveste de grande importância na atualidade devido a inúmeros fatores”.
É preciso então que haja uma abordagem cuidadosa sobre o assunto, levando em
consideração todos os aspectos que envolvem essa questão, para que tenhamos o
conhecimento adequado ao tratarmos de questões ambientais. Temos como exemplo e
objeto de pesquisa deste artigo, o riacho Ipuçaba localizado na cidade de Ipu-CE, que
outrora foi considerado fonte de riqueza do município, além de área de lazer, hoje
encontra-se poluído e degradado.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A relação histórica sociedade-natureza e suas inter-relações, por vezes


problemáticas, não são novidade nas discussões cientificas. Engels (1979), por exemplo,
em dialética da natureza, já abordava essa questão e trazia a luz, sobre a ótica da história,
toda evolução dos inúmeros processos construídos pela sociedade ao longo do processo
civilizatório. Além de frisar toda construção desencadeada na relação sociedade-natureza,
Engels, ainda se deu ao trabalho de revelar, perante aos embates teóricos e as inúmeras
descobertas cientificas, um processo de naturalização da ciência e uma mistificação da

5
6

relação sociedade-natureza em pleno favorecimento da natureza em detrimento da


sociedade. No início da introdução de Dialética da natureza, Engels diz:

As modernas ciências naturais, as únicas que alcançaram um certo


desenvolvimento científico, sistemático e completo, em contraste com as
geniais intuições filosóficas que os antigos aventuravam acerca da
natureza...; as modernas ciências naturais, como quase toda à história,
datam da grande época. Essa é a época que se inicia com a segunda
metade do século XV. O poder real, apoiando-se nos habitantes das
cidades, derrubou o poderio da nobreza feudal e estabeleceu grandes
monarquias, baseadas essencialmente no princípio nacional e em cujo
seio se desenvolveram as nações europeias modernas e a moderna
sociedade burguesa. (ENGELS, 1979, p. 15)

Mas, segundo Engels, este processo de superação da naturalização das descobertas


e da ciência através da história só tornou-se possível com o advento das ciências modernas.
Através dela e por meio dela, principalmente do que foi revelado pelas ciências da natureza
e, posteriormente pela filosofia, astronomia, geologia, antropologia, biologia, geografia e
etc., a supremacia da sociedade-natureza. Uma vez que, não mais havia o domínio supremo
do dogma da religião sobre a ciência. Para Engels (1979), foi um período constituído como
sendo, segundo sua visão, “a maior revolução progressista que a humanidade conhecera até
então.”, exigindo um esforço, um rigor cientifico e, ao mesmo tempo, uma enorme
erudição. Era, segundo o autor

Uma serena liberdade de pensamento, herdada dos árabes e alimentada


pela filosofia grega, de novo descoberta. Foi uma época que exigia
gigantes e que forjou gigantes pela força do pensamento, pela paixão e o
caráter, pela universalidade e a erudição. (ENGELS,1979, p. 16)

Em Anti-Duhring (1979), livro construído sobre o apogeu das transformações


modernas, Engels, vai construir uma filosofia da natureza, revelando sua primazia, suas
grandes ações para o processo civilizatório ocidental. Segundo Lefebvre (2008), “Friedrich
Engels, orientou nitidamente o pensamento revolucionário para a filosofia da natureza.
Conferiu-lhe um conteúdo cosmológico.” Ainda, segundo Lefebvre (2008), Engels, quis
construir um estatuto de filosofia da natureza ao preceito da filosofia de mundo. Assim
contribuir enormemente para todo processo de entendimento da relação sociedade-
natureza. Foi, talvez, o primeiro a buscar compreender toda essa relação pela história e
também pelas contradições reveladas ao longo de todo processo civilizatório.

6
7

Diante de um mundo em transformação, Engels, revela em sua época tudo aquilo


que é de notório saber da vida moderna, as crises econômicas, a relação conflituosa cidade-
campo, a relação urbana-rural, o drama da moradia, os problemas ambientais (quando não
se tratava deles ainda), das condições precárias de vida e, principalmente, da relação
extremamente conflituosa entre sociedade-natureza.
Hoje, isso tudo levantado por Engels continua, ao que parece, bem nítido no
contexto contemporâneo e ganhou maior expressão nos últimos anos – Marx diria que isso
se constitui como valor. Em razão disso, tudo nos parece bastante evidente, devido os
constantes casos de desequilíbrios causados pela degradação ambiental.
Se ao longo da história o homem sempre teve uma relação muito dependente com a
natureza; essa dependência hoje, passou nos últimos anos por um esquecimento vertiginoso
e sem precedentes jamais visto na história da relação sociedade-natureza. Nela, a sociedade
simplesmente despiu do seu senso ético no trato do uso da natureza sem se importar com a
mesma, não são raros os casos em que vemos rios repletos de lixo e totalmente poluídos.
Versando a ação humana com relação à natureza, observa-se que esta tem gerado
muitas consequências desastrosas. As atitudes poluidoras e degradantes contra a natureza
afetam enormemente o ciclo ecológico, bem como a condição humana. Dessa maneira,
“Quanto mais recursos à sociedade obtêm para transformar o recurso natural, mais os
efeitos impactantes são evidentes do que as ações de preservação ou recuperação dos
elementos do meio.” (Falcão Sobrinho e Costa Falcão, 2008, p.38)
Através desse processo, a problemática ambiental ganha amplitude e está inserida
nos diversos meios de comunicação, mesmo não informando de forma correta, ela ainda se
faz presente. O mais importante é que não é nova a discussão da referida temática, e é
perceptível que a falta de conscientização a essas questões tem nos afetado diretamente,
seja na maneira de nos relacionar com mundo e, particularmente com a natureza.
Entretanto, o alarmismo da mídia se refere apenas à questões catastróficas, como
derramamento de petróleo em regiões marítimas, deslizamentos, enchentes e acidentes
nucleares. É preciso que haja uma abordagem cuidadosa sobre o assunto, levando em
consideração todos os aspectos dessa problemática, ou seja, a totalidade sistêmica para que
tenhamos um conhecimento correto ao tratarmos das questões ambientas.
Percebe-se que a problemática ambiental passou a ser discutida e pensada sobre os
diferentes âmbitos e visões de conhecimentos, afim de elaborar possíveis soluções para
amenizar a situação do planeta. De acordo com Rodrigues (1998):

7
8

Neste findar de século, a problemática ambiental passou a ser debatida


por amplos segmentos da sociedade. Há nas diferentes áreas do
conhecimento cientifico sensibilidade em relação à problemática
ambiental, como é possível verificar pela ampla bibliografia, embora
fragmentada, sobre o tema. O meio ambiente passou a ser objeto de
análises de vários cientistas que, assim, têm contribuído para esclarecer
as leis da natureza, e as formas pelas as quais a sociedade se relaciona
com ela. Além disso, os cientistas elaboram propostas para minorar os
desastres ambientais. (RODRIGUES, 1998, p. 71)

Outro ponto importante é, sem sombra de dúvidas, e está relacionado diretamente


com a questão supra, é o fenômeno urbano, especialmente o crescimento das cidades tendo
em vista que se tornou um problema ambiental gravíssimo, particularmente com a morte
das cidades e colapso das grandes metrópoles e de suas decorrentes crises. Com isto, fica
notório que o desenvolvimento econômico não costuma caminhar junto da
sustentabilidade, mas, ao contrário, com a insustentabilidade ambiental ou urbana.
As cidades médias e pequenas parecem não escapar desse processo acima, daí
seguem o mesmo modelo das grandes metrópoles, isto é, da sociedade urbana. Elas
crescem cada vez mais e a natureza que tinha seu espaço bem definido e muitas vezes era
de importante contribuição, hoje passa a ser substituído pelo desenvolvimento geográfico
desigual, fruto do modo de produzir capitalista que geralmente não visa o crescimento
sustentável, mas acumulação de riquezas.
Como exemplo temos o riacho Ipuçaba localizado na cidade de Ipu-CE, que outrora
foi área de lazer, hoje encontra-se poluído. Neste aspecto afirma Falcão Sobrinho e Costa
Falcão (2008):

[...] Com o crescimento e desenvolvimento dos centros urbanos, ocorre


uma transformação em grandes áreas da superfície terrestre, onde as
desigualdades regionais provocam um êxodo para áreas urbanas, que
crescem desordenadamente, muitas vezes sem uma infraestrutura
adequada as condições do meio físico, capaz de acompanhar o ritmo de
crescimento da população, proporcionando assim, sérios problemas ao
meio ambiente e a sociedade[...] (FALCÃO SOBRINHO; COSTA
FALCÃO, 2008, p. 67)

É diante de tais questões e de sua problemática, seja ela inerente as crises:


ambiental, das metrópoles e das relações cidade – campo ou rural – urbana que advém o
rápido processo de aceleração da produção e do ritmo veloz com que se dá o esgotamento
da natureza. Eis que surge, após vários fóruns, reuniões de cúpulas, de organismos
internacionais, chefes de Estados, de organizações não governamentais, de protocolo disso
e ou daquilo a temática - educação ambiental. Seu objetivo é, inicialmente, buscar um

8
9

melhor entendimento da relação sociedade-natureza, e posteriormente, possibilitar soluções


que tornem possível essa convivência, procura também desconstruir essa noção
antropocêntrica, onde o homem não se considera um elemento da natureza, mas um ser à
parte, como explorador e observador dela, considerando-se numa situação de centralidade,
onde todo o universo tem a única finalidade de servi-lo.

A educação ambiental como educação política está comprometida com a


ampliação da cidadania, da liberdade, da autonomia e da intervenção
direta dos cidadãos e cidadãs na busca de soluções e alternativas que
permitam a convivência digna e voltada para o bem comum. (REIGOTA,
2009, p.13)

O Ensino de geografia vem se modificando ao longo dos anos, e é de suma


importância que o professor se atente a essas mudanças, para que haja uma construção do
conhecimento como todo, e fortaleça a relação ensino-aprendizagem. A geografia se
propõe à entender a dinâmica sociedade-natureza, as formas e as consequências dessa
relação. Nessa perspectiva buscamos entender tanto a relação sociedade-natureza, como a
relação urbana e ambiental comum e sistêmica onde o crescimento tem afetado a totalidade
desta relação.

3. METODOLOGIA

A revisão da literatura é essencial para se constituir a pesquisa cientifica, é a partir


dela que o trabalho começa a ser produzido, assim como justifica, problematiza e indica a
proposta a qual a pesquisa se destina.
Deste modo destacamos alguns autores que contribuíram para o embasamento desta
pesquisa: Callai (2003), Engels(1979), Gomes (1998), Mendonça (1993), Reigota (2009),
Rodrigues (1998), Vesentini (1997), suas abordagens contribuíram tanto para a pratica do
ensino, como para o entendimento da relação sociedade e natureza.
Ao iniciarmos a pesquisa, nos perguntamos o quê pesquisar e pra quem pesquisar,
qual seria nosso público alvo, quais eram suas características e conhecimentos, deste modo
iniciamos o projeto de conclusão de curso (TCC), onde todas essas questões foram
supridas.
A turma escolhida foi o 6º ano do ensino fundamental II, da escola Deputado Murilo
Rocha Aguiar, com média de 15 alunos, com idades entre 10 e 12 anos, a escolha se deu,

9
10

pelo fato de ser a primeira turma do ensino fundamental II, e temos a intenção de trabalhar
educação ambiental no início da formação educacional, com a intenção de promover a
conscientização sobre as questões referentes ao meio ambiente urbano.
Após a revisão da literatura, e a conclusão da pesquisa, desenvolveu-se à aplicação
do projeto, que passou por três etapas, que foram de suma importância para o entendimento
dos discentes.
No primeiro momento foi ministrada uma aula expositiva, com a discussão sobre o
que é meio ambiente, degradação ambiental, relação sociedade-natureza, tudo isso atrelado
ao livro didático dos próprios alunos.
No segundo momento, após aflorado o conhecimento sobre a questão ambiental,
passamos a trabalhar a relação partindo do local para o global. No local trabalhamos o
riacho Ipuçaba, que é de total conhecimento dos alunos. O riacho Ipuçaba corta boa parte
da cidade de Ipu/CE, e os alunos passam por ele todos os dias para irem à escola, então, foi
de suma importância para eles discutirem o local de vivência e que antes passava
despercebido. Trabalhamos com imagens de outras cidades, relacionando com o local.
E por fim, encerrou-se com uma discussão acerca de todos os assuntos tratados, que
foi de fundamental importância para a fixação dos assuntos antes tratados. Foi notório o
entendimento dos alunos, acerca de tudo que foi trabalhado.

3.1 Caracterização do objeto estudado

Termo indígena que significa “lugar das fontes” ou “logradouro das nascentes”, foi
aí que se originou o nome do riacho, o riacho Ipuçaba, que nasce no município de Ipu (Ig=
água + Pu= queda = Queda D´agua na língua tupi-guarani). Sua nascente principal fica
situada no sítio São Paulo a 16 km da sede e em torno de 750 m. de altitude. O riacho
Ipuçaba possui uma extensão de 26 km, desaguando no rio Jatobá. O riacho pertence à
bacia hidrográfica do rio Acaraú, sendo o riacho Ipuçaba afluente do rio Jatobá e, o rio
Jatobá um dos principais afluentes do rio Acaraú. É considerado um riacho de porte médio,
perene e corta toda a cidade de Ipu.

10
11

Figura 01: Mapa de localização do município de Ipu-CE

Fonte: IPECE, 2007. Adaptação Mesorregiões Geográficas. Parente, 2012.

É importante ressaltar que o riacho Ipuçaba é responsável por dar origem a Bica do
Ipu, que é considerado o principal ponto turístico do município, e que sua nascente é
protegida por lei, compreendendo uma Área de Proteção Ambiental (APA), que foi
instituída pelo Decreto Nº 25.354, de 26 de janeiro de 1999. O Decreto esclarece que:

Art. 1º - Sob a denominação de APA da Bica do Ipu, fica declarada


Área de Proteção Ambiental (APA), a área situada no município de
Ipu (...), compreendendo áreas de encostas, setores mais elevados
da serra e as nascentes dos riachos Ipuzinho e Ipuçaba.
(FORTALEZA, Decreto nº 25.354, de 26 de Janeiro de 1999).

Apesar de o riacho dar origem a Bica do Ipu e sua nascente ser protegida por lei, é
possível perceber que com o desenvolvimento da cidade, o riacho Ipuçaba foi se tornando
mais poluído, recebendo uma rede de esgoto.

11
12

O riacho Ipuçaba que outrora foi citado por uma escritora da nossa cidade, Mello
(1985, p. 59), “A maior parte do município de Ipu estende-se ao longo do vale do Riacho
Ipuçaba, ao sopé da Ibiapaba e prolongando-se pelo sertão.”
Hoje, devido ao crescimento populacional e a falta de planejamento e
infraestrutura, uma rede de esgoto é lançada no riacho e lixo é acumulado em seu leito,
principalmente na área central da cidade.
Figura 02: Riacho Ipuçaba

Fonte: Farias, 2016.

Na figura acima, é possível perceber a poluição do riacho, onde podemos identificar


a rede de esgoto, pela cor da água e lixo acumulado nas margens. Este trecho do riacho,
passa na área central da cidade, onde a poluição é mais intensa. Essa situação causa
desconforto à população, pois o mau cheiro incomoda bastante, sem falar nas inúmeras
doenças que esta poluição pode causar.
No livro “O Ipu em três épocas” Mello ressalta o grande valor que o riacho tem para
a cidade de Ipu, como destaca: “O Ipuçaba nasce nas escarpas da Ibiapaba e forma um rico
e fértil vale, cheio de grandes canaviais e ótimos sítios constituindo fonte de riqueza do
município.” (MELLO 1985, p. 59)
No passado o riacho foi considerado fonte de riqueza e desempenhava importante
papel, era um local de recreação para crianças, as lavadeiras (tradicionais na nossa região)

12
13

e agricultores, também o utilizavam, assim como famílias, ou seja toda a população


usufruía dele.
Vemos assim a importância que tem o riacho para a cidade, e apesar disso acabou
chegando a uma situação de extrema poluição. Essa situação de descaso com o riacho é
algo que afeta enormemente o meio ambiente urbano, pois o acúmulo de lixo tem causado
enchentes, o mau cheiro incomoda a população, e por estender-se por boa parte da cidade,
afeta um grande número de pessoas. Já houveram manifestações por parte da população
nas redes sociais, ressaltando o valor do riacho para o município, porem nada de concreto
foi feito.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O principal objetivo, como colocado anteriormente, é conscientizar os alunos acerca
das questões ambientais, e levantar discussões sobre práticas simples para a preservação do
meio ambiente, e que podem ser adotadas no cotidiano. É importante ressaltar que não
tem-se como objetivo “salvar o planeta” ou “iniciar uma cruzada contra os agressores do
meio ambiente”, e sim propor uma chamada de atenção para esses problemas, buscamos
trabalhar práticas do dia a dia que podem surtir efeito.
Deste modo, optou-se por trabalhar com a turma do 6º ano EF, por acreditarmos
que esses alunos acolheriam o projeto com mais intensidade, e que estariam abertos à
aprender. Durante o desenvolvimento do projeto pudemos perceber a interação e o
interesse deles pelo assunto, quando se pronunciavam para explicar o quanto era
perceptível o descaso de muitas pessoas, ao jogarem lixo indiscriminadamente nos locais
inadequados, quando não economizam agua, quando deixam lixo nas ruas. É interessante
perceber como a criança está atenta ao que acontece à sua volta, e é preciso apenas um
estimulo para que ela se manifeste e passe a ter novas atitudes, inclusive de chamada de
atenção aos mais velhos.
Portanto, para fundamentar o que foi discutido, desenvolveu-se então uma
discussão sobre o riacho Ipuçaba, o qual todos os alunos conhecem, em seguida levantou-
se as possíveis causas que acarretaram a degradação do riacho. Nisto, foi percebido que o
crescimento urbano sem real planejamento, atividade agrícola próxima à nascente do
riacho e acúmulo de lixo nas suas margens, foram algumas das causas que levaram o
riacho a situação atual.

13
14

Trabalhou-se também uma situação ocorrida na cidade, quando durante uma chuva,
um bairro localizado próximo ao riacho Ipuçaba, sofreu uma enchente, devido ao acúmulo
de lixo. Assim se reveste de grande importância trabalhar o local, para posteriormente
entender o global.
Após termos explorado o livro didático, com os conteúdos: paisagem e lugar,
relacionados com os assuntos: crescimento urbano, sustentabilidade, degradação ambiental
e práticas de preservação, encerramos com uma discussão acerca de tudo que foi
trabalhado, com o intuito de analisar se a percepção dos alunos sobre às questões
ambientais, haviam mudado.
A partir da construção do projeto, traçou-se alguns objetivos tais como: trabalhar a
degradação do riacho Ipuçaba, entender como o crescimento urbano tem interferido no
meio ambiente, relacionar o local ao global, incentivar práticas cotidianas de preservação
ao meio ambiente urbano e entender a percepção dos alunos acerca de todas essas
questões.
Ao chegar no ambiente escolar nos deparamos com algumas dificuldades,
referentes ao aporte técnico, situação que foi resolvida com outros métodos, também
tivemos um pouco de resistência por parte dos alunos, mas após a explicação do que iria
ser trabalhado, fomos acolhidos com muita receptividade. É sempre um desafio
desenvolver projetos na escola, mas é recompensador ver o resultado.
Então apresentou-se o projeto que tem seus pilares na promoção da Educação
Ambiental, com enfoque no meio ambiente urbano, que foi pensado e construído para
promover aos alunos à conscientização sobre a degradação ambiental que está em seu
cotidiano, na cidade, no riacho Ipuçaba, que possui um valor inestimável para este
município e como sujeitos integrantes da sociedade, temos o dever de entender e nos
manifestar, a respeito dessas questões.
Após desenvolver e aplicar o projeto, obteve-se um resultado muito positivo e
bastante promissor, teve-se um bom aproveitamento. Ressaltamos que a princípio foi
proposto o estudo na disciplina de Geografia, entretanto, a Educação Ambiental é um tema
abrangente e muito importante que pode ser trabalhado por outras disciplinas. Como
engloba um conjunto de saberes e conhecimentos, a escola pode elaborar um projeto de
forma a envolver todas as disciplinas, numa oficina geral, para a promoção da Educação
Ambiental nos diversos níveis, e com isso conseguir atingir um novo nível, ofertando um
exemplo perfeito aos alunos, que o conhecimento não se divide em caixas (que são as

14
15

disciplinas), que não se tocam, o verdadeiro aprendizado passa por todas as áreas de
conhecimento, retirando das mesmas o que é mais necessário para se atingir um
conhecimento exato carregado da criticidade necessária.
Portanto, reafirma-se que com a aplicação do projeto, obteve-se ótimos resultados,
uma vez que os alunos estavam completamente dispostos e ativos no que diz respeito a
temática ambiental, e o que é melhor, eles tinham, a partir dali, as informações necessárias
para pensarem os atos e analisarem por si mesmos quais as melhores maneiras de se agir.
Assim reforçamos que o projeto teve relevância e foi de grande contribuição na
vida dos educandos, pois passaram a refletir sobre as questões ambientais e conhecer os
problemas que afetam a cidade que os mesmos moram, tendo esse conhecimento passam a
ter um olhar mais aguçado e crítico sobre essas questões, que de tão comuns poderiam se
tornar banais, mas agora tem-se certeza que todos estão abastecidos do pensamento crítico
correto.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A geografia, bem como outras disciplinas necessita estar relacionado ao cotidiano


dos alunos, ao conhecimento adquirido de suas experiências. Nisto pensou-se o projeto de
modo que fizesse algum sentido para aqueles que nos assistiam, e que de alguma forma
pudesse contribuir para a formação escolar e social.
O desenvolvimento e prática pedagógica foram de extrema importância para
formação acadêmica, e de grande contribuição para o ambiente escolar. É importante
ressaltar que trazer discussões sobre a questão ambiental e relacionar com o lugar de
vivencia dos alunos foi o que assegurou um entendimento pleno dos assuntos abordados.
Portanto afirmamos o bom êxito dos objetivos traçados, e acreditamos que essa
experiência foi de grande valia para nós. Mesmo que os resultados não sejam de grandes
proporções, a Educação Ambiental é uma pratica cidadã, é um dever que temos com o
meio ambiente. Se não temos a força de realizar ações mais concretas, evitar desastres
ambientais a nível global, que façamos algo em menor escala, e não menos importante,
principalmente quando o público alvo for o ambiente escolar, pois é na escola que
formamos cidadãos que futuramente irão conviver e influenciar ativamente na sociedade. E
que nessa convivência, o respeito com a natura seja fundamental.

15
16

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Decreto Nº 25.354, de Janeiro de 1999. Dispõe sobre a criação da Área de


Proteção Ambiental – APA da Bica do Ipu, no município de Ipu, Estado do Ceará, e adota
outras providências. Diário Oficial do Estado, Fortaleza, 1999.

_______. Ministério da Educação. A implantação da Educação Ambiental no Brasil.


Brasília: Secretaria de Educação Ambiental, 1998.

CALLAI, Helena Copetti. Estudar o lugar para compreender o Mundo. In:


CASTROGIOVANNI, Antônio C. (org.). Ensino de Geografia: práticas e textualizações
no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2009.

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito


ecológico. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.

CASTELLAR, Sônia; VILHENA, Jerusa. Trabalhando com um projeto educativo sobre


a cidade. In: Ensino de Geografia, São Paulo: Cengage Learning, 2011.

ENGELS, Friedrich. Anti-Duhring: filosofia, economia, politica, socialismo. 2ªed. Rio


de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

_______. A Dialética da natureza. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

FALCÃO SOBRINHO, José; COSTA FALCÃO, Cleire Lima. Geografia Física: a


natureza na pesquisa e no ensino. Rio de Janeiro: TMAISOITO, 2008.

GADOTTI, Moacir. Educar para a sustentabilidade. São Paulo: Editoria e Livraria


Instituto Paulo Freire, 2008.

GOMES, H. A Questão Ambiental: Idealismo e Realismo Ecológico. Terra Livre. AGB,


1998.

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os des(caminhos) do meio ambiente. 11ªed. São


Paulo: Contexto, 2004.

LEFEBVRE, Henri. Espaço e política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

MELLO, Maria Valdemira Coelho. O Ipu em três épocas. Fortaleza: Editora Popular de
Fortaleza, 1985.

16
17

MENDONÇA, Francisco de Assis. Geografia e Meio Ambiente. São Paulo: Contexto,


1993.

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. 2 ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.

RODRIGUES, Arlete Moysés. Produção e consumo no espaço urbano: problemática


ambiental urbana. São Paulo: Hucitec, 1998.

RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da. Educação ambiental e
desenvolvimento sustentável: problemática, tendências e desafios. Fortaleza: Edições,
UFC, 2009.

SILVA, Ezequiel Teodoro. Livro didático: do ritual de passagem à ultrapassagem. In.


Em Aberto – O livro didático e qualidade de ensino. Brasília: INEP, nº 69, ano 16,
jan./fev., 1996.

VESENTINI, J.W. Geografia e ensino: textos críticos. Campinas: Papirus, 1989.

17

Você também pode gostar