NC Março-Abril Central
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(Salmo 8)
Fizeste-o, no entanto, por um pouco menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste
O Antigo Testamento compreende uma grande mensagem de fé: Deus nos criou. O fato de ser
criado, e não meramente “aparecido” no mundo, torna o ser humano altamente especial.
Gênesis diz que Deus “formou o ser humano do barro”, modelou-o com suas mãos, tocou
nele, deu-lhe a aparência, a forma, e soprou nele para que vivesse.
Deus pensou bem antes de nos criar. E o fato de ter pensado antes indica que Deus nos ama e
não que nos criou ao mero acaso, para uma satisfação própria. Ele nos colocou num estado de
vida especial, no qual podemos exercer nossa racionalidade e a capacidade de comunicar
conhecimento, tradições, histórias e sentimentos. Ter glória e honra significa ser reconhecido,
ter valor perante a criação e valor diante de Deus. Em certo sentido, dentre a criação, que é
toda importante e preciosa, ser ainda um pouco mais especial.
Esse valor e amor próprio são coisas que temos de cultivar em nós mesmos. Às vezes, uma
dura crítica sofrida em nossa infância ou adolescência pode criar em nós um sentimento
negativo que vai pela vida toda.
Ter honra da parte de Deus significa ter forças para superar rótulos e limitações que os outros
nos impõem. Muitas vezes, a pregação cristã enfatizou tanto que as pessoas eram pecadoras
que elas se esqueceram de que, como criação de Deus, eram dotadas de bons talentos também.
Na Idade Média, essa ênfase na pecaminosidade humana afastou tanto as pessoas de Deus
quanto do próximo.
Deus se tornou um juiz severo, que só aplacaria sua ira mediante a compra de muitas e caras
indulgências. A solidariedade acabou porque, se alguém era pobre e doente, devia ser porque
estava sendo castigado por Deus por algum pecado. Nesse caso, não era digno de ajuda, nem
de piedade.
Deus, no entanto, não pensa assim de nós. Ele sabe que somos pecadores, sabe que temos
imensos e intermináveis defeitos. Mas Ele nos criou para as boas obras, como afirma a Carta
aos Efésios. Foi para o bem que Ele nos fez e, nesse sentido, somos chamados a ser
mordomos das boas coisas criadas. O que acontece é que o pecado nos desviou de nossa rota
original. A vida nova em Cristo nos devolve o direito de ser de acordo com a imagem e a
semelhança de Deus: boas pessoas.
Portanto, não podemos simplesmente “entrar nas formas” estabelecidas pela sociedade, se elas
nos tiram o direito de ser quem somos. Se agirmos assim, jamais poderemos experimentar a
glória e a honra dadas por Deus. Porque Ele nos ama e nos aceita exatamente do jeito que
somos. Se há algo a ser mudado, quem fará isso será o Espírito de Deus e não as convenções
humanas.