Cálculo de Perda de Carga em Escoamentos Bifásicos em Tubulações

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CÁLCULO DE PERDA DE CARGA EM

ESCOAMENTOS BIFÁSICOS EM
TUBULAÇÕES

Luiz Felipe Mandetta Clementino


Fernando Nogueira Cardoso

Projeto Final de Curso

Orientadores:
Prof. Fernando Luiz Pellegrini Pessoa, D.Sc.
Prof. Carlos Eduardo P. Siqueira Campos, D.Sc.

Agosto de 2011
CÁLCULO DE PERDA DE CARGA EM ESCOAMENTOS
BIFÁSICOS EM TUBULAÇÕES

Luiz Felipe Mandetta Clementino

Fernando Nogueira Cardoso

Projeto Final de Curso submetida ao Corpo Docente da Escola de Química,


como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Engenheiro
Químico.

Aprovado por:

Raquel Massad Cavalcante, M.Sc

Fábio Pereira dos Santos, M.Sc

Rogerio Amadeu Pereira, B.Sc

Orientado por:

Fernando Luiz Pellegrini Pessoa, D.Sc.

Carlos Eduardo P. Siqueira Campos, D.Sc.

Rio de Janeiro, RJ – Brasil


Agosto de 2011

ii
Clementino, Luiz Felipe Mandetta. Cardoso, Fernando Nogueira

Cálculo de perda de carga em escoamentos bifásicos em tubulações / Luiz


Felipe Mandetta Clementino, Fernando Nogueira Cardoso - Rio de Janeiro:
UFRJ/EQ, 2011.

x, 49 p.;il.

(Monografia) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Química,


2011.

Orientadores: Prof Fernando Luiz Pellegrini Pessoa e Carlos Eduardo P.


Siqueira Campos

1. Perda de Carga. 2. Escoamento Bifásico. 3. Simulação. 4. Monografia.


(Graduação – UFRJ/EQ). 5. Prof Fernando Luiz Pellegrini Pessoa e Carlos
Eduardo P. Siqueira Campos. I . Cálculo de perda de carga em escoamentos
bifásicos em tubulações.

iii
Agradecimentos

Aos meus familiares, pelo incentivo e apoio durante toda a caminhada na


Universidade.

Aos meus amigos, pelo apoio, amizade e compartilhamento de alegrias e


tristezas em todos os momentos de minha vida.

Aos meus orientadores, pela compreensão, apoio e paciência mostrando os


caminhos a serem seguidos durante o período da realização deste projeto final
de curso.

A todos os professores e profissionais que auxiliaram de forma direta ou


indireta na conclusão deste trabalho, colaborando para a construção de meu
futuro profissional.

iv
Resumo do Projeto Final de Curso apresentado à Escola de Química como
parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheiro
Químico.

ESTUDO DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS EM TUBULAÇÕES

Luiz Felipe Mandetta Clementino

Fernando Nogueira Cardoso

Agosto, 2011

Orientadores: Prof. Fernando Luiz Pellegrini Pessoa, D.Sc.

Prof. Carlos Eduardo P. Siqueira Campos, D.Sc.

O estudo do escoamento de fluidos em tubulações é um assunto


constantemente estudado, principalmente devido a sua grande importância
industrial na área de óleo e gás. Para o estudo de escoamento de um fluido,
um parâmetro muito importante é a perda de carga onde este é utilizado para o
projeto de bombas e assim diretamente relacionado ao consumo de energético
de uma planta. Assim, este trabalho tem por finalidade apresentar uma
comparação entre várias correlações existentes na literatura para o cálculo da
perda de carga em escoamentos bifásicos. Seguindo recomendações da
literatura para o melhor uso de cada uma das correlações, um programa
computacional foi desenvolvido com o objetivo de realizar o cálculo. A
validação desse software foi realizada através de estudos de caso de
processos presentes na área de óleo e gás. Os resultados obtidos foram
semelhantes aos da literatura, permitindo a validação do programa
desenvolvido.

v
Sumário

Lista de Figuras .............................................................................................................................vii


Lista de Tabelas ........................................................................................................................... viii
Nomenclatura................................................................................................................................ix
1. Introdução ............................................................................................................................. 1
1.1. Objetivos ....................................................................................................................... 3
2. Revisão Bibliográfica ............................................................................................................. 4
2.1. Perda de carga em escoamentos homogêneos ............................................................ 4
2.2. Fundamentos de Escoamentos Bifásicos Gás-Líquido .................................................. 7
2.3. Padrões de Escoamento ................................................................................................ 8
2.4. Mapas Empíricos de Padrões de Escoamento ............................................................ 11
2.5. Escoamento Bifásico Horizontal .................................................................................. 23
2.6. Escoamento Bifásico Vertical ...................................................................................... 27
3. Software PCT ....................................................................................................................... 29
3.1. Funções ....................................................................................................................... 29
3.1.1. Escoamento Horizontal ....................................................................................... 29
3.1.2. Escoamento Vertical............................................................................................ 30
3.2. Interface ...................................................................................................................... 30
3.2.1. Janela Principal .................................................................................................... 31
3.2.2. Novo Cálculo........................................................................................................ 32
3.2.3. Novo Trecho Horizontal ...................................................................................... 32
3.2.4. Novo Trecho Vertical ........................................................................................... 34
4. Estudo de Casos .................................................................................................................. 36
4.1. Raghu Raman (1985) ................................................................................................... 36
4.2. Souza (2009) – Trecho Horizontal ............................................................................... 39
4.3. Elevação de Petróleo de um Poço ............................................................................... 41
5. Conclusões........................................................................................................................... 43
6. Referências Bibliográficas ................................................................................................... 45
ANEXO I ....................................................................................................................................... 49

vi
Lista de Figuras

Figura 1.1: Exemplo de tubulações em plataforma de petróleo (Thomas, 2001) ........................ 2


Figura 2.1: Padrões de escoamento horizontal (Mandhane et al., 1974)................................... 10
Figura 2.2: Mapa de Baker (1954) ............................................................................................... 12
Figura 2.3: Mapa de Beggs e Brill (1973)..................................................................................... 14
Figura 2.4: Mapa de Mandhane et al. (1974).............................................................................. 18
Figura 2.5: Mapa de Spedding e Nguyen (1980) ......................................................................... 22
Figura 3.1: Interface do PCT ........................................................................................................ 31
Figura 3.2: Novo Cálculo.............................................................................................................. 32
Figura 3.3: Janela para adicionar novo trecho Horizontal .......................................................... 33
Figura 3.4: Janela para adicionar novo trecho Vertical ............................................................... 35

vii
Lista de Tabelas

Tabela 2.1 : Constantes relativas ao padrão de escoamento ..................................................... 16


Tabela 2.2 : Constantes relativas ao fator CBB ............................................................................. 16
Tabela 4.1: Valores das propriedades utilizadas por Raghu Raman (1985) ................................ 37
Tabela 4.2: Resultados obtidos por Raghu Raman (1985) e pelo PCT ........................................ 38
Tabela 4.3: Valores das propriedades utilizadas por Souza (2009)............................................. 39
Tabela 4.4: Resultados para os casos retirados de Souza (2009) ............................................... 40
Tabela 4.5: Valores das propriedades utilizadas para um Poço Real .......................................... 41
Tabela 4.6: Resultados para a simulação de um poço real ......................................................... 41

viii
Nomenclatura

Letras Latinas Descrição

Pressão
Comprimento da Tubulação
Velocidade do fluido
Fator de Atrito de Fanning
Diâmetro Interno
Número de Reynolds
Número de Froude

1
Aceleração da gravidade

2
Fator de correção das funções de fronteira dos padrões - Mapa de Baker
Fator de correção das funções de fronteira dos padrões - Mapa de Baker
Velocidade superficial do liquid
Velocidade superficial do gás
Linha de transição entre padrões de escoamentos
Linha de transição entre padrões de escoamentos
Linha de transição entre padrões de escoamentos
Linha de transição entre padrões de escoamentos
Coeficiente de Beggs & Brill
Constante relativa ao Coeficiente de Beggs & Brill
Número de velocidade do líquido
Equação da transição do padrão segregado para o intermitente/distribuído
Equação da transição do padrão intermitente para o distribuído
Coeficiente de Mandhane et al.
Coeficiente de Mandhane et al.
Holdup da fase gasosa
! Velocidade Mássica
"# Vazão mássica da fase gasosa
"# Vazão mássica da fase líquida
Parâmetro de Martinelli
Parâmetro da Equação de Chisholm
$% Fator de aceleração
Holdup do Líquido

Letras Gregas

&
'
Densidade
Viscosidade

ix
(
)
Rugosidade da Tubulação

*
Tensão superficial dos fluidos

+
Fração de descarga

,
Fração de volume da fase

-
Fator de correção da fração de líquido para escoamento inclinado

.
Parâmetro da Equação do Holdup Líquido

/
Multiplicador de Martinelli

-
Parâmetro da Equação do Holdup Líquido
Ângulo de inclinação do tubo a partir da horizontal

Subscritos

G Gás
A Ar
L Líquido
W Água
BB Beggs-Brill
LS Líquido Superficial
T Total
tp Duas Fases (two-phase)

x
1. Introdução
O uso de tubulações como meio de transporte de fluidos, sobretudo de
líquidos, é uma prática antiga e bem documentada ao longo dos tempos. Os
chineses utilizavam bambus (Machado, 2005), os egípcios e astecas materiais
cerâmicos e os gregos e romanos empregavam tubos de chumbo.

Os principais usos para tubulações estão na construção civil, na


indústria como um todo e em projetos de engenharia naval e oceânica. Os
fluidos podem ser considerados monofásicos ou multifásicos. No caso deste
trabalho, o algoritmo utilizado é válido para o uso com escoamentos bifásicos.

Um fluido importante e utilizado constantemente por diversos estudos é


o petróleo. Atualmente é uma das principais fontes de energia utilizada pelo
homem, assim como serve de matéria-prima para uma série de produtos
(Minadeo, 2002). As tubulações utilizadas para o escoamento de petróleo e
seus derivados provenientes de locais de exploração de produção são
chamados de oleodutos.

O primeiro oleoduto para transporte de petróleo foi construído em 1865


na Pensilvânia e ligava um campo de produção a uma estação de
carregamento de vagões a uma distância de cerca de 8 km. Possuía um
diâmetro nominal de aproximadamente 5 cm e usava tubos de ferro fundido e
foi projetado para substituir a mão de obra de carroceiros, que faziam este
transporte com base em tração animal (Terzian, 2005).

No Brasil, os primeiros oleodutos também estiveram ligados ao


escoamento de petróleo a partir dos locais de produção. A primeira linha de
que se tem registro foi construída na Bahia apresentando 1 km de extensão.
Esse duto ligava a Refinaria Experimental de Aratu ao Porto de Santa Luzia
que recebia o petróleo dos "Saveiros-Tanques" vindos dos campos de Itaparica
e Joanes, com início de operação em maio de 1942 (Terzian, 2005).

No cenário atual, a produção de petróleo no Brasil está concentrada


como sendo off-shore, onde dutos são utilizados em plataformas cada vez mais
distantes da costa e utilizando tubulações cada vez maiores. (Figura 1.1)

1
Figura 1.1: Exemplo de tubulações em plataforma de petróleo (Thomas, 2001)

Escoamentos bifásicos são muito comuns em processos industriais


envolvendo ebulição de líquidos e condensação de vapores. Exemplos típicos
são os chamados refervedores e condensadores, equipamentos essenciais à
operação de unidades de destilação atmosférica e a vácuo, comumente
encontrados em refinarias de petróleo. Por outro lado, o fato de que petróleo e
gás natural ocorrem quase sempre associados nos reservatórios, leva
inevitavelmente ao aparecimento desse tipo de escoamento tanto na fase de
avaliação do poço quanto na de produção.

No caso de extração e produção de petróleo off-shore, por exemplo, é


utilizado um processo de bombeio submerso do petróleo para a superfície
conhecido como Bombeio Centrífugo Submerso (BCS) (Thomas, 2001) onde a
mistura bifásica gás-óleo é bombeada para a superfície. As bombas centrífugas
utilizadas são projetadas de acordo com a perda de carga do sistema.

2
Assim, o estudo do comportamento de um fluido bifásico em tubulações,
tanto verticais como horizontais, é de grande importância para as indústrias,
principalmente a de petróleo e gás que possuem grandes linhas de transporte
de fluidos.

1.1. Objetivos
Considerando o cenário apresentado, este trabalho tem por objetivo
apresentar um algoritmo utilizando formas analíticas tradicionais para o cálculo
da perda de carga em escoamentos bifásicos verticais e horizontais em
tubulações utilizando correlações diferentes e levando em consideração as
melhores condições de uso segundo o estudo de Weisman e Choe (1978).

Como ferramenta de cálculo, um programa computacional foi


desenvolvido na linguagem C#.NET, onde após a introdução de uma série de
parâmetros, o mesmo é capaz de calcular a perda de carga do processo em
estudo.

3
2. Revisão Bibliográfica
Um parâmetro bastante importante para o estudo do comportamento
fluidodinâmico é a perda de carga que o fluido apresenta em uma tubulação,
seja horizontal, vertical ou inclinada. Para o cálculo deste parâmetro é
necessário saber os limites do escoamento para o fluido e estimar o quanto de
energia seria gasto para promover o escoamento.

O modelo mais simples seria para o caso de escoamento homogêneo,


considerando que o fluido tenha apenas uma fase. Esse tipo é bastante comum
e possui muitas referências na literatura sobre o cálculo de perda de carga.
Mas, no caso deste trabalho, será falado sobre escoamentos bifásicos onde as
correlações existentes para o cálculo de perda de carga serão abordadas.

2.1. Perda de carga em escoamentos homogêneos


A perda de carga em tubulações devido ao atrito com a parede, ∆ , é
expressa em termos do fator de atrito de Fanning (Equação 2.1) (Fox, 2006).

∆ 2 &
= (2.1)

Onde:

• é o fator de fricção de Fanning,


• & é a densidade,
• é a velocidade superficial na tubulação,
• é o diâmetro da da tubulação
• é o comprimento da tubulação

O fator de fricção está relacionado como o número de Reynolds através


de uma série de correlações, dependendo o tipo de regime de escoamento,
laminar, de transição ou turbulento. O número de Reynolds pode ser calculado
através da equação (2.2) (Fox, 2006).

&
=
'
(2.2)

4
O significado fundamental do número de Reynolds é que o mesmo
permite avaliar o tipo do escoamento (a estabilidade do fluxo) e pode indicar se
flui de forma laminar ou turbulenta. Admite-se o valor de 2100 como limite para
fluxo laminar onde o fluido escoa de forma homogênea sem variar no gradiente
da área da seção transversal da tubulação. Para valores entre 2100 e 4000, o
fluxo é considerado como estando em um regime de transição, e para valores
maiores que 4000 o fluxo será turbulento (Fox, 2006).

O cálculo do fator de fricção de Fanning pode ser determinado de forma


gráfica mediante o diagrama de Moody, tanto entrando-se com o número de
Reynolds (regime laminar) quanto com o número de Reynolds e a rugosidade
relativa (regime turbulento), ou pode ser calculado de acordo com as seguintes
equações (2.3) e (2.4), sempre levando em conta a região do regime de
escoamento (Fox, 2006).

• Região Laminar ( ≤ 2100)

16
= (2.3)

• Região de transição (2100 < < 4000 )

Utilizando a equação de Colebrook (1939):

1 (⁄ 2,51
= −2 log = + D
8 3,7 8
(2.4)

Para evitar cálculos iterativos na equação anterior, podemos utilizar a


equação dada por Zigrang e Sylvester (1982) (Equação 2.5) que obtém valores
similares sem o uso de cálculos iterativos.

1 (⁄ 5,02 (⁄ 5,02 (⁄ 13
= −4 log = − log = − log = − DDD
8 3,7 3,7 3,7
(2.5)

5
• Região Turbulenta ( ≥ 4000)

Para esta faixa de , pode-se utilizar a equação de von Karman (1930)


onde o autor calcula o fator de fricção levando em consideração a rugosidade
relativa da tubulação, ou seja, de acordo com o valor de F( ⁄ G .

− Tubulação lisa F( ⁄ G = 0

1
= 4 logH 8 I − 0,4
8
(2.6)

− Tubulação com rugosidade F( ⁄ G > 0

1 1 (
= 4 log K L + 2,28 NOPO 8
8 (⁄
(2.7)

Neste mesmo contexto podemos definir outros números adimensionais


importantes para o estudo de escoamentos.

Número de Froude ( ) (Fox, 2006):

=
8
(2.8)

Onde:

• Q é a velocidade média do fluido (m/s)

• é a aceleração da gravidade (m/s²)

• é a profundidade do fluido (m)

6
O número de Froude é um adimensional importante, permitindo o
estabelecimento de diferentes interações. Ele separa os escoamentos
supercríticos dos subcríticos, e seu valor, no regime crítico, é 1 (Fox, 2006).

• Escoamento super-crítico: o número de Froude é maior do que 1

• Escoamento sub-crítico: o número de Froude é menor do que 1

A condição crítica de escoamento ocorre quando a energia específica é


mínima, ou seja, corresponde ao limite entre os regimes subcrítico e
supercrítico. Desta forma sempre que ocorrer mudança no regime de
escoamento, a profundidade deve passar pelo seu valor crítico. Esta
passagem, no entanto, pode ocorrer de forma gradual ou brusca, de acordo
com o regime do escoamento de montante e com a singularidade que provocou
a variação.

A importância de conhecer este valor é porque o escoamento no regime


crítico não é estável e a menor mudança de energia especifica provoca
alteração no regime de escoamento.

2.2. Fundamentos de Escoamentos Bifásicos Gás-Líquido


Na indústria do petróleo, os escoamentos bifásicos gás-líquido ocorrem
freqüentemente em oleodutos submarinos e terrestres onde o óleo e o gás,
sujeitos às diferentes temperaturas e pressões, podem originar incrustações
nas paredes internas do tubo que comprometem o escoamento (Thomas,
2001). O conhecimento do padrão de escoamento ajuda a projetar
equipamentos e determinar pontos de operação e materiais a serem utilizados
por exemplo.

O padrão de escoamento intermitente (pistonado e slug) é um dos mais


comuns no escoamento bifásico e por apresentar uma distribuição não
uniforme das fases e uma instabilidade de suas interfaces é um dos mais
complexos. A predição de parâmetros bifásicos no escoamento intermitente,
como as velocidades e comprimentos das bolhas alongadas e dos pistões de

7
líquido são de particular interesse, pois apresentam grande influência nos
processos de troca térmica.

Quando gás e líquido fluem simultaneamente em um tubo, vários tipos


de fluxo podem ocorrer, diferindo um do outro pela distribuição espacial da
interface. Estas configurações são designadas como regimes ou padrões de
escoamento. De acordo com Whalley (1996), o regime de escoamento
depende:

• das vazões de líquido e de gás;

• das propriedades dos fluidos (massa específica, viscosidade e tensão

superficial);

• das condições de operação (pressão, temperatura, gravidade, etc);

• das características geométricas do duto: forma, diâmetro e inclinação.

Há diversos padrões ou regimes de escoamento em tubulações. A


classificação dos padrões de escoamento horizontal, objeto deste trabalho,
segundo Mandhane et al. (1974) é vista a seguir.

2.3. Padrões de Escoamento


Em escoamentos bifásicos gás-líquido, dependendo da taxa relativa de
escoamento das fases e das propriedades físicas, o escoamento é classificado
em um padrão. O conhecimento do padrão é importante e necessário para o
desenvolvimento da solução do problema. Os tipos de padrões de escoamento
podem ser classificados segundo os tipos:

• Escoamento em bolhas (Bubbly flow)

Este padrão está enquadrado dentro dos escoamentos chamados


dispersos. Nesta configuração as bolhas tendem a escoar na parte superior do
tubo uma vez que a fase dispersa é menos densa do que a contínua. Estas
bolhas podem se apresentar na forma esférica em pequenos diâmetros ou em
tamanhos maiores com formas elípticas alongadas.

8
Quando a velocidade do líquido aumenta o escoamento tende a se
tornar mais disperso e com bolhas menores. (Figura 2.1a).

• Escoamento pistonado (Plug flow)

À medida que a velocidade da fase gás aumenta, ocorre o


coalescimento das bolhas, formando bolhas maiores e alongadas. Devido a
diferença de velocidade das fases ocorre a formação de pistões de líquido,
também chamados na literatura de “slugs de líquido”. As bolhas tendem a
escoar pela metade superior do conduto. Neste caso, esta condição
assimétrica é mantida independentemente da velocidade de escoamento,
devido ao maior tamanho das bolhas (Figura 2.1b).

• Escoamento estratificado liso (Stratified Smooth Flow)

Acontece em velocidades muito baixas de líquido e gás. As duas fases


são separadas por uma interface lisa sem ondulações (Figura 2.1c).

• Escoamento estratificado ondulado (Wavy flow)

Quando no escoamento estratificado a velocidade do gás aumenta,


aparecem oscilações na interface, ou seja, surgem ondas que não chegam a
tocar na região superior do tubo. O padrão e amplitude da onda variam com as
flutuações das vazões das fases gás e líquido e com as propriedades físicas do
fluido como a densidade e tensão superficial (Figura 2.1d).

• Escoamento slug (Slug flow)

É similar ao escoamento pistonado, porém como a velocidade do gás é


maior do que a velocidade do líquido, formam-se ondas (“slugs de líquido”)
maiores, que periodicamente atingem a parede superior do tubo, gerando
grandes bolhas de gás presas entre duas ondas. Pequenas bolhas de gás
misturam-se a fase líquida tornado-a altamente aerada. Este escoamento é
caótico uma vez que os pistões de líquido são intermitentes e não periódicos
(Figura 2.1e).

9
• Escoamento anular (Annular flow)

Aumentando-se ainda mais a velocidade do gás, haverá concentração


desse no centro do tubo com a formação de uma camada de líquido totalmente
em contato com a parede do tubo. A camada de líquido é geralmente muito
mais espessa na parte inferior do tubo devido à ação da gravidade. A fase gás
escoa em alta velocidade e frequentemente apresenta quantidade significativa
de gotículas líquidas dispersas (Figura 2.1f).

Figura 2.1: Padrões de escoamento horizontal (Mandhane et al., 1974)

10
2.4. Mapas Empíricos de Padrões de Escoamento
Nesta seção será feita uma revisão de mapas empíricos de padrões de
escoamento bifásico em tubulação horizontal de seção transversal circular. Um
grande número de dados relativos aos padrões de escoamentos,
predominantemente ar-água, são encontrados na literatura. Obviamente existe
uma necessidade em generalizar os dados disponíveis a fim de cobrir uma
larga faixa de parâmetros como as propriedades dos fluidos, dimensão da
tubulação e das condições de operação.

Baker (1954) reconheceu a importância dos padrões de escoamento


como ponto inicial para cálculo de perda de carga, fração volumétrica e
transferência de calor e massa, propondo um mapa com padrão de
escoamento generalizado para o escoamento horizontal.

Mapas empíricos típicos de padrões de escoamento são constituídos a


partir de dados experimentais, onde nos eixos coordenados são utilizados
grupos adimensionais, velocidades superficiais das fases ou fluxos de massa
ou momento. Nestes mapas os diferentes padrões de escoamento bifásico são
apresentados na forma de regiões divididas por linhas de transição. Estas
linhas representam fronteiras de regiões nas quais a ocorrência de um padrão
específico de escoamento é observada. Devido às interfaces transientes nos
escoamentos bifásicos, a precisão na determinação das linhas de transição é
dependente do número de experimentos executados e dos parâmetros
utilizados nos eixos coordenados do mapa. Além disso, as diferentes
classificações dos padrões de escoamento e os diferentes nomes atribuídos
por diferentes autores dificultam ainda mais o estudo e comparação entre
linhas de transição.

No mapa de Baker (1954) (Figura 2.2) as fronteiras dos vários padrões


de escoamento são mostradas em função da vazão mássica da fase gás, GG =
ρGUGS, e da razão entre as vazões mássicas das fases líquida e gás,
(GL/GG)=(ρLULS/ρGUGS), sendo acrescidos de fatores de correção, FC1 e FC2,
que levam em consideração as propriedades dos fluidos, conforme mostram as
equações 2.9 e 2.10.

11
& & V,W
1 = RK L K LU
&S &T
(2.9)

)ST ' &T


Z
2= XK L K L Y
) 'T &
(2.10)

Onde ρ, σ e µ representam respectivamente a densidade, tensão


superficial e viscosidade dos fluidos.

Figura 2.2: Mapa de Baker (1954)

O mapa foi construindo com base no escoamento bifásico ar-água na


pressão de 1 atm e tendo como valores referenciais:

• σAW = 0,073N/m é o valor utilizado para tensão superficial ar-água,

• µW = 1,0X10-3Ns/m2 é o valor utilizado para viscosidade da água,

• ρW = 997,9kg/m3 é o valor utilizado para densidade da água,

• ρA = 1,201kg/m3 é o valor utilizado para densidade do ar.

12
Então para um sistema bifásicos ar-água na pressão de 1 atm os valores
de FC1 e FC2 são iguais a 1, já que ar e água são as substâncias utilizadas
como padrões para comparações. Conseqüentemente para um sistema de
propriedades constantes o mapa apresentará os eixos coordenados
equivalentes a UGS versus ULS/UGS.

Segundo Spedding e Spence (1993) este mapa foi construído com base
nos experimentos realizados por Jenkins (1947), Gazley (1948), Alves (1954) e
Kosterin (1949).

Com a evolução dos estudos verificou-se que o mapa de Baker era


deficiente para representar o efeito de diferentes condições de escoamento.

Beggs e Brill (1973) tentaram simplificar os limites de transição entre os


padrões considerando somente três tipos de escoamento: segregado,
intermitente e distribuído. Eles realizaram seus estudos em uma seção de
testes, com tubos de diâmetros 27,4 mm e 38,1 mm, dotada de um sistema de
inclinação que permitia variar o ângulo de -90° a 90°. Os escoamentos
estratificado e anular foram agrupados como escoamento segregado, o
pistonado e slug como escoamento intermitente e o em bolhas como
distribuído. Mas no caso, os padrões de escoamento foram determinados com
a tubulação na horizontal.

Utilizando essas classificações, os autores propuseram um gráfico


totalmente adimensional, relacionando o Número de Froude (Equação 2.8),
com a fração de descarga λL. O mapa proposto por Beggs e Brill (1973) está
representado na Figura 2.3.

13
Figura 2.3: Mapa de Beggs e Brill (1973).

Empregando um ajuste que melhor atendesse seus dados


experimentais, esses autores sugeriram que as linhas de transição entre os
padrões de escoamento poderiam ser obtidas empregando as correlações
2.11-14.

= 316*V, V
(2.11)
= 0,0009252* , \]
(2.12)
= 0,10* , W \
(2.13)
= 0,5* \,^ ]
(2.14)
Os tipos de padrões são definidos através dos valores de λL e Fr da
forma:

• Segregado

− λL < 0,01 e Fr < L1

− λL ≥ 0,01 e Fr < L2

14
• Intermitente

− 0,01 ≤ λL < 0,4 e L3 < Fr ≤ L1

− λL ≥ 0,4 e L3 < Fr < L4

• Distribuído

− λL < 0,4 e Fr ≥ L1

− λL ≥ 0,4 e Fr > L4

Beggs e Brill (1973) propuseram ainda as seguintes correlações para


determinação da fração de líquido αL, representadas pela equação 2.15.

+ =+ _` , (2.15)

Onde:

• Para o escoamento horizontal

+ =+ _` (2.16)

• Para o escoamento inclinado

O*a
+ = O* a
_`
Pb
(2.17)

, = 1+ csinF1,8- G − 0,333 sin F1,8- Gg (2.18)

= F1 − * G lnH *h PjI
i
(2.19)

& Z
= 1,938 K L
)
(2.20)

Observações:

• β é o ângulo de inclinação do tubo,


• αLHor > λL ,

15
• é o coeficiente de Beggs & Brill - > 0 (se um valor negativo for obtido,
considerar = 0),
• , é o fator de correção da fração de líquido (αL) para diferentes ângulos de
inclinação do tubo,
• as constantes a, b e c são relativas ao tipo de padrão de escoamento e estão
apresentadas na Tabela 2.1,
• as constantes d, e, f e g são relativas a equação 2.19 e estão apresentadas na
Tabela 2.2,
• No padrão de escoamento distribuído ascendente não se aplica os fatores de
correção, portanto = 0, , = 1,
• é o número de velocidade do líquido.

Tabela 2.1 : Constantes relativas ao padrão de escoamento

Padrão de escoamento a b c

Segregado 0,980 0,4846 0,0868

Intermitente 0,845 0,5351 0,0173

Distribuido 1,065 0,5824 0,0609

Tabela 2.2 : Constantes relativas ao fator CBB

Ângulo de Padrão de
d e f g
inclinação β escoamento

Ascendente β > 0 Segregado 0,011 -3,7680 3,5390 -1,6140

-
Ascendente β > 0 Intermitente 2,960 0,305 0,0978
0,4473
Ascendente β > 0 Distribuído - - - -

Descendente β < 0 Todos 4,700 -0,3692 0,1244 -0,5056

16
Segundo Hale (2000) as linhas de transição entre os padrões de
escoamento proposto por Beggs e Brill (1973) são expressas pelas equações
2.21 e 2.22.

• Transição do padrão segregado para o intermitente/distribuído


= kN ,\ ,^W^ lm no V, ] Flm no Gp V,V V^Flm no Gq (2.21)

• Transição do padrão intermitente para o distribuído


= kN ,V\ ,\V lm no ,\VrFlm no Gp V, ^rFlm no Gq sV,\W × Vuq Flm no Gv (2.22)

Em razão das linhas terem tido um ajuste que melhor atendesse aos
dados obtidos, as equações propostas por Beggs e Brill (1973) são bem
aplicáveis para sistemas similares às condições do experimento. Em particular,
o efeito de diferentes propriedades físicas não é considerado uma vez que, não
se considera a densidade, viscosidade ou a tensão interfacial nestas
correlações.

Outro mapa é o proposto por Mandhane et al. (1974) que validou um


grande número de banco de dados, cobrindo uma grande faixa de condições
operacionais, tendo sido largamente aceito e utilizado por vários
pesquisadores. Utilizando dados de 5935 observações de padrões de
escoamento, os autores classificaram em seis os padrões de escoamento:
pistonado (Plug - Bubble and elongated bubble flow), escoamento slug (slug
flow), escoamento anular (annular and annular mist flow), escoamento
estratificado liso (stratified flow), escoamento estratificado ondulado (wave flow)
e bolhas dispersas (dispersed flow). Para simplicidade construíram o mapa de
padrão de escoamento relacionando as velocidades superficiais do gás e do
líquido baseado em sistemas ar-água e subsequentemente foram aplicadas
correções das propriedades físicas de outros fluidos.

O trabalho de Mandhane et al. (1974) embora seja uma aproximação


calculada a partir de uma correlação, foi elaborado utilizando uma base de
dados maior do que Beggs e Brill (1973). Entretanto, uma vez que a maioria
dos dados foram obtidos para o escoamento ar-água em tubos de 12,7 mm a

17
165,1 mm, a localização dos limites de transição será fortemente influenciada
por esses sistemas. Apesar dessa limitação, este mapa tornou-se mais simples
de ser utilizado, bem como apresentou melhor concordância com os mapas de
Baker (1954) e de Beggs e Brill (1973). Também apresenta melhor
concordância com os dados disponíveis para escoamentos bifásicos ar-água. A
Figura 2.4 apresenta o mapa de Mandhane et al. (1974).

Figura 2.4: Mapa de Mandhane et al. (1974)

18
Segundo Hale (2000) as linhas de transição entre os diferentes padrões
de escoamento do mapa de Mandhane et al. (1974), em unidades do Sistema
Internacional, é dado pela equações 2.23-40.

• Estratificado liso para o estratificado ondulado:

− ULS ≤ 0,03048

= 4,267 F32,81 G V, \]
(2.23)

− 0,03048 < ULS ≤ 0,06096

= 4,267 F32,81 G V, W
(2.24)

V, W r
− 0,06096 < ULS ≤ wx

= 3,207 F16,405 G V,] \


(2.25)

• Estratificado liso para o pistonado:

V,] \
UGS ≤ 3,20024XMny z
V,^\ r\
wx

0,15239
= (2.26)
{

• Estratificado ondulado para o slug:

V,] \ V,V]
3,20024XMnyV, xW^z < UGS ≤ 11,58183XMnyV, z
w wx
, ]

= 0,091 { (2.27)

• Estratificado ondulado para o anular:

− ULS ≤ 0,03048

19
= 21,335 F328,1 G V,V\^W
(2.28)

− 0,03048 < ULS ≤ 0,09144

= 18,287 F32,81 G V, W
(2.29)

• Slug para o pistonado:

V, W r

wx
< ULS ≤ 0,35050

= 3,200 F16,405 G V,] \


(2.30)

− 0,35050 < ULS ≤ 1,46297

= 0,762 (2.31)

− 1,46297 < ULS ≤ 4,26699YMn

= 7,620 F0,684 GV, ]


(2.32)

• Slug para o anular:

− 0,09143 < ULS ≤ 0,17068

= 11,582 F10,937 GV,] (2.33)

− 0,17068 < ULS ≤ 0,30479

= 12,191 F5,859 GV, ]W


(2.34)

− 0,30479 < ULS ≤ 0,76196

= 15,239 F3,281 GV,^W\ (2.35)

20
− 0,76196 < ULS ≤ 4,26699YMn

= 30,479 F1,312 GV,^W\ (2.36)


• Bolhas dispersas para o anular:

− ULS ≤ 4,26699YMn

= 70,101 F0,234 GV, V\


(2.37)

• Bolhas dispersas para o pistonado ou slug:

− ≤ 30,47851 F1,707 {G
V, \

= 4,267 { (2.38)
Onde:

& V, )ST & V, W ' V,


=K L K L K L
{
&S )&T 'S (2.39)

)ST & V, W ' V,


=K L K L
{
)&T 'T
(2.40)

Os valores referenciais utilizados foram:

• σAW = 0,0724N/m é o valor utilizado para tensão superficial ar-água,


• µW = 1,0X10-3Ns/m2 é o valor utilizado para viscosidade da água,
• µA = 1,8X10-5Ns/m2 é o valor utilizado para viscosidade do ar,
• ρW = 995,52kg/m3 é o valor utilizado para densidade da água,
• ρA = 1,294kg/m3 é o valor utilizado para densidade do ar.

21
Spedding e Nguyen (1980) realizaram estudos sobre escoamentos
bifásicos ar-água, co-corrente em tubo de diâmetro interno 0,0455m e
propuseram vários mapas. Além da comparação com outros mapas, como o de
Baker (1954), os autores também desenvolveram mapas com tubos inclinados
com escoamento ascendente e descendente. Eles propuseram a existência de
cerca de doze diferentes padrões de escoamento, sendo que estes foram
simplificados em quatro principais categorias: estratificado, bolhas e slug, gotas
(“droplet”) e misturado (“mixed”). Sugeriram que as transições dos
escoamentos em bolhas e slug para o escoamento estratificado, bem como do
escoamento estratificado para o misturado, são afetados pela inclinação da
tubulação. Observaram ainda que os escoamentos estratificado liso e ondulado
não existem no escoamento inclinado ascendente, enquanto que no inclinado
descendente os escoamentos em bolhas e slug diminuírem em área. Eles
concluíram que um mapa genérico de padrões de escoamento que contivesse
as taxas de escoamento das fases e a inclinação do tubo não era viável. No
mapa apresentado na Figura 2.5, os eixos foram formados pela taxa entre as
vazões volumétricas das fases e o número de Froude (Equação 2.8).

Figura 2.5: Mapa de Spedding e Nguyen (1980)

22
Lin e Hanratty (1987) estudaram o escoamento bifásico ar-água co-
corrente em tubos horizontais de diâmetro interno 0,0254m e 0,0953m. Os
parâmetros utilizados no mapa foram as velocidades superficiais das fases
chegando, portanto a apresentação semelhante ao mapa de Mandhane et al.
(1974). Para identificação dos padrões de escoamento foram utilizados
sensores de condutância, observação visual e correlação cruzada da pressão.
Os limites de transição entre os padrões de escoamento do mapa de
Mandhane et al. (1974) e Lin e Hanratty (1987) não apresentaram boa
concordância, sugerindo que o mapa dos autores Lin e Hanratty (1987)
apresentasse uma imprecisão na previsão dos padrões de transição.

2.5. Escoamento Bifásico Horizontal


Um grande número de correlações existem para estimar a queda de
pressão em um escoamento bifásico horizontal em tubulações. A precisão
dessas correlações foram estudadas por Dukler et al. (1964), DeGance e
Atherton (1978), Govier e Aziz (1972), Hewitt (1978) e Weisman e Choe.
(1978). Um estudo mais recente foi feito por Spedding e Chen (1980). No caso
deste trabalho foram utilizados as recomendações feitas por Weisman e Choe
(1978), onde verificaram que o modelo homogêneo de McAdams et al. (1942) e
Dukler et al. (1964) provem melhores resultados em regime de escoamento
homogêneo. Mas, eles ainda mostram que o modelo homogêneo feito por
Dukler et al. (1964) apresentou resultados bons e consistentes para todos os
regimes de escoamento com exceção do regime estratificado.

Para um velocidade mássica total, ou fluxo mássico, maior que 2700


2
kg/(m s), o escoamento é homogêneo e a queda de pressão pode ser
calculada pela equação (2.1), com a viscosidade calculada pela Equação 2.41.

,W
• r€• ‚
'|} = '~ \
(2.41)

23
Onde é o holdup da fase gasosa. O holdup da fase gasosa é definido
como a fração do volume da tubulação que está ocupada pelo gás no mesmo
instante. O valor do holdup pode ser calculado por algumas correlações como a
apresentada pela Equação 2.63.

Para escoamento ondulado ou estratificado, a correlação de


Hoogendorn (1959) é muito bem utilizada.

∆ !ƒ "# , W
K L = 5,221 × 10 K L
& "# + "#
(2.42)
|}

Para todos os outros tipos, a correlação de Lockhart e Martinelli (1949) é


recomendada. Nesta correlação, a queda de pressão do escoamento bifásico é
relacionada com a queda de pressão de um escoamento monofásico de um
gás ou líquido como se cada fase escoasse sem a presença da outra e são
relacionadas por um fator empírico determinado pelas Equações 2.43 e 2.44.

F∆ ⁄ G|}
=.
F∆ ⁄ G
(2.43)

F∆ ⁄ G|}
=.
F∆ ⁄ G
(2.44)

Lockhart e Martinelli correlacionaram dados experimentais para o


escoamento de misturas de água & ar e óleos & ar, em tubos, através do grupo
adimensional X, ou mais conhecido como parâmetro X de Martinelli, calculado
pela Equação 2.45.

F∆ ⁄ G

=X Y
F∆ ⁄ G
(2.45)

Os fatores empíricos e o parâmetro são relacionados pelas equações


2.46 e 2.47.

24
1
. = 1+ + (2.46)

. =1+ + (2.47)

O parâmetro depende do regime de escoamento das fases individuais.


Os valores para estão listados na Tabela 2.3.

Tabela 2.3: Parâmetros para a correlação de Lockhart-Martinelli

Líquido Gás Símbolo C

Laminar Laminar LL 5
Turbulento Laminar TL 10

Laminar Turbulento LT 12

Turbulento Turbulento TT 20

O número de Reynolds baseado na velocidade superficial da fase


gasosa ou líquida é utilizado como critério para saber quando o escoamento é
laminar ou turbulento, sendo definido pelas equações 2.48 e 2.49.

&
=
'
(2.48)

&
=
'
(2.49)

Assim, escoamento laminar existe se < 1000 e escoamento


turbulento se > 1000.

Tendo em vista a pouca precisão das correlações acima, o efeito da


rugosidade da tubulação pode ser negligenciado para tubulações com
rugosidades moderadas e os resultados obtidos para tubulações lisas podem
ser utilizados, conforme afirma Ragu Raman (1985).

25
Para estimar o holdup da fase líquida, a correlação de Hughmark (1962)
pode ser utilizada. A correlação não é explícita em relação ao , sendo assim
necessário o uso de algum método iterativo para sua obtenção. Um algoritmo
utilizando o método de Newton-Raphson é proposto por DeGance e Atherton
(1978) e o é calculado resolvendo-se a equação 2.50.

= 1 − -F1 − *G (2.50)
Onde

*=
F + G
(2.51)

- = −0.16367 + 0.31037/ − 0.03525/ + 0.001366/ F/ < 10G (2.52)

- = 0.75545 − 0.003585/ + 0.1436 × 10 / F/ > 10G (2.53)

F G
⁄]
!ƒ ⁄\
+
/=R U X Y * ⁄
' + F1 − G'
(2.54)

A Equação 2.50 pode ser reescrita na forma da Equação 2.55

F G= − 1 + -F1 − *G = 0 (2.55)

E os estimados são dados pela equação 2.56.


F G
= − y z‡ K L
F s G F G F G

(2.56)

A Equação 2.57 mostra a forma da equação a ser resolvida pelo método


de Newton-Raphson, considerando o valor inicial de igual a 1 que é o maior
valor possível para este parâmetro.

† / F' − ' G †-
=− K L
† 6 F' − ' G + ' †/ (2.57)

26
†-
= 0.31037 − 0.0705/ + 0.004098/ F/ < 10G
†/
(2.58)

†-
= −0.003585 + 0.2872 × 10 / F/ < 10G
†/
(2.59)

A aceleração e as perdas de energia cinética foram negligenciadas onde


as variações de densidade são pequenas, mas podem ser significativas em
trocas de calor para escoamentos bifásicos. Dukler et al. (1964) desenvolveu
um método aceitável, segundo Ragu Raman (1985), para calcular os efeitos da
aceleração através da equação 2.60, onde o fator de aceleração é calculado
em função do holdup do líquido, velocidades superficiais e a perda de carga.

1 & &
$% = .X + Y
144 ∆ 1−
(2.60)

Chisholm (1967) e Hewitt (1978) revisaram as correlações para


escoamento bifásico em diâmetros pequenos em relação à troca de calor
durante a evaporação e condensação.

2.6. Escoamento Bifásico Vertical


Assim como para o escoamento bifásico horizontal, diversos estudos
foram feitos para o caso vertical, onde correlações semi-empíricas foram
desenvolvidas.

DeGance e Atherton (1970) fizeram uma vasta revisão, onde para


tubulações com diâmetro maior que 0,09 m os autores recomendam a
correlação de Orkiszewski (1967) para a determinação da queda de pressão
com uma precisão muito boa.

Para diâmetros pequenos, DeGance e Atherton (1970) recomendam a


correlação de Hagedorn e Brown (1965), que é independente do tipo de
escoamento. A correlação é bastante precisa dentro dos seus limites.
Aproximações teóricas para prever a queda de pressão foram desenvolvidas

27
por Chisholm (1967 e 1973), baseada no método de Lockhart-Martinelli (1949).
A Equação (2.45) ainda é válida para escoamento vertical e para a constante C
desenvolvida por Chisholm (1967) utiliza-se as equações 2.61 e 2.62, de
acordo com o velocidade da vazão mássica.

• OPO ! ≤ 2000

& . & .
=K L +K L
& &
(2.61)

• OPO ! > 2000

2000 & . & .


= XK L +K L Y
! & &
(2.62)

A fração vazia no escoamento bifásico vertical pode ser estimada pela


correlação de Chisholm (1973)

1
=
& . &
1 + ˆ* + F1 − *G & ‰
F1 − *G&
(2.63)

Onde o * é definido pela Equação 2.51.

28
3. Software PCT
Após o estudo teórico das equações, foi possível verificar a
complexidade das mesmas, e para facilitar seu uso e os devidos cálculos foi
desenvolvido um software para auxiliar no cálculo das perdas de carga dos
escoamentos, conforme pode ser visto no Ítem 3.1.

O programa foi desenvolvido na linguagem C#.NET com uma interface


auto explicativa para o usuário, onde após inserir os dados de um determinado
trecho, o programa determina a equação mais adequada para o cálculo como
pode ser visto no Ítem 3.2.

3.1. Funções
O programa calcula a perda de carga em trechos de tubulações verticais
e horizontais através das correlações mostradas na revisão bibliográfica e
resumidas a seguir.

3.1.1. Escoamento Horizontal

Para este escoamento, foram utilizadas as correlações de McAdams et


al. (1942) e Dukler et al. (1964) indicadas por Weisman e Choe (1978), onde a
perda de carga é calculada para todos os regimes de escoamento bifásico.

Utilizando as propriedades físicas da fase líquida e da fase gasosa e as


velocidades superficiais do líquido e do gás, o programa determina o padrão de
escoamento segundo o mapa de Mandhane et al. (1974).

Em seguida, dependendo do tipo de escoamento calculado, o holdup é


calculado utilizando o modelo homogêneo, para o fluxo mássico maior que
2700, ou então utilizando a correlação de Hoogedoorn para os casos ondulado
ou estratificado. Para os demais casos utilizam-se as correlações de Lockhart-
Martinelli (1949).

29
3.1.2. Escoamento Vertical

No caso de escoamento vertical, DeGance e Atherton (1970) sugerem a


escolha da correlação mais adequada para o cálculo do holdup que é feita de
acordo com o diâmetro.

Para os casos em que o diâmetro da tubulação é maior que 0,089 m, é


utilizado a correlação de Orkiszewski (1967). E para os casos com diâmetro
menor, a correlação de Hagedorn e Brown (1965) é a utilizada.

Após o cálculo do holdup, a perda de carga é feita utilizando a Equação


2.1.

3.2. Interface
O programa possui uma interface (Figura 3.1) bastante amigável para a
execução dos cálculos. Para facilitar o entendimento, todas as unidades
utilizadas no PCT seguem o sistema internacional de medidas.

30
3.2.1. Janela Principal

Começar novo cálculo

Abrir cálculo salvo anteriormente

Salvar cálculo atual

Salvar Como cálculo atual

Sair do programa

Figura 3.1: Interface do PCT

31
3.2.2. Novo Cálculo

Ao clicar no botão “Novo”, uma janela se abre (Figura 3.2) onde é


possível adicionar os trechos verticais e horizontais desejados e obter a perda
de carga em N/m² ou Pa.

Figura 3.2: Novo Cálculo

3.2.3. Novo Trecho Horizontal

Para adicionar um novo trecho horizontal, são necessárias as seguintes


informações conforme a Figura 3.3:

a. Diâmetro da tubulação (m)

b. Comprimento da tubulação (m)

c. Vazão do Gás (kg/s)

d. Vazão do Líquido (kg/s)

e. Densidade do Gás (kg/m³)

32
f. Densidade do Líquido (kg/m³)

g. Viscosidade do Gás (N.s/m²)

h. Viscosidade do Líquido (N.s/m²)

i. Tensão Interfacial (N/m)

j. Fator de relaxamento do sistema (usado na equação 2.54)

OBS: Por padrão, o valor desse fator de relaxamento está setado


para 1,1 e para a maioria dos casos não precisa ser alterado.

Figura 3.3: Janela para adicionar novo trecho Horizontal

33
3.2.4. Novo Trecho Vertical

Para adicionar um novo trecho vertical, são necessárias as seguintes


informações:

1. Diâmetro da tubulação (m)

2. Comprimento da tubulação (m)

3. Vazão do Gás (kg/s)

4. Vazão do Líquido (kg/s)

5. Densidade do Gás (kg/m³)

6. Densidade do Líquido (kg/m³)

7. Viscosidade do Gás (N.s/m²)

8. Viscosidade do Líquido (N.s/m²)

9. Tensão Interfacial (N/m)

10. Pressão do Sistema (kPa)

11. Rugosidade da Tubulação (m)

34
Figura 3.4: Janela para adicionar novo trecho Vertical

35
4. Estudo de Casos
Com o objetivo de testar e validar não só o programa mas também a
metodologia teórica apresentada, foram utilizados casos de escoamento
bifásico onde cálculos para a perda de carga foram utilizados.

Foram utilizados casos do livro do Raghu Raman (1985), um projeto de


final de curso em Engenharia Química na Universidade Federal do Rio de
Janeiro apresentado por Souza (2009) onde é utilizado a correlação de
Lockhart-Martinelli (1949), semelhante a este trabalho, e um caso real de
escoamento horizontal de elevação de petróleo em um poço.

4.1. Raghu Raman (1985)


Raghu Raman (1985) utiliza três casos de escoamento bifásico para
testar e validar o modelo de cálculo e o programa computacional desenvolvido
em FORTRAN IV proposto.

O primeiro caso (Página 240, Exemplo 4.6) calcula a perda de carga de


um fluido bifásico escoando horizontalmente, onde o regime de escoamento é
estratificado. No caso, ele calcula e determina matematicamente o regime de
escoamento e em seguida, de acordo com o regime encontrado, calcula a
perda de carga considerando o modelo Homogêneo, a correlação de
Hoogerndoorn ou a correlação de Lockhart-Martinelli (1949). Os valores das
propriedades utilizadas em cada caso se encontram na Tabela 4.1.

Em seguida, apresenta alguns casos (Páginas 240-241, Exemplo 4.7)


para escoamentos bifásicos verticais.

• Caso (a): Cálculo da perda de carga usando a correlação de


Orkiszewski (1967), após calculado também o padrão de
escoamento. No caso o padrão slug.

• Caso (b): Após alterar alguns dados de entrada em relação ao


caso (a), o cálculo da perda de carga é feito usando o mesmo
algoritmo. O regime encontrado foi o misturado mist.

• Caso (c): Neste caso, o autor apresenta dois cálculos


comparando as correlações de Orkiszewski (1967) (c.1) e

36
Hagedorn e Brown (1965) (c.2) usando em ambas os mesmos
parâmetros, mudando apenas o diâmetro da tubulação para
valores bem próximos, mas que force o algoritmo a usar uma
correlação diferente em cada caso.

Tabela 4.1: Valores das propriedades utilizadas por Raghu Raman (1985)

4.6 4.7 - a 4.7 - b 4.7 – c.1 4.7 – c.2


Diâmetro (m) 0.61 0.127 0.152 0.0891 0.0889
Comprimento da Tubulação (m) 20 1 1 1 1
Vazão do Gás (kg/s) 1.814 0.154 107.2 0.154 0.154
Vazão do Líquido (kg/s) 62.64 0.073 63 0.073 0.073
Densidade do Gás (kg/m³) 28.77 35.95 35.95 35.95 35.95
Densidade do Líquido (kg/m³) 861 814.1 814.1 814.1 814.1
Viscosidade do Gás (N.s/m²) 0.0000115 0.000015 0.000015 0.000015 0.000015
Viscosidade do Líquido (N.s/m²) 0.000862 0.000815 0.000815 0.000815 0.000815
Tensão Interfacial 0.023 0.018 0.018 0.018 0.018
Fator de Relaxamento 1.1 - - - -
Pressão do Sistema (kPa) - 4097 4306 4097 4097
Rugosidade da Tubulação (m) - 0.000038 0.000038 0.000038 0.000038

A Tabela 4.2 apresenta os resultados obtidos para este caso, tanto os


valores obtidos por Raghu Raman (1985) quanto os valores calculados pelo
programa PCT.

37
Tabela 4.2: Resultados obtidos por Raghu Raman (1985) e pelo PCT

Tipo de Raghu Raman


Caso PCT (N/m²)
Escoamento (1985) (N/m²)

4.6 Horizontal 10,4 10,37

4.7 – a Vertical 514,4 514,37

4.7 – b Vertical 202.000 205.383,11

4.7 – c.1 Vertical 539,5 539,53

4.7 – c.2 Vertical 714,8 740,47

No caso 4.7 (c), nos dois cálculos feitos, os valores obtidos para cada
correlação utilizada tanto pelo autor como pelo PCT possuem uma diferença
máxima de aproximadamente 3,5%, o que é um bom indicador, já que levando
em consideração as incertezas das equações fundamentalmente empíricas.
Isso se deve ao fato que a correlação de Hagedorn e Brown (1965) prediz
melhores valores para a perda de carga para diâmetros entre 0,02 e 0,05
metros, e no caso, para o cálculo foram utilizados diâmetros de 0,0891 metros
e 0,0889 metros respectivamente.

Verificando os outros casos, os resultados obtidos por Raghu Raman


(1985) em comparação com os valores obtidos com o PCT são bem próximos e
em alguns casos iguais, revelando aplicabilidade do software e da parte teórica
mostrada.

38
4.2. Souza (2009) – Trecho Horizontal
Souza (2009) estudou o escoamento bifásico horizontal líquido-gás
utilizando a correlação de Lockhart & Martinelli (1949) e Fluidodinâmica
Computacional onde verificou a perda de carga para três padrões de
escoamento diferentes. Os valores das propriedades utilizadas em cada caso
se encontram na Tabela 4.3.

Tabela 4.3: Valores das propriedades utilizadas por Souza (2009)


Borbulhado antes da Borbulhado depois da
Estratificado
turbulência completa turbulência completa
Diâmetro (m) 0.0207 0.0207 0.0207
Comprimento da Tubulação (m) 1 1 1
Vazão do Gás (kg/s) 0.0008 0.0082 0.0001
Vazão do Líquido (kg/s) 1.684 16.835 0.059
Densidade do Gás (kg/m³) 1.185 1.185 1.185
Densidade do Líquido (kg/m³) 997 997 997
Viscosidade do Gás (N.s/m²) 0.0000183 0.0000183 0.0000183
Viscosidade do Líquido (N.s/m²) 0.00089 0.00089 0.00089
Tensão Interfacial 0.072 0.072 0.072
Fator de Relaxamento 1 1 1
Pressão do Sistema (kPa) - - -
Rugosidade da Tubulação (m) 0.0000456 0.0000456 0.0000456

No caso, utilizando água e ar para formar o sistema, Souza (2009)


testou seu algoritmo para dois padrões específicos de escoamento em três
situações distintas e os resultados são ilustrados conforme mostra a tabela 4.4.

39
Tabela 4.4: Resultados para os casos retirados de Souza (2009)

Padrão de Escoamento Souza (2009) (Pa/m) PCT (Pa/m)

Borbulhado antes da
22.955 21.211,52
turbulência completa

Borbulhado depois da
2.074.389 2.123.420,26
turbulência completa

Estratificado 75 48,54

Conforme pode ser observado, para os dois primeiros casos valores


próximos foram obtidos entre os valores de Souza (2009) e os valores
calculados pelo PCT. Como ambos utilizam correlação de Lockhart-Martinelli
(1949), acredita-se que esta diferença esteja ocorrendo devido ao uso
diferenciado de casas decimais ou outras aproximações devido ao uso de
algoritmos diferentes em linguagens de programação diferentes.

No último caso, uma diferença de 36% foi encontrada provavelmente


devido ao fato de Souza (2005) utilizar a correlação de Lockhart-Martinelli
(1949) e, no caso do padrão Estratificado, o PCT utiliza a correlação de
Hoogendorn. De acordo com as indicações feitas por Weisman e Choe (1978),
para este tipo de padrão de escoamento, utilizando as correlações de
McAdams et al. (1942) e Dukler et al. (1964), o valor apresentado pelo PCT
seria mais preciso já que a correlação de Hoogedorn seria mais indicada para
este cálculo.

40
4.3. Elevação de Petróleo de um Poço
Neste caso, um escoamento vertical real durante a elevação de petróleo
de um poço foi estudado, onde o escoamento é aproximado como bifásico. Os
valores das propriedades do fluido bifásico podem ser vistos na Tabela 4.5.

Tabela 4.5: Valores das propriedades utilizadas para um Poço Real

Poço Real
Diâmetro (m) 0.1143
Comprimento da Tubulação (m) 1000
Vazão do Gás (kg/s) 240.117
Vazão do Líquido (kg/s) 11.456
Densidade do Gás (kg/m³) 121
Densidade do Líquido (kg/m³) 621
Viscosidade do Gás (N.s/m²) 0.0000186
Viscosidade do Líquido (N.s/m²) 0.00226
Tensão Interfacial 0.02
Fator de Relaxamento -
Pressão do Sistema (kPa) 8825.985
Rugosidade da Tubulação (m) 0.0973582
Por se tratar de elevação de petróleo, os modelos utilizados foram os
para escoamento vertical e os valores conseguidos pelo PCT e o valor
simulado utilizando o software da empresa que explora o poço se encontram
na tabela 4.6.

Tabela 4.6: Resultados para a simulação de um poço real

PCT Empresa

Perda de carga (N/m²) 17.314.098,21 17.843.631,11

Perda de carga (psi) 2.511,20 2.588,00

Conforme pode ser observado, valores muito similares foram obtidos.


Mas devemos levar em consideração que a empresa que explora este poço

41
utilizou um simulador próprio para obter o valor da Empresa, enquanto que o
PCT utilizou a correlação de Orkiszewski (1967) e calculou o regime como
sendo misturado (mist). A correlação de Orkiszewski (1967) é empírica e neste
caso está extrapolada para simular este caso, provavelmente dando origem a
esta diferença entre os valores.

42
5. Conclusões
Este trabalho apresentou um programa computacional para o cálculo de
perda de carga de escoamentos bifásicos em tubulações. O software PCT, em
linguagem C#.NET, foi desenvolvido para facilitar e acelerar os cálculos.. O
programa apresenta uma interface gráfica amigável ao usuário para executar e
obter os resultados.

O procedimento de validação deste programa utilizou três estudos de


caso, somando um total de nove conjuntos de parâmetros. Esses parâmetros
foram submetidos ao programa e demonstraram resultados semelhantes
aqueles obtidos tanto em casos horizontais quanto verticais.

Os resultados obtidos com os estudos de caso realizados neste trabalho


mostram que a escolha correta da correlação a ser utilizada é muito importante.
Conforme visto no caso 4.1, o valor do diâmetro do duto é um dos parâmetros
muito importante para a determinação a correlação mais adequada a ser
utilizada. Neste caso, verificou-se que valores próximos à fronteira de cada
correlação podem gerar variações significativas.

Dentre as possíveis fontes de erro, pode-se destacar os diferentes


comportamentos físicos das substâncias dentro de uma mistura, que podem
estar sujeitas a diferentes fenômenos como o efeito de “slippage” (ou efeito de
Klinkenberg (1941)), que ocorre quando a velocidade das moléculas é diferente
de zero nas paredes da tubulação. A forma de medida para esse efeito é feito
através do fator de escorregamento e pode ser calculado através de
correlações. Oliveira (2007) concluiu em seu trabalho que a melhor correlação
para esse cálculo seria aquela proposta por Chisholm (1977).

Uma conseqüência desse efeito é que a permeabilidade na água, que


geralmente é menor do que a permeabilidade ao ar em meios porosos
idênticos, é acentuada em baixas pressões no interior de meios porosos finos,
e torna-se desprezível em elevadas pressões em meios porosos grossos,
causando certas discrepâncias na tentativa de prever o comportamento do
escoamento.

43
Muitas vezes poucos dados existem para se estender uma correlação
existente para uma nova situação ou para desenvolver novas correlações. Isto
implica que prever o escoamento bifásico em situações novas ou hipotéticas é
sempre muito difícil.

Neste universo, uma sugestão para a continuação de estudo do tema


seria levar em consideração outros modelos para determinar o padrão de
escoamento, como o modelo semi-empírico de Taitel e Dukler et al. (1976) e a
expansão do algoritmo utilizado neste trabalho para o uso em dutos inclinados.

44
6. Referências Bibliográficas
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48
ANEXO I

O programa computacional PCT, criado utilizando o algoritmo proposto


por Raghu Raman (1985) para o cálculo da perda de carga para dutos verticais
e horizontais, se encontra um CD a parte deste trabalho.

O programa não requer nenhuma instalação e para executá-lo basta


abrir o arquivo PCT.exe.

O único requisito para sua execução é a presença do Microsoft


Framework .NET 2.0 que pode ser obtido no site da Microsoft
(http://www.microsoft.com/downloads/details.aspx?displaylang=pt-
br&familyid=0856eacb-4362-4b0d-8edd-aab15c5e04f5).

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