Co-Missão Universal

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Uma comissão universal

Mc 16.15-20
Em primeiro lugar, a boa nova é o próprio Jesus (16.15). As boas-novas
(euangelion) é uma das palavras favoritas de Marcos. Ele usa-a sete vezes
(1.1,14,15; 8.35; 10.29; 13.10; 14.9). Para Marcos, a história de Jesus é a boa nova
a ser proclamada. O evangelho é a mensagem de que Deus está a agir por meio
de Jesus, seu Filho, trazendo libertação ao cativo, destruindo o poder do diabo, do
pecado e da morte. Pelo evangelho proclamamos que em Jesus o curso da História
foi mudado. Jesus pela sua morte e ressurreição estabeleceu o seu Reino. Isto é a
grande boa nova do evangelho.
Em segundo lugar, a boa nova de Jesus precisa ser pregada (16.15). O
verbo pregar é outra palavra favorita de Marcos. Encontramo-la quatorze vezes
neste evangelho, enquanto só aparece nove vezes em Mateus e Lucas. Marcos
enfatiza que Cristo veio para pregar (1.14). Marcos sabe que Jesus é mais do que
um pregador, por isso, relata vários dos seus milagres, porém destaca a primazia
do ministério da pregação de Jesus (1.38). Embora Jesus se tenha ocupado em
atender as necessidades físicas das pessoas, Ele focou primordialmente as
necessidades espirituais. Jesus chamou os seus discípulos para pregar (3.14) e
enviou-os a pregar (6.12). Agora, Jesus ordena aos seus discípulos a pregar em
todo o mundo. Estar calado é um perigo maior que a perseguição e morte. O
evangelho só é boas-novas se for compartilhado.
O propósito de Deus é o evangelho todo, por toda a igreja, em todo o mundo, a
todas as criaturas. O evangelho deve ser pregado a todas as nações (13.10), em
todo o mundo, a toda criatura (16.15). A Igreja precisa ser uma agência
missionária. Ela precisa ser luz para as nações. Uma igreja que não evangeliza
precisa ser evangelizada. A igreja é um corpo missionário ou um campo
missionário.
A evangelização é uma tarefa imperativa, intransferível e inadiável. O mundo
precisa do evangelho e a salvação do evangelho precisa ser oferecida livremente
a toda a humanidade.
Em terceiro lugar, a boa nova de Jesus precisa ser recebida (16.16). O evangelho
somente é experimentado como boas-novas quando é recebido e crido. A Palavra
de Deus é como espada de dois gumes, ao mesmo tempo em que traz vida,
também sentencia com a morte. A Igreja é perfume de vida e também de morte,
pois ninguém pode ficar neutro diante da mensagem do evangelho que é
proclamada. Aos que recebem a mensagem, a Igreja é cheiro de vida para a vida,
porém, àqueles que rejeitam as boas-novas, ela é cheiro de morte para a morte.
Aquele que crê deve ser baptizado e introduzido na comunhão da igreja. A fé,
porém, precede ao baptismo. O baptismo não faz o cristão, mas demonstra-o.
Uma pessoa pode ser salva sem o baptismo, como o foi o ladrão que se
arrependeu na cruz, mas jamais alguém pode ser salvo sem crer em Jesus. É a
descrença e não a ausência do baptismo a razão da condenação (16.16).
Milhares de pessoas são lavadas nas águas do baptismo, mas jamais foram lavadas
no sangue de Cristo. Isso, contudo, não significa que o baptismo deve ser
desprezado ou negligenciado.
Certamente, Jesus não está a dizer que o baptismo é necessário para a salvação,
mas a pessoa que é salva deve ser baptizada. É a rejeição de Cristo que traz a
condenação eterna. Jesus foi claro, quando disse: “Por isso, quem crê no Filho tem
a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida,
mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo 3.36). O vínculo directo entre os
termos não é “baptismo e salvação”, mas “fé e salvação”, ou “incredulidade e
condenação”.
Em quarto lugar, a boa nova de Jesus precisa ser confirmada (16.17,18). Os sinais
não estão vinculados a cargos, mas em primeiro lugar à fé que deixa Deus ser Deus
(5.36; 9.23; 11.22). Em segundo lugar, eles fazem parte do contexto missionário,
pois o fato de eles “acompanharem” pressupõe que os discípulos estão a caminho
para difundir o evangelho.
O que temos aqui é descritivo e não prescritivo. O que temos aqui é um sumário
da vida da Igreja primitiva. Os cristãos primitivos expulsaram demónios em nome
de Jesus (3.15; 6.7,13; At 8.7,16,18; 19.12). Eles falaram em línguas (At 2.4; 10.46;
19.6; 1Co 12.10,28; 14.2-40). Paulo foi picado por uma víbora sem sofrer o dano
de seu veneno letal (At 28.3-6). Eles impuseram as mãos sobre os enfermos para
curá-los (At 28.8). Não há, porém, nenhuma alusão no Novo Testamento sobre a
ingestão de veneno. O único registro que temos na história é de Eusébio,
historiador da Igreja, que fala sobre Justus Barsabas, um cristão que, forçado a
beber veneno, pela graça de Deus não morreu.
Alguns sinais descritos em Marcos 16.17,18 ocorreram durante o período
apostólico descrito no livro de Atos.
Eles foram as credenciais dos apóstolos (Hb 2.1-4; Rm 15.19; 2Co 12.12), mas não
devemos presumir que eles pertencem a todos os crentes hoje. É insensatez
tentar a Deus ao beber veneno, mas não é tolice confiar em Deus quando a
obediência à sua vontade nos levar a situações perigosas. O orgulho mata-nos,
mas a fé liberta-nos.
Em conexão com estes dons especiais diz: “Esses dons eram parte das credenciais
dos apóstolos, como os agentes de autoridade de Deus, na fundação da Igreja...
tais dons necessariamente desapareceram, com os apóstolos”. Crisóstomo e
Agostinho também eram da opinião que esses dons, com a morte dos apóstolos,
cessaram de existir. Essa também era a opinião de Jonathan Edwards: “Esses dons
extras foram dados para a fundação e estabelecimento da Igreja no mundo.
Contudo, desde que o cânon das Escrituras se completou e a Igreja foi plenamente
fundada e estabelecida, esses dons extraordinários cessaram de existir.
Não é esse, porém, o nosso entendimento. Cremos que Deus pode e tem dado os
seus dons de sinais onde e quando quer, a quem quer, livre e soberanamente,
segundo a sua aprovação, para o louvor da sua própria glória, para a salvação dos
eleitos e a edificação dos santos. A grande ênfase de Marcos é que quando a Igreja
proclama a mensagem de Deus, o próprio Deus confirma essa mensagem com a
manifestação do seu poder (1Co 2.4; 1Ts 1.5), transformando vidas, atraindo as
pessoas irresistivelmente pelo seu poder sobrenatural.
Paulo relembra os corintos acerca da sua maneira de pregar o evangelho. Primeiro
ele menciona o aspecto negativo: “A minha palavra e a minha pregação não
consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria...” (2.4). E possível o pregador
cometer este grave erro. Dar mais ênfase à forma do que ao conteúdo. E quando
a forma passa a ser mais importante do que o conteúdo, cai-se no erro dos
filósofos que iam às praças e competiam para ver quem falava melhor. A segunda
maneira é positiva: “E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre
vós” (2.3,4; 2Co 11.30). Paulo não está falando aqui de uma fraqueza e debilidade
física. O que Paulo está dizendo é que o evangelho é algo tão sublime e
maravilhoso que quando ele foi a Corinto, foi na total dependência de Deus. Ele
não foi com ufanismo ou com autoconfiança; ele não foi com soberba ou
vangloria, mas foi com muita humildade, por entender a grandeza e a majestade
da mensagem que ele estava pregando. Esta é a atitude que o pregador deve ter.
Ele deve subir ao púlpito com temor e tremor. Embora Paulo fosse um apóstolo,
ele veio a Corinto sem vaidade, sem autoconfiança, mas com humildade, sabendo
da sublimidade do seu ministério e da grandeza da sua mensagem (At 18.9; 2Co
10.10). Sem o poder do Espírito, não há pregação. Martyn Lloyd-Jones diz
claramente: “Pregação é lógica em fogo! Pregação é razão eloquente! Pregação é
teologia em fogo, é teologia vinda por intermédio de um homem que está em
fogo”. É conhecida a famosa frase de João Wesley: “Põe fogo no teu sermão ou
põe o sermão no fogo”. Só o Espírito Santo pode acender uma fogueira no púlpito.
João Calvino diz: “A Palavra de Deus nunca deve ser separada do Espírito”. E. M.
Bounds quando diz: “O Espírito Santo não flui por meio de métodos, mas de
homens. Ele não vem sobre máquinas, mas sobre homens. Ele não unge planos,
mas homens - homens de oração”. Charles Spurgeon sempre subia os quinze
degraus do seu púlpito dizendo: “Eu creio no Espírito Santo”.
Paulo é enfático: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em
linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de
poder” (2.4). O que é demonstração do Espírito? A palavra “demonstração”, na
língua original, apodeixis, traz a idéia de uma prova legal apresentada diante de
uma corte. Leon Morris diz que apodeixis é a prova mais rigorosa. E qual era a
prova legal que Paulo trazia? Era apresentar vidas transformadas pela pregação
poderosa do evangelho! Sua pregação não era uma peça de oratória, mas era pura
demonstração do Espírito e de poder. Ele apresentava diante da corte vidas
transformadas, verdadeiros milagres do céu. Paulo não estava preocupado em
falar bem, mas em mostrar o resultado do evangelho. Paulo disse aos coríntios:
Meus irmãos quando eu cheguei até vocês, eu não quis ser um filósofo ou um
orador, antes resolvi anunciar o evangelho que transforma vidas. Eu quis pregar
uma mensagem que realiza mudança na vida das pessoas.
Este é o evangelho que precisamos, não um evangelho besuntado de sabedoria
humana, mas o evangelho da simplicidade, da pureza e do poder do Espírito
Santo. Quem transforma o coração do homem não é a beleza da oratória humana,
mas o poder do Espírito Santo de Deus. Paulo não está a desencorajar a
preparação para pregar, mas a enfatizar sobre quem os holofotes devem estar.
Paulo não está contra o uso da oratória, mas da oratória sem a unção do Espírito.
O pregador deve usar a sua retórica para apresentar Cristo e não para exaltar-se
a si mesmo.
No século 19, um turista chegou a Lojndres. De manhã ele foi a uma grande igreja
para ouvir um dos mais famosos pregadores daquele século. Quando ele saiu da
igreja, exclamou de maneira intensa: que grande pregador nós ouvimos nesta
manhã! E à noite ele foi à igreja de Charles Spurgeon, e ao sair daquela igreja,
também fez uma grande exclamação: Que grande Deus este pregador pregou
nesta noite! Esta é a diferença! Um pregou para impressionar o auditório; o outro
pregou para ressaltar a grandeza de Deus e a graça de Jesus. É isto que Paulo
queria ensinar para à igreja de Corinto.

A Igreja é chamada para ser um sinal do Cristo vivo e ressurrecto no mundo. A vida
cristã é a vida vivida na presença e no poder daquele que foi crucificado e
ressuscitou.
O evangelista Marcos fecha as cortinas do seu livro, enfatizando duas gloriosas
verdades:
Em primeiro lugar, Cristo é coroado à destra de Deus Pai (16.19). A sua obra foi
consumada. O seu sacrifício foi aceite. Ele que se humilhou foi exaltado
sobremaneira (Fp 2.8-11). Agora, Ele está entronizado à destra do Pai, de onde
intercede pela Igreja, de onde governa o universo e de onde vai voltar para buscar
a sua noiva.
Em segundo lugar, a Igreja em parceria com o Senhor realiza a sua obra (16.20).
Os discípulos partiram e pregaram por toda parte. O Senhor cooperou com eles
confirmando a palavra por meio de sinais. A pregação do evangelho foi realizada
com palavra e poder. A mensagem foi pregada aos ouvidos e também aos olhos.
Estes cristãos, revestidos com o poder do Espírito Santo, mesmo perseguidos,
empobrecidos e despojados de poder militar e influência política, empunharam a
bandeira do evangelho, proclamaram com coragem a mensagem da ressurreição
e conquistaram o mundo com o poder do evangelho.

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