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Que o homem que dele te lembres?

(Salmo 8)

Descobrindo nosso lugar na criação


No mundo bíblico, o ser humano é muito importante. Tanto que, de acordo com o Salmo 8,
somos “coroados de honra e glória”. Temos um espaço privilegiado junto a Deus, uma
condição superior à de simples criaturas: somos convidados a fazer parte de sua família.
No entanto, em nossa vida nos deparamos com conflitos que colocam em xeque o que somos.
E então, nos perguntamos: quem sou eu?
Na adolescência e juventude, a indagação se aprofunda. A sociedade exige de nós posturas e
papéis difíceis, complexos, que não se parecem com o que desejamos. Nessa fase da vida,
somos muito velhos para algumas coisas e muito novos para outras. Temos responsabilidades,
por um lado, e existem coisas que são demais para nós, por outro.
Na vida adulta, nos perguntamos quem somos ao assumir novos desafios, ao ficar
desempregados, ao casar, ao ficar sozinhos, ao ter filhos, ao envelhecer. Todas essas etapas
exigem uma definição de identidade. Assim, com base no Salmo 8, queremos hoje saber o que
a Palavra de Deus tem a dizer a nós sobre o que e quem, de fato, somos.

Que é o homem? Que é o filho do homem?


Em geral, a expressão “filho do homem” quer dizer o mesmo que “filho do humano, filho da
humanidade”, isto é, o ser humano em seu aspecto mais geral. Esta pergunta nos lembra nossa
humanidade. Portanto, nos adverte para o fato de que somos limitados.
Uma vez, perguntaram ao sábio Confúcio: “O que o surpreende mais na humanidade?”
Confúcio respondeu: “Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o
dinheiro para recuperá-la. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal
forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem
morrer e morrem como se não tivessem vivido”.
Porém, reconhecer que somos humanos e estamos sujeitos à nossa finitude e mortalidade, não
nos deve impedir de alcançar os sonhos que temos. O objetivo desse reconhecimento é nos
recolocar no centro da vontade de Deus. Devemos viver a vida em plenitude, é a lição do
povo de Deus do Antigo Testamento. Porque a vida é uma só; no sentido de que qualquer
outro nível de nossa existência não será como este. É como um velho sábio que dizia que não
podemos passar no mesmo rio duas vezes: nem o rio será o mesmo, nem nós seremos. O
reconhecimento de sua finitude levava o ser humano do Antigo Testamento a buscar a vida
em toda a plenitude e a lutar por ela de todas as formas.

Fizeste-o, no entanto, por um pouco menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste
O Antigo Testamento compreende uma grande mensagem de fé: Deus nos criou. O fato de ser
criado, e não meramente “aparecido” no mundo, torna o ser humano altamente especial.
Gênesis diz que Deus “formou o ser humano do barro”, modelou-o com suas mãos, tocou
nele, deu-lhe a aparência, a forma, e soprou nele para que vivesse.
Deus pensou bem antes de nos criar. E o fato de ter pensado antes indica que Deus nos ama e
não que nos criou ao mero acaso, para uma satisfação própria. Ele nos colocou num estado de
vida especial, no qual podemos exercer nossa racionalidade e a capacidade de comunicar
conhecimento, tradições, histórias e sentimentos. Ter glória e honra significa ser reconhecido,
ter valor perante a criação e valor diante de Deus. Em certo sentido, dentre a criação, que é
toda importante e preciosa, ser ainda um pouco mais especial.
Esse valor e amor próprio são coisas que temos de cultivar em nós mesmos. Às vezes, uma
dura crítica sofrida em nossa infância ou adolescência pode criar em nós um sentimento
negativo que vai pela vida toda.
Ter honra da parte de Deus significa ter forças para superar rótulos e limitações que os outros
nos impõem. Muitas vezes, a pregação cristã enfatizou tanto que as pessoas eram pecadoras
que elas se esqueceram de que, como criação de Deus, eram dotadas de bons talentos também.
Na Idade Média, essa ênfase na pecaminosidade humana afastou tanto as pessoas de Deus
quanto do próximo.
Deus se tornou um juiz severo, que só aplacaria sua ira mediante a compra de muitas e caras
indulgências. A solidariedade acabou porque, se alguém era pobre e doente, devia ser porque
estava sendo castigado por Deus por algum pecado. Nesse caso, não era digno de ajuda, nem
de piedade.
Deus, no entanto, não pensa assim de nós. Ele sabe que somos pecadores, sabe que temos
imensos e intermináveis defeitos. Mas Ele nos criou para as boas obras, como afirma a Carta
aos Efésios. Foi para o bem que Ele nos fez e, nesse sentido, somos chamados a ser
mordomos das boas coisas criadas. O que acontece é que o pecado nos desviou de nossa rota
original. A vida nova em Cristo nos devolve o direito de ser de acordo com a imagem e a
semelhança de Deus: boas pessoas.
Portanto, não podemos simplesmente “entrar nas formas” estabelecidas pela sociedade, se elas
nos tiram o direito de ser quem somos. Se agirmos assim, jamais poderemos experimentar a
glória e a honra dadas por Deus. Porque Ele nos ama e nos aceita exatamente do jeito que
somos. Se há algo a ser mudado, quem fará isso será o Espírito de Deus e não as convenções
humanas.

Ó Senhor, Senhor nosso!


Diante da manifestação amorosa de Deus para com o ser humano, demonstrada na natureza,
só restou ao salmista louvar a Deus e bendizê-lo por seu cuidado! Em outras palavras, ele diz:
“Quando olho todas as coisas criadas e penso em como somos seres pequenos diante do teu
poder, só posso te louvar porque, mesmo assim, frágeis, o Senhor nos escolheu como
mordomos da criação”. Quando você não souber quem é, diante dos desafios da vida, lembre-
se disso: você é coroado, coroada de honra e glória diante de Deus; porque ele se importou
particularmente quando criou você!

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