Sabinada
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Sabinada
ISSN: 2525-8761
RESUMO
O presente artigo aborda o tema Sabinada: O conflito regencial na Bahia ocorrido no
Brasil entre 1837 e 1838, o qual demonstra a luta de classes médias pela Independência
da província baiana antes da maioridade de Dom Pedro II, sendo liderado por
Francisco Sabino. No século XIX o Brasil passou por diversas manifestações
populares por não apresentar uma figura real como governante, já que Dom Pedro
abdicou do trono em favor de seu filho. Durante o período de um ano a Bahia
transformou-se em um palco conflituoso, porém o fim da “rebelião” foi anunciado em
1838 com a prisão e morte de alguns dos lideres do movimento, restaurando o
equilíbrio na região.
ABSTRACT
This article deals with the theme Sabinada: The regimental conflict in Bahia that
occurred in Brazil between 1837 and 1838, which demonstrates the struggle of the
middle classes for the Independence of the Bahian province before Dom Pedro II came
of age, being led by Francisco Sabino. In the 19th century, Brazil went through several
popular manifestations for not presenting a real figure as a ruler, since Dom Pedro
abdicated the throne in favor of his son. During the period of a year, Bahia became a
conflictive stage, but the end of the “rebellion” was announced in 1838 with the arrest
and death of some of the movement's leaders, restoring balance in the region.
1 INTRODUÇÃO
A Sabinada foi um movimento ocorrido no período regencial no Brasil na
província da Bahia entre os anos de 1837 e 1838. O grande motivo de todo o combate
foi a insatisfação das classes soteropolitanas que estavam insatisfeitas com a forma de
Governo presente no Rio de Janeiro e com o enfraquecimento das ideias federalistas
as quais possuíam muitos admiradores. A escolha do nome sucedeu ao seu grande líder
Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, um republicano, médico e revolucionário
federalista que esteve presente à frente do movimento até sua captura e término da
batalha.
Dentre os diversos motivos que contribuíram para a formação e prática do
movimento Sabinada a insatisfação política predominou fortemente sobre os rebeldes
associados ao conflito, pois, a autonomia política e administrativa não atendia as
necessidades dos manifestantes segundo eles e a província deveria adotar um modelo
diferenciado de Governo. Um segundo ponto a ser estudado está no recrutamento
obrigatório de jovens para a Guerra dos Farrapos o que desestabilizava as famílias. O
movimento da Sabinada diferencia-se de outros como a Cabanagem ou Farroupilha
por não apresentar características separatistas.
Os baianos detinham a ideia da criação de uma República Baiense, com suas
próprias regras e leis até a maioridade de Dom Pedro II, o qual julgavam capaz de
governar o país e estabelecer as províncias. Será válido ressaltar que o movimento não
possuía intenções de romper com a escravidão da época, pois, desejavam conseguir
apoio das elites escravocratas, as quais não colaboraram com o movimento. Essa ação
afastou os escravos da participação direta no conflito, uma vez que, os brancos desejam
a vitória para sua raça e não a dos negros.
Dentre as classes participantes do conflito destacam-se oficiais militares,
funcionários públicos, profissionais liberais, comerciantes, artesãos e uma parcela das
camadas mais pobres da população. Primeiramente antes da revolta ocorrer, os
rebeldes costumavam reunir-se para discussões acerca do protesto e no dia 07 de
Novembro de 1837, um grupo liderado por Sabino conseguiu convencer a simpatia das
tropas do Forte de São Pedro, cujo ajuda para a batalha foi alcançada, permitindo que
os rebeldes possuíssem auxilio de tropas militares opostas as ideias e política do
Governo
A conquista da cidade de Salvador foi efetivada pelos rebeldes, as tropas do
Forte de São Pedro e a primeira força legalista que deveria cumprir a missão de
debandar os manifestantes. Com a Câmara Municipal ocupada, Sabino tornou-se o
Secretário do Governo da República Independente da Bahia, nomeando ministros para
ocupar cargos importantes como Daniel Gomes de Freitas (Ministro da Guerra) e
Uma das classes mais afetadas pela crise econômica no estado da Bahia era os
escravos que viviam sob comando dos grandes fazendeiros, realizando as mais
variadas atividades sendo sobrecarregados de suas funções por não possuir mão-de-
obra suficiente para trabalhar, pois, existia os escravos livres. Diante de toda essa
situação a população buscou formas de serem vistas, lembrada, apelando para o
Governo através de petições pelo grupo dos moderados e saques, revoltas,
manifestações para o grupo dos radicais que acreditavam no conflito como meio de
resolução para os problemas (KRAAY, 2011).
A Bahia já estava envolvida em diversos conflitos com as regências
ocasionando um problema a mais para o surgimento de novas manifestações/protestos
e atos de vandalismo. No ano de 1824 o comandante das armas Felisberto Caldeira foi
assassinado por rebeldes pertencentes a um grupo conhecido como periquitos. Quando
ocorreu a abdicação do Imperador Dom Pedro I em 1831 alguns rebeldes que
possíveis roubos e evitando que os rebeldes tomassem posse das finanças (MOREL,
2003).
Umas das formas de impedir que o restante da população deixasse a cidade, foi
a proclamação e assinatura de um termo que respaldava a Independência do Estado da
Bahia somente até a maior idade de Don Pedro II, “acalmando” as pessoas por um
tempo. Quando a revolução começou a alternar seus rumos, a ilha de Itaparica declarou
adesão ao movimento, porém foi impedida pelas forças policias locais de desenvolver
o protesto, sendo que após quatro dias da tentativa de aderência, a Câmara de Itaparica
afirmou adesão ao governo de Dom Pedro II (AMARAL, 1957).
Tais fatos ocorridos na capital provocou a fuga dos governantes locais, sendo
que esses reuniram-se no Recôncavo, precisamente em Cachoeira, São Francisco e
Santo Amaro, a fim de discutir estratégias nas instituições básicas do governo que
foram reestruturadas nesses locais. Como a situação era considerada grave e de
instabilidade, as autoridades foragidas solicitaram ajuda de senhores de engenhos
locais e do governo central para desestruturar o movimento e capturar os principais
responsáveis. Nomeou-se alguns nomes para comandante das forças legalistas,
destacando: Alexandre Gomes de Argolo Ferrão, Rodrigo Antônio Falcão Brandão e
Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque (Visconde de Pirajá) (ARAÚJO, 2005).
A rebelião terminou no dia 15 de março de 1838 com pessoas feridas e mortas entre
ambos os lados (JANCSÓ, 1996).
As consequências da batalha geraram prejuízos econômicos e sociais, sendo
que a cidade de Salvador foi muito massacrada pelo combate, com cerca de 2.989
rebeldes presos, 1.258 mortos, 60 casas incendiadas e 172 homens mortos pertencente
ao grupo dos legais. Os chefes responsáveis pelo conflito fugiram devido a uma
“caçada” iniciada pelas tropas vencedoras, sendo que Sabino através de uma denúncia
anônima foi encontrado e preso na casa do cônsul francês Degrivel e mais tarde o
restante dos chefes revolucionários também foram apreendidos (MATTOSO, 1978).
De forma a castigar todo aquele que resolve-se insistir em reascender a chama
do conflito ou de um possível combate o Governo criou punições severas que serviram
de exemplo a todo o Império. Os rebeldes foram julgados e condenados a morte
havendo uma tentativa de mudar a decisão pelo Supremo Tribunal de Justiça no
mesmo período que Don Pedro II ascendeu o trono. Uma das primeiras ações que o
jovem Imperador realizou em relação a condenação dos rebeldes sob o ato de
clemencia foi de conceder perdão aos condenados por crime de natureza política,
sendo que aqueles réus salvos da morte e da prisão foram confinados em regiões
distantes onde não pudessem oferecer perigo social (TAVARES, 1977).
Quanto a Sabino, este passou um tempo em Goiás, conseguindo fugir durante
seu transporte para a cadeia de Cuiabá e se alocando no Sitio da Jacobina vindo a
falecer em 1846. Esse episódio proclamou a finalização do confronto da Sabinada
ocorrido na Bahia e o Governo conseguiu proporcionar a paz novamente na província,
garantindo segurança aos habitantes. Como ato nobre e de gratidão pelo ganho da
batalha o Governo Imperial promoveu Marechal-de-Campo Calado a Tenente-General
efetivo e José Joaquim Coelho a Brigadeiro que mais tarde recebeu o título de Barão
da Vitória (GUERRA FILHO, 2004).
A Bahia pós- Sabinada vivenciou episódios de regras e punições aqueles que
pudessem causar novas revoltas e desafios ao Governo, sendo que pessoas foram
afastadas da vida social e administrativa com intuito de garantir a segurança da
população e poupar o jovem Imperador (Dom Pedro II) de problemas com a sociedade
em relação a manifestos. Apesar de não possui uma durabilidade longa, a Sabinada
faz-se necessária para a história do Brasil, por representar a luta da população em meio
ao período regencial em que havia descontentamento por grande parte da sociedade
(FONSECA, 2004).
3 CONSIDERAÇOES FINAIS
A Sabinada ocorrida na Bahia em um período em que o Brasil vivenciava
diversos conflitos espalhados pelo seu território não obteve uma duração longa como
a Balaiada ocorrida no Maranhão e Piauí e a Cabanagem no Pará, porém possui sua
importância visto que, os rebeldes responsáveis pelo conflito objetivavam a criação de
uma República isolada da Corte na província baiana. Outro fato importante dentro do
movimento está na participação da classe considerada média, o que dispensava negros,
escravos e pessoas livres, acarretando um domínio de pessoas que detinham um certo
poder aquisitivo na época.
Dentre as motivações que levaram a estruturar tal movimento está na
Revolução Francesa, pois, a passagem do estado monárquico para um território
moderno com a formação de estados nacionais democráticos e republicado agradou os
olhos e ouvidos daqueles que presenciaram tal façanha. O processo de Independência
do Brasil não satisfez toda a sociedade, uma vez que, o termo apenas representava algo
no papel sendo que o centralismo autoritário e a arcaica estrutura político-econômica
herdada do Brasil colônia continuavam a existir dentro do território e presente na
forma de Governo.
A intensidade para a iniciação do conflito predominou sobre a abdicação de
Dom Pedro I em favor de seu herdeiro, abrindo portas para que, o país estivesse
governado sobre Regências. Essas por sua vez, agregavam valores apenas aos
portugueses, esquecendo o resto da população em relação a distribuição de cargos o
que causou a indignação da classe média. Dentro desse cenário havia aqueles que
apoiavam a monarquia e outros a república e federalismo provocando uma distorção
das ideias. Justamente essa brecha/porta aberta “concedida” aos rebeldes proporcionou
o manifesto que durou um ano.
O medo de uma possível ressuscitação da Sabinada ou outros movimentos que
abrange-se os mesmos objetivos, o Governo impôs severas punições aqueles que de
alguma forma ousa-se desafiar as autoridades, implantando o sentimento de medo para
impedir a população de realizar qualquer forma de protesto. Como medida protetória
houve perseguição a imprensa liberal e lideranças que eram consideradas fortes na
província, a fim de impedir novos conflitos e desestabilizar novamente a economia e
o lado social. Muitas pessoas que possuíam contato com rebeliões passadas foram
afastadas da vida social e administrativa pelo Governo.
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