Guia Educador Ods 6
Guia Educador Ods 6
Guia Educador Ods 6
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
ODS 6 - ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO
oUTUBRO DE 2020
Publicação
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES
Programa de Jovens Profissionais do Saneamento - JPS
Brazil Water Week - BWW
Coordenação e organização
Amanda Martins Batista
Manuela Bahiense Wenceslau Proença
Witan Pereira Silva
AutorAs e autorEs
Amanda Cristina
Salomão Dória
Bióloga
Mauana Ravadelli
Engenheira Sanitarista
JPS - SC
Manuela Bahiense Wenceslau Proença
Engenheira Ambiental
JPS - MG
Durante a Brazil Water Week, o programa Jovens Profissionais do Saneamento – JPS da ABES
promoveu oficinas sobre educação ambiental transmitida ao vivo pelo canal da ABES no
YouTube. A oficina teve como objetivo trazer a professores das séries iniciais (alunos de 6 a 10
anos) a compreensão aprofundada de conteúdos ligados à água, efluentes e resíduos sólidos.
além de promover e estimular o pensamento crítico sobre o desafio de garantia do
saneamento básico universal. Além de fornecer materiais de apoio como o Guia do educador e
métodos de abordagem que auxiliem os professores na construção de aulas práticas.
Agradecimentos
O JPS agradece a todos os participantes que auxiliaram na construção das oficinas, cabendo
destaque especial aos apoiadores SABESP, VLI e AQUAPOLO AMBIENTAL S.A que
permitiram a realização de visitas técnicas virtuais às estações de tratamento. Tais visitas
enriqueceram a oficina e possibilitaram uma melhor compreensão do saneamento em seus
aspectos operacionais.
“O Homem é parte da natureza e a sua guerra contra a natureza é,
inevitavelmente, uma guerra contra si mesmo. Temos pela frente um
desafio como nunca a humanidade teve, de provar nossa maturidade e
nosso domínio, não da natureza, mas de nós mesmos.”
No contexto da organização das oficinas de Educação Ambiental do Brazil Water Week, este
guia foi elaborado com o objetivo de gerar um produto para os professores participantes.
Tendo em vista o formato online das oficinas e a limitação para abordar assuntos tão
profundos e complexos na nossa sociedade, em tão pouco tempo, o guia surgiu como tentativa
de fazer com que os conteúdos apresentados nas três oficinas possam ser introduzidos em sala
de aula de uma forma prática, criativa e transversal.
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Quais os desafios para a construção de uma Educação
Ambiental transversal, inovadora e de qualidade?
Muitas professoras e professores podem encontrar dificuldades em elaborar estratégias
pedagógicas capazes de manter os alunos envolvidos no curso da disciplina que lecionam. Isso
pode ser explicado por características próprias que limitem a criatividade e até mesmo a
dificuldade de participar de cursos de formação no qual os educadores trocam ideias sobre as
experiências em sala de aula (CRUZ e BARROS, 2016). Atrelado a isso, temos hoje o advento da
tecnologia, além de inúmeras mudanças na estrutura da sociedade, que trazem ainda mais
desafios para a tarefa de lecionar da mesma forma que se faz há mais de 100 anos.
Diante desta situação, falar sobre Educação Ambiental (EA) e tentar introduzi-la de forma
transversal na sala de aula, se torna mais um elemento desafiador.
A educação ambiental tem o privilégio de ter
como seu objeto o Meio Ambiente. O Meio
Ambiente é o mosaico da vida, o pano de
fundo da existência. [...]
[...]No âmbito do ensino, isto significa que
cada disciplina, sem nenhuma exceção, está
relacionada com a temática ambiental. Cada
uma tem um olhar e alguma coisa a dizer ou
a trabalhar na educação ambiental.
Portanto, um processo de educação
ambiental só se constrói quando se obtém,
verdadeiramente, o engajamento das
múltiplas disciplinas presentes na grade
curricular – a multidisciplinaridade.
(SILVEIRA, 2003)
A escola tem uma rica participação na formação cidadã e, diante disso, se faz justo e necessário
seu engajamento em prol das questões socioambientais que permeiam a vida em sociedade. Os
espaços escolares são potências que possibilitam muito mais do que a aprendizagem dos
conteúdos formais.
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Nesse contexto, a Educação Ambiental em Saneamento
constitui-se numa promissora possibilidade de atuação
que busca, por meio de ações articuladas, oportunizar a
emancipação dos atores sociais envolvidos e, com isso,
despertar o protagonismo popular na condução das
transformações esperadas [...].
Os serviços de saneamento estão relacionados de forma
indissociável à promoção da qualidade de vida, bem
como ao processo de proteção dos ambientes naturais,
em especial dos recursos hídricos. Nesse sentido, é
imprescindível desenvolver ações educativas que
possibilitem a compreensão sistêmica que a questão exige
e estimular a participação popular, engajada e
consciente, no enfrentamento dessa questão [...]
(BRASIL, 2009).
Este guia foi elaborado para ser um suporte, auxiliando a professora e o professor interessados
em utilizar estratégias de ensino diferenciadas, no desafio que é ensinar e ainda introduzir a
EA de forma contextualizada com sua disciplina. Nele você encontrará formas para elaborar o
seu próprio plano de trabalho a partir da realização de um diagnóstico. Além disso, serão
apresentadas três propostas de atividades com referências sobre os temas: água, esgoto e
resíduos, para que vocês possam introduzir temas relacionados ao saneamento por meio da
EA em sala de aula.
Portanto, o presente guia tem caráter transversal, podendo ser adotado nos currículos da
educação infantil ao Ensino Médio, conforme habilidades e competências trabalhadas em cada
ano de escolaridade.
09
O que você vai encontrar aqui
10
Elaborando um plano de trabalho para projetos de EA
Neste Guia do Educador, vamos abordar estratégias de educação ambiental a partir de temas
geradores relacionados ao saneamento básico.
Contudo, é importante que você saiba como planejar atividades em educação ambiental de
uma forma geral. Assim, você poderá estruturar diversas atividades, de acordo com as
demandas que surgirem e, também, com iniciativas próprias.
Vamos abordar os passos principais para elaboração de um Plano de Trabalho em Educação
Ambiental (Figura 1). Você pode adaptá-lo de acordo com a sua experiência, mas
recomendamos que seu plano inclua, no mínimo, as recomendações deste capítulo.
Contexto
PLANO DE
TRABALHO
DIAGNÓSTICO Escola
EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
Dados do
diagnóstico
Frequência
Multidisciplinaridade
MONITORAMENTO
E AVALIAÇÂO
Compartilhar com a
comunidade
Documentar o
processo
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Realizando diagnósticos
A etapa de diagnóstico objetiva uma visão ampla sobre o contexto ou situação em que seu
projeto de educação ambiental irá se inserir. A partir da elaboração do diagnóstico, é
possível desenvolver propostas mais adequadas para a sua realidade, além de obter ideias
de temas para serem abordados de acordo com as demandas observadas no seu público de
relacionamento (alunos, corpo docente, colaboradores etc.).
Diagnóstico de contexto
Nesta etapa, busque dados secundários sobre o local que sua escola está alocada. Descreva
o momento histórico e político, destaque aspectos regionais (cidade/ região/ estado) e
aspectos sociais. Verifique se a escola se localiza na zona rural ou urbana, além de aspectos
culturais da sua região.
Nos aspectos regionais, busque informações sobre a sua cidade, região e sobre o estado.
Aqui, uma boa referência para pesquisa é o site da Prefeitura Municipal. O site da
Prefeitura Municipal também pode ser uma boa fonte de referências sobre aspectos
culturais (patrimônio histórico, patrimônio ambiental, calendário de eventos etc.) e sobre o
zoneamento municipal. O site IBGE Cidades fornece informações sobre a população,
dinâmica demográfica, dinâmicas econômicas, mercado de trabalho e infraestrutura
disponível no local. Uma consulta ao órgão ambiental do município (ou do Estado) pode ser
uma forma de obter dados sobre os aspectos físicos e ambientais da sua localidade.
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Diagnóstico da escola
Nessa etapa do diagnóstico, é importante entender qual o nível de engajamento da instituição
de ensino com relação à Educação Ambiental. Como exemplo, é importante saber se a escola
objetiva atender ao disposto na Política Nacional de Educação Ambiental ou se pretende
resolver uma questão ambiental pontual, como o descarte incorreto de resíduos pelos alunos. É
necessário saber as suas expectativas estão alinhadas com os resultados esperados pela escola e
vice-versa.
Busque observar a estrutura disponível para realização das atividades: materiais, recursos
financeiros disponíveis, equipamentos de multimídia que podem ser utilizados e quais os
espaços possíveis para atividades. Caso esteja planejando ações em áreas externas da escola,
verifique a disponibilidade de transporte seguro, autorizações e alimentação. Caso não haja
possibilidade de realizar ações externas, observe o ambiente da escola e como ele pode ser
utilizado para abordar o tema. Uma visita técnica pela própria escola pode ser uma alternativa.
Neste momento, é importante identificar as pessoas envolvidas no processo que irão atuar em
conjunto com você. Além da avaliação de características objetivas, como número de pessoas,
grau de formação e disponibilidade, é recomendável que você faça anotações pessoais sobre o
nível de engajamento. Busque responder à seguinte pergunta: com quem posso contar?
Por fim, é importante analisar e alinhar expectativas com a direção da escola, ainda que a
demanda pelas atividades tenha partido dela.
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Metodologia e temas geradores
A partir dos dados do diagnóstico e da definição dos resultados esperados com as atividades de
educação ambiental, busque a melhor forma de atuar em sua unidade. Podem ser palestras,
oficinas, vivências, visitas técnicas, técnicas participativas, entre outras atividades. Pense em
diversas estratégias de sensibilização, conscientização e mobilização dos alunos, pois são esses
os fundamentos de um verdadeiro processo de educação ambiental, que, necessariamente,
interagem entre si” (SILVEIRA, 2003, p. 3).
APLICAÇÃO DO PROCESSO
RESULTADOS
DESPERTAR REFLETIR AGIR
ANÁLISE DE RESULTADOS
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Uma boa forma de pensar as metodologias de atuação junto aos alunos e demais colaboradores
da instituição é estruturar as ações em torno de temas geradores. Estes possibilitam diversas
abordagens a partir de uma atividade, com enfoque na multidisciplinaridade. Exemplo: a
compostagem dos resíduos orgânicos da cantina escolar pode ser abordada por professores de
química, física, biologia, história, sociologia, e outras disciplinas do currículo escolar.
Utilizar de técnicas participativas também pode ser uma ótima metodologia durante a etapa de
elaboração do Diagnóstico e na etapa de execução do plano de trabalho em Educação
Ambiental. As técnicas participativas podem melhorar o envolvimento e engajamento do
público de relacionamento no processo de ensino-aprendizagem. Alguns exemplos de técnicas
participativas são: árvore dos sonhos, muro das lamentações, grupos focais, world café,
diagrama de venn, teia da vida entre outras.
Defina também um calendário de ações. É importante destacar que esse calendário é flexível,
sendo adaptado durante a execução das atividades, de acordo com a resposta da comunidade
escolar.
Para acompanhar seu trabalho, defina metas simples e objetivas e indicadores para
acompanhamento dos resultados. Por exemplo, a meta pode ser envolver todos os alunos e
professores do 9° ano em um projeto de Feira Verde (feira para troca de mudas e sementes). Os
indicadores podem ser número de alunos participantes, número de mudas intercambiadas e a
formulários de avaliação da atividade.
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Monitoramento e avaliação
Após a distribuição das folhas, os participantes deverão dividir cada folha em três
partes iguais, nas quais escreverão nas cores correspondentes e de forma bem
resumida (máximo de três palavras chave) a sua avaliação.
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A avaliação dos(as) estudantes não precisa ser quantitativa. Engajamento, envolvimento e
empenho são ótimos indicadores e não são medidos com números. Mesmo que a escola adote
o sistema de notas, pense na possibilidade de avaliar os(as) estudantes para além dos números.
Por fim, é importante que você documente todo o processo. Além de fotos, listas de presença e
formulários de avaliação, o hábito de fazer notas pessoais pode ser uma rica fonte de
conhecimentos para você.
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Tema gerador: Água
Águas escuras dos rios,
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população
Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra...
Etapa 1
Comece a aula com alguns questionamentos sobre o tema. Problematize questões-chave para a
discussão. As informações recolhidas podem ser sistematizadas em conjunto com os alunos.
Alguns exemplos:
Etapa 2
Pedir aos alunos que investiguem sobre o seu próprio consumo de água e de sua família. Esta
atividade possibilita trazer o tema para a realidade concreta dos alunos. Pode ser interessante
investigar:
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Para responder a esse conjunto de perguntas, os alunos poderão:
Etapa 3
Promova um debate sobre as diferentes formas de poupar água e peça aos estudantes que
proponham soluções práticas para o excesso de consumo em suas casas e também na escola.
A água virtual, em linhas gerais, seria a água que não percebemos ser consumida, pois este
consumo ocorre de forma indireta. A água virtual está presente em praticamente todos os itens
que consumimos, desde peças de vestuários, alimentos e até equipamentos eletrônicos.
Frequentemente, podemos consumir muito mais água indiretamente do que diretamente no
nosso contato direto em nossas casas quando cozinhamos, tomamos banho, escovamos os
dentes, etc. Diante disso, pode ser interessante sugerir que os alunos incluam essa reflexão
quando forem convidados a pensar sobre o consumo de água em suas casas.
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Atividade 2: Produzindo o próprio sabão
Essa receita pode ser feita na escola e, com exceção da parte do cozimento, os estudantes
podem participar de todas as etapas do processo. Aproveite o momento para abordar a
importância da leitura e compreensão dos rótulos dos produtos, impactos ambientais dos
efluentes com componentes químicos, economia doméstica entre outras temáticas que julgar
pertinente para o ciclo para o qual você leciona.
3 litros de água
1 barra de sabão de coco (cerca de 200g)
50 ml de álcool 70 ou 90 (100ml de álcool comum se você não achar os outros)
3 colheres de sopa de bicarbonato de sódio
5 ml de óleo essencial da sua escolha (opcional, pois pode ser caro, mas é o que deixa o
sabão cheiroso)
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Atividade 3: "Eu sou um rio"
Estas atividades podem ser realizadas com crianças, através de atividades lúdicas, com o
intuito de familiarizar os estudantes com os conceitos básicos de hidrologia. A seguir são
listadas algumas sugestões:
Jogos com bola em terrenos planos e inclinados, para que percebam como os objetos se
movimentam de acordo com a inclinação do relevo;
Convidar os alunos a “ser rios” para introduzir aos conceitos de nascente, foz, afluente e
rio principal, por exemplo: Aluno 1 é afluente do Professor 1 que tem sua foz na Turma
do 3º ano, que é o rio principal. Assim, após nomeados, cada aluno da sala tem a função
de colocar uma bolinha de gude, representando o caminho da água, em um cano que
representa o caminho de um rio. Assim, é possível ver que todas as bolinhas chegam ao
rio principal. Além disso, esta atividade proporciona a percepção de que a poluição de
um curso d’água impacta outros rios, destacando a conscientização das ações humanas
em torno da questão hídrica;
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Relacionando o tema Água com as competências gerais da BNCC
Com o desenvolvimento das atividades propostas nesta unidade, os estudantes são convidados
a entender e explicar a realidade da água em sua região, além de desenvolverem pensamento
científico, crítico e criativo, investigando causas, elaborando e testando hipóteses e buscando
alternativas para solução ou mitigação dos problemas identificados.
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Tema gerador: Esgoto
Nada é mais clichê que a frase “saneamento é básico!”. Isso se dá pela eficiência comprovada de
que em até sistemas mais simples, há uma redução das taxas de contaminação de mananciais e
de doenças transmitidas pela água, como as parasitoses, com consequente melhora da
qualidade de vida e saúde de uma comunidade assistida (LEONETI; PRADO; OLIVEIRA, 2011) .
Para que de fato o saneamento básico seja aplicado de forma universal é necessário além de
dispositivos legais, políticas públicas em todas as esferas (municipal, estadual e federal) com
seus respectivos planos de ação colocados em prática. Além disso, a regulação por meio de
órgãos competentes e a participação pública são instrumentos essenciais, na medida em novas
leis e decretos são propostos, requerendo transparência da gestão pública enquanto os
recursos, obras e serviços de saneamento ambiental são utilizados e implementados
(CARCARÁ; SILVA; MOITA NETO, 2019).
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O pilar “Esgoto” do Saneamento Básico diz respeito ao resíduo líquido gerado por quaisquer
atividades humanas e que é devolvido ao meio ambiente. Faz parte do saber popular esse
termo por estar ligado às necessidades fisiológicas, porém devido ao déficit do saneamento no
Brasil (LEONETI; PRADO; OLIVEIRA, 2011).
No Brasil, cerca de 13 milhões de crianças e adolescentes não têm acesso ao saneamento básico
e 3,1% das crianças e dos adolescentes não têm sanitário em casa (TRATA BRASIL, 2019). Reflita
se essa realidade está presente na sua escola. Pode ser que um de seus alunos resida em
edificações sem ao menos um banheiro, ou que não haja ligação de esgoto da residência e que
todos os efluentes gerados são lançados ou na rede de drenagem de forma ilegal ou em uma
fossa rudimentar comum, em que muitas vezes não recebe manutenção.
Dado que essa faceta do saneamento básico faz parte do dia-a-dia e que nem todos ainda estão
cientes de que há muito a ser feito para mudar a realidade das populações em situação de
vulnerabilidade social. você, leitor e educador, é convidado a se inteirar do tema e torná-lo
acessível, compreendê-lo e contextualizá-lo, a abrir espaço para o diálogo e para atividades em
grupo, a fim de tornar a percepção dos problemas a essa temática relacionados presente, e a
partir de então, formar indivíduos cientes do mundo ao seu redor e sensíveis à busca de
soluções.
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Propostas de atividades
Etapa 1
Apresentar, de forma ilustrativa e através de conceitos, a rede predial de coleta de esgoto, a
ligação com a rede pública de coleta, e a diferença entre rede de coleta de esgoto e de águas
pluviais.
Etapa 2
Apresentar a diferença entre tratamento individual e coletivo de esgoto, proporcionando aos
alunos uma visita técnica a uma estação de tratamento de esgoto.
Etapa 3
Construir um mapa da escola, em forma de projeto, com a possível rota da rede predial de
coleta de esgoto, identificando qual o tipo de tratamento final (individual ou coletivo) e qual o
rio de descarte de efluente tratado. Caso irregularidades sejam identificadas pelos alunos,
sugerir a proposição de soluções adequadas.
A bacia hidrográfica ou bacia de drenagem de um curso d’água é a área onde, devido ao relevo
e a geografia local, a água da chuva escorre para um rio principal. No Brasil, a bacia
hidrográfica é considerada como uma Unidade de Gestão de Recursos Hídricos. São regiões
hidrográficas: bacias, grupos de bacias, sub-bacias hidrográficas próximas, com
características naturais, sociais e econômicas similares (BRASIL, 1997).
Portanto, esta atividade tem por objetivo promover a compreensão de que diferentes usos e
ocupação do solo em margens de rios e intervenções nos cursos d’água podem provocar
alterações nas dinâmicas dos mesmos e, consequentemente, trazer prejuízos para o meio
ambiente e para o bem estar e saúde da sociedade. Além disso, trazer a consciência de que o
despejo de efluente não tratado em uma localidade, pode interferir e trazer prejuízos à
diversas outras áreas.
Após a apresentação do tema e dos conceitos principais da aula, a fim trazer as realidades
locais, questionar os alunos quanto ao conhecimento dos rios locais, quais são e o quão
urbanizados são. Também questioná-los sobre o conhecimento a respeito do abastecimento
de água e do tratamento de esgoto da escola e de suas casas.
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Esta primeira etapa tem a finalidade de observação do conhecimento dos alunos sobre o tema.
Através de material suporte, como imagens do Google Maps (em tempo real, ou impressas),
juntamente aos alunos:
Caso este tipo de pesquisa não possa ser realizada pelos alunos )devido a limitações de material
e equipamento, por exemplo), sugerimos a realização de uma palestra informativa com um
profissional do saneamento qualificado para fornecer estas informações.
As doenças de veiculação hídrica, como o nome já diz, são doenças em que a própria água é o
veículo de transmissão. As principais são: amebíase, giardíase, gastroenterite, febre tifóide,
hepatites A e E e cólera. Além disso, indiretamente a água também está ligada a transmissão de
verminoses como esquistossomose, ascaridíase e teníase. Estas doenças são consideradas
problemas de saúde pública, sendo que fatores como o descarte incorreto de esgoto sanitário,
carências habitacionais e higiene inadequada favorecem a instalação e rápida disseminação
destas doenças. Sendo assim, é de extrema importância o conhecimento e debate da população
sobre o tema, dentro das características de cada localidade (BRASIL, 2014).
A atividade, baseada no trabalho realizado por Barbosa e Silva (2017), tem por objetivo principal
aproximar os alunos da problemática do descarte incorreto de esgoto sanitário para a saúde
pública, bem como identificar a realidade local dos estudantes. Esta atividade está prevista
para ocorrer durante 8 aulas, e também propõe atividades realizadas fora do âmbito escolar,
com a comunidade. As disciplinas envolvidas serão principalmente ciências e matemática. Por
fim, os alunos serão sujeitos ativos nesta atividade e os professores serão os mediadores deste
processo.
Etapa 1
Esta atividade se inicia com uma problematização sobre o tema.
O que é esgoto sanitário?
Qual a destinação correta?
Quais são as doenças de veiculação hídrica?
Qual a importância dos hábitos de higiene pessoal?
Nessa etapa, são apresentados os conceitos gerais de Saneamento Básico (SB) de acordo com as
definições da Organização Mundial da Saúde listando sua importância para a população e as
principais consequências da falta do SB nas comunidades.
De forma didática e simplificada, esta aula tem por objetivo contextualizar o tema para os
alunos, trazendo reflexões e instigando o debate sobre o saneamento na comunidade local.
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Etapa 2
Investigação e criação de hipóteses
Após a divisão da turma em grupos (entre 3 e 5 alunos), inicia-se a problematização da
atividade com a reflexão:
Faça a mediação de um debate sobre o tema e, a partir de então, convide os alunos a fazer
perguntas e levantar hipóteses.
Nesta fase os alunos podem apresentar bastante dificuldade, devido ao fato do aluno começar a
montar sua própria linha de raciocínio juntamente aos seus colegas. A partir desta aula o foco
será direcionado para os estudantes e suas ideias, sendo o professor o mediador das relações
entre a ciência escolar e o contexto real dos mesmos.
Etapa 3
A partir da aula anterior questione:
Neste momento, é importante que os alunos exponham suas ideias e que o professor instigue a
curiosidade da turma. A partir deste debate, o professor deve selecionar aquelas passíveis de
serem respondidas. Para esta atividade, os alunos podem ser divididos em grupos para que se
sintam mais à vontade para debater sobre o assunto. Após a primeira discussão, reúna a turma
para socializar aquilo que foi discutido em grupos.
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Proponha aos alunos que realizem entrevistas com a comunidade. Para isso, construa com a
turma um roteiro de investigação com perguntas a serem feitas durante as entrevistas (ou
utilize o roteiro modelo a seguir). No momento da entrega do roteiro, instrua os alunos sobre
como conduzir a entrevista, quantidade de entrevistas necessárias e sobre a importância de
registrar exatamente as respostas coletadas. Além disso, oriente a turma a rever os conceitos da
Etapa 1 antes de realizar as entrevistas.
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Etapa 4
Uso de procedimentos de pesquisa
A partir das entrevistas, realize uma discussão sobre os principais aspectos de cada pergunta
com os alunos, propondo uma reflexão coletiva sobre as informações obtidas. É importante a
realização de pequenos registros das informações que surgiram com a discussão, com o intuito
de elaborar as primeiras percepções sobre os dados. Na aula seguinte, fase de análise de dados
e avaliação dos resultados, é o momento de tabular as entrevistas.
*Caso os alunos encontrem dificuldades, o auxílio de uma professora ou professor de
matemática enriquecerá a atividade.
Etapa 5
Uso de procedimentos de pesquisa
Retornar às perguntas de problematização e hipóteses com os alunos. Após a tabulação das
entrevistas, e a partir dos resultados obtidos, os alunos devem analisar os dados coletados para
responder às questões elaboradas na Etapa 2, com auxílio do professor.
Etapa 6
Por fim, a conclusão da atividade é a etapa da passagem da ação manipulativa à ação
intelectual. Essas ações intelectuais levam ao início do desenvolvimento de atitudes científicas
como o levantamento de dados e a construção de evidências. Através das conclusões dos alunos
é possível a realização de um painel com as seguinte composição: título, pergunta da pesquisa,
procedimentos, gráficos, conclusões e desenhos. Os painéis podem ser fixados no mural da
escola.
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Relacionando o tema Esgoto com as competências gerais da BNCC
As atividades propõem estimular a busca pelo conhecimento por meio do estímulo à pesquisa e
apresentação de conceitos de forma contextualizada, abordando como a temática é vivida em
diferentes cotidianos e construindo o conhecimento de forma colaborativa. A argumentação se
faz presente, na medida em que são definidos momentos de diálogo, discussão, debate e a
defesa de idéias, para a criação de materiais conclusivos sobre os temas. Assim, é possível
compreender e desenvolver pesquisas à partir de estratégias próprias do método científico
para entender e explicar a realidade, colaborar com a sociedade e continuar a aprender.
Sugestões de filmes:
Saneamento Básico, o Filme | Filme (2007)
A realidade do Saneamento Básico no Brasil | Documentário do
Instituto Trata Brasil (2016)
Os Canais de Saturnino | Documentário da Fundação Arquivo e
Memória de Santos (2010)
A Luta Pelo Básico | Documentário Instituto Trata Brasil (2017)
O Preço da Verdade - Dark Waters | Filme (2019)
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Tema gerador: Resíduos
De acordo com Tozoni-Reis (2008) “é preciso cuidado ao tomar essa proposta como diretriz de
um processo educativo ambiental crítico e transformador”, pois é comum observar nas escolas
a implantação de planos de coleta seletiva, sem que o tema resíduos gere discussões mais
amplas. É de grande importância que, quando for abordado sobre a reciclagem, este assunto
esteja articulado à redução do consumo. Esta é uma forma de promover efetivamente a
educação ambiental, em detrimento do que Brügger (1999) chamou de adestramento
ambiental.
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Contudo, entendemos que o tema resíduos sólidos é de grande importância no contexto deste
guia do educador, pois é um dos pilares do Saneamento Básico. Ademais, uma abordagem
criteriosa, crítica e abrangente deste tema pode gerar transformações nas formas de pensar
dos alunos e também no seu entendimento, professor(a), enquanto educador(a). Traremos a
seguir uma proposta de atividade para um Plano de aula, que pode inclusive ser desenvolvido
em mais de uma aula, se desejado. Este plano de aula irá conter uma oficina de confecção de
um minhocário para a realização de compostagem: técnica que permite a decomposição
natural de resíduos orgânicos (biodegradáveis) até a sua transformação em adubo.
Propostas de atividades
Atividade 1: Introdução ao tema resíduos sólidos (Estudo dialogado)
Neste primeiro momento é importante introduzir o assunto aos alunos. Sugerimos mudar a
disposição das carteiras dos alunos, de forma a formar um círculo onde todos possam se olhar
e se ouvir melhor. Realizar um estudo dialogado (“Bate papo”) com os alunos, onde as
experiências dos próprios estudantes possam ser ouvidas e valorizadas.
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Atividade 2: Visita guiada - Caminho do lixo na escola
Esta visita tem como objetivo realizar um diagnóstico com os alunos sobre como ocorre a
gestão e fluxo de resíduos na escola. Entender que tipo de resíduo é gerado, onde são os
principais pontos de geração, como, quando e quem coleta, armazena e destina os resíduos
das escolas. Se possível, convidar os (as) profissional (ais) da limpeza que atua na escola para
participar de discussões com os alunos em sala de aula, conversar com os alunos e com o
colaborador da escola e pensar soluções coletivas e individuais para melhorar a gestão, para a
não geração e para o tratamento descentralizado do resíduo gerado.
Na hora pensar a solução para melhorar a gestão de resíduos na escola, indicamos o uso de
técnicas participativas, sugeridas no capítulo “Metodologia e temas geradores” deste guia.
Técnicas como a árvore dos problemas ou o muro das lamentações, por exemplo, permitem
visualizar os principais causas, os problemas a serem enfrentados e as consequências desses
problemas para a escola e seus usuários.
Atividade 3: Compostagem
Apresentação do minhocário: apresente aos alunos informações sobre as características de um
minhocário, função, formas de utilização e manejo.
A composteira é constituída por duas caixas digestoras, uma caixa coletora de chorume, ou
composto líquido, e tampa. As caixas coletoras devem ter suas bases inferiores furadas, para
permitir a passagem do composto líquido e das minhocas. A montagem da estrutura consiste,
basicamente, em empilhar as três caixas, mantendo a caixa coletora abaixo das demais. A caixa
digestora intermediária deve ser forrada com húmus e serragem. A caixa digestora de cima
deve ser forrada com húmus e receberá as minhocas. Nela, devem ser adicionados os resíduos
orgânicos.
A quantidade de minhocas deve ser calculada com base na quantidade de resíduos que a
composteira irá receber diariamente ou semanalmente. As minhocas californianas comem o
equivalente ao seu peso diariamente e para um balde de margarina que será cheio em um mês,
podem ser adicionadas em torno de 250 ml a 300 ml de minhocas junto ao húmus. Nos sites de
compra e venda de minhocas, elas normalmente são vendidas em número ou volume.
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É importante haver uma seleção dos alimentos destinados à composteira, evitando adicionar
frutas cítricas, alimentos cozidos, laticínios etc., e, em hipótese alguma, adicionar carnes,
limão, fezes, temperos fortes etc. Estas restrições são estabelecidas para que a composteira
não exale mau cheiro; não atraia animais indesejados, como as moscas; para que a
decomposição seja eficiente, mantendo as condições favoráveis à operação das minhocas. Um
fator importante para a degradação do material é que ele esteja bem fraccionado (por exemplo,
os alimentos devem ser picados antes de serem adicionados na composteira), aumentando
assim a superfície de contato com a mistura e otimizando a operação das minhocas.
O tempo médio indicado para o preenchimento da caixa digestora é de 30 dias. Quando cheia,
a caixa digestora de cima, deve ser deslocada para baixo, de forma a trocar de posição com a
caixa do meio, que começará a ser abastecida. Quando ocorrer o preenchimento da segunda
caixa digestora, será o momento de colher o adubo sólido. Para retirá-lo é importante expor o
composto a luz solar, para que as minhocas se afastem da superfície em direção ao fundo da
caixa e não sejam removidas juntamente com o composto. A remoção deve ocorrer até que
permaneça apenas uma camada de 5 a 7 cm de adubo, ou com um grande aglomerado de
minhocas. O adubo líquido pode ser retirado frequentemente da caixa coletora para diluição e
aplicação em plantas.
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Mãos na massa!
Construindo uma composteira
Materiais necessários
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Relacionando o tema Resíduos com as competências gerais da BNCC
Sugestões de filmes:
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REFERÊNCIAS
BARBOSA, Leandro Oliveira; SILVA, Nilma Soares. Investigando doenças veiculadas pela água. Revista
Brasileira de Educação Básica. v. 1 n.2. 2017.
BARROS, Monica Santos Cruz, Marcelo Diniz Monteiro de. Guia do educador para o filme Osmose Jones.
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