Trabalho Final - HRI II
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UBERLÂNDIA
2024
INTRODUÇÃO
Neste trabalho buscamos elucidar quais foram os principais fatores que
desencadearam o surgimento e a ascensão do movimento hippie, e, se o movimento teve
algum impacto fora dos Estados Unidos. O movimento hippie, que teve seu auge na década
de 1960, parte da contracultura, a qual foi marcada por valores como paz, amor, liberdade, e
rejeição aos padrões sociais convencionais. Essas movimentações surgiram nos Estados
Unidos em resposta à guerra do Vietnã e à rigidez da sociedade da época. Neste contexto, os
hippies buscavam uma vida simples, em comunidade, e valorizavam a espiritualidade, a
música e o contato com a natureza.
Na América Latina, o movimento hippie encontrou terreno fértil, especialmente em
países como Brasil e Cuba, onde se mesclou com elementos da cultura local, estendendo sua
influência na música, na arte e até mesmo em movimentos políticos. Na Ásia, países como
Índia e Nepal também foram destinos populares entre os hippies, atraídos pela espiritualidade
oriental e pela cultura alternativa. Logo, o movimento hippie deixou um legado duradouro
nessas regiões, sendo crucial para alterar modos de vida, leituras de mundo e expressões
artísticas.
MAIO DE 1968
O “Maio de 68”, ocorrido na França, pode ser compreendido como um levante que
contribuiu grandemente para os movimentos sociais contemporâneos. De acordo com Alberto
Alves da Silva, representa um “divisor de águas no que consiste a abertura de uma nova
consciência por parte da juventude que desejava um novo modelo de sociedade, pautado pela
liberdade de gênero e a luta pela paz mundial” (SILVA, 2013, p. 1). Foi expressivo entre os
universitários, pois se tratava de um estrato propício a mobilizar mudanças, já que o sistema
educacional universitário na França não havia mudado durante várias décadas e por isso,
entrou em crise (THIOLLENT, 1998).
Além disso, o contexto da crise universitária estava inserido no contexto global da
sociedade, com lutas ideológicas e políticas mobilizadas em defesa de pautas como a
democratização, as liberdades individuais e coletivas e a denúncia contra guerras, etc. É
importante destacar que, no período em que ocorriam as manifestações em paris, ocorriam
vários outros eventos históricos, como a guerra americana no Vietnã, a revolta negro-
americana, a luta armada na América Latina e África e a Revolução Cultural na China, que
contribuíam para a revolucionarização da juventude universitária francesa (THIOLLENT,
1998).
Em 22 de março iniciavam-se as movimentações do levante que viria a ser o Maio de
68, na Universidade de Nanterre. Nesse momento, estudantes desafiavam autoridades
universitárias. A partir disso, a ação estudantil contra a repressão passa a ganhar mais força e
expressão em toda a França, e no dia 10 de maio, houve um salto qualitativo a partir da
adesão de trabalhadores operários e da classe média assalariada. Em um curto espaço de
tempo, ocorreu uma grande greve de aproximadamente 10 milhões de trabalhadores, e
ocorriam manifestações expressivas nas ruas (THIOLLENT, 1998).
De acordo com Daniel Bensaïd, professor ativista no Maio de 68, a associação entre o
operariado francês e os estudantes no levante foi consequência de uma “proletarização do
futuro profissional”, ou seja, a perspectiva de que os termos entre os estudantes e os operários
não era de solidariedade, mas sim, de combate comum, já que os jovens em formação
universitária viriam a compor um novo proletariado intelectual. Nessa perspectiva, o que
começou a ser criado em 1968 foi uma cultura democrática de lutas, expressa especialmente
na ocupação: ocupavam-se as universidades, e ocupavam-se as fábricas (BENSAÏD, 2008).
Em paralelo ao que ocorria na França, no contexto dos Estados Unidos, acontecia o
movimento hippie, que também surgiu como um movimento de contestação e
revolucionarização da juventude. O ano de 1968 tornou-se símbolo dessa rebeldia que ocorria
em diferentes lugares do mundo e que trazia propostas políticas, diferentes visões de mundos
e novos paradigmas teóricos (KAMINSKI, 2017). As motivações para esse fenômeno são
incertas, sendo difícil definir um pensamento orientador ou dominante, porém, a respeito dos
costumes e modelos de comportamento, é possível inferir que, em um mundo rumo à
globalização, o movimento hippie americano tenha sido a referência (MOREIRA, 2008).
A juventude da década de 60 havia adquirido características distintas, de forma em
que “o corpo contracultural foi tanto um fator de identidade, de reconhecimento de seus pares
através do mundo, como uma arma política, de contestação” (KAMINSKI, 2017, p. 470).
Para além da questão cultural, a incorporação de alguns desses aspectos eram, por si só, uma
forma de contestar determinados valores difundidos, trazendo a perspectiva de liberdade
sexual, automarginalização como forma de recusa à sociedade de consumo, e a liberdade da
mentalidade humana, criticando o racionalismo (KAMINSKI, 2017).
Esses fatores possuem implicações à estrutura política vigente, com maior ou menor
intensidade. Destaca-se aqui, a questão da guerra: a proposta hippie de convivência com “paz
e amor” entre todos os indivíduos desafiavam as autoridades americanas em guerra no
Vietnã, uma das principais pautas do movimento hippie. Assim como nos Estados Unidos, na
França, os protestos realizados pelos estudantes e pelos operários foram um claro desafio às
fundamentações políticas (MOREIRA, 2008).
Na França, o fim do levante de Maio de 68 se dá a partir da repressão violenta do
governo. Desde as primeiras movimentações, ocorrera a ocupação policial nas universidades,
além da presença permanente e ostensiva de batalhões de choque. A partir da greve geral,
manifestantes exigiam a demissão de De Gaulle, que era o presidente da época, e a formação
de um governo popular. Mais tarde, ocorrem eleições e o partido de De Gaulle cresce em
votos, ocasionando frustração por parte dos revolucionários do Maio de 68. Com a greve
geral encerrada, suas demandas essenciais não atendidas e a derrota eleitoral - De Gaulle
permaneceu no poder, a movimentação perdeu suas forças (PONGE, 2008).
Nessa perspectiva é possível afirmar que o ocorrido na França em maio de 1968 foi
um importante marco na história, que marcou uma geração de jovens estudantes e
trabalhadores. Tratou-se de um movimento abrangente, que articulou debates universitários,
manifestações em rua, e greve de 10 milhões de trabalhadores. Dessa forma, criou-se um
espaço para o desenvolvimento cultural nas instituições inspirado no movimento, que
criticavam diversas formas de autoritarismo, possibilidade de realizar críticas ao conteúdo do
ensino e aos métodos de didática, além do surgimento de uma contracultura ecológica e
novas formas de ação, como a ocupação dos locais de poder (THIOLLENT, 1998).
WOODSTOCK
Assim como todo o movimento hippie, o festival de Woodstock, ocorrido em Bethel
em Nova York no final da década de 60, também passou por algumas contradições. Enquanto
o festival mantinha sua marca de imposição aos preceitos do sistema econômico, o mesmo
possuía fins lucrativos por diversas partes. Ainda assim, o evento manteve as características
principais do movimento, quebrando qualquer tipo de pudor existente entre os mais puritanos
(SALVADOR, 2014).
De cabelos compridos e vestindo calças jeans, eles ouviam rock e a música, mais do
que entretenimento, era um instrumento de contestação, de mudança social e política.
E mudou. Uma das principais manifestações desse movimento aconteceu no
Woodstock Music & Art Fair ou, simplesmente Festival de Woodstock. [...] Era para
ser um encontro para afirmar a cultura hippie, celebrar a paz e o amor e protestar
contra a Guerra do Vietnã (1959-1975), mas se tornou um dos marcos culturais do
século XX (MARIUZZO, 2009).
CONCLUSÃO
Como foi apresentado ao longo do trabalho, a influência da Guerra Fria e da Guerra
do Vietnã no movimento hippie foi profunda e duradoura. Ao desafiar os valores dominantes
de seu tempo e buscar uma alternativa pacífica aos conflitos militares, os hippies
promoveram ideais de paz, amor e liberdade que ressoaram além das fronteiras dos Estados
Unidos. Seu legado transcendeu décadas, inspirando gerações posteriores a questionar o
status quo, buscar a harmonia com a natureza e promover a mudança social. Embora o
movimento hippie tenha surgido em um contexto específico, sua mensagem de união,
compaixão e autenticidade continua relevante em um mundo em constante busca por paz e
justiça.
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