Unidade II - O Apóstolo Paulo e A Contemporaneidade Dos Dons

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O APÓSTOLO PAULO E A CONTEMPORANEIDADE DOS DONS

ESPIRITUAIS

Os dons espirituais têm sido temas de acalorados debates na academia. Os


dons espirituais não foram dados à igreja para projeção humana, nem como
aferidor de verdadeira espiritualidade. Os dons espirituais foram dados para a
edificação do corpo de Cristo. Pelo exercício correto dos dons a igreja cresce
de forma saudável. Os dons são recursos que o próprio Espírito de Deus
concedeu à igreja para que ela pudesse ter um crescimento saudável e
também suprir as necessidades dos seus membros.

Há pelo menos três posições em relação aos dons espirituais dentro da igreja:

1. Os cessacionistas. São aqueles que crêem que os dons espirituais


registrados em 1Coríntios 12 foram restritos aos tempos dos apóstolos.
Para estes os dons não são contemporâneos e nem estão mais
disponíveis na igreja contemporânea.
2. Os ignorantes. São aqueles que não conhecem nada sobre os dons.
Paulo orienta os coríntios para não serem ignorantes com respeito aos
dons espirituais. Havia pessoas na igreja que ignorava esse assunto, e
por isso, não podia utilizar a riqueza dessa provisão divina para a igreja.
3. Os que crêem na atualidade dos dons espirituais. São aqueles que
crêem que os mesmos dons espirituais concedidos pelo Espírito Santo
no passado estão disponíveis para a igreja atualmente.

O principal argumento dos cessacionistas é escriturístico. Referem-se à


cessação dos dons com base no texto de I Coríntio 13.8-10. No caso em
questão o amor é o maior e o único requisito a ser buscado pelo crente
salvo. Apesar disso, o amor não anula a existência e a
contemporaneidade dos dons do Espírito – apenas o regulamenta. A
tentativa disto, com base no texto de I Coríntios 13.8-10 não passa no
crivo dos melhores comentaristas bíblicos. A argumentação contrária se
pauta na expressão “quando vier o que é perfeito, então o que o é em
parte será aniquilado”. Os cessacionistas dizem que “o que é perfeito”,
no texto em apreço, refere-se ao estabelecimento e conclusão do Cânon
Bíblico, ou seja, diz respeito à inserção finalizada dos livros
neotestamentários - são os livros aceitos pela comunidade cristã como
sagrados, divinamente inspirados e fidedignos para a instrução dos fiéis.

O Dr Allan Pieratt, no seu livro Sinais e Maravilhas (Ed. Vida Nova),


certifica o seguinte acerca do texto de I Coríntios 13.8-10: “Não fui capaz
de encontrar um único estudioso da Bíblia que concorde que a
expressão ‘o que é perfeito’ deva, ou mesmo possa, referir-se ao
cânon”. Conclui dizendo que todos os autores citados por ele, entre eles
Bruce, Fee, Grosheide, Robertson, Plummer, Findaly e Hodge,
concordam que se trata de uma referência à segunda vinda de Cristo ou
ao fim dessa era.

Portanto, os abusos cometidos por crentes “meninos” não devem coibir


a manifestação dos dons do Espírito Santo no culto: “Portanto, procurai
com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais
excelente” (I Co 12.31). Os ensinadores, pastores e líderes devem se
aplicar em instruir os crentes acerca deste assunto e não extinguir a
manifestação do Espírito. Não devemos esquecer o conselho ou ordem
de Paulo aos crentes tessalonicenses: “Não extingais o Espírito”.

Assim, precisamos analisar a questão a partir dos escritos paulinos:

1) Quanto à origem dos dons eles são chamados charismata. Paulo diz:
“Ora os dons são diversos” (12.4). A palavra charismata vem de charis, graça.
Assim, Paulo está falando da origem dos dons. O dom espiritual procede da
graça de Deus. Os dons são originados na graça de Deus e são ministrados,
doados e distribuídos pelo Espírito Santo. A origem dos dons nunca está no
homem, mas sempre na graça de Deus.

2) Quanto ao modo de atuar, o dom é diaconia. Paulo diz: “E também há


diversidade nos serviços” (12.5). A palavra “serviços” no grego é diaconia. Isso
se refere ao modo de atuação do dom que é prontidão para servir. Os dons são
dados não para projeção pessoal, mas para o serviço. Deus nos dá dons para
servirmos uns aos outros e não para nos exaltarmos nossas virtudes ou
habilidades. A finalidade do dom espiritual não é a autopromoção, mas a
edificação do próximo.

3) Quanto à finalidade os dons são energémata. Paulo conclui: “E há


diversidade nas realizações” (12.6). A palavra energémata vem de energia, de
obras exteriores. É a energia (poder) de Deus operando nos cristãos e
transbordando para a vida da comunidade. O dom espiritual é para ajudar
alguém, fazer algo para alguém, trabalhar por alguém e realizar alguma coisa
para alguém. Não é uma espiritualidade intimista e subjetiva. Ela é
transbordante, edificante, relevante.

Portanto, os propósitos divinos para os dons são:

a) Os dons são dados a cada membro do corpo. Todos os cristãos, salvos por
Jesus, têm pelo menos um dom. As Escrituras afirmam esta verdade (cf 1Co
12.7).

b) Os dons têm um propósito. Eles são dados visando a um fim proveitoso, ou


seja, a edificação da igreja.

c) É o Espírito Santo que distribui soberanamente os dons. “Mas um só e o


mesmo Espírito realiza todas as coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada
um, individualmente” (12.11). Paulo está falando que é o Espírito Santo quem
distribui os dons e também quem age eficazmente na vida daquele que exerce
o dom. O homem é apenas um instrumento, mas o poder é do Espírito.

O apóstolo Paulo usou quatro verbos que ilustram a soberania de Deus na


distribuição dos dons espirituais. O Espírito Santo distribui (12.11), Deus
dispõe (12.18), Deus coordena (12.24) e Deus estabelece (12.28). Do
começo ao fim Deus está no controle. Não há espaço para vaidades e
autopromoção.

Os dons espirituais descritos pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 12 não


cessaram e continuam manifestos na igreja contemporânea. Neste texto Paulo
fala sobre os dons da sabedoria, da palavra da ciência, da fé, dons de curar, de
operar maravilhas, de profecia, dom de discernir espíritos, variedade de
línguas, e interpretação de línguas.

Jamais se deve concordar com muitas manifestações pessoais,


reivindicando serem espirituais, ocorridas especialmente no meio pentecostal.
Nem por isso se deve ser contrário às manifestações genuinamente espirituais
ou descrer dos dons do Espírito Santo para os nossos dias. Apesar de Paulo
repelir a conduta dos cristãos de Corinto, quanto ao mau uso dos dons do
Espírito no culto, a Bíblia informa que nenhum dom faltava a essa Igreja (I Co
1.7). Há também doutrinas teológicas mais importantes do que devotar todo o
nosso ser ou o tempo da nossa fé cristã em busca de poder espiritual, porém,
não significa que temos de deixar de lado os dons do Espírito Santo. Um
estudo sério acerca dos dons poderá levar-nos a compreender a necessidade
deles para a Igreja de Cristo. Não há nada bíblico que comprove a inexistência
dos dons do Espírito para os dias atuais. De fato, ainda que não aconteça
comumente, não justifica porque o Espírito Santo não opera mais nesse
sentido. Na verdade, alguns fatores podem ser sugeridos para a causa de sua
inexistência ou do seu arrefecimento:
1) Incredulidade – Muitos cristãos resolveram no seu coração não crer nas
manifestações dos dons do Espírito. São semelhantes ao discípulo Tomé, que,
não obstante ter “aprendido” com Jesus por cerca de três anos e meio não
acreditou na sua ressurreição. Não crer, por si só, não é correto nem suficiente.
2) Desinteresse – O desinteressado não vê nenhuma vantagem em possuir os
dons do Espírito ou deixá-lo fluir no núcleo da Igreja. Vive sua vida espiritual à
margem do poder do Espírito Santo. Para alguns destes, o que importa é a
programação formal litúrgica do culto, o “louvorzão”, sua participação ativa no
culto, mas não a manifestação dos dons do Espírito Santo, ou seja, não
buscam e não deixam o Espírito agir nessa área.
3) Erudição bíblica formal ou secularizada – Estudantes de teologia ou
teólogos com vasta experiência no ensino, não deveriam descrer do poder do
Espírito acerca das manifestações dos dons. É claro que não podemos
depreciar a categoria (dos teólogos) por causa de alguns, mas há teólogos que
sobrevivem apenas das suas reflexões formais da fé cristã.
4) Entendimento inadequado – Alguns cristãos pensam que os dons do
Espírito Santo são habilidades naturais, ou seja, Deus concedeu a algumas
pessoas certos dons naturais, como aquelas que tem mãos habilidosas e
grandes capacidades como cirurgião; estes teriam o dom de curar.
5) Julgamento equivocado – Outros há que afirmam serem os dons tão
santos em sua essência e natureza que ninguém é digno de recebê-los. Desta
forma não há como obter os dons do Espírito Santo.

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