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Revista Ibero‐Americana de

Journals Homepage:
www.sustenere.co/journals Ciências Ambientais, Aquidabã,
v.5, n.1, Dez 2013, Jan, Fev, Mar,
Abr, Mai 2014.
ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AGRICULTURA
ORGÂNICA E CONVENCIONAL NO CULTIVO DE ISSN 2179‐6858
MORANGO EM RANCHO QUEIMADO (SC)
RESUMO SECTION: Articles
TOPIC: Gestão Ambiental
Os primeiros sistemas de cultivo existentes no mundo eram orgânicos, praticados
nos arredores das moradias dos produtores em terras fertilizadas naturalmente, sem
exigir um adicional de qualidade. Mas, após a Revolução Industrial houve um
grande aumento do uso da adubação química na atividade agrícola, deixando de
considerar os custos econômico, social e ambiental para se obter um maior DOI: 10.6008/SPC2179‐6858.2014.001.0008
rendimento da cultura. Nesse contexto, este artigo tem como objetivo realizar uma
análise comparativa do cultivo de morango na agricultura orgânica e convencional
em Rancho Queimado/SC. Para atingir tal finalidade, foram aplicados questionários
in loco com produtores de ambos os sistemas de cultivo, composto por indicadores
sociais, ambientais e econômicos, que compreendem desde o histórico do agricultor Paulo Bispo da Silva Junior
e da propriedade; posse da terra; tamanho da propriedade; até as formas de venda
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
do produto. Os resultados apontam que os métodos orgânicos de produção são [email protected]
técnica e economicamente viáveis quando comparados aos métodos convencionais
de agricultura, apresentando produtividade proporcionalmente maior com uso de
técnicas alternativas e sustentáveis. Em contrapartida, é perceptível que os
Paula de Souza
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
sistemas orgânicos em sua operação são mais dispendiosos que os sistemas
[email protected]
convencionais de cultivo, exigindo mais tempo para manutenção e investimentos
constantes. Adicionalmente, notou-se que na presente pesquisa e em alguns
estudos anteriores, a receita auferida com a venda do produto orgânico pode ser Rosimeri Maria de Souza
mais alta se comparada ao convencional. Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
http://lattes.cnpq.br/5234487447872085
[email protected]
PALAVRAS-CHAVES: Agricultura Orgânica; Agricultura Convencional; Indicadores.

Rogério João Lunkes


Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
STUDY COMPARATIVE BETWEEN CONVENTIONAL AND http://lattes.cnpq.br/6241003358183170
[email protected]
ORGANIC AGRICULTURE IN STRAWBERRY
CULTIVATION IN RANCHO QUEIMADO/SC
ABSTRACT

The first cropping systems in the world were organic, practiced around the dwellings
of farmers on land fertilized naturally, without requiring an additional quality. But,
after the Industrial Revolution there was a large increase in the use of chemical
fertilizers in agriculture, consider the costs of leaving economic, social and
environmental to obtain a higher crop yield. In this context, this paper aims to Received: 07/11/2013
conduct a comparative analysis of strawberry cultivation in organic and conventional
agriculture in Rancho Queimado/SC. To achieve this purpose, questionnaires were Approved: 15/04/2014
filled in situ with producers of both cropping systems, composed of social indicators, Reviewed anonymously in the process of blind peer.
environmental and economic, which range from the history of the farmer and
property; land tenure, property size, until the forms product sales. The results
indicate that organic methods of production are technically and economically viable
when compared to conventional methods of agriculture, with proportionately greater
productivity with the use of alternative techniques and sustainable. Additionally, it
was noted that in this study and in some previous studies, the income earned from
the sale of organic products may be higher if compared to conventional.

KEYWORDS: Structure; Legitimacy; Power Distributor; Multidimensional-Reflexive.


Referencing this:
SILVA JUNIOR, P. B.; SOUZA, P.; SOUZA, R. M.; LUNKES,
R. J.. Estudo comparativo entre agricultura orgânica e
convencional no cultivo de morango em Rancho
Queimado (SC). Revista Ibero‐Americana de Ciências
Ambientais, Aquidabã, v.5, n.1, p.115‐128, 2014. DOI:
http://dx.doi.org/10.6008/SPC2179‐
6858.2014.001.0008

Revista Ibero‐Americana de Ciências Ambientais (ISSN 2179‐6858)


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SILVA JUNIOR, P. B.; SOUZA, P.; SOUZA, R. M.; LUNKES, R. J.

INTRODUÇÃO

O início das atividades agrícolas data de dez a doze mil anos atrás, no período neolítico,
quando alguns caçadores notaram ser possível semear alguns dos grãos que coletavam da
natureza. Os primeiros sistemas de cultivo e de criação eram praticados nos arredores das
moradias, ou seja, em terras já fertilizadas naturalmente, sem necessidade de qualidade adicional.
Posteriormente, com o consequente aumento da oferta de alimento, as plantas começaram a ser
cultivadas mais próximas umas das outras, culminando em maior produtividade das espécies em
relação ao seu habitat natural, o que diminuiu a procura de alimento. Assim, surgiu o cultivo das
primeiras plantas domesticadas, entre as quais se inclui o trigo e a cevada (MAZOYER;
ROUDART, 2008).
Ademais, somente após a Revolução Industrial a agricultura foi desenvolvida rapidamente
e, com velocidade ainda maior, quando o pesquisador alemão e professor de química, Justus von
Liebig, realizou experimentos que, tomando por base dados da Chemical Heritage Foundation
(CFH), possibilitaram a criação dos fertilizantes químicos (CHF, 2013). Dessa maneira, o uso da
adubação química modificou a atividade agrícola e teve sua aplicação crescente e simultânea ao
aumento de problemas como pragas, fungos e ervas daninhas, que passaram a ser combatidos
por inseticidas químicos, fungicidas e por herbicidas.
A química passou a ser a base da agricultura, sem levar em consideração os custos
econômico, social e ambiental para se obter um maior rendimento da cultura. A agricultura
convencional, aos poucos, passa a chamar atenção pelos malefícios ao meio ambiente, à saúde
humana e ao bem estar social (USDA, 1984; ALTIERI, 1987; ALTIERI, 1995; NRC, 1989;
LAMPKIN, 1990; EHLERS, 1996).
Tal destaque se deve ao surgimento de problemas ambientais ocorridos pela aplicação do
modelo convencional de agricultura, fazendo com que as atenções se voltassem para um modelo
pouco difundido, porém já utilizado desde 1920, denominado de agricultura orgânica (ASSIS et al.,
1996).
De acordo com as disposições da Lei n. 10.831, de 23 de dezembro de 2003, pode-se
afirmar que a agricultura orgânica tem como princípio básico o estabelecimento do equilíbrio com
a natureza, por meio da utilização de técnicas naturais de adubação, controle do solo e de pragas
(BRASIL, 2003). As práticas utilizadas em propriedades orgânicas apontam para um convívio
peculiar com a natureza: o solo não somente é considerado um organismo vivo, mas passa a ser
tratado como tal; as doenças e pragas agrícolas são combatidas com elementos naturais, sem
aplicação de venenos.
Com base na discussão entre os prós e contras de cada um dos sistemas (orgânico e
convencional) de agricultura, tem-se como pergunta de pesquisa do presente estudo: quais as
principais diferenças entre os cultivos orgânico e convencional de morango? Dessa maneira, o
objetivo desse artigo é realizar uma análise comparativa do cultivo de morango na agricultura

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Estudo comparativo entre agricultura orgânica e convencional no cultivo de morango em Rancho Queimado (SC)

orgânica e convencional em Rancho Queimado/SC, tomando por base um questionário aplicado in


loco com abordagem de questões sociais, ambientais e econômicas pré-estabelecidas.
O estudo é motivado pelo potencial que o mercado morangueiro possui no país, pois aos
poucos os agricultores brasileiros fizeram grandes progressos na aclimatação do cultivo desta
fruta, inclusive, estima-se uma produção anual de 100 mil toneladas, com área ocupada de 3.500
hectares (ANTUNES et al., 2007).
O interesse pelo cultivo se deve à elevada rentabilidade da cultura, ao amplo
conhecimento e aceitação pelo consumidor e pela diversidade de opções de comercialização e
processamento do morango (SANHUEZA et al., 2005).
O presente estudo está dividido em cinco seções. A primeira apresenta essa introdução, a
segunda aborda a revisão teórica sobre a olericultura no Brasil e no mundo, produção orgânica e
convencional de morango, e a terceira demonstra a metodologia adotada para atingir os objetivos
estabelecidos. A análise dos resultados estão evidenciadas na seção quatro, a discussão na
seção cindo e, por fim, a conclusão na seção seis.

REVISÃO TEÓRICA

Olericultura no Brasil e no mundo

A produção mundial de morangos está crescendo em números absolutos nos últimos anos.
No período de 1997 a 2006, a produção cresceu 29%, enquanto a área plantada apresentou um
crescimento de 18%. Em 2006, a produção mundial foi estimada em 3.908.975 toneladas, para
uma área total plantada de 262.165 hectares (FAO, 2013).
A América do Norte é responsável por 81% da produção de morango em todo continente,
segundo dados da FAO. No que concerne aos países, os Estados Unidos lideram o mercado com
produção acentuada e grande produtividade, chegando a representar 28% de toda a produção
mundial.
Na América do Sul, o melhor colocado no ranking da FAO de 2008, é o Chile, na 22ª
posição. O Brasil ocupa a 54ª colocação, estando somente na frente da Bolívia (60ª colocada) e
do Uruguai, que nem figura no ranking.
No Brasil, a produção é destaque em oito estados brasileiros: Minas Gerais, São Paulo,
Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Santa Catarina, Goiás e Rio de Janeiro. Mobiliza cerca
de 3.500 hectares, sendo estes na maioria fragmentados em pequenas propriedades rurais
familiares. Por apresentar estas características, o cultivo do morango se sobressai pelos aspectos
econômicos e sociais.
Em termos de desenvolvimento de cultivares nacionais, a partir da década de 1970, houve
um incremento significativo nas pesquisas. Do esforço dos programas genéticos da Embrapa
Clima Temperado foram desenvolvidas as variedades de morango conhecidas como Bürkley,

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SILVA JUNIOR, P. B.; SOUZA, P.; SOUZA, R. M.; LUNKES, R. J.

Santa Clara e Vila Nova; e do Instituto Agronômico – IAC, a variedade Campinas. Assim, com a
diversificação de variedades e de sistemas de produção tem-se conseguido produzir morangos
praticamente nos 12 meses do ano.
Em termos de comercialização, o mercado de morango frescos é o principal destino da
produção brasileira, cerca de 90%. (ANTUNES & REISSER JUNIOR, 2008). Além da forma in
natura, este também chega aos consumidores como matéria processada pelas agroindústrias, de
tal modo que a polpa é utilizada para a fabricação de iogurtes, doces, geleias, bolos, entre outros
produtos.

Agricultura Orgânica

No cultivo orgânico, o agricultor não utiliza fertilizantes sintéticos e nem agrotóxicos.


Sempre que possível, utiliza-se de esterco de animais, rotação de cultura e controle biológico de
pragas e doenças, buscando manter a estrutura e produtividade do solo.
Ehlers (1999) afirma que a obra do pesquisador inglês Sir Albert Howard foi o ponto de
partida para a agricultura orgânica. Em 1919, Howard decidiu cultivar as lavouras sob a orientação
dos camponeses nativos, sem utilizar insumos químicos, partindo seu sistema do reconhecimento
de que a eliminação das doenças em plantas e animais dá-se pela fertilidade do solo. Além de
ressaltar a importância da utilização da matéria orgânica nos processos produtivos, Howard
mostrou que o solo não deveria ser entendido apenas como um conjunto de substâncias, mas
como uma série de processos vivos e dinâmicos essenciais à saúde das plantas.
A partir de estudos feitos por Ehlers, nos Estados Unidos, no final de 1970, os estados de
Maine e Califórnia definiram os critérios para a agricultura orgânica, para regulamentar a
rotulagem dos alimentos e sua procedência.
No Brasil, o Ministério da Agricultura adotou, em 1999, a denominação “orgânica” para
todas as correntes de agricultura alternativa que atendam aspectos de processo produtivo
previstos na Instrução Normativa 007/99. Em 23 de dezembro de 2003, substituindo a Instrução
Normativa, foi publicada a Lei n. 10.831, que passou a ter caráter definitivo. O art. 2º da referida
lei considera agricultura orgânica ou produto orgânico aquele obtido em sistema orgânico de
produção agropecuário ou de uma produção sustentável e que não prejudique o ecossistema local
(BRASIL, 2003).
As técnicas utilizadas na agricultura orgânica buscam, de maneira harmoniosa, os recursos
disponíveis na unidade de produção, com base na reciclagem de nutrientes e maximização do uso
de insumos orgânicos. Já os fertilizantes necessários podem ser obtidos a partir de compostos
orgânicos de resíduos vegetais e animais, com o auxílio de técnicas de compostagem e de
biofertilizantes (BURG & MAYER, 1999).

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Estudo comparativo entre agricultura orgânica e convencional no cultivo de morango em Rancho Queimado (SC)

Agricultura Convencional

A sociedade vem enfrentando problemas com pragas e insetos há muitos anos, e, com
isso, buscou e aprimorou no decorrer de anos e séculos formas de tratar dessa questão, que era
vista como uma ameaça a sua própria sobrevivência. No século XVIII, com o avanço das práticas
agrícolas e o uso excessivo de fertilizantes, o problema agravou-se, e compostos inorgânicos e
extratos vegetais começaram a ser utilizados (BRAIBANTE & ZAPPE, 2012).
Nesse contexto, a agricultura convencional caracteriza-se como um modo agrícola em que
prevalece a busca da maior produtividade por meio da utilização intensa de insumos externos, o
que no curto prazo trás resultados econômicos visíveis, como o aumento da produtividade e a
eficiência agrícola. No primeiro momento, o aumento da produtividade também contribui para a
diminuição da migração rural e da melhoria da distribuição de renda (SOUZA, 2005), porém, a
longo prazo, trazem danos ambientais que não são contabilizados pelos adeptos da agricultura
convencional, uma vez que são inseridos aparatos tecnológicos que substituem progressivamente
a mão de obra empregada.
O modo de exploração da agricultura convencional é intensivo em capital, consome
recursos não renováveis e, em sua maioria, voltado ao mercado externo (REINJNTJES et al.,
1994). Verifica-se que, pelo intensivo uso de capital, este tipo de agricultura necessita de dinheiro
para tal investimento, além de ficar mais dependente de atores externos (no caso, fornecedores),
ao utilizar os insumos externos.
Sachs (apud REINJNTJES et al., 1994) atenta para o fato de que esta dependência de
insumos externos acarreta em prejuízos, pois para aumentar a produtividade, há uso excessivo de
fertilizantes químicos e combustível, o que no primeiro momento causa uma superprodução, mas
que depois resulta na diminuição do preço auferido na produção agrícola, devido sua
dependência, além da contaminação de lençóis freáticos, rios e empobrecimento do solo,
acarretando em prejuízos para a sociedade.
Na agricultura convencional, observa-se uma lógica de exploração ao máximo da natureza
e do que ela tem para servir, sem observar os limites de sua utilização. Outrossim, identifica-se
que o plantio é focado na monocultura desenvolvida em larga escala, o que a longo prazo pode
gerar um estreitamento da diversidade genética do meio ambiente explorado.
Diante do avanço da produção agrícola em larga escala impulsionada pela agricultura
convencional, ocorre a difusão da proposta de uma agricultura ecológica, que tem como
premissas a utilização de métodos e técnicas (policultura e rotatividade no cultivo) que respeitam
os limites da natureza, pouca ou nenhuma dependência de agroquímicos (substitui por adubo e
repelente natural) e troca de saberes científicos com saberes locais desenvolvido pelos
agricultores (CAPORAL & COSTABEBER, 2000).

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Estudos Anteriores: Cultivo Orgânico versus Convencional

Medaets e Medeiros (2004) realizaram uma análise comparativa entre o sistema de cultivo
convencional e orgânico de batata comum, em quatro estabelecimentos orgânicos na região
metropolitana de Curitiba, a partir de indicadores técnicos e econômicos, A falta de variedades
com maior rusticidade e resistência a patógenas e a produção de batata-semente foram
identificadas como os maiores entraves ao sistema orgânico.
A pesquisa de Medaets e Medeiros (2004) revelou que a produtividade média da batata
obtida pelo sistema convencional é o dobro da obtida pelo sistema orgânico, no entanto, os gastos
com insumos foram, em média, 81% superiores no sistema convencional. Já os preços recebidos
pelo produtor orgânico foram, em média, 90% superiores à remuneração do produtor convencional
e, apesar da menor produtividade da bata orgânica, a relação benefício/custo no sistema orgânico
foi superior à do convencional, gerando renda líquida adicional de cerca de R$ 2 mil/hectare. A
conclusão é de que no cultivo orgânico há maior eficiência de mercado do que eficiência técnica,
por isso, recomenda-se o investimento em pesquisa para melhorar a eficiência produtiva do
sistema.
Luz, Shinzato e Silva (2007) realizaram um levantamento geral dos sistemas de produção
convencional e orgânico do tomateiro, abordando os aspectos agronômicos (manejo, preparo do
solo, métodos de controle de pragas, doenças e plantas nativas, produtividade, entre outros) e
econômicos (custo de produção e lucratividade). Como resultado, os autores encontraram que o
sistema orgânico apresentou-se agronomicamente viável, com um custo de produção 17,1% mais
baixo se comparado ao convencional, e que a é lucratividade até 113,6% maior.

METODOLOGIA

A metodologia de pesquisa deste trabalho caracteriza-se como uma pesquisa exploratória,


sobretudo, estudo de caso. Para Collis e Hussey (2005), a pesquisa exploratória é realizada sobre
um problema ou questão de pesquisa que geralmente envolve assuntos com pouco ou nenhum
estudo anterior a seu respeito. O objetivo desse tipo de estudo é procurar padrões, ideias ou
hipóteses. A ideia não é testar ou confirmar uma determinada hipótese. As técnicas tipicamente
utilizadas para a pesquisa exploratória são estudos de caso, observações ou análises históricas, e
seus resultados fornecem geralmente dados qualitativos ou quantitativos.
Para Gil (1999), o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo de um ou de
poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado, tais como: a)
explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos; b) descrever a
situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação; c) explicar as variáveis
causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam
levantamentos e experimentos.

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Estudo comparativo entre agricultura orgânica e convencional no cultivo de morango em Rancho Queimado (SC)

Para análises comparativas entre agricultura orgânica e “convencional” (isto é, que se


baseia na utilização de fertilizantes e agrotóxicos de síntese química no processo de produção),
fez-se uma amostragem de produtores do Estado de Santa Catarina. Devido à inexistência de
cadastro que possibilitasse extrair uma amostra representativa dos produtores agrícolas, a técnica
empregada foi a de amostragem intencional não probabilística.
As propriedades analisadas para a comparação foram selecionadas em Rancho
Queimado, por ser esse município o maior produtor de morango em Santa Catarina. A maioria dos
produtores da região envia seus produtos diretamente para as Centrais de Abastecimento do
Estado de Santa Catarina (CEASA), que distribui para as outras regiões do estado. A cultura do
morango é muito significativa para Rancho Queimado, uma vez que gera renda como alternativa
de agricultura familiar e comercial; e também amplia possibilidades de turismo e exploração rural.
A propriedade orgânica estudada é a Rancho EcoFrutícola, localizada na região de
Taquaras, que trabalha visando a sustentabilidade ambiental, desenvolvendo projetos junto à
comunidade produtora e, por conseguinte, vem ganhando destaque no plantio, processamento e
comércio de frutas nobres agroecológicas.
A produção convencional é a fazenda ART, localizada na região do Mato Francês do
município, possui praticamente o mesmo porte da propriedade orgânica, porém com objetivos
distintos em relação às questões sociais e ambientais.
Com a finalidade de analisar os indicadores nos sistemas de produção orgânico e
convencional, foram selecionadas variáveis, correspondendo principalmente à dimensão
socioeconômica. Os indicadores que serão inseridos no questionário da pesquisa semi-
estruturada são: Posse da terra; Tamanho da propriedade; Tipo de mão de obra; Divisão de
trabalho e de renda entre os trabalhadores; Grau de endividamento; Preço do produto em relação
ao custo de produção; Variação de preço dos produtos; Utilização de linhas de crédito; Meios de
produção; Gastos com insumos; Número de produtos comercializados; Número de atividades
desenvolvidas na propriedade; Número de produtos beneficiados para comercialização;
Certificação orgânica e Formas de Venda. Esses indicadores foram adaptados da pesquisa de
Ricarte et al. (2006) - Avaliação de agroecossistemas em propriedades de produção orgânica no
município de Jaguariúna, SP, por meio de indicadores de sustentabilidade.
A coleta de informações tem como suporte um questionário aplicado in loco, pré-formatado
para processamento eletrônico, elaborado com 42 questões baseadas no objetivo do trabalho,
acompanhado de um manual de procedimentos, com as definições dos conceitos básicos
utilizados na pesquisa.
No desenvolvimento da metodologia a ser aplicada no estudo, aborda-se questões sobre o
histórico do agricultor e da propriedade; as razões para o tipo de plantio escolhido; se houve
mudanças significativas ao longo do tempo; as práticas agrícolas e de conservação foram
adotadas; as dificuldades em se realizar tal tarefa; quantas pessoas trabalham no plantio e na
colheita de citros; quais os equipamentos e máquinas utilizados na produção; quais

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SILVA JUNIOR, P. B.; SOUZA, P.; SOUZA, R. M.; LUNKES, R. J.

procedimentos de colheita, embalagem e estocagem na propriedade; comercialização e uso de


crédito rural, além de procurar compreender a relação entre as propriedades com a comunidade
local e com outras instituições. As questões aplicadas no desenvolvimento são originais do estudo
de Turra e Ghisi (2012) - Laranja orgânica no Brasil: produção, mercado e tendências; e foram
adaptadas para serem utilizadas nesse trabalho.
Deve-se, no entanto, ressaltar as dificuldade e limitações existentes em tal análise
comparativa, uma vez que esses sistemas de produção apresentam, em sua essência, objetivos
bem diferentes. Enquanto a agricultura orgânica prima pela “maximização produtiva”, ou seja, pelo
estabelecimento, no longo prazo, de um sistema produtivo equilibrado, por meio da nutrição do
solo, a agricultura convencional, ao contrário, busca na nutrição da planta uma “maximização
lucrativa”, isto é, o retorno imediato do investimento, sem se preocupar com os efeitos causados
ao meio ambiente pelas técnicas empregadas.
Ao mesmo tempo, é necessário levar em consideração a discrepância relativa ao estágio
de desenvolvimento de cada tipo de agricultura. Enquanto o sistema químico-convencional está
amadurecido e é apoiado pela política agrícola oficial, o sistema orgânico ainda está em estágio
de desenvolvimento técnico e não conta com tal apoio em nível significativo. Portanto, ao se obter
resultados favoráveis para a agricultura orgânica esses, na realidade, são ainda maiores do que
aquilo que representam (CARMO et al., 1988; CARMO & MAGALHÃES, 1999).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a aplicação dos questionários semiestruturados in loco com os produtores de


morango, fez-se a separação dos resultados obtidos em quatro categorias para facilitar a análise
dos dados: caracterização das propriedades, questões sociais, questões ambientais e análise
contábil.
O Rancho EcoFrutícola é uma propriedade orgânica desde 1999, com produção de
morangos, amoras, physalis, cebola, tomate e pimentão. Os proprietários são os maiores
produtores de morango orgânico no estado de Santa Catarina e buscam desenvolvimento na área
de tecnologia de produção.
A fazenda ART era um conjunto de terras que cultivava tomates, cebola e milho. O
produtor atual iniciou a produção de morango convencional com dois mil pés de teste e tem como
perspectiva futura aumentar a qualidade da mão de obra para obter maior produtividade. O
Quadro 01 apresenta os dados que auxiliam na caracterização das referidas propriedades,
tomando por base questões aplicadas no questionário.

Quadro 01: Caracterização das propriedades analisadas


CARACTERIZAÇÃO Convencional Orgânica
Tipo mão de obra utilizada Familiar Familiar e Contratada
Tipo de Agricultura Comercial Comercial
Tamanho da Propriedade 18 hectares 22 hectares

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Estudo comparativo entre agricultura orgânica e convencional no cultivo de morango em Rancho Queimado (SC)

Percebe-se que há semelhança entre as duas propriedades quanto aos aspectos de


caracterização. Ambas são consideradas de pequeno porte (menos de 100 hectares), com mão
de obra basicamente familiar e com culturas voltadas ao comércio. Por estarem situadas a poucos
quilômetros de distância uma da outra, os aspectos geográficos, tipo de solo e influência das
intempéries são similares e não contribuem para discrepância nos resultados obtidos.
Com relação às questões sociais abordadas no questionário, estão destacadas no Quadro
02 aquelas que permitem entender a escolha pelo tipo de agricultura executada, se orgânica ou
convencional.
Na expectativa de agregação de valor econômico ao produto, muitos agricultores realizam
a conversão do sistema de produção convencional para um sistema orgânico, porém alguns
optam pela agricultura orgânica em função da “filosofia de vida”, como é o caso da produtora
deste estudo.

Quadro 02: Questões sociais avaliadas.


QUESTÕES SOCIAIS Convencional Orgânica
Nível de escolaridade 2º Grau Nível Superior
Pastor da igreja trouxe mudas para a O morango é uma cultura de boa
Quais as razões para o tipo de
comunidade conhecer. Sandro gostou aceitação no comércio. Optou-se por
plantio escolhido (porque o
da produção e rentabilidade do orgânico por uma questão de filosofia
morango)?
morango. de vida.
Participa de intercâmbio com a Epagri A família é bem ativa na comunidade
Qual a relação entre a
para instruções e utiliza os cursos fazendo parte da diretoria da
propriedade e a comunidade local
divulgados na comunidade para Associação Comunitária, do Grupo
(ou outras instituições)?
melhoria do ramo de trabalho. Folclórico de Danças Alemãs.

Nessa categoria de análise, visualiza-se que o nível de escolaridade dos proprietários


contribui para a discussão. Se a capacitação formal e a experiência profissional em outros ramos
são importantes para uma mentalidade sustentável e opção pelos modelos orgânicos de cultivo,
muitos dos agricultores convencionais simplesmente nunca tiveram contato com práticas
orgânicas. Sem o conhecimento específico, justifica-se que não seja criada uma expectativa
intrínseca de colaborar para a sustentabilidade ambiental, desenvolvendo processos produtivos
orgânicos, que não degradam ou também que recuperam o meio ambiente.
A agricultura orgânica caracteriza-se pelo uso de adubos orgânicos produzidos nas
próprias fazendas, podendo acarretar em maiores lucros para o produtor e possuir produtividade
maior que a agricultura convencional, com uso de produtos naturais e controle biológico de pragas
e doenças.
No que tange à preocupação com questões ambientais os métodos para controle de
pragas e doenças chama atenção para análise comparativa, conforme Quadro 03.
Visualiza-se que, mesmo sendo considerada agricultura convencional, a fazenda visitada
faz uso de controle biológico com bactérias, o que significa uma alternativa ecologicamente viável
e econômica. O controle com bactérias bacillus thuringiensis têm sido ampliado na agricultura
brasileira, diminuindo o uso de inseticidas químicos que são altamente tóxicos e acarretam graves

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SILVA JUNIOR, P. B.; SOUZA, P.; SOUZA, R. M.; LUNKES, R. J.

consequências ao homem e ao meio ambiente, além de tornar populações de insetos mais


resistentes.

Quadro 03: Questões ambientais envolvidas no processo de produção


QUESTÕES AMBIENTAIS Convencional Orgânica
Certificação por auditoria – R$
Certificação Não possui
3.000,00/ano
Áreas de preservação de matas ciliares Não possui 08 hectares
Criação animal em consórcio com a atividade
Sim Sim
agrícola
Prática de pousio Não Sim
Rotação de Culturas Sim Sim
Aquisição de sementes/ mudas Sim (Chile e Argentina) Sim (Chile)
Albion, Sabrina, Sabrosa e
Variedades de morango Aromas e San Andreas
Cristal
Esterco do gado e também é
adicionado Fósforo como
Tipo de adubação utilizada Composto orgânico e biofertilizante.
Superfosfato Simples e
Superfosfato Triplo.
Doenças e pragas ocorrem
esporadicamente em função do
Todo ano temos ataques de
Ocorrência de doenças e pragas manejo inadequado ou excesso de
lagartas, tripés e ácaros.
chuva. Não há períodos
determinados.
Para as Lagartas e Tripés é
utilizado repelente e
São adotados somente o controle
inseticida (BTT); os Ácaros:
Métodos para controle de doenças e pragas biológico e controle manual através
são combatidos por outra
de remoção.
espécie de ácaro comprada
de laboratório.

As questões levantadas a respeito da prática de pousio, rotação de culturas e criação de


animais em consórcio com a atividade agrícola não apresentaram diferenças significativas, porém
a posse de certificação orgânica para atividade exercida e existência de matas preservadas na
propriedade são fatores que diferenciam o comprometimento com as causas ambientais. A
certificação agrega renda e valor aos produtos finais, pois garante qualidade na produção,
processamento, rotulagem e comercialização dentre dos padrões orgânicos estipulados em leis no
país. Já a existência de matas ciliares preservadas auxilia na manutenção da qualidade da água,
regulariza os ciclos hidrológicos, estabiliza os aspectos físico-químicos do solo e conserva a
biodiversidade.
A análise dos parâmetros contábeis em agricultura familiar necessita do conhecimento das
relações entre os agricultores e seus clientes, e ainda, como essas relações influenciam nos
custos.

Quadro 04: Análise Contábil.


ANÁLISE CONTÁBIL Convencional Orgânico
Tamanho da Propriedade 18 hectares 22 hectares
Número de produtos comercializados 2 produtos 6 produtos
Quantidade média de morango produzido 14,4 toneladas/ ano 20 toneladas/ano
Preço de mercado do produto (médio) R$ 3,00 R$ 9,00
Em função da “Lei da Oferta e da
Variação do preço Não ocorre
Demanda”.

A rentabilidade e os custos da produção de morango variam em função da tecnologia


empregada, dos gastos com insumos, do tipo de cobertura (não protegido ou com túneis), da

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Estudo comparativo entre agricultura orgânica e convencional no cultivo de morango em Rancho Queimado (SC)

produtividade da safra e também do valor alcançado pelo produto no mercado. É conhecida a


diferença do valor de mercado do morango orgânico quando comparado com aquele produzido
pelos métodos convencionais de agricultura. O morango produzido no Rancho EcoFrutícola
possui garantia de sabor e qualidade na mesa dos consumidores, alcançando valor médio 3 vezes
maior que o morango convencional.
O uso de insumos na agricultura demanda tempo e experiência para aplicar as
quantidades corretas que cada tipo de cultura necessita. A quantidade utilizada e o caráter do
insumo utilizado influenciam diretamente nos custos de produção e, consecutivamente, no valor
final do produto. Os gastos com insumo em toda a cadeia produtiva apresentou-se maior para a
produção orgânica, incidindo em aumento de valor do produto final. Os insumos podem ser
classificados genericamente como todas as despesas e investimentos que contribuem para
formação de determinado resultado, mercadoria ou produto até o acabamento ou consumo final
(GOULART & HELENA, 1999).
A Tabela 01 permite analisar alguns dos custos fixos como folha salarial, e outros custos
variáveis como insumos, implementos e utensílios; variando proporcionalmente com a quantidade
de pessoas trabalhando no plantio e na colheita do morango. Outros custos que podem influenciar
na agricultura para análise contábil são: manutenção, transporte, depreciação do maquinário,
seguros, taxas e impostos, dentre outros.

Tabela 01: Análise dos dados contábeis.


ANÁLISE CONTÁBIL Convencional Orgânico
Investimento R$ 3.0000 (inicial) R$ 1.000.000,00 (total)
Gastos com insumo em toda cadeia produtiva 5% 30%
Pessoas trabalhando no plantio/ colheita 02 pessoas 07 pessoas
Despesas R$ 300,00/ mês R$ 2.000,00/ mês
Custos com Folha salarial R$ 2.400,00/ mês R$ 7.000,00/ mês
Faturamento (Bruto) R$ 20.000,00/ ano depende da safra, não existe número fixo
Margem de Lucro 4 - 6% ao mês 5 - 10% ao mês
60% rede supermercados
30% lojas especializadas, feiras e pequenos
100% da produção é
Formas de venda dos produtos comércios
enviada ao CEASA
9% restaurantes e indústria
1% na propriedade

A margem de lucro envolve o tempo de retorno demandado para o investimento realizado


e também impacta na formação do preço de venda do morango. Mesmo que na agricultura
orgânica avaliada não ocorra variação do preço final do produto, a valorização do produto no
mercado deve ser levada em consideração para estipular a margem de lucro.
A discussão dos resultados está baseada em alguns estudos, nos quais foram comparados
os sistemas de produção orgânico e convencional de outros produtos agrícolas. Para Darolt
(2000), seu estudo realizado com produção de morangos orgânicos mostrou que existe viabilidade
técnica, econômica, social e ecológica da produção orgânica de morango. Os produtores
orgânicos têm obtido produções competitivas comparadas ao sistema convencional.
No Paraná, a média de produtividade dos últimos anos tem ficado entre 300 a 500 gramas
por planta. A escolha de uma boa variedade que leve em conta a produtividade, a precocidade, a

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SILVA JUNIOR, P. B.; SOUZA, P.; SOUZA, R. M.; LUNKES, R. J.

conservação e a resistência contra pragas e doenças é um fator de grande importância. O plantio


de duas variedades ao mesmo tempo - uma de maior produtividade e resistência e outra de
produção mais precoce - tem sido capaz de gerar, com a primeira, grande quantidade e com a
segunda, bons preços. As mudas orgânicas podem ser produzidas na própria propriedade, a partir
dos morangueiros que produziram no ano anterior, reduzindo custos. O sistema de produção de
morango orgânico mostrou-se competitivo em termos técnicos, econômicos e ecológicos, sendo
uma alternativa viável para pequenas propriedades familiares (DAROLT, 2000).
Cesaro et al. (2004), após análise técnico-econômica do cultivo da soja orgânica versus
convencional na região de Londrina, observou, com relação à produtividade, que o sistema
convencional mostrou-se mais eficiente que os sistemas de cultivo orgânicos. Em termos técnicos,
constatou-se que os sistemas orgânicos analisados demandaram maiores quantidades de
dias/homem e de dias/máquina para cultivar um hectare de soja, o que resultou em maiores
dispêndios de recursos com operações, enquanto o sistema convencional demandou mais
recursos com insumos.
Em relação aos indicadores de eficiência econômica, avaliou-se que o preço diferenciado
obtido pela soja orgânica ao ser comercializada em mercados diferenciados permitiu que os
produtores orgânicos obtivessem uma receita bruta superior à obtida no sistema convencional. No
sistema orgânico, o preço médio recebido pela saca da soja foi de R$ 33,60, enquanto no sistema
convencional o preço recebido foi de R$ 22,00, o que representa um diferencial de preço da
ordem de 53%.
Em remate, verifica-se que na presente pesquisa, assim como em alguns estudos
anteriores, a receita auferida com a venda do produto orgânico pode ser mais alta se comparada
ao convencional.

CONCLUSÕES

O presente estudo foi norteado pelo objetivo de realizar uma análise comparativa do cultivo
de morango na agricultura orgânica e convencional em Rancho Queimado/SC. A fim de atingir
este objetivo, utilizou-se da aplicação de questionário in loco com 42 questões envolvendo
aspectos sociais, ambientais e econômicos.
A partir das respostas obtidas, pode-se observar que os métodos orgânicos de produção
são técnica e economicamente viáveis quando comparados aos métodos convencionais de
agricultura, mesmo apresentando custos mais elevados.
O indicador socioeconômico “gastos com insumos” utilizado no questionário traz
esclarecimentos quando à viabilidade técnica dos métodos orgânicos de produção, uma vez que,
ao serem incorporadas práticas orgânicas tais como plantio de adubos verdes e rotação de
culturas, imaginava-se inicialmente que seria minimizada a necessidade do uso de insumos.

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Estudo comparativo entre agricultura orgânica e convencional no cultivo de morango em Rancho Queimado (SC)

Em contrapartida, é perceptível que os sistemas orgânicos em sua operação são mais


dispendiosos que os sistemas convencionais de cultivo. Uma possível solução para a redução dos
custos com operações seria o aprimoramento de técnicas que permitam a realização de plantio
direto, também, em sistemas orgânicos.
No que diz respeito aos aspectos ambientais, constatou-se que, mesmo sendo
considerada uma agricultura convencional, a fazenda visitada faz uso de controle biológico com
bactérias, o que é considerado uma alternativa ecologicamente viável e econômica para o meio
ambiente.
Alguns estudos demonstraram que a produtividade dos cultivos orgânicos é menor que da
agricultura convencional. Por outro lado, os custos de produção para produtos orgânicos também
é menor. Na avaliação realizada, notou-se que a produtividade é proporcionalmente maior com o
cultivo orgânico frente ao convencional.
Para Cesaro et al. (2004) os indicadores econômicos apontam o preço obtido na venda
dos produtos orgânicos como o principal componente que viabiliza economicamente a produção
orgânica com um diferencial da ordem de 53%. Para o agricultor orgânico, nas condições atuais, a
agricultura orgânica revela-se como uma alternativa viável, porém muito mais pela sua eficiência
de mercado do que pela sua eficiência produtiva.
É possível concluir que o estudo não teve a intenção de esgotar o tema, sendo que outras
pesquisas devem ser feitas para adicionar conhecimento sobre o assunto. Acredita-se que um
fator limitante para a realização seja o espaço amostral. Entretanto, espera-se que o estudo
contribua para evidenciação das diferentes maneiras de cultivo e que, levando-se em
consideração a questão econômica, prevaleça o bem estar social e ambiental.
Para futuras pesquisas, sugere-se: (i) aumentar o número de fazenda produtoras
analisadas; (ii) realizar um estudo comparativo com produtores de outras regiões e estados; e (iii)
realizar um estudo idêntico a este com foco em outros produtos.

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