Medidas de Proteção À Criança e Ao Adolescente

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MEDIDAS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO

ADOLESCENTE
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Sumário
MEDIDAS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE ............ 0

NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2

1-DO CÓDIGO MELLO MATTOS AO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE: BREVES CONSIDERAÇÕES ............................................ 3
2- PRINCÍPIOS NORTEADORES À APLICAÇÃO DAS MEDIDAS DE
PROTEÇÃO.................................................................................................... 9
3- AVANÇOS NA PROMOÇÃO DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO À
CRIANÇA E ADOLESCENTE....................................................................... 11
4- DESAFIOS À ADEQUADA REALIZAÇÃO DAS MEDIDAS
PROTETIVAS NO BRASIL ........................................................................... 14
5- GOVERNO INSTITUI COMISSÃO DE ENFRENTAMENTO À
VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES ............... 16
6- REFERÊNCIAS.............................................................................. 21

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho


de um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de
cursos de Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma
entidade capaz de oferecer serviços educacionais em nível superior.

O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na
sua formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos
científicos, técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade,
transmitindo e propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de
publicações e/ou outras normas de comunicação.

Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e


cultura, de forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de
construir uma base profissional e ética, primando sempre pela inovação
tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa
forma, conquistar o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta
de cursos de qualidade.

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1-DO CÓDIGO MELLO MATTOS AO ESTATUTO DA CRIANÇA E


DO ADOLESCENTE: BREVES CONSIDERAÇÕES

Durante séculos, a criança e adolescente não eram vistos como sujeitos


destinatários de normas protetivas, sendo disciplinados por normas gerais a
todos impostas. A sociedade e o Estado ignoravam completamente qualquer
condição especial dos mesmos, sobretudo sua situação de pessoa em
desenvolvimento.

A trajetória de conquista formal dos direitos humanos infanto-juvenis não se deu


de forma equiparada aos demais recortes sociais, ocorrendo em ritmo mais lento
e com menor participação da sociedade civil brasileira.

Neste aspecto, é possível lembrar o advento do Código Mello Matos, publicado


em 1927 como primeiro documento da América Latina voltado a disciplinar o
destino de jovens em situação de abandono ou aos delinquentes, denominação
expressamente utilizada neste diploma, como um retrato da visão social
pertinente à época.

Contudo, muito embora este diploma tenha sido precursor no surgimento dos
diplomas infanto-juvenis, ele não era voltado à proteção de todos estes

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indivíduos. O referido código revelou uma atuação voltada tão somente a


indivíduos em situações que denominou de “irregular”.

Assim, ao optar por seguir a doutrina do menor irregular, as normas contidas no


Código Mello Matos não foram destinadas ao amparo de toda e qualquer criança
e adolescente, mas a uma parcela destes indivíduos previamente considerados
pela sociedade como abandonados ou delinquentes, ou assim taxados quando
fosse conveniente ao Estado proceder à aplicação da norma ao caso concreto.

Assim, observa-se uma carga normativa fortemente classista e segregadora em


seu conteúdo normativo, o que se comprova através da leitura do art. 26, V,
senão vejamos:

Art. 26 – Consideram-se abandonados os menores de 18 anos:

V – Que se encontrem em estado habitual de vadiagem, mendicidade ou


libertinagem.

Segundo a leitura do referido dispositivo, resta claro o cumprimento de uma


função normativa repressora da condição social do indivíduo, visto como um
delinquente ainda que não haja cometido qualquer delito material. Na vigência
do Código Mello Matos, a repressão recairia no indivíduo em “estado de
vadiagem”, e não pelo cometimento de uma conduta previamente tipificada em
lei.

Ao abranger no mesmo conceito o indivíduo abandonado do indivíduo


delinquente, unindo situações que não necessariamente andam juntas, o Art. 69
deste diploma autorizava que os jovens fossem submetidos a nada menos que
cinco anos de reformatório, promovendo seu afastamento do convívio social.

Em âmbito internacional, com o avanço da elaboração das convenções


internacionais decorrentes da calamidade pós-guerra, iniciou-se a preocupação
com os direitos humanos e um tratamento equivalente aos direitos infanto-
juvenis.

Para tanto, em 1959 foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos da


Criança, cujo teor assemelha-se ao previsto na Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Ao reconhecer à criança a condição especial de pessoa em

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desenvolvimento, o seu preâmbulo estabelece um novo olhar sob a conduta


infanto-juvenil, orientando as nações à aplicação de sanções proporcionais a
esta situação.

Dentre os dez princípios de proteção à criança, este diploma traz o princípio da


igualdade, que determina que toda criança desfrutará dos direitos nele previstos
sem distinção de raça, língua, religião, origem nacional ou social, ou qualquer
outra condição, sua ou de sua família.

O princípio da prioridade absoluta proclama que a criança deverá ser a principal


destinatária de socorro, bem como da prestação de serviços públicos. O princípio
da proteção contra a exploração do trabalho infantil proclama que a criança
gozará de proteção contra qualquer forma de exploração, determinando idade
mínima para empregar-se e proibindo qualquer ocupação que prejudique seu
desenvolvimento físico, mental e moral.

Neste contexto histórico, é interessante observar que o Brasil ainda tinha como
diploma vigente o Código Mello Matos, mas a doutrina por ele adotada e sua
carga valorativa já não se afinavam com os ditames da Declaração Universal dos
Direitos da Criança, que tanto ampliou a proteção infanto-juvenil, alçando-os a
sujeitos de direito.

Prosseguindo-se à lenta criação de leis nacionais voltadas ao tratamento de


crianças e adolescentes, em 1979 fora editado o Código de Menores, que ainda
era voltado tão somente ao controle social de menores em situação “irregular”,
sem tutelar de modo amplo crianças e adolescentes.

Ao adotar a doutrina da situação irregular, tal como o Código Mello Matos,


o Código de Menores previa em seu art. 40 o instituto da internação, voltado a
menores que se encontrassem em desvio de conduta ou em cometimento de
infração penal.

Ocorre que, o instituto da internação foi utilizado de forma excessiva e arbitrária,


promovendo a prisão em cela comum de indivíduos desamparados de um ideal
de família, punindo pessoas pelo seu desamparo. O resultado foi um contingente
de indivíduos que ao sair da internação, encontravam-se em verdadeira

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condição de delinquentes, por não receberem educação nem amparo familiar ao


longo de sua adolescência.

A ausência de um tratamento diferenciado entre a conduta praticada pelos


jovens àquela praticada por adultos foi uma marca do Código de Menores,
culminando no aumento de um problema social longe de ser solucionado pelo
advento das medidas de assistência e proteção previstas em seu art. 14,
agravando a reincidência generalizada de infrações cometidas por jovens.

Num contexto de redemocratização, a CF/1988 inaugura uma nova era de


garantia de direitos individuais, sociais e coletivos, dentre eles o direito à infância
como um direito social pelo seu art. 6º, destinando ao art. 227 a tutela da infância
e juventude, agora vista como responsabilidade solidária pelo princípio da
proteção integral, senão vejamos.

Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

A Convenção Internacional dos Direitos da Criança, aprovada pela Assembleia


Geral da ONU em 1989, reforçou os ideais mundialmente proclamados pela
Declaração dos Direitos da Criança, sobretudo a importância da cooperação
internacional na melhoria das condições de vida das crianças por todos os países
em desenvolvimento.

Destarte, sendo ratificado por 190 países à exceção dos Estados Unidos, o
referido diploma não distingue a condição de criança para adolescente,
estabelecendo como criança todo e qualquer indivíduo de até dezoito anos de
idade incompletos. É o que se depreende do seu art. 1º, a seguir:

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Art. 1º - Para efeitos da presente convenção considera-se como


criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser
que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade
seja alcançada antes.

Esta convenção inaugura a proteção à criança refugiada em seu art. 22, ao


determinar que os Estados-parte deveriam adotar medidas para que a criança
consiga obter a condição de refugiada e recebesse assistência humanitária
adequada à tal condição, usufruindo dos direitos previstos nesta convenção e
em outros instrumentos internacionais.

A garantia formal de direitos foi ampliada com o advento desta convenção, que
traz em seu art. 26 o direito de toda criança usufruir de previdência social,
devendo ser adotadas todas as medidas necessárias à consecução desta
determinação pelos Estados-partes, de acordo com suas legislações nacionais.

Impulsionado pelo contexto de redemocratização promovido pela CF/1988,


o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 descortina uma nova etapa na
garantia dos direitos infanto-juvenis. Surge um novo olhar sobre a conduta e as
necessidades sociais dos jovens, agora vistos como indivíduos em situação
peculiar de desenvolvimento.

Neste momento, órgãos, agentes e autoridades governamentais passam a se


articular para exercer uma nova abordagem no tratamento de crianças e
adolescentes, fundamentados na doutrina da proteção integral, abandonando a
doutrina da situação irregular que até então orientava os códigos anteriores.

A doutrina da proteção integral que fundamenta o ECA/1990, foi introduzida no


ordenamento jurídico brasileiro pelo art. 227 da CF/88, determinando que a
interpretação da norma infanto-juvenil deverá levar em consideração a máxima
prioridade aos direitos dos quais estes sejam titulares.

Esse rompimento com a doutrina da situação irregular, conhecido como etapa


tutelar, passando à etapa garantista, significa que a criança e o adolescente
passam a ter o poder de exigir respeito aos próprios direitos tanto no seio familiar

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quanto por toda sociedade a partir de mecanismos legais e processuais para a


sua exigência e o consequente cumprimento.

A diferença de tratamento do jovem infrator entre as etapas tutelar e garantista


fica clara na lição de Sérgio Salomão Checaira, ao ensinar que

Vê-se, pois, o quanto se podem diferenciar as etapas tutelar e


garantista, no que concerne aos direitos que foram assegurados
quando se tem o cometimento de ato delituoso. Embora a intervenção
punitiva seja ampla, alcançando aqueles que tenham mais de 12 anos,
é de se reconhecer que a limitação do período máximo de internação
a três anos constitui um respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.

No intuito de materializar estes valores garantistas previstos no ECA/90 em


relação ao tratamento de jovens infratores, surgiu o Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo - SINASE, instituído pela Lei nº 12.594/12, que
regulamenta a execução de medidas socioeducativas ao adolescente.

Diante da breve análise histórica nacional e internacional, observam-se as


transformações ocorridas no tratamento infanto-juvenil, tanto na sua condição de
abandono quanto na forma de encarar eventuais infrações cometidas.

Somente após o advento do ECA/90, ficou clara a distinção de tratamento que


deve ser feita entre a condição de infrator e a de desamparo, com vistas a não
punir a criança e adolescente tão somente pela sua condição social, prática
recorrente e legitimada pelos diplomas nacionais anteriores.

Este tratamento proporcional à conduta praticada é o grande legado deste


diploma, tendo em vista que a condição de infrator enseja a aplicação de
medidas socioeducativas, ao passo que a condição de abandono ou ameaça de
lesão a direitos fundamentais implica na utilização de medidas de proteção à
criança e ao adolescente, que será objeto de estudo.

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2- PRINCÍPIOS NORTEADORES À APLICAÇÃO DAS MEDIDAS


DE PROTEÇÃO

As medidas de proteção previstas no Art. 101 do ECA/90 são destinadas tanto à


criança quanto ao adolescente que dela necessite, em razão de ação ou omissão
de seus pais ou responsáveis, do Estado ou da própria sociedade, na hipótese
de lesão ou a simples ameaça de lesão a seus direitos.

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a


autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes
medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de


responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de


ensino fundamental;

(...)

Assim, no intuito de promover a mais ampla proteção infanto-juvenil, observa-se


o caráter geral a que se destina a aplicação das referidas medidas, que podem
ser aplicadas de forma isolada ou cumulativa entre si, bem como substituídas a
qualquer tempo verificada sua necessidade, conforme prevê o
Art. 99 do ECA/90.

Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas


isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo.

Em relação às medidas de proteção à criança, é importante pontuar que o rol


trazido pelo Art. 101 é meramente exemplificativo, sendo cabíveis outras

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medidas que nele não estejam previstas mas que se afigurem adequadas ao
melhor interesse da criança ou do adolescente.

Assim, é possível pontuar como medidas de proteção, o encaminhamento aos


pais ou responsável, como forma de fazer cessar a lesão a direitos da criança e
quando esta medida não importar por si só em agravamento do risco à criança,
conforme dispõe o Art. 101, I, do ECA/90.

O acolhimento institucional também é medida de proteção cabível em casos de


abusos a crianças e adolescente praticado por pais ou responsáveis, conforme
dispõe o Art. 101, VII, do ECA/90.

VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de


2009) Vigência

A inclusão em programa de acolhimento familiar é medida protetiva cabível


quando se verifica inadequada a presença da criança no seio familiar de origem,
tendo em vista a busca pelo melhor interesse da criança e para o seu
desenvolvimento pleno e sadio. Este acolhimento familiar conforme cita o
parágrafo primeiro, é medida de caráter transitório, utilizável como forma de
transição para reintegração familiar.

A colocação em família substituta é medida de proteção de caráter definitivo, e


assim, deve ser vista como ultima ratio, em casos de abusos ou violência contra
a criança ou adolescente que torne assim insustentável seu vínculo familiar
originário, conforme dispõe o Art. 101, IX, do ECA/90.

IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de


2009) Vigência

Os princípios que regem a aplicação das medidas de proteção foram


estabelecidos no Art. 100, parágrafo único do ECA/90, sendo eles o da proteção
integral; o do interesse superior da criança e do adolescente; o princípio da
privacidade; o princípio da intervenção mínima; o princípio da prevalência
da família, a seguir analisados.

O princípio da proteção integral, também previsto no Art. 227 da CF/88 e que


tem como fundamento a responsabilidade solidária de toda sociedade em

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fiscalizar e garantir o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente, antes


mesmo do surgimento de lesão a seus direitos individuais.

O princípio do interesse superior da criança determina a escolha de medidas


protetivas adequadas à situação em que a mesma se encontre, considerando-
se sua condição peculiar de indivíduo em formação. A possibilidade de a medida
ser substituída a qualquer tempo também encontra fundamento no princípio em
questão.

O princípio da privacidade proclama que a promoção dos direitos da criança deve


ser feita com respeito à sua intimidade, reservando sua vida privada da opinião
pública.

O princípio da intervenção mínima, visa estabelecer que a situação infanto-


juvenil deve ser exercida exclusivamente por instituições cuja autoridade fora
prevista em lei e seja indispensável à promoção dos direitos da criança e do
adolescente.

O princípio da prevalência da família é de suma importância na busca pela


preservação dos laços consaguíneos entre o jovem e seus genitores, caso este
ato não implique por si só em agravamento do risco aos seus direitos e
desenvolvimento sadio.

3- AVANÇOS NA PROMOÇÃO DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO À


CRIANÇA E ADOLESCENTE

Inicialmente, muito embora a simples alteração normativa não seja suficiente


para a efetivação de direitos, é inegável que ao longo de trinta anos da
promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente houveram avanços na
proteção de direitos fundamentais de crianças e adolescentes.

Isto porque, somente o advento deste diploma trouxe o princípio da prioridade


absoluta no tratamento infanto-juvenil, que garante a sua primazia em receber
socorro e ser destinatário de políticas sociais. É o que se observa do seu art. 4º,
senão vejamos.

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Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral


e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia


de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b)
precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância
pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas
sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos
nas áreas relacionadas com a proteção à infância e juventude.

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Mas não é só. Além desta garantia normativa e na consequente mudança de


olhar para a conduta infanto-juvenil por parte de alguns operadores do direito,
houveram conquistas importantes para os mesmos.

A criação do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente –


CONANDA, vinculado à Secretaria Especial de Direitos Humanos através da Lei
nº 8.242/91, representa instância máxima na elaboração de políticas públicas
infanto-juvenis e na definição de diretrizes para a criação e o funcionamento dos
Conselhos Estaduais, Distrital e Municipais dos Direitos da Criança e do
Adolescente.

Além disso, o referido conselho é responsável por estimular, apoiar e promover


a manutenção de bancos de dados com informações sobre a infância e a
adolescência, assim como monitorar a política de atendimento à criança e ao
adolescente e a realização de conferências nacionais para discussão sobre
ameaças de lesão a direitos infanto-juvenis.

Em reunião realizada, a Conferência Nacional dos Direitos da Criança


posicionou-se através de Nota Pública contra o projeto de lei Escola Sem
Partido. Tal posicionamento é acertado, em razão de defender o direito à
liberdade de pensamento como instrumento necessário à adequada educação
infantil, garantindo a formação de indivíduos dotados de consciência crítica.

O CONANDA, vinculado à Secretaria Especial dos Direitos Humanos da


Presidência da República, também foi responsável pela criação da Resolução nº
116/2006, que estabelece parâmetros para a criação dos Conselhos de Direitos
da Criança e do Adolescente em todo território nacional, que devem nortear-se
pelo respeito ao melhor interesse da criança, conforme o art. 4º do ECA/90.

Ressalte-se que, cabe ao poder público em níveis municipal, estadual e federal,


fornecer a devida estrutura para o funcionamento dos referidos Conselhos,
conforme se depreende do art. 4º da Resolução nº 116/06, a seguir.

Art. 4º. Cabe à administração pública, nos diversos níveis do Poder


Executivo, fornecer recursos humanos e estrutura técnica, administrativa
e institucional necessários ao adequado e ininterrupto funcionamento do

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Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, devendo para tanto


instituir dotação orçamentária específica que não onere o Fundo dos
Direitos da Criança e do Adolescente.

Assim, deve o poder público oferecer a devida estrutura técnica e administrativa


necessária ao exercício das atribuições dos Conselhos, tais como o
fornecimento de registro a entidades que exerçam atividades de acolhimento
institucional de jovens ou desenvolvam programa de internação.

Esta política de atendimento mais próximo de situações envolvendo crianças e


adolescentes, proporcionada pela criação dos Conselhos Estaduais e Municipais
de Direitos, atende ao princípio da municipalização do atendimento, previsto no
Art. 88, I, do ECA/90.

4- DESAFIOS À ADEQUADA REALIZAÇÃO DAS MEDIDAS


PROTETIVAS NO BRASIL

Em que pese a observância de algumas mudanças de paradigma em relação à


infância e juventude, com a construção de um novo olhar para a conduta infanto-
juvenil ao longo destes vinte e oito anos, a efetivação das medidas de proteção
à criança esbarra em alguns desafios estruturais e que dependem de esforços
intersetoriais.

Para que a norma venha a ter maior aplicabilidade material, faz-se urgente a
união de forças entre entidades governamentais e não governamentais, na
medida de suas possibilidades, para que os Conselhos Tutelares tenham maior
poder fiscalizatório, maior estrutura física e aparto funcional, necessários para
fazer frente às situações que envolvam lesões e ameaças de lesões a crianças.

Além disso, é necessário que o Estado passe a ter um olhar preventivo em


relação às potenciais ameaças de lesão infanto-juvenis, acompanhando os
resultados das medidas de proteção impostas, ainda que por um prazo
determinado.

Os desafios à concretização do referido estatuto são imensos, e passam por uma


alteração de paradigma de grande parte dos aplicadores do direito que estejam

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envolvidos com a causa infanto-juvenil, buscando materializar o que proclama o


art. 5º do ECA/90, que visa garantir uma melhor condição de vida à criança e ao
adolescente, sem perder de vista o seu melhor interesse.

A isonomia na aplicação de medidas de proteção à criança é outro fator de


extrema relevância nas decisões judiciais, uma vez que ainda se observa um
viés segregatório e classista na escolha das medidas de proteção então
aplicadas.

Por fim, o planejamento familiar se verifica como um desafio a ser resolvido a


longo prazo, mas que deixará reflexos na imposição de medidas de proteção,
tendo em vista a menor lesividade das medidas de proteção a serem impostas
numa família que oferece maior organização econômica e psicológica à criança.

O planejamento familiar é de suma importância para que mais crianças não


sejam vítimas da desídia de seus pais, que deveriam atentar para a séria decisão
de ter filhos como uma social, uma vez que a sua conduta gera reflexos em níveis
de desenvolvimento humano nacional.

Muito embora a Carta Magna resguarde à família a decisão sobre sua


administração, cabendo tão somente a ela decidir sobre sua prole, faz-se
necessário observar que o planejamento familiar é um poder-dever do cidadão,
previsto no art. 226 da CF/88.

A ausência deste planejamento é um desafio à concretização sadia de medidas


de proteção, tornando-a mais gravosa e mais invasiva no contexto familiar, com
resultados que não se sustentam a longo prazo em razão de uma carência de
estrutura psicológica e econômica no seio familiar.

O contexto familiar caótico no qual milhões de crianças encontram-se inseridos,


favorece a sua exposição ao uso de drogas, à exploração sexual, e tantas outras
situações de vulnerabilidade que as medidas de proteção visam coibir.

Dados do Instituto Marista de Assistência Social, através do Relatório Cadê


Brasil, trazem um panorama sobre o número de homicídios praticados contra a
população de 0 a 19 anos. Observa-se um aumento de 67% entre 1997 e 2014

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contra a população infanto-juvenil. Em 1997, haviam 6.645 homicídios


registrados, enquanto em 2014 este número saltou para 11.142 homicídios.

Observa-se, assim, a fragilidade dos programas supracitados como avanços,


que carecem de maior instrumentalização administrativa e investimento estatal
para sua eficácia contra estes ataques à vida e à dignidade infanto-juvenil.

Por sua vez, um ambiente familiar sadio, minimamente planejado possibilitaria


que crianças e adolescentes desenvolvessem potenciais, habilidades e valores
éticos, tornando-se adultos mais preparados às exigências sociais e menos
vulneráveis a desvios de conduta penalmente tuteladas.

Esta forma preventiva de encarar a conduta infanto-juvenil é um dos maiores


desafios presentes no Estatuto da Criança e do Adolescente, que visa coibir a
geração de futuros infratores através da aplicação das medidas de proteção
mencionadas, sendo de grande relevância a sua utilização adequada.

5- GOVERNO INSTITUI COMISSÃO DE ENFRENTAMENTO À


VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A Comissão Intersetorial de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças


e Adolescentes foi instituída, após publicação do Decreto nº 10.482, assinado
pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, e pela titular do Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), ministra Damares Alves.

Como órgão de consulta, estudos e articulação, caberá à comissão formular


propostas de ações. Entre as prioridades, estão políticas públicas no âmbito do
Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes e a sistematização e divulgação de materiais teórico-
metodológicos sobre o tema.

"A atuação do Estado brasileiro é pautada nos princípios da transversalidade,


intersetorialidade, corresponsabilidade e participação social. Nós temos a
missão de enfrentar essa violência a partir de medidas que envolvam articular,
informar, sugerir e apoiar ações, tanto do governo quanto da sociedade civil",
afirma a ministra Damares Alves.

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O MMFDH é o responsável por coordenar a comissão composta por


representantes dos ministérios da Justiça e Segurança Pública (MJSP), da
Educação (MEC), da Cidadania (MC), da Saúde (MS), do Turismo (MTur) e
também do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(Conanda).

Funcionamento

A comissão se reunirá mensalmente e/ou em caráter extraordinário, mediante


convocação do MMFDH. Os membros que se encontrarem no Distrito Federal
(DF) se reunirão presencialmente ou por meio de videoconferência. Os que
estiverem em outras unidades federativas participarão por meio virtual.

Legislação

Titular da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente


(SNDCA/MMFDH), o secretário Maurício Cunha frisa que, no Brasil, o
enfrentamento à violência sexual contra menores de idade é prioridade. Ele
também lembra que a legislação prevê punição severa para quem pratica esse
tipo de crime, conforme estabelece o artigo 227, §4˚, da Constituição Federal
(CF).

"Ademais, consagrou-se, por meio do texto constitucional, os princípios da


proteção integral dos direitos da criança e do adolescente, com absoluta
prioridade. Também temos o marco nacional representado pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA). Nossas crianças e adolescentes precisam ser
protegidas em todos os âmbitos", reforçou.

Sancionado em 13 de julho de 1990, o ECA é o principal instrumento normativo


do Brasil que estabelece direitos e garantias especiais às crianças e
adolescentes.

Diante do exposto, em comparação aos diplomas nacionais anteriores


ao Estatuto da Criança e do Adolescente, verificam-se avanços inegáveis no
tratamento infanto-juvenil, sobretudo pela saída de uma doutrina da situação
irregular para a doutrina da proteção integral, que atrai para si um novo olhar sob
a conduta infanto-juvenil, exigindo uma postura social e estatal garantista.

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Houveram avanços no caminhar para a garantia dos direitos da criança e do


adolescente, como a criação do Sistema Nacional de Direitos da Criança e do
Adolescente – SINASE em 2012, que regulamenta a execução de medidas
socioeducativas, bem como a criação do CONANDA, responsável pela
elaboração de políticas públicas infanto-juvenis e definição de diretrizes para o
funcionamento dos Conselhos Estaduais, Distrital e Municipais dos Direitos da
Criança e do Adolescente.

Entretanto, é inegável que o caminho para a garantia de direitos infanto-juvenis


ainda é repleto de desafios que acima foram pontuados, como a necessária
articulação de setores governamentais e não-governamentais na união de forças
para o enfrentamento de lesões a direitos destes indivíduos em situação peculiar
de desenvolvimento.

A aplicação das medidas de proteção tem como fim a garantia de um ambiente


familiar sadio à criança e adolescente, razão pela qual a ausência de
planejamento familiar agrava a imposição destas medidas, tornando-a invasiva
e ineficaz por resultados que não se sustentam a longo prazo, em razão de uma
carência de estrutura psicológica e econômica familiar.

A responsabilidade dos pais sobre os filhos não reside no mero suprimento de


suas necessidades materiais, como também na formação de um cidadão,
devendo zelar pela construção de valores morais determinantes no
fortalecimento de laços desta criança com a sociedade na qual encontra-se
inserido, pela qual inegavelmente deverá submeter-se a padrões de conduta.

Finalmente, a aplicação da medida de proteção sem acompanhamento dos


resultados poderá acarretar a imposição posterior de medidas socioeducativas,
que são uma segunda tentativa estatal de recuperar e controlar socialmente este
indivíduo em formação antes de ser exposto a sanções penais de natureza
claramente punitivas.

Ao mencionar as ações consolidadas do governo nos últimos meses, a ministra


da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, disse que o
Brasil ainda não é a "melhor nação do mundo" para as crianças, e reforçou a

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necessidade fazer com que dispositivos previstos no ECA sejam de fato


garantidos para elas.

"Ainda temos as mais diversas violências e atrocidades contra crianças no Brasil.


Ainda assistimos às mais diferentes formas de violação de direitos de crianças e
adolescentes no Brasil", afirmou. "Temos, há 30 anos, uma lei extraordinária,
mas ainda estamos longe do que tanto sonhamos para as nossas crianças. O
ECA ainda não chegou a alguns lugares no Brasil", acrescentou a ministra.

Entre as ações destacadas por Damares Alves está a transferência de R$ 2,3


bilhões para estados e municípios adquirirem e distribuírem os alimentos da
merenda escolar para 40 milhões de crianças e adolescentes da rede pública de
ensino. E mais R$ 2,5 bilhões estão sendo repassados para municípios
fortalecerem a rede do Sistema de Assistência Social (SUAS), que conta hoje
com mais de 2 mil unidades de acolhimento que atendem cerca de 34 mil
crianças e adolescentes abrigados.

O pagamento do auxílio emergencial de R$ 600, que soma, até o momento, mais


de R$ 121 bilhões, foi incluído pela ministra entre as ações para evitar o
agravamento da situação de famílias pobres em meio à pandemia. "O auxílio
evitou que 5,6 milhões de crianças e adolescenstes caíssem na extrema
pobreza, segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas", afirmou a ministra.

De acordo com o balanço, foram distribuídas 60 mil cestas de alimentos para 30


mil crianças e jovens, de 6 a 18 anos, em situação de vulnerabilidade social, em
132 municípios atendidos pelo programa Forças no Esporte (Profesp), do
Ministério da Defesa. "E, está em andamento a distribuição de 500 mil cestas de
alimentos para famílias de povos e comunidades tradicionais, alcançando
milhões de crianças e adolescentes", acrescentou Damares.

Na área da saúde, o governo federal informou ter assegurado a imunização de


adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas na Campanha
Nacional de Vacinação contra a Influenza, além da visitação prioritária das
equipes de saúde da família nas mais de 2 mil unidades de acolhimento de
crianças e adolescentes.

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Ainda segundo Damares, foi entregue a famílias de todo o país uma cartilha com
orientações prevenção de acidentes domésticos. De acordo com a ministra,
registram-se anualmente no país cerca de 2 mil acidentes domésticos, e este
número poderia dobrar este ano por causa da maior presença de crianças em
casa.

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6- REFERÊNCIAS

BRASIL. Código penal. Código de Menores Decreto nº 17 943-A de 12 de outubro


de 1927. São Paulo: Saraiva, 1970.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do


Brasil:promulgada em 05 de outubro de 1988. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2009.

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de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm>.
Acesso em: 10/12/2018.

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Marista de Assistência Social. Brasília, 2016.

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artigo por artigo. São Paulo: Rideel, 2018.

SOUZA, Jessé. Subcidadania Brasileira. Para entender o Brasil além do jeitinho


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