DOENÇA POLICÍSTICA EM FELINO - RELATO DE CASO - ISSN 1678-0817 Qualis B2

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ISSN 1678-0817 Qualis B2

DOENÇA POLICÍSTICA EM FELINO:


RELATO DE CASO
Ciências Agrárias, Volume 28 – Edição 133/ABR 2024 SUMÁRIO /
03/04/2024

FELINE POLYCYSTIC DISEASE: CAT REPORT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10914455

Mariana Moreira Mendonça1; Luciano Wagner Dorea Reis2; Gislayne


Amorim Silva3; Gisele de Freitas Lopes4; Míriam Cristina Alves de Oliveira
Campos5; Lígia Rayssa Figuerêdo de Paiva Rodrigues6; Maria Bernardete
Oliveira Trajano da Silva7; Silvio Pires Gomes8; José Mykael da Silva
Santos9; Eliane Senger Ramos10; Victor Gabriel Farias Gonçalves11;
Orientadora: Maria Raquel Silva12

Resumo

A Doença policística renal (DPR) constitui uma condição genética comum


em gatos persas, caracterizada pela presença progressiva de cistos renais,
frequentemente conduzindo à insuficiência renal crônica (IRC) ao longo
de vários anos. Não há tratamento específico para a DPR, e deter seu
avanço é desafiador. Portanto, um programa de triagem para identificar
animais portadores é essencial para evitar sua procriação e erradicar a
doença nesta espécie. No presente relato de caso, foi diagnosticado um
caso de DPR em um gato persa atendido em uma clínica veterinária. O
exame físico revelou aumento craniano e abdominal, membranas
mucosas normocoradas, desidratação leve e temperatura retal de 37,8°C.
A ultrassonografia confirmou a presença de cistos renais bilaterais. Este
relato visa descrever esse caso clínico, oferecer uma breve revisão da
literatura sobre a patologia e abordar o tratamento realizado no paciente,
que, lamentavelmente, veio a óbito devido à gravidade e extensão da
doença.

Palavras-chave: cistos, felino, rins.

Abstract

Polycystic kidney disease (PKD) is a common genetic condition in Persian


cats, characterized by the progressive presence of kidney cysts, often
leading to chronic renal failure (CRF) over several years. There is no specific
treatment for RPD, and halting its progress is challenging. Therefore, a
screening program to identify carrier animals is essential to prevent
breeding and eradicate the disease in this species. In this case report, a
case of RPD was diagnosed in a Persian cat treated at a veterinary clinic.
Physical examination revealed cranial and abdominal enlargement,
normocolored mucous membranes, mild dehydration and a rectal
temperature of 37.8°C. Ultrasound confirmed the presence of bilateral
renal cysts. This report aims to describe this clinical case, provide a brief
review of the literature on the pathology and discuss the treatment
carried out on the patient, who unfortunately died due to the severity and
extent of the disease.

Keywords: cysts, feline, kidneys.

1 INTRODUÇÃO

Trata-se de uma enfermidade dominante de origem genética em gatos


da raça persa e raças semelhantes, caracterizada por uma anormalidade
estrutural na qual uma parte considerável do tecido renal é substituída
por cistos. A sua significância em felinos decorre da sua elevada
ocorrência (até 50%), e elevada taxa de incidência (quase 100%), atribuída
à sua natureza genética autossômica dominante. A patologia é
progressiva, na qual, ao longo do tempo, os cistos aumentam em
tamanho e comprimem o tecido renal, resultando em insuficiência renal
crônica (IRC) de natureza irreversível (NEWMAN et al., 2009).

É uma doença genética que acomete ambos os sexos, mais comum a


partir dos seis meses de idade, mas também em animais jovens ou
recém-nascidos (Nunes e Castro, 2008), afetando com alta frequência
gatos Persas e raças afins (ONDANI et al., 2009).

No entanto, a elevada proporção de felinos que sofrem devido à DPR


permanece desconhecida devido à descoberta ocasional de portadores
durante exames de ultrassom de rotina, tornando-se essencial uma
intervenção precoce para evitar o avanço da condição. Existem relatos de
como os cistos foram tratados por meio da administração de
medicamentos através de procedimentos percutâneos para controlar o
crescimento dos cistos e os sintomas resultantes, embora haja uma
escassez de estudos sobre o tema (CANNON et al., 2001).

De acordo com Biller et al. (1996), gatos persas propensos à insuficiência


renal apresentam azotemia, hiperfosfatemia, anemia regenerativa e
acidose metabólica.

Os animais diagnosticados como portadores da DRP podem ser


assintomáticos (Roudebush et al., 2009), ou apresentar sinais clínicos
compatíveis com insuficiência renal (IR), como poliúria, polidipsia,
sensibilidade dos flancos à palpação, desidratação, anorexia e atenuação
da perda de peso (LOPES et al., 2015).

Os animais afetados apresentam múltiplos cistos que podem atingir o


córtex e a medula renal, desenvolver-se uni ou bilateralmente e aumentar
de tamanho com a idade, levando a um comprometimento renal lento,
progressivo e irreversível até a insuficiência renal (COLETTI, 2006; ONDANI
et al., 2009).
Uma vez que a formação de cistos e suas consequências não possuem
tratamento específico, é imprescindível realizar exame de ultrassom para
detectar os cistos em tempo hábil para que os animais possam ser
removidos da procriação a fim de reduzir a ocorrência da doença. Com
isso, o diagnóstico da patologia tem se tornado mais detectável com mais
precisão e mais rápido, o que tem ajudado a prevenir a doença (OTTESEN,
2004).

Os cistos são geralmente esféricos, variando em dimensão e revestidos


por uma fina membrana de tecido conjuntivo fibroso. Preenchidos com
líquido aquoso transparente, a membrana dos cistos é de cor cinza claro,
lisa e translúcida quando observada na superfície renal. A aparência geral
dos cortes de rins com poliquistose macroscópica foi comparada à textura
de “queijo suíço” (NEWMAN et al., 2009). Por ser difícil distinguir cistos de
tumores, o exame radiográfico é inespecífico, sendo a ultrassonografia o
exame mais indicado para o diagnóstico (KEALY e MCCALLISTER, 2012).

Devido à complexidade em diferenciar cistos de tumores, a radiografia se


mostra um método diagnóstico pouco específico, sendo a
ultrassonografia a técnica mais indicada para essa finalidade (KEALY e
MCCALLISTER, 2012).

Scalon et al. (2014) optaram por utilizar a técnica de reação em cadeia da


polimerase (PCR) como abordagem diagnóstica para identificar mutações
pontuais, empregando dois primers específicos para o alelo mutante. Eles
obtiveram resultados positivos em 9% dos felinos testados, sendo que 33%
destes eram da raça persa.

O controle da doença envolve o diagnóstico precoce de animais


portadores e a monitorização de seus descendentes por meio de
ultrassonografia antes de serem utilizados na reprodução. Além disso, é
recomendada a esterilização dos animais identificados como portadores e
a realização de estudos epidemiológicos para avaliar a prevalência da
doença renal policística em gatos persas (COLLETI, 2006).
Assim, a doença é de caráter progressivo, em que, com o passar dos anos,
os cistos crescem e comprimem o parênquima renal, levando à
insuficiência renal crônica (IRC) irreversível. O presente trabalho tem
como objetivo relatar um caso de doença renal policística em um gato
Persa atendido em uma clínica veterinária particular.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Sistema urinário felino

O aparelho excretor é composto por dois rins, dois ureteres, uma vesícula
urinária e uma uretra. A urina é produzida pelos rins e flui pelos ureteres
até a vesícula urinária, onde é armazenada até ser eliminada pela uretra.
Além de formar a urina por meio de um processo complexo que envolve a
absorção de água por mecanismos ativos e passivos, além da filtração, os
cães também são capazes de regular a pressão sistêmica e produzir novas
células sanguíneas, tudo isso com o objetivo de eliminar os metabólitos
em excesso. Cada rim produz aproximadamente 125 mL de filtrado por
minuto, sendo que 124 mL são reabsorvidos nos túbulos renais e apenas 1
mL é excretado como urina pelos cálices. Esta é armazenada no trato
urinário inferior, especialmente na vesícula urinária, que possui um
epitélio especializado capaz de se expandir ou contrair conforme a
quantidade de urina presente. O ureter penetra na vesícula urinária de
forma oblíqua, impedindo o refluxo de urina, que é eliminada para o
ambiente externo por meio da micção através da uretra (JUNQUEIRA e
CARNEIRO, 2004).

2.2 Os Rins

O rim é um órgão retroperitoneal com uma cápsula, regiões corticais e


medulares. São dois órgãos e, externamente, apresentam um lado
convexo e um lado côncavo, onde está localizado o hilo renal, local de
entrada e saída de vasos sanguíneos, nervos e ureteres. O hilo também
inclui os cálices renais, que se conectam para formar a pelve renal, a parte
superior do ureter dilatado (Junqueira & Carneiro, 2004). O rim
desempenha duas funções primárias nos mamíferos: excreção de
resíduos metabólicos celulares e regulação do volume e composição do
fluido extracelular, incluindo a eliminação de eletrólitos e outros
compostos em excesso (DUKES, 1993).

A unidade funcional básica do rim é o néfron, composto pelo corpúsculo


renal, túbulo contorcido proximal, partes espessas e delgadas da alça de
Henle e túbulo contorcido distal. Os corpúsculos renais consistem em
aglomerados de capilares originados das arteríolas aferentes, o próprio
glomérulo, envolto por uma cápsula glomerular que acompanha o túbulo
contorcido proximal, seguido pela alça de Henle. A partir daí a urina flui
para o ducto coletor, passa pelas papilas, cálices e pelve renal, e deixa o
rim através do ureter. A alça de Henle é uma estrutura em forma de U
composta por quatro segmentos: descendente espesso, descendente
fino, ascendente fino e ascendente grosso (JUNQUEIRA e CARNEIRO,
2004).

Os gatos possuem predominantemente néfrons justaglomerulares


(DUKES, 1993), os quais são mais eficazes do que os néfrons corticais na
criação e manutenção de gradientes hiperosmolares no interstício
medular, o que é fundamental para a produção de filtrado hipertônico. No
segmento ascendente grosso, o NaCl é ativamente removido do lúmen
tubular como um mecanismo para conservar água no corpo, enquanto o
NaCl é transferido do lúmen tubular para o parênquima medular por
meio de pressão osmótica (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2004).

2.3 Doença Renal Policística em felinos

2.3.1 Definição

Trata-se de uma patologia autossômica dominante na qual múltiplos


cistos aparecem no córtex e na medula renal, afetando todas as raças de
gatos domésticos, mas é altamente prevalente na raça de gatos persas e
equivalentes de mesma linhagem (MALIK, 2001). Em humanos, a DRPAD
(Doença Renal Policística Autossômica Dominante Dominante, é um dos
distúrbios genéticos mais comuns, afetando aproximadamente quatro a
seis milhões de pessoas em hemodiálise em todo o mundo. Corresponde
a aproximadamente 10% dos casos de insuficiência renal crônica (IRC)
entre candidatos a hemodiálise ou transplante (ALVES, 2015).

2.3.2 Fisiopatogenia

De acordo com Biller et al. (1996), a fisiopatologia da formação de cistos na


PRD não está totalmente estabelecida, mas existem várias teorias
multifatoriais. Primeiro, os cistos podem se formar como resultado da
obstrução, seguidos por células epiteliais hiperplásicas que se tornam
pólipos ao longo dos anos, resultando em túbulos renais dilatados. Outra
teoria é que a mutação interfere na estrutura da membrana sub epitelial
dos túbulos renais, que é defeituosa e torna-se frágil, fazendo com que o
filtrado renal se acumule e forme os cistos. No entanto, a teoria mais
aceita foi confirmada em outras espécies e também foi detectada.

Em gatos persas, os cistos se formam como resultado da não união de


células em certas partes do néfron. Pesquisas sobre DRPAD em humanos
tem relatado anormalidades na apoptose e proliferação de células
epiteliais tubulares renais, que são eventos normais mantidos pelo rim.

De acordo com Woo (1995), esses dois processos desempenham papel


importante no crescimento e formação dos cistos renais, podendo a
apoptose também contribuir para a evolução progressiva da doença
devido à perda do parênquima renal e comprometimento de sua função.
Embora os mecanismos de ação da apoptose e proliferação das células
tubulares não estejam totalmente definidos, uma hipótese é que a
cavitação ocorre como resultado de alterações conformacionais celulares
e perda de adesão intercelular devido à apoptose. Além disso, isso
também pode estimular a proliferação de células vizinhas (CHEN et al.,
1997), confirmando a teoria mais aceita da fisiopatologia dos cistos em
gatos persas de (BILLER et al.,1996).
O fluido nos cistos é originário da depuração sanguínea ou da secagem
de fluidos e de eletrólitos dentro das células da epiderme que o
compõem. Este fluido é geralmente retirado e é chamado de transudato,
mas também pode ser chamado de transudato modificado, quando sua
cor é mais avermelhada. Além disso, há casos mais extremos em que o
material excretado pode ser purulento, o que indica que o cisto está
infectado (GONZALES e FROES, 2003).

Os cistos geralmente aumentam em tamanho e idade do animal, o que


gera uma pressão sobre o parênquima do rim e acaba por prejudicar sua
função, sendo este um quadro equivalente à insuficiência renal crônica
(IRC). Em algumas circunstâncias, o aumento do tamanho dos cistos pode
causar a conhecida como renomegalia, mas a relação entre a gravidade
da função do rim e o tamanho do cisto não é clara. Alguns gatos tendem
a viver até uma idade mais avançada, mesmo com o diagnóstico de DRP,
enquanto outros podem mostrar sinais de falta de IR com meia-idade,
mesmo tendo poucos e pequenos cistos (MALIAK, 2001). Assim, embora
os cistos não se enquadrem da mesma forma e na medida em que forem
comparados em termos de tamanho, na DRP, eles se enquadram da
mesma quanto a etiologia (HELPS et al., 2007).

2.3.3 Sinais Clínicos

A DRP é um distúrbio de evolução lenta e que pode estar ligado a uma


complicação renal permanente em felinos afetados (DI BARTOLA, 2000).
Na espécie de gato Persa, o processo geralmente termina com a falência
do órgão renal crônica (BILLER et al., 1996). Quando sintomática, a DRP
tem sintomas não específicos, como por exemplo, a falta de apetite, a
diarreia, o emagrecimento, a poliúria e a polidipsia. A taxa de aumento
dos cistos é diferente para cada um deles, dependendo do indivíduo e das
gerações que o cercam, assim como dos rins. Azotemia, hiperfosfatemia,
isostenúria, anemia e acidose metabólica são comuns em gatos que são
predispostos a ter problemas com a função renal. Em algumas situações,
é possível encontrar cistos no fígado e hérnias no peritônio, estas últimas,
associadas à DRP (MALIK, 2006).

2.3.4 Diagnóstico

Como a forma como o DRP é apresentado no consultório médico é


devido à insuficiência renal crônica (IRC) gerada pela compressão do
parênquima do rim por vários cistos, os exames clínicos e os testes
laboratoriais geralmente não são capazes de exclamar ou determinar o
diagnóstico definitivo e imediato da DRP, para isso é necessária a
utilização de métodos de diagnóstico por imagem (BILLER et al., 1996). O
crescente uso da ultrassonografia para diagnósticos em pequenos
animais, o que facilitou o reconhecimento de animais portadores de
doenças, anteriormente limitado pela falta de métodos de diagnóstico
pré-mortem sensíveis e não invasivos. Além disso, facilitou o diagnóstico
precoce da doença antes do desenvolvimento da insuficiência renal
(GONZALES e FROES, 2003). A ultrassonografia em forma de série tem o
benefício de ser capaz de prever a gravidade e o quão bem o paciente
está indo em termos de desenvolvimento da doença, tendo ou não
apresentado nenhuma mudança (WILLS et al., 2009).

A ultrassonografia tem demonstrado ser a mais eficaz forma de


diagnóstico para a triagem da DRP em felídeos, além de ser um modo de
avaliação da espécie para indivíduos que podem estar com DRP (BECK e
LAVELLE, 2001).

De acordo com o que foi escrito por Biller et al. (1996), cerca de 68% dos
gatos com DRP são identificáveis por meio de ultrassom de alta qualidade
e transdutores de frequência alta (7,5 MHz a 10 MHz). Alguns autores
sugerem que que essa triagem seja feita aos 10 meses de idade, pois
nessa fase é mais fácil de detectar os acometidos sem muitas alterações,
além disso, também de acordo com Lyons (2004), mostraram a
confiabilidade e eficácia do exame de ultrassom na hora de fazer o
diagnóstico da DRP, considerando-o igual a dois exames de genética que
deram 100% de compatibilidade. Entretanto, a capacidade de detectar a
DRP no gato em animais com menos de três meses de idade é melhor
através da análise de DNA do que através da ultrassonografia
(DOMANJKO-PETRIC et al., 2007).

Recentemente, a sensibilidade do exame ultrassonográfico foi


considerada de 96,2% para animais de 3 meses de idade (BONAZZI et al.,
2009), superior aos descritos animais de 3 meses de idade anterior de 91%
(BECK e LAVELLE, 2001).

De acordo com Bonazzi et al. (2009), um motivo que pode ter causado o
aumento da sensibilidade no diagnóstico precoce é a tecnologia em
questão, que é composta por transdutores que trabalham em diferentes
frequências, como 10 MHz e 14 MHz, que geram imagens de áreas
menores e mais superficiais com uma melhor resolução.

2.3.5. Tratamento

Várias terapias para a DRP têm sido sugeridas, algumas são mais
intrusivas, como a excisão cirúrgica da cápsula cística, e outras são menos
intrusivas, como a drenagem percutânea simples e a drenagem
percutânea seguida da administração de agentes esclerosantes
(FONTANA, 1999). Segundo o que foi escrito por Akinci et al. (2005),
durante muitos anos, a terapia por drenagem percutânea foi a primeira
forma de tratamento em humanos, pois é um método que requer poucos
passos e é minimamente invasivo. No entanto, ela está sujeita a uma taxa
de recorrência de 30% a 80%, o que fez com que vários pesquisadores
(BROWN et al. 1995; PAANEN, 2001; PHELAN et al., 1999;) estudassem a
utilização de agentes esclerosantes, como o é o caso de iodopovidona, de
fenol, de ácido acético, de tetraciclina e de etanol.

Na análise dos resultados, foi observado que os sinais secundários à DRP,


a não ser a pressão alta, foram controladas sem complicações. Entretanto,
esta ainda não é uma terapia muito investigada ou usada em larga escala
na rotina das clínicas (ZATELLI et al., 2007), desta forma, não há nenhuma
terapia específica dedicada à DRP do gato (EATON et al., 1997).

2.3.6 Acompanhamento do paciente com IRC

A IRC é uma patologia que progride, e a condição e as exigências do


paciente podem mudar com o tempo, por isso é importante que o plano
de tratamento tenha como meta o monitoramento constante do paciente
a cada seis meses, com a anotação dos objetivos e a análise do
desenvolvimento da terapia. No entanto, os pacientes em fases avançadas
de IRCs devem ser monitorados a cada 3 a 4 meses. Os cuidados de
acompanhamento com o gato renal devem incluir seu histórico de saúde,
além de uma verificação da medicação, uma análise física, uma
contagem de corpos, uma verificação da pressão sanguínea, um exame
de urina e um monitoramento da temperatura corporal. As variáveis que
definem a razão proteína/creatinina e a cultura de urina são
provavelmente idênticas para cada indivíduo (POLZIN, 2011).

2.3.7 Prognóstico

Assim como foi visto anteriormente, os tratamentos para a IRC são


restritos aos cuidados paliativos, ou seja, o prognóstico da DRP é definido
quanto ao grau de comprometimento da função renal do paciente, sendo
importante no fim de vida da doença. Os gatos que têm IRC têm uma
progressão de sua saúde que é semelhante à dos cães, mas que
geralmente é mais lenta, e em alguns casos é permanente. O transplante
renal bem-sucedido é a única terapia potencialmente aplicável para a
maioria dos indivíduos com doença renal em fase terminal (LEES, 2005).

2.3.8 Erradicação da DRP em gatos

A eliminação da doença deve ser alcançada em um curto período através


de métodos de diagnóstico, considerando o quão frequentes são os
sintomas da doença, sua potencial hereditariedade, especificidade e
sensibilidade do procedimento de seleção (BARTHEZ, 2003).
Hipoteticamente, se todos os gatos de pelo longo de uma raça pura
fossem rastreados por ultrassonografia e os indivíduos DRP positivos
fossem encontrados, então a população felina poderia ser livre da doença
através da exclusão de tais indivíduos da procriação. Um programa
semelhante no país australiano, para o combate da DRP em cães da raça
Bull Terriers, teve um grande sucesso na diminuição de sua ocorrência,
embora este sucesso tenha sido conseguido apenas com a ajuda de
vários criadores individuais, grupos de criadores e veterinários utilizando-
se ultrassonografia (MALIK, 2001). O processo de lenta superação da DRP é
aconselhável para doenças que têm uma alta prevalência, pois a
eliminação rápida de uma grande quantidade de gatos poderia levar a
outros sintomas da pressão intrínseca (LYONS, 2010).

3 METODOLOGIA

3.1 Relato de Caso

Uma gata persa, fêmea, com idade de 9 anos, pesando 1,8 kg, foi recebida
em clínica particular, apresentando sintomas como inapetência, apatia,
anorexia, poliúria e polidipsia quando foi ao médico. O exame clínico
revelou mucosa com coloração normal, com desidratação de 7%, abdome
cranial aumentado nos flancos, sensível à palpação e temperatura retal de
37,8°C. O animal foi internado para estabilização do estado geral e feita a
coleta de sangue para hemograma e exames bioquímicos. Foi
encaminhado para diagnóstico por imagem para exame de
ultrassonografia visto na figura 1.
Fig. 1- A: Imagem ultrassonográfica do paciente (gato persa), de 9 anos
com doença renal policística. O comprimento do rim esquerdo é de cerca
de 6,49 cm. B: O rim direito tem cerca de 7,6 cm de comprimento. O rim é
aumentado com múltiplos cistos de tamanhos variados ao longo do
parênquima. Fonte: Arquivo pessoal.

Não houve alterações significativas na TGPase (glutamato acetona


transaminase), fosfatase alcalina ou proteínas totais e cálcio.

Nelson e Couto (2015) descreveram a presença de azotemia como


característica da fase crônica da insuficiência renal e está associada à
hiperfosfatemia, em consequência da diminuição da excreção renal (Biller
et al., 1996).

A antibioticoterapia à base de amoxicilina foi administrada na dose de 12,5


mg/kg-BID, pois a infecção bacteriana dos cistos é um fator complicador
em alguns gatos (NORSWORTHY, 2004; COLETTI, 2006). Analgésicos
opióides (cloridrato de tramadol) e Buscopan ® são usados ​para diminuir
o desconforto abdominal decorrente de alterações renais. Diante da
anorexia crônica do paciente, ele foi submetido à exploração esofágica e
faleceu dois dias após o procedimento.

O hemograma não revelou anemia normocítica normocromática,


trombocitopenia e linfopenia, características descritas por Lopes et al.
(2015) e Carvalho et al. (2017), que associaram essas alterações a estados
avançados da doença renal. No exame bioquímico foi confirmada
azotemia, sendo os valores de ureia e creatinina de 381,0 mg/dL e 10,5
mg/dL, respectivamente (valores padrão: ureia: 10 a 60 mg/dL; creatinina:
0,5 a 1,7 mg) /dL), além de hiperfosfatemia (fósforo 22mg/dL).

Por ser uma doença irreversível, o tratamento é paliativo. Além de manter


a qualidade de vida do paciente, visa-se o controle dos sintomas clínicos e
da progressão da doença (LOPES et al., 2015). Como tratamento, a
fluidoterapia diária foi instituída e continua sendo o tratamento de
escolha em animais com insuficiência renal crônica, auxiliando na
correção dos distúrbios eletrolíticos e ácido-básicos, bem como da uremia
(BILLER et al., 1996; COLETTI, 2006; LOPES et al., 2015). Também é
complementado com vitaminas e minerais por tomar complexo B,
vitamina C e Hemolitan ®, Glicopan ®.

A paciente foi internada para cuidados paliativos, porém faleceu 6 dias


após a consulta. Os proprietários foram solicitados para permitir a
realização da necropsia.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ondani et al. (2009) concluíram que a maioria dos persas diagnosticados


com PKD são de um mesmo plantel, confirmando um perfil genético da
doença, porém, isso não se constatou no caso relatado A ultrassonografia
abdominal revelou assimetria renal, tamanho aumentado, contorno
irregular e mal definido, perda da relação córtico-medular e múltiplas
estruturas circulares bem definidas anecóicas no parênquima renal
bilateral, sugestivas de cistos renais (Figura 1).

Esses achados confirmam a descrição de Lopes et al. (2015) e Santos et al.


(2017), que descreverem múltiplos cistos renais bilaterais.

Relataram ainda Ondani et al. (2009), em seus estudos que, todos os


animais PKD positivos apresentavam um ou mais cistos em ambos os
rins, ao invés de apenas um, o que é semelhante a este trabalho.

O DRP pode ser facilmente diagnosticado com ultrassom porque é uma


técnica não invasiva que pode detectar a doença precocemente, antes
que ocorra a insuficiência renal. Portanto, o diagnóstico precoce é crucial
(BILLER et al., 1996).

A autópsia confirmou a suspeita de doença renal policística. O rim estava


aumentado com superfície irregular e textura variando de firme a
ondulado. Havia um grande número de cistos de vários tamanhos no
córtex renal e medula na seção dorsal. A parede do cisto era fina e
continha substâncias semelhantes à água, e líquido claro, levando à
destruição completa do parênquima renal. Achados semelhantes
também foram encontrados por Santos et al. (2017), e Lopes et al. (2015),
que diagnosticou a causa da morte em animais com base em achados
anatomopatológicos.

Figura 2– Imagem do rim após a necropsia de um gato persa de 9 anos


com doença renal policística. Na porção dorsal, numerosos cistos esféricos
e múltiplos de paredes finas de vários tamanhos foram vistos no córtex e
na medula renal. Os cistos contêm líquido claro e aquoso. Fonte: Arquivo
pessoal.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A DRP é uma doença grave que afeta significativamente a população de


gatos, além de ser recorrente e ter um curso clínico pendente. Por esta
razão, além dos esforços feitos para eliminar ou reduzir a prevalência da
doença em gatos da espécie Persa e em raças correlatas, é também
importante fazer um tratamento preventivo de sua origem clínica. Isto é
particularmente importante no que diz respeito à natureza da
sintomatologia do gato, ou seja, tanto nos casos em que o paciente ainda
não apresentou sintomas de falência renal, quanto nos casos em que ele
já está totalmente incapaz.

Animais com doença renal policística (DRP), por ser uma doença
hereditária, necessitam de diagnóstico precoce, principalmente por
ultrassonografia. Portanto, como não há tratamento específico e, o
desenvolvimento de insuficiência renal crônica seja irreversível tendo
prognóstico severo para os animais acometidos por esta doença, ainda é
possível melhorar a qualidade de vida dos animais.

Pode-se ainda controlar a doença e até erradica-la no plantel, eliminando


da procriação animais com propensão à doença, através do diagnóstico
por imagem, como é o caso da ultrassonografia.

REFERÊNCIAS

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