Decisão TRT-6 Greve Rodoviários RMR PE

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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região

Dissídio Coletivo de Greve


0001722-42.2024.5.06.0000
Relator: NISE PEDROSO LINS DE SOUSA

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 12/08/2024


Valor da causa: R$ 500.000,00

Partes:
SUSCITANTE: SIND DAS EMP DE TRANSP DE PASSAG DO EST DE PERNAMBUCO
ADVOGADO: FERNANDO ANTONIO MALTA MONTENEGRO
SUSCITADO: SINDICATO DOS TRABALHADORES EM TRANSPORTES RODOVIARIOS
URBANOS DE PASSAGEIROS DO RECIFE E REGIOES METROPOLITANA DA MATA SUL
E NORTE DE PERNAMBUCO
PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE
Fls.: 2

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 6ª REGIÃO
GABINETE DA PRESIDÊNCIA
DCG 0001722-42.2024.5.06.0000
SUSCITANTE: SIND DAS EMP DE TRANSP DE PASSAG DO EST DE
PERNAMBUCO
SUSCITADO: SINDICATO DOS TRABALHADORES EM TRANSPORTES
RODOVIARIOS URBANOS DE PASSAGEIROS DO RECIFE E REGIOES
METROPOLITANA DA MATA SUL E NORTE DE PERNAMBUCO

Vistos, etc.

Trata-se de DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA


cumulado com DISSÍDIO DE GREVE e ainda com a CONCESSÃO DE PROVIMENTOS
COMINATÓRIOS DE URGÊNCIA, instaurado, com amparo no art. 114, §2º da
Constituição Federal, na Lei n. 7.783/1989 e nos arts. 181 a 184 do Regimento Interno
deste Regional, pelo SINDICATO DAS EMPRESAS DE TRANSPORTES DE PASSAGEIROS
NO ESTADO DE PERNAMBUCO – URBANA-PE, em face do SINDICATO DOS
TRABALHADORES EM TRANSPORTES RODOVIÁRIOS URBANOS DE PASSAGEIROS DO
RECIFE E REGIÕES METROPOLITANAS DA MATA SUL E NORTE DE PERNAMBUCO.

Em suas razões de ID. 6b8c79f, o sindicato impetrante defende a


oportunidade e cabimento do dissídio coletivo de greve cumulado com dissídio de
natureza econômica, eis que o movimento paredista foi aprovado em assembleia da
categoria profissional, com amplamente divulgado na imprensa. Indica como data
marcada à concretização o dia de hoje, 12.08.2024, de modo que está configurada a
“greve” prevista no art. 184 do Regimento Interno deste Tribunal. Discorre sobre a
submissão total do funcionamento das empresas ao órgão gestor (fixação das tarifas e
das linhas de percursos), concluindo pela impossibilidade de oneração das referidas
empresas sem a contrapartida das tarifas concedidas. Aduz que “Recentemente, o
poder concedente retirou, por ato unilateral, as tarifas do chamado anel médio,
passando essa prestação de serviços a ser remunerada pela tarifa do anel dos
percursos de menor extensão, em claro ato de intervenção estatal nos serviços
prestados pelas empresas. Por conta dessa subordinação integral das empresas ao
poder concedente vê-se que as empresas substituídas pelo órgão sindical suscitante
são controladas e limitadas, de forma permanente, ao Consórcio de Transportes do
Grande Recife, para todos os fins, desde a parte econômica do sistema até a própria
execução do serviço, onde se insere a sua parte operacional.” Reafirma que as
empresas são controladas e limitadas, de forma permanente, ao Consórcio de
Transportes do Grande Recife, para todos os fins. Quanto aos fatos, informa que o
sindicato profissional encaminhou ao suscitante, no dia 14.06.2024, a pauta de
reivindicações que afirmou ter sido aprovada em assembleia realizada pela categoria.

Assinado eletronicamente por: FABIO ANDRE DE FARIAS - Juntado em: 12/08/2024 13:14:14 - dda0748
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Após o que, indica que a primeira assentada de negociação realizou-se no dia


28.06.2024, após assembleia patronal, seguida de mais 04 (quatro) reuniões de
negociação coletiva, até que no dia 07.08.2024, o sindicato profissional comunicou o
encerramento das negociações. Destaca que foi ajuizado perante este TRT, Protesto
Judicial para resguardar a data base anual em 01º de julho de 2024, o que restou
deferido até 12.08.2024. Ressalta que “Instado a participar de reunião com a finalidade
de assegurar meios mínimos de manutenção do serviço, na forma do que prevê o art.
11 da Lei nº 7.783/1989, o sindicato profissional não atendeu a essa convocação, tendo
o Órgão Gestor do Transporte Público do Recife e Região Metropolitana expedido os
ofícios nº 515/2024 e 516/2024 às entidades profissionais e patronais fixando os
percentuais mínimos de prestação de serviço durante a greve nos percentuais de 70%
para os horários de pico e 50% para os demais horários, especificando, inclusive, essa
prestação por cada empresa integrante do sistema. O Presidente do Sindicato
profissional veiculou vários pronunciamentos pela imprensa e mídias sociais
informando que não iria cumprir essa regra de preservação dos serviços inadiáveis à
sociedade, já que transporte público é legalmente definido como atividade essencial,
recusa de cumprimento que, como se pode constatar no dia de hoje, se confirmou
integralmente. Relembre-se que no curso das negociações, o sindicato profissional
promoveu inúmeras paralisações ilegais que atingiram toda a comunidade, impedindo
a prestação dos serviços de transporte público durante grande parte desses dias,
invocando sempre desculpas falsas e inconsistentes para tentar justificar a sonegação
do serviço público essencial a que estava obrigado.” Afirma descumprimento voluntário
e consciente pelo sindicato profissional da responsabilidade com a manutenção
mínima das necessidades da sociedade, o que viola os arts. 9º e 11 da Lei n. 7.783/89,
cabendo ao Poder Judiciário decidir o conflito. Advoga pela abusividade da greve
deflagrada pelo sindicato profissional, nos termos do art. 14 da citada lei e da OJ n. 38
do TST, inclusive diante da recusa em negociar a prestação dos serviços essenciais.
Apresenta pedido cautelar antecedente combinado com pedido de tutela inibitória,
com fulcro no art. 308 do CPC, em face da possibilidade de dano imediato e irreversível
ao direito tutelado. Diz que “o bom direito do suscitante é cristalino no sentido de
impedir que sejam desrespeitadas as garantias próprias e da sociedade a que deve
prestar o serviço de transporte diante da greve deflagrada pelo sindicato profissional
para a zero hora do dia 12.08.2024 com duração indeterminada, assim como de afastar
os empecilhos ilegais que impeçam a prestação dos serviços essenciais, inadiáveis e
indispensáveis à sociedade destinatária do transporte público.” Remete ao direito
líquido e certo de ter a propriedade das empresas filiadas assegurada. Prossegue em
suas razões com a reprodução da “decisão proferida pelo Exmo. Sr. Desembargador
Corregedor Regional que instruiu o Dissídio Coletivo de Greve nº TRT- 0001652-
59.2023.5.06.0000, que determinou a manutenção da circulação da frota nos
percentuais de 60% e 40% do seu total nos períodos de pico e entre pico, assim como
imputou outras obrigações ao sindicato profissional, além de autorizar o uso de força
policial e impor multa de R$ 30.000,00 pelo descumprimento das suas determinações.”

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Postula, assim: “a) determinar, em caráter antecedente e cautelar, que o sindicato


profissional promova durante a greve a prestação dos serviços de transporte público
coletivo de passageiros, de forma tal que permita o atendimento das necessidades
urgentes e inadiáveis da comunidade, quer na totalidade de seus efetivos, quer em
proporção hábil a preservar o interesse público e o direito ao transporte, o que se
estima em 70% nos horários de pico e em 50% no restante do dia. b) que o sindicato
profissional se abstenha de promover atos que impliquem no bloqueio dos acessos às
sedes e das saídas das garagens dessas empresas, que se abstenha de invadir esses
locais e deles se apropriar, ainda que temporariamente, e a praticar todo e qualquer
ato que implique, direta ou indiretamente, em violação de direitos. c) que o sindicato
profissional abstenha de fechar as vias públicas ao trânsito dos ônibus conduzidos por
motoristas que queiram trabalhar, assim como ao trânsito da população em geral. d)
que o sindicato profissional abstenha de constituir piquetes junto à sede das empresas
e na via pública para impedir os empregados que queiram trabalhar de fazê-lo
livremente. e) que o sindicato profissional se abstenha de praticar atos que causem
prejuízos materiais às empresas, como a depredação de ônibus, o incêndio dos
veículos, a destruição de componentes desses ônibus, como pneus, vidros, bancos, e
outros que compõem o equipamento integral dos veículos; f) que em caso de
descumprimento de sua ordem, determine que a força policial cumpra a determinação
de forma coercitiva, afastando manu militari, qualquer resistência porventura
encontrada. g) por fim, que esse E. TRT, por cada ato praticado em desobediência ao
quanto requerido e determinado de forma cautelar antecedente, imponha multa diária
em desfavor do sindicato profissional no valor de R$ 200.000,00. Tendo em vista os
acontecimentos dos dias 11.07.2023, 13.07.2023 e 14.04.2023 (sic), essa multa deverá
corresponder a cada empresa alcançada pelos referidos atos e multiplicado por cada
ato praticado, sendo a soma das infrações executáveis de oficio e automaticamente,
valendo a decisão judicial como título líquido, certo e exigível. h) requer ainda o
sindicato suscitante que esse E. Tribunal, em caso de descumprimento de sua ordem
cautelar antecedente, determine que a força policial cumpra a determinação de forma
coercitiva, no que for cabível, afastando manu militari, qualquer resistência porventura
encontrada e que o Poder Público, representado pelo Estado de Pernambuco cumpra o
disposto no art. 12 da Lei nº. 7.783/89.” Acrescenta que “imagens feitas no início desta
manhã do dia 12.08.2024 demonstram o bloqueio das garagens das empresas de
ônibus situação em que o sindicato ou não permitiu a saída de todos os ônibus ou
autorizava a saída para circulação de percentuais ínfimos da frota entre 3% e 5%, o que
não atende minimamente ao necessário ara atender as necessidades inadiáveis da
sociedade.” Prossegue nas razões, desta feita, discorrendo acerca do dissídio de
natureza econômica (fls. 6/22 da petição inicial), culminando com o seguinte
requerimento: “Diante de tudo o que foi exposto o suscitante requer a instauração, o
processamento e o julgamento do presente dissídio na parte referente ao aspecto
econômico da controvérsia, com a rejeição de todas as reivindicações apresentadas
pelo sindicato profissional em sua pauta, quer as reivindicações novas, quer aquelas

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referentes a clausulas que já constam da CCT celebrada para o período 2022/2023, que
teve todas as suas cláusulas mantidas de forma integral pela transação celebrada no
processo DCG 0001652-59.2023.5.06.0000 indeferindo integralmente todas as
reivindicações que foram deduzidas, e, exclusivamente no tocante às cláusulas
preexistentes de conteúdo econômico, determinar a sua atualização através de
percentual inferior aos índices oficiais de medição da inflação, em especial o INPC do
IBGE, não concedendo valores e reajustes superiores porque são indevidos pela meio
do dissidio coletivo e porque sem a comprovação de fatos objetivos que os sustentem,
mantidas todas as clausulas preexistentes constantes da norma coletiva anterior,
deferindo, por fim, de forma integral, a cláusula de paz decorrente do dever de
influência requerida no item 8 retro.” Requer, ainda, com base no art. 612 da CLT, “que
essa E. Corte determine que o sindicato profissional exiba em juízo no prazo máximo
de 48 horas, a ata da assembleia que o aprovou o rol de reivindicações e autorizou o
sindicato a promover negociação coletiva, assim como a ata da assembleia em que a
categoria aprovou a decretação da atual greve, juntamente com as respectivas listas de
presença dos empregados que compareceram as referidas assembleias.” Ao final,
reitera “a concessão do provimento cautelar antecedente e instrumental ora requerido
e que seja declarada a sua abusividade impondo ao sindicato suscitado as sanções
decorrentes de sua conduta irregular. Quanto aos pedidos referentes ao dissidio de
natureza econômica requer que sejam acolhidas todas as razões e requerimentos
contidos na presente representação, observando, no uso de seu poder normativo, a
nova redação do § 2º do art. 114 da Constituição Federal, acolhendo os argumentos e
requerimentos expendidos na presente petição e rejeitando todos os itens constantes
da pauta de reivindicações apresentada pelo sindicato profissional. De igual modo, o
sindicato patronal suscitante requer que esse E. TRT defira o pedido de tutela
instrumental antecedente referido nos itens 5.2 e 9 da presente representação e o
pedido de exibição de documentos constante do item 11 retro. Deve, por fim, o
presente dissídio ser julgado pela procedência integral, com o deferimento total de
todos os seus pedidos, sendo as reivindicações do suscitado totalmente rejeitadas,
condenando-se o sindicato profissional nas custas e demais despesas processuais,
além de honorários advocatícios em favor dos advogados do suscitante calculados com
base no valor atribuído à causa e pagos com a devida atualização desse valor.”

Dá à causa o valor de R$500.000,00.

O sindicato suscitante apresentou prova documental.

É o relatório.

DECIDO

Importa ressaltar, inicialmente que, de acordo com a


Constituição Federal de 1988, a greve é um direito social, de ordem fundamental,

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inserido no Título II da Lei Maior, estabelecendo que compete "aos trabalhadores


decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devem por meio
dele defender".

Os artigos 1º e 2º da Lei nº 7.783/89, dispõem:

Art. 1º É assegurado o direito de greve,


competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-
lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

Parágrafo único. O direito de greve será exercido


na forma estabelecida nesta Lei.

Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se


legítimo exercício do direito de greve a suspensão coletiva, temporária e
pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador.

Na lição de Alice Monteiro de Barros (Curso de Direito do


Trabalho. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 1258.), a greve "não é simplesmente uma
paralisação do trabalho, mas uma cessação temporária do trabalho, com o objetivo de
impor a vontade dos trabalhadores ao empregador sobre determinados pontos. Ela
implica a crença de continuar o contrato, limitando-se a suspendê-lo. [...] A greve é
também um movimento de massa; é um fenômeno coletivo, residindo aí seu poder de
coerção. Infere-se desse fato que deverá ser um movimento organizado, determinado
e comum ao grupo social envolvido."

Carlos Henrique Bezerra Leite (Curso de Direito do Trabalho. 6a


edição. Ed. Saraiva. 2015, p.711), cita lição de Amauri Mascaro do Nascimento no
sentido de que, "a negociação coletiva não teria por si expressão sem o correlato
direito de greve, já que bastaria a recusa empresarial em negociar e o pleito terminaria
sem outras consequências. Desse modo, a greve está diretamente relacionada com a
negociação coletiva e nesse sentido é que ambas as figuras integram o campo maior
dos direitos coletivos dos trabalhadores, definidos pela Constituição, dentre outros, o
expresso reconhecimento das convenções coletivas de trabalho (CF, art. 7º, XXVI) e a
obrigatoriedade de participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho
(CF, art. 8º, VI)".

É certo que a hipótese dos autos trata de greve em atividade


essencial, consoante art. 10, V da Lei n. 7.783/89, e a esse respeito dispõe o artigo 11 da
mesma Lei que: "Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores
e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a
prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da
comunidade. Parágrafo único. São necessidades inadiáveis da comunidade aquelas

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que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a


segurança da população.”

De seu turno, dispõe o art. 12:

“No caso de inobservância do disposto no artigo


anterior, o Poder Público assegurará a prestação dos serviços
indispensáveis.”

Pois bem.

Da análise da prova documental acostada aos autos se extrai


que, de fato, o sindicato dos rodoviários encaminhou às empresas de transporte e ao
sindicato patronal o Ofício n. 563/2024, com assunto “Comunicado de Greve”, no qual,
referindo-se à frustração das tentativas de negociação, bem como à assembleia geral
dos trabalhadores, comunica a decisão de paralisar suas atividades por tempo
indeterminado, a partir das 00:00 do dia 12.08.2024, para “o atendimento da pauta de
reivindicação aprovada e enviada no dia 14.06.2024 para a Urbana (...)” – ID 250a969.

Registra-se, também, que no citado Ofício o sindicato


profissional não faz qualquer alusão ao cumprimento do disposto no art. 11 da Lei de
Greve.

Deve-se garantia o exercício de direito sem que isso signifique


prejuízo excessivo à população usuária do serviço de transporte. Como já dito, o direito
de greve é dos trabalhadores, cabendo a eles “decidir sobre a oportunidade de exercê-
lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender” (art. 9º. Da CF). Outrossim,
não se pode olvidar, como referido, que denominada Lei de Greve afirma que:

“Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os


sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de
comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da
comunidade.

Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da


comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente
a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população.”

Em outros termos, se o serviço de transporte de passageiros é


essencial ele deve atender “necessidades inadiáveis” e assim compatibilizar interesses
da população usuária e dos trabalhadores em greve. Nem todo passageiro do sistema
de transporte tem a necessidade de se locomover e isso fica muito evidente quando
verificamos que a frota de ônibus atende às mais diversas atividades e a lei reduziu a

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essa situação àqueles que vão laborar em serviços “coloquem em perigo iminente a
sobrevivência, a saúde ou a segurança da população”. Exemplificando: um cuidador de
um idoso que tenha um filho ou parente que possa dele cuidar não está no mesmo
patamar que um profissional de saúde que vá cuidar deste idoso, ou um porteiro que
trabalhe num prédio não pode ser equiparado a um policial militar ou policial civil.
Estamos diante de riscos distintos e a falta dos primeiros, cuidadores de idosos e
porteiros, podem redundar em incômodos particulares, no entanto não podem ser
comparados aos segundos, profissionais da saúde ou da segurança. Um estudante,
que neste exato instante está de férias e que deseje ir à praia, não pode assemelhado a
um profissional de defesa civil que vá evacuar um prédio.

Não obstante, com olhos nas necessidades públicas e enquanto


perdurar o movimento, entendo necessário o retorno de 60% da frota nos horários
denominados de pico e 40% nos demais horários.

Nesse contexto, considerando-se a essencialidade da atividade


prestada pelas empresas representadas pelo sindicato suscitante, não se duvida que a
paralisação ocorrida no dia de hoje implica efetivo prejuízo direto à prestação dos
serviços indispensáveis, restando, portanto, evidenciada a probabilidade do direito e o
perigo de dano a autorizar a concessão parcial da tutela de urgência requerida.

Ante todo o exposto, em análise primeira, defiro parcialmente o


pedido liminar para:

a) determinar que o sindicato profissional volte a promover a


prestação dos serviços de transporte público coletivo de passageiros, de forma tal que
permita o atendimento das necessidades urgentes e inadiáveis da comunidade, na
proporção hábil a preservar o interesse público e o direito ao transporte, o que se
estima em 60% (sessenta por cento) nos horários de pico - das 06h às 09h e das 17h às
20h, e em 40% (quarenta por cento) no restante do dia, podendo esta decisão ser
alterada a depender das informações aferidas no decorrer do dia.

b) determinar, ainda, que o sindicato profissional se abstenha de


promover atos que impliquem no bloqueio dos acessos às sedes e garagens dessas
empresas, que se abstenha de invadir esses locais e deles se apropriar, ainda que
temporariamente, e a praticar todo e qualquer ato que implique, direta ou
indiretamente, em violação de direitos;

c) determinar, também, que o sindicato profissional abstenha de


constituir piquetes junto à sede das empresas e na via pública para impedir os
empregados que queiram trabalhar de fazê-lo livremente;

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d) autorizar, se necessário, a utilização da Força Policial no


cumprimento da ordem judicial;

e) impor multa diária no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais)


em caso de descumprimento da parte suscitada, que será revertida em favor do Fundo
de Amparo ao Trabalhador (FAT);

f) encaminhe-se à Presidência para o fim do disposto nos arts.


181 e 184 do Regimento Interno deste Tribunal.

Notifique-se da presente decisão, por Oficial de Justiça, o


SINDICATO DOS TRABALHADORES EM TRANSPORTES RODOVIÁRIOS URBANOS DE
PASSAGEIROS DO RECIFE E REGIÕES METROPOLITANAS DA MATA SUL E NORTE DE
PERNAMBUCO (Suscitado), inclusive no tocante à designação da Audiência de
Conciliação e Instrução (apresentação de defesa, produção de provas e encerramento),
designada para o dia 13 de agosto e 2024, às 14:00h. Coloco-me, ainda, à disposição
das partes a dialogar a qualquer hora do dia de hoje, devendo para tanto contatarem
esta Corregedoria Regional do TRT da 6ª Região.

Intime-se o Sindicato Suscitante, por meio do Diário Eletrônico


da Justiça do Trabalho.

Dê-se conhecimento ao Ministério Público do Trabalho da Sexta


Região, para ciência do dissídio e comparecimento à referida audiência.

Notifique-se também desta Decisão, o GRANDE RECIFE


CONSÓRCIO DE TRANSPORTE.

Dê-se conhecimento, ainda, quando sorteado, ao Exmo.


Desembargador Relator para acompanhamento do feito, nos termos do art. 181, §1º do
Regimento Interno deste Regional, como também ao Exmo. Desembargador Vice-
Presidente desta Corte.

Cientifique-se o Secretário de Defesa Social de Pernambuco e o


Comandante da Polícia Militar do Estado de Pernambuco.

Cumpra-se, com urgência.

RECIFE/PE, 12 de agosto de 2024.

FABIO ANDRE DE FARIAS


Desembargador do Trabalho da 6ª Região

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Certificado por TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 6A REGIAO:02566224000190
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Número do processo: 0001722-42.2024.5.06.0000
Número do documento: 24081213120950700000038081231

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