Sabe

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 5

Desafios da anestesia em pacientes com necessidades especiais

Sabe-se que pacientes com necessidades especiais precisam de tratamento


odontológico mais frequentemente do que a população geral. Esse fato pode estar relacionado
a maior dificuldade de manter cuidados preventivos adequados e acesso limitado aos centros
de saúde. Além disso, os procedimentos nesses pacientes requerem anestesia geral ou sedação,
dificultando ainda mais o acesso ao atendimento odontológico (Glassman, 2009, p.9-16)

Os pacientes portadores de deficiência mental e/ou disfunção neuro-motora costumam


apresentar comportamento agressivo e resistência ao atendimento. Neles, mais
frequentemente se faz uso de contenção física, inclusive para proteger o profissional e a
equipe de qualquer trauma ou injúria. (Adair; Durr. 1987, p. 163-165)

Além das dificuldades citadas acimas, existem outros impasses, devido à


complexidade que envolve a necessidade de cada paciente, pois o processo interventivo deve
ser realizado de acordo com a necessidade, por isso é necessário um plano de intervenção
individualizado.

Esses desafios vão desde a avaliação pré-operatória até a recuperação pós-operatória, a


abordagem adequada dessa quietões são cruciais para garantir o bem-estar desses pacientes
vulneráveis e também das famílias.

Pré-operatório

No campo da anestesiologia, a primeira etapa a ser cumprida é o pré operatório, que é


permeado de diversas dificuldades e em geral os cuidadores não conseguem realizar de forma
esperada e que é orientada pelo médico anestesiologista.

A primeira barreira que os cuidadores e equipe médica enfrentam é a realização dos


exames e jejum, por muitas vezes é necessário o uso de contenção física, pois os pacientes são
poucos colaborativos, seja por baixa compreensão do que será realizado, ou por medo,
dificuldades sensoriais e outros. Isso causa grande desgaste no paciente, nos cuidadores e
equipe de saúde que irá conduzir e acompanhar o paciente durante o processo operatório.

O manejo clinico de cada paciente deve ser individualizado, pois as limitações


cognitivas irão variar de acordo com a deficiência e o nível de comprometimento apresentada
pelo paciente. Em geral os cuidadores já estão exaustos e sobrecarregados com a vida
cotidiana do paciente, o momento da cirurgia é mais um fator estressor para esses cuidadores,
por isso, é necessário que exista o contato prévio do médico anestesiologista, para que as
particularidades do paciente sejam expostas e discutidas com os cuidadores, também é
importante realizar a familiarização do paciente com o médico anestesiologista e assim formar
um vínculo do médico com o paciente, para que o profissional se torne uma figura de
segurança para o paciente e assim a necessidade de contenção física do paciente tende a
diminuir.

Os objetivos do uso de contenção física visam reduzir ou eliminar movimentos


inesperados do paciente, protegendo-o de um imprevisto, além de facilitar o desenvolvimento
de um trabalho com qualidade. Esse recurso não se justifica para um paciente cooperativo ou
que não pode ser imobilizado devido a um comprometimento médico ou sistêmico (Nathan.
1989, p 293-301).

A decisão sobre o uso de imobilização física deve levar em consideração outras opções
de controle comportamental, as necessidades de tratamento da criança, sua saúde bucal e seu
desenvolvimento físico, mental e emocional (Tesini. 1980, p. 335-390).

Anestesia:

As indicações para o tratamento odontológico sob sedação e/ou anestesia geral são de
natureza médica, mental ou psicológica, incluindo a deficiência intelectual, limitações físicas,
distúrbios de movimento, transtornos comportamentais e doenças crônicas (Secretaria De
Estado De Saúde. 2006).

O médico anestesiologista irá definir o método anestésico que será utilizado durante o
procedimento, mas em via de regra a anestesia geral é a mais utilizada, devido as
particularidades dos pacientes e dos procedimentos, como por exemplo o tempo de duração.

A decisão por realizar o atendimento odontológico sob anestesia geral, possibilita


inúmeras vantagens. As principais são: sessão única e conforto para o profissional, podendo
ser realizada através do sistema particular e SUS, utilizando as Autorizações de Internações
Hospitalares (Santos; Valle; Palmier; Amaral; Abreu. 2015, p. 515-524).

Para promover maior bem estar e estabilidade emocional do paciente o responsável


pelo paciente pode ser convidado para acompanhar o paciente no centro cirúrgico no
momento da indução anestésica. Assim o paciente se sentirá mais seguro, fazendo com que o
procedimento ocorra de forma mais tranquila, para o paciente, equipe e responsável.

É importante ressaltar que os pais ou acompanhantes podem comunicar-se com as


crianças o que não ocorre com profissionais médicos eventuais como o anestesiologista,
portanto é importante ter estas pessoas ao lado dos pacientes durante a indução da anestesia e
na sala de recuperação pós-anestésica. (Stevens. 2002, p. 296-303)

O momento da indução pode gerar uma impressão negativa para os cuidadores, por
isso é importante explicar como será o procedimento, bem como pode ser a reação do
paciente nesse momento, gerando assim menos angústia e ansiedade para os pais e pacientes
(Ohtawa; Yoshida; Fukuda. 2019, p 53-60). A anestesia geral, por sua vez, promove a
inconsciência, analgesia, depressão da resposta motora reflexa e relaxamento dos músculos
voluntários (Andrade; Eleutéio. 2015 p.66-69).

A colaboração do paciente durante a monitorização intraoperatória é frequentemente


difícil em indivíduos com necessidades especiais. Manter os dispositivos de monitorização
pode ser desafiador. Em alguns casos, pode ser necessário adaptar esses dispositivos para
torná-los mais toleráveis ou menos intrusivos para o paciente.

A anestesia geral é contraindicada no paciente que, no dia da realização da mesma,


apresentar resfriado, febre, bronquite, crise asmática ou insuficiência cardíaca descompensada
e desta forma verifica-se que o profissional deve estar atento às alterações que o paciente
venha a ter, para saber diagnosticar e realizar ou não a anestesia geral. (Haddad. 2007)

Pós-operatório

A atuação do médico anestesiologista no pós-operatório é limitado, o


acompanhamento normalmente é realizado pela equipe de enfermagem, o médico fica
responsável por traçar condutas de controle da dor.

A avaliação da dor pode ser muito difícil, devido a retardo mental ou dificuldade de
comunicação verbal. Indicadores comportamentais como alterações faciais, gemido, choro e
alterações do sono podem estar presentes em condições não-álgicas, sendo difíceis de
interpretar nestes pacientes. (Nolan; Chalkiadis; Low. 2000)

Irritabilidade na recuperação da anestesia é comum. Eliminar as causas e excluir


etiologias frequentes como dor ou retenção urinária pode ser difícil. A irritabilidade pode ser
devida também a despertar em ambiente desconhecido, especialmente naquelas com retardo
mental. A presença dos pais na sala de recuperação pós-anestésica poderá ser benéfica para a
criança. Alterações visuais e auditivas também são causas de irritabilidade pós-operatória.
(Nolan; Chalkiadis; Low. 2000)

A equipe que cuida de pacientes com necessidades especiais deve receber formação
especializada para entender e manejar as particularidades de cada paciente. Isso inclui
treinamento em técnicas de comunicação eficaz, pode ser oferecido estratégias como uso de
tablets, oferecer objetos de apego do paciente, controle ambiental para diminuição de
estímulos sensoriais como estilos visuais e/ou sonoros e ambiente confortável

REFERÊNCIAS

ADAIR, S. M.; DURR, D. P. Modification of Papoose Board restraint to facilitate airway


management of the sedated pediatric dental patient. Pediatr. Dent., Chicago, v. 9, n. 2, p.
163-165, June 1987.

ANDRADE, Ana Paula Paiva de; ELEUTÉIO, Adriana Silveira de Lima. Pacientes
portadores de necessidades especiais: abordagem odontológica e anestesia geral. Revista
Brasileira de Odontologia, Rio de Janeiro, v. 72, n. 1/2, p. 66-69, jun. 2015. Semestral.
Disponível em: http://revodonto.bvsalud.org/pdf/rbo/v72n1-2/a13v72n1-2.pdf. Acesso em: 14
julho. 2024.

GLASSMAN, P. A review of guidelines for sedation, anestesia, and alternative


interventions for people with special needs. Spec Care Dent, v. 29, p.9-16, 2009.

HADDAD, AS, et al. Odontologia para pacientes com necessidades Especiais. São Paulo:
Santos; 2007

MINAS GERAIS. SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE (SES). Atenção em saúde


bucal. Belo Horizonte: SES; 2006.

NATHAN, J. E. Management of the difficult child: a survey of pediatric dentists’ use of


restraints, sedation and general anesthesia. ASDC J. Dent. Child., Chicago, v. 56, n. 4, p.
293-301, July/Aug. 1989.

NOLAN J, CHALKIADIS GA, LOW J et al - Anesthesia and pain management in


cerebral palsy. Anesthesia, 2000;55:32-4
OHTAWA Y, YOSHIDA M, FUKUDA K. Parental Satisfaction with Ambulatory
Anesthesia during Dental Treatment for Disabled Individuals and Their Preference for
Same in Future. Bull Tokyo Dent Coll [Internet]. 2019 Feb 28 p.53- 60. Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30700644/ Acesso em: 14 julho. 2024.

P, STEVENS J - Cerebral palsy and anesthesia. Paediatr Anaesth, 2002;12: 296-303.

SANTOS, J.S.; VALLE, D.A.; PALMIER, A.C.; AMARAL, J.L.; ABREU, M.H.N.G.
Utilização dos serviços de atendimento odontológico hospitalar sob sedação e/ou
anestesia geral por pessoas com necessidades especiais no SUS-MG, Brasil. Ciência &
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 20, n.2, p. 515-524. 2015.

TESINI, D. A. Age, degree of mental retardation. Institutionalization, and socioeconomic


status as determinants in the oral hygiene status of mentally retarded individuals.
Community Dent. Oral Epidemiol., Copenhagen, v. 8, n. 7, p. 335-390, Dec., 1980.

Você também pode gostar