Réplica Ação FIES

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) FEDERAL DA 1ª VARA DA

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CACHOEIRA DO SUL/RS.

TAMARA DAIANE BAUMGARTEN LEÃO SOARES, já qualificado nos autos do processo em


epígrafe, vem, por meio de seu advogado constituído, apresentar RÉPLICA À
CONTESTAÇÃO, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.

Síntese

A parte autora ajuizou a presente ação, com pedido de Renegociação (perdão da dívida)
e Revisão da taxa de juros.

Apresentado contestação pelos réus, foi alegado sucintamente o seguinte:

UNIÃO
a) Ilegitimidade passiva;

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL


a) Inaplicabilidade da redução dos juros e perdão da dívida.

FNDE
b) Inaplicabilidade da redução dos juros e perdão da dívida.

Tais argumentos não merecem prosperar, senão vejamos:


 Da legitimidade passiva

A União é parte legítima na demanda.

Considerando que a presente ação versa sobre revisão dos juros e renegociação, com
base na Lei nº 10.260/2001, e não apenas a regularização/aditamento de contrato de
financiamento estudantil, a UNIÃO é parte legítima para figurar no polo passivo da
demanda.

Neste sentido, podemos colacionar julgado do TRF3, com entendimento neste sentido:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FIES. LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO


FEDERAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. A União Federal,
certamente é parte legítima para o feito, a teor das disposições do
art. 1º, § 5º da Lei nº 10.260/2001, na redação das leis
12.202/2010 e Lei nº 13.530/2017. 2. O interesse da União Federal
advém da competência de que dispõe o Ministério da Educação,
órgão da Administração Pública Direta de gerir o FIES e
regulamentar o processo seletivo para a concessão do
financiamento, a teor do art. 3º da Lei nº 10.260/2001, sendo
certa a determinação do art. 2º, § 2º, de que os recursos do FIES
devem ser mantidos em conta única do Tesouro Nacional,
pertencendo à União Federal. Precedentes do C. STJ. 3. Honorários
advocatícios mantidos no patamar fixado na sentença, qual seja,
5% (cinco por cento) do valor da causa, por ausência de recurso da
parte ré UNIESP.(TRF-3 - Ap: 00117602520124036104 SP, Relator:
JUIZ CONVOCADO MARCIO CATAPANI, Data de Julgamento:
18/12/2018, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: e-DJF3 Judicial
1 DATA:23/01/2019)

Portanto, a UNIÃO deve integrar o polo passivo da lide em litisconsórcio com as demais
requeridas.
 DA REVISÃO CONTRATUAL COM REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS A “ZERO”

A lei nº 13.530/2017 criou o NOVO FIES. Segundo o conceito do MEC:

O novo FIES é um modelo de financiamento estudantil moderno, que divide o


programa em diferentes modalidades, possibilitando juros zero a quem mais
precisa e uma escala de financiamentos que varia conforme a renda familiar do
candidato. O novo FIES traz melhorias na gestão do fundo, dando
sustentabilidade financeira ao programa a fim de garantir a sustentabilidade do
programa e viabilizar um acesso mais amplo ao ensino superior.

O programa NOVO FIES trouxe benefícios ao aluno, criando uma forma de pagamento
mais benéfica. Vejamos o comparativo dos Programas:

FIES antigo NOVO FIES


TAXA DE JUROS Juros, capitalizados Taxa de juros igual a zero
mensalmente, limitados a
3.4% a.a.

Portanto o NOVO FIES (criado pela lei nº 13.530/2017) é mais benéfico para a
requerente, porquanto a taxa de juros é zero.

Nesse contexto, a norma mais favorável deve ser aplicada, até como uma forma de
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais, um dos
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (Art. 3º, inciso III, da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 - CRFB/88).

Ademais, não se olvide que na forma do art. 5º da Lei de Introdução às normas do


Direito Brasileiro (antiga Lei de Introdução ao Código Civil): "na aplicação da lei, o juiz
atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum."

Tendo em vista ser o FIES um programa de financiamento governamental destinado ao


acesso ao ensino superior para pessoas carentes, prestigiado o direito constitucional à
educação e às normas que beneficiem os contemplados do programa, há de incidir a
retroatividade da norma.

 Precedentes em ações judiciais concedendo os juros “zero” para contratos


anteriores a 2018

A justiça federal do Rio Grande do Sul tem entendido pelo direito à redução dos juros à
zero para o contratos firmados anteriores ao ano de 2018.

Neste sentido o julgamento da ação judicial n° 50093313220214047114/JFRS:

SENTENÇA

[...]

II - FUNDAMENTAÇÃO:

[...]

Mérito.

[...]

Da redução dos juros.

No que tange aos juros aplicáveis ao contrato, tem-se que o inciso II do art. 5º-C da Lei nº
10.260/2001, incluído pela Lei nº 13.530/2017, dispõe que a taxa real de juros para os
financiamentos concedidos a partir do primeiro semestre de 2018, deve ser igual a zero:

Art. 5º-C. Os financiamentos concedidos a partir do primeiro semestre de 2018 observarão o


seguinte: (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017)

(…)

II - taxa de juros real igual a zero, na forma definida pelo Conselho Monetário Nacional;
(Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017)

Já no que tange aos contratos firmados em momento anterior, como é o caso dos autos
(contrato firmado em 2014), o §10º do art. 5º da Lei nº 10.260/2001, com a redação
conferida pela Lei nº 13.530/2017, prevê a redução dos juros estipulados sobre o saldo
devedor dos contratos já formalizados:
Art. 5º. Os financiamentos concedidos com recursos do Fies até o segundo semestre de 2017
e os seus aditamentos observarão o seguinte: (Redação dada pela Lei nº 13.530, de 2017)

(...)

II - juros, capitalizados mensalmente, a serem estipulados pelo CMN;

(...)

§ 10. A redução dos juros, estipulados na forma estabelecida pelo inciso II do caput deste
artigo, ocorrida anteriormente à data de publicação da Medida Provisória no 785, de 6 de
julho de 2017, incidirá sobre o saldo devedor dos contratos já formalizados. (Redação dada
pela Lei nº 13.530, de 2017)

Nesse contexto, a redução da taxa de juros a zero é aplicável ao contrato do demandante,


ainda que firmado em 2014.

Assinale-se que assim já decidiu a 5ª Turma Recursal no julgamento do Recurso de Medida


Cautelar nº 5013725-90.2022.4.04.7100, Relator Andrei Pitten Velloso, em 24 de março de
2022.

Logo, o feito merece solução de parcial procedência para que seja aplicada ao contrato da
parte autora a previsão do §10º do art. 5º da Lei nº 10.260/2001, com a redação conferida
pela Lei nº 13.530/2017.

Do pedido de tutela de urgência.

Em sede de tutela de urgência, a autora requer seja retirado o seu nome dos cadastros de
proteção ao crédito em face da revisão contratual.

Em razão da parcial procedência da pretensão, merece acolhimento


o pedido de antecipação dos efeitos da tutela de urgência, para determinar à CEF que se
abstenha de proceder a inclusão do nome da requerente nos cadastros dos órgãos de
proteção ao crédito, em relação ao contrato discutido nos autos, até que seja revisado o saldo
devedor do contrato nº 18.3689.185.0003547-01 para adequação da redução de juros, bem
assim, caso já efetivada inscrição, proceda à exclusão, no prazo de 10 (dez) dias a contar da
intimação desta sentença.

III - DISPOSITIVO:

Ante o exposto, REJEITO as preliminares arguidas, defiro a tutela de urgência e, no


mérito, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido, nos termos do art. 487, inciso I, do
Código de Processo Civil, para o efeito de determinar a revisão do saldo devedor
do contrato n° 18.3689.185.0003547-01, mediante a redução da taxa de juros a zero, nos
termos da fundamentação.

Intimem-se.
Custas e honorários advocatícios incabíveis na espécie (art. 54 da Lei nº 9.099/90 c/c art. 1º da
Lei 10.259/01).

Havendo recurso, abra-se vista à parte contrária para resposta e após remetam-se os autos à
Turma Recursal.

Publicada e registrada eletronicamente. Intimem-se.

Após o trânsito em julgado da sentença, arquivem-se os autos.

Também foi a decisão em sede de tutela de urgência no processo judicial nº 5076077-


21.2021.4.04.7100/JFRS:

DESPACHO/DECISÃO

Trata-se de ação entre as partes acima, pela qual se objetiva, em sede de tutela de urgência, a
aplicação da taxa zero de juros sobre o saldo devedor do contrato, a partir de janeiro de 2018,
implicando em redução da parcela de R$ 424,04 para R$ 332,38.

Segundo a narrativa da inicial, o autor firmou com a Caixa contrato de financiamento


estudantil em 23/07/2012, com limite de crédito global de R$ 49.679,88. Foram realizados
aditamentos simplificados durante o período de utilização, de modo que não houve alteração
no valor do limite global inicialmente concedido. Na planilha de simulação, houve indicação
do valor de R$ 337,72 para as prestações iniciais da fase de amortização, considerando o saldo
devedor inicial de R$ 38.638,00, no entanto, desde o início desta fase (agosto/2017), o autor
vem efetuando o pagamento do montante de R$ 424,04.

Argumenta o demandante que, a despeito de o contrato prever a taxa anual de juros


remuneratórios de 3,4%, deve incidir sobre o saldo devedor do contrato a taxa zero de juros,
por aplicação do disposto na Resolução nº 4.628/2018 do Conselho Monetário Nacional c/c o
art. 5º, §10º, da Lei nº 10.260/2001.

Os réus apresentaram contestação, mas deixaram de debater sobre o ponto controvertido da


lide (eventos 28 e 29).

Intimados a se manifestarem especificamente sobre o pedido de tutela de urgência (evento


42):

a) a Caixa asseverou que o contrato em questão foi firmado em 23/07/2012, antes da


publicação da Resolução n. 4.628/2018, de modo que os termos desta não seriam aplicáveis
em favor do autor (evento 48).

b) o FNDE argumentou que:


caberá ao agente financeiro de vínculo do contrato, demonstrar a adequação do saldo devedor
exigido, à metodologia aqui exposta e aos valores que foram repassados à IES demonstrados
no extrato de repasses, como formadores do saldo devedor. Assim como dispor sobre a
possibilidade de aplicar a taxa zero de juros descrita na intimação alhures transcrita.(evento
49)

Decido.

O inc. II do art. 5º-C da Lei nº 10.260/2001, incluído pela Lei nº 13.530/2017, citado pela
própria autora, dispõe que a taxa real de juros para os financiamentos concedidos a partir do
primeiro semestre de 2018, deve ser igual a zero:

Art. 5º-C. Os financiamentos concedidos a partir do primeiro semestre de 2018 observarão


o seguinte: (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017)

[…]

II - taxa de juros real igual a zero, na forma definida pelo Conselho Monetário Nacional;
(Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017)

Já no que tange aos contratos firmados em momento anterior, o § 10 do art. 5º da Lei nº


10.260/2001, com a redação dada pela Lei nº 13.530/2017, determina a redução dos juros
estipulados sobre o saldo devedor dos contratos já formalizados:

Art. 5º. Os financiamentos concedidos com recursos do Fies até o segundo semestre de
2017 e os seus aditamentos observarão o seguinte: (Redação dada pela Lei nº 13.530, de
2017)

[...]

§ 10. A redução dos juros, estipulados na forma estabelecida pelo inciso II do caput deste
artigo, ocorrida anteriormente à data de publicação da Medida Provisória no 785, de 6 de
julho de 2017, incidirá sobre o saldo devedor dos contratos já formalizados. (Redação dada
pela Lei nº 13.530, de 2017)

Assim, não cabe à Caixa argumentar, como no evento 48, que a redução somente se aplica aos
contratos firmados a partir de 29/01/2018.

Defiro, pois a tutela, para que seja comprovado pelos réus, o cumprimento do disposto no §
10 do art. 5º da Lei nº 10.260/2001, com a redação dada pela Lei nº 13.530/2017, no prazo de
cinco dias úteis.

Sem prejuízo, voltem os autos conclusos para sentença.


Por fim, até a 5ª Turma Recursal já decidiu acerca dos juros “zero” no julgamento do
Recurso de Medida Cautelar nº 5013725-90.2022.4.04.7100, Relator Andrei Pitten
Velloso, em 24 de março de 2022.

 Precedente do Superior Tribunal De Justiça

O Fies foi criado em 1999 e é um programa sucessor ao chamado Crédito Educativo. Em


2010, as regras do Fies mudaram: as taxas de juros de financiamento caíram de 6,5%
para 3,4%, pela norma disposta no art. 5º , II , da Lei 10.260 /2001 e Resolução nº
3.842, de 10 de março de 2010.

Na ocasião o STJ julgou que a redução da taxa de juros deveria reduzir para 3,4%, para
todos os contratos, inclusive para aqueles firmados antes da referida norma.

Neste sentido a decisão do Recurso Especial 1712479:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. FIES. REDUÇÃO DOS JUROS INCLUSIVE DO


SALDO DEVEDOR. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA. 1. A
apontada divergência deve ser comprovada, cabendo a quem recorre demonstrar as
circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados, com indicação
da similitude fática e jurídica entre eles. Indispensável a transcrição de trechos do
relatório e do voto dos acórdãos recorrido e paradigma, realizando-se o cotejo
analítico entre ambos, com o intuito de bem caracterizar a interpretação legal
divergente. O desrespeito a esses requisitos legais e regimentais (art. 541, parágrafo
único, do CPC e art. 255 do RI/STJ) impede o conhecimento do Recurso Especial com
base na alínea c, III, do art. 105 da Constituição Federal. 2. O TRF interpretou
corretamente a norma disposta no art. 5º, II, da Lei 10.260/2001, porquanto
determinou a redução dos juros, inclusive dos saldos devedores de todos os contratos,
até mesmo os celebrados anteriormente à vigência da lei, aplicando-se a taxa de juros
de 3,4% ao ano. 3. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não
provido.
(STJ - REsp: 1712479 SP 2017/0302744-0, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data
de Julgamento: 15/03/2018, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe
16/11/2018)
Ainda no voto do relator, Exmo. Sr. Ministro Herman Benjamin fez constar: Saliente-se
que, a partir de 15.01.10, quando entrou em vigor a Lei nº 12.202⁄2010, a redução
dos juros se estende aos saldos devedores de todos os contratos, ainda que firmados
anteriormente. Assim, para todos os contratos celebrados no âmbito do FIES, ainda
que anteriores à 15.01.10, a partir dessa data aplica-se a taxa de juros de 3,5% ao
ano e, a partir de 10.03.10, a taxa de juros de 3,4% ao ano. Aplicam-se
também eventuais reduções da taxa de juros que venham a ser determinadas pelo
CMN.

Portanto é devida a redução dos juros mesmo para o contratos anteriores a


publicação da Lei 13.530/2017.

 PERDÃO DA DÍVIDA – Lei nº 14.375/2022

A Medida Provisória n.º 1.090/2021 criou uma injustiça tremenda aos usuários
adimplentes do FIES. Referida norma concedeu uma redução do saldo global da dívida
de até 92% para os inadimplentes (portanto o que de fato está previsto é o Perdão da
Dívida), porém não trouxe basicamente benefício algum para os pagantes regulares.

A Medida Provisória foi convertida na Lei nº 14.375/2022 que modificou os percentuais


de perdão da dívida para 77% e 99%.

Quadro resumo da Lei 14.375/2022:


Previsão normativa Situação do contratante Benefício
Art. 5º, §4º, inciso VI da Lei Inadimplente há mais de 360 dias a) Perdão da dívida de
99% para quem tenha Cadastro
10.260, modificado pela Lei
Único ou tenha recebido o
14.375/2022; auxílio emergencial 2021;
b) 77% de perdão da
dívida para os demais.

Art. 5º, §4º, inciso V da Lei Inadimplente há mais de 90 dias a) Desconto da totalidade
dos encargos;
10.260, modificado pela Lei e menos de 360 dias
14.375/2022; b) Perdão da dívida de
12% para pagamento à vista; ou
. parcelamento em até 150
parcelas com redução de juros e
multas;

Art. 1º, inciso IV da Resolução Adimplentes 12% de desconto apenas para


pagamento à vista
FNDE nº 51, de 21 de julho de
2022

Nítido o tratamento desigual, sem justificativa, dentre os inadimplentes há mais de 360


dias e os demais.

Veja como exemplo dois alunos (A e B) que usaram o FIES para o curso de medicina a
partir de 2013. Ambos teriam concluído o curso em 2018, restando um débito com o
FIES de aproximadamente R$500.000,00 para cada. Ambos iniciariam os pagamentos
das prestações (fase de amortização) em 07/2020 (considerando a carência de 18
meses), com prestações de R$2.500,00.

Considerando que o aluno A está em dia com as prestações, em 03/2022 ele já teria
quitado R$47.500,00, ainda restando um débito de R$452.500,00.

Porém neste exemplo o aluno B não quitou nenhuma prestação desde o início da fase
de amortização. Ele poderá ser beneficiado pela Lei 14.375/2022 com até 99% de
redução do total do débito, ou seja poderá quitar a dívida integral (os R$500.000,00)
por apenas R$5.000,00 (99% de desconto).

Conceder o perdão de 77% a 99% da dívida apenas para os contratantes inadimplentes


é uma afronta ao princípio da igualdade, por tratar distintamente os contratantes
adimplentes e os contratantes inadimplentes.
O legislador (seja oriundo do poder legislativo ou executivo) não pode editar normas
que se afastem do princípio da igualdade, sob pena de flagrante inconstitucionalidade.
O intérprete e a autoridade política não podem aplicar as leis e atos normativos aos
casos concretos de forma a criar ou aumentar desigualdades.

Não se revela compatível com o princípio republicano e o princípio da igualdade a


outorga de tratamento diferenciado a determinado indivíduo, sem que esteja presente
o fator de diferenciação que justifique tal medida.

Aliás, a própria norma prevê que a Lei deverá observar o PRINCÍPIO DA ISONOMIA:

Art. 1º Esta Lei altera as Leis nºs 10.260, de 12 de julho de 2001, 10.522, de 19 de
julho de 2002, e 12.087, de 11 de novembro de 2009, para estabelecer os requisitos e
as condições para realização das transações resolutivas de litígio relativas à cobrança de
créditos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), a Lei nº 10.861, de 14 de abril de
2004, para estabelecer a possibilidade de avaliação in loco na modalidade virtual das
instituições de ensino superior e de seus cursos de graduação, a Lei nº 13.988, de 14 de
abril de 2020, para aperfeiçoar os mecanismos de transação de dívidas, e a Lei nº
13.496, de 24 de outubro de 2017.

Parágrafo único. Para fins do disposto nesta Lei, serão observados, entre outros, os
princípios:

I - da isonomia;

Impende trazer à tona a bela manifestação do Ministro Celso de Mello (STF):

O princípio da isonomia, que se reveste de autoaplicabilidade, não é – enquanto


postulado fundamental de nossa ordem político-jurídica – suscetível de regulamentação
ou de complementação normativa. Esse princípio – cuja observância vincula,
incondicionalmente, todas as manifestações do poder público – deve ser considerado,
em sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir privilégios (RDA
55/114), sob duplo aspecto: (a) o da igualdade na lei; e (b) o da igualdade perante a lei.
A igualdade na lei – que opera numa fase de generalidade puramente abstrata –
constitui exigência destinada ao legislador que, no processo de sua formação, nela não
poderá incluir fatores de discriminação, responsáveis pela ruptura da ordem isonômica.
A igualdade perante a lei, contudo, pressupondo lei já elaborada, traduz imposição
destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da norma legal, não poderão
subordiná-la a critérios que ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. A eventual
inobservância desse postulado pelo legislador imporá ao ato estatal por ele elaborado e
produzido a eiva de inconstitucionalidade.
[MI 58, rel. p/ o ac. min. Celso de Mello, j. 14-12-1990, P, DJ de 19-4-1991.]

Pois bem, deste entendimento, pode-se extrair que o princípio da isonomia deve obstar
discriminações e extinguir privilégios, devendo zelar pela igualdade na lei, a qual constitui
“exigência destinada ao legislador que, no processo de sua formação, nela não poderá
incluir fatores de discriminação, responsáveis pela ruptura da ordem isonômica”.

O fato de estar adimplente ou inadimplente em relação a uma obrigação não perfaz


critério valorativo razoável e justificável para conceder o perdão da dívida a este e não
conceder àquele. Portanto deve ser afastado tal critério discriminatório, devendo o
perdão da dívida alcançar o contratante adimplente.

DO PEDIDO

Ante o exposto, requer se digne Vossa Excelência de rechaçar todas as preliminares e


argumentos aventadas na contestação, com o consequente acolhimento de todos os
pedidos elencados na exordial.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Venâncio Aires, 10 de novembro de 2022.

DAVI MÜLLER RANGEL


OAB/RS nº. 105.776

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