Valdemir - História
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Foram nove anos de guerrilhas, escaramuças e emboscadas dos luso-brasileiros para expulsar os holandeses
do Nordeste que eles ocupavam desde 1630. A chamada Insurreição Pernambucana (1645 a 1654) foi uma
guerra de resistência para ambos os lados que passaram por todo tipo de privação principalmente a falta de
alimentos. Os confrontos contaram tropas de ex-escravos e indígenas, e também com a participação de
ingleses, franceses, dinamarqueses, alemães, noruegueses, lusitanos, espanhóis, napolitanos, cariocas,
baianos e paulistas.
Em 1643, Nassau foi demitido, só retornando à Europa em 22 de maio de 1644. Nesse período, os lucros do
açúcar despencaram. Entre 1642 e 1644, a queda do preço do açúcar provocou a ruína de comerciantes de
Recife e da Holanda.
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O primeiro foco rebelde apareceu no Maranhão, mas logo depois alastrou-se para Pernambuco que acabou
sendo o principal centro da insurreição. Em Portugal, figuras da nobreza e altos funcionários régios, interessados
no comércio do açúcar e nas propriedades confiscadas em Pernambuco pressionaram D. João IV a fomentar
secretamente a revolta contra o aliado holandês (MELLO, 1975, p. 260-261).
Mapa holandês celebrando a conquista da Capitania de Pernambuco pela Companhia Holandesa das
Índias Ocidentais em fevereiro de 1630.
As difíceis condições da guerra
A chamada Insurreição Pernambucana prolongou-se por quase dez anos de guerra (1645 a 1654). As condições
da luta foram difíceis. A guerra contra os holandeses implicou uma assimilação de técnicas locais aprendidas
dos índios, denominada “guerra brasílica” ou “guerra do mato”. A guerra de guerrilhas forneceu aos sertanistas
e soldados da terra os meios de se espalharem pelo interior e de resistirem aos invasores. O armamento dos
luso-brasileiros era precário.
A grande maioria dispunha apenas de lanças. As tropas que participaram das duas batalhas dos Guararapes
estavam armadas unicamente de lanças. Isso em uma época que o uso de armas de fogo (arcabuzes,
mosquetes, pistolas e clavinas) já estava generalizado na Europa. Em terras tropicais, contudo, os arcabuzes e
mosquetes eram inconvenientes, pois as mechas ficavam imprestáveis em caso de chuva ou umidade.
Além disso, elas deviam ser trazidas do Reino. Por isso, deu-se preferência pela espingarda de pedernal e à
clavina que dispensavam a mecha, o que também fizeram os holandeses. Canhões mostraram-se mais um
obstáculo do que um reforço militar. Não havia cavalos para transportá-los por terra cabendo ao boi, ao negro
e ao índio. A tarefa mostrou-se impossível pelo tempo que consumia, levando semanas para percorrer uns 20-
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30 km. Por mar corria-se o risco da artilharia ser tomada pelos holandeses. Com os navios holandeses policiando
a costa, as tropas luso-brasileiras só podiam se deslocar pelo interior.
Os caminhos terrestres no Nordeste açucareiro eram poucos e precários. O percurso de Recife a Penedo, no
atual estado de Alagoas (cerca de 400 km) atravessava 50 rios dos quais apenas 15 dispunham de pontes, isto
é, pontilhões improvisados com toras de madeira. Os outros eram atravessados por canoas ou na maré baixa.
Impossível para o transporte de tropas, armas e víveres exigidos por um exército. A cavalaria foi de pouco valor
na guerra contra os holandeses. Apesar dos engenhos possuírem cavalos, os animais serviam a fins utilitários
(tração e transporte) e eram alimentados com milho e não aveia. Os melhores cavalos eram para ostentação
dos senhores de engenho. Na primeira batalha dos Guararapes, a cavalaria luso-brasileira não devia passar de
20 cavalos sendo que 5 ou 6 foram mortos no combate (MELLO, 1975, p. 223)
Os holandeses também não dispunham de cavalaria. Maurício de Nassau chegou a ter uma tropa de 80
cavaleiros, mas em 1639 a cavalaria regular foi extinta.
A insurreição estalou no dia 13 de junho de 1645 comandada por João Fernandes Vieira, um dos mais ricos
latifundiário da região e cuja prisão havia sido decretada pelos holandeses. Os confrontos misturavam ou
combinavam a arte militar europeia e as técnicas de guerrilha. Em 3 de agosto de 1645, no monte das Tabocas,
as forças luso-brasileiras tiveram sua primeira vitória, obrigando os holandeses a recuaram para o Recife.
Nessas alturas, chegaram as tropas de reforço enviadas pelo governador-geral Antônio Teles da Silva.
Nova vitória foi obtida, duas semanas depois, quando foi tomado o engenho da Casa Forte, abrindo caminho
para o cerco de Recife. Depois dessas vitórias iniciais, a guerra caiu num impasse, que se estendeu por vários
anos: os holandeses dominavam o mar, mas não conseguiam afastar os insurgentes de suas posições. Estes,
por sua vez, não podendo obter do rei de Portugal senão um fraco auxílio militar, viam-se forçados à inatividade.
Em 19 de abril de 1648 travou-se a primeira batalha dos Guararapes, na qual os rebeldes, ainda que
inferiorizados em número, conseguiram inflingir pesada derrota aos holandeses. Dez meses depois, no mesmo
local travava-se segunda batalha, resultando em outra vitória para os brasileiros (19 de fevereiro de 1649).
A partir daí os holandeses ficaram, até 1654, em uma posição puramente defensiva, já que também haviam
fracassado também as tentativas de romper o cerco de Recife. A Insurreição Pernambucana se restringe, então,
a escaramuças e guerrilhas.
Após as derrotas de Guararapes, a situação dos holandeses deteriorou-se rapidamente por um conjunto de
fatores. Os soldados que já vinham sofrendo atrasos em seus soldos passaram a fugir para o lado português.
Os soldados queixavam-se também da falta de vestuário, da intensa jornada de trabalho, da alimentação
insuficiente ou mesmo da falta de comida. As tensões entre os administradores da Companhia e suas tropas
ficaram cada vez mais acentuada. A Companhia proibiu o retorno dos militares mesmo aqueles com contratos
já vencidos, pois encontrava grandes dificuldade em recrutar gente para a guerra no Brasil (MIRANDA).
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Além das deserções, ocorreram revoltas de soldados na fortificação de Altená e de Brum, aos arredores de
Recife. Quando os luso-brasileiros atacaram esses fortes, em janeiro de 1654, os soldados apontaram suas
armas contra seus superiores dizendo que não queriam mais lutar e iriam entregar o forte ao inimigo.
A essas alturas, as Províncias Unidas estavam em guerra contra a Inglaterra de Cromwell. Isso obrigou a
Holanda a desviar amplos recursos para enfrentar os ingleses; por outro lado, os ingleses mandaram ajuda aos
revoltosos pernambucanos em armas e munições. Portugal sentiu-se estimulado a aumentar a ajuda aos
colonos e enviou, em 1653, uma frota de guerra comandada por Pedro Jacques de Magalhães com 60 navios
“bem aparelhados”, e que auxiliou no cerco de Recife em 1654.
O reconhecimento oficial da perda da soberania da Holanda no Brasil só foi reconhecido em 1661, através da
Paz de Haia, em que Portugal negociou o pagamento de uma indenização aos holandeses equivalente a 63
toneladas de ouro para garantir a recuperação do Nordeste Brasileiro.
Fonte:https://ensinarhistoria.com.br/insurreicao-pernambucana-nove-anos-de-lutas-para-expulsar-os-
holandeses/
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OS HOLANDESES NA PARAÍBA
Após um tempo os holandeses resolvem tentar invadir a Paraíba novamente, pois ela representava uma porta
para a invasão batava em Pernambuco. Dessa forma, em 25 de novembro de 1634 partiu uma esquadra de 29
navios para a Paraíba.
Aos quatro dias de dezembro de 1634, bem preparados os soldados holandeses chegam ao Norte do Jaguaribe,
onde desembarcaram e aprisionaram três brasileiros, entre eles o governador, que conseguiu fugir. No dia
seguinte o resto da tropa holandesa desembarcou aprisionando mais pessoas. No caminho por terra para
Cabedelo os batavos receberam mais reforços. Antônio de Albuquerque Maranhão enviou à Paraíba tudo o que
foi preciso para combater com os chefes holandeses na região do forte. Enquanto isso, Callabar roubava as
propriedades. Vieram reforços do Rio Grande do Norte e de Pernambuco.
O capitão Francisco Peres Souto assumiu o comando da fortaleza de Cabedelo. Apenas em 15 de novembro
chegou à Paraíba o Conde Bagnuolo, para auxiliar os paraibanos. Como os paraibanos já se encontravam em
situação irremediável, resolveram entregar o Forte de Cabedelo e logo em seguida o Forte de Santo Antônio. O
Conde de Bagnuolo foi para Pernambuco; Antônio de Albuquerque e o resto da tropa, juntamente com o resto
do povo, tentou fundar o Arraial do Engenho Velho.
Os holandeses chegaram com seus exércitos na Felipéia de Nossa Senhora das Neves em 1634, e a
encontraram vazia. Foram então à procura de Antônio de Albuquerque no Engenho Velho, mas não o
encontraram. O comandante das tropas holandesas entendeu-se com Duarte Gomes, que procurou a Antônio
de Albuquerque, que o prendeu e mandou-o para o Arraial do Bom Jesus. Depois, os holandeses mandaram
libertar Duarte Gomes. No Engenho Espírito Santo, os nossos guerreiros venceram os invasores, que eram
chefiados por André Vidal de Negreiros.
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Servais Carpentier: Também governou o Rio Grande do Norte, e sua residência oficial foi no Convento São
Francisco.
Ippo Elyssens: Foi um administrador violento e desonesto. Apoderou-se dos melhores engenhos da capitania.
Elias Herckmans: Governador holandês importante, que governou por cinco anos.
Sebastian Von Hogoveen: Governaria no lugar de Elias H., mas morreu antes de assumir o cargo.
Daniel Aberti: Substituto do anterior.
Gisberk de With: Foi o melhor governador holandês, pois era honesto, trabalhador e humano.
Paulo de Lince: Foi derrotado pelos "Libertadores da Insurreição", e retirou-se para Cabedelo.
MAPA MENTAL
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Expulsão Holandesa
• Repressão holandesa (brutalidade)
• Aumento dos impostos
• Confisco de engenhos
• Vidal de Negreiros (guerra pela libertação)
• Expulsão flamenga (1654)
• Batalhas – Monte das Tabocas
Iª Bat. Dos Guararapes
II Batalha dos Guararapes
- Campina da Taborda
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REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA
A Revolução Pernambucana foi uma revolta de caráter republicano que questionava os gastos da família real
portuguesa no Brasil, enquanto a região sofria com a crise do açúcar.
Em 1808 com a vinda da família real para o Rio de Janeiro, devido a invasão napoleônica, e em 1810 com a
abertura dos portos no Brasil, o comércio português sofreu uma séria mudança, alterando toda a sua
conjuntura. A liberação do comércio permitiu a multiplicação de relações comerciais entre o Nordeste brasileiro
e outras nações.
Por Pernambuco ser a capitania mais lucrativa, foi a mais solicitada no pagamento de impostos. Muitos desses
impostos tornaram-se impopulares, como o caso da tributação sobre os produtos comercializados,
principalmente os alimentos e para custear os gastos extravagantes da Corte, já situada no Rio de Janeiro. O
problema fiscal atingia todas as esferas da vida social, suscitando tensões e problemas desde muito tempo,
agravados pelo endividamento dos colonos ao aparelho administrativo português.
Este clima de tensão vinha crescendo paulatinamente até o momento da eclosão da Revolução de 6 de março.
Neste dia, ocorreu um levante dos próprios militares envolvidos com a revolução dentro do quartel, resultando
na morte de um oficial de alta patente e na captura do governador, que havia se refugiado no Forte do Brum.
Na Fortaleza das Cinco Pontas, os militares libertaram os civis acusados de tramarem a morte dos europeus
e o próprio Domingos José Martins, um dos líderes do movimento que havia sido preso. Ainda no mesmo dia
ocorreu a escolha dos representantes para o Governo Provisório pelos líderes do movimento, todos os
integrantes do governo faziam parte do setor dominante: Padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro,
Domingos José Martins (Representante do comércio), José Luís de Mendonça (Representante dos
magistrados), Manuel Correa de Araújo (Representante da agricultura), Domingos Theotônio Jorge Martins
Pessoa (Representante dos militares).
A Revolução foi formada por diferentes associações e participação de grupos antagônicos. Não só o setor do
comércio tinha os seus interesses econômicos, como outras “identidades de interesses” compuseram a
contestação da ordem estabelecida: homens livres, senhores de escravos, comerciantes e padres.
O movimento rebelde, de fato, se concretizou durando um pouco mais de 70 dias, pondo fim à autoridade real
em Pernambuco, com a utilização da massa popular, responsável pelo desencadeamento da violência por
toda a capitania. Embora a Coroa tenha restabelecido a “ordem” através da forte repressão, o clima de
instabilidade se perpetuou e a antiga estrutura colonial nunca mais foi a mesma.
Antecedentes
Um dos primeiros episódios em que se pode verificar a influência dos ideais iluministas ocorreu em 1801,
quando Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, proprietário do Engenho Suassuna, foi acusado,
juntamente com seus irmãos, de conspirar para tornar Pernambuco independente. Eles eram membros do
Areópago de Itambé e tinham planos até de conseguir o apoio de Napoleão, graças às suas conexões com a
maçonaria francesa. Nada foi apurado de concreto e todos foram libertados por falta de provas. Todas essas
personagens mais tarde atuariam também na Revolução de 1817.
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A Revolução Pernambucana, ocorrida em 1817, foi o último movimento separatista do período colonial. Está
relacionada com a crise socioeconômica que o Nordeste atravessava há quase um século em razão
da desvalorização do comércio do açúcar e do algodão brasileiro no mercado externo. Além disso, a presença
da família real portuguesa no Brasil aumentou o custo de vida em virtude da cobrança de impostos, o que
causou revolta entre os pernambucanos. Os ideais republicanos também colaboraram para que a revolta
acontecesse. O governo local foi tomado pelos revoltosos, mas as tropas fiéis ao governo central conseguiram
derrotá-los.
Se os aspectos econômicos e sociais em Pernambuco não iam bem, a política também não. Dom João VI
reforçou a presença portuguesa nos postos de comando dos governos locais e das chefias das tropas
militares. Isso desagradou à elite local, que se sentiu desprestigiada. Ao longo de todo o processo
de independência do Brasil e nos primeiros anos do Primeiro Reinado, brasileiros e portugueses disputavam
postos de comando nos governos e o domínio do comércio nas cidades. Com o rei português no Brasil, a
presença lusitana intensificou-se, desagradando aos brasileiros, que já começavam a organizar movimentos
armados para depor os chefes portugueses de seus postos.
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Logo após a derrota da revolução, eles foram condenados e mortos de forma cruel em praça pública. O capitão
José de Barros Lima foi enforcado e teve partes do corpo cortadas e expostas para demonstrar a força da
coroa portuguesa e servir de exemplo para quem ousasse desafiá-la.
O Forte do Brum foi sede do governo da capitania de Pernambuco enquanto os participantes da Revolução
Pernambucana ocupavam o poder no Recife em 1817.
A Revolução Pernambucana começou em 6 de março de 1817, quando o militar português Manoel Joaquim
Barbosa foi assassinado pelo capitão José de Barros Lima, que reagiu à voz de prisão por suposto
envolvimento em conspiração contra o governo. Isso fio o estopim para a rebelião que rapidamente dominou
o Recife.
O governador da capitania, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, transferiu o governo para o Forte de Brum.
Sem forças para reagir à revolta, ele fugiu em direção ao Rio de Janeiro. Os rebeldes assumiram o poder da
capitania e instalaram um governo provisório, que tratou logo de adotar medidas que beneficiassem a elite
local.
O movimento contou com a participação de vários grupos sociais, como a elite local, militares, comerciantes
e padres. Os revoltosos defendiam:
• a proclamação da República;
• o fim dos impostos cobrados por Dom João VI;
• a liberdade de imprensa e de culto;
• o aumento do soldo dos soldados;
• a instituição dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário);
• a manutenção do trabalho escravo.
Esse último item das reivindicações dos participantes da Revolução Pernambucana mostra que a camada
mais pobre não participou das suas atividades. Percebe-se a contradição entre o discurso e a prática. Ao
mesmo tempo em que se pregava a instalação de um novo governo em Pernambuco que promovesse a
igualdade e a liberdade, a escravidão seria mantida, ou seja, os negros escravos não seriam iguais aos novos
governantes e nem conquistariam a liberdade. Em vários movimentos revolucionários de nossa história,
observou-se isso.
Os revoltosos tomaram o poder em Pernambuco e formaram um governo provisório. O exemplo
pernambucano conquistou o apoio de outras capitanias, como Rio Grande do Norte e Paraíba. No entanto, não
tardou para que o novo governo perdesse força. Como os grupos que compuseram a revolução tinham
interesses diversos, a divisão entre eles aconteceu. Dom João VI enviou suas tropas para a região e entrou
em confronto com o governo provisório. Em 20 de maio de 1817, os revoltosos se entregaram ao general Luís
do Rego Barreto. Por ordem do rei, eles tiveram penas exemplares, como o enforcamento e o fuzilamento em
praça pública.
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Data Magna
Em Pernambuco, o dia 6 de março é feriado porque se recorda o dia em que, em 1817, começava a revolução
contra o domínio português e a instalação de um governo republicano na região. Apesar da curta duração,
apenas 75 dias, o movimento deixou raízes na história de Pernambuco e confirmava a capitania como sendo
um local de revolta contra o domínio do governo central.
Importância da Revolução Pernambucana
A revolta em Pernambuco mostrou que os poderes locais eram instáveis quanto às ordens emitidas do Rio de
Janeiro. Além disso, reforçou para a coroa portuguesa no Brasil e o Primeiro Reinado, logo após a
independência, a necessidade de se criar tropas militares para manter a unidade nacional, dissipar as ideias
republicanas e punir severamente os rebeldes.
Após Pernambuco, a Paraíba foi a primeira capitania a iniciar a rebelião;a república foi proclamada nove dias
após Pernambuco. O novo governo foi exercido por uma junta que, durante um mês e vinte dias, iniciou a
montagem do novo estado, ao mesmo tempo que enfrentava a reação do poder imperial. Tropas da Paraíba
foram enviadas para apoiar a rebelião no Rio Grande do Norte que também proclamou a república. Porém, o
contingente republicano teve que se render face à superioridade absoluta das tropas imperiais.
A concepção da superioridade de Pernambuco sobre os demais estados do Nordeste não se limita à
historiografia de 1817, perpassa por toda história e deita raízes nos primórdios da colonização. Foi de lá que
partiu a ideia de criação da capitania real da Paraíba, transformando a "indomável" capitania de Itamaracá em
território "dócil" à conquista, após vencerem a resistência dos potiguaras (nativos que ocupavam o litoral,
desde Itamaracá até o Maranhão) com a indispensável ajuda dos tabajaras (indígenas recém chegados).
Na condição de polo açucareiro e controlador do comércio de exportação dos produtos da região, graças às
condições favoráveis de seu porto, Pernambuco manteve a hegemonia no norte e nordeste. A Paraíba,
também pela proximidade geográfica, foi a capitania mais vinculada a Pernambuco, chegando, no século XVIII,
a ser anexada oficialmente, permanecendo sob domínio pernambucano durante quase meio século. Mesmo
após emancipada, a Paraíba continuou sob influência política e econômica de Pernambuco, cujo comércio
controlava a produção agroexportadora paraibana. Por conseguinte, a mentalidade do paraibano foi construída
mediante tais condições adversas que não favoreceram sua autoestima.
Durante o governo provisório, instalado na Paraíba em 1817, seus líderes demonstraram preocupação
referente à dependência da economia paraibana, incluindo no projeto de governo medidas para fortalecer seu
comércio.
No decorrer da história da Paraíba ocorreram outras tentativas pontuais neste sentido. Porém, nunca
conseguiram vencer as forças oligárquicas cujos interesses estão atrelados aos setores políticos e econômicos
predominantes em Pernambuco. É evidente que a memória de 1817 não foi cultivada na Paraíba,
diferentemente da de Pernambuco que sempre foi enaltecida através dos livros didáticos e todos os meios de
comunicação, os paraibanos nunca ouviram falar em tal revolução.
Todavia, alguns guardadores da memória de 1817 na Paraíba: o Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba
(IHGB) e a Fundação Cultural do Estado, por ocasião do centenário da revolução, fizeram uma homenagem
através de placas de mármore, colocadas nos lugares da capital onde foram expostas cabeças e mãos de
seus líderes e no local onde ocorreu a rendição:
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As placas foram colocadas há quase um século e, até hoje, são conhecidas e apreciadas apenas por
raríssimas pessoas. De uma amostra de 360 pessoas entrevistadas pela equipe do referido projeto, apenas
9% declarou conhecê-las.
Mediante a marcha inexorável do tempo, a ação destrutiva das intempéries e a absoluta falta de manutenção,
assim como a memória de 1817, as placas estão se apagando. Daí porque o título do projeto: "Antes que se
apague completamente: memória e patrimônio da Revolução de 1817 na Paraíba".
Perante este lamentável estado de coisas, o projeto buscarecuperar a memória e o patrimônio histórico relativo
à Revolução de 1817 na Paraíba, alguns “lugares de memória” que sobreviveram, por meio de duas ações:
restaurar as placas e executar um trabalho de Educação Patrimonial.
https://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1371248798_ARQUIVO_TRABALHOANPUH2013Odesp
ertardeumamemoriaesquecidaeaviltada.pdf
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CICLO DO AÇÚCAR
Durante todo o Período Colonial no Brasil, o açúcar foi um dos produtos de maior importância econômica ao
Império Português.
Frans Post.
Os engenhos eram as unidades produtivas responsáveis por todo o processo de fabricação do açúcar
brasileiro.
O Ciclo do Açúcar foi uma das principais bases econômicas, sociais e culturais no Brasil Colonial, entre
meados dos séculos XVI e XVIII. Sua implementação ocorreu por meio da importação pelos portugueses do
sistema de sesmarias, responsável pela distribuição de terras para produção agrícola na, então, colônia
portuguesa. Esse processo foi fundamental para a ocupação territorial, que, aos poucos, formou boa parte do
que hoje representa a geografia atual do Brasil.
Nesse período, formaram-se os engenhos, que eram as unidades produtivas responsáveis pela moenda da
cana-de-açúcar, além de concentrar o exercício de outras atividades importantes para o período, como a
produção da cachaça brasileira, por intermédio dos alambiques, entre outras coisas.
Portugal passou a desenvolver a produção de açúcar em maior escala a partir de meados do século XV, nos
territórios da Ilha da Madeira, Açores e Cabo Verde. Portanto, antes dessa produção chegar às colônias nas
Américas, por volta do século XVI, os portugueses já dominavam as técnicas de produção do açúcar, inclusive
com a implementação da mão de obra escrava.
Após o estabelecimento dos portugueses, em 1500, na terra em que seria chamada de Brasil, a produção do
açúcar não foi implementada a princípio. Até 1530, consolidou-se o que ficou conhecido como Ciclo do Pau-
Brasil, no qual a madeira que concede o nome ao ciclo era o principal produto comercializado entre a colônia
e a metrópole.
Foi somente a partir da expedição colonizadora designada pelo Império Português a Martim Afonso de Sousa,
entre 1530 e 1532, que a produção do açúcar passou a se desenvolver no Brasil, tornando-se, depois, a base
da economia colonial até o século XVIII e caracterizando o que ficou conhecido como Ciclo do Açúcar.
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Em 1532, Martim Afonso de Sousa desembarcou no Brasil e, em 1534, houve a tentativa de implementar um
sistema que já existia na pequena Ilha da Madeira: as capitanias hereditárias. Martim Afonso, que se tornou
donatário da Capitania de São Vicente (atual São Paulo), iniciou em suas terras o cultivo da cana-de-açúcar,
por meio de mudas que teria trazido em viagem, e implementou um dos primeiros engenhos de açúcar do
período colonial, sendo uma das principais referências na difusão desse sistema agroindustrial.
Martim Afonso de Sousa foi um dos principais nomes da administração colonial portuguesa.
O primeiro engenho de que se tem registro em terras brasileiras é datado de 1516, no litoral da Província de
Pernambuco, pelo administrador colonial Pepo Capico. Porém, foi a partir da década de 1530 que o engenho
foi implementado de fato na colônia, sobretudo em São Vicente e Pernambuco, como forma de sistematização
de um processo de produção açucareira de caráter extensivo e também de povoamento das regiões recém-
descobertas.
A partir de então, a produção de açúcar passou a desempenhar um papel fundamental sob diversos aspectos
de todo o sistema colonial português. Além do seu impacto na alimentação, na colônia e também no mundo,
sua produção em grande escala permitiu maiores acessos ao produto. Todo o seu sistema de produção
acabou formando também as bases sociais de todo o período e possui heranças até os dias de hoje. Os
engenhos foram, portanto, o principal modelo de unidade produtiva de uma das bases econômicas do Brasil
Colonial.
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Os engenhos eram unidades produtivas que estruturaram boa parte da sociedade colonial. Eram instalados
em latifúndios, concedidos a donatários pelo Império Português por meio sistema de sesmarias. A mão de
obra utilizada era predominantemente escravagista.
Em um primeiro momento, entre o século XVI e o início do XVII, os indígenas foram utilizados como mão de
obra escrava. Contudo, uma série de problemas começou a se colocar frente à escravização indígena. Os
primeiros contatos com diferentes povos nativos e complicações como epidemias e choques culturais
dificultavam o apresamento desses povos. Ao mesmo tempo, os jesuítas, que chegaram em missão à colônia
brasileira em meados do século XVI, passaram a se opor à utilização dos índios para trabalhos forçados.
Diante dessas dificuldades, o tráfico negreiro possibilitou a substituição da mão de obra indígena pelos
africanos escravizados. A escravidão africana, os latifúndios e a monocultura de exportação passaram a ser
as bases do sistema que ficou conhecido como plantation. Esse quadro é fundamental para entendermos o
funcionamento do engenho e como essa dinâmica atingiu diretamente a estrutura social que se formava na
colônia.
Milhões de africanos foram enviados para o continente americano para serem escravizados.
Existiam, basicamente, dois tipos de engenho, entendidos aqui não apenas como um instrumento de moenda
da cana-de-açúcar, mas como uma unidade produtiva: os engenhos reais, movidos a água; e os trapiches,
movidos por tração animal. Eram compostos pela casa-grande, onde morava o dono da grande propriedade,
conhecido como senhor de engenho, e sua família; a senzala, onde ficavam os escravizados; a casa de
engenho, onde era feita a moagem; a capela, onde as atividades religiosas eram exercidas; e a propriedade
agrícola, onde estavam os canaviais, pastagens e terras dedicadas ao cultivo de alimentos.
Nos engenhos eram produzidas também destilarias para a fabricação da cachaça brasileira, que era utilizada,
inclusive, como escambo entre os escravizados. As terras para cultivo eram divididas também entre as que o
próprio dono das terras explorava e as chamadas fazendas obrigadas, em que o proprietário da terra cedia o
cultivo a um outro lavrador, que, em troca, pagava uma espécie de aluguel pela terra mais metade da sua
produção de açúcar. Existiam também os lavradores livres, que cultivavam em suas próprias terras, porém,
por não possuírem o engenho propriamente dito, moíam a cana em outro lugar, deixando a metade de sua
produção com o dono.
Crise do ciclo do açúcar
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Embora Portugal mantivesse uma relação comercial estável com os holandeses, essa relação não se
sustentava com os espanhóis. A crise diplomática agravou-se ainda mais após o rei Felipe II tentar acabar
com a participação dos holandeses na economia açucareira do Brasil. Como retaliação, os holandeses
decidiram invadir a colônia portuguesa, dando início às incursões que ficaram conhecidas como Invasões
Holandesas.
Diante das dificuldades que a economia açucareira passou a sofrer no Brasil, outro acontecimento acabou
por minimizar a importância do cultivo da cana-de-açúcar no Brasil: a descoberta do ouro, no final do século
XVII. Dada a importância do metal como reserva de valor, sobretudo no mercantilismo, a produção do açúcar,
longe de acabar, deixou de ter a importância de outrora, dando início, portanto, ao Ciclo do Ouro.
(https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/economia-acucareira.htm)
A região da Parahyba foi oficialmente conquistada em 1585 e logo o primeiro engenho do estado foi construído
às margens do rio Tibiri: o engenho Tibiry Del-Rey. A partir daí passou a ser palco da monocultura canavieira,
com dezenas de engenhos. A Várzea do rio Paraíba foi portanto o celeiro dos primeiros séculos da história da
Paraíba, em virtude de ser extensa área sempre úmida e irrigada por vários cursos d'água,
como Obim, Cabocó, Soé e o rio Jaburu. Durante séculos a região mais rica do estado, e onde se produzia «o
melhor açúcar do Brasil», segundo relatos do livro Diálogos das riquezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes
Brandão.
A Paraíba nasceu sob o signo de luta que se transformou em resistência e vida. A Paraíba possuía grande
parte de seu território litorâneo, logo após teve sua área incorporada à capitania de Itamaracá na data de 1534,
quando o sistema de capitanias hereditárias foi instaurado por Portugal com o intuito de assegurar a posse e
colonização do território brasileiro (SOUZA, et al. 2014).
A principal capitania ao norte veio ser Pernambuco, onde os canaviais de Duarte Coelho Pereira, militar
português que enriqueceu lutando e fazendo negócios na África e na Ásia, ganhou do rei D. João III, garantiram
o progresso e importância de Olinda que possuía engenhos, igreja e uma pequena população. Em Itamaracá,
a atividade açucareira ensejou desenvolvimento da vila de Igarassu. Além dos espaços a ocupar, a coroa
portuguesa enfrentou a resistência dos índios, que a todo custo defendiam suas terras. Sediada a capitania,
a cidade exerceria função econômica e militar, tendo como base o engenho real do Tibiri, instalado em 1585,
por Martim Leitão, em colina localizada à esquerda da atual estrada João Pessoa – Santa Rita (CRUZ, 2015).
Na composição de classes, a capitania da Paraíba, tal como o restante da sociedade brasileira, fundamentou-
se na grande propriedade territorial, a chamada sesmaria. A primeira sesmaria paraibana foi concedida ainda
no século XVI, quando seu número não passou de cinco. Sua localização não ultrapassou os vales dos rios
Paraíba e Mamanguape, o que significa colonização ainda restrita ao litoral. A sesmaria que originou o
latifúndio, monocultor com a cana de açúcar no litoral e brejo, e binômio pecuária – algodão no sertão,
responsabilizou-se pela ocupação da Paraíba(ARRUDA MELLO, 2002).
O proprietário, todavia, não trabalhava diretamente na terra apesar de constituir a atividade econômica mais
importante para o Estado, a agricultura paraibana apresenta uma produtividade muito baixa, graças ao baixo
nível técnico que ainda é empregada na agricultura, com técnicas bastante rudimentares. Sabe-se que esses
métodos rudimentares são consequências de problemas socioeconômico-político, como: ausência de políticas
públicas voltadas para a agricultura; falta de planejamento agrícola, etc (ARRUDA MELLO, 2002).
A cana-de-açúcar é um dos principais produtos agrícolas, a Paraíba é o terceiro maior produtor de cana-de-
açúcar do Nordeste, é importante destacar os plantios de algodão que tem uma grande importância no estado,
o caju e o abacaxi são as frutas que a Paraíba mais produz. Outro produto de destaque é o milho, que tem
suas maiores áreas de cultivo no sertão, com distribuição regional semelhante à do algodão arbóreo, plantado
sobretudo no extremo oeste. É importante também o sisal ou agave. No sertão a agricultura é muito
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prejudicada às vezes pelas constantes estiagens. Este fato ocorrido na agricultura demonstra a deficiência do
setor, bem como a sua dependência (ainda) dos efeitos climáticos (VANCONCELOS; FERREIRA, 2014).
Apesar da população paraibana continuar participando cada vez menos do setor primário, este ainda
representa a base da economia do Estado. Cana-de-açúcar: Possui grande importância econômica, pois dela
se fabrica o álcool usado como combustível. As principais áreas de cultivo são os vales, os tabuleiros e o
litoral. A expansão da cana de açúcar provoca a retração de outras culturas principalmente das alimentares.
Na Paraíba, como nos demais Estados produtores, o extinto Proálcool contribuiu muito para essa expansão
(SHIKIDA; BACHA, 2011).
https://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/27995/2/TCC%20DEPOSITO.pdf
Estado contribuiu para a consolidação das ideias de Dom Pedro I e fez oito dias de festa aclamando o novo
monarca
Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, oficializou a decisão do então príncipe regente, Pedro
de Alcântara – posteriormente nomeado Dom Pedro I, em desvincular politicamente a colônia brasileira da
corte portuguesa. Apesar da concretização desse ato só ter sido efetivada tempos depois, com vários conflitos,
historiadores declaram que nessa data teve início o processo de quebra da submissão do Brasil perante a
metrópole europeia. E a Paraíba contribuiu na consolidação das ideias defendidas por parte da elite brasileira
e por Dom Pedro I, enviando centenas de homens armados para lutar contra o exército português, que invadiu
algumas capitanias no intuito de tentar derrubar as ideias libertárias do príncipe regente.
O historiador e professor, George Henrique de Vasconcelos, explicou que após a ruptura com Portugal, Pedro
de Alcântara passou a ser o imperador do Brasil, sendo nomeado Dom Pedro I. Registros históricos mostram
a realização de muita comemoração, aclamando o nome do novo monarca. Segundo o professor, a província
paraibana comemorou o feito com oito dias de festa, iniciando em 27 de novembro e se estendendo até início
de dezembro de 1822, inclusive com um “te-deum” (louvor a Deus) celebrado na Igreja de São Bento. Ainda
houve a abertura de um teatro, além de muita queima de fogos de artifício. Durante os festejos, as ruas da
província ficaram iluminadas, ignorando qualquer economia de vela e óleo.
Pedro Américo criou a tela Independência ou Morte! (mais conhecida como O Grito do Ipiranga), mostrando o
príncipe regente e seus soldados com vestes oficiais - Foto: Reprodução/Tela Independência ou Morte, de
Pedro Américo
“Mas, Portugal não irá aceitar a rebeldia do príncipe, e enviou forças militares para forçar a submissão do
Brasil”, ressaltou Vasconcelos. Entre as capitanias que lutaram contra a reação portuguesa pode-se citar a do
Piauí, do Pará, do Maranhão e a da Bahia. A Paraíba não se rebelou contra o poderio português, mas apoiou
a Bahia, enviando para lá um destacamento de 200 homens, sob o comando do capitão de artilharia Teodoro
de Macedo Sodré.
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Durante a batalha na Bahia, a tropa da Paraíba precisou de um ponto de apoio para ficar aquartelada. Para
esse fim, foram cedidas ao grupo as dependências do Seminário Católico de São Damasô, em Salvador, que
serviu de hospedaria e apoio para alimentação.
Os levantes bélicos que se formaram na colônia brasileira após a proclamação da independência (1822-1825)
eram formados por uma parte da elite, de políticos e militares que consideraram a atitude de Dom Pedro I uma
traição à Coroa. Esses grupos encontraram total apoio de Portugal. Em algumas províncias, como a da
Paraíba, não houve grande conflito interno, apenas pequenos motins ou recrutamento de homens enviados
para lutar nas outras províncias.
George ainda frisou que a população pobre e livre, bem como a indígena e a escrava, tiveram participação
direta na Independência do Brasil. “Sem o conjunto da população em geral, bem como dos negros
escravizados e indígenas, a independência jamais teria sido possível. Porque, para lutar contra as tropas
portuguesas que reagiram contra a declaração de 7 de setembro, foi preciso arregimentar o povo. Então, as
pessoas lutaram por diferentes motivos, sejam coagidas ou por vontade própria. De uma forma ou de outra,
tiveram grande participação no processo”, enfocou Vasconcelos.
O historiador Leandro Vilar Oliveira destacou que a decisão da Paraíba de não ter se rebelado em 1822 foi
um “grande ponto positivo, pois poupou a província de ser alvo de ações militares”. Ele também ressaltou o
fato de a província paraibana ter enviado homens armados para lutar na Bahia (1822-1823). “Observa-se
assim, que em termos políticos, a província paraibana esteve ao lado do processo de independência em
diferentes momentos, o que constituiu em outro ponto positivo”.
Já o historiador George de Vasconcelos comentou que tal postura da Paraíba teve influência de fatos históricos
que antecederam o 7 de Setembro. Segundo ele, cinco anos antes (1817) do ato “rebelde” de Dom Pedro I,
muitos paraibanos tinham se revoltado contra Dom João VI. Isso ocorreu na Insurreição contra Portugal. Por
conta dessa rebelião, muitos foram perseguidos e punidos com a morte.
As trágicas recordações dessa passagem histórica que antecedeu o dia da Independência podem ter
contribuído para exaltar o “sentimento antilusitano” na nação. “Portanto, para uma parcela da sociedade
paraibana, o rompimento político com Portugal possui motivos simbólicos e políticos fortes”, disse George.
Para o professor de História e sociólogo Jammerson Soares, todo esse processo de emancipação política em
relação à Portugal trouxe vantagens e prejuízos ao Brasil. Por um lado, a colônia brasileira não estava mais
sujeita aos mandos da metrópole, que controlava todas as atividades comerciais nas províncias. “Como ponto
negativo, podemos citar o autoritarismo monárquico do primeiro imperador, Dom Pedro I, que passa a governar
por meio de uma Constituição outorgada que o concedia poderes absolutos”, declarou Jammerson.
A partir da decisão tomada em 1822, que marcou a Independência do Brasil, a Paraíba, juntamente com as
demais províncias da recente nação, devia agora obediência ao poder central, materializado na pessoa de D.
Pedro I. Esse absolutismo monárquico, conforme Jammerson, levou a Paraíba a se unir com outras províncias
e deflagrar a chamada Confederação do Equador, em 1824, que tinha por finalidade instalar um regime
republicano em partes do Nordeste brasileiro.
Mesmo com a grande repercussão na colônia brasileira, o 7 de Setembro não trouxe grandes mudanças na
vida do povo. A economia escravocrata e a forma de governo foram mantidas. Segundo o historiador Leandro
Vilar, as primeiras mobilizações referentes à Independência brasileira tiveram início já em 1820, com a
Revolução Liberal do Porto. “Uma das mais importantes cidades de Portugal, em que nobres e burgueses se
uniram para pressionar o monarca (Dom João VI) a aprovar uma constituição, já que até então o país não
possuía uma”, disse Vilar.
Leandro explicou que, aprovar uma constituição era algo muito em voga no século 19, pois foi um período de
intensas mudanças políticas no Ocidente, com a independência de alguns países, assim como, a reformulação
de antigas formas de governo, no caso, a queda de monarquias absolutistas que reinavam desde o século 16.
“Sob ameaça de a revolução ganhar proporções drásticas, D. João VI foi aconselhado a voltar para Portugal
para tratar do processo de criação de uma constituição, mas ele deixou seu primogênito, Pedro de Alcântara,
como príncipe-regente do Brasil”, destacou.
Dessa forma, pode-se dizer que o processo da Independência se estendeu de 1820 a 1825. Apenas a partir
de 1824, com a aprovação da Constituição Brasileira, ocorreram mudanças significativas. Desse ano em
diante, houve reorganização nas leis, no sistema político, jurídico e tributário”, frisou Vilar.
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Em um tempo em que nem se imaginava ter meios de comunicação como o telefone e muito menos a internet,
a notícia da chamada Independência do Brasil só chegou na província paraibana quase 20 dias após o
ocorrido, por meio de embarcações que navegaram até chegar aos rios Paraíba e Sanhauá. “A notícia chegou
à Paraíba no dia 26 de setembro, via correio marítimo. Mas, não sabemos qual foi o navio responsável por
isso, nem o horário que ele chegou no antigo Porto do Varadouro, na capital paraibana. Esse porto não existe
mais, pois foi extinto desde o começo do século 20”, enfocou o historiador Leandro Vilar Oliveira.
Ao chegar no Porto do Varadouro (tempos depois chamado de Porto do Capim), a mensagem oficial foi
encaminhada às autoridades políticas, conforme o grau de importância. Naquela época, a província não
possuía um governador (ou presidente como se chamava esse tipo de gestor), pois estava sob a tutela de
uma Junta Provisória. Leandro contou que, além dessa Junta, os membros da Câmara, os juízes, os
comandantes militares e outras autoridades relevantes foram comunicados do fato.
“De qualquer forma, a notícia da Independência foi anunciada em sessão pública na Câmara e divulgada pela
capital. E nos dias seguintes a 26 de setembro, foi sendo difundida para outras vilas e povoados da província.
Vale ressaltar que o governo provisório convocou oito dias de festas na capital para celebrar a independência
do Brasil, o que representa uma grande exaltação a esse feito. Nas outras vilas da Paraíba, houve também
celebrações em menor escala. De qualquer forma, a notícia do 7 de setembro foi bem recebida pelos
paraibanos”, completou Vilar.
A tela Proclamação da Independência, pintada por Françóis René Moreaux, retrata um Dom Pedro mais
popular - Foto: Reprodução/Tela Proclamação da Independência, de Françóis René Moreaux
O historiador George Henrique de Vasconcelos afirmou que, logo que a novidade chegou ao porto da então
Parahyba, integrantes da Junta Governativa, do Senado da Câmara e do comandante das Armas se reuniram,
decidindo ignorar, a partir dali, as ordens vindas do reinado português.“Nos dias seguintes, a notícia do grito
da Independência se espalhou pela província. A partir de outubro, a Paraíba passou a receber assertivas do
Rio de Janeiro (Corte) divulgando, no dia 8 desse mesmo mês, em espaço público, a seguinte mensagem:
“Por ofício desta data julga-se esta Província desligada aos laços que a prendia a Portugal - em vista da
Proclamação da Independência Nacional a 7 de setembro passado””.
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Telas
A proclamação da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, foi registrada em telas por diversos
pintores, e não há consenso entre a cena real, que marcaria essa passagem da história brasileira. No livro “Os
sequestros da Independência – Uma história da construção do mito do Sete de Setembro” há várias dessas
imagens. Uma delas é a do pintor paraibano, Pedro Américo, que criou uma tela com grande pompa, intitulada
Independência ou Morte! (mais conhecida como O Grito do Ipiranga), mostrando o príncipe regente e seus
soldados com vestimentas oficiais. Outro exemplo é a tela pintada por Françóis René Moreaux, que retrata a
cena de um Dom Pedro mais popular, rodeado e sendo aclamado pelo povo simples, de pele clara, lembrando
camponeses europeus. Até o grito “Independência ou Morte”, que teria sido dado pelo monarca, às margens
do Riacho do Ipiranga, em São Paulo, é questionado por especialistas. “O Grito do Ipiranga soa muito mais
poético do que um fato histórico. Todavia, quando Dom Pedro chegou em Santos e depois no Rio de Janeiro,
realmente houve comemorações em algumas localidades”, frisou o historiador Leandro Vilar.
O príncipe regente do Brasil, Pedro de Alcântara, tinha, além dos interesses políticos e econômicos, vínculos
afetivos com a terra que o acolheu desde a juventude
Em 1807, o imperador da França, Napoleão Bonaparte, aliou-se com os espanhóis e decidiu invadir,
militarmente, Portugal. Com isso, a família real deslocou-se para o Brasil, considerada sua mais próspera
colônia. “A decisão de trazer a família real ao Brasil, é vista por muitos como uma fuga. Contudo, há quem
defenda que foi uma retirada estratégica”, frisou o historiador e professor George de Vasconcelos.
Com o estabelecimento da família real no Rio de Janeiro, Pedro de Alcântara passou parte de sua juventude
em terras brasileiras. De acordo com George, apesar das ligações de sangue e a inegável lealdade a Portugal,
Pedro parece ter se “abrasileirado”, e criado fortes raízes com a colônia brasileira. Em 1820, algum tempo
após a expulsão dos franceses do território português, ocorreu a chamada “Revolução do Porto”, na qual
resultou no fim da monarquia absolutista em Portugal. O agora rei, Dom João VI - que assumiu o trono após
a morte de Maria I, era pressionado a retornar à Europa e o fez, deixando Pedro no Brasil, na condição de
príncipe regente”.
O Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e os membros liberais das chamadas “cortes de
Lisboa” começaram a conspirar para que o Brasil voltasse à condição de colônia, algo inaceitável pelas elites
brasileiras. Entre outros motivos, essa categoria mais abastada da colônia passou a ficar mais próxima do
jovem príncipe regente, visando alcançar benefícios para si e seus grupos. “No início de 1822, as cortes
pressionaram para que o então príncipe regente retornasse a Portugal, assim como seu pai, o rei, o fizera.
Pedro disse não. Este foi o chamado “Dia do Fico””.
Segundo o historiador George, o fato teria sido o estopim para o rompimento quase definitivo entre Brasil e
Portugal. Para Vasconcelos, o fator primordial para a Independência foi a insistência das cortes de Lisboa em
fazer com que Pedro de Alcântara obedecesse às demandas do trono português. “Assim, sob influência direta
de sua então esposa, dona Leopoldina de Castro, princesa austríaca, Pedro de Alcântara rompeu com
Portugal, no famoso episódio do “Grito do Ipiranga”, em 7 de setembro de 1822”, disse Vasconcelos.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 7 de setembro de 2023.
https://auniao.pb.gov.br/noticias/caderno_paraiba/como-a-independencia-ecoou-na-paraiba
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Edição de março de 1888 do jornal A Verdade, da cidade de Areia, no Agreste paraibano — Foto:
Reprodução/O processo de abolição da escravidão na Parahyba do Norte (1870-1888)
A abolição em maio de 1888 foi uma consequência. Antes da lei, houve luta. Foi a partir de debates políticos
nas ruas, a despeito do desinteresse entre os políticos da época, de jornais paraibanos que nasciam a partir
do anseio abolicionista e se declaravam como tal, e do ativismo de pessoas brancas comuns, de negros livres
e ex-escravizados que o abolicionismo passou da ideia para a prática.
O historiador Lucian Sousa da Silva - mestre em História pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e autor
da pesquisa "O processo de abolição da escravidão na Parahyba do Norte (1870-1888)" - destaca que o
movimento abolicionista no estado foi gradual, se deu em três momentos específicos.
Entre 1860 e 1870 a defesa da libertação do povo escravizado era tímida, com poucas pessoas difundindo a
ideia. No início da década de 1880, o movimento ganha força, com a entrada de setores “excluídos” como as
mulheres, artistas e pessoas negras livres, libertas e mesmo escravizadas. Por fim, mais próximo de 1888,
houve um acirramento que culminou finalmente com a abolição.
“Em meados da década de 1880, houve uma certa radicalização das práticas abolicionistas como a fuga de
grupos inteiro de pessoas escravizadas. Nessa fase final da escravidão os ânimos estavam exaltados,
entretanto, não passava por necessidade de se assumir de que lado se estava”, comentou.
Historicamente, em comparação às demais províncias, a Paraíba tinha um dos menores percentuais de
pessoas escravizadas na população. O ápice dessa população foi atingido entre o final do século XVIII e o
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início do século XIX, com pouco mais de 20% do total da população. Mais especificamente, no ano de 1851,
a então província da Parahyba do Norte chegou a contar com 28.546 escravizados.
Do auge da escravidão até a abolição, a população escravizada na Paraíba foi diminuindo ao ponto de ser de
pouco mais de 9 mil escravizados em 1888. Embora tenha sido registrado uma queda vertiginosa, o historiador
Lucian Souza destaca que a mão-de-obra escravizada foi usada até o último momento.
“Como dizia um jornal paraibano da época, 'a Parahyba não quer libertar a mor parte dos seus filhos'”, destacou
Lucian.
Ao contrário do que seria lógico, a pequena população escravizada na publicação da Lei Áurea não foi reflexo
do avanço da mobilização abolicionista. Lucian Souza destaca que a queda foi ocasionada essencialmente
por motivos diversos, como o envelhecimento dessa população, as epidemias da época, a seca e o tráfico de
escravizados a partir de 1850.
Durante todo o Século XIX, a Paraíba seguiu uma tendência nacional de fortalecimento do movimento
abolicionista. À época, foram criadas associações de pessoas livres em prol da libertação de escravizados,
fosse por meio da compra junto aos tutores escravagistas, fosse atrás do incentivo às fugas e motins nas
fazendas e engenhos.
Areia abolicionista
Conforme a pesquisa feita por Lucian Souza, entre os anos de 1860 e 1871, existiam quatro associações
abolicionista, ou emancipadoras, que foi o termo popularizado na época para designar os grupos organizados
que ajudam a libertar os negros escravizados: Sociedade Caridade São João Evangelista, Emancipadora
Parahybana, Núcleo Abolicionista e Emancipadora Areiense.
Nesse período, a então Parahyba do Norte só ficava atrás da Província de São Paulo, que tinha cinco
associações. Entre as emancipadoras paraibanas, a Areiense teve um papel importante, sendo responsável
pela maior parte dos negros libertos na cidade de Areia. Um censo feito pelo Império em 1872 indicou que
Nossa Senhora da Conceição de Areia, com 1.424 pessoas, era a freguesia com a maior população
escravizada.
População escravizada na Paraíba em 1872 era distribuída em todas as regiões — Foto: O processo de
abolição da escravidão na Parahyba do Norte (1870-1888)
“Areia, sem dúvida, tem um papel de destaque no movimento abolicionista provincial. A primeira associação
foi fundada ainda em 1873 e reorganizada uma década depois, atuando de forma sistemática até abolir os
escravizados 10 dias antes da Lei Áurea”, conta o pesquisador Lucian Souza.
Nesse processo, dois moradores de Areia tomaram a frente no processo de libertação de escravizados: o
farmacêutico Manuel Silva e o bacharel Coelho Lisboa. “Atuaram de diversas formas, seja na organização de
eventos para arrecadar recursos para a compra de escravizados, seja acolhendo escravizados fugitivos, ou
até mesmo, incentivando a fuga de outros cativos”, explica o historiador.
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De acordo com a pesquisa feita por Lucian Souza, a Emancipadora Areiense chegou a adotar medidas radicais
com o objetivo de apressar a libertação dos escravizados. Alguns dos integrantes atuavam diretamente nas
senzalas, estimulando fugas de cativos, por exemplo.
“Se analisarmos apenas o contexto provincial, Areia foi um centro importante, entretanto se pensarmos o
contexto nacional, veremos que estava com consonância com as ações do movimento a nível nacional, a
exemplo da província do Ceará que aboliu sua população escravizada em 25 de Março de 1884”, explicou o
historiador Lucian Souza.
Embora seja preciso ser relativizado com o movimento que tomava conta do Brasil nos últimos anos da década
de 1880, a cidade de Areia foi a que mais emancipou, ou, em outras palavras, pagou indenizações aos donos
dos engenhos para que negros cativos fossem libertados no período.
Pensamento emancipador
Após 1871, com a publicação da Lei do Ventre-Livre, onde os negros nascidos de mães escravas se gozavam
de uma liberdade relativa, há uma profusão de associações emancipadoras e um debate ampliado em
camadas da sociedade em que, até então, não eram comentados.
Ainda que de forma lenta e com muito esforço, a importância das associações emancipadoras se deu não
somente pelo libertação dos escravizados mediante pagamento, mas pela resistência e difusão do
pensamento abolicionista no Brasil no Século XIX. É o que aponta a pesquisa de Lucian Souza. As
emancipadoras trouxeram o debate da escravidão para além do Congresso no Império, atuaram na
deslegitimação da cultura e naturalização da política escravista.
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Imagem feita no Brasil em 1861 mostra o trabalho de escravizados no campo — Foto: Frédéric
Sorrieu/Biblioteca Nacional
Esse tipo de abertura criada serviu para inserir a mulher em um contexto de emancipação também. “Ao passo
que organizaram comícios, palestras e reuniões, em que a escravidão era discutida abertamente, serviu de
caminho para as primeiras tentativas de inserção das mulheres livres na arena pública”, explica Lucian em sua
pesquisa.
Segunda abolição
A condição da população escravizada no momento da abolição era extremamente precária. A própria Lei
Áurea, que permitiu a liberdade de todos os escravizados, não estabelecia uma política pública no então
Império que permitisse a cidadania e a inserção dos negros libertos na sociedade.
O historiador Lucian Souza, mestre em história pela UFPB, destaca que os estudos científicos sobre a situação
da população liberta na Paraíba no período pós-abolição são escassos, sendo preciso se valer de recortes
literários ou jornalísticos do período. “Uma forma de pensarmos sobre isso é a partir do auxílio que a literatura.
José Lins do Rego, em Menino de Engenho, escrito em 1929, ao tratar sobre a abolição pelos olhos de
Carlinhos”, explicou.
No livro, José Lins conta a forma como os negros libertos do engenho da família, fizeram muita festa no dia
13 de maio de 1888, mas no dia seguinte continuaram a trabalhar no campo. “Não me saiu do engenho um
negro só. Para esta gente pobre a abolição não serviu de nada”, contou o escritor paraibano em Menino de
Engenho.
Danilo Santos, de 34 anos, professor, pesquisador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiras e Indigência (Neab)
na Paraíba e ativista do movimento negro relata que é preciso trabalhar com a ideia de uma segunda abolição.
A condição social do negro no Brasil do Século XXI não difere muito do negro escravizado e liberto
posteriormente em 1888 no Brasil Império.
“A Frente Negra, umas das entidades mais importantes, denunciava em 1930 uma falácia da abolição e
indicava uma segunda abolição. É preciso reconhecer que o processo de abolição não contemplou as
necessidades da população negra. Não houve uma ruptura, se a gente analisar, há uma continuidade nas
reivindicações da população negra”, avalia Danilo Santos.
Para o pesquisador do Neab na Paraíba, a Lei Áurea foi importante enquanto marco histórico, representou
muito para uma sequência de luta por cidadania dos negros naquela época, mas não permitiu a cidadania
plena. Danilo destaca também que é preciso que a população negra reivindique o protagonismo na narrativa
da sua própria história, tendo em vista que essa narrativa é eurocentrista.
“É como se a população negra brasileira não tivesse história antes, nem depois da escravização. Nós mesmos,
enquanto negros, temos que contar nossa história, reivindicar uma nova história”, declara Danilo.
Resistência e racismo
Para os ativistas do movimento, o dia 13 de maio é importante, mas o 20 de novembro, dia da consciência
negra e morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, representa mais. A cultura de resistência do povo
negro se traduz na cultura que persiste nas comunidades quilombolas.
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Na Paraíba, segundo levantamento feito pelo governo do estado em 2015, existiam 39 comunidades
quilombolas, entre reconhecidas e identificadas pelo governo federal. Luciene Tavares, de 28 anos, é
pedagoga e pós-graduanda em psicopedagogia. Moradora da comunidade quilombola Caiana dos Criolos, em
Alagoa Grande, cidade do Agreste paraibano e vizinha a cidade abolicionista de Areia.
Luciene Tavares é moradora de comunica quilombola e luta pela preservação da cultura em Alagoa
Grande — Foto: Arquivo Pessoal/Luciene Tavares
A comunidade foi reconhecida pela Fundação Cultural Palmares em maio de 2005. Caiana é moradia para
cerca de 450 pessoas divididas em 100 famílias. Os primeiros relatos apontam que a comunidade foi formada
no Século XVIII, por negros vindos de Mamanguape. Em Caiana dos Criolos, Luciene Tavares nasceu e ocupa
um papel de protagonismo.
Membro da Organização de Mulheres Negras de Caiana (OMNC) e coordenadora do grupo de Dança Afro
"Cor da Terra", Luciene defende a resistência do povo quilombola e negro por meio da arte, da valorização
cultural.
“Aqui em Caiana, temos várias manifestações culturais que envolvem não só a nossa comunidade, mas outras
também. Por isso é importante que as comunidades quilombolas não deixem a tradição morrer, é preciso
preservar e valorizar nossa cultura”, destacou.
Em paralelo aos trabalhos de resistência cultural, o povo quilombola e negro se movimenta para combater o
racismo persistente no Brasil. Um problema que aparece de forma diluída, disfarçada e naturalizada, como
analisou o pesquisador Danilo Santos. O racismo na sociedade brasileira se naturalizou de forma que
desembocam no jocoso.
Caiana dos Criolos tem iniciativa de turismo rural em Alagoa Grande — Foto: Arquivo Pessoal/Luciene
Tavares
“Nossa sociedade passou por colonização escravista, o racismo está na base. Ele passa a ser quase que
naturalizado e por isso temos uma sensação falsa de harmonia racial. O discurso da miscigenação é usado
para deslegitimar a luta e legitimar um racismo velado. A cultura racista não acaba com a escravidão porque
quem era privilegiado continua agindo depois da abolição para manter seus privilégios”, decreta Danilo Santos.
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Assim como os libertos em 13 de maio de 1888, muitos negros seguem sem acesso ao básico, sem acesso
ao mercado de trabalho, por exemplo. Dados do IBGE de novembro de 2017, referentes Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad), apontaram que 63,7% dos negros do Brasil estão desocupados. Mais de
um século separa o negro paraibano escravizado do liberto, tempo insuficiente para deixar apagar o passado
no presente.
https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/cidade-da-paraiba-aboliu-escravidao-antes-da-lei-aurea-em-1888-diz-
pesquisador.ghtml
Em todos os movimentos cívicos da História do Brasil, a Paraíba sempre esteve presente dando a sua
contribuição valiosa e precisa. Em 1930, porém, ela lidera todo o processo histórico a nível nacional. É a
Paraíba o quartel general do Norte. A morte do seu Presidente é o estopim desse movimento, que agitou o
Brasil de norte a sul numa luta fratricida.
No dia 26 de julho de 1930 o Dr. João Pessoa foi assassinado em recife pelo Dr. João Dantas, que
responsabilizou o Presidente da Paraíba pelo devassamento do seu apartamento por policiais, prometendo
por isso vingar-se.
O chefe de polícia tinha recebido uma acusação de que o Sr. João Dantas teria no seu apartamento (fechado,
o seu inquilino estava fixado em Recife), material bélico para ajudar o Sr. José Pereira, em Princesa. A polícia
foi ao apartamento e não só apreende armas mas também umas cartas comprometedoras do Dr. João Dantas.
Umas cartas são publicadas no Órgão Oficial do Estado, outras ficam à disposição dos interessados, na
redação do mesmo.
O presidente João Pessoa achava-se ausente do Estado por essa ocasião e teria reclamado semelhante
atitude. Mas o Dr. João Dantas não perdoou tal afronta e, na tarde de 26 de julho, quando o Dr. João Pessoa
em companhia de amigos na Confeitaria Glória no Recife, já se preparava para voltar à capital paraibana, é
alvejado subitamente e caiu ferido. Ainda foi levado numa farmácia próxima, mas morreu no local. A morte do
presidente teve grande repercussão.
O Dr. João Dantas, após alvejar o Dr. João Pessoa, saiu correndo, mas o motorista do Presidente, que estava
próximo à confeitaria atirou, e feriu-lhe a perna, o que facilitou a prisão do Dr. João Dantas.
“Paradoxo curioso das forças ignotas, que o acaso conduz no seu bojo infinito! João Pessoa vivo foi voz contra
a Revolução. Mas João Pessoa morto foi verdadeiro rearticulador do movimento revolucionário”!
O jornalista José Leal, deixou um resumo da Revolução:
“Vivia-se num ambiente trepidante. Somente a idéia revolucionária ocupava a imaginação dos políticos e dos
homens do povo, quando aqui se veio foragir o então capitão Juarez Távora, que fugira da prisão, numa das
fortalezas da barra do Rio de Janeiro e intensificou as ligações já estabelecidas por outros, servindo na
guarnição da capital.
A eclosão da Revolução passou a ser esperada a cada instante, porque as vacilações do Rio Grande do Sul
não resistiram mais ao ímpeto dos elementos que desejavam jogar a cartada decisiva, destinadas a imprimir
novos rumos à República.
A Paraíba passou a viver em função da Revolução, não obstante a orientação conciliadora que o vice
presidente imprimia aos atos da sua administração. Os auxiliares do governo conspiravam à sombra da
autoridade estadual, sem, no entanto, colocarem o chefe do governo à par do que se passava.
E a Revolução explodiu na noite de 3 para 4 de outubro, com o assalto ao quartel do 22º B.C., levado a efeito
por vários oficiais do exército e civis. Naquela praça militar houve ligeira luta, logo jugulada pelos elementos
aliciados pelos então tenentes Juraci Magalhães, Barata e outros.
Os contingentes de outras unidades estavam espalhados pela capital e cidade do interior, para aqui enviados
pelo governo da República como medidas preliminares para intervenção federal projetada e que foi
procrastinadas devido a morte de João Pessoa, aderiram ao movimento, salvo o 23º B.C., estacionado em
Sousa, que opôs resistência ao convite para fazer causa comum com os revolucionários.
Mas o movimento propagou-se por todo norte, em correspondência com o que se verificava no Rio Grande do
Sul e em Minas, onde a Revolução rebentara em sincronização.
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De acordo com os planos previamente determinados, foi constituído o Governo Provisório do Norte, cuja chefia
coube a José Américo de Almeida, reconhecido como chefe do movimento nessa região enquanto Juarez
Távora assumia a chefia das forças militares.
Colunas de tropas partiram da Paraíba para levar a revolução em Estados vizinhos. O Rio Grande do Norte,
Ceará e Pernambuco foram invadidos pelo interior enquanto o grosso das tropas revolucionárias marchavam
sobre o Recife derrubando o governo de Pernambuco prosseguindo na marcha a fim de alcançar a Bahia e
daí fazer ligação com o exército revolucionário que, de Minas, havia atingido o território do Espírito Santo”.
No dia 24 de outubro a Revolução alcançou sua vitória total.
http://historiadaparaiba.blogspot.com/2008/11/revoluo-de-30-na-paraba.html
Esta guerra (e não há nenhum exagero de assim chamá-la), foi pródiga de episódios interessantes e cruéis,
onde tudo começou através de discórdias políticas e econômicas, envolvendo poderosos coronéis do interior
do estado e o governador eleito da Paraíba em 1927, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque.
João Pessoa discordava da forma como o grupo político que o elegera conduzia a política paraibana, onde
era valorizado o grande latifundiário de terras do interior, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo
do algodão e na pecuária. Estes “coronéis” atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia
entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupo de jagunços armados, da conivência com grupos
de cangaceiros e outras ações as quais o novo governador não concordava.
Entre os embates ocorridos, podemos listar uma maior perseguição do governo estadual aos grupos de
cangaceiros e a cobrança de taxas de exportação do algodão. Por esta época, os coronéis exportavam o
produto principalmente através do principal porto de Pernambuco, em Recife, provocando enormes perdas de
divisas tributárias para a Paraíba. Procurando evitar esta sangria financeira e efetivamente cobrar os coronéis,
João Pessoa implantou diversos postos de fiscalização nas fronteiras da Paraíba, irritando de tal forma estes
caudilhos, que pejorativamente passaram a chamar o governador de “João Cancela”.
Os embates políticos entre o governador e os coronéis foram crescendo. A maior liderança entre estes
poderosos, sem dúvida foi o coronel José Pereira Lima, verdadeiro imperador da região oeste da Paraíba, na
área da fronteira com Pernambuco, tendo como base, a cidade de Princesa. Do embate entre estes dois
homens resultou em um dos maiores conflitos armados do Brasil Republicano.
A contenda teve início em 28 de fevereiro de 1930, quando ocorreu a invasão da então vila do Teixeira (PB),
por parte da polícia paraibana, com o aprisionamento da família Dantas, ligada por profundos laços de
parentescos e interesses ao coronel José Pereira.
Os primeiros lances do conflito
Apesar de governador João Pessoa não contar com o apoio do Palácio do Catete, onde o titular, Washington
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Luís, não viabilizou uma efetiva ajuda as forças policiais paraibanas, o mandatário paraibano foi à luta.
Com o apoio discreto, mas efetivo, do Presidente da República e dos governadores de Pernambuco, Estácio
de Albuquerque Coimbra, e do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine de Faria, o coronel José Pereira
decidiu criar o “Território Livre de Princesa” com absoluta autonomia, separando-se durante o período do
conflito do restante do estado da Paraíba.
Princesa se tornou uma fortaleza inexpugnável, resistindo palmo a palmo ao assédio das milícias leais ao
governador João Pessoa. O exército particular do coronel José Pereira era estimado em mais de 1.800
combatentes, onde diversos desses lutadores eram egressos das hostes do cangaço e muitos eram desertores
da própria polícia paraibana.
No lado do presidente João Pessoa, suas tropas estavam sob o comando do Coronel Comandante da Polícia
Militar da Paraíba, Elísio Sobreira, do então Delegado Geral do Estado, Severino Procópio, e do Secretário de
Interior e Justiça, José Américo de Almeida. Na tentativa de desbaratar os sediciosos de Princesa, estes
comandantes dividiram os efetivos policiais, compostos por cerca de 890 homens, em colunas volantes.
No povoado de Olho D’Água, então pertencente ao município de Piancó (PB), estava aquartelado o comando
geral de operações da polícia paraibana, que decidiu enviar à Princesa uma de suas colunas volantes,
conhecida como “Coluna Oeste”. Esta coluna era comandada pelo Tenente Raimundo Nonato, que tinha entre
seus principais comandados o valente sargento Clementino Furtado, mais conhecido como Clementino Quelé,
ou “Tamanduá Vermelho” (por ser branco e ficar “avermelhado” quando nervoso). Quelé era a valentia em
pessoa, calejado nas lutas do sertão, podia se vangloriar de possuir no seu “currículo”, mais de vinte combates
contra Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Foi a volante de policiais comandadas por Quelé, a primeira a
entrar em Mossoró, em 13 de junho de 1927, perseguindo Lampião e seu bando, logo após este ter tentado
invadir esta importante cidade potiguar.
Composta de valentes combatentes, foi para a "Coluna Oeste" que o comando designou uma missão especial.
Em Princesa, entre um dos mais importantes líderes das tropas locais estava o fazendeiro Marçal Florentino
Diniz, poderoso e influente agro-pecuarista da região, que juntamente com seu filho, Marcolino Pereira Diniz,
eram parentes e pessoas da inteira confiança do coronel José Pereira. O coronel Marçal Diniz possuía no
então distrito de Patos de Princesa, a 18 quilômetros da cidade, uma fazenda localizada no sopé da grande
serra do Pau Ferrado, o segundo ponto mais elevado da Paraíba, com cota máxima em torno de 1.120 metros
de altitude e foi para esta fazenda que o comando da polícia paraibana ordenou que Clementino Quelé
atacasse a casa grande do poderoso coronel.
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Outra teoria seria a de levar as mulheres como prisioneiras, ou reféns, para a cidade de Paraíba do Norte
(atual João Pessoa) e forçar os comandantes de Princesa a alguma espécie de negociação.
No dia do ataque, 22 de março de 1930, Quelé e seus policiais, em número estimado entre sessenta para
alguns, e entre setenta a cem homens para outros, seguiram atravessando a zona urbana da pequena vila de
Alagoa Nova (atual Manaíra-PB) e daí subiram a grande Serra do Pau Ferrado. Ao passarem pela propriedade
de Antonio Né, pessoa ligada à família Diniz, no homônimo Sítio Pau Ferrado, assassinaram um cidadão por
nome Silvino, depois, desceram a serra.
Não havia muitos defensores pertencentes aos grupos do coronel José Pereira, ou de Marcolino Diniz e a
força policial de Quelé ocupa o local sem maior oposição. Na casa estavam entre outras pessoas, às mulheres
de Marcolino Diniz, Alexandrina Diniz (também conhecida como Dona Xandu, ou Xanduzinha) e a de Luís do
Triângulo, Dona Mitonha. Luís do Triângulo era um dos mais valentes e destacados chefes dos combatentes
de José Pereira.
A batalha sangrenta
José Pereira e Marcolino Diniz recebem a notícia da prisão de seus familiares. Tomam esta ação como um
acinte, uma falta de respeito e preparam o contra ataque. Ordenam que parte de suas tropas que combatiam
as forças policiais do governador João Pessoa na região de Tavares, se deslocasse para Patos de Princesa
e ordenam que os homens levem farta munição. Outros combatentes conclamam moradores da região para o
ataque, enaltecendo a covardia de Quelé, que usava mulheres como escudos. Este chamamento dos líderes
de Princesa e de seus homens encontra eco entre membros das comunidades de Princesa e Alagoa Nova e
estes decidem seguir com o grupo que vai retomar o “Casarão dos Patos”.
Na noite do segundo dia após o bem sucedido ataque de Quelé ao casarão da família Diniz, a situação
permanece inalterada. Segundo relatos dos reféns, os soldados, com raras exceções, se portaram de forma
vândala e arrogante durante a ocupação.
Enquanto isso os combatentes de Princesa vão discretamente fechando o cerco ao casarão. Aparentemente,
por falta de comunicação com seus comandantes, Quelé não abandonou a posição e levou seus prisioneiros.
Outros acreditam que ele logo percebeu que estava cercado e esperou o inevitável.
O certo é que na manhã do terceiro dia de ocupação, o céu se apresentava nublado, os defensores do casarão
estavam tranqüilos, apesar da tensão existente na região. Alguns esperavam o café, outros até jogavam uma
improvisada partida de futebol (possivelmente com uma bola de meia), no pátio defronte a casa. É quando o
primeiro tiro é detonado em um soldado que vinha do Sítio Pedra e trazia um carneiro para abate, aí tem início
um inferno no “Casarão dos Patos”.
A polícia estava cercada na casa, se defendendo como podia, o sargento Quelé vai animando seus policiais
em meio a uma intensa troca de tiros e insultos entre as forças combatentes.
Marcolino Diniz, à frente dos seus homens, está com o “cão no couro”, comandando, disparando e mandando
buscar cachaça nas bogedas da pequena vila de Patos de Princesa para “esquentar” seus “cabras”. Esta
cachaça era trazida em sacos, distribuída francamente entre seus combatentes. Até hoje se comenta na região
como os distribuidores da bebida terminaram os combates totalmente embriagados e sem dispararem um só
tiro.
O tiroteio é cerrado. Colocar a cabeça muito exposta nas janelas do casarão é motivo para que algum policial
se torne um alvo fácil. Já os homens de Diniz continuam disparando sem cessar. Eles estão espalhados em
todo o perímetro, protegidos por árvores, pedras, pelos muros e paredes das poucas casas vizinhas.
O combate prolongou-se até as dezesseis horas do mesmo dia, quando a polícia praticamente estava sem
munição e seus disparos tornam-se esparsos. É quando os homens de Marcolino, aproveitando uma forte
chuva que desabava e a existência de um canavial nas imediações do casarão, partem para o assalto final.
Durante a invasão é travado um forte combate corpo a corpo em cada uma das dependências da casa. Gritos,
pancadas, socos, pontapés, dentadas, tiros, facadas e sons de lutas ocupam o ambiente. Os homens de Quelé
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procuram à fuga, mas estando o casarão cercado, muitos são abatidos impiedosamente pelos combatentes
de Marcolino.
Alguns policiais fugiam, feridos ou não, pelo mesmo canavial que serviu de abrigo para os atacantes e de lá
seguiam para a serra do Pau Ferrado. Nesta fuga, muitos combatentes se cruzavam, às vezes cara a cara,
dentro do canavial e tiros ou facadas eram desferidas a curta distância.
Marcolino, atiçado pela bebida e já dentro do casarão, prometia aos gritos “vou sangrar todo mundo, até
Xandu” que no seu entendimento de valentão do sertão, com um pensamento extremamente machista,
imaginava que a sua mulher já havia sido estuprada e aí só “sangrando para limpar o corpo”. Mas Xandu e as
outras mulheres estavam bem e foram preservadas por Quelé e seus homens. Todas estavam em um quarto,
acompanhadas de um soldado ferido na perna, que conseguira desarmar uma bomba (ou granada?), que o
sargento Quelé colocara no recinto. O soldado salvou a vida das reféns, sendo igualmente salvo pelas
mulheres de ser impiedosamente sangrado por Marcolino e seus “cabras”.
Após isto, Marcolino e seus homens seguiram pelos vários recintos do “Casarão dos Patos”, chacinando os
policiais que não fugiram. Dos militares que lá dentro se encontravam, não sobrou nenhum vivo, pois até o
soldado que havia salvado as mulheres, morreu no mesmo dia, devido aos ferimentos, quando era
transportado para a vizinha cidade pernambucana de Triunfo.
Segundo relatos dos moradores da região, havia até recentemente, em alguns quartos da casa, registros de
mãos ensangüentadas nas paredes, mostrando a agonia deste dia terrível.
Quanto a Quelé, vendo-se acossado pelos homens de Marcolino e escutando o próprio caudilho dos Patos de
Princesa gritando dentro do casarão que “queria pegar Clementino e matá-lo sangrado”, pulou do andar
superior, juntamente com dois soldados e juntos fugiram em direção ao canavial. Já era noite quando
conseguiram chegar à serra do Pau Ferrado, depois seguem para Alagoa Nova e ao encontro das forças de
João Pessoa. O restante dos militares que escapou com vida embrenhou-se em território pernambucano.
Das forças de José Pereira e Marcolino Diniz houve apenas uma baixa, um senhor de nome
Sinhô Salviano, possivelmente sob efeito da cachaça, desprezou as ordens e ficou sob a mira dos soldados.
Para alguns pesquisadores, as forças paraibanas perderam mais da metade do efetivo, mas segundo os
relatos que se perpetuam na região, contados por aqueles que participaram do conflito e transmitidos para
seus descendentes, foram mortos em torno de cinqüenta policiais, sendo seus corpos enterrados em uma vala
comum nas proximidades do casarão. Os equipamentos bélicos dos policiais mortos foram recolhidos pelos
combatentes de Princesa para reforço de arsenal.
Houve outros episódios sangrentos e terríveis na Guerra de Princesa, mas após a morte, em Recife, do
governador João Pessoa e a conseqüente eclosão da Revolução de 30, o conflito em Princesa acabou, era o
dia 26 de julho de 1930.
O coronel José Pereira Lima organizou a defesa dos seus domínios de forma impressionante, provocando
baixas estrondosas à força pública paraibana durante os quatro meses e vinte e oito dias que durou sua
resistência. Princesa não foi conquistada pela polícia paraibana. Após a eclosão da Revolução de 30, tropas
do exército, de forma tranqüila, ocuparam a cidade.
O coronel José Pereira e muitos dos que lutaram com ele fugiram da região e a família Diniz se retraiu diante
do novo sistema governamental imposto. O tempo dos caudilhos do sertão estava chegando ao fim, pelo
menos naquele formato utilizado por José Pereira.
Com o fim da guerra, a fortuna da família Diniz ficou seriamente comprometida. O combate e, principalmente,
a ira dos soldados, destruiu tudo. Canaviais, engenhos de rapadura, moendas, casas e outros bens foram alvo
da vingança dos fardados, quase nada escapou.
Mesmo com as perseguições sofridas após o fim da guerra, todos os anos Marcolino Diniz e sua gente,
comemoravam o aniversário da retomada do casarão com muita festa.
Marcolino sempre foi um homem controverso, valente, prepotente, astuto e sagaz. Era proprietário das
fazendas Saco dos Caçulas e Manga, onde diversas vezes Lampião descansava dos combates. Esta polêmica
amizade entre Marcolino e Lampião é bem retratada em um episódio; em 30 de dezembro de 1923, Marcolino,
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juntamente com seu guarda-costa conhecido por “Tocha”, por conta de uma briga, matam o então magistrado
da cidade de Triunfo (PE), o Dr. Ulisses Wanderley. Marcolino fica ferido e é feito prisioneiro na cadeia pública
local. Seu pai, o coronel Marçal, recorreu aos préstimos do cangaceiro a fim de libertar o filho. Não demora
muito e um grupo armado, com um número de homens estimado em torno de 100 a 150 homens, retira
tranqüilamente o prisioneiro ferido da cadeia
Marcolino e a sua adorável Xandu, continuaram unidos até a morte, tendo seu amor sido imortalizado em
1950, por Luís Gonzaga e Humberto Teixeira, com a música “Xanduzinha”. Marcolino nasceu em 10 de agosto
de 1894 e faleceu em Irerê, em 21 de dezembro de 1980, com 86 anos, conforme está inscrito em sua lapide,
na igreja deste atraente lugarejo.
Já o sargento Clementino Quelé sobreviveu à Guerra de Princesa e ainda teria fôlego para perseguir, no ano
de 1936, o bando do cangaceiro Virgínio Fortunato da Silva. Conhecido como “Moderno”, foi cunhado de
Lampião, homem de sua mais alta confiança, que neste ano investiu contra a região conhecida como “Tigre
paraibano”, atacando várias fazendas na área próxima a cidade de Monteiro. Quelé, possivelmente pelo
analfabetismo, nunca passou da patente de sargento, tendo morrido idoso na cidade paraibana de Prata.
Coincidentemente, Quelé também foi lembrado em uma música de Luís Gonzaga intitulada “No Piancó”.
Quem visita atualmente a antiga Patos de Princesa, atual Irerê, com suas casas antigas e bem preservadas,
nem imagina que o carcomido e arruinado casarão existente no fim da rua principal, foi palco de tamanho
conflito.
Mesmo em ruínas, o casarão impressiona pela imponência da sua estrutura, pela grandiosidade da sua
construção. Nele existe um andar superior, com dois sótãos independentes, vários quartos e dependências,
sendo um exemplo do poder emanado pelos coronéis da região. Em meio ao silêncio atual, se o visitante puxar
pela imaginação, é possível ouvir os sons da batalha ali ocorrida no longínquo ano de 1930.
http://www.jmsfarias.com.br/princesa.htm
Em 1916 teve início um novo modelo de organização do ensino na Paraíba, os chamados grupos escolares,
que viriam, posteriormente, a substituir as cadeiras isoladas. Mas foi, apenas, a partir de 1930 que essas
instituições prevaleceram no estado, com a construção de mais de 70 grupos. Tratava-se de prédios projetados
a fim de racionalizar o espaço físico, eram compostos por várias salas, biblioteca e áreas de recreação. Da
criação do primeiro grupo escolar brasileiro para o primeiro na Paraíba passaram-se doze anos. Muitos
políticos da época defendiam, em seus discursos, a importância da instrução publica no combate ao
analfabetismo e como base para uma organização eficaz da sociedade. Contudo, os índices de alfabetização
na Paraíba e no Brasil em 1920 eram insuficientes.
A respeito do surgimento dessas instituições Pinheiro (2002) destaca a sua expansão desigual e o atendimento
os anseios políticos:
“o processo de implantação e expansão desse novo tipo de instituição escolar ocorreu de forma desigual e
atendeu as necessidades sociais e culturais condicionadas a particularidades políticas e econômicas e no
nível de organização escolar existente em cada estado.” (p. 125)
Aranha (2006) reforça a afirmativa de Pinheiro (2002) ao enfatizar que “prevalecia a tradição pragmática de
acolher professores sem formação a partir do pressuposto de que não havia necessidade de nenhum método
pedagógico especifico” (p. 227)
Com relação ao professor Taurini (2000) traz que no magistério prevalecia a presença de professora mulheres
visto a baixa procura devido a remuneração reduzida. Traço este percebido na fala da primeira professora da
instituição pesquisada, bem como o ingresso na docência, sem formação, destacado por Aranha (2006).
As décadas de 1920 e 1930 foram marcadas por discussões inerentes a educação e a pedagogia. Liberais e
conservadores tinham interesses divergentes. De um lado os conservadores, representados pelos católicos
defensores da pedagogia tradicional, do outro os liberais democráticos favoráveis aos ideais da Escola Nova,
que almejava transformar a sociedade por meio da educação. Uma educação laica e que promovesse o
ativismo pedagógico. Por vezes os escolanovistas foram apontados pelos católicos como ateus e comunistas,
devido aos seus ideais revolucionários. No ano de 1932 ocorreu a publicação do Manifesto dos Pioneiros da
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A evolução histórica da Paraíba, decomposta em períodos que nos trazem da conquista e colonização do
século XVI às invasões holandesas do XVII, penetração territorial dos XVII e XVIII, rebeliões liberais,
abolicionismo e republicanismo do século XIX, até o atual século XX. Neste, o vídeo ressalta além do impulso
algodoeiro, responsável pela ferrovia e "surto de industrialização episódico de Campina Grande", a República
dos Coronéis, sua contenção pelos Governo João Pessoa e Revolução de 30, e enfim, astutas sociais, secas
e inundações de nossos dias, como contraponto para involução e crise que saltam à vista.
É dentro desse quadro que devemos situar a educação paraibana. Como não havia lugar para ela em estrutura
estamental regida pelo lucro e a mercancia, a transmissão do conhecimento dos primeiros tempos ficou a
cargo das ordens religiosas que para cá se transportavam.
Essa a função de franciscanos, jesuítas, beneditinos e carmelitas, responsáveis pelos aldeamentos da
catequese. A esses também ficamos devendo templos religiosos de inspiração barroca e as mais recuadas
formas de organização social. As chamadas missões, então constituídas, representaram aparelhos
ideológicos, ou seja, mecanismos de submissão da indiada para neutralização de sua rebeldia e submissão
dos valores aos padrões do conquistador. Graças a isso é que, nas palavras de um historiador, "o terço do
missionário seguiu sempre o trabuco do conquistador" (Mello, 1997).
Entre as missões religiosas dos primeiros séculos, se algumas se localizavam no litoral, em Jacoca, Taquara,
Guia, Almagre, Praia, Jaguaribe e Mangue, outras, mais para o interior, representaram pontos de apoio para
a conquista da terra. Tal a do Pilar, onde capuchinho italiano, natural de cidade de Modena, albergou os Cariris
e assegurou base para os entradistas que se deslocaram ao longo do rio Parahyba. A futura cidade de Pilar,
imortalizada nos romances de José Lins do Rêgo, resultaria dessas peripécias (Mello, 1983). De acordo com
Gilberto Freyre, dois principais modelos pedagógicos - o franciscano e o jesuítico - competiram na sociedade
colonial brasileira dos primeiros séculos. O primeiro, que buscava a valorização do trabalho pelo incremento
das atividades manuais, defrontou-se com o jesuítico, de Ratio Studiorum, fundado no latim.
A desvalorização do trabalho manual acarretado pela escravidão fez com que prevalecesse a educação
discursiva da repetição mnemônica.
Fundada no latim essa prática pedagógica reservava-se às camadas mais altas da população. Enquanto a
grande massa permanecia analfabeta, só índios mais próximos do litoral eram aculturados, por intermédio do
teatro e da música barroca. Introduzidos pelos padres jesuítas em suas missões, ambos, tal e qual a religião
com que se articulavam, faziam as vezes de instrumentos de aculturação e controle social dos nativos.
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anterior, a Escola de Aprendizes Artífices (1912) começou a funcionar junto ao Quartel da Polícia Militar
(Weber, 1997). Esta Escola seguia modelo suíço importado pelo Presidente Nilo Peçanha.
Com a Revolução de 30 e as teses de chamada Escola Nova, aqui representada pelos educadores José
Baptista de Melo, Batista Leite, João Vinagre e Sizenando Costa, além de, posteriormente, o diretor da
Instrução Pública Calheiros Bonfim, sobreviveram os SESC, SENAC e SESI.
Se o primeiro interiorizou-se, com extensão a cidades como Guarabira e Souza, foi o último que se sobressaiu,
mediante a formação de quadros profissionais em Campina Grande e Rio Tinto, sob a liderança dos executivos
Stênio Lopes e Rogê Maciel Pinheiro. Convertida em Escola Industrial e, posteriormente, Escola Técnica
Federal da Paraíba, a antiga Escola de Artífices evoluiu para, até, funcionamento de unidade de apoio, em
Cajazeiras, no alto sertão paraibano, a partir da década de noventa. Alguns de seus programas buscaram
associar o empresariado à formação de mão-de-obra para a indústria. Buscou, nos anos setentas, esta
parceria através do Centro de Integração Escola/Empresa, coordenado pelo sociólogo Aníbal Peixoto Filho.
Se na área estadual, os chamados Ginásios Polivalentes e Orientados para o Trabalho ficaram muito aquém
da intenção dos planejadores do regime militar dos anos setentas, a Universidade ofereceu melhores espaços
à chamada educação prática.
Isso tanto se verificou em João Pessoa, com os cursos de Engenharia e Arquitetura, como embriões do atual
Centro de Tecnologia (CT), da Universidade Federal, hoje dotados de excelentes mestrados, como em
Campina Grande onde a Escola Politécnica despontou na década de cinqüenta. Dessa última, derivou a
liderança técnico-pedagógica do executivo Edvaldo do Ó a quem se deve a atual VEPB, com alguns mestrados
na área médico-científica e efetiva ação no chamado compartimento da Borborema.
Em Campina, o segmento tecnológico tem recebido a contribuição da UFPB. Na microrregião do brejo, o
ensino agrotécnico avançou com a Escola Agrotécnica Vidal de Negreiros, na década de vinte, em Bananeiras,
preliminarmente dirigida pelo agrônomo José Augusto Trindade, pai do atual Reitor do UNIPÊ, cônego Marcos
Trindade, e a escola de Agronomia do Nordeste, na década seguinte, em Areia. Modernamente, ambas
constituem dinâmicos Centros de Ensino e Pesquisa da UFPB. Com isso, acusaram melhor destino que o
antigo Patronato Agrícola de Pindobal, em Mamanguape, no litoral. Este último, não definiu suas finalidades
após as iniciativas do professor Adailton Coelho Costa, nos anos oitentas. Em Lagoa Seca, junto a Campina
Grande, o curso de Técnicas Agrícolas da VEPB encontra-se prestes a fechar. Esse não é o caso da Escola
Agrícola de Catolé do Rocha, no sertão, exitosamente mantida pela UEPB.
Privativismo, naturalismo e humanismo
Uma das características históricas da educação paraibana, entrosada com a brasileira, consistiu em seu
caráter privado. Com efeito, deslocada para o interior das famílias, ela registrou a predominância do chamado
mestre-escola (Menezes,1982). Alguns desses passaram à História, como os latinistas Joaquim da Silva, em
Areia, e Luiz Aprígio, em Mamanguape e ainda Demétrio Toledo, no Pilar, DI'. Brandão, em São João do Cariri,
Anésio Leão em Campina Grande e Patos, Rafael Corrêa de Oliveira em Pombal e Amaro Gomes Coutinho e
Severo Rodrigues, em Santa Rita. A categoria, a que hoje se retoma com o chamado reforço escolar, ganhou
nova dimensão em as Escolas Normais de Curso Pedagógico, a partir dos anos vintes.
Foi então a época das professoras primárias que se sobressaíram como Hortence Peixe, Adamantina Neves.
Tércia Bonavides e Adélia de França, em João Pessoa, Maria das Neves Pires e Eulina Serrão, em Santa
Rita, Adalgisa Amorim, Doziá Quirino e Ilsa Luna, em Campina Grande, Maria Medeiros, em Santa Luzia,
irmãs Eudócia Queiroz Fernandes e Nelita Nóbrega Queiroz, em Patos, Aracy e Ernestina Leite, no Piancó,
Elzira Matos, em Souza. O caráter privativista da formação social brasileira, ressaltado por Nestor Duarte, fez
com que a primeira cadeira pública, e de Latim, somente fosse criada em 1766, com provimento em 1783.
Essa a razão pela qual "mantido na obscuridade, o povo paraibano aprendeu a ler sem escolas" (Mello, 1997).
Quando da criação da primeira cadeira escolar mantida pelo govel11o, os jesuítas haviam sido expulsos do
Brasil, o que levou o Marquês de Pombal àquela providência. Um pouco mais tarde, em 1822, funcionavam
escolas de primeiras letras na Paraíba, nas vilas de Conde, Alhandra, Monte Mór, São Miguel, Pilar, Brejo de
Areia, Nova Rainha (Campina Grande), São João, Pombal e Souza Mello (1956). Bem mais importantes que
esse arremedo de estrutura educacional, fizeram-se as experiências pedagógicas do naturalista paraibano
Arruda Câmara, na qualidade de médico formado em Montpellier, na França.
Ao pesquisar a fauna e flora nordestinas, Câmara, de quem hoje se contesta o liberalismo maçônico, lançou
as bases do naturalismo pedagógico, irmão gêmeo do naturalismo filosófico da Revolução Francesa. Na outra
vertente do chamado humanismo, quem mais se distinguiu foi o padre Inácio de Souza Rolim, responsável
pela tradição pedagógica de Cajazeiras, no alto sertão paraibano. Sua escola localizava-se em fazenda da
freguesia e deslocou-se para Inhamuns, no Ceará, por ocasião da epidemia de cólera, em 1856.
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O caráter itinerante das escolas da época positivou-se, igualmente, na região noroeste do Estado, com o
educador Antonio Gomes de Arruda Barreto. Também político, advogado e jornalista, deslocou seu colégio
Sete de Setembro um dos únicos do sertão, na passagem do século, de Brejo do Cruz para Mossoró e Martins,
no Rio Grande do Norte, antes de retomar a Catolé do Rocha, na Paraíba. Tanto Rolim quanto Barreto
constituíram expressões da escola doméstica, assim rotulada por Rafael de Menezes, como a que, a certa
altura, ofereceu o tom da educação paraibana.
As polêmicas culturais das décadas de vinte e trinta, pela imprensa paraibana e pernambucana, refletiu o
entrechoque dessas duas vertentes do ensino da Paraíba (Mello, 1979).
Uma era ultramontana e a outra agnóstica, derivada da chamada Escola do Recife, albergada na Faculdade
de Direito dessa cidade.
Do Império à República, um recuo no tempo
Bastante ressaltados pela tradição e estudos como o de José Rafael Menezes (Menezes, 1983), o Liceu fez-
se mais eficiente como formador de quadros para a alta administração e cultura estaduais que como
instrumento de democratização do ensino e incorporação das massas ao processo educativo da Paraíba.
Esse, em fenômeno de que não se podia cogitar no século XX onde a base agropastoril da economia não
assegurava senão educação elitizada e de reduzidos quantitativos.
As estratégias coligadas pelo sociólogo Cláudio José Lopes Rodrigues, são a esse respeito, sintomáticas. Em
1838, o número de alunos do Liceu era de 120, cifra que variava para 66 em 1844, 78 em 1852, 93 em 1860,
123 em 1866 e 96 em 1877. Rodrigues(1980).
As mulheres não faziam parte desse quantitativo, visto que a primeira escola para o sexo feminino somente
surgiria com o Colégio das Neves, de irmãs francesas importadas pelo presidente Beaurepaire Rohan, em
1858. Dois anos depois, invocando falta de recursos, o presidente da província de Luiz da Silva Nunes a
fechava.
Nas palavras de abalisado pesquisador da educação paraibana, José Batista de Melo, as Escolas profissionais
da época do Império efêmeras e pouco operativas - reservavam-se às crianças desvalidas - eterno cacoete
do elitismo. Quanto às demais, nada ensinavam a julgar pelo diálogo mantido por um ex-aluno com o viajante
Daniel P. Kidder, em 1840 (Kidder, 1943).
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Externato Normal, além de algumas dezenas de estudantes nos cursos de Latim que funcionavam em Areia,
Mamanguape e Souza".
Como por volta de 1856, a província já contava com 300.000 habitantes dos quais 30.000 na capital somente
foi inaugurado em 1917, o que em Campina Grande somente ocorreu cinco anos depois. Nessa mesma
cidade, apesar do crescimento verificado com a chegada do trem em 1907, a educação continuou
impulsionada por mestres-escolas como Clementino Procópio. A este sucederam Anésio Leão e Alfredo
Dantas, o último dos quais, militar, tornou-se responsável, na década de trinta, pelo ginásio que lhe ganhou o
nome.
Dentro desse quadro, a estrutura educacional paraibana somente merece esse nome, a partir da Interventoria
Antenor Navarro, entre 1930 e 32. Neutralizando a influência do clero e projetando os reflexos revolucionários
pré-trinta, Navarro avocou ao poder público ensino primário dotado do controle de inspetores, caixas escolares
e novos serviços como conto, coral e educação física. Dez grandes grupos escolares que ainda hoje prestam
excelentes serviços foram disseminados pelas principais cidades do Estado.
Colégios religiosos, Fundações e Ensino Público
A partir da segunda metade dos anos trintas, várias ordens de freiras brasileiras e estrangeiras principiaram a
instalar colégios para moças em cidades como Guarabira, Alagoa Grande, Bananeiras, Princesa Isabel, Catolé
do Rocha, Areia e Itaporanga, no esquema de internatos.
Com o ensino religioso sertanejo animado pelo bispo de Cajazeiras, Dom João da Mata Amaral, a insistência
ainda era privada, o que prosseguiu com os ginásios comerciais da Campanha Nacional de Escolas da
Comunidade (CNEC) e Fundação Padre Ibiapina dos educadores Felipe Tiago Gomes e Afonso Pereira.
Nesses termos, a presença do Estado na educação paraibana somente se tornou efetiva com os anos
cinqüentas.
A Universidade Estadual da Paraíba, preconizada por José Américo, era então uma realidade, cabendo a esse
mesmo governante inaugurar o primeiro Colégio Estadual de fora da Capital. Era o Colégio Estadual do bairro
da Prata, de Campina Grande, datado de 1953, sobre estrutura física iniciada pelo Governador Oswaldo
Trigueiro (1947 - 1950).
Com o populismo gondinista, de 1958 a 60, os colégios estaduais, transportados a Sapé pelo Governador
Flávio Ribeiro, em 1958, ganharam os bairros de João Pessoa, e a seguir os de Campina Grande. Com
Gondim novamente no governo, de 1961 e 1966, tais estabelecimentos foram estendidos ao interior, para
suprirem lacuna existente em municípios como Guarabira e Pombal que, na década de cinqüenta, contavam
apenas com modestíssimas escolas de curso comercial de primeiro grau. Com José Medeiros Vieira na
Secretaria de Educação e Cultura, o governador João Agripino dotou aqueles educandários de condignas
instalações.
Analfabetismo, teleducação e professorado leigo
Essa expressão educacional paraibana, que apontava mais para o crescimento que para o desenvolvimento
da educação, fazia-se de forma desordenada. Tanto assim que, na base, persistia o grave problema do
analfabetismo, agravado pelo latifúndio que as nascentes Ligas Camponesas (1958 - 1964) desafiavam.
A consciência do analfabetismo dominou a sociedade paraibana em momento de agudização das lutas sociais,
de modo que foi a nível ideológico que se processou seu enfrentamento. Enquanto pela centro-esquerda
avultava o SIREPA, como responsável pela primeira experiência de educação pelo rádio, na Paraíba, a
extrema esquerda organizou a CEPLAR para ousada tentativa conscientizadora de alfabetização, baseada no
método Paulo Freire. Com o movimento de 64 e a supressão da CEPLAR, prevaleceu a Cruzada ABC, de
inspiração evangélica e financiamento norte-americano (Scocuglia, 1997).
Do SIREPA saíram os quadros da experiência estadual do Projeto Minerva que, com base na rádio e
posteriormente na televisão, encaminhou grandes massas para os exames supletivos, reestruturados pelo
secretário José Carlos Freitas, durante a administração Ernany Satiro (1971- 1975).
Enquanto a educação à distância da Paraíba era considerada modelar, o mesmo não se verificou com o
MOBRAL, destinado a conter o analfabetismo. Por toda parte, esse teve no desperdício de recursos e material,
além da politicagem, a principal característica.
O autor coordenou o Projeto Minerva de 1971 a 1977, extraindo completo relatório da experiência, incorporado
aos arquivos do Grupo José Honório Rodrigues.
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Quanto ao MOBRAL são inúmeras as referências desfavoráveis constantes das Mensagens Governamentais
e Relatórios da Secretaria de Educação, na década de setenta. Ao lado do analfabetismo, que o MOBRAL
não deteve, outro problema acusado pela educação paraibana foi o do chamado professorado leigo, isto é,
sem habilitação adequada. Para equacioná-lo, os governos federal, estadual e municipal conjugaram-se no
chamado Projeto Logos cujos resultados revelaram-se aquém dos esperados.
A Universidade contribuiu com Mestrado de Educação de Adultos de boa qualidade, o qual todavia, formou
mais especialistas de nível que pessoal capaz de atuar junto à raiz do problema.
Dos Centros de Educação à grande crise
Com o populismo e a expansão educacional dos anos 50/60, o sistema pedagógico paraibano ganhou três
núcleos de capacitação profissional do melhor nível. Tais os Centros de Treinamento de Professores de Sapé,
Alagoa Grande e Souza que, mesmo a elevados custos, formaram quadros médios de boa qualidade e
asseguraram apoio a sem número de programas e projetos pedagógicos.
Entre 1960 e 70, os colégios estaduais do interior, todos inspirados no modelo do Liceu, acusaram bom
rendimento e firmaram favoráveis perspectivas para a educação paraibana. Em cidades como Patos,
Cajazeiras, Alagoa Grande, Bananeiras, Princesa Isabel, Itaporanga e Monteiro, eles prolongaram os antigos
estabelecimentos religiosos, com aproveitamento até de seus quadros administrativos e docentes. O de
Cajazeiras, seguindo o modelo de muitas cidades brasileiras, converteu-se em Faculdade de Filosofia
confessional, como embrião do campus da Universidade Federal Iglésias (1985).
Nesse contexto, a grande crise da educação paraibana sobreveio com os anos oitentas em que,
acompanhando o declínio da economia e a virtual desintegração do Estado, que passou a pagar baixíssimos
salários, motivando sucessivas greves como resposta do professorado, o sistema pedagógico colapsou. Os
resultados vieram a seguir. Nos anos noventas, as estatísticas revelaram como analfabetos metade da
população paraibana acima dos quinze anos. Nas escolas estaduais e municipais de primeira fase de primeiro
grau, os índices de evasão e repetência revelaram-se dos mais altos do país. Em 1996, estatísticas do IPEA
revelaram a Paraíba, entre os Estados brasileiros, em último lugar em esperança de vida, penúltimo em
escolaridade e antepenúltimo em produto interno bruto per capita. Mello e Nóbrega (1998).
A UEPB revela no CEDUC, do Bairro do Catolé, em Campina Grande, Departamento de Pedagogia que prima
pela qualidade. Enfim, em João Pessoa, o UNIPÊ tem cuidado de aprimorar seu pessoal docente, discente e
administrativo, em larga escala. Além disso, sob a inspiração da dupla Marcus Trindade - José Loureiro, é
visível a disposição de voltar-se para a comunidade, através de agressivo programa cultural, além da ação de
cursos como Pedagogia e Psicologia.
A Paraíba faz-se assim unidade federada de relevante brain-trust, mas o problema não reside aí, no alto, mas
na base corroída pelo clientelismo. (José Octávio de Arruda Mello).
https://www.scielo.br/j/pee/a/87PN7PpY7CjcdFD6Y8q67qv/?format=pdf&lang=pt
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