Internacional Saude 5

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AULA 5

INTERNACIONALIZAÇÃO
DA SAÚDE

Prof. José Benedito Caparros Junior


TEMA 1 – ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS INTERNACIONAIS

Nesta etapa, nos dedicaremos ao estudo das organizações não


governamentais internacionais (OINGs), que são atores cada vez mais
importantes na sociedade internacional (SI). Além de entender o conceito de
OINGs, também estudaremos algumas das principais OINGs que atuam direta ou
indiretamente no campo da saúde. Para alcançarmos nosso objetivo, nossa etapa
está estruturada da seguinte forma:

• Tema 1 – Organizações internacionais não governamentais (OINGs)


• Tema 2 – Greenpeace
• Tema 3 – Fundação Bill & Melinda Gates (FBMG)
• Tema 4 – Médicos sem Fronteiras (MSF)
• Tema 5 – O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente
Vermelho (O Movimento)

Neste primeiro tópico, estudaremos o conceito de OING, suas principais


características, seu objetivo fundamental, a evolução (em números) das
OINGs, a captação de recursos e os setores e forma de atuação.

1.1 Organizações Não Governamentais Internacionais

Ao assistir aos telejornais ou navegar pela internet, você provavelmente


deve ter escutado a sigla ONG, não é mesmo? Essa é a sigla para organizações
não governamentais, as quais podem atuar domesticamente ou, então,
transnacionalmente (Seitenfus, 2012). O foco aqui é o segundo caso, que são
aquelas que possuem atuação em mais de um país, ou seja, as Organizações
Internacionais Não Governamentais (OINGs).
Foi em uma resolução da ONU que o termo ONG foi utilizado pela primeira
vez 1, em 1950, sendo conceituada como “associação ou corrente de
solidariedade de origem privada, com caráter internacional, sem fins lucrativos,
que tem como missão a resolução de algum problema da sociedade, reivindicar
direitos ou defender determinada causa na SI” (Rocha et al., 2021, p. 1030).
As principais características de uma OING constam na própria definição
acima mencionada, quais sejam: i) origem privada; ii) não possuem fins lucrativos

1 Embora o termo tenha surgido somente em meados do século passado, essas associações ou
correntes de solidariedade são observadas desde o século XVIII, quando organizações religiosas
transnacionais lutavam contra a escravatura (Rocha et al., 2021)
2
e iii) caráter internacional. Além disso, o objetivo fundamental das OINGs
também se encontra em sua definição: resolver problemas sociais e reivindicar e
defender determinadas causas sociais, em especial no que se referem as
demandas não atendidas satisfatoriamente pelos Estados (Marmentini; Blume,
2017), promovendo mudanças na sociedade e indivíduos (Drucker, 2001). As
atividades realizadas pelas OINGs são, geralmente, complementares às do poder
público (Marmentini; Blume, 2017).
Via de regra, essas demandas fazem parte de setores vulneráveis da
sociedade (Porfírio, 2020), tais como:

• Saúde
• Meio ambiente
• Direitos humanos
• Direito dos animais
• Gênero
• Racismo
• Questões urbanas
• Imigrantes e muitos outros temas

De modo geral, essas Organizações são formadas pela sociedade civil, ou


seja, por qualquer grupo de pessoas que queiram realizar reivindicações sociais.
Quanto aos seus recursos, a captação ocorre, principalmente, por meio de
doações oriundas, também, da sociedade civil. A questão legal é bem importante
no contexto desta etapa, visto que as OINGs estão sempre vinculadas às normas
jurídicas dos Estados em que atuam, embora não se envolvam com questões
políticas partidárias ou governamentais. Por exemplo: embora o Greenpeace seja
de origem estrangeira e seja imparcial e independente, suas atividades no Brasil
estão sujeitas a nossa legislação.
Na qualidade de atores internacionais, as OINGs exercem influência direta
na SI, especialmente sobre os Estados, as OINGs, as firmas transnacionais e
outros atores (Drucker, 2001). Ao defenderem suas causas, essas entidades se
veem obrigadas a ceder à pressão das reivindicações das OINGs (Drucker, 2001).
Isto é, as OINGs são grandes formadoras da opinião pública.

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TEMA 2 – GREENPEACE

Neste segundo tópico, estudaremos o Greenpeace, com destaque para os


seguintes assuntos: a causa que defendem, criação, sede, objetivos
fundamentais, atuação, valores fundamentais e suas fontes de recursos.

1.1 Greenpeace

O Greenpeace é uma OING cuja causa é a defesa do meio ambiente, sendo


considerada por muitos como a Organização mais antiga e conhecida
mundialmente (Rocha et al., 2021). Sua criação ocorreu em 1971, em
Vancouver, no Canadá. Inicialmente, a Organização era composta por poucos
jovens ativistas canadenses e americanos que realizavam uma “campanha
pública contra vários ensaios nucleares realizados pelos EUA e pela França no
Oceano Pacífico, na ilha de Amchitka e no atol de Mururoa, no Pacífico Sul”
(Rocha et al., 2021, p. 729). Conforme consta nos próprios documentos da OING:

uma equipe de 12 pessoas, entre jornalistas, hippies e ecologistas, partiu


de Vancouver, Canadá, a bordo de um velho barco de pesca rumo ao
Ártico. Esses ativistas acreditaram que a ação de indivíduos comuns
pode fazer a diferença. Sua missão era testemunhar e tentar impedir os
testes nucleares realizados pelos EUA nas ilhas Amchitka, no Alaska.
Para levar adiante tal empreitada, o grupo tentou arrecadar fundos com
a venda de broches. Verde (Green) e Paz (Peace) eram as palavras de
ordem, mas não cabiam separadas no broche. Nascia assim o nome
Greenpeace. Interceptados antes de chegar a seu destino, os ativistas
não impediram os Estados Unidos de detonarem a bomba. Mas sua
obstinação e coragem despertou a atenção do planeta. Após forte
pressão popular, os testes nucleares foram suspensos em Amchitka,
então declarada santuário de pássaros. O protesto pacifista teve ainda
consequências muito além da esperada. A ideia de que alguns
indivíduos podiam fazer a diferença por um planeta mais verde e pacífico
se tornou realidade e arrebatou uma legião de seguidores. Foi também
o embrião do que é hoje a maior organização ambientalista do mundo.
(Greenpeace, 2021)

O Greenpeace está presente em 43 países atualmente, em todos os


continentes (Fortes; Ribeiro, 2014). No Brasil, são mais de 200 pessoas
trabalhando nos escritórios de São Paulo, Manaus e Brasília e mais de 1500
voluntários espalhados por todo território nacional (Greenpeace, 2022). Já sua
sede atual está localizada na cidade de Amsterdã, na Holanda.
A OING trabalha em função da defesa do meio ambiente nos seguintes
temas: “florestas, clima, energia, oceanos, agricultura sustentável (transgênicos),
tóxicos e desarmamento/promoção da paz” (Fortes; Ribeiro, 2014, posição 902 de
2621), sendo seus objetivos fundamentais os seguintes (Greenpeace, 2022):

4
• Proteger os ecossistemas e a biodiversidade em todas as suas formas
• Independência política e financeira
• Pressionar governos e empresas em defesa do meio ambiente
• Promover a paz, o desarmamento global e a não violência
• Enfrentar as mudanças climáticas
• Promover soluções sustentáveis junto à sociedade

A atuação do Greenpeace é de extrema importância para o planeta, o que


ocorre principalmente por meio do ciberativismo, lançando mão do “uso da
comunicação midiática como instrumento principal de ação” (Fortes; Ribeiro,
2014, posição 901 de 2621). Isso significa que os confrontos travados são
pacíficos e criativos, cuja finalidade é expor problemas ambientais e desenvolver
soluções para um futuro verde e pacífico (Greenpeace, 2022).
Em outros termos, a principal arma da OING é a mídia e o desdobramento
é a formação da opinião pública. Cabe, ainda, ressaltar que seu compromisso é
apenas com a sociedade civil, não se curvando aos interesses unilaterais do
mercado ou da política.
Neste sentido, a organização é orientada pelos seguintes valores
fundamentais (Greenpeace, 2022, online):

• Responsabilidade: agem com base na consciência, o que significa que se


responsabilizam pelas suas ações.
• Não violência: a organização é comprometida com a paz e, por essa razão,
todas as suas atividades partem do princípio da não violência.
• Independência: rejeitam recursos financeiros diretos de governos, firmas
ou partidos políticos.
• Não há amigos ou inimigos permanentes: orientam governos e empresas
que estejam dispostos a mudar para melhor, ou seja, que se comprometam
com a proteção do meio ambiente. No entanto, se comprometem a
confrontá-los quando não houver consistência de suas ações. O que
importa não são palavras, mas ações.

No que se refere especificamente a suas fontes de recurso, o Greenpeace


é reconhecido pela sua independência financeira, não aceitando doações e ajuda
de governos, empresas ou partidos (Fortes; Ribeiro, 2014). Conforme explica a
própria Organização (2022), a fonte do financiamento vem de basicamente
pessoas comuns (pessoas físicas) ou fundações. Portanto, essa é a chave de sua

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independência. E existe uma lógica nisso, afinal, o Greenpeace se compromete
justamente em pressionar empresas e a política para que o meio ambiente seja
preservado.

Saiba mais
Eis que um grupo de jovens hippies entram em um barco para impedir
testes nucleares no Alasca. Naturalmente, o plano desses jovens não deu certo,
no entanto, eles conseguiram chamar a atenção do planeta para a proteção do
meio ambiente.
Gosta deste conteúdo e quer saber mais sobre ele? Então, assista ao
documentário A História do Greenpeace.

TEMA 3 – FUNDAÇÃO BILL & MELINDA GATES (FBMG)

Neste terceiro tema, iremos estudar a Fundação Bill & Melinda Gates
(FBMG), com destaque para os seguintes assuntos: sua criação, o lema adotado
pela OING, seu objetivo fundamental, os seis programas que a compõe e seus
principais financiadores.

3.1 Fundação Bill & Melinda Gates (FBMG)

Você já ouviu falar de William Henry Gates III? Ele é popularmente


conhecido como Bill Gates: o cofundador e ex-presidente da Microsoft 2. Em 2021,
Bill Gates foi considerado o quinto homem mais rico do mundo, possuindo uma
fortuna de aproximadamente US$ 129 bilhões (Castro, 2021).
Apesar de seu império na área da tecnologia, na década de 1990, Gates
começou a se distanciar gradativamente de sua empresa para se dedicar ao
trabalho de filantropia ao lado de sua esposa na ocasião: Melinda French Gates
(Koch et al., 2019).
Foi em 2000 que ambos, após já terem realizado uma série de ações
filantrópicas, criaram a Fundação Bill & Melinda Gates (FBMG), conhecida
também como Fundação Gates (Koch et al., 2019). Mas foi somente em 2008 que
Bill Gates renunciou seu cargo na Microsoft e passou a se dedicar exclusivamente
à Fundação. A partir disso, o cofundador da Microsoft se tornou uma das
personalidades mais proeminentes da filantropia internacional (Koch et al., 2019).

2 Empresa estadunidense do setor de tecnologia fundada em 1975.


6
A Fundação é sediada na cidade de Seattle, em Washington, nos Estados
Unidos, possuindo cerca de US$ 50 bilhões em ativos, o que lhe rendeu o título
de maior empresa de filantropia do mundo na atualidade. O lema da Função é
"todas as vidas têm o mesmo valor" e seu objetivo fundamental é ajudar as
pessoas em todo o mundo a alcançar seu potencial humano total (Koch et al.,
2019a), o que ocorre por meio de financiamento de projetos inovadores para o
desenvolvimento da ciência, tecnologia, saúde, agricultura e educação, em
benefício das populações mais negligenciadas (Koch et al., 2019a).
A OING

atua tanto através de chamadas próprias, do financiamento direto a


projetos, ou em parceria com várias instituições ao redor do globo. No
Brasil, é parceira do CNPq e do Ministério da Saúde em diversas ações
de interesse mútuo ao longo dos anos. (CNPq, 2021)

Ao receberem os projetos, a FBMG realiza uma categorização e,


posteriormente, os aloca em algum dos seus seis programas (BMGF, 2022),
quais sejam:

• Programa Igualdade de Gênero: trata-se dos projetos que se proponham a


trazer soluções inovadoras para o desenvolvimento da igualdade de
gênero, que investem no empoderamento econômico, na liderança e na
remoção de barreiras para mulheres e meninas prosperarem.
• Programa Desenvolvimento Global: trata-se dos projetos que visam o
melhoramento da entrega de produtos e serviços na área da saúde, em
especial para as comunidades mais necessitadas, expandindo o acesso à
cobertura de saúde globalmente.
• Programa Saúde Global: trata-se dos projetos que proponham o
desenvolvimento de ferramentas e estratégias cujo objetivo é reduzir a
carga de doenças infecciosas e as principais causas de mortalidade infantil
nos países em desenvolvimento.
• Política Global e Advocacia: trata-se dos projetos que são voltados para o
fortalecimento de relações estratégicas e promoção de políticas que
ajudem a avançar o trabalho da Fundação.
• Programa dos EUA: trata-se dos projetos voltados para a promoção do
estudo e do desenvolvimento pessoal da população estadunidense,
independentemente de raça, gênero, etnia ou renda familiar.

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Os principais financiadores da Fundação são bilionários, incluindo os
próprios Gates (Koch et al., 2019a); no entanto, o maior doador é Warren Buffett,
que, entre 2006 e 2021, doou cerca de U$D32.7 bilhões para a OING (BMGF,
2021). De acordo com uma entrevista realizada pela revista InfoMoney (2022),
Buffett almeja doar quase a totalidade de sua fortuna à Fundação, a qual está
estimada em US$ 80 bilhões.
Para que tenhamos uma noção do volume de dinheiro que é doado pela
FBMG, a OING é a segunda maior doadora de recursos financeiro à Organização
Mundial da Saúde (OMS), estando atrás somente dos Estados Unidos da América
(BBC, 2021).
Desde a sua criação, a FBMG totalizou US$ 54,8 bilhões em doação,
alcançando 135 países do mundo. Atualmente, o empreendimento dos Gates
conta com 1.600 funcionários aproximadamente e com escritórios em todos os
continentes do mundo (Koch et al., 2019).

TEMA 4 – MÉDICOS SEM FRONTEIRAS (MSF)

Neste quarto tema, iremos estudar a Médicos sem Fronteiras (MsF), com
destaque para os seguintes assuntos: seu objetivo, fundação, sede, contextos
de atuação, desafios a serem combatidos e princípios da organização.

4.1Médicos sem Fronteiras (MSF)

Médicos sem Fronteiras 3(MsF) é uma OING cuja causa é humanitária, cujo
objetivo é levar cuidados de saúde a populações severamente afetadas por
crises humanitárias, tais como: conflitos armados, epidemias, desastres naturais,
insegurança alimentar e exclusão de acesso à saúde, além de ser uma formadora
da opinião pública por meio de denúncias (MsF, 2021). Conforme detalha a
Organização:

Médicos Sem Fronteiras se caracteriza por tornar público aquilo que


observa em campo. Em circunstâncias extremas, MSF entende que a
melhor maneira de proteger a população de desastres humanitários
como genocídios, fome, limpeza étnica, é denunciar suas motivações
políticas e econômicas, mesmo que essa posição comprometa a
presença da organização no país. Em 1985, por exemplo, Médicos Sem
Fronteiras foi expulso da Etiópia após ter denunciado o desvio da ajuda
humanitária e a migração forçada de populações. Essas declarações
públicas, no entanto, são um ato de proteção às populações em perigo

3 Médecins sans Fronteires (MsF).


8
e que rompem com os laços de cumplicidade com os horrores
testemunhados pelos profissionais da organização. (MSF, 2021)

A OING foi fundada na França, em 1971, por jovens médicos e jornalistas,


que atuaram como voluntários na Guerra Civil da Nigéria, no fim dos anos 1960.
De acordo com a própria OING:

Enquanto socorriam vítimas em meio a uma guerra civil brutal, os


profissionais perceberam as limitações da ajuda humanitária
internacional: a dificuldade de acesso ao local e os entraves burocráticos
e políticos que faziam com que muitos se calassem, ainda que diante de
situações gritantes. MSF surge, então, como uma organização
humanitária que associa ajuda médica e sensibilização do público sobre
o sofrimento de seus pacientes, dando visibilidade a realidades que não
podem permanecer negligenciadas. (MsF, 2021)

O MsF é composto por profissionais originários de diferentes Estados, mas


a maioria possui experiência em projetos humanitários internacionais e sua sede
fica localizada na cidade de Genebra, na Suíça. Além disso, a Organização é
composta por 23 escritórios nacionais e 12 filiais espalhadas pelo mundo.
O MsF luta para que as regras da ética médica sejam respeitadas,
especialmente “o dever de oferecer auxílio sem prejudicar qualquer indivíduo ou
grupo e a imparcialidade, garantindo o direito à confidencialidade” (MSF, 2021).
Para o MsF (2021), “ninguém pode ser punido por exercer uma atividade médica
de acordo com o código de ética profissional, não importando as circunstâncias,
nem quem são os beneficiários”.
Mas quais são os desafios combatidos pelo MsF e em quais contextos a
organização se faz presente? A seguir, listamos, primeiramente, os contextos em
que o MsF se manifesta e, posteriormente, os principais desafios combatidos pela
OING:

• Contextos de atuação: emergência climática; desastres naturais e


socioambientais; epidemias e pandemias; refugiados, deslocados internos
e pessoas em movimento; exclusão do acesso a cuidados de saúde;
conflitos armados.
• Desafios a serem combatidos: coronavírus; saúde materna; hepatite C;
febre amarela; Chikungunya; desnutrição; tuberculose; doença do sono;
sarampo; saúde mental; meningite; malária; leishmaniose; HIV/Aids; fístula
obstétrica; febre de marburg; ebola; dengue; cólera; doença de chagas;
vacinação.

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O corpo do MsF, que é formado por profissionais da saúde, comunicação
e outras áreas, devem honrar os princípios da Organização, quais sejam (MsF,
2021):

• Independência: o MsF não está vinculado a poderes políticos, militares,


econômicos ou religiosos, possuindo liberdade para agir e decidir onde,
como e quando atuar. Esse princípio é possível graças a sua
independência financeira, já que 97% (aproximadamente) de seu
financiamento é originário da sociedade civil.
• Imparcialidade: a organização visa oferecer ajuda humanitária a todos
aqueles que mais precisam, sem que haja discriminação por gênero, etnia,
crenças e religiões, convicção política, nacionalidade e outros. O único
critério para a definição do público a ser atendido pela OING são o contexto
de atuação e as necessidades dos mais necessitados. Em outros termos,
o que determina a atuação do MsF é a possibilidade de aliviar o sofrimento
de pessoas por meio de ação médica.
• Neutralidade: o MsF jamais toma partido em situações de conflito armado
ou político, sendo sua neutralidade uma característica fundamental. Em
situações de conflitos armados, por exemplo, a Organização irá prestar
auxílio médico a todos os envolvidos, independentemente de qual lado da
guerra estejam.
• Transparência: todos os projetos e ações realizados pelo MsF são
continuamente avaliados para que haja sempre uma prestação de contas
à sociedade e aos doadores.
• Ética médica: não se pode perder de vista que a atuação da OING é, acima
de tudo, médica. Portanto, o trabalho realizado pelo MsF é guiado pelas
regras da ética médica universal: primeiramente, o dever de prestar
assistência médica a quem necessita, respeitando a autonomia e a
confidencialidade dos pacientes. Cada pessoa é tratada com o respeito e
dignidade e recebe cuidados médicos de qualidade.

Manifestando-se publicamente: além de levar cuidados médico-


humanitários a quem mais precisa, a organização se preocupa em divulgar os
detalhes das crises humanitárias, tornando públicas as crises humanitárias com
as quais trabalha.

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No Brasil, o MsF atua desde 1991, quando a equipe de profissionais dessa
Organização chegou ao território brasileiro para combater uma epidemia de cólera
na região amazônica (MsF, 2020). A contar desse momento, sua presença no
território brasileiro não parou de se intensificar e estruturar.
Contudo, “foi apenas em 2006 que a organização iniciou atividades de
recrutamento de profissionais e a captação de recursos financeiros brasileiros
para apoiar os projetos da organização pelo mundo” (MSF, 2020). Ademais, foi
nesse período que “as ações de comunicação no Brasil ganharam força, com o
objetivo de sensibilizar a população brasileira sobre as crises humanitárias
internacionais” (MSF, 2020).

No ano seguinte, foi criada a Unidade Médica do Brasil (Bramu, Brazilian


Medical Unit), cujo objetivo é prestar suporte técnico em saúde e
antropologia aos projetos de MSF no mundo, principalmente àqueles
voltados para doenças tropicais negligenciadas e para as consequências
da violência urbana para as populações. O escritório de MSF-Brasil
localizado no Rio de Janeiro, é uma seção associada ao Centro
Operacional de Bruxelas, que tem suas atividades financiadas com
recursos de cidadãos brasileiros. (MSF, 2020)

Somente em 2020, a Organização endereçou mais de 100 brasileiros, de


especialidades distintas, para projetos internacionais do MSF, contando com o
apoio de quase 600 mil doadores (MSF, 2020).

TEMA 5 – O MOVIMENTO INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA E DO


CRESCENTE VERMELHO (A CRUZ VERMELHA)

Neste quinto tema, iremos estudar o Movimento Internacional da Cruz


Vermelha e do Crescente Vermelho (A Cruz Vermelha), com destaque para os
seguintes assuntos: objetivo fundamental, o conjunto de organizações que
compõe o Movimento e sete Princípios Fundamentais.

5.1 O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho


(A Cruz Vermelha)

A maior rede humanitária internacional que o mundo já presenciou é o


Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, cujo
objetivo fundamental é “aliviar o sofrimento humano, proteger a vida e a saúde
e preservar a dignidade humana, sobretudo durante conflitos armados e outras
emergências” (CICV, [S.d.]). A Cruz Vermelha, como também é conhecido, se faz

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presente em todos os Estados e é apoiado por milhões de voluntários, atuando
em guerras e em emergências, tais como: epidemias, desastres naturais e outras
situações similares (CICV, [S.d.]).
Inicialmente, precisamos esclarecer que o Movimento não é uma
organização una, longe disso. o Movimento é uma rede e, portanto, é constituída
por um conjunto de organizações, quais sejam:

• Comitê Internacional da Cruz Vermelha 4 (CICV): atua em zonas de conflitos


armados para prestar auxílio à população afetada (CICV, 2011). Sua sede
está localizada em Genebra, na Suíça. Atualmente, possui
aproximadamente 20 mil colaboradores alocados em mais de 100 Estados,
além de incontáveis voluntários (CICV, 2011). Seus recursos financeiros
são obtidos, principalmente, por doações voluntárias desses Estados e das
Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (CICV,
2011).
• Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente
Vermelho 5 (FICV): diferentemente do Comitê, a Federação atua em zonas
livres de guerras, mas que, ainda assim, precisam de ajuda humanitária.
Portanto, a Federação realiza ações internacionais de socorro a pessoas
em situação de vulnerabilidade em desastres e emergências, tais como:
epidemias, inundações, terremotos e assim por diante. Não somente, a
Federação desenvolve projetos de longo prazo, a exemplo: redução de
riscos e combate à disseminação de doenças (HIV, tuberculose, gripe
aviária, malária etc.). Para alcançar seus objetivos, conta com o apoio das
Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Aliás,
a Federação é a grande articuladora dessas Sociedades Nacionais.
Atualmente, sua sede também está na cidade Genebra, na Suíça.

Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho 6:


Atualmente, existem 192 Sociedades Nacionais, que são a espinha dorsal da
Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC,
2022).
Cada uma das Sociedades é composta por um grande conjunto de
voluntários e funcionários, os quais fornecem uma grande variedade de serviços

4 International Committee of the Red Cross (ICRC)


5 International Federation Of Red Cross and Red Crescent Societies (IFRC)
6 National Red Cross and Red Crescent Societies

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a sua comunidade local. Quando ocorre um desastre, as Sociedades Nacionais
são sempre as primeiras a chegar no local, permanecendo em atividade dentro
da comunidade afetada mesmo quando os demais já tenham partido.
As Sociedades Nacionais trabalham em parceria com o poder público,
concordando com as autoridades de seu país sobre as áreas em que apoia ou
substitui os serviços humanitários públicos. No Brasil, a única Sociedade Nacional
é a Cruz Vermelha do Brasil (CVB), com sua sede localizada na cidade do Rio de
Janeiro, especificamente na Praça Cruz Vermelha, 10-12, Centro (CVB, [s.d.]).
É a soma dessa OINGs que foram o Movimento Internacional da Cruz
Vermelha e do Crescente Vermelho. No entanto, trabalham unidas em uma rede
guiada por sete Princípios Fundamentais (CVB, 2016), a saber:

• Humanidade: além de proteger a vida e saúde das pessoas, busca fazer


respeitar o ser humano, valorando a compreensão mútua, a amizade, a
cooperação e a paz entre todas as nações.
• Imparcialidade: não deve haver nenhum tipo de discriminação, tais como:
etnia, religião, condição social, nacionalidade, opinião política entre outros.
• Neutralidade: não deve tomar partido em hostilidades ou participar de
controvérsias político-sociais.
• Independência: devem agir de forma autônoma e de acordo com os
Princípios Fundamentais da Cruz Vermelha.
• Voluntariado: não possui finalidade lucrativa, sendo compreendida como
uma instituição voluntária de socorros.
• Unidade: existe apenas uma Sociedade de Cruz Vermelha em cada
Estado.
• Universalidade: todas as Sociedades Nacionais possuem iguais direitos e
dividem iguais responsabilidades e deveres, ajudando-se mutuamente.

São esses princípios que “resumem a ética do Movimento, constituindo a


essência do seu enfoque para ajudar as pessoas afetadas por conflitos armados,
desastres naturais e outras situações de emergência” (CICV, 2004, p. 2).

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Saiba mais
A Cruz Vermelha possui emblemas cujo principal objetivo é “proteger
tanto as vítimas quanto aqueles que vêm ao seu socorro” em zonas de conflito
armado (CICV, 2004). Durante as hostilidades, o emblema significa “não
ataque”, pois essa pessoa, veículo, prédio ou equipamento não faz parte da
guerra, mas prestando assistência humanitária imparcial. Portanto, os
emblemas da Cruz Vermelha fornecem proteção à ajuda humanitária.
Gosta deste conteúdo e quer saber mais sobre ele? Leia o artigo Os
Emblemas.

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REFERÊNCIAS

BILL GATES: de prodígio da informática a bilionário que quer mudar o mundo.


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BILL GATES e Melinda French se divorciam oficialmente. Exame, 2021.

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