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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

MARIA EDUARDA BERNARDES E SOUSA

AS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ACERCA DA LEI


13.964/2019: uma análise quanto à adequação ao bloco de constitucionalidade
vigente

Goiânia
2024
MARIA EDUARDA BERNARDES E SOUSA

AS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ACERCA DA LEI


13.964/2019: uma análise quanto à adequação ao bloco de constitucionalidade
vigente

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Goiás, como
requisito para obtenção do grau de
bacharel em Direito.

Orientador: Dr. Adegmar José Ferreira

Goiânia
2024
SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................................................1
ABSTRACT..................................................................................................................2
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................3
2 O CONCEITO DE BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE.......................................3
3 NOÇÕES SOBRE A LEI 13.964/2019.......................................................................5
4 PRINCIPAIS FUNDAMENTAÇÕES DAS DECISÕES..............................................7
4.1 Recurso Extraordinário nº 1.377.843/PR.............................................................7
4.2 Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.175.650/PR........................................7
4.3 Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.327.963/SP......................................10
4.4 Habeas Corpus nº 191.124/RO...........................................................................11
4.5 Habeas Corpus nº 194.677/SP............................................................................12
5 CLASSIFICAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DAS DECISÕES, CONFORME O
PERTENCIMENTO AO BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE...............................13
5.1 Sobre o método utilizado....................................................................................13
5.2 O resultado..........................................................................................................14
6 CLASSIFICAÇÃO DOS FUNDAMENTOS EXTERNOS AO BLOCO DE
CONSTITUCIONALIDADE........................................................................................15
7 CONCLUSÃO..........................................................................................................16
REFERÊNCIAS..........................................................................................................18
1

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar as decisões do Supremo


Tribunal Federal contidas no Recurso Extraordinário nº 1.377.843/PR, nos Recursos
Extraordinários com Agravo nº 1.175.650/PR e nº 1.327.963/SP e nos Habeas Corpus
nº 191.124/RO e nº 194.677/SP, todos acerca da Lei 13.964/2019. Essa lei, mais
conhecida como “Pacote Anticrime”, foi escolhida para delimitar o tema desta
pesquisa devido à sua relevância, como inovação legislativa, nos âmbitos do direito
penal e processual penal.
Tendo isso em vista, foi adotado como referencial teórico o conceito de
bloco de constitucionalidade mais aceito pela doutrina pátria atualmente, de forma
que, a partir dos dados levantados, os elementos utilizados pelos ministros da Corte
como fundamentação em cada decisão foram classificados, de forma quantitativa e
qualitativa, segundo o seu pertencimento ao referido bloco, nos moldes do método
científico estabelecido pelo filósofo do direito Alf Ross, um dos precursores do
pragmatismo jurídico, para análise de decisões judiciais.
Ao final da pesquisa, foi verificado que as decisões da Suprema Corte do
Brasil são apenas parcialmente adequadas ao bloco de constitucionalidade e
pontuadas possíveis razões que justificassem o resultado obtido.

Palavras-Chave: bloco de constitucionalidade; decisões do Supremo Tribunal


Federal; Pacote Anticrime; Lei 13.964/2019; realismo jurídico.
2

ABSTRACT

The present work aims to analyze the decisions of the Supreme Federal
Court of Brazil contained in Extraordinary Appeal Nº 1.377.843/PR, Extraordinary
Appeals with Aggravation Nº 1.175.650/PR and Nº 1.327.963/SP, and Habeas Corpus
Nº 191.124/RO and Nº 194.677/SP, all concerning Law 13.964/2019, also of Brazil.
This law, better known as the "Anti-Crime Package," was chosen to delimit the theme
of this research due to its relevance as a legislative innovation in the fields of Brazilian
criminal law and criminal procedural law.
For that reason, the most widely accepted concept of the constitutional
block in current Brazilian doctrine was adopted as the theoretical framework. Based
on the collected data, the elements used by the Court's justices as the basis for each
decision were classified, both quantitatively and qualitatively, according to their
adherence to this constitutional block. This classification followed the scientific method
established by legal philosopher Alf Ross, one of the pioneers of legal pragmatism, for
the analysis of judicial decisions.
At the end of the research, it was verified that the decisions of the Supreme
Court of Brazil are partially adequate to the constitutional block and pointed possible
reasons to explain the result.

Key words: constitutional block; Brazil’s Supreme Federal Court decisions; Anti-crime
Package; Law 13.964/2019 of Brazil; legal realism.
3

1 INTRODUÇÃO

A escolha do tema deste trabalho é decorrente da atual polarização política


brasileira, que reflete, também, na desconfiança de grande parte da população no
Poder Judiciário. Ver a quantidade de questionamentos sobre a lisura dos processos,
principalmente penais, que tramitam em todo o país, me incomodou bastante e me fez
refletir sobre alguns aspectos processuais.
Tendo isso em mente, delimitei como tema desta pesquisa a análise de
decisões do Supremo Tribunal Federal acerca da Lei 13.964/2019 quanto à
adequação ao bloco de constitucionalidade vigente. Como espaço amostral, serão
utilizadas as decisões contidas no Recurso Extraordinário nº 1.377.843/PR, nos
Recursos Extraordinários com Agravo nº 1.175.650/PR e nº 1.327.963/SP e nos
Habeas Corpus nº 191.124/RO e nº 194.677/SP.
Assim, o problema norteador do trabalho é “As decisões do Supremo
Tribunal Federal, acerca da Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime), são fundamentadas
de acordo com o bloco de constitucionalidade?”
Para responder o questionamento, será realizada uma análise verificando
o pertencimento das fundamentações de algumas decisões selecionadas do STF às
normas constitucionais vigentes. O objeto do estudo está contido nas esferas do
direito constitucional e do direito processual penal, uma vez que aborda, além do
procedimento penal, a adequação dos fundamentos dos votos dos Ministros do STF
ao Bloco de Constitucionalidade.
É importante ressaltar que, nesta pesquisa, serão analisadas as decisões
do STF exclusivamente em sua função de Tribunal Constitucional, guardião da
Constituição Federal, ao exercer a análise de questões concernentes aos direitos
difusos, coletivos, individuais e homogêneos. Isso significa que, para os efeitos deste
trabalho, serão desconsideradas as demais funções do STF, como, por exemplo, o
julgamento de processos de foro de prerrogativa de função.

2 O CONCEITO DE BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE

O referencial teórico da presente pesquisa é o conceito de Bloco de


Constitucionalidade constante na obra “Curso de Direito Constitucional”, do jurista
Uadi Lammêgo Bulos, em sua 16ª edição, publicada em 2023, uma vez que é o
4

conceito mais aceito pela doutrina pátria atualmente. Entretanto, para que haja plena
compreensão acerca do tema, é necessário contextualizar o surgimento, o
desenvolvimento desse conceito e sua aplicação no ordenamento jurídico brasileiro.
A expressão “bloco de constitucionalidade”, também conhecida como
“parâmetro de constitucionalidade”, foi criada no âmbito do direito francês, quando o
Conselho Constitucional da França, por meio da Decisão nº 71-44 DC de 16 de julho
de 1971, definiu que os direitos fundamentais descritos tanto na Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, quanto no preâmbulo da Constituição de
1946 também integravam a Constituição de 1958. Dessa forma, emergiu a
possibilidade de normas formalmente inconstitucionais integrarem, de fato, o corpo
constitucional de um Estado.
Posteriormente, com a incorporação dessa situação aos diferentes
ordenamentos jurídicos existentes, passou-se a questionar a delimitação do próprio
conceito de bloco de constitucionalidade e quais seriam os critérios para que as
normas pudessem integrá-lo, cada uma em seu respectivo sistema.
Há uma corrente, que trata o bloco de constitucionalidade como “o conjunto
normativo que contém disposições, princípios e valores materialmente constitucionais
fora do texto da Constituição formal” (Bidart, 1995, p. 264). Nesse sentido, o próprio
texto constitucional não integraria o bloco, de forma que este seria reservado às
normas apenas materialmente constitucionais.
Entretanto, quando analisamos o entendimento doutrinário nacional,
verificamos, basicamente, dois conceitos, sendo um amplo e outro restrito. Entretanto,
em ambos se considera que o texto constitucional (em suas normas não revogadas)
integra o bloco, superando o entendimento de Bidart.
O conceito amplo foi abordado com maestria pelo Ministro Celso de Mello
no julgamento da ADI nº 595/ES, em 18 de fevereiro de 2002, conforme o trecho
descrito abaixo.
“A DEFINIÇÃO DO SIGNIFICADO DE BLOCO DE
CONSTITUCIONALIDADE - INDEPENDENTEMENTE DA ABRANGÊNCIA
MATERIAL QUE SE LHE RECONHEÇA - REVESTE-SE DE
FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA NO PROCESSO DE FISCALIZAÇÃO
NORMATIVA ABSTRATA, POIS A EXATA QUALIFICAÇÃO CONCEITUAL
DESSA CATEGORIA JURÍDICA PROJETA-SE COMO FATOR
DETERMINANTE DO CARÁTER CONSTITUCIONAL, OU NÃO, DOS ATOS
ESTATAIS CONTESTADOS EM FACE DA CARTA POLÍTICA [...] É POR
TAL MOTIVO QUE OS TRATADISTAS - CONSOANTE OBSERVA JORGE
XIFRA HERAS (“CURSO DE DERECHO CONSTITUCIONAL”, P. 43) -, EM
VEZ DE FORMULAREM UM CONCEITO ÚNICO DE CONSTITUIÇÃO,
COSTUMAM REFERIR-SE A UMA PLURALIDADE DE ACEPÇÕES,
5

DANDO ENSEJO À ELABORAÇÃO TEÓRICA DO CONCEITO DE BLOCO


DE CONSTITUCIONALIDADE (OU DE PARÂMETRO CONSTITUCIONAL),
CUJO SIGNIFICADO - REVESTIDO DE MAIOR OU DE MENOR
ABRANGÊNCIA MATERIAL - PROJETA-SE, TAL SEJA O SENTIDO QUE
SE LHE DÊ, PARA ALÉM DA TOTALIDADE DAS REGRAS
CONSTITUCIONAIS MERAMENTE ESCRITAS E DOS PRINCÍPIOS
CONTEMPLADOS, EXPLICITA OU IMPLICITAMENTE, NO CORPO
NORMATIVO DA PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO FORMAL, CHEGANDO, ATÉ
MESMO, A COMPREENDER NORMAS DE CARÁTER
INFRACONSTITUCIONAL, DESDE QUE VOCACIONADAS A
DESENVOLVER, EM TODA A SUA PLENITUDE, A EFICÁCIA DOS
POSTULADOS E DOS PRECEITOS INSCRITOS NA LEI FUNDAMENTAL,
VIABILIZANDO, DESSE MODO, E EM FUNÇÃO DE PERSPECTIVAS
CONCEITUAIS MAIS AMPLAS, A CONCRETIZAÇÃO DA IDEIA DE ORDEM
CONSTITUCIONAL GLOBAL. [...]” (BRASIL, STF. ADI 595-ES. REL.
MINISTRO CELSO DE MELLO, 2002)

O conceito restritivo, no entanto, descarta a possibilidade de as normas


infraconstitucionais integrarem o bloco de constitucionalidade, de forma que ele
consistiria, basicamente, no texto constitucional (exceto o preâmbulo, conforme
entendimento pacificado do STF) e nos tratados internacionais de direitos humanos
incorporados internamente, bem como os princípios explícitos e implícitos constantes
em ambos, (Bulos, 2023, p. 291). De todos os que foram citados, este é o conceito de
“bloco” (ou “parâmetro”) de constitucionalidade mais aceito pela doutrina brasileira nos
dias de hoje e, por isso, norteará a presente pesquisa como referencial teórico, como
citado anteriormente.

3 NOÇÕES SOBRE A LEI 13.964/2019

Mais conhecida como “Pacote Anticrime”, a Lei 13.964/2019, em


conformidade com o disposto em seu artigo 1º, foi elaborada para aperfeiçoar a
legislação penal e processual penal. Por isso, realizou alterações em dispositivos de
mais de 15 leis, estando entre elas o Código Penal, o Código de Processo Penal, a
Lei de Execuções Penais e a Lei de Drogas.
Suas inovações buscam equilibrar a necessidade de combate efetivo à
criminalidade com a garantia dos direitos fundamentais dos investigados e acusados,
contribuindo para um sistema mais justo e eficiente. Essas características fizeram com
que a lei se tornasse um marco de modernização no sistema de justiça criminal no
Brasil. Vale ressaltar que tais mudanças não se limitaram à esfera penal, mas
refletiram em diversas outras áreas jurídicas, a exemplo do direito civil, ao estabelecer
o acordo de não persecução cível.
6

Um dos grandes avanços que promoveu foi a instituição do juiz das


garantias, que deverá atuar na fase de investigação criminal, tomando decisões sobre
medidas cautelares, mas ficará impedido de julgar o mérito da causa, pois essa
competência será de outro magistrado. Esta mudança visa separar as funções de
instrução e de julgamento, evitando que o juiz que autorizou diligências durante a
investigação seja o mesmo a julgar o caso, visando maior imparcialidade.
Sobre esse caso, inclusive, é importante destacar que a Associação dos
Magistrados Brasileiros ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 6298/DF ,
requerendo, em sede de medida cautelar de urgência, a suspensão da eficácia dos
artigos que versam sobre a implantação do juiz das garantias e de seus consectários
(artigos 3º-A, 3º- B, 3º- C, 3º-D, 3º-E e 3º-F, do Código de Processo Penal), tendo em
vista a magnitude das implicações orçamentárias e logísticas que sua aplicação
imediata causaria ao Poder Judiciário como um todo. Sendo essa uma matéria de
suma importância, pretendo analisar a referida ADI academicamente em momento
posterior, pois o prazo regimental para a realização deste trabalho não permitiria que
o fizesse na presente oportunidade.
Também são exemplos de mudanças relevantes feitas pela Lei
13.964/2019 no ordenamento jurídico brasileiro a elevação para quarenta anos do
tempo máximo da pena cumprida em reclusão, a instituição da legítima defesa
protetiva, a inclusão da majorante do uso de arma branca ao crime de roubo, a criação
do acordo de não persecução penal, que será explorado no tópico seguinte, e a
reanálise da prisão preventiva pelo magistrado a cada noventa dias.
Assim, tendo em vista a importância do Pacote Anticrime em matéria penal,
decidi utilizar como espaço amostral da presente pesquisa os acórdãos de cinco
recursos extraordinários que tramitam (ou já passaram em julgado) no Supremo
Tribunal Federal cujos méritos envolvem a Lei 13.964/2019. Desses cinco, três
acórdãos foram escolhidos por disporem sobre matéria de repercussão geral, ou seja,
que é analisada pelo tribunal pleno, sendo eles o RE 1.377.843/PR, o ARE
1.175.650/PR e o ARE 1.327.963/SP. Os outros dois acórdãos foram escolhidos por
tratarem de matéria relevante, sendo um de cada turma do Tribunal, por motivos de
simetria, são eles o HC 191.124/RO e o HC 194.677/SP.
Dito isso, passo a comentar sobre cada um dos recursos para
contextualizá-los e discriminar os principais fundamentos utilizados pelos ministros em
seus votos.
7

4 PRINCIPAIS FUNDAMENTAÇÕES DAS DECISÕES

4.1 Recurso Extraordinário nº 1.377.843/PR

Em primeiro lugar, temos o Recurso Extraordinário nº 1.377.843, do estado


do Paraná. Nele foi questionada a competência subsidiária da Procuradoria da
Fazenda Nacional para executar penas de multa, em conformidade com o rito da Lei
de Execuções Fiscais, em caso de omissão do Ministério Público Federal.
A partir desse recurso, o tribunal pleno editou o Tema 1.219 da
Repercussão Geral, fixando a tese de que apenas o Ministério Público detém a
competência para cobrar multas criminais, que devem realizadas nas varas de
execuções criminais, pelo que não há que se falar em competência subsidiária da
Fazenda Pública para cobrar judicialmente tais multas.
A votação foi unânime no Plenário, pois todos os ministros seguiram o voto
do Relator, Ministro André Mendonça que, em sua análise, citou o artigo 5º, inciso
XLVI, alínea “c”, da Constituição Federal e destacou o artigo 51, caput, do Código
Penal, cuja redação foi dada pela Lei 13.964/2019, bem como a aplicabilidade da
modulação de efeitos formulada na ADI 3.150, que estabeleceu a competência da
Procuradoria da Fazenda Nacional para executar judicialmente as penas pecuniárias
referentes aos processos em que o Ministério Público manteve-se inerte apenas até
a data do julgamento.
Sendo assim, o Sr. Ministro embasou-se em três elementos jurídicos,
sendo o art. 5º, XLVI, c, da Constituição Federal o único elemento interno e o art. 51
do CP e a jurisprudência (ADI 3.150) os dois elementos externos ao Bloco de
Constitucionalidade vigente.

4.2 Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.175.650/PR

O Recurso Extraordinário nº 1. 175.650, também do estado do Paraná,


trata, em suma, da possibilidade da extensão dos efeitos do acordo de colaboração
premiada, previsto pela Lei 12.850/2013, ao âmbito cível, em ação que visa a
8

responsabilização de agentes por ato de improbidade administrativa, movida pelo


Ministério Público.
Inicialmente, o Ministro Relator ressaltou que o combate à corrupção deve
ser prioridade absoluta de todos os órgãos públicos, tanto pelo privilégio dado pela
Constituição Federal ao enfrentamento aos atos ímprobos da administração pública
(expresso em seu art. 37, § 4º) quanto pelo fato de a corrupção ser a própria negativa
do Estado Constitucional, cuja administração tem como princípios fundamentais a
legalidade, a impessoalidade e a moralidade.
Após, destacou que, conforme o inciso I, do art. 3º, da Lei 12.850/2013, a
colaboração premiada tem natureza jurídica de meio de produção de prova, de forma
que não deve ser confundida com as hipóteses de justiça consensual.
Indicou, também, a importância da legislação infraconstitucional que
abarca inovações em justiça consensual, embasando-se nas leis de nºs. 7.347/1985,
9.099/1995, 9.034/1995, 8.072/1990, 8.137/1990, 9.269/1996, 11.343/2006,
9.807/1999, 9.613/1998, bem como nos seguintes tratados internacionais ratificados
pelo Brasil:
a. Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos
Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, da OCDE;
b. Convenção Interamericana contra a Corrupção, da OEA;
c. Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, da ONU; e
d. Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional, da ONU.
Tais normas são elementos de uma evolução histórica que sustentou a
edição das leis de nºs. 12.846/2013, 12.850/2013 e 13.140/2015, que dispõem sobre
os acordos de leniência, de colaboração premiada e de autocomposição entre
particulares e administração pública, mecanismos que ampliam a eficácia da Lei
8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa).
Especificamente sobre o caso concreto, pautando-se nos arts. 12 e 17, §2º,
da Lei 8.429/1992 e no art. 16, §3º, da Lei. 12.846/2013, o Sr. Ministro afirmou que,
desde que o acordo de colaboração premiada não isente o colaborador de ressarcir o
prejuízo ao erário, o acordo de colaboração poderá ser homologado pelo juiz e seus
efeitos estendidos à esfera cível.
Em ato contínuo, o Sr. Ministro Luís Roberto Barroso acompanhou o voto
do Relator, seguido pela Sra. Ministra Rosa Weber, que, por meio de voto vogal,
9

destacou a jurisprudência do Tribunal e os §§ 7º e 8º, do art. 4º, da Lei 12.850/2013,


que preveem apenas a apreciação de legalidade, para efeitos de homologação, do
acordo firmado entre as partes pelo magistrado. Amparou-se, ainda, na doutrina pátria
e no art. 422 do Código Civil para afirmar que a margem de negociação entre o
Ministério Público e o colaborador pode abarcar cláusulas e sanções não previstas
em lei, inclusive em áreas diversas à criminal, respeitados os deveres de lealdade e
de confiança, corolários do princípio da boa-fé objetiva.
Ademais, ressaltou que o ressarcimento aos cofres públicos não é uma
pena, mas uma obrigação de reparação, sob regime de imprescritibilidade, conforme
o §5º, do art. 37, da Constituição Federal, acolhendo integralmente a tese proposta
pelo Ministro Relator.
Em seguida, o Sr. Ministro Edson Fachin, ao votar, com fulcro nos arts. 5º,
II, 37, §§ 4º e 5º e 129, III e §1º da Constituição, combinados com o art. 6º do Código
de Processo Civil, também reconheceu a possibilidade de utilização do acordo de
colaboração premiada na esfera cível, desde que respeitados os direitos fundamentais
do colaborador, a imprescritibilidade do ressarcimento ao erário e os limites do
respectivo acordo, como forma de preservação da coerência do ordenamento jurídico.
Em sequência, o Sr. Ministro Dias Toffoli proferiu seu voto, também em
concordância com o Relator, no sentido de que, com a nova redação do art. 12 da Lei
8.429/09, deixou de existir a necessidade de aplicação de todas as sanções (penais,
civis e administrativas) cominadas, conferindo discricionariedade ao magistrado para
aplicar as sanções pertinentes a cada caso, considerando a gravidade dos fatos. Além
disso, relembrou que, com o advento da Lei 14.230/2021, surgiu, até mesmo, a
possibilidade de celebração de acordo de não persecução cível pelo Ministério
Público, o que ratifica o cabimento da utilização do acordo de colaboração premiada
em áreas diversas à criminal.
Por fim, o Sr. Ministro Gilmar Mendes, também em conformidade com o
posicionamento do Ministro Relator, acrescentou que realmente existia dispositivo que
vedava a celebração de qualquer acordo nas ações concernentes à Lei de
Improbidade Administrativa, mas que houve a sua revogação expressa em 2015 pela
Medida Provisória de nº 703. Concluindo, ressaltou a necessidade de oitiva do
Tribunal de Contas competente para avaliação da adequação do valor arbitrado pelo
Ministério Público, em sede de acordo de colaboração premiada, para fins de
ressarcimento aos cofres públicos.
10

Nesse sentido, a tese fixada pelo tribunal pleno, no Tema 1.043 da


Repercussão Geral diz que:
É constitucional a utilização da colaboração premiada, nos termos da Lei
12.850/2013, no âmbito civil, em ação civil pública por ato de improbidade
administrativa movida pelo Ministério Público, observando-se as seguintes
diretrizes: (1) Realizado o acordo de colaboração premiada, serão remetidos
ao juiz, para análise, o respectivo termo, as declarações do colaborador e
cópia da investigação, devendo o juiz ouvir sigilosamente o colaborador,
acompanhado de seu defensor, oportunidade em que analisará os seguintes
aspectos na homologação: regularidade, legalidade e voluntariedade da
manifestação de vontade, especialmente nos casos em que o colaborador
está ou esteve sob efeito de medidas cautelares, nos termos dos §§ 6º e 7º
do artigo 4º da referida Lei 12.850/2013; (2) As declarações do agente
colaborador, desacompanhadas de outros elementos de prova, são
insuficientes para o início da ação civil por ato de improbidade; (3) A
obrigação de ressarcimento do dano causado ao erário pelo agente
colaborador deve ser integral, não podendo ser objeto de transação ou
acordo, sendo válida a negociação em torno do modo e das condições para
a indenização; (4) O acordo de colaboração deve ser celebrado pelo
Ministério Público, com a interveniência da pessoa jurídica interessada e
devidamente homologado pela autoridade judicial; (5) Os acordos já firmados
somente pelo Ministério Público ficam preservados até a data deste
julgamento, desde que haja previsão de total ressarcimento do dano, tenham
sido devidamente homologados em Juízo e regularmente cumpridos pelo
beneficiado. (ARE 1175650, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES,
Tribunal Pleno, julgado em 03-07-2023, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-s/n DIVULG 04-10-2023 PUBLIC
05-10-2023) (grifo meu)

Sendo assim, foram suscitados pelos ministros, ao todo, noventa e nove


elementos jurídicos para fundamentar a decisão final, sendo os arts. 5º, II; 37, §§ 4º e
5º; 129, III e §1º da Constituição Federal os cinco elementos internos ao Bloco de
Constitucionalidade vigente, sendo os noventa e cinco restantes, elementos externos
a ele, distribuídos entre dispositivos legais infraconstitucionais, disposições
doutrinárias, jurisprudências e artigos científicos.

4.3 Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.327.963/SP

No que se refere ao recurso em comento, a parte Recorrente suscitou o


vácuo legislativo sobre a progressão de regime de pena para pessoas condenadas
inicialmente por crime comum, com reincidência em crime hediondo sem resultado
morte, ou seja, reincidentes não específicos em crime hediondo.
No julgamento, o Tema 1.169 da Repercussão Geral foi fixado pelo tribunal
pleno, editando a tese de que, haja vista a legalidade e a taxatividade da norma penal,
em relação ao artigo 112 da Lei de Execuções Penais, pela omissão legislativa em
11

sua redação, deve ser realizada integração pela analogia in bonam partem ao
condenado por crime hediondo ou equiparado sem resultado morte reincidente não
específico.
O Relator do caso, Sr. Ministro Gilmar Mendes, iniciou demonstrando a
relação entre o pleito da Recorrente e as disposições dos incisos XXXIX e XL, do
artigo 5º, da Constituição Federal, que dispõem sobre os princípios da legalidade e da
taxatividade das leis penais.
Após, julgou o mérito por reafirmação de jurisprudência, citando seis
precedentes do STF acerca da matéria e reconheceu a omissão legislativa no que
tange à progressão de pena de reincidentes não específicos em crimes hediondos,
com fulcro no artigo 112 da Lei de Execuções Penais. Por fim, embasou-se na doutrina
para concluir que, aos casos similares, deve ser realizada analogia in bonam partem.
O julgamento desse recurso foi quase unânime, de modo que apenas o Sr.
Ministro Luiz Fux divergiu do voto do Relator. Sendo assim, verifica-se que o Plenário,
ao concordar com o Relator em sua maioria, embasou-se em treze elementos
jurídicos, sendo os incisos XXXIX e XL, do art. 5º, da CF os dois elementos internos
e o art. 112 da LEP, juntamente à uma disposição da doutrina e à nove
jurisprudências, os onze elementos externos ao Bloco de Constitucionalidade vigente.

4.4 Habeas Corpus nº 191.124/RO

No Habeas Corpus nºs 191.124/RO, da Primeira Turma do STF, foi


discutido se o acusado teria o direito a um acordo de não persecução penal ou se a
propositura do referido acordo seria ato discricionário do Ministério Público. Restou
decidido de forma unânime nas duas turmas que o Código de Processo Penal é claro
ao dispor que é facultado ao Ministério Público propor o acordo de não persecução
penal.
O Sr. Ministro Alexandre de Moraes, Relator do recurso em comento,
inaugurou sua análise constatando a privatividade que o Ministério Público detém
sobre a ação penal pública, citando o artigo 129, I, da Constituição Federal. Em
seguida, ressaltou o surgimento de novas políticas criminais que ampliaram as opções
de atuação do Ministério Público, como as previsões da transação penal e da
suspensão condicional do processo constantes na Lei 9.099/1995, além do acordo de
não persecução penal (ANPP) trazido pela Lei 13.964/2019.
12

Em ato contínuo, o Ministro Relator destacou a clareza do caput do artigo


28-A do CPP ao dispor que o Ministério Público tem a faculdade de propor acordo de
não persecução penal, o que significa dizer que o referido instrumento não constitui
um direito subjetivo do acusado. Utilizou, também, da jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça, combinada com o inciso II, do §2º, do artigo 28-A do CPP no que
se refere à possibilidade de se firmar ANPP no caso concreto, tendo em vista que há
concurso de crimes.
Logo, verifica-se que a Primeira Turma do STF decidiu, por unanimidade,
ao acompanhar o Sr. Relator, com fulcro em seis elementos jurídicos, sendo o art.
129, I, da CF o único elemento interno e o art. 28-A, caput e §2º, II, do CPP, juntamente
à Lei 9.099 e à duas jurisprudências, os cinco elementos externos ao Bloco de
Constitucionalidade vigente.

4.5 Habeas Corpus nº 194.677/SP

O Habeas Corpus nº 194.677/SP, da Segunda Turma do STF, trata da


mesma matéria que o último caso citado. A disparidade entre as duas decisões reside
apenas no fato de que, no HC 194.677/SP, foi determinado que o ato do procurador
da República que negou a oferta do ANPP à paciente fosse enviado à Câmara de
Revisão do Ministério Público Federal.
O julgamento iniciou-se, como prevê o procedimento, com a manifestação
do Relator, o Sr. Ministro Gilmar Mendes, que iniciou sua fala explicitando que, pelo
caso concreto tratar do crime de tráfico de drogas, cuja pena mínima é de 05 anos de
reclusão (art. 33, Lei 11.343/2006), o ANPP foi requerido pela possibilidade de
aplicação do “tráfico privilegiado” , fator redutor da pena, situação prevista no § 1º do
art. 28-A do CPP.
De forma similar ao caso analisado no tópico anterior, o Ministério Público
se recusou a ofertar o ANPP e foi pleiteado o reconhecimento do direito da paciente
à firmação do referido acordo, bem como o dever do juízo de primeiro grau remeter
os autos ao órgão superior do MP para reanálise. Cumpre ressaltar que, no caso,
também houve prolação de sentença pelo juízo a quo.
Passando ao exame da matéria, o Ministro Relator destacou que a própria
jurisprudência do STF já firmou que não cabe ao Poder Judiciário impor ao Ministério
Público a obrigação de ofertar qualquer tipo de acordo em âmbito penal. Entretanto,
13

pautado no § 14 do art. 28-A do CPP e na Súmula 696 da Suprema Corte, reconheceu


o direito do investigado de ter a recusa ao oferecimento do ANPP revisada pelo
Procurador-Geral de Justiça.
Por meio de voto vogal, o Sr. Ministro Nunes Marques ratificou o voto do
Relator, apenas pontuando que a celebração de acordo com o Ministério Público não
é direito subjetivo do investigado justamente pelo seu caráter negocial, caracterizado
pela discricionariedade das partes na celebração do ato, mesmo que preenchidos os
requisitos do art. 28-A do CPP, amparando-se, também, na doutrina pátria e na
jurisprudência do Tribunal.
Em seguida, o Sr. Ministro Edson Fachin exarou seu voto, seguido pela
Sra. Ministra Cármen Lúcia, ambos também em concordância com o Relator, sendo
que esta última ressaltou que, assim como para a suspensão condicional do processo,
prevista no art. 89 da Lei 9.099/1995, ter a sentença como o marco final para o
oferecimento do ANPP asseguraria maior efetividade ao disposto no art. 5º, XL da
Constituição Federal.
Por fim, o Sr. Ministro Ricardo Lewandowski, com base nos §§§§ 2°, 7º, 13º
e 14º do art. 28-A do CPP, divergiu do Ministro Gilmar Mendes apenas para defender
a anulação da sentença condenatória de primeiro grau até a manifestação motivada
do órgão superior do Ministério Público Federal sobre a recusa do procurador a ofertar
o ANPP no caso concreto, mas foi vencido pelo colegiado, de forma que a decisão foi
prolatada nos termos do voto do Relator.
Assim, verifico que a decisão foi embasada por vinte e nove elementos
jurídicos, sendo o art. 5º, XL, da CF o único elemento interno e os arts. 28, 28-A, caput
e §§§§§ 1º, 2º, 7º, 13º e 14º, do CPP, juntamente ao art. 89, da Lei 9.099/1995, à
cindo disposições doutrinárias e à quinze jurisprudências os 28 elementos externos
ao Bloco de Constitucionalidade vigente.

5 CLASSIFICAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DAS DECISÕES, CONFORME O


PERTENCIMENTO AO BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE

5.1 Sobre o método utilizado


14

Compulsando os casos supracitados, é possível verificar que, ao todo,


foram suscitados pelos julgadores, como embasamento das decisões, setenta e sete
elementos jurídicos, entre normas constitucionais, normas infraconstitucionais
(inclusive oriundas de tratados internacionais que foram ratificados pelo Brasil),
jurisprudência e doutrina.

A partir desses dados, é possível realizar a análise dos elementos


supracitados quanto à sua adequação ao Bloco de Constitucionalidade vigente no
Brasil. Para isso, o método de discriminação será o estabelecido pelo jurista Alf Ross,
um dos grandes nomes do Pragmatismo Jurídico, na obra Direito e Justiça , que
integra, conforme a filosofia do direito, o Realismo Jurídico Escandinavo.

Ross discrimina os elementos utilizados pelos juízes como fundamento


para suas decisões em elementos internos ou externos ao direito. Sendo os elementos
internos aqueles pertencentes ao ordenamento jurídico e os externos aqueles
fundamentos oriundos de outras áreas do conhecimento, como a filosofia e a
sociologia.

Entretanto, para os efeitos desta pesquisa, foi necessário realizar uma


adaptação no método criado por Ross, uma vez que o objeto deste trabalho são as
decisões de uma Corte Suprema, que circunscrevem matéria constitucional. Assim,
em vez de discriminar os elementos fundamentadores das decisões dos ministros em
“elementos internos ou externos ao direito”, eles foram distinguidos em “elementos
internos e externos ao bloco de constitucionalidade”, sendo este último termo a própria
fundamentação teórica deste trabalho.

5.2 O resultado

Conforme citado anteriormente, a soma dos elementos basilares das


decisões dos ministros encontrados constitui o total de 150 (cento e cinquenta), ao
passo que, realizando a soma dos elementos internos ao Bloco de Constitucionalidade
vigente no Brasil, verifica-se o número 10 (dez).
Diante disso, por meio de cálculo simples, o resultado que se obteve foi
que, aproximadamente 6,5% (seis e meio por cento) dos elementos fundamentadores
15

dos julgamentos do STF acerca da Lei 13.964 são internos ao Bloco de


Constitucionalidade, sendo os outros 93,5% (noventa e três por cento) externos a ele,
ao menos no espaço amostral da presente pesquisa, conforme o gráfico a seguir.

Gráfico 1 - Classificação dos elementos jurídicos segundo seu pertencimento ao Bloco de


Constitucionalidade

160

140

120

100

80

60

40

20

Elementos Internos - 6,5% Elementos Externos - 93,5%

Fonte: elaborado pela autora (2024).


É válido ressaltar que, dentre os elementos internos ao Bloco de
Constitucionalidade, encontram-se apenas normas constitucionais propriamente
ditas, pois não foram suscitados dispositivos oriundos, por exemplo, de tratados
internacionais sobre direitos humanos que tenham sido ratificados pelo Brasil.

6 CLASSIFICAÇÃO DOS FUNDAMENTOS EXTERNOS AO BLOCO DE


CONSTITUCIONALIDADE

Aprofundando a análise iniciada no tópico anterior, foi possível verificar


que, dentre os elementos externos ao Bloco de Constitucionalidade não há muita
variação, pois são divididos, basicamente, em quatro: dispositivos legais
infraconstitucionais, jurisprudência, doutrina e artigos científicos.
16

Discriminando-os, o resultado encontrado é de que 42% (quarenta e dois


por cento) dos elementos têm natureza de dispositivos legais infraconstitucionais, 33%
(trinta e três por cento) têm natureza jurisprudencial, 20% (vinte por cento) têm
natureza doutrinária e 5% (cinco por cento) têm natureza de artigo científico, conforme
ilustrado a seguir:

Gráfico 2 - Classificação dos Elementos Externos ao Bloco de Constitucionalidade Segundo a


Natureza

Dispositivos Legais Infraconstitucionais - 42%


Jurisprudência - 33%
Doutrina - 20%
Artigos Científicos - 5%
Fonte: elaborado pela autora (2024).
Diante do exposto, é evidente que, ao menos no espaço amostral desta
pesquisa, a principal fonte de elementos fundamentadores das decisões do STF
acerca da Lei 13.964/2019 é a legislação infraconstitucional combinada com a
jurisprudência. Cumpre ressaltar que a categoria dos dispositivos legais
infraconstitucionais inclui os tratados internacionais (de matéria diversa aos direitos
humanos) ratificados pelo Brasil, uma vez que possuem status de lei ordinária.

7 CONCLUSÃO

Tendo em vista tudo o que foi analisado, concluo que as decisões do STF
quanto à Lei 13.964/2019, considerando o espaço amostral analisado, são
parcialmente adequadas ao Bloco de Constitucionalidade vigente hoje no Brasil,
17

uma vez que a esmagadora maioria (93,5%) dos elementos jurídicos que compõem
as decisões firmadas são externos a ele, e são constituídos basicamente de legislação
infraconstitucional, jurisprudência e doutrina, enquanto os elementos que integram o
Bloco se resumem a 6,5% do que fora apresentado pelos ministros.

Diante disso, somos instigados a pensar na razão para que uma parcela
tão pequena dos elementos jurídicos citados seja interna ao Bloco de
Constitucionalidade. Não cabe a mim fazer um juízo de valor sobre a atuação dos
ministros da Suprema Corte, até porque não há dados ou condições para isso, da
mesma forma que, em uma ação penal, ao realizar a dosimetria da pena, um juiz
normalmente não é capaz de traçar a personalidade do acusado apenas pelo que
consta nos autos. Concerne a mim, então, traçar prováveis razões para o fenômeno
observado nessa pesquisa que estejam ligadas ao nosso ordenamento jurídico.

A princípio, pode-se questionar o juízo de admissibilidade realizado nos


recursos que chegam ao STF, tendo em vista o grande teor de matérias
infraconstitucionais levantadas em seus julgamentos. Se fosse o caso, haveria uma
clara invasão à competência dos Tribunais Superiores, responsáveis por julgar, em
última instância, as matérias de teor puramente infraconstitucional. Entretanto, a
Constituição Federal e os códigos processuais vigentes são claros ao estabelecer os
critérios para que uma ação ou recurso seja conhecido pelo Supremo.

Por outro lado, há que se considerar a quantidade de matérias incorporadas


à Constituição de 1988 pela Assembleia Constituinte. De acordo com a doutrina pátria,
nossa Constituição abarca inúmeras questões que ultrapassam as normas
tipicamente constitutivas de Estado e da sociedade, de modo que é classificada como
uma constituição analítica ou prolixa (Fernandes, 2021).

De fato, se considerarmos a existência de dispositivos que tratam sobre a


política agrícola e fundiária do Estado, sobre a previdência social e sobre o direito do
consumidor na Constituição Federal de 1988, obviamente o julgador da Suprema
Corte deverá se pautar, também, em dispositivos infraconstitucionais. Isso porque
uma constituição, por mais pormenorizada que seja, não é capaz de abarcar todos os
elementos dos assuntos que se dispõe a nortear, até porque essa é a razão de existir
todo um ordenamento jurídico diversificado, composto por normas de hierarquias
variadas.
18

Portanto, a partir dos dados apontados e das considerações feitas,


considero que a grande discrepância entre os elementos internos e externos ao Bloco
de Constitucionalidade que fundamentam as decisões dos Ministros do STF deve ser
oriunda da quantidade de matérias (até mesmo específicas) abordadas pela atual
Constituição da República Federativa do Brasil.

REFERÊNCIAS

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 16ª edição. São Paulo: Ed.
Saraiva, 2023.

FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 13ª edição.


Salvador: Ed. Juspodivm, 2021.

ROSS, Alf. Direito e justiça. 2ª edição. São Paulo: EDIPRO, 2007.

BIDART, German J. Campos. El Derecho de la Constituición y su Fuerza Normativa.


Buenos Aires: Ediar, 1995. p. 264.

BRASIL. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/l13964.htm. Acesso em:
22 jul. 2024.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 jul.
2024.

FRANÇA. Conselho Constitucional. Decisão nº 71-44 DC. Julgado em 16 jul. 1971.


Disponível em: https://www.conseil-constitutionnel.fr/decision/1971/7144DC.htm.
Acesso em 8 mai. 2024.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 194.677/SP. Relator(a): Min.


Gilmar Mendes, 11 de maio de 2021. Disponível em:
https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15347297707&ext=.pdf.
Acesso em: 22 jul. 2024.
19

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 191124/RO. Relator(a): Min.


Alexandre de Moraes, 8 de abril de 2021. Disponível em:
https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15346139855&ext=.pdf.
Acesso em: 22 jul. 2024.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário com Agravo nº 1327963


RG/SP. Relator(a): Min. Gilmar Mendes, 16 de setembro de 2021.
Disponível em:
https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15355875971&ext=.pdf.
Acesso em: 22 jul. 2024.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário com Agravo nº 1175650


RG/PR. Relator(a): Min. Alexandre de Moraes, 3 de julho de 2023. Disponível em:
https://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15361666833&ext=.pdf.
Acesso em: 22 jul. 2024.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno. Recurso Extraordinário nº


1377843 RG/PR. Relator(a): Min. André Mendonça, 7 de fevereiro de 2023. Disponível
em: https://portal.stf.jus.br/processos/downloadTexto.asp?id=5707281&ext=RTF.
Acesso em: 22 jul. 2024.

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