Agrosocio Biodiversidade-Direitos, Democracia e Agroecologia No Campo e Na Cidade
Agrosocio Biodiversidade-Direitos, Democracia e Agroecologia No Campo e Na Cidade
Agrosocio Biodiversidade-Direitos, Democracia e Agroecologia No Campo e Na Cidade
Entre 2003 e 2015, a sociedade civil brasileira Conheça algumas das principais políticas
vivenciou um período de grande abertura para incentivo da agroecologia:
de diálogo com o Estado. Para o campo
agroecológico, significou intensa participação
social na construção de políticas públicas. 4
Adaptado de Schmitt et al. (2017). In Políticas Públicas
Outra marca desse período foi a crescente a favor de la Agroecología en América Latina y el Caribe.
convergência entre políticas para a agricultura Sabourin et al. (orgs.) Porto Alegre: Red PP-AL/FAO,
familiar com políticas sociais e de segurança p. 73-122.
POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA como sistematizações de experiências
TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL (PNATER) e a realização de oficinas e intercâmbios.
Criada em 2004, a PNATER foi primeira política
pública de âmbito nacional que incluiu o termo PROGRAMA NACIONAL DE
agroecologia em seu texto original. Mas isso ALIMENTAÇÃO ESCOLAR (PNAE)
foi alterado pela Lei 12.188/2010. O termo Embora criado em 1979, foi a partir de alterações
agroecologia foi substituído pelos referenciais de em 2009 que o PNAE passou a destinar pelo
promoção de uma agricultura sustentável. Entre menos 30% de seus recursos à aquisição de
as ações concretas realizadas no âmbito desta gêneros alimentícios diretamente da agricultura
política, destacam-se a formação de agentes de familiar do município ou região em que se
assistência técnica e extensão rural (ATER) a partir encontram as escolas. O programa prioriza
de uma perspectiva agroecológica. produtos orgânicos ou agroecológicos, pagando
por estes até 30% a mais que os convencionais.
NÚCLEOS DE ESTUDO EM AGROECOLOGIA Além disso, inclui entre suas compras produtos
E PRODUÇÃO ORGÂNICA (NEAS) regionais e do extrativismo.
Desde 2010, os NEAs têm contribuído no
processo de institucionalização da agroecologia PROGRAMA DE AQUISIÇÃO
em unidades de ensino superior, institutos DE ALIMENTOS (PAA)
federais, centros de pesquisa e instituições de Criado em 2003, o PAA possibilita a aquisição
ATER. Nesses espaços, os NEAs têm possibilitado de uma grande diversidade de produtos
maior aproximação entre profissionais de da agricultura familiar, incluindo produtos
diferentes áreas do conhecimento, incentivando extrativistas e de origem regional, que são
a articulação de ações que antes eram realizadas distribuídos a pessoas em situação de
isoladamente. Foram criados mais de 150 vulnerabilidade social, repassados a restaurantes
núcleos pelo país. populares, cozinhas comunitárias e bancos de
alimentos, entre outros. Em suas diferentes
PROJETOS DE INFRAESTRUTURA E modalidades, o PAA permite ainda a compra
SERVIÇOS DOS TERRITÓRIOS (PROINF) e doação de sementes de variedades locais,
As ações do Proinf devem priorizar a redução tradicionais ou crioulas, bem como de variedades
e a eliminação da pobreza e das desigualdades comerciais não híbridas produzidas pela
sociais e de gênero, incrementando a segurança e agricultura familiar. Além disso, estabelece
a soberania alimentar e nutricional, a estruturação diferencial de até 30% no preço de produtos
de sistemas produtivos agroecológicos, a orgânicos ou agroecológicos.
implementação de redes solidárias de produção
e projetos coletivos. PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO
NA REFORMA AGRÁRIA (PRONERA)
PROGRAMA DE FOMENTO ÀS O programa nasceu das demandas dos
ATIVIDADES PRODUTIVAS RURAIS movimentos do campo, pensando num projeto
Apoia processos de transição agroecológica, ao de educação contextualizada para jovens e
promover diversificação das atividades produtivas; adultos das áreas de reforma agrária. São
participação das mulheres; reconhecimento apoiados cursos que vão da educação básica
das experiências e dos conhecimentos dos à pós-graduação. O Pronera atua também na
agricultores na elaboração e execução dos formação de educadores e multiplicadores de
projetos; elevação da autoestima e reencontro atividades educativas. Educação no campo é
com a identidade de agricultor, além da promoção direito de todos!
da segurança alimentar.
PROGRAMA DE FORTALECIMENTO E
AMPLIAÇÃO DAS REDES DE AGROECOLOGIA,
EXTRATIVISMO E PRODUÇÃO ORGÂNICA
(ECOFORTE)
O Ecoforte foi criado em 2013 e integra o
Plano Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica (Planapo). Seu objetivo é fortalecer
e ampliar redes, cooperativas e organizações
socioprodutivas e econômicas de agroecologia,
extrativismo e produção orgânica. Para isso
fomenta práticas de manejo sustentável de
produtos da sociobiodiversidade e de sistemas
produtivos orgânicos e agroecológicos. O
programa também apoia o fortalecimento da
relação entre produtores e consumidores, bem
As novas tecnologias 60% DAS VENDAS DE
agrícolas e os riscos SEMENTES ESTÃO NAS
MÃOS DE TRÊS
à soberania alimentar
CONGLOMERADOS
EMPRESARIAIS:
CHEMCHINA/SYNGENTA,
brasileira DOW/DUPONT E MONSANTO/BAYER.
No semiárido, bancos
comunitários de sementes garantem
preservação de variedades
GABRIEL FERNANDES
ainda é um problema?
sistema. Por várias razões, como a falta de apoio
técnico para realizar o CAR Coletivo, ausência
de módulo adequado no Sistema Nacional de
Cadastro Ambiental Rural para PCTs, dificuldade
PEDRO MARTINS de acesso à informação sobre o CAR e seus
usos, entre outros.
O Cadastro Ambiental Rural, mais conhecido
pela sigla “CAR”, existe em todo território nacional Por que as coisas não andaram para
desde 2012 com o Código Florestal, e teve seu povos indígenas e povos e comunidades
sistema de cadastramento implementado em tradicionais? O mapeamento dos territórios
2014, mas ainda gera dúvidas e preocupações está praticamente concluído, quase 100% está
em 2018. Não é à toa. Afinal, o cadastro público no sistema, isso já está agradando o governo
dos imóveis rurais não foi criado para atender federal. Mas a explicação é que os fazendeiros,
às diferentes realidades das comunidades grileiros e latifundiários autodeclararam áreas
camponesas e indígenas do país. dos tradicionais em seus nomes, promovendo
a usurpação de terras que historicamente
O cadastramento tem a finalidade de gerar um produzem conflitos no campo.
banco de dados georreferenciados das posses
e propriedades no Brasil para permitir um salto Alertamos que o CAR não é documento de terra!
tecnológico na fiscalização de crimes ambientais A inscrição no CAR tem a única finalidade
com o uso de imagens via satélite. Muitos de auxiliar o combate ao desmatamento,
investimentos vêm sendo feitos para garantir conforme foi previsto no Código Florestal.
equipamentos tecnológicos de ponta e acesso a O uso do CAR para fins de regularização
imagens caras para o governo brasileiro. fundiária, portanto, é vedado por lei.
De onde vem investimento para o CAR? Há rumores que o prazo para o Cadastro é 31
Financiamentos internacionais têm sido de dezembro de 2018, e é verdade! O prazo foi
ancorados pelo Ministério do Meio Ambiente para definido em lei, mas não significa que depois
o CAR desde que estejam em estratégias como dessa data ninguém mais poderá fazer
Redução das Emissões por Desmatamento e o cadastro. Significa que só poderá
Degradação Florestal (REDD) e de economia verde ter acesso a crédito rural após 31 de
de modo geral. Em muitos deles, os impactos dezembro quem já tiver a inscrição no
socioambientais, ou seja, com a população CAR em mãos.
envolvida, são desconsiderados. Hoje se conta
com dados precisos sobre relevo e vegetação do
Brasil, mas, e as comunidades?
Experiências de resistência Do norte ao sul do país, agricultores e agricultoras
familiares, indígenas e povos e comunidades
e preservação da tradicionais têm suas práticas ameaçadas pelo
avanço do agronegócio e por alterações legais
biodiversidade no Brasil que prejudicam seus direitos. Experiências de
diferentes locais do país mostram que resistir é
preciso. A prática tradicional e agroecológica
desses grupos contribui para a preservação da
biodiversidade e para a melhoria na qualidade
de vida das comunidades das regiões.
Conheça algumas dessas experiências:
FOTOS DA CAPA:
Joka Madruga e
Naiara Andreoli
Bittencourt
Boletim produzido pela Articulação Nacional
de Agroecologia e pela Terra de Direitos.
ACESSE:
www.agroecologia.org.br
JUNHO/2018 www.terradedireitos.org.br