Agrosocio Biodiversidade-Direitos, Democracia e Agroecologia No Campo e Na Cidade

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APRESENTAÇÃO

A biodiversidade como bem comum:


CENÁRIOS, AVANÇOS E DESAFIOS
CLAUDIA SCHMITT

A palavra biodiversidade varietal e genética dos contribuição foi reconhecida,


está relacionada à diversidade cultivos e de seus parentes formalmente, pelo Artigo 9º do
e variabilidade das formas silvestres, dos micro- Tratado Internacional sobre
de vida existentes em nosso organismos e das espécies Recursos Fitogenéticos para
planeta, presente nos mais animais, materializando-se, a Alimentação e a Agricultura
diversos biomas, nos campos, também, na diversidade (TIRFAA), construído no âmbito
nas florestas e nas águas, dos agroecossistemas e da Organização das Nações
mas também nas lavouras, de suas interações com Unidas para Agricultura e
nas cidades, nos quintais, os ecossistemas naturais. Alimentação (FAO), assinado
nos espaços dedicados à Existem componentes da por diferentes países, inclusive
criação de animais, nas feiras, agrobiodiversidade que, o Brasil.
nos mercados e na nossa mesmo não tendo, à primeira
alimentação. Uma parte dessa vista, uma utilidade mais O texto aprovado destaca
biodiversidade, chamada de imediata, também estão “a enorme contribuição que
agrobiodiversidade, possui relacionados a essa rede de as comunidades locais e
relação bastante estreita com interdependências que se indígenas e os agricultores de
os seres humanos, sendo estabelece entre processos todas as regiões do mundo,
composta por organismos ecológicos e processos sociais, particularmente dos centros
vivos domesticados, na criação e reprodução de origem e de diversidade
semidomesticados ou da vida. Biodiversidade e de cultivos, têm realizado
simplesmente manejados. Estes agrobiodiversidade são, e continuarão a realizar
são utilizados como alimento, portanto, componentes para a conservação e para o
remédio, fonte de energia e dinâmicos de uma mesma desenvolvimento dos recursos
de matérias-primas, proteção unidade. fitogenéticos que constituem a
contra as intempéries, entre base da produção alimentar e
outras necessidades. Ao longo das gerações, agrícola em todo o mundo”.
indígenas, camponeses/as,
Embelezam ainda os espaços agricultores/as familiares O direito ao livre uso da
de vida e adquirem, para e povos e comunidades biodiversidade é parte
muitas pessoas, em diferentes tradicionais que constituem integrante das lutas dos
culturas, significados espirituais. nossa sociobiodiversidade camponeses/as, povos e
De acordo com a Convenção têm desempenhado um comunidades tradicionais,
da Diversidade Biológica papel fundamental na na defesa de seus territórios,
(CDB), a agrobiodiversidade geração e manejo sustentável de sua identidade cultural e
contempla a diversidade da biodiversidade. Essa de sua autonomia.

O presente informativo - produzido pela • Do avanço do agronegócio, da mineração


Articulação Nacional de Agroecologia e pela e das grandes obras de infraestrutura sobre
Terra de Direitos - tem por objetivos traçar os territórios e as populações rurais;
um panorama das distintas ações voltadas
à promoção e defesa da biodiversidade, em • Do cercamento da biodiversidade e dos
andamento nas diferentes regiões do Brasil. A conhecimentos a ela associados, através
biodiversidade é considerada, aqui, como um bem de marcos regulatórios cada vez mais
comum, a serviço da humanidade, fator essencial restritivos à livre utilização desses recursos;
para a soberania e autodeterminação dos povos
e para a garantia da segurança alimentar e • Da ampliação do poder das grandes
nutricional das populações urbanas e rurais. corporações sobre o setor de insumos,
particularmente sobre a produção de
Procuramos refletir acerca dos desafios que estão sementes e mudas;
colocados às diferentes iniciativas em um cenário
marcado por diversas pressões, decorrentes:
EXPERIÊNCIAS
No entanto, em meio a esse São essenciais, portanto, os das populações urbanas
cenário de desafios, nos momentos de convergências e de enfrentar os efeitos
parece fundamental destacar de afirmação de experiências e entrelaçados da crise
o significativo acúmulo de dos benefícios que elas geram econômica e ambiental.
conhecimentos, experiências para o conjunto da sociedade,
e formas de organização na produção de alimentos O reconhecimento da
social voltados ao manejo da saudáveis, na recuperação e biodiversidade como um
biodiversidade, desenvolvido conservação das fontes de bem comum e como um
nos últimos anos no contexto água, no manejo sustentável componente fundamental
das redes de agroecologia, dos biomas, na democratização na construção de alternativas
incluindo: bancos e feiras de do uso da terra, na geração sustentáveis de produção
sementes; práticas de manejo de trabalho digno e renda e e consumo nos permite
agroflorestal; iniciativas de na afirmação de toda uma valorizar práticas em
produção, processamento e diversidade de identidades andamento e vislumbrar
comercialização de produtos e culturas1. caminhos futuros, que vão
da agrobiodiversidade; sendo exercitados quando
projetos e metodologias Trata-se, além disso, de desafiar repartimos sementes,
voltados ao melhoramento a sociedade brasileira a refletir compartilhamos o
participativo de diferentes acerca dos riscos que estão alimento e intercambiamos
cultivos; construção coletiva associados à continuidade do conhecimentos,
de protocolos bioculturais; atual modelo de agricultura experiências
fortalecimento dos quintais e de ocupação dos espaços e lutas.
produtivos e do trabalho das rurais, modelo este que
mulheres sob uma perspectiva compromete não apenas
feminista; experiências voltadas os modos de vida
à valorização da biodiversidade das populações que
através da gastronomia; trabalham e vivem no
elaboração de propostas de campo, mas que
legislação visando proteger afeta, também, a
os direitos dos camponeses/ própria capacidade
as, agricultores/as familiares
e povos e comunidades
tradicionais no acesso à
biodiversidade; formulação e
implantação de instrumentos
1
Ver: Carta Convocatória
de políticas públicas voltados do IV ENA. Disponível em:
à promoção da biodiversidade, http://enagroecologia.org.
como compra das sementes br/files/2018/02 /CARTA_
crioulas através dos mercados CONVOCATORIA_IV_ENA_espanhol.
institucionais. pdf. Acesso em: 02/05/2018.

• Do surgimento de novas • Do empobrecimento da nossa No contexto atual vivido pela


tecnologias de manipulação alimentação, resultado de uma sociedade brasileira, em
da vida que estão sendo dieta erodida pela incorporação que se verificam profundas
disseminadas sem uma análise de alimentos ultraprocessados, rupturas no funcionamento
mais rigorosa dos perigos que cada vez mais desvinculados das instituições democráticas,
podem causar para a saúde dos agroecossistemas e das torna-se cada vez mais
e o ambiente; culturas alimentares locais. Essa necessário assegurar
erosão da diversidade agrícola e direitos, fortalecer as
• Da crescente flexibilização alimentar compromete a nossa práticas agroecológicas
das leis que deveriam regular alimentação, tanto no que nos territórios e resistir
o uso de agrotóxicos; diz respeito ao seu conteúdo ao desmantelamento das
nutricional como em sua políticas públicas.
diversidade cultural.
POVOS DO CAMPO, DAS ÁGUAS, DA FLORESTA:
Biodiversidade, territorialidades
e lutas socioterritoriais
FERNANDA TESTA MONTEIRO

Ao longo dos séculos, gerações entre esses grupos e


de camponeses/as, indígenas comunidades rurais e
e quilombolas desenvolveram seus territórios, com as
estratégias agroalimentares condições socioculturais,
que resultaram em sistemas políticas e econômicas
agrícolas complexos, envolvidas. Merece destaque
diversificados e adaptados a resiliência socioecológica
às condições locais. Tais desses sistemas, que é o
sistemas foram desenvolvidos enfrentamento à variabilidade
a partir da coadaptação de e às mudanças climáticas, riscos
grupos humanos, como as naturais, novas tecnologias e fazer menção às sementes
comunidades rurais, com contextos sociais e políticos cultivadas nos roçados
o seu ambiente, de acordo adversos, com vistas a garantir familiares e comunitários e
com suas necessidades e a soberania alimentar. às raças de animais criados/
aspirações e resultaram em domesticados. E referir-se à
rica biodiversidade, alimentos Assim, a biodiversidade sociobiodiversidade para fazer
e conhecimentos tradicionais expressa essa inter-relação menção às espécies nativas
que permitem a manutenção/ entre diversidade biológica manejadas pelos povos dos
conservação dos recursos e sistemas socioculturais. campos, das águas e das
naturais em paisagens variadas. Isso gerou, e continua florestas, que no Brasil habitam
É por isso que encontramos gerando, os mais variados nossos diferentes biomas
agriculturas diversas pelos produtos agrícolas. Nesse (Amazônia, Cerrado, Pantanal,
campos brasileiros. Esses sentido, é comum referir-se Caatinga, Mata Atlântica, Zona
sistemas são vivos e interagem à agrobiodiversidade para Costeira Marinha e Pampa).

DIVERSIDADE para eles alimento, práticas


políticas, economia, com
águas e as florestas brasileiras,
como é o caso de muitos povos
SOCIOCULTURAL influência direta na forma
como significam o mundo. Traz
indígenas, quilombolas e
comunidades tradicionais.
em si memória e identidade Entre essas comunidades
com elementos que revelam o tradicionais, encontramos
É importante ter em conta
sistema de valores e a lógica identidades autodeterminadas
que essa riqueza biológica
ou modo de vida dessas variadas que, em muitos
está associada a uma grande
formações sociais diversas. casos, fazem referência à
diversidade sociocultural,
biodiversidade com a qual
que no Brasil é representada
No Brasil, vemos ampliar, nos interagem continuamente –
por mais de 200 povos
últimos anos, o reconhecimento como quebradeiras de coco
indígenas, diversos povos
dos Povos e Comunidades babaçu, apanhadores de
quilombolas e inúmeras
Tradicionais (PCTs). A flores sempre-vivas, catadeiras
comunidades tradicionais e
Comissão Nacional de Povos de mangaba, etc. Essas
de agricultores/as familiares
e Comunidades Tradicionais, identidades autodeterminadas
que com ela interagem
constituída no governo federal variadas expressam vínculos
para viver. Relacionam-se e
a partir do Decreto 6.040/2007, territoriais e dizem respeito
modificam a natureza como
foi ampliada com o Decreto a uma experiência histórico-
um todo, cotidianamente,
8.750/2016 para acolher geográfica comum2.
na produção e reprodução
outros grupos até então não As identidades territoriais
da vida. A biodiversidade,
reconhecidos. Boa parte desses revelam-se na ação política e
portanto, é um bem comum
grupos habitam os campos, as na reivindicação de direitos
dos povos que carrega em si
historicamente negados.
ancestralidade, conhecimento,
trabalho e cultura –
agriculturas. Tem fundamental 2
HEIDRICH, A.L. Conflitos territoriais na estratégia de preservação da
importância na garantia da vida natureza. In: SAQUET, M.A. e SPOSITO, E.S. (Org.) Território e territorialidades:
desses povos, representando teorias, processos e conflitos. São Paulo: Expressão Popular, 2009, p. 271-290.
As comunidades tradicionais
rurais dizem respeito a feições AMEAÇAS
camponeses/as variadas
que possuem características
No contexto atual, toda essa mecanismos de produção e
socioculturais, políticas e
riqueza encontra-se ameaçada circulação da biodiversidade,
econômicas próprias. Elas
pelo avanço do agronegócio, como feiras de sementes,
desenvolveram e conservam
com seus sistemas de propagação de raças de
práticas tradicionais como
monocultivos e variedades animais crioulas, práticas
a manutenção das terras de
geneticamente modificadas de medicina popular e de
uso comum, o uso da água
(transgênicos), assim como por agroextrativismo, entre outros.
e da biodiversidade a partir
grandes empreendimentos Tecem redes de articulação
de normas costumeiras (que
minerários, de infraestrutura, e travam lutas contra as
regulam, por exemplo, a pesca,
acesso ilegal aos ameaças políticas, econômicas,
a coleta, o uso das pastagens
conhecimentos tradicionais legislativas e criam espaços
nativas, etc.) e fazem gestão
associados à biodiversidade, agroecológicos de forma
comunitária desses bens
privatização das águas e a promover a soberania
comuns, que fazem parte das
mesmo de compensações alimentar e manutenção de
estratégias de alimentação,
ambientais correlatas (como meio ambiente equilibrado
moradia, confecção de
as unidades de conservação para as gerações futuras.
utensílios, práticas medicinais
de proteção integral). Tem-se, Lutam cotidianamente
e religiosas, bem como
portanto, o movimento das para manter seus lugares e
de geração de renda. Os
disputas das formas de usos modos de vida. Lutam pelo
complexos saberes associados
dos territórios. Há, assim, seu reconhecimento cultural
ao uso, manejo e conservação
territorialidades de dominação e econômico com vínculos
dessa agro/sociobiodiversidade
e de resistência em conflito, territoriais, demandando o
são caros à manutenção da
envolvendo movimentos direito de acesso e uso
vida nos lugares que habitam.
socioterritoriais. A disputa dos recursos dos quais
territorial ocorre de duas dependem para viver, bem
3
FERNANDES, B.M. Sobre a tipologia formas: pela desterritorialização como por justiça, democracia
dos territórios. In: SAQUET, M.A. e e diversidade cultural.
ou pelo controle das formas de
SPOSITO, E. S. (Orgs.) Território e São guardiões e guardiãs da
territorialidades: teorias, processos
acesso e uso aos territórios3.
Juntos, os povos dos campos, biodiversidade, dos saberes
e conflitos. São Pulo: Expressão
Popular: UNESP. Programa de Pós das águas e das florestas criam e das águas!
Graduação, 2009, p.197-216.

Que direito é esse?


campo, das águas e florestas, especialmente
aqueles relacionados à terra, território, agro
e sociobiodiversidade.
CONHEÇA LEIS E TRATADOS Por isso, lei é diferente de direito. Há direitos
não reconhecidos e outros que estão escritos,
QUE PROTEGEM OS DIREITOS DE mas não são efetivados. É preciso, portanto, lutar
para criar, reconhecer e implementar os direitos.
AGRICULTORES, AGRICULTORAS
E POVOS E COMUNIDADES Os principais instrumentos internacionais que
o Brasil assina para garantir esses direitos
TRADICIONAIS são o Tratado Internacional sobre Recursos
Fitogenéticos para a Alimentação e Agricultura
(TIRFAA/FAO), a Convenção da Diversidade
NAIARA ANDREOLI BITTENCOURT Biológica, a Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), a Declaração
O conteúdo dos direitos dos agricultores, povos Universal de Direitos Humanos e o Pacto
e comunidades tradicionais está em permanente Internacional sobre Direitos Econômicos,
construção. Os direitos são frutos das lutas que Sociais e Culturais.
os povos travaram em cada tempo histórico e
espaço geográfico. Assim, há direitos garantidos Em âmbito nacional, temos a Constituição
no Brasil que estão escritos, presentes nas Federal, a Lei da Agricultura Orgânica (Lei
legislações, constituições e regulamentos e 10.831/2003), a Política Nacional da Agricultura
outros reconhecidos internacionalmente, como Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais
tratados, convenções e acordos. (Lei 11.326/2006), a Lei Orgânica de Segurança
Alimentar e Nutricional (Lei 11.346/2006) e a
Há ainda muitos direitos que não foram Política Nacional de Agroecologia e Produção
escritos e são reivindicados pelos povos do Orgânica (Decreto 7.794/2012).
Também há legislações que devem ser cobrados. É o povos e comunidades
tratam de aspectos importantes caso da Lei de Biossegurança tradicionais brasileiros não
para os agricultores e Nacional (Lei 11.105/2005), são simples direitos individuais,
povos tradicionais, mas são da Lei sobre Mudas e mas sim de reconhecimento
criticadas pelos movimentos Sementes (Lei 10.711/2003), coletivo. Isso significa que são
do campo, água e florestas da Lei de Proteção aos reconhecidos a partir de uma
por apresentarem muitos Cultivares (Lei 9.456/1997), identidade e características
benefícios ao agronegócio da Lei de Agrotóxicos comuns desses sujeitos, por
ou grandes produtores (Lei 7.802/1989) e do Marco isso a luta por sua efetivação
que utilizam transgênicos e Legal da Biodiversidade e pela construção de mais
agrotóxicos. Mesmo assim, seus (Lei 13.123/2015). direitos será possível apenas
poucos pontos que garantem com atuação coletiva e
algum direito ou proteção Assim, podemos dizer que organizada.
aos camponeses e povos e os direitos dos agricultores
comunidades tradicionais familiares, dos povos indígenas,

CONHEÇA ALGUNS • Direito de preservar as


tradições culturais, incluindo
bancos de germoplasma e
às sementes conservadas em
DIREITOS JÁ o reconhecimento e a proteção
do conhecimento tradicional e
órgãos públicos e de domínio
público, contra a erosão genética
RECONHECIDOS: das formas de ser, viver e fazer; do patrimônio genético do país;

• Direito de participar das • Direito à conservação e uso


• Direito à terra e ao decisões da administração das sementes crioulas, sem
reconhecimento dos territórios sobre marcos legais e políticas qualquer restrição de políticas
tradicionalmente ocupados; públicas agrícolas, agrárias e públicas;
ambientais;
• Direito de livre uso dos • Direito à assessoria técnica
recursos da natureza, como a • Direito dos povos tradicionais que respeite os modos de vida
água e os demais componentes serem consultados sobre e cultura locais;
da biodiversidade silvestre qualquer medida legislativa ou
e cultivada; administrativa que os afetem; • Direito de acesso e
participação nas pesquisas de
• Direito ao meio ambiente • Direito à liberdade de melhoramento produzidas
ecologicamente equilibrado, associação e manifestação; pelas instituições públicas de
bem de uso comum do povo pesquisa;
e essencial à sadia qualidade • Direito de reconhecimento
de vida, impondo-se ao Poder do valor ecológico e • Direito de que os
Público e à coletividade o dever sustentável da produção conhecimentos e práticas
de defendê-lo e preservá-lo de alimentos, sementes e de comunidades locais e
para as presentes e futuras produtos extrativistas, com populações indígenas sejam
gerações; preço justo e adequado; respeitados, e a aplicação
desses conhecimentos
• Direito de serem respeitadas • Direito de usar, multiplicar deve passar pela aprovação
e reconhecidas as técnicas e trocar sementes ou mudas e participação de seus
sociais e formas de manejo crioulas ou protegidas (direito detentores, incentivados
do território e de sua de uso próprio ou reutilização mediante a repartição de
biodiversidade; das sementes); benefícios com as comunidades
locais e indígenas;
• Direito à não contaminação
por transgênicos e agrotóxicos • Direito à proteção da vida
e à livre escolha do sistema e da saúde humana, animal
produtivo; e vegetal e a observância do
princípio da precaução para a
• Direito ao acesso e proteção do meio ambiente;
repartição de benefícios
nos casos de utilização dos • Direito à soberania e
conhecimentos tradicionais, segurança alimentar,
com proibição da biopirataria; com alimentos saudáveis e
que priorizem as culturas e
• Direito de acesso aos organizações locais.
O QUE SÃO LEIS?
As leis são um conjunto de normas que
estabelecem direitos e deveres, tornando-se
obrigatórias pelo poder de alguma autoridade.
Também podem ser regulamentadas, isto
é, detalhadas por meio de um roteiro de
procedimentos para a efetivação da norma.

O QUE É CONSTITUIÇÃO? A Via Campesina Internacional está construindo


É o conjunto de leis e normas máximas de uma Declaração das Nações Unidas sobre
um país. Estabelece os princípios os direitos dos/as camponeses/as e outras
fundamentais, a organização política e as pessoas que trabalham em áreas rurais. Um
diretrizes que devem orientar todo o conjunto documento jurídico internacional que vem sendo
de marcos legais nacionais. construído há quase 10 anos com incidência
na Organização das Nações Unidas (ONU). O
documento, que está em fase final de elaboração,
é muito importante para fortalecer as lutas sociais
O QUE É UM TRATADO? de camponeses, agricultores familiares e povos e
É um acordo internacional de vontades que comunidades tradicionais porque reúne em um
determinam direitos e deveres, normalmente único texto coerente todos os principais direitos
assinado por Estados Nacionais ou organizações humanos que existem e são garantidos a essas
internacionais. Após a assinatura, é submetido a populações, mas também porque inova ao criar
procedimentos de validação interna dos países, na lei internacional novos direitos humanos, como
passando pelos poderes Executivo e Legislativo. o direito à terra, à soberania alimentar e o direito
à água para agricultura.

Segundo a programação oficial, a Declaração deve


O QUE É UMA CONVENÇÃO ser votada no Conselho de Direitos Humanos da
ONU na sua próxima sessão, entre junho e julho
INTERNACIONAL? de 2018, em Genebra, Suíça. Se aprovado lá, ainda
A convenção é como uma lei internacional precisará passar pela aprovação da Assembleia
que estabelece princípios a serem seguidos Geral da ONU, que se reúne em setembro em
pelos países que a assinam. No Brasil, deve Nova York, EUA.
passar pelo presidente da República e depois
pelo Congresso Nacional, tendo o mesmo valor Caso aprovada nas duas instâncias, camponeses/
de uma lei nacional. Se for uma Convenção as e os outros povos citados acima terão um
de Direitos Humanos, equivale ao poder da instrumento novo e muito mais avançado para
Constituição Federal. fazerem valer os seus direitos.

Instrumentos de alimentar e nutricional. Nesse sentido, foi lançada


em 2013 a Política Nacional de Agroecologia

políticas públicas para


e Produção Orgânica (PNAPO) com o objetivo
de articular e promover o controle social desse
conjunto de instrumentos para a agroecologia
agroecologia no Brasil (alguns deles aqui brevemente descritos). Esses
programas todos têm sido gravemente afetados
pelo dramático quadro político atual do país, seja
GABRIEL FERNANDES4 pela descontinuidade pura e simples da política
seja pelo corte radical de orçamento.

Entre 2003 e 2015, a sociedade civil brasileira Conheça algumas das principais políticas
vivenciou um período de grande abertura para incentivo da agroecologia:
de diálogo com o Estado. Para o campo
agroecológico, significou intensa participação
social na construção de políticas públicas. 4
Adaptado de Schmitt et al. (2017). In Políticas Públicas
Outra marca desse período foi a crescente a favor de la Agroecología en América Latina y el Caribe.
convergência entre políticas para a agricultura Sabourin et al. (orgs.) Porto Alegre: Red PP-AL/FAO,
familiar com políticas sociais e de segurança p. 73-122.
POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA como sistematizações de experiências
TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL (PNATER) e a realização de oficinas e intercâmbios.
Criada em 2004, a PNATER foi primeira política
pública de âmbito nacional que incluiu o termo PROGRAMA NACIONAL DE
agroecologia em seu texto original. Mas isso ALIMENTAÇÃO ESCOLAR (PNAE)
foi alterado pela Lei 12.188/2010. O termo Embora criado em 1979, foi a partir de alterações
agroecologia foi substituído pelos referenciais de em 2009 que o PNAE passou a destinar pelo
promoção de uma agricultura sustentável. Entre menos 30% de seus recursos à aquisição de
as ações concretas realizadas no âmbito desta gêneros alimentícios diretamente da agricultura
política, destacam-se a formação de agentes de familiar do município ou região em que se
assistência técnica e extensão rural (ATER) a partir encontram as escolas. O programa prioriza
de uma perspectiva agroecológica. produtos orgânicos ou agroecológicos, pagando
por estes até 30% a mais que os convencionais.
NÚCLEOS DE ESTUDO EM AGROECOLOGIA Além disso, inclui entre suas compras produtos
E PRODUÇÃO ORGÂNICA (NEAS) regionais e do extrativismo.
Desde 2010, os NEAs têm contribuído no
processo de institucionalização da agroecologia PROGRAMA DE AQUISIÇÃO
em unidades de ensino superior, institutos DE ALIMENTOS (PAA)
federais, centros de pesquisa e instituições de Criado em 2003, o PAA possibilita a aquisição
ATER. Nesses espaços, os NEAs têm possibilitado de uma grande diversidade de produtos
maior aproximação entre profissionais de da agricultura familiar, incluindo produtos
diferentes áreas do conhecimento, incentivando extrativistas e de origem regional, que são
a articulação de ações que antes eram realizadas distribuídos a pessoas em situação de
isoladamente. Foram criados mais de 150 vulnerabilidade social, repassados a restaurantes
núcleos pelo país. populares, cozinhas comunitárias e bancos de
alimentos, entre outros. Em suas diferentes
PROJETOS DE INFRAESTRUTURA E modalidades, o PAA permite ainda a compra
SERVIÇOS DOS TERRITÓRIOS (PROINF) e doação de sementes de variedades locais,
As ações do Proinf devem priorizar a redução tradicionais ou crioulas, bem como de variedades
e a eliminação da pobreza e das desigualdades comerciais não híbridas produzidas pela
sociais e de gênero, incrementando a segurança e agricultura familiar. Além disso, estabelece
a soberania alimentar e nutricional, a estruturação diferencial de até 30% no preço de produtos
de sistemas produtivos agroecológicos, a orgânicos ou agroecológicos.
implementação de redes solidárias de produção
e projetos coletivos. PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO
NA REFORMA AGRÁRIA (PRONERA)
PROGRAMA DE FOMENTO ÀS O programa nasceu das demandas dos
ATIVIDADES PRODUTIVAS RURAIS movimentos do campo, pensando num projeto
Apoia processos de transição agroecológica, ao de educação contextualizada para jovens e
promover diversificação das atividades produtivas; adultos das áreas de reforma agrária. São
participação das mulheres; reconhecimento apoiados cursos que vão da educação básica
das experiências e dos conhecimentos dos à pós-graduação. O Pronera atua também na
agricultores na elaboração e execução dos formação de educadores e multiplicadores de
projetos; elevação da autoestima e reencontro atividades educativas. Educação no campo é
com a identidade de agricultor, além da promoção direito de todos!
da segurança alimentar.

PROGRAMA DE FORTALECIMENTO E
AMPLIAÇÃO DAS REDES DE AGROECOLOGIA,
EXTRATIVISMO E PRODUÇÃO ORGÂNICA
(ECOFORTE)
O Ecoforte foi criado em 2013 e integra o
Plano Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica (Planapo). Seu objetivo é fortalecer
e ampliar redes, cooperativas e organizações
socioprodutivas e econômicas de agroecologia,
extrativismo e produção orgânica. Para isso
fomenta práticas de manejo sustentável de
produtos da sociobiodiversidade e de sistemas
produtivos orgânicos e agroecológicos. O
programa também apoia o fortalecimento da
relação entre produtores e consumidores, bem
As novas tecnologias 60% DAS VENDAS DE
agrícolas e os riscos SEMENTES ESTÃO NAS
MÃOS DE TRÊS

à soberania alimentar
CONGLOMERADOS
EMPRESARIAIS:
CHEMCHINA/SYNGENTA,
brasileira DOW/DUPONT E MONSANTO/BAYER.

NAIARA ANDREOLI BITTENCOURT


LEONARDO MELGAREJO
E quais são essas tecnologias
e seus riscos?
Desde a primeira liberação comercial dos
transgênicos no Brasil em 1998, sabemos dos riscos São vários nomes e há várias formas para
e ameaças ambientais e sociais relacionados biotecnologias, chamadas pela CTNBio de
aos organismos geneticamente modificados. Desde “técnicas inovadoras de melhoramento
então, temos 76 variedades liberadas para pesquisa de precisão”: a mutagênese sítio-dirigida,
ou comercialização no Brasil, das quais 60 são os “condutores genéticos”, entre outras.
modificadas para tolerar algum agrotóxico. Assim, o Simplificadamente, utilizam-se, entre outras,
país também é o maior mercado consumidor de de uma ferramenta chamada CRISPR/Cas9 que
agrotóxicos no mundo. pode editar – cortando e colando – genes de
plantas e animais. Isto é, uma microcirurgia nas
Diante disso, é fácil perceber que o discurso informações genéticas de seres vivos.
para a aprovação de organismos transgênicos
se apresentou mentiroso, uma vez que estes, Essas mudanças alteram as funções originais
ao invés de resolverem a questão da fome no das plantas, sendo uma forma mais avançada de
mundo, apenas ampliam a concentração e o organismos geneticamente modificados, quando
monopólio das sementes, ameaçando a saúde comparadas aos transgênicos que estão no
e a agrobiodiversidade. Hoje 60% das vendas de mercado. A questão é que as novas tecnologias
sementes estão nas mãos de três conglomerados conseguiriam transformar uma espécie inteira,
empresariais: ChemChina/Syngenta, Dow/Dupont editando genomas para que as características
e Monsanto/Bayer. O relatório da Organização modificadas prevaleçam integralmente para todos
para Alimentação e Agricultura da ONU (FAO) os descendentes, mesmo que exista cruzamento
aponta que a fome no mundo cresce e já atinge com outro ser não modificado. Isto é, pode-se
11% da população da Terra. Só na América Latina extinguir uma espécie se houver uma mutação
e Caribe, 42 milhões de pessoas passam fome. genética num animal que, por exemplo, passe
somente características presentes nos gametas
As empresas, no entanto, não se contentam com masculinos para seus filhos.
o controle da cadeia de sementes transgênicas
e agrotóxicos associados, investindo em novas Também se pode avançar nas tecnologias
alternativas para controle dos alimentos e prometidas aos transgênicos, como a tolerância
em alta tecnificação agrícola, desenvolvida aos agrotóxicos, a época ou período de
nos países de capitalismo central. Aos países frutificação ou germinação e adaptação da
periféricos cabe o papel de execução e de campo espécie para o grande maquinário agroindustrial.
de testes de tais tecnologias.

Tanto é que no início deste ano aprovou-se no


O que está por trás das
Brasil a Resolução Normativa nº 16/2018 da biotecnologias?
Comissão Técnica de Biossegurança Nacional
(CTNBio), que abre brechas jurídicas para a Segundo investigações do grupo ETC, os maiores
implementação de biotecnologias de alto investimentos nas pesquisas dessas tecnologias
risco, a exemplo dos “condutores genéticos”. agrícolas são do Exército dos Estados Unidos e
Com a nova normativa, a CNTBio pode decidir do Instituto Bill e Melinda Gates. As empresas
que os organismos produzidos com o uso Monsanto e DuPont também já garantiram
dessas biotecnologias não se classificam suas licenças para pesquisar tais tecnologias.
como transgênicos ou OGMs (organismos Até a ONU já se pronunciou, considerando os
geneticamente modificados) e podem ser condutores genéticos (“gene drive”) armas
dispensados de avaliações de biorrisco previstas biológicas. Se o Brasil é o primeiro país do
na Lei de Biossegurança (Lei 11.105/2005). mundo a abrir tal brecha jurídica, temos que
enfrentar a guerra agrícola, somada à guerra
química dos agrotóxicos, que implementam
em nosso território. Até quando a soberania, a
biodiversidade e até da vida do povo brasileiro
serão ameaçadas?
O que é a CTNBio? construção, experimentação, HERANÇA GENÉTICA NORMAL
cultivo, manipulação,
A Comissão Técnica Nacional
transporte, comercialização,
de Biossegurança é uma
consumo, armazenamento,
instância com a presença de 27
liberação e descarte de OGMs
pesquisadores/as e cientistas
e derivados.
que prestam apoio técnico e
No entanto, a comissão
consultivo ao governo federal
blinda a participação social,
especialmente na temática de
em especial das organizações
organismos geneticamente
da sociedade civil e HERANÇA GENÉTICA DOS
modificados. Foi criada
movimentos sociais. A maior CONDUTORES GENÉTICOS
em 2005, com a Lei de
parte dos cientistas indicados
Biossegurança Nacional.
é alinhada aos interesses das
A CTNBio emite normas
pesquisas do agronegócio e
e pareceres técnicos de
grandes empresas.
segurança para a proteção da
saúde humana, dos organismos
GENE SELVAGEM
vivos e do meio ambiente, para
atividades que envolvam a GENE ALTERADO

Sociobiodiversidade e acesso documento importante, a


Convenção da Diversidade

aos conhecimentos tradicionais


Biológica (CBD) diz ser
necessário “respeitar, preservar
e manter o conhecimento,
inovações e práticas das
GUSTAVO SOLDATI comunidades locais e
populações indígenas com
O Brasil é um dos países novo medicamento, uma nova estilo de vida tradicionais
com maior biodiversidade do semente transgênica ou relevantes à conservação
mundo, o que significa dizer um novo perfume. e à utilização sustentável
que há em nosso território uma da diversidade biológica e
vasta quantidade de espécies Entretanto, precisamos refletir […] encorajar a repartição
de animais, vegetais e micro- sobre algumas questões, como: equitativa dos benefícios
organismos. Estudos apontam oriundos da utilização desse
• De quem é a propriedade
que no país ocorrem 25% conhecimento, inovações e
intelectual dos conhecimentos
de todos os organismos do práticas”.
tradicionais associados?
mundo. Toda essa diversidade
biológica existe porque foi • O que deveriam as empresas Esses documentos, além de
e ainda é manejada pelos realizar quando desejam se outros, condicionam, portanto,
diversos povos indígenas, apropriar de um conhecimento a construção de uma lei
quilombolas, povos tradicionais tradicional associado? específica que verse sobre o
e campesinos que aqui • Qual é a contrapartida acesso aos conhecimentos
construíram sua caminhada de de uma empresa que acessa tradicionais associados.
luta. Essa história de relações um saber tradicional? Esse documento deveria
complexas nos permite ampliar ser construído pelos povos
o conceito de biodiversidade, Para responder essas tradicionais, detentores dos
elevando-o à ideia de questões, precisamos saberes, para determinar os
“sociobiodiversidade”. Ao saber que todos os povos mecanismos de proteção,
largo de milhões de anos, foram indígenas, quilombolas, povos as condições de acesso e as
desenvolvidos riquíssimos tradicionais e campesinos possibilidades de repartição de
sistemas de saberes sobre a são “sujeitos de direitos”, benefícios. Entretanto, não
sociobiodiversidade, o que ou seja, têm um conjunto foi o que aconteceu no Brasil.
é chamado “conhecimento de direitos garantidos por Depois de muitas reuniões do
tradicional associado”. Só muitos instrumentos jurídicos Executivo brasileiro com as
para citar um exemplo, os nacionais e internacionais. Por indústrias, foi apresentado um
índios Kaiapós conseguem exemplo, a Convenção 169 projeto que resultou na Lei
nomear e atribuir usos para da OIT determina o respeito 13.123 de 2015. Por favorecer a
mais de cinco mil espécies à “identidade social e cultural, indústria e por violar os direitos
vegetais, além das formas os costumes e tradições, e tradicionais, ao criar situações
de manejo da paisagem. as instituições” desses povos, nas quais não é necessário o
Essa riqueza de saberes é além do direito de serem consentimento do informante
alvo histórico das indústrias previamente consultados e ao tornar a repartição de
farmacêutica, sementeira e de em relação a qualquer benefícios uma exceção
cosméticos, pois podem gerar medida que os afete direta quando deveria ser uma
novos produtos, como um ou indiretamente. Outro regra, essa lei ficou
conhecida como “Marco da a bioprospecção, ou seja, as empresas seja convertida
Biopirataria”. É mais um dos o desenvolvimento de em projetos de sociedade
mecanismos de apropriação novos produtos a partir da determinados pelos povos e
privada dos bens públicos, no biodiversidade e conhecimento comunidades tradicionais,
caso, a sociobiodiversidade. associado, mas lutamos para não pelo capitalismo. Em breve,
que as regras do jogo sejam o Grupo de Trabalho sobre
Nesse contexto, é preciso determinadas pelos sujeitos Biodiversidade (GTBio) irá
resistir, pois nossa soberania que construíram esses sistemas lançar uma cartilha específica
nacional depende do controle complexos e que manejam e sobre a Lei 13.123 de 2015.
popular sobre a biodiversidade conservam essa riqueza. Enquanto isso, fiquemos
e sobre os saberes tradicionais Defendemos que a importância atentos e, em casos de
nativos. Não somos contra dos saberes tradicionais para biopirataria, denuncie!

No semiárido, bancos
comunitários de sementes garantem
preservação de variedades
GABRIEL FERNANDES

O acesso a sementes crioulas, entre 2015 e 2016 e mobilizou


orgânicas e agroecológicas 12.800 agricultoras e AMEAÇAS
é condição determinante para agricultores e estruturou 640
a transição agroecológica casas e bancos de sementes Mas avanços como esses
e para o pleno exercício comunitários com material podem estar ameaçados pela
dos agricultores familiares, genético e equipamentos expansão descontrolada
povos indígenas e povos de (estantes, balanças, peneiras, dos transgênicos. Além
comunidades tradicionais ao lonas para secagem das disso, tramitam no Congresso
livre uso da biodiversidade. Nas sementes, recipientes para Nacional potenciais ameaças
últimas décadas, a sociedade armazenamento e kit para aos direitos dos agricultores
civil brasileira, em muitos casos teste de contaminação por à agrobiodiversidade, como a
em parceria com pesquisadores transgênicos). Ao longo do proposta de alteração da Lei
comprometidos, vem processo, foram identificadas de Cultivares, os projetos de
desenvolvendo experiências mais de 700 variedades de lei que propõem a liberação
importantes no campo das feijão, 400 de milho, 300 de de sementes terminator, as
sementes. O Programa mandioca e macaxeira, dentre medidas que visam acabar
Sementes do Semiárido ilustra outras espécies cultivadas e com a rotulagem de produtos
bem esse processo. conservadas pelas famílias transgênicos e a proposta
agricultoras. O levantamento de um novo regime legal
Com base na implementação indicou que 67% dessas facilitando a liberação de
exitosa dos programas Um sementes são herança familiar agrotóxicos.
Milhão de Cisternas (P1MC) e ou têm origem na própria
Uma Terra e Duas Águas (P1 comunidade5. Importante Nesse contexto, é cada
+ 2), a Articulação Semiárido destacar que o programa foi vez mais importante tirar
Brasileiro (ASA) demandou executado no auge de um os aprendizados da nossa
do governo a criação de um período de seis anos de seca trajetória recente no campo
terceiro programa vinculado e que foi considerada a mais das sementes, reconhecendo
complementar a esses. O novo severa das últimas décadas. aquilo que foi possível avançar,
programa estaria voltado para os desafios que se colocam
a estruturação, a aquisição Do ponto de vista legal, para manter esses avanços
de equipamentos e, quando experiências como o “Sementes e as dificuldades que se
necessário, a construção ou do Semiárido” são possíveis em projetam adiante.
reforma de casas e bancos função da existência de brechas
comunitários de sementes em na legislação de sementes
todo o semiárido brasileiro. que permitem hoje acolher as
Assim como nos programas variedades crioulas na política
de água, a mobilização e a pública. Inclusive as sementes
formação dos agricultores seria de cultivares protegidas
o fio condutor da ação e a base produzidas por agricultores
de sua sustentabilidade. familiares passaram a ser
permitidas no Programa de 5
ASA Brasil, Comunicação pessoal
O programa foi executado Aquisição de Alimento (PAA). em 22 de novembro de 2016.
AMEAÇAS NOS TRÊS PODERES
Executivo, Legislativo e Judiciário: conheça as ações e os
projetos de lei que ameaçam direitos de agricultores e
povos e comunidades tradicionais
NAIARA ANDREOLI BITTENCOURT

Neste período pós-golpe, um projeto neoliberal, com Civil e possivelmente ocupará


vivemos a mais violenta privatizações, diminuição do o Ministério do Meio Ambiente.
ofensiva aos direitos, à Estado, direitos e programas No Legislativo, a Frente
organização popular e à sociais, e contrarreformas Parlamentar Agropecuária
soberania brasileira. Desde que prejudicam o povo conta com 209 deputados
2008, a crise capitalista brasileiro. Mesmo assim, o federais signatários em
reorganizou os capitalistas governo ilegítimo de Michel exercício (cerca de 40%
internacionais e locais, com Temer implantou medidas que da Câmara Federal) e 27
avanços imperialistas na reforçam a posição do Brasil senadores (33% do Senado).
América Latina. A guerra, como agroexportador de O Judiciário também é
as usurpações de terras, commodities (matérias-primas capturado pelo corporativismo
das reservas naturais como minérios e grãos, com do agronegócio. Basta lembrar
estratégicas, dos alimentos baixo valor agregado), o qual que o encontro da Associação
e da biodiversidade acirram exige a importação do pacote Brasileira dos Magistrados já
a dependência e a divisão tecnológico de maquinários, teve a Confederação Nacional
internacional do trabalho. insumos, sementes, fertilizantes da Agricultura como um dos
e agrotóxicos das grandes apoiadores e interlocutor
No Brasil, se articularam empresas transnacionais. prioritário sobre a
a burguesia ruralista e temática agrária.
especulativa, setores do A recomposição se espraia
Judiciário e da grande mídia para os três poderes. No Conheça alguns dos
comercial, para instituir Executivo, o agronegócio retrocessos e ameaças que
ocupa ministérios estratégicos rondam os poderes Executivo,
como o da Agricultura, o Legislativo e Judiciário:
Ministério da Justiça, a Casa

EXECUTIVO • A reforma de precarização da transgênicos e novas engenharias


legislação trabalhista e a tentativa genéticas facilitadas pela CTNBio;
• Corte de orçamento para da reforma previdenciária;
políticas públicas e recursos: • A extinção do orçamento para
menores investimentos em • Extinção do Ministério do o desenvolvimento sustentável
reforma agrária e agroecologia Desenvolvimento Agrário; dos territórios de quilombolas,
desde 2005 e nenhuma família indígenas e comunidades
• Liberação para organismos tradicionais.
assentada em 2017;

restrição para comércio e royalties sobre a produção


armazenamento de sementes; sejam definidos pelos “Grupos
permitir a reserva de sementes Gestores de Cultivares”.
para uso próprio com condições,
LEGISLATIVO entre elas o pagamento de • PL DAS SEMENTES TERMINATOR
Aceleração de projetos de lei royalties às indústrias; exclusão (1.117/2015): modifica a Lei de
(PL) que reduzem os direitos da possibilidade de troca e Biossegurança (11.105/2005)
dos agricultores e povos e doação de sementes protegidas para permitir a utilização das
comunidades tradicionais, como: por pequenos produtores, ou “tecnologias genéticas de
permitir apenas no âmbito restrição de uso” para a produção
• PL DAS SEMENTES (827/2015) de sementes estéreis, o que pode
que pretende alterar a Lei de programas conduzidos/
autorizados pelo Poder Público, resultar no uso desenfreado
de Proteção de Cultivares de sementes estéreis,
(10.711/2003) para ampliar o não mais por organizações não
governamentais; possibilitar impossibilitando o uso em safras
direito das indústrias sobre futuras, e na contaminação
o produto da colheita das que no caso dos pequenos
produtores a reserva de genética de sementes crioulas.
sementes protegidas e com
sementes e o pagamento de
• PL DO PATENTEAMENTO • PL DOS AGROTÓXICOS atribuições de órgãos da
DE SERES VIVOS (4.961/2005): (3.200/2015): é chamado de saúde e meio ambiente.
modifica a Lei de Propriedade pacote do veneno. Pretende
Industrial (9.279/1996) para mudar a nomenclatura de • PLC DA ROTULAGEM DOS
permitir a apropriação privada (o agrotóxicos para “defensivos TRANSGÊNICOS (34/2015):
patenteamento) de substâncias fitossanitários e produtos de modifica a Lei de Biossegurança
ou materiais extraídos de controle ambiental”; admitir (11.105/2005) para acabar
seres vivos, se preenchidos os um grau de risco aceitável com a rotulagem dos produtos
requisitos da novidade, atividade em relação às características transgênicos com o símbolo “T”;
inventiva e aplicação industrial. teratogênicas, carcinogênicas ou exigir que a detecção de origem
mutagênicas ocasionados por transgênica nos alimentos
agrotóxicos; conceder poderes seja realizada por um teste
a uma única comissão (CTNFito) laboratorial sobre o produto
para o registro e reavaliação dos final, incapaz de identificar
agrotóxicos no país, retirando transgênicos nos alimentos
ultraprocessados.

JUDICIÁRIO por exemplo, houve setenta das ações que questionavam


• Criminalização de agricultores/ camponeses/as e integrantes de suas inconstitucionalidades que
as e lutadores/as da agroecologia povos e comunidades tradicionais favorecem o desmatamento;
e reforma agrária, a exemplo assassinados, quatro massacres
e média de três conflitos rurais • A criminalização da luta
das Operações Castra e
por dia, segundo os dados da social e a violação de garantias
Agrofantasma, no Paraná;
Comissão Pastoral da Terra; constitucionais, como é o caso
• Elevação da violência e da decisão do STF que admitiu
inoperância das apurações e • A consolidação do Código a prisão em segunda instância.
responsabilização. Em 2017, Florestal no STF, com as votações

“CAR”: por que essa sigla Os povos e comunidades tradicionais e


povos indígenas estão invisibilizados no

ainda é um problema?
sistema. Por várias razões, como a falta de apoio
técnico para realizar o CAR Coletivo, ausência
de módulo adequado no Sistema Nacional de
Cadastro Ambiental Rural para PCTs, dificuldade
PEDRO MARTINS de acesso à informação sobre o CAR e seus
usos, entre outros.
O Cadastro Ambiental Rural, mais conhecido
pela sigla “CAR”, existe em todo território nacional Por que as coisas não andaram para
desde 2012 com o Código Florestal, e teve seu povos indígenas e povos e comunidades
sistema de cadastramento implementado em tradicionais? O mapeamento dos territórios
2014, mas ainda gera dúvidas e preocupações está praticamente concluído, quase 100% está
em 2018. Não é à toa. Afinal, o cadastro público no sistema, isso já está agradando o governo
dos imóveis rurais não foi criado para atender federal. Mas a explicação é que os fazendeiros,
às diferentes realidades das comunidades grileiros e latifundiários autodeclararam áreas
camponesas e indígenas do país. dos tradicionais em seus nomes, promovendo
a usurpação de terras que historicamente
O cadastramento tem a finalidade de gerar um produzem conflitos no campo.
banco de dados georreferenciados das posses
e propriedades no Brasil para permitir um salto Alertamos que o CAR não é documento de terra!
tecnológico na fiscalização de crimes ambientais A inscrição no CAR tem a única finalidade
com o uso de imagens via satélite. Muitos de auxiliar o combate ao desmatamento,
investimentos vêm sendo feitos para garantir conforme foi previsto no Código Florestal.
equipamentos tecnológicos de ponta e acesso a O uso do CAR para fins de regularização
imagens caras para o governo brasileiro. fundiária, portanto, é vedado por lei.

De onde vem investimento para o CAR? Há rumores que o prazo para o Cadastro é 31
Financiamentos internacionais têm sido de dezembro de 2018, e é verdade! O prazo foi
ancorados pelo Ministério do Meio Ambiente para definido em lei, mas não significa que depois
o CAR desde que estejam em estratégias como dessa data ninguém mais poderá fazer
Redução das Emissões por Desmatamento e o cadastro. Significa que só poderá
Degradação Florestal (REDD) e de economia verde ter acesso a crédito rural após 31 de
de modo geral. Em muitos deles, os impactos dezembro quem já tiver a inscrição no
socioambientais, ou seja, com a população CAR em mãos.
envolvida, são desconsiderados. Hoje se conta
com dados precisos sobre relevo e vegetação do
Brasil, mas, e as comunidades?
Experiências de resistência Do norte ao sul do país, agricultores e agricultoras
familiares, indígenas e povos e comunidades
e preservação da tradicionais têm suas práticas ameaçadas pelo
avanço do agronegócio e por alterações legais
biodiversidade no Brasil que prejudicam seus direitos. Experiências de
diferentes locais do país mostram que resistir é
preciso. A prática tradicional e agroecológica
desses grupos contribui para a preservação da
biodiversidade e para a melhoria na qualidade
de vida das comunidades das regiões.
Conheça algumas dessas experiências:

FOTOS: Julio Cesar Carignano

FEIRA DE SEMENTES NO PARANÁ RAIZEIRAS NO CERRADO


Todos os anos, a Terra Indígena Pinhalzinho, A farmacopeia ainda luta para ser reconhecida
no município de Tomazina (PR), recebe a Feira pela política pública no país, mesmo sendo uma
de Sementes Crioulas e Mudas Nativas de medicina tradicional essencialmente brasileira. É
Pinhalzinho, realizada desde 2011 pela Rede por isso que a raizeira e integrante da Articulação
Sementes da Agroecologia (ReSA). Pacari, Lourdes Laureano, diz que “fazer medicina
tradicional no Brasil é fazer resistência”.
Morador da comunidade, Reginaldo Aparecido
Alves conta que a atividade “é um ato de Criada em 1999, a Articulação Pacari reúne
resistência, um momento para firmar a política de comunidades que têm essa prática tradicional.
uma alimentação saudável, orgânica e tradicional”.
A raizeira conta que essa atividade é desenvolvida
A feira é aberta ao público e recebe diferentes principalmente pelas mulheres, “que fazem o
pessoas que querem recuperar uma espécie ou cuidado da saúde de suas comunidades através da
trocar suas sementes. “Também são convidadas espiritualidade e principalmente fazendo uso de
outras comunidades indígenas, de forma a ervas e plantas medicinais extraídas de maneira
criar uma rede”, diz Reginaldo. Os indígenas sustentável”.
estabelecem uma relação de troca – e não
de venda – de sementes e mudas de espécies As plantas utilizadas nos tratamentos de doenças
nativas. são cultivadas ou extraídas do bioma do cerrado,
região onde a prática é mais comum. Hoje o
A feira também é importante para revitalizar os conhecimento não está limitado apenas às
costumes e heranças culturais dos ancestrais comunidades tradicionais, muitas raizeiras zelam
que utilizam sementes tradicionais em rituais, pela saúde dos seus vizinhos nas periferias das
como por exemplo, o milho, que é considerado grandes cidades do Brasil.
sagrado para muitas etnias.
A sabedoria é transmitida através da oralidade
Dentro desse contexto, a feira foi um importante e principalmente por prática. As “farmacinhas”
espaço para a recuperação de espécies, como são os locais onde as raizeiras produzem e
no caso da tribo Caingangue, que utilizava o distribuem seus remédios, que podem ser chás,
milho branco em um dos seus rituais. A espécie pomadas, óleos e até banhos. As principais
foi descontinuada na tribo, porém, através da doenças e tratamentos são as que envolvem o
Feira de Sementes pôde recuperar essa linhagem sistema respiratório, trato intestinal, problemas
de milho. Os Guaranis também tiveram uma dermatológicos, questões da maternidade e
experiência importante, recuperando através de saúde feminina.
troca a palha roxa, espécie de milho que tem sua
palha usada na confecção de artesanato. Com a degradação do bioma de onde são
extraídas as plantas e a não titulação das
O espaço é importante para a preservação de terras das comunidades tradicionais, além da
várias qualidades de sementes de feijão, milho biodiversidade, a experiência cultural e o próprio
e abóbora, por exemplo. Os excedentes da conhecimento estão ameaçados.
produção são distribuídos, promovendo a
soberania alimentar. A farmacopeia ainda luta para ser reconhecida
pela política pública no Brasil, mesmo sendo uma
medicina tradicional essencialmente brasileira.
Muito do que foi construído ao longo das últimas
Amazônia décadas baseia-se no legado da luta do Chico

NA FLORESTA TEM GENTE


Mendes, que trinta anos atrás tombou pela causa
que nos move até hoje: a Amazônia, região de
recursos naturais imensuráveis e estratégicos
QUE VIVE E PRESERVA O para a sociedade brasileira e global. Ao longo
dessas décadas, as populações agroextrativistas
MEIO AMBIENTE ganharam notoriedade local e global pelas suas
práticas de proteção das florestas e das águas em
função do papel que esses recursos exercem com
EDEL MORAES seus valores que asseguram o modo de vida dos
Vice-presidente do Conselho Nacional povos da floresta. Ao mesmo tempo, a Amazônia
passa a ser reconhecida pelo seu papel no
das Populações Extrativistas
equilíbrio do clima, ganhando nova importância
para o resto do mundo.
Nós, mulheres e homens seringueiros/as,
ribeirinhos/as, castanheiros/as, pescadores/
O QUE ESTAMOS FAZENDO?
as, pequenos/as agricultores/as, coletores/
as de açaí, quebradeiras de coco babaçu,
O empate continuará e não descansaremos se for
moradores/as em reservas extrativistas, reservas
para continuar protegendo a Amazônia e a vida.
de desenvolvimento sustentável, reservas
Não é somente para nós, é também pela vida no
extrativistas marinhas, projetos de assentamento
planeta. Queremos a Amazônia viva pra sempre.
extrativista, projetos de desenvolvimento
sustentável, projetos de assentamento florestal,
Para nós, povos da Amazônia, a Amazônia não é
florestas nacionais e estaduais, demarcados
nossa causa, ela é nossa casa, é nossa vida.
e em processo de demarcação, somos os/as
verdadeiros/as defensores da Amazônia e os/
Nós, legítimos defensores desse patrimônio
as legítimos/as herdeiros de Chico Mendes.
nacional, clamamos para a sociedade brasileira
Pelo nosso trabalho e das gerações que nos
e mundial nos ajudarem a proteger e lutar pela
antecederam, conquistamos mais de 760
Amazônia, pois dessa maneira asseguramos a
unidades territoriais de uso coletivo que
continuidade da vida de todos no planeta.
protegem 66 milhões de hectares de
florestas, rios, lagos e áreas marinhas
e representam 13% da Amazônia.

CONHEÇA O GRUPO mobilizando esforços no


sentido de assegurar os direitos
representantes das seguintes
entidades: Movimento dos/
DE TRABALHO EM dos agricultores/as e povos e as Trabalhadores/as Sem
BIOVERSIDADE comunidades tradicionais no
livre acesso a esses recursos;
Terra (MST), Movimento dos
Pequenos Agricultores (MPA),
O Grupo de Trabalho Articulação Pacari das Raizeiras
(b) a intervenção no campo do Cerrado, Coordenação
em Biodiversidade (GT das políticas públicas,
Biodiversidade) da Nacional de Articulação das
procurando fortalecer programas Comunidades Negras Rurais
Articulação Nacional de e ações capazes de reforçar as
Agroecologia (ANA) surgiu em Quilombolas (CONAQ), Rede
iniciativas protagonizadas por de Comunidades Tradicionais
2002, por ocasião do I Encontro camponeses/as, agricultores/
Nacional de Agroecologia (I Pantaneiras, Conselho
as familiares e povos e Nacional das Populações
ENA). Ao longo de sua história, comunidades tradicionais
o GT Biodiversidade buscou Extrativistas (CNS Amazônia),
no manejo sustentável da Associação Brasileira de
se constituir como um espaço biodiversidade;
de reflexão e articulação que Agroecologia (ABA), Terra de
reúne movimentos sociais, (c) a produção e disseminação Direitos – Organização de
organizações da sociedade de conhecimentos em torno Direitos Humanos, Federação
civil e atores sociais engajados do tema; de Órgãos para Assistência
em iniciativas locais de Social e Educacional (FASE),
(d) a articulação e Associação Agroecológica
manejo sustentável da
intercâmbio com outras Tijupá, AS-PTA Agricultura
biodiversidade nos diferentes
redes e organizações que Familiar e Agroecologia,
biomas brasileiros. Tem como
atuam nesse campo, no Brasil, Rede Agrobiodiversidade do
principais linhas de atuação:
na América Latina e nos demais Semiárido Mineiro, Movimento
(a) o monitoramento continentes. Ciência Cidadã, Sociedade
dos marcos regulatórios Brasileira de Etnobiologia e
nacionais e internacionais Fazem parte, atualmente, Etnoecologia (SBEE) e Secretaria
relacionados à biodiversidade, do Grupo Operativo do GT, Executiva da ANA.
EXPEDIENTE
Autores: Integrantes do Grupo de
Trabalho Biodiversidade – Claudia Schmitt,
Fernanda Testa Monteiro, Gabriel Fernandes,
Gustavo Soldati, Leonardo Melgarejo, Naiara
Andreoli Bittencourt, Pedro Martins.
Contribuições: Franciele Petry Schramm,
Lucas Pereira de Souza, Lizely Borges.
Revisão: Silmara Krainer Vitta
Projeto gráfico e diagramação:
Ana Luisa Dibiasi

FOTOS DA CAPA:
Joka Madruga e
Naiara Andreoli
Bittencourt
Boletim produzido pela Articulação Nacional
de Agroecologia e pela Terra de Direitos.

ACESSE:
www.agroecologia.org.br
JUNHO/2018 www.terradedireitos.org.br

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