2022 Análise Da Produção Escrita de Questões de Matemática Do Vestibular 2020 Da Universidade Estadual de Londrina (Revemop)
2022 Análise Da Produção Escrita de Questões de Matemática Do Vestibular 2020 Da Universidade Estadual de Londrina (Revemop)
2022 Análise Da Produção Escrita de Questões de Matemática Do Vestibular 2020 Da Universidade Estadual de Londrina (Revemop)
Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar as produções escritas de Matemática do Vestibular 2020 da
Universidade Estadual de Londrina disponibilizadas na revista Diálogos Pedagógicos da própria instituição, além
de propor intervenções a partir dessas produções escritas que poderiam ser utilizadas em aulas de matemática
como pontos de partida para oportunizar a aprendizagem. Para tanto, discute-se uma perspectiva de avaliação
que visa subsidiar os processos de ensino e de aprendizagem, tomada como prática de investigação e
oportunidade de aprendizagem. A análise da produção escrita dessas questões possibilitou observar que as
intervenções do professor em aulas de matemática são essenciais para auxiliar os estudantes a aprenderem a
partir de suas próprias produções e para que o professor possa obter informações a respeito de como os
estudantes lidam com as questões de matemática.
Gabriel dos Santos e Silva Abstract: This article aims to analyze the written productions of Mathematics of the 2020
Professor do Instituto Federal do Paraná entrance exam of the Universidade Estadual de Londrina, available in the journal Diálogos
(IFPR), campus Capanema, Capanema,
Paraná, Brasil. Pedagógicos of the institution itself, in addition to proposing interventions to these written
http://orcid.org/0000-0002-7527-7763
productions that could be used in mathematics classes as a starting point to create
[email protected] opportunities for learning. Therefore, an assessment perspective that aims to support the
teaching and learning processes is discussed, taken as a practice of investigation and
Daniela Harmuch learning opportunity. The analysis of the written production of these questions made it
Doutoranda do Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Ciências e
possible to observe that the teacher's interventions in mathematics classes are essential to
Educação Matemática pela Universidade help students learn from their own productions and so that the teacher can obtain information
Estadual de Londrina (UEL), Londrina, about how students deal with the questions of math.
Paraná, Brasil.
http://orcid.org/0000-0002-0796-9493
[email protected]
Keywords: Mathematics Education. Assessment of Scholar Learning. Written production
analysis in mathematics.
Recebido em 27/12/2021
Aceito em 23/01/2022
Publicado em 25/04/2022
Análisis de la producción escrita de preguntas
matemáticas del examen de admisión de 2020 de la Universidade
Estadual de Londrina
Resumen: Este trabajo tiene como objetivo analizar las producciones escritas de Matemáticas de Vestibular 2020
de la Universidade Estadual de Londrina, disponibles en la revista Diálogos Pedagógicos de la propia institución,
además de proponer intervenciones a partir de esas producciones escritas que podrían ser utilizadas en las clases
de matemáticas como punto de partida para generar oportunidades. para aprender. Para eso, se discute una
perspectiva de evaluación que tiene como objetivo apoyar los procesos de enseñanza y aprendizaje, tomado como
una práctica de investigación y oportunidad de aprendizaje. El análisis de la producción escrita de estas preguntas
permitió observar que las intervenciones del docente en las clases de matemáticas son fundamentales para ayudar
Palabras clave: Educación Matemática. Evaluación del aprendizaje escolar. Análisis de la producción escrita en
matemáticas.
1 Introdução
Nessa revista, são disponibilizadas as questões das duas primeiras fases do vestibular da UEL,
bem como as expectativas de respostas comentadas. Além disso, como a segunda fase contém questões
abertas, a Diálogos Pedagógicos apresenta produções escritas dos estudantes com comentários.
Um dos principais objetivos da Avaliação da Aprendizagem Escolar, de acordo com autores que
a estudam em uma perspectiva formativa, é a de subsidiar os processos de ensino de aprendizagem
(BARLOW, 2006; DE LANGE, 1999; HADJI, 1994; LUCKESI, 2011). De acordo com Hadji (1994), um
dos objetivos da avaliação é informar ao professor as condições sob as quais ocorrem as aprendizagens
dos estudantes, além de auxiliá-los a compreender o andamento de seus percursos, suas dificuldades e
êxitos.
Nesse sentido, a avaliação pode ser entendida como um processo pelo qual professor e
estudantes são informados a respeito dos andamentos dos processos de ensino e aprendizagem, para
que possam tomar decisões educacionais. Adotar a avaliação como prática de investigação significa
entendê-la como
um processo de buscar conhecer ou, pelo menos, obter esclarecimentos, informes sobre o
desconhecido por meio de um conjunto de ações previamente projetadas e/ou planejadas,
processo no qual se procura seguir rastros, vestígios, esquadrinhar, ir à pista do que é
observável, conhecido (BURIASCO; FERREIRA; CIANI, 2009, p. 81).
Entender a avaliação como prática de investigação implica não analisar apenas as respostas
dadas às tarefas de avaliação, mas sim aos caminhos percorridos, como os procedimentos e estratégias
escolhidos para a resolução da tarefa. Desse modo, rompe-se com a crença de que as questões de
matemática só têm uma resolução ou resposta.
Uma das práticas associadas à avaliação como prática de investigação é a análise da produção
escrita. De acordo com Santos (2014, p. 23), a análise da produção escrita “pode ser tomada como um
conjunto de ações frente à produção escrita dos alunos que possibilita ao professor obter informações
para conhecer e compreender o processo de aprendizagem dos alunos, planejar e executar intervenções
de modo a auxiliá-los”.
Além disso,
o professor, por meio da análise da produção escrita dos estudantes, pode obter vários
“retratos” de um mesmo processo, em tempos e condições diferentes. Retratos que
possibilitarão que ele questione qual matemática os estudantes estão aprendendo, que
entendimento estão tendo do que é trabalhado em sala de aula, quais dificuldades estão
3 Encaminhamentos metodológicos
Para esta pesquisa, foram utilizadas as doze produções escritas das quatro questões abertas de
matemática da segunda fase do Vestibular 2020 da Universidade Estadual de Londrina, disponíveis em
Diálogos Pedagógicos (2021). A princípio, buscou-se a revista do Vestibular 2021, por ser a mais recente.
Entretanto, devido à pandemia do Covid-19 no Brasil, essa edição da prova do vestibular não teve
questões abertas e, portanto, a revista não teve produções escritas de candidatos. Desse modo, foi
escolhido o Vestibular 2020.
Então, para a análise da produção escrita, cada resolução foi analisada individualmente,
tomando como base as ações descritas por Santos (2014). Primeiro, efetuou-se uma leitura de cada
produção escrita; em seguida, foram elaboradas inferências a respeito do que os estudantes escreveram;
depois, buscou-se fazer interpretações acerca das resoluções para, enfim, elaborar possíveis
intervenções, caso aquelas produções escritas fossem trabalhadas em um contexto de aulas de
matemática.
Entende-se que, por serem produções escritas provenientes de uma prova de vestibular, não é
possível fazer intervenções ou dar encaminhamentos didáticos aos estudantes que as produziram.
Porém, entende-se que este artigo visa fornecer subsídios aos professores para que possam utilizar a
análise da produção escrita em aulas de matemática e para tomarem as intervenções propostas como
inspiração para uma avaliação como prática de investigação e oportunidade de aprendizagem.
4.1. Questão 1
Um agricultor tinha uma quantidade M de mudas de hortaliças para replantar em uma quantidade C de
canteiros. Pensou em plantar 8 mudas de hortaliças em cada um dos canteiros, mas, dessa forma,
sobrariam 32 mudas de hortaliças sem plantar. Tentou reorganizar o pensamento simulando o plantio
de 12 mudas de hortaliças em cada um dos canteiros. Desse modo, todas as hortaliças seriam
plantadas, porém sobrariam 8 canteiros sem muda alguma plantada. Finalmente, organizou o plantio
da seguinte forma: 10 mudas de hortaliças de cor verde-escuro por canteiro, ocupando metade da
quantidade de canteiros, e 8 mudas de hortaliças de cor verde-claro por canteiro, ocupando a outra
metade da quantidade de canteiros. Assim, todas as mudas de hortaliças seriam plantadas e nenhum
canteiro ficaria vazio.
A partir das informações desse problema, determine a quantidade de mudas de hortaliças de cor verde-
escuro e de cor verde-claro.
Apresente os cálculos realizados na resolução desta questão.
Fonte: Revista Diálogos Pedagógicos (2021, p. 141).
As expectativas de resposta são apresentadas na Figura 1.
A primeira produção escrita apresentada na revista (Figura 2) foi considerada pela equipe de
correção como satisfatória.
Entretanto, em uma situação de sala de aula, o professor poderia explorar a produção escrita do
estudante a fim de promover alguma aprendizagem a partir dela. Por exemplo, o professor pode propor
que o estudante pense em outra forma de representar os dados da questão, utilizando símbolos
(formalizados ou não) ou por meio de expressões algébricas. Nesse ínterim, o professor pode auxiliar o
estudante a resolver a questão por meio de um sistema de equações, tornando sua estratégia de
resolução mais formal.
Em um contexto de avaliação externa, sobretudo no do vestibular, nada se pode fazer com uma
produção como a da Figura 3. Entretanto, em aulas de matemática, em uma perspectiva de avaliação
formativa, o professor pode intervir no trabalho do estudante solicitando que apresente os cálculos e, a
partir da apresentação dos cálculos, fazer outras intervenções que julgar conveniente.
Além disso, na resolução da Figura 3, o estudante escreve “160.8 = 128”, o que não representa
uma igualdade correta. No contexto da resolução, é possível inferir que o estudante quis escrever “16.8
= 128”, mas por algum motivo acabou acrescentando um zero, tornando o 16 um 160. Como não se tem
acesso ao estudante, não é possível confirmar se esta inferência é correta, mas no caso de aulas na
perspectiva da avaliação formativa, é possível que o professor converse com o estudante e busque
descobrir se de fato foi isso que ocorreu.
Por fim, a terceira produção escrita apresentada na revista (Figura 4) foi considerada
insatisfatória.
Na época de secas, caminhões-pipas abastecem essas cisternas. Esse tipo de caminhão possui um
tanque de armazenamento de água em formato cilíndrico, com 2 metros de diâmetro e 8 metros de
comprimento.
Despreze as espessuras dos materiais dos quais são feitos as cisternas e o tanque do caminhão-pipa
e suponha que as cisternas estejam completamente vazias de água e o tanque completamente cheio,
considere ainda que não há desperdício algum de água.
Nessas condições, quantos tanques de caminhões-pipas completamente cheios de água são
necessários para abastecer, no mínimo, 17 cisternas?
Apresente os cálculos realizados na resolução desta questão.
Fonte: Revista Diálogos Pedagógicos (2021, p. 144).
As expectativas de resposta são apresentadas na Figura 5.
No caso da Questão 2, tanto a conversão incorreta feita pelo estudante (1 m³ equivale a 1L),
quanto a escolha de adotar π = 3, não influenciam no resultado final, visto que uma das etapas envolve
Não foi possível identificar na revista o motivo pelo qual a produção escrita foi considerada como
satisfatória, uma vez que foi adotado 1 m³ equivale a 1 L, apenas encontra-se a explicação seguinte:
Além disso, o estudante utiliza o número 2 como se representasse a área da base do cilindro.
Infere-se que o número 2 foi identificado pelo estudante no enunciado como aquele que representa o
raio da base do cilindro. Nesse sentido, em um contexto de aulas de matemática, o professor poderia
perguntar ao estudante o que o 2 representa, qual o significado de A b na fórmula e qual a relação entre
o raio da base e a área da base. Caso o estudante não saiba responder às perguntas, o professor pode
propor uma pesquisa ou abrir a discussão para a turma.
4.3. Questão 3
Em uma prova, por um erro de impressão, uma das questões apareceu da seguinte forma:
Ao efetuar operações com os dois membros da equação, o estudante não justifica os passos
feitos, embora, matematicamente, não apresentem algum equívoco. Como sua resolução foi considerada
satisfatória, o professor poderia, em um contexto de aulas de matemática, propor ao estudante que
justifique cada passo adotado na resolução. Nesse sentido, ao explicar a divisão por x nos dois membros
da igualdade, o professor pode questionar por que essa operação é válida. Pode-se discutir que dividir
expressões algébricas por uma variável ou incógnita pressupõe admitir que essa variável ou incógnita
não seja 0, tendo em vista que a divisão por 0 não é definida em matemática. No caso da Questão 3, o
valor de x não é 0, nem -0,5, porque esses valores fariam com que a equação proposta não tivesse
solução e, por isso, a divisão por x efetuada pelo estudante é válida.
Nesse sentido, entende-se que a estratégia escolhida conduz a uma resposta correta, mas que
não necessariamente é única. Em um contexto de aulas de matemática, em que o professor pode efetuar
intervenções nas produções dos estudantes, pode questionar se existiria algum inteiro maior ou igual a
1 que também implicasse z inteiro. Isso promoveria ao estudante a possibilidade de justificar a unicidade
da resposta encontrada. Caso o estudante continuasse testando os próximos valores da sequência de
inteiros positivos (3, 4, …), o professor poderia intervir questionando como o estudante faria para testar
todos os números.
Essa seria uma oportunidade para que o professor pudesse auxiliar o estudante a utilizar uma
estratégia mais formal, trabalhando com as incógnitas da questão e não substituindo números.
que o estudante adote x = 5 e calcule o valor do numerador e do denominador dessa fração. Nesse caso,
11
o numerador é 11 e o denominador 5, fazendo com que a fração seja 5 , que é diferente de 3. Para outros
As três resoluções apresentadas para a Questão 3 tiveram como resposta que o numerador
apagado é 3, ainda que uma seja considerada satisfatória, uma parcialmente satisfatória e uma
insatisfatória. Isso denota que as correções com base apenas na resposta final fazem com que o
professor tenha poucos indícios sobre a aprendizagem dos estudantes e reforça que a produção escrita
é uma fonte rica de informações para que o professor conduza suas intervenções e suas aulas.
4.4. Questão 4
Uma ponte, composta de pista, colunas e base de sustentação, será construída conforme a figura a
seguir.
A pista da ponte é paralela ao solo e é apoiada por colunas de sustentação h 0, h1, h2, h3, hc, h4, h5, h6
e h7 perpendiculares à pista e que possuem duas extremidades: na pista e na base de sustentação, a
qual possui formato parabólico, cujo lugar geométrico coincide com parte do gráfico de uma função
polinomial de segundo grau da forma f(x) = ax2 + bx2 + c, com a ≠ 0.
Suponha que as colunas têm espaçamentos iguais entre elas, que o comprimento da coluna central
hc é zero, que a pista da ponte tem 24 metros de comprimento e que sua altura é de 6 metros em
relação ao solo.
Admitindo que as espessuras das colunas, da pista, do solo e da base de sustentação são
desprezíveis, determine os comprimentos das colunas de sustentação h 1 e h5.
Apresente os cálculos realizados na resolução desta questão.
Fonte: Revista Diálogos Pedagógicos (2021, p. 150).
As expectativas de resposta são apresentadas na Figura 13.
por 18 (valores que representam as coordenadas x de h1 e h5, respectivamente), encontra f(3) e f(18) e
efetua 6 – f(3) e 6 – f(18), determinando que “o comprimento da coluna h1 = 3,4 m e h5 = 1,5 m”.
É possível inferir que, ao escrever f(x) – (x – 0)(x – 24), o estudante considerou a = -1 como se
fosse equivalente a a < 0 e esqueceu de apresentar o símbolo “=” entre f(x) e o sinal de –. O fato de ter
esquecido de apresentar o símbolo = não influenciou na resolução, mas considerar a = -1 fez com que a
equação encontrada não fosse a lei de formação da função representada pela parábola da questão.
Embora a Questão 4 tenha apresentado a expressão f(x) = ax2 + bx2 + c para representar a lei
de formação de uma função quadrática, admitiu como satisfatórias as resoluções em que os candidatos
utilizaram f(x) = ax2 + bx + c. Isso denota um aspecto da avaliação em que o professor não quer avaliar
as produções dos estudantes a partir de um único ponto de vista, mas levando em consideração suas
escolhas e estratégias.
O objetivo deste artigo era analisar as produções escritas de Matemática do Vestibular 2020 da
Universidade Estadual de Londrina disponibilizadas na revista Diálogos Pedagógicos da própria
instituição, além de propor intervenções que poderiam ser utilizadas em aulas de matemática como ponto
de partida para oportunizar aprendizagem. Para cada resolução de cada questão, foi apresentada uma
descrição das estratégias e procedimentos utilizados pelos estudantes, inferências e interpretações
sobre suas resoluções e indicações de algumas intervenções possíveis, caso aquelas produções escritas
fossem produzidas em aulas de matemática.
Nesse sentido, a análise da produção escrita se mostrou como uma estratégia para a produção
de intervenções e discussões em aulas de matemática. Dependendo do envolvimento dos alunos com
as intervenções do professor, outros caminhos podem ser percorridos para a condução dos estudantes.
As explorações das resoluções, presentes neste trabalho, com intervenções que oportunizam ao
estudante reflexão sobre suas produções, aliadas ao potencial da análise da produção escrita revelada
a partir do que o estudante sabe, podem também evidenciar ao professor, a relevância de (re)conhecer
estratégias/procedimentos utilizados por estudantes, quais são seus erros e a natureza deles e o modo
como estão lidando com as questões, observando caminhos para futuras intervenções a serviço dos
processos de ensino e de aprendizagem.
Referências
BARLOW, Michel. Avaliação escolar: mitos e realidades. Tradução Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed,
2006.
BURIASCO, Regina Luzia Corio de; FERREIRA, Pamela Emanueli Alves; CIANI, Andreia Büttner.
Avaliação como prática de investigação (alguns apontamentos). BOLEMA - Boletim de Educação
Matemática, UNESP - Rio Claro, v. 22, n. 33, p. 69-96, 2009.
COPS. Consulta de Provas e Gabaritos Definitivos, 2019. Provas e Expectativas de Respostas - 2ª FASE.
Disponível em:
<https://www.cops.uel.br/v2/ProvasGabaritos/ConsultarProvasExpectativas2FaseVestibular/Selecao/24
5/Fase/2/Atividade/6409>. Acesso em: 27 de dez. de 2021.
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