Internacional Saude 2

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AULA 2

INTERNACIONALIZAÇÃO
DA SAÚDE

Prof. José Benedito Caparros Junior


INTRODUÇÃO

O objetivo desta segunda etapa é entender como a saúde está ambientada


internacionalmente, informação cada vez mais relevante aos profissionais de
diversas áreas. Muito vem sendo discutido sobre isso nas relações internacionais,
em especial porque, a partir dos anos 1990: “[...] a saúde passou a ser
considerada como um fator importante para o crescimento econômico e o
desenvolvimento social, com reflexos na política externa, na soberania nacional,
no comércio, na segurança nacional, no turismo, nos direitos humanos e nos
programas de meio ambiente.” (Fortes; Ribeiro, 2014, p. 367).
Diante disso, para alcançarmos nosso objetivo, nosso percurso
metodológico está dividido nestes cinco tópicos:

1. Conceito de saúde
2. Determinantes sociais da saúde (DSS)
3. Saúde internacional
4. Saúde global
5. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Conforme iremos perceber ao longo desta etapa, esses cinco tópicos


possuem relação bastante íntima entre si e, portanto, se faz necessário estudá-
los conjuntamente.

TEMA 1 – CONCEITO DE SAÚDE

Você já deve ter se deparado com o conceito de saúde, ao longo de sua


jornada acadêmica e profissional, não é mesmo? Mas, será que existe um
conceito acabado para saúde? Isto é, existe um conceito único, perfeito e que não
seja questionado pela academia e sociedade em geral, sobre o tema? Não, não
existe! Por essa razão, abordar esse assunto é de suma importância para nós,
visto que precisamos adotar e explorar um conceito de saúde para balizar nossas
discussões, daqui para a frente. Assim sendo, neste primeiro tópico, inicialmente
iremos discutir as dimensões que categorizam os conceitos (superados ou
vigentes) de saúde e, posteriormente, o conceito de saúde por nós adotado. Além
disso, evidenciaremos as críticas existentes sobre ele e, por fim, explicaremos
o motivo pelo qual ele foi adotado.

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Mas, antes de apresentarmos uma reflexão sobre o conceito de saúde,
precisamos estar cientes de que, no mundo, há pluralidade de conceitos sobre
tudo que pudermos imaginar, o que significa que todo e qualquer assunto possui
inúmeras definições e que, portanto, esses assuntos não param de ser pensados
e repensados. Em outras palavras, nenhum conceito é estático e nem imutável.
Isso pode parecer estranho à primeira vista, mas esse é o cenário ideal para o
progresso científico, acadêmico, profissional e social. Ou seja: aceitar e abraçar
múltiplos olhares e interpretações sobre um determinado assunto é o melhor
caminho para um aprimoramento.
No que se refere especificamente ao conceito de saúde, podemos refletir
acerca de seu significado com base em duas dimensões, quais sejam:

1. conceitos superados, mas que foram abandonados, ao longo da história,


pela qual é possível observar a evolução da concepção de saúde;
2. conceitos vigentes, pela qual é possível observar conceitos
contemporâneos coexistindo.

No que se refere aos conceitos superados, Scliar (2007, p. 29) argumenta


que conceitos de saúde podem ser “[...] analisados em sua evolução histórica e
em seu relacionamento com o contexto cultural, social, político e econômico,
evidenciando a evolução das ideias nessa área da experiência humana”. Por
exemplo, na Europa Medieval

[...] a influência da religião cristã manteve a concepção da doença como


resultado do pecado e a cura [saúde] como questão de fé; o cuidado de
doentes estava, em boa parte, entregue a ordens religiosas [...].
Procurava-se evitar o contra naturam vivere, viver contra a natureza. O
advento da modernidade mudará essa concepção religiosa. (Scliar,
2007, p. 33)

Em outros termos, “o conceito de saúde é resultante de representações


históricas que foram se alterando conforme as sociedades se organizavam”
(Fogaça, 2018, p. 17). Isto é, a humanidade se deparou com inúmeros conceitos
de saúde, ao longo dos seus vários períodos históricos 1, da Pré-História à Idade
Contemporânea. E, já na Idade Contemporânea, a humanidade presenciou os
longos e significativos passos que a ciência deu rumo a uma nova conscientização
sobre as doenças, compreendendo como elas funcionam, buscando e

1 A divisão da história é um método para separar a história em períodos cronológicos com

características comuns. Classicamente, dividem-se os períodos históricos da seguinte forma: Pré-


História (período anterior a 4000 a.C.); Idade Antiga (de 4000 a.C. a 476 d.C.); Idade Média (de
476 a 1453); Idade Moderna (de 1454 a 1789); e Idade Contemporânea (de 1789 em diante).
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concebendo novas maneiras de retardá-las ou pará-las, além de reconhecendo
que a ausência de doença pode não ser viável, em muitos casos (Felman;
Sampson, 2020).

Saiba mais
Em seu artigo História do conceito de saúde, o médico e professor Moacyr
Scliar (2007) fornece e discute informações e tece uma reflexão interessantíssima
acerca da evolução histórica do conceito de saúde. Segundo o autor, a
compreensão de saúde reflete uma dada conjuntura social, econômica, política e
cultural, não representando a mesma coisa em todas as épocas. O artigo pode
ser lido em:
<https://www.scielo.br/j/physis/a/WNtwLvWQRFbscbzCywV9wGq/?lang=pt>.

Em especial nas últimas décadas, os conceitos vigentes de saúde


ultrapassaram os limites físicos do corpo humano, passando a levar em
consideração questões de ordem social e cultural. Atualmente, entende-se que,
para se ter saúde, é preciso que haja equilíbrio entre o corpo, a mente e o meio
social em que se está inserido (Felman; Sampson, 2020).
Dentre alguns conceitos vigentes de saúde, destaca-se aquele publicado
em 2011 no British Medical Journal (BMJ), em que se diz o seguinte: que a saúde
é a “[...] capacidade de adaptação e autogestão em face de desafios sociais,
físicos e emocionais” (Hubber et al., 2011, citados por Almeida Filho, 2018, p.
120). No entanto, o conceito de saúde ora adotado antecede a esse, o qual foi
cunhado por meio da promulgação da Constituição da Organização Mundial da
Saúde (OMS). De acordo com esse documento, a saúde é “[...] um estado de
completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de
doença ou de enfermidade” (OMS, 1946). Justifica-se a adoção desse conceito
de saúde porque foi a partir de seu estabelecimento que o bem-estar social
passou a ser visto como um dos pilares da saúde, afinal a saúde está intimamente
ligada ao ambiente social e às condições de vida e trabalho dos indivíduos
(Svalastog et al., 2017).
No entanto, não podemos fechar nossos olhos para as críticas existentes
ao conceito de saúde da OMS (1946), lembrando que, conforme já conversamos,
não existem conceitos únicos, perfeitos e inquestionáveis tanto pela academia
quanto pela sociedade de modo geral. Segre e Ferraz (1997) argumentam que o
conceito da Constituição da OMS (1946) é irreal e utópico, pois não pode ser

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alcançado pela sociedade, pautando-se em uma perfeição inatingível. Essa
argumentação não está errada, pelo contrário. Trata-se de uma crítica com
fundamentos sólidos, relevantes e práticos. Afinal, o que seria um estado de
completo bem-estar físico, mental e social? Será que existiria uma solução
objetiva para isso?
Apesar disso, podemos entender o conceito como um norte para a
sociedade, ou seja, como um ideal a ser perseguido a fim de que políticas públicas
na área da saúde sejam mais bem formuladas e tornem-se objeto de discussões
sérias e frutíferas, seja no âmbito nacional, seja no âmbito internacional. Conforme
ressalta Caponi (1999, p. 3, citado por Lunardi, 1999, p. 27), “é possível entender
este ‘máximo de bem-estar’ como algo desejável de ser alcançado, uma máxima
que deva, como um direito inalienável do homem, ser insistentemente buscada e
procurada por todos os homens”.
Em 2018, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas, 2018) publicou
o documento Health indicators: conceptual and operational considerations, no qual
defende o conceito de saúde da OMS (1946), argumentando que ele ainda é
válido para a contemporaneidade e considerando-o um avanço em relação à
definição fornecida pelos modelos biomédicos que eram dominantes até a sua
publicação.

TEMA 2 – DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE (DSS)

A ideia-chave para estudarmos os DSS, neste tópico, é a desigualdade


entre indivíduos, grupos ou populações. Enquanto alguns possuem abundância
de oportunidades, outros sobrevivem em ambientes precários e sem oportunidade
para alcançarem uma vida digna. É nesse sentido que reside a importância de
entendermos os DSS, os quais fazem referências à “[...] distribuição de poder,
renda, bens e serviços e às condições de vida das pessoas, e o seu acesso ao
cuidado à saúde, escolas e educação; suas condições de trabalho e lazer; e o
estado de sua moradia e ambiente” (O que é, [20--]). Como veremos a seguir, os
DSS têm uma influência importante nas iniquidades em saúde e, em países de
todos os níveis de renda, a saúde e a doença seguem um gradiente social: quanto
mais baixa a posição socioeconômica de um dado indivíduo ou grupo, pior a sua
saúde.
Para atendermos ao objetivo pedagógico deste tópico, a proposta de
estudo é composta pela exploração do conceito de DSS, pelo conhecimento

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sobre quais profissionais possuem participação fundamental na elaboração e
execução de políticas públicas concernentes a esse tema e, por fim, de alguns
dos principais DSS.
Quando se fala em saúde e longevidade, o que vem a sua mente? Muitas
pessoas, especialmente os leigos, pensam em profissionais da área da saúde
cuidando de pessoas enfermas em hospitais, clínicas e consultórios. Todavia,
sabemos que essa se trata de uma visão limitada sobre o assunto, não é mesmo?!
O conhecimento e a prática dos profissionais da área vão além dos muros dessas
instituições. Afinal, a saúde também engloba o bem-estar social e, portanto, os
DSS.
Para a OMS, o conceito de DSS é o seguinte: são fatores não médicos
“[...] que influenciam os desfechos de saúde. São as condições em que as
pessoas nascem, crescem, trabalham, vivem e envelhecem, e o conjunto mais
amplo de forças e sistemas que moldam as condições da vida cotidiana” (Social,
[S.d.], tradução nossa). Em outras palavras, esses fatores afetam a saúde da
população, pois determinam a que as pessoas têm acesso e o que podem fazer
para melhorar sua qualidade de vida, bem-estar e saúde. Por exemplo, as
pessoas com maior nível de renda têm melhores condições de saúde, pois têm
acesso a melhores serviços de saúde, medicamentos, água potável, educação e
assim por diante. Por outro lado, as pessoas com baixa renda tendem a ter menos
acesso a esses elementos. Consequentemente, podemos reafirmar que, quanto
menor a posição socioeconômica de um país, pior tende a ser a saúde, nesse
país.
De acordo com uma publicação realizada pela Fundação Oswaldo Cruz –
Fiocruz (O que é, [20--]), o estudo dos DSS na América Latina emerge na década
de 1970, buscando compreender os limites das tecnologias médicas em face dos
problemas de saúde e, consequentemente, dando maior atenção aos fatores
socioeconômicos pertinentes à relação saúde-doença.
Para a OMS, profissionais da área da saúde possuem participação
fundamental para a criação de políticas públicas que visem combater a
iniquidade em saúde, diminuindo seus impactos negativos nas comunidades
(Social, [S.d.]). A OMS lista alguns dos principais DSS com potencial para
influenciar positiva e negativamente a saúde de uma nação, quais sejam:

• renda;
• segurança pública;

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• saneamento básico;
• educação;
• emprego;
• qualidade de vida e no trabalho;
• alimentação;
• habitação;
• meio ambiente;
• desenvolvimento da primeira infância;
• inclusão social e não discriminação;
• serviços de saúde acessíveis e de qualidade decente.

Ainda de acordo com a OMS, os DSS são responsáveis por entre 30% a
55% dos desfechos de saúde no mundo. No entanto, os DSS constituem assunto
multifacetado e complexo, que engloba uma série de áreas do conhecimento.
Apesar disso, as dificuldades não podem ser suspensivas para que a equidade
em saúde seja pensada, repensada e perseguida, longe disso! A realidade social
só poderá ser alterada quando os DSS, embora muito complexos, forem objeto
de profunda reflexão e pauta para a formulação de políticas públicas (Social,
[S.d.]).
Uma das formas de se atingir um resultado positivo, com isso, é mediante
a implementação de programas de saúde que atendam às necessidades
específicas aos grupos vulneráveis. É preciso que esses programas sejam
acessíveis e que não excluam nenhum grupo da população. Além disso, é
necessário que as pessoas tenham acesso a informações sobre as possibilidades
de assistência e tratamento que lhes estão à disposição. Dessa forma, para que
a redução das desigualdades seja alcançada, a participação da sociedade civil
também se faz primordial. Afinal, são muitos os desafios a serem combatidos e,
consequentemente, as ações a serem implementadas para o enfrentamento das
iniquidades relacionadas à saúde (Social, [S.d.]).

TEMA 3 – SAÚDE INTERNACIONAL

Não se pode negar que a saúde é um dos temas mais relevantes para as
relações internacionais, sendo objeto de muitos debates em fóruns internacionais,
na formulação e adesão a tratados, na criação de organizações internacionais
(OIs), sejam governamentais (OIGs), sejam não governamentais (OINGs) e assim

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por diante. Embora não possamos determinar com precisão o período em que a
saúde se tornou um assunto de preocupação internacional, o século XX tem uma
grande importância histórica para o assunto (McInnes; Lee, 2013).
Assim sendo, neste tópico abordaremos a saúde internacional, tratando
sobre seu conceito e suas principais características, bem como do surgimento
e evolução do termo e sua concepção.

Em 1913 aparece pela primeira vez o termo saúde internacional, cunhado


pela Fundação Rockefeller (Fortes; Ribeiro, 2014). O conceito para o
termo é o seguinte: esforços internacionais “[...] [de] controle de doenças
infectocontagiosas, no combate à desnutrição, à mortalidade materna e
infantil e em atividades de assistência, principalmente nos países
denominados menos desenvolvidos” (Fortes; Ribeiro, 2014, p. 369). Em
termos práticos, conforme ensinam Birn, Pillay e Holtz (2017, p. 62-63):

[...] a maior parte das atividades em saúde internacional não é


compartilhada entre nações equivalentes; elas refletem a ordem política
e econômica internacional, na qual a “assistência” internacional é
“provida” pelas nações ricas e industrializadas e “recebida” pelos países
pobres e subdesenvolvidos.

Adicionalmente, cabe salientar que um dos grandes focos da saúde


internacional era o controle de epidemias que possuíam potencial para atravessar
as fronteiras entre os Estados, isto é, que exigiam um controle internacional
(Ribeiro, 2016).
A saúde internacional possui três características fundamentais, quais
sejam:

1. fundamentar-se em bases práticas, médicas e biológicas (Fortes; Ribeiro,


2014, p. 370);
2. estabelecer uma relação vertical entre países ricos e pobres, em que os
primeiros concedem ajuda aos segundos (Ribeiro, 2016);
3. evitar que doenças infectocontagiosas, muitas vezes decorrentes de baixa
qualidade de vida e acesso escasso à saúde, ultrapassassem as fronteiras
e cheguem aos países desenvolvidos (Ribeiro, 2016).

No entanto, conforme estudamos em conteúdos anteriores, a globalização


é o pano de fundo para todas as práticas das relações internacionais. Assim, com
a evolução desse processo, a partir dos anos 1990 2, a saúde internacional sofreu

2 Início da quarta fase da globalização (globalização contemporânea).


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intensas críticas e, em razão disso, passou por um profundo processo de
ressignificação.

TEMA 4 – SAÚDE GLOBAL

Conforme lecionam Fortes e Ribeiro (2014, p. 368), “o processo da


globalização é o motor da evolução do termo ‘saúde global’, que carrega desafios
e oportunidades no campo da saúde”. Nessa nova abordagem, busca-se
compreender e melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas em todo o mundo,
com base em estudos e intervenções no que se referem às mudanças sociais,
econômicas, políticas e ambientais. Para, então, compreendermos o que é saúde
global, estudaremos seu conceito, suas características e sua ligação com a
saúde internacional.
De acordo com os ensinamentos de Buss e Tobar (2017, p. 24), o “[...]
termo saúde global vem, desde a década de 1990, paulatinamente substituindo a
terminologia anterior, consagrada como saúde internacional”. Enquanto a saúde
internacional era caracterizada pelo assistencialismo e pelo controle de doenças
infecciosas com potencial para ultrapassarem as barreiras dos Estados, a saúde
global possui um significado ampliado e mais coerente com o mundo
contemporâneo. Todavia, ressalta-se que seu conceito ainda não é preciso e
muito vem sendo discutido sobre, especialmente por ser algo novo na sociedade.
Segundo investigação realizada por Ribeiro (2016), a saúde global pode
ser entendida de várias formas. Apesar disso, o conceito a ser por nós adotado
é aquele proposto por MacFarlane, Jacobs e Kaaya (2008, citados por Ribeiro,
2016): “melhorias de condições de saúde ao redor do mundo, redução das
disparidades e proteção contra ameaças globais que não respeitam fronteiras
nacionais”.
A saúde global possui, assim, duas características importantes, sendo
elas:

1. senso de responsabilidade coletiva;


2. multiprofissionalismo e interdisciplinaridade.

No que se refere ao senso de responsabilidade coletiva, no escopo da


saúde global é reconhecida a existência de problemas e ameaças à saúde de
todos os povos e que, portanto, não podem mais ser combatidos isoladamente
pelos Estados (Ribeiro, 2016). Essa nova forma de pensar a saúde no ambiente

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internacional é a grande responsável pela transição dos paradigmas da saúde
internacional para a saúde global. Como consequência disso, se faz necessário
esforços de cooperação internacional entre os Estados. Nesse sentido, Sampaio
e Ventura (2016, p. 153) afirmam que:

A saúde global traz a ideia de que a saúde das pessoas do mundo deve
ser sustentada por um esforço coletivo internacional, sem desprezar-se
as especificidades locais. Deve-se, portanto, buscar compreender os
fenômenos locais em articulação com as questões globais. O objetivo
principal da ideia de saúde global é o de superar as dificuldades
mundiais de saúde de forma coletiva e cooperativa, sem fronteiras.

Em adição a isso, a saúde global se caracteriza também por


multiprofissionalismo e interdisciplinaridade, baseando-se especialmente nos
saberes e práticas das ciências biológicas, humanas e sociais (Ribeiro, 2016),
cujo objetivo é o alcance da melhoria e da equidade em saúde para todos, no
mundo. Em outros termos, a saúde global constitui-se por “[...] diversas
disciplinas: medicina, ciências sociais, economia, epidemiologia, relações
internacionais, geografia, antropologia, entre outras” (Nigro; Perez, 2016). Nas
palavras de Koplan et al. (2009, tradução nossa):

a saúde global é uma área de estudo, pesquisa e prática que prioriza a


melhoria da saúde e a equidade em saúde para todas as pessoas, em
todo o mundo. A saúde global enfatiza questões, determinantes e
soluções transnacionais de saúde; envolve muitas disciplinas dentro e
fora das ciências da saúde e promove a colaboração interdisciplinar [...].

Isso significa que, diferentemente do que ocorria no escopo da saúde


internacional, a saúde global não se fundamenta apenas em bases médicas e
biológicas, pelo contrário. Conforme explica Ribeiro (2016):

No documento final da Cúpula Mundial de Saúde de 2014, em Berlim,


denominado “Saúde é mais que medicina”, logo no primeiro item
ressalta-se que a saúde tem um enorme impacto no desenvolvimento
social e econômico, em todo o mundo, e que nada é mais importante
que a saúde para o indivíduo – para que possa viver com dignidade e
desenvolver o seu potencial – e para a sociedade em geral. Constata-
se, portanto, que a saúde tem reflexos na produção e produtividade dos
países, mas também na política externa, na soberania e segurança
nacional, no comércio, no turismo, nos direitos humanos e nos
programas de meio ambiente.

Com base no conceito e nas características comentadas, bem como no


conceito de saúde explorado no primeiro tópico, podemos afirmar que a saúde
passou a ser “[...] considerada majoritariamente um bem público global: que não
seja excludente, isso é, que ninguém ou nenhuma coletividade seja excluída de

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sua posse ou de seu consumo; e que seus benefícios sejam disponíveis a todos”
(Fortes; Ribeiro, 2014, p. 368).
Sem embargo, não podemos desconsiderar que a noção de saúde global
é uma evolução e que, portanto, ainda possui ligação com algumas ideias de sua
antecessora. Em outras palavras, na saúde global ainda há a preocupação com a
filantropia internacional e com a propagação de doenças infecciosas
transnacionalmente; mas ela não se limita a isso.

TEMA 5 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)

Ao avançarmos com o estudo, acreditamos que você tenha percebido que


existe estreita relação entre o conceito de saúde proposto pela OMS (1946), os
DSS e a saúde global. Esses assuntos são congruentes, na medida em que
trabalhamos em prol de uma sociedade que busca justiça e equidade para a
população mundial, isso influenciando direta e indiretamente no bem-estar e na
saúde humana. Agora, para finalizar, trabalharemos com os ODS, que seguem o
mesmo sentido.
De antemão, vale salientar que os 17 ODS foram inspirados no sucesso
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), porém com apresentação
de novas questões, tais como: mudança climática global, desigualdade
econômica, inovação, consumo sustentável, paz e justiça etc. Os objetivos são
interligados, ou seja, o sucesso de um ODS envolve responder a questões que
estão associadas a outros objetivos (ONU, 2015).
Para a Organização das Nações Unidas (ONU), “os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) são um apelo global à ação para acabar com
a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em
todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade” (Sobre, [20--]). Os
ODS foram propostos pela ONU e ratificados pelos seus Estados-membros em 25
de setembro de 2015, entrando em vigor em 1º de janeiro de 2016 e almejando o
cumprimento das metas até 31 de dezembro de 2030. São 17 os ODS, os quais
se desdobram em 169 metas. Esses objetivos, e suas metas, abordam questões
importantes como as mudanças climáticas, a erradicação da pobreza, a redução
da desigualdade, a educação de qualidade, a saúde, a responsabilidade
econômica, a ação contra a corrupção e a promoção de sociedades inclusivas,
pacíficas e sustentáveis (Sobre, [20--]; ONU, 2015).

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Embora exista um objetivo específico para tratar de temas relativos à saúde
(ODS 3), a abordagem do tema não está restrita a esse objetivo, pelo contrário
(Silveira; Sousa, 2022). Se tomarmos como base os DSS, teremos claro que todos
os objetivos influenciam, direta ou indiretamente, na saúde e no bem-estar das
populações mundiais. Afinal de contas, é possível desassociar a saúde de outras
esferas da vida, como: igualdade de gênero, proteção da água, trabalho justo e
assim por diante? Não, não é possível. Em outros termos: não é possível viver
com saúde em ambientes doentes.
Todavia, os esforços não se restringem à decisão de líderes mundiais,
governos e gestão pública. Os ODS devem nortear também o trabalho de
organizações não governamentais (ONGs), empresas privadas e todos nós, como
pessoas. Isto é, todos nós temos um papel e um compromisso com os ODS. Mas,
cabe destacar que a colaboração do setor privado é essencial, nesse sentido, para
alcançarmos as 169 metas dos 17 ODS, já que esse setor é detentor de grande
poder econômico e, por essa razão, capaz de impulsionar inovações e novas
tecnologias.

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