Importância Da Rastreabilidade Dos Alimentos de Origem Animal. Revisão
Importância Da Rastreabilidade Dos Alimentos de Origem Animal. Revisão
Importância Da Rastreabilidade Dos Alimentos de Origem Animal. Revisão
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¹Discente do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário São Judas Tadeu-Campus Unimonte, Santos, SP, Brasil
²Docente do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário São Judas Tadeu-Campus Unimonte, Santos, SP, Brasil
*Autor para correspondência, E-mail: [email protected]
Resumo. O consumo de produtos de origem animal tem facilitado um grande aumento nos
casos de doenças transmitidas por alimentos (DTAs), e tem demonstrado ser fator
determinante nos casos de surtos alimentares, trazendo um grave problema de saúde
pública em nível mundial. Em contra partida, a rastreabilidade dos alimentos, associada às
outras ferramentas, demonstram grande significância frente as contaminações dos
alimentos. O presente estudo realizou uma breve revisão literária sobre a rastreabilidade de
alimentos, objetivando o entendimento da sua importância frente aos surtos alimentares e
seu impacto junto à saúde da população.
Palavras chave: rastreabilidade, DTAs, surtos alimentares
Introdução
Nas últimas décadas, grandes mudanças nos hábitos alimentares da população têm acontecido devido
ao estilo de vida adotado pelas pessoas nas metrópoles de vários países. Cada vez mais o ser humano
vem demonstrando preocupação em saber de onde vem o seu alimento, e a forma como ele é obtido, se
causou impactos ao meio ambiente, se houve sofrimento animal, e principalmente se os produtos nas
prateleiras dos mercados são seguros para o consumo (Carvalho et al., 2017; Vital et al., 2018a, 2018b).
Simultaneamente à essas mudanças, têm sido observado um aumento nos casos de doenças
transmitidas por alimentos (DTAs), que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2010
causou 350 mil mortes, e em 2019 esse número chegou à 420 mil, o que causa preocupação aos Governos
mundiais, devido aos danos causados a saúde da população e aos elevados custos ao sistema único de
saúde para tratamento (Magnoni et al., 2016).
Atualmente são citados pela literatura três agentes mais comuns, responsáveis por causar DTAs
como, os químicos, que são representados por produtos de limpeza, ou qualquer outro produto químico
que contamine os alimentos ou bebidas, os biológicos que são os maiores responsáveis pelos casos de
DTAs como, os parasitas, vírus, bactérias e suas toxinas, e os físicos, que podem ser desde um adorno
que o manipulador esteja usando, como um brinco, ou até mesmo um pedaço da embalagem do alimento
(Germano & Germano, 2008; Germano & Germano, 2003; Medeiros et al., 2013)
Na interface às DTAs, algumas zoonoses, que são doenças compartilhadas entre animais e seres
humanos, ganharam notoriedade mundial devido à sua relação direta ou indireta com os produtos de
origem animal, por causa da sua silenciosa e fácil disseminação e potencial de letalidade aos seres
humanos (Magnoni et al., 2016).
Por esse motivo, e na expectativa de compreender a relação da segurança alimentar com as epidemias
causadas por zoonoses, esse estudo tem como objetivo analisar a rastreabilidade dos alimentos e sua
importância para a saúde pública.
Já a segurança dos alimentos, atrelado à uma óptica qualitativa, está diretamente relacionado com a
garantia de qualidade e inocuidade do alimento, e a segurança que ele oferece à saúde de quem o
consome (Magnoni et al., 2016).
Intimamente ligado à saúde pública, o conceito de alimento seguro tem sido amplamente buscado
pela população, após episódios de surtos causados por produtos de origem animal, como o caso da
Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) em 1996 no Reino Unido, ou o caso de contaminação de
hambúrgueres por E. coli em uma rede de fast–food, que infectou 300 pessoas e ocasionou a morte de 3
crianças e um adulto, nos EUA. O que levou os governantes a adotarem medidas de controle e prevenção
na forma de leis, no mundo inteiro, após a pressão exercida pela população (Hocquette et al., 2005; Lara
et al., 2003; Prache et al., 2005).
A cadeia de produção de produtos de origem animal passa por vária etapas, até chegar ao consumidor
final, e em cada uma delas, o alimento está sujeito a sofrer algum tipo de contaminação, que poderá
resultar em uma DTA, colocando a saúde do consumidor em risco se não for identificado e corrigido a
tempo (Cima et al., 2006; Nørrung & Buncic, 2008).
Na indústria e criação dos animais existe uma série de exigências impostas pelo Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), para garantir a sanidade e segurança dos alimentos e
ambiente, a fim de evitar a contaminação e propagação de doenças compartilhadas entre ambos,
conhecidas como zoonoses (Lara et al., 2003).
Já em estabelecimentos varejistas como, restaurantes e supermercados, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária orienta as boas práticas de manipulação pelas legislações específicas como, a RDC
Nº 216 de 2004, com o intuito de garantir a segurança dos alimentos nesses estabelecimentos. Durante
a manipulação e fracionamento do alimento, o mesmo está susceptível à uma nova contaminação devido
ao contato direto com o manipulador, que segundo Veiga et al. (2006) é um dos principais meios de
contaminação do alimento, associado à higiene ineficiente de equipamentos e utensílios.
O êxito no controle e prevenção dos surtos provocados por alimentos está intrinsecamente
relacionado com o poder de controlar fatores predisponentes à contaminação (Nunes et al., 2017).
Causas que favorecem a contaminação dos alimentos por patógenos segundo Clemente (2003) e
Vieira et al. (2010):
• Ingredientes crus contaminados;
• Pessoas infectadas;
• Práticas inadequadas de manipulação;
• Contaminação cruzada;
• Limpeza e desinfecção deficiente dos equipamentos;
• Alimentos de fontes insalubres;
• Alimentos elaborados contaminados (não enlatados);
• Aditivos acidentais;
• Aditivos intencionais;
• Saneamento deficiente
No entendimento do conceito de segurança dos alimentos pode-se dizer que é o oposto de risco
alimentar, e que seu interesse é internacional frente a sua importância da prevenção e controle de grandes
riscos como, surtos e epidemias (Clemente, 2003).
Estudos indicam que dentre os agentes mais comuns envolvidos em surtos alimentares em São Paulo,
estão as bactérias como, Salmonella, Staphylococcus aureus e coliformes termotolerantes,
representando 62% dos casos totais. Com tudo, muitos casos de doenças transmitidas por alimentos são
subnotificados, devido aos sintomas serem menos agressivos (Malacrida et al., 2017). Para a
identificação dos agentes causadores de surtos existem algumas técnicas como foi descrito por (Vieira
et al., 2004):
Os surtos de DTA podem ser investigados pela identificação etiológica laboratorial, exames
clínicos, bromatológicos ou por critérios epidemiológicos. Por esses métodos é possível obter
conclusões sobre seus agentes etiológicos, veículo, local, de ocorrência e demais características
pertinentes. Permitindo assim, uma melhor tomada de decisão em relação a causa do problema,
diagnóstico de possíveis infectados, tratamentos e prevenção, assim como o controle por parte
das autoridades governamentais como, ANVISA no Brasil, ou OMS no panorama mundial.
Há algum tempo, os produtos de origem animal vêm sendo observados como os principais alimentos
envolvidos em casos de surtos alimentares, principalmente aqueles que são muito manipulados, os que
são mantidos em condições que favorecem a multiplicação de microrganismos, ou aqueles que são
consumidos crus e parcialmente cozidos (Gormley et al., 2010).
Considerações finais
A produção de alimentos no Brasil aumenta significativamente todos os anos à medida que a
população cresce, com o objetivo de alimentar e de gerar lucro pelas exportações para diversos países.
De uma forma geral, os alimentos vêm demonstrando ser um ótimo condutor de vários tipos de
doenças ao ser humano, em vária etapas da cadeia produtiva e muitas vezes de forma descontrolada
como em uma epidemia por exemplo, o que gera grandes custos aos governos e preocupação à saúde
pública. No setor produtivo de alimentos, as contaminações podem acontecer em diferentes etapas da
produção, desde o campo até o supermercado, que é a linha de divisão final entre a produção do alimento
e o consumidor final. O que pode colocar a saúde do ser humano em risco em diversos momentos.
Algumas ferramentas de gestão de qualidade dos alimentos foram criadas e são constantemente
aprimoradas com o intuito de garantir a segurança dos mesmos, como a rastreabilidade dos alimentos,
que se tornou obrigatória para a produção de alimentos, após recomendações de órgãos mundiais como
o próprio Codex Alimentarius.
Por si só a rastreabilidade dos alimentos não é capaz de garantir a segurança dos mesmos, tão pouco
a do consumidor, ela integra um conjunto de ferramentas, que quando aplicadas de maneira sinérgicas,
apresentam uma forma eficaz de segurança dos alimentos, em cada processo de produção e manipulação
dos alimentos.
A rastreabilidade dos alimentos vem se destacando entre os programas de gestão de segurança
alimentar, principalmente quando está envolvida em surtos provocados por alimentos, devido a sua
capacidade de localizar e informar a quem procura o destino e quantidade correta dos mesmos,
permitindo outros programas de recolhimento, como o recall tirar do acesso ao consumidor o alimento
contaminado, de forma mais rápida e eficiente.
Os alimentos de origem animal são descritos na literatura como os principais envolvidos em surtos
alimentares, devido a sua capacidade de albergar, multiplicar e transmitir patógenos zoonóticos, que são
aqueles compartilhados entre seres humanos e animais.
Desta forma, a rastreabilidade dos alimentos se mostra importante frente aos surtos, pela sua
capacidade de identificar e localizar os focos, permitindo as autoridades sanitárias, ou até mesmo o
produtor corrigir o problema in loco, de maneira mais categórica e prevenir ou minimizar os impactos
ocasionados, principalmente em relação à saúde pública.
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Recebido: 5 de junho, 2020. Licenciamento: Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença
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