Neuropsicólogia Do Autismo - Parte Escrita
Neuropsicólogia Do Autismo - Parte Escrita
Neuropsicólogia Do Autismo - Parte Escrita
Neuropsicologia do autismo
ITURAMA-MG
2023
Neuropsicologia
Neuropsicologia do autismo
ITURAMA-MG
2023
Neuropsicologia do autismo
A Neuropsicologia é uma especialidade da Psicologia, responsável por estudar e compreender
a forma como o cérebro afeta as funções cognitivas. Dentre essas funções, podemos citar a
memória, atenção, capacidade de julgamento, o raciocínio, as emoções e o comportamento. A
neuropsicologia é uma disciplina que combina a neurologia e a psicologia para entender como
o cérebro afeta o comportamento. No contexto do autismo, a abordagem neuropsicológica
ajuda a identificar as bases neurobiológicas das características do TEA. O transtorno do
espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental caracterizada por desafios na
comunicação, interação social, interesses restritos e comportamentos repetitivos. É
diagnosticado com base em critérios específicos e afeta uma proporção significativa da
população, segundo a OMS(organização Mundial de saúde) afeta cerca de 70 Milhões de
pessoas do mundo inteiro. Sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser
percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3
anos de idade. O autismo influencia o desenvolvimento cognitivo e social, levando a atrasos
ou atipicidades em marcos como a linguagem, interação social e brincadeiras. A identificação
precoce e a intervenção são cruciais para promover um desenvolvimento saudável. A
prevalência é maior no sexo masculino. A identificação de atrasos no desenvolvimento, o
diagnóstico oportuno de TEA e encaminhamento para intervenções comportamentais e apoio
educacional na idade mais precoce possível, pode levar a melhores resultados a longo prazo,
considerando a neuroplasticidade cerebral. Os critérios de diagnóstico segundo o dsm-5 é:
A: déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos,
conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia.
B: padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesse ou atividades, conforme
manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia.
C: os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas
podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as
capacidades limitadas ou podem ser mascaradas por estratégias apreendidas mais tarde na
vida)
D: os sintomas causam prejuízo clinicamente significativos no funcionamento social,
profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente.
E os níveis de gravidade do TEA são três (3):
Nível 1 – Autismo Leve: Indivíduos neste nível têm dificuldades sociais e de comunicação,
mas podem ser capazes de funcionar relativamente bem no dia a dia. Podem ter interesses
intensos em áreas específicas.
Nível 2 – Autismo Moderado: neste nível apresentam desafios mais significativos na
comunicação e na interação social. Podem precisar de mais apoio e têm dificuldades em lidar
com mudanças na rotina.
Nível 3 – Autismo Severo: Este é o nível mais grave do espectro. O indivíduo tem a
comunicação muito limitada, interação social muito comprometida e podem exibir
comportamentos repetitivos e restritos. Necessita de ajuda intensiva e Cuidados ao longo de
sua vida.
As estruturas cerebrais relacionadas ao autismo são:
Cerebelo: responsável pela motricidade e aprendizagem motora.
Amígdala: relacionada às emoções.
Hipocampo: responsável por formar novas memórias, aprendizagem e emoções
Corpo caloso: auxilia na coordenação e harmonia entre os comandos oriundos do dois
hemisférios.
Cíngulo: auxilia na determinação dos conteúdos da memória (evocação) e da aprendizagem.
Estudos de neuroimagem, como ressonância magnética funcional (FMRI) e
eletroencefalografia (EEG), revelaram diferenças na conectividade e atividade cerebral em
indivíduos autistas. Áreas como o córtex pré-frontal e o sistema de espelho estão
frequentemente associadas ao autismo.
A grande diferença entre um neuropsicologo e um psicólogo é que o neuropsicólogo atua
diretamente em questões relacionadas ao comportamento cerebral e seus impactos no
paciente. Já o psicólogo trata de questões gerais, o que inclui ansiedade, estresse, depressão,
traumas, entre outras possibilidades. No autismo, o neuropsicólogo é aquele que compõe o
fechamento do diagnóstico através de testes específicos e o psicólogo é aquele que vai
trabalhar o desenvolvimento de habilidades para aquele indivíduo com o transtorno do
espectro do autismo. A pessoa deve procurar um neuropsicólogo quando há algum trauma
cerebral; algum problema que envolva distúrbio de desenvolvimento ou aprendizagem;
quando existem dificuldades na execução de rotinas no dia a dia; perda frequente de memória,
atenção ou comprometimento de quaisquer outras funções cognitivas.
Uma avaliação neuropsicológica em indivíduos autistas envolve a coleta de informações sobre
o desenvolvimento, uso de testes adaptados, observação do comportamento, escalas de
avaliação específicas e flexibilidade no processo. Ela é realizada por uma equipe
interdisciplinar para compreender as necessidades e habilidades do paciente autista e
desenvolver um plano de intervenção adequado.
Aspectos cognitivos nos autista: Pessoas com autismo frequentemente apresentam padrões
únicos de processamento de informações, como foco em detalhes e dificuldades na teoria da
mente, que é a capacidade de compreender os pensamentos e sentimentos de outras pessoas.
A função executiva é um conjunto de habilidades cognitivas que inclui o planejamento,
organização e autorregulação. Indivíduos autistas podem enfrentar desafios nessa área, o que
pode afetar a execução de tarefas diárias. As dificuldades executivas mais frequentemente
encontradas no TEA são as de planejamento, organização, flexibilidade mental, controle
inibitório e fluência verbal e visual.
Dificuldades na comunicação são comuns no autismo, variando desde atrasos na linguagem
até a ausência dela. Terapias de comunicação alternativa e aumentativa podem ser usadas para
apoiar a comunicação em pessoas não verbais.
A percepção sensorial atípica é uma característica comum em pessoas com autismo. Muitos
experimentam hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais, como luz, som,
toque e textura. Compreender essas diferenças sensoriais é crucial para adaptar ambientes e
intervenções para atender às necessidades individuais de cada pessoa com autismo.
Na neuropsicologia estudamos a teoria da mente, a mente como um todo e não como algo
imaterial, ou inconsciente, Uma definição clara para teoria da mente é a capacidade de inferir
e compreender estados mentais dos outros. A compreensão da teoria da mente em um
contexto neuropsicológico é crucial para o diagnóstico, tratamento e intervenção em
distúrbios cognitivos e neurológicos que afetam a percepção e compreensão das emoções e
interações sociais.
A teoria da coerência central se refere à capacidade de integrar fontes de informações para
estabelecer significado em um contexto com coerência, percebendo o todo da informação
tanto verbal como visual. No TEA, com frequência são evidenciadas alterações na coerência
central ou no processamento gestáltico das informações, privilegiando-se partes das
informações dadas. Ou seja, pessoas com esse diagnóstico têm preferência pela detecção de
partes dos objetos ou cenas, em detrimento do processamento global.
Comorbidades Neuropsiquiátricas: Muitas vezes, o autismo está associado a outras condições
neuropsiquiátricas, como TDAH e epilepsia.
O autismo pode levar a desafios emocionais e sociais, como dificuldades em compreender e
expressar emoções. Estratégias de apoio psicossocial, incluindo grupos de habilidades sociais,
podem ajudar a melhorar a qualidade de vida. As emoções são percebidas por meio de
mudanças faciais sutis. Embora ainda haja inconsistência entre os estudos quanto a qual
emoção está mais prejudicada, têm sido relatadas dificuldades na identificação das emoções
primárias de medo, raiva, nojo e surpresa.
Uma variedade de abordagens terapêuticas baseadas em evidências está disponível para ajudar
pessoas com autismo a desenvolver habilidades sociais, comunicativas e cognitivas. Terapias
comportamentais, como ABA, e terapias ocupacionais são exemplos.
ABA é um termo advindo do campo científico do Behaviorismo, que observa, analisa e
explica a associação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem. Uma vez
que um comportamento é analisado, um plano de ação pode ser implementado para modificar
aquele comportamento e instalar um novo aprendizado. É sempre trabalhado através de
reforço e não punição. A terapia ABA no autismo foca em promover o ensino de novas
habilidades e ajudar a lidar com comportamentos desafiadores, o que podem ser tanto
comportamentos de crises quanto aqueles que colocam em risco a integridade física, como
agressão e autoagressão para promover uma melhor qualidade de vida para a pessoa.
O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito) define a terapia
ocupacional como uma “profissão de nível superior voltada ao estudo, à prevenção e ao
tratamento de indivíduos com alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psicomotoras,
decorrentes ou não de distúrbios genéticos, traumáticos e/ou de doenças adquiridas”.
O terapeuta ocupacional é o profissional que busca ajudar o paciente a realizar atividades
cotidianas (ocupações) quando existem tais problemas. Essas atividades incluem tarefas de
autocuidado (higiene, alimentação e vestuário); produtividade (trabalhar ou estudar);
momentos de lazer (esportes, dança e pintura, por exemplo) e atividades sociais em geral.
A pesquisa em neuropsicologia do autismo continua a evoluir, com foco em identificar
marcadores biológicos, desenvolver intervenções mais eficazes e compreender a diversidade
do espectro autista. Novas abordagens terapêuticas e terapias genéticas estão em andamento.
Estudos mostram que processos cognitivos como atenção, memória, linguagem e funções
executivas são necessários para a cognição social, apesar de serem construtos diferentes e
usarem sistemas de pro- cessamento semi-independente. Tanto os prejuízos na cognição
social como aqueles que afetam os processos cognitivos têm sido considerados elementos
centrais na compreensão dos sintomas e da funcionalidade das pessoas com TEA.
A neuropsicologia tem importante papel na abordagem clínica, ao permitir um refinamento na
avaliação das alterações na linguagem, na função executiva e na cognição social, que pode
auxiliar o diagnóstico precoce e dar subsídios neurobiológicos e comportamentais para o
planejamento das intervenções mais efetivas.
A neuropsicologia do autismo é um campo interdisciplinar em constante evolução,
proporcionando insights valiosos sobre as bases neurológicas do TEA. À medida que a
pesquisa continua a avançar, esperamos que esse conhecimento leve a melhores intervenções,
tratamentos e apoio para as pessoas com autismo, contribuindo para melhorar sua qualidade
de vida e promover uma compreensão mais abrangente desta condição.
Referências
Livro neuropsicologia teoria e pratica, cap. 13.
https://www.autism.org.uk/what-we-do/education-professionals
https://www.autismspeaks.org/
“Neuropsychological Assessments of Dementia in Down Syndrome and Intellectual
Disabilities” – Edited by Michael L. Lidsky and Peter B. Moss.
“The Neuropsychology of Autism” – Edited by Dennis R. Turkstra.Journal of Autism and
Developmental Disorders.Rotta, N. T., & Pedroso, F. S. (2013).
Neurociência e autismo: estudo clínico das relações entre desordens do espectro do autismo e
síndromes epilépticas. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 71(12), 955-958.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA. Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.