Curso 275247 Aula 05 Prof Ricardo Torques Grifado 0a38
Curso 275247 Aula 05 Prof Ricardo Torques Grifado 0a38
Curso 275247 Aula 05 Prof Ricardo Torques Grifado 0a38
Resumo............................................................................................................................................................. 47
Gabarito ............................................................................................................................................................ 67
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GRUPOS VULNERÁVEIS - INDÍGENAS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
RECADO IMPORTANTE AQUI! Há a possibilidade de algumas aulas aparecerem duplicadas e elas são
necessárias em razão dos múltiplos pacotes que compreendem o edital. A fim de garantir que nossos alunos
não sofram prejuízos, recomendamos que dediquem tempo ao estudo de apenas uma das aulas, caso estas
apresentem conteúdo equivalente nos pacotes de seus cursos. Essa abordagem visa otimizar o tempo
dedicado aos estudos, assegurando, ao mesmo tempo, a integridade do conteúdo programático. Essa
repetição de aulas é necessária para abranger todos os cargos e compor diferentes cursos. Pedimos
desculpas pelo inconveniente, mas trata-se de organização necessária para atender todos os alunos. Contem
conosco em nosso fórum de dúvidas para esclarecer qualquer questionamento relacionado ao conteúdo das
matérias.
Povos Indígenas
Boa aula!
Para fins do nosso estudo, entretanto, vamos tratar primeiramente da colocação constitucional da matéria
para localização do tema. É importante ressaltar, ainda, que no âmbito internacional temos algumas
convenções gerais que tratam da proteção a esse grupo, como é o caso da Convenção para Eliminação da
Discriminação Racial e do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. Contudo, o documento mais
relevante na seara internacional é a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas.
Para o nosso estudo aqui em Direitos Humanos nos interessa especialmente a disciplina constante da
Constituição Federal. A CF de 1988 rompe com o paradigma até então vigente da assimilação, integração e
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provisoriedade da condição de indígena. O pensamento até então dominante é o que de que os indígenas
estavam em processo de aculturação.
Essa premissa, contudo, não é a mais adequada. Na CF o Estado reconhece o direito dos indígenas ao longo
de todo o seu texto. Vamos destacar alguns deles:
O art. 3º trata dos objetivos da República Federativa do Brasil e busca a promoção do bem de todos sem
preconceitos de origem ou de raça.
O art. 20 inciso XI afirma que as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas são bens da União. Vamos
cuidar deste assunto com toda atenção um pouco adiante, ainda nesta aula.
O art. 22 da Constituição afirma ser competência privativa da União legislar sobre populações indígenas.
No art. 49 foi fixada a competência exclusiva do Congresso Nacional para autorizar a exploração e o
aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais em terras indígenas.
Havendo conflitos envolvendo direitos indígenas a competência para o processamento e julgamento das
causas será do juiz federal. Perceba que estamos tratando dos direitos indígenas de forma coletiva e não o
direito de um dos integrantes daquele grupo de forma individual.
A defesa dos direitos e interesses deste grupo vulnerável foi prevista como função institucional do Ministério
Público de forma expressa no art. 129 inciso V da Constituição Federal.
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Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
O artigo 176 trata das jazidas e demais recursos minerais além dos potenciais de energia hidráulica. O seu
§1º prevê que deverão ser previstas condições específicas quando a pesquisa, lavra ou aproveitamento dos
recursos quando essas atividades se desenvolverem em terras indígenas.
Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia
hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou
aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do
produto da lavra.
§ 1.º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que
se refere o caput deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização ou
concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa brasileira de capital
nacional, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas
atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
O art. 210 da CF estabelece conteúdos mínimos para o ensino fundamental e seu §2º garante a utilização
das línguas maternas e processos próprios de aprendizagem para as comunidades indígenas.
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a
assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e
regionais.
§ 2.º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às
comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios
de aprendizagem.
O art. 215 da CF trata dos direitos culturais e o §1º prevê proteção a cultura indígena. E o art. 216 da CF
reconhece como patrimônio cultural brasileiro bens portadores de referência à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira e entre eles é claro estão os indígenas.
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às
fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais.
§ 1.º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e
afrobrasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira,
nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
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II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.
§ 1.º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o
patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
§ 2.º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação
governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.
Na Constituição Federal o Estado reconhece o direito dos indígenas de se manterem como uma coletividade
organizada. Não é à toa que o caput do art. 231 reconhece a ordem social própria das comunidades
indígenas, com costumes, línguas, crenças e tradições próprias.
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus
bens.
Do caput do dispositivo extrai-se o reconhecimento à cultura e tradição dos indígenas, bem como o modo
de vida e o reconhecimento das terras ocupadas, cuja definição consta do §1º abaixo:
O conceito do dispositivo acima trata, por assim dizer, de quatro critério para classificá-las como territórios
tradicionalmente utilizados pelos indígenas.
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OCUPADAS PELOS INDÍGENAS
TERRAS TRADICIONALMENTE por eles habitadas em caráter permanente
(OMNI - 2021) Preceitua a Constituição Federal de 1988 que o ensino fundamental regular será ministrado
em língua portuguesa, assegurado às comunidades:
A) estrangeiras também a utilização de suas línguas originárias e processos próprios de aprendizagem.
B) indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem
C) portuguesas a utilização do idioma lusitano e processos próprios de aprendizagem.
D) Nenhuma das alternativas.
Comentários
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. Trata-se do texto do §2º do art. 210 da CF.
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação
básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.
§ 2.º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades
indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.
Revela-se a vontade do Constituinte Originário de garantir os direitos territoriais aos grupos indígenas,
premissa para a manutenção da vida indígena. Essas propriedades, contudo, não assumem a conotação
privada, tanto é que, como vimos, a CF prevê no art. 20, XI, que as terras indígenas são bens da União. Trata-
se, portanto, de uma categoria sui generis de “terras indígenas”.
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§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos
nelas existentes.
De acordo com a doutrina, ao se reconhecer os direitos originários sobre as terras tradicionalmente ocupadas
pelos indígenas, remete a três ideias chave, quais sejam:
As terras devem ser ocupadas com caráter permanente, sendo utilizadas para atividades produtivas.
A ocupação deve ser real e atual, ainda que haja algum fato impeditivo. É o que se extrai do caso
envolvendo a terra indígena Raposa Serra do Sol.
O assunto demarcação de terras dos indígenas é muito importante para sua prova. O tema foi recentemente
debatido no STF e no Congresso Nacional portanto, fique atento!
A primeira teoria é a do Marco Temporal. Para ela a posse da terra decorre do fato dos indígenas estarem
ocupando o local na data da promulgação da Constituição Federal (05 de outubro de 1988). Essa teoria foi
adotada pelo STF no julgamento da Petição 3.388 (Caso Raposa Serra do Sol).
Dada a importância e correlação com a matéria e porque extremamente didática, é interessante a leitura do
julgamento histórico do STF:
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FUNDAMENTOS SALVAGUARDAS INSTITUCIONAIS DITADAS PELA SUPERLATIVA
IMPORTÂNCIA HISTÓRICO-CULTURAL DA CAUSA. SALVAGUARDAS AMPLIADAS A PARTIR
DE VOTO-VISTA DO MINISTRO MENEZES DIREITO E DESLOCADAS PARA A PARTE
DISPOSITIVA DA DECISÃO. (...) . 3. INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS NO PROCESSO
ADMINISTRATIVO DEMARCATÓRIO. 3.1. Processo que observou as regras do Decreto nº
1.775/96, já declaradas constitucionais pelo Supremo Tribunal Federal no Mandado de
Segurança nº 24.045, da relatoria do ministro Joaquim Barbosa. Os interessados tiveram
a oportunidade de se habilitar no processo administrativo de demarcação das terras
indígenas, como de fato assim procederam o Estado de Roraima, o Município de
Normandia, os pretensos posseiros e comunidades indígenas, estas por meio de
petições, cartas e prestação de informações. Observância das garantias constitucionais
do contraditório e da ampla defesa. 3.2. Os dados e peças de caráter antropológico
foram revelados e subscritos por profissionais de reconhecidas qualificação científica
e se dotaram de todos os elementos exigidos pela Constituição e pelo Direito
infraconstitucional para a demarcação de terras indígenas, não sendo obrigatória a
subscrição do laudo por todos os integrantes do grupo técnico (Decretos nos 22/91 e
1.775/96). 3.3. A demarcação administrativa, homologada pelo Presidente da
República, é "ato estatal que se reveste da presunção juris tantum de legitimidade e
de veracidade" (RE 183.188, da relatoria do ministro Celso de Mello), além de se revestir
de natureza declaratória e força auto-executória. Não comprovação das fraudes
alegadas pelo autor popular e seu originário assistente. 4. O SIGNIFICADO DO
SUBSTANTIVO "ÍNDIOS" NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O substantivo "índios" é usado
pela Constituição Federal de 1988 por um modo invariavelmente plural, para exprimir
a diferenciação dos aborígenes por numerosas etnias. Propósito constitucional de
retratar uma diversidade indígena tanto interétnica quanto intra-étnica. Índios em
processo de aculturação permanecem índios para o fim de proteção constitucional.
Proteção constitucional que não se limita aos silvícolas, estes, sim, índios ainda em
primitivo estádio de habitantes da selva. 5. AS TERRAS INDÍGENAS COMO PARTE
ESSENCIAL DO TERRITÓRIO BRASILEIRO. 5.1. As "terras indígenas" versadas pela
Constituição Federal de 1988 fazem parte de um território estatal-brasileiro sobre o
qual incide, com exclusividade, o Direito nacional. E como tudo o mais que faz parte do
domínio de qualquer das pessoas federadas brasileiras, são terras que se submetem
unicamente ao primeiro dos princípios regentes das relações internacionais da
República Federativa do Brasil: a soberania ou "independência nacional" (inciso I do art.
1º da CF). 5.2. Todas as "terras indígenas" são um bem público federal (inciso XI do art.
20 da CF), o que não significa dizer que o ato em si da demarcação extinga ou
amesquinhe qualquer unidade federada. Primeiro, porque as unidades federadas pós-
Constituição de 1988 já nascem com seu território jungido ao regime constitucional de
preexistência dos direitos originários dos índios sobre as terras por eles
"tradicionalmente ocupadas". Segundo, porque a titularidade de bens não se confunde
com o senhorio de um território político. Nenhuma terra indígena se eleva ao patamar
de território político, assim como nenhuma etnia ou comunidade indígena se constitui
em unidade federada. Cuida-se, cada etnia indígena, de realidade sócio-cultural, e não
de natureza político-territorial. 6. NECESSÁRIA LIDERANÇA INSTITUCIONAL DA UNIÃO,
SEMPRE QUE OS ESTADOS E MUNICÍPIOS ATUAREM NO PRÓPRIO INTERIOR DAS TERRAS
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JÁ DEMARCADAS COMO DE AFETAÇÃO INDÍGENA. A vontade objetiva da Constituição
obriga a efetiva presença de todas as pessoas federadas em terras indígenas, desde que
em sintonia com o modelo de ocupação por ela concebido, que é de centralidade da
União. Modelo de ocupação que tanto preserva a identidade de cada etnia quanto sua
abertura para um relacionamento de mútuo proveito com outras etnias indígenas e
grupamentos de não-índios. A atuação complementar de Estados e Municípios em
terras já demarcadas como indígenas há de se fazer, contudo, em regime de concerto
com a União e sob a liderança desta. Papel de centralidade institucional desempenhado
pela União, que não pode deixar de ser imediatamente coadjuvado pelos próprios
índios, suas comunidades e organizações, além da protagonização de tutela e
fiscalização do Ministério Público (inciso V do art. 129 e art. 232, ambos da CF). 7. AS
TERRAS INDÍGENAS COMO CATEGORIA JURÍDICA DISTINTA DE TERRITÓRIOS INDÍGENAS.
O DESABONO CONSTITUCIONAL AOS VOCÁBULOS "POVO", "PAÍS", "TERRITÓRIO",
"PÁTRIA" OU "NAÇÃO" INDÍGENA. Somente o "território" enquanto categoria jurídico-
política é que se põe como o preciso âmbito espacial de incidência de uma dada Ordem
Jurídica soberana, ou autônoma. O substantivo "terras" é termo que assume
compostura nitidamente sócio-cultural, e não política. A Constituição teve o cuidado de
não falar em territórios indígenas, mas, tão-só, em "terras indígenas". A traduzir que os
"grupos", "organizações", "populações" ou "comunidades" indígenas não constituem
pessoa federada. Não formam circunscrição ou instância espacial que se orne de
dimensão política. Daí não se reconhecer a qualquer das organizações sociais indígenas,
ao conjunto delas, ou à sua base peculiarmente antropológica a dimensão de instância
transnacional. Pelo que nenhuma das comunidades indígenas brasileiras detém estatura
normativa para comparecer perante a Ordem Jurídica Internacional como "Nação",
"País", "Pátria", "território nacional" ou "povo" independente. Sendo de fácil percepção
que todas as vezes em que a Constituição de 1988 tratou de "nacionalidade" e dos
demais vocábulos aspeados (País, Pátria, território nacional e povo) foi para se referir
ao Brasil por inteiro. 8. A DEMARCAÇÃO COMO COMPETÊNCIA DO PODER EXECUTIVO
DA UNIÃO. Somente à União, por atos situados na esfera de atuação do Poder Executivo,
compete instaurar, sequenciar e concluir formalmente o processo demarcatório das
terras indígenas, tanto quanto efetivá-lo materialmente, nada impedindo que o
Presidente da República venha a consultar o Conselho de Defesa Nacional (inciso III do
§ 1º do art. 91 da CF), especialmente se as terras indígenas a demarcar coincidirem com
faixa de fronteira. As competências deferidas ao Congresso Nacional, com efeito
concreto ou sem densidade normativa, exaurem-se nos fazeres a que se referem o inciso
XVI do art. 49 e o § 5º do art. 231, ambos da Constituição Federal. 9. A DEMARCAÇÃO
DE TERRAS INDÍGENAS COMO CAPÍTULO AVANÇADO DO CONSTITUCIONALISMO
FRATERNAL. Os arts. 231 e 232 da Constituição Federal são de finalidade nitidamente
fraternal ou solidária, própria de uma quadra constitucional que se volta para a
efetivação de um novo tipo de igualdade: a igualdade civil-moral de minorias, tendo
em vista o proto-valor da integração comunitária. Era constitucional compensatória
de desvantagens historicamente acumuladas, a se viabilizar por mecanismos oficiais
de ações afirmativas. No caso, os índios a desfrutar de um espaço fundiário que lhes
assegure meios dignos de subsistência econômica para mais eficazmente poderem
preservar sua identidade somática, linguística e cultural. Processo de uma aculturação
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que não se dilui no convívio com os não-índios, pois a aculturação de que trata a
Constituição não é perda de identidade étnica, mas somatório de mundividências.
Uma soma, e não uma subtração. Ganho, e não perda. Relações interétnicas de mútuo
proveito, a caracterizar ganhos culturais incessantemente cumulativos. Concretização
constitucional do valor da inclusão comunitária pela via da identidade étnica. 10. O
FALSO ANTAGONISMO ENTRE A QUESTÃO INDÍGENA E O DESENVOLVIMENTO. Ao
Poder Público de todas as dimensões federativas o que incumbe não é subestimar, e
muito menos hostilizar comunidades indígenas brasileiras, mas tirar proveito delas
para diversificar o potencial econômico-cultural dos seus territórios (dos entes
federativos). O desenvolvimento que se fizer sem ou contra os índios, ali onde eles se
encontrarem instalados por modo tradicional, à data da Constituição de 1988,
desrespeita o objetivo fundamental do inciso II do art. 3º da Constituição Federal,
assecuratório de um tipo de "desenvolvimento nacional" tão ecologicamente
equilibrado quanto humanizado e culturalmente diversificado, de modo a incorporar
a realidade indígena. 11. O CONTEÚDO POSITIVO DO ATO DE DEMARCAÇÃO DAS
TERRAS INDÍGENAS. 11.1. O marco temporal de ocupação. A Constituição Federal
trabalhou com data certa -- a data da promulgação dela própria (5 de outubro de 1988)
-- como insubstituível referencial para o dado da ocupação de um determinado espaço
geográfico por essa ou aquela etnia aborígene; ou seja, para o reconhecimento, aos
índios, dos direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. 11.2. O
marco da tradicionalidade da ocupação. É preciso que esse estar coletivamente
situado em certo espaço fundiário também ostente o caráter da perdurabilidade, no
sentido anímico e psíquico de continuidade etnográfica. A tradicionalidade da posse
nativa, no entanto, não se perde onde, ao tempo da promulgação da Lei Maior de
1988, a reocupação apenas não ocorreu por efeito de renitente esbulho por parte de
não-índios. Caso das "fazendas" situadas na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, cuja
ocupação não arrefeceu nos índios sua capacidade de resistência e de afirmação da
sua peculiar presença em todo o complexo geográfico da "Raposa Serra do Sol". 11.3.
O marco da concreta abrangência fundiária e da finalidade prática da ocupação
tradicional. Áreas indígenas são demarcadas para servir concretamente de habitação
permanente dos índios de uma determinada etnia, de par com as terras utilizadas para
suas atividades produtivas, mais as "imprescindíveis à preservação dos recursos
ambientais necessários a seu bem-estar" e ainda aquelas que se revelarem
"necessárias à reprodução física e cultural" de cada qual das comunidades étnico-
indígenas, "segundo seus usos, costumes e tradições" (usos, costumes e tradições
deles, indígenas, e não usos, costumes e tradições dos não-índios). Terra indígena, no
imaginário coletivo aborígine, não é um simples objeto de direito, mas ganha a
dimensão de verdadeiro ente ou ser que resume em si toda ancestralidade, toda
coetaneidade e toda posteridade de uma etnia. Donde a proibição constitucional de
se remover os índios das terras por eles tradicionalmente ocupadas, assim como o
reconhecimento do direito a uma posse permanente e usufruto exclusivo, de parelha
com a regra de que todas essas terras "são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos
sobre elas, imprescritíveis" (§ 4º do art. 231 da Constituição Federal). O que termina
por fazer desse tipo tradicional de posse um heterodoxo instituto de Direito
Constitucional, e não uma ortodoxa figura de Direito Civil. Donde a clara intelecção de
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que OS ARTIGOS 231 E 232 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL CONSTITUEM UM COMPLETO
ESTATUTO JURÍDICO DA CAUSA INDÍGENA. 11.4. O marco do conceito fundiariamente
extensivo do chamado "princípio da proporcionalidade". A Constituição de 1988 faz dos
usos, costumes e tradições indígenas o engate lógico para a compreensão, entre outras,
das semânticas da posse, da permanência, da habitação, da produção econômica e da
reprodução física e cultural das etnias nativas. O próprio conceito do chamado "princípio
da proporcionalidade", quando aplicado ao tema da demarcação das terras indígenas,
ganha um conteúdo peculiarmente extensivo. 12. DIREITOS "ORIGINÁRIOS". Os
direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam foram
constitucionalmente "reconhecidos", e não simplesmente outorgados, com o que o
ato de demarcação se orna de natureza declaratória, e não propriamente constitutiva.
Ato declaratório de uma situação jurídica ativa preexistente. Essa a razão de a Carta
Magna havê-los chamado de "originários", a traduzir um direito mais antigo do que
qualquer outro, de maneira a preponderar sobre pretensos direitos adquiridos,
mesmo os materializados em escrituras públicas ou títulos de legitimação de posse em
favor de não-índios. Atos, estes, que a própria Constituição declarou como "nulos e
extintos" (§ 6º do art. 231 da CF). 13. O MODELO PECULIARMENTE CONTÍNUO DE
DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS. O modelo de demarcação das terras indígenas
é orientado pela ideia de continuidade. Demarcação por fronteiras vivas ou abertas em
seu interior, para que se forme um perfil coletivo e se afirme a auto-suficiência
econômica de toda uma comunidade usufrutuária. Modelo bem mais serviente da ideia
cultural e econômica de abertura de horizontes do que de fechamento em "bolsões",
"ilhas", "blocos" ou "clusters", a evitar que se dizime o espírito pela eliminação
progressiva dos elementos de uma dada cultura (etnocídio). 14. A CONCILIAÇÃO ENTRE
TERRAS INDÍGENAS E A VISITA DE NÃO-ÍNDIOS, TANTO QUANTO COM A ABERTURA DE
VIAS DE COMUNICAÇÃO E A MONTAGEM DE BASES FÍSICAS PARA A PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS PÚBLICOS OU DE RELEVÂNCIA PÚBLICA. A exclusividade de usufruto das
riquezas do solo, dos rios e dos lagos nas terras indígenas é conciliável com a eventual
presença de não-índios, bem assim com a instalação de equipamentos públicos, a
abertura de estradas e outras vias de comunicação, a montagem ou construção de bases
físicas para a prestação de serviços públicos ou de relevância pública, desde que tudo se
processe sob a liderança institucional da União, controle do Ministério Público e atuação
coadjuvante de entidades tanto da Administração Federal quanto representativas dos
próprios indígenas. O que já impede os próprios índios e suas comunidades, por
exemplo, de interditar ou bloquear estradas, cobrar pedágio pelo uso delas e inibir o
regular funcionamento das repartições públicas. 15. A RELAÇÃO DE PERTINÊNCIA ENTRE
TERRAS INDÍGENAS E MEIO AMBIENTE. Há perfeita compatibilidade entre meio
ambiente e terras indígenas, ainda que estas envolvam áreas de "conservação" e
"preservação" ambiental. Essa compatibilidade é que autoriza a dupla afetação, sob a
administração do competente órgão de defesa ambiental. 16. A DEMARCAÇÃO
NECESSARIAMENTE ENDÓGENA OU INTRAÉTNICA. Cada etnia autóctone tem para si,
com exclusividade, uma porção de terra compatível com sua peculiar forma de
organização social. Daí o modelo contínuo de demarcação, que é monoétnico,
excluindo-se os intervalados espaços fundiários entre uma etnia e outra. Modelo
intraétnico que subsiste mesmo nos casos de etnias lindeiras, salvo se as prolongadas
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relações amistosas entre etnias aborígines venham a gerar, como no caso da Raposa
Serra do Sol, uma condivisão empírica de espaços que impossibilite uma precisa fixação
de fronteiras interétnicas. Sendo assim, se essa mais entranhada aproximação física
ocorrer no plano dos fatos, como efetivamente se deu na Terra Indígena Raposa Serra
do Sol, não há como falar de demarcação intraétnica, menos ainda de espaços
intervalados para legítima ocupação por não-índios, caracterização de terras estaduais
devolutas, ou implantação de Municípios. 17. COMPATIBILIDADE ENTRE FAIXA DE
FRONTEIRA E TERRAS INDÍGENAS. Há compatibilidade entre o usufruto de terras
indígenas e faixa de fronteira. Longe de se pôr como um ponto de fragilidade estrutural
das faixas de fronteira, a permanente alocação indígena nesses estratégicos espaços em
muito facilita e até obriga que as instituições de Estado (Forças Armadas e Polícia
Federal, principalmente) se façam também presentes com seus postos de vigilância,
equipamentos, batalhões, companhias e agentes. Sem precisar de licença de quem quer
que seja para fazê-lo. Mecanismos, esses, a serem aproveitados como oportunidade
ímpar para conscientizar ainda mais os nossos indígenas, instruí-los (a partir dos
conscritos), alertá-los contra a influência eventualmente malsã de certas organizações
não-governamentais estrangeiras, mobilizá-los em defesa da soberania nacional e
reforçar neles o inato sentimento de brasilidade. Missão favorecida pelo fato de serem
os nossos índios as primeiras pessoas a revelar devoção pelo nosso País (eles, os índios,
que em toda nossa história contribuíram decisivamente para a defesa e integridade do
território nacional) e até hoje dar mostras de conhecerem o seu interior e as suas bordas
mais que ninguém. 18. FUNDAMENTOS JURÍDICOS E SALVAGUARDAS INSTITUCIONAIS
QUE SE COMPLEMENTAM. Voto do relator que faz agregar aos respectivos fundamentos
salvaguardas institucionais ditadas pela superlativa importância histórico-cultural da
causa. Salvaguardas ampliadas a partir de voto-vista do Ministro Menezes Direito e
deslocadas, por iniciativa deste, para a parte dispositiva da decisão. Técnica de
decidibilidade que se adota para conferir maior teor de operacionalidade ao acórdão.
Para a Teoria do Indigenato a posse da terra decorre da ocupação histórica. A proteção constitucional aos
direitos originários não teria um marco temporal.
O STF adotou essa teoria no julgamento do RE 1.017.365 com repercussão geral gerando o tema 1031. Veja
a tese adotada:
Tese:
I - A demarcação consiste em procedimento declaratório do direito originário territorial à
posse das terras ocupadas tradicionalmente por comunidade indígena; II - A posse
tradicional indígena é distinta da posse civil, consistindo na ocupação das terras habitadas
em caráter permanente pelos indígenas, nas utilizadas para suas atividades produtivas, nas
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e nas
necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições,
nos termos do § 1º do artigo 231 do texto constitucional; III - A proteção constitucional aos
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direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam independe da existência
de um marco temporal em 05 de outubro de 1988 ou da configuração do renitente esbulho,
como conflito físico ou controvérsia judicial persistente à data da promulgação da
Constituição; IV – Existindo ocupação tradicional indígena ou renitente esbulho
contemporâneo à promulgação da Constituição Federal, aplica-se o regime indenizatório
relativo às benfeitorias úteis e necessárias, previsto no § 6º do art. 231 da CF/88; V –
Ausente ocupação tradicional indígena ao tempo da promulgação da Constituição Federal
ou renitente esbulho na data da promulgação da Constituição, são válidos e eficazes,
produzindo todos os seus efeitos, os atos e negócios jurídicos perfeitos e a coisa julgada
relativos a justo título ou posse de boa-fé das terras de ocupação tradicional indígena,
assistindo ao particular direito à justa e prévia indenização das benfeitorias necessárias e
úteis, pela União; e, quando inviável o reassentamento dos particulares, caberá a eles
indenização pela União (com direito de regresso em face do ente federativo que titulou a
área) correspondente ao valor da terra nua, paga em dinheiro ou em títulos da dívida
agrária, se for do interesse do beneficiário, e processada em autos apartados do
procedimento de demarcação, com pagamento imediato da parte incontroversa, garantido
o direito de retenção até o pagamento do valor incontroverso, permitidos a
autocomposição e o regime do § 6º do art. 37 da CF; VI – Descabe indenização em casos já
pacificados, decorrentes de terras indígenas já reconhecidas e declaradas em
procedimento demarcatório, ressalvados os casos judicializados e em andamento; VII – É
dever da União efetivar o procedimento demarcatório das terras indígenas, sendo admitida
a formação de áreas reservadas somente diante da absoluta impossibilidade de
concretização da ordem constitucional de demarcação, devendo ser ouvida, em todo caso,
a comunidade indígena, buscando-se, se necessário, a autocomposição entre os
respectivos entes federativos para a identificação das terras necessárias à formação das
áreas reservadas, tendo sempre em vista a busca do interesse público e a paz social, bem
como a proporcional compensação às comunidades indígenas (art. 16.4 da Convenção 169
OIT); VIII – A instauração de procedimento de redimensionamento de terra indígena não é
vedada em caso de descumprimento dos elementos contidos no artigo 231 da Constituição
da República, por meio de pedido de revisão do procedimento demarcatório apresentado
até o prazo de cinco anos da demarcação anterior, sendo necessário comprovar grave e
insanável erro na condução do procedimento administrativo ou na definição dos limites da
terra indígena, ressalvadas as ações judiciais em curso e os pedidos de revisão já
instaurados até a data de conclusão deste julgamento; IX - O laudo antropológico realizado
nos termos do Decreto nº 1.775/1996 é um dos elementos fundamentais para a
demonstração da tradicionalidade da ocupação de comunidade indígena determinada, de
acordo com seus usos, costumes e tradições, na forma do instrumento normativo citado;
X - As terras de ocupação tradicional indígena são de posse permanente da comunidade,
cabendo aos indígenas o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e lagos nelas
existentes; XI - As terras de ocupação tradicional indígena, na qualidade de terras públicas,
são inalienáveis, indisponíveis e os direitos sobre elas imprescritíveis; XII – A ocupação
tradicional das terras indígenas é compatível com a tutela constitucional do meio ambiente,
sendo assegurado o exercício das atividades tradicionais dos povos indígenas; XIII – Os
povos indígenas possuem capacidade civil e postulatória, sendo partes legítimas nos
processos em que discutidos seus interesses, sem prejuízo, nos termos da lei, da
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67
legitimidade concorrente da FUNAI e da intervenção do Ministério Público como fiscal da
lei.
1- Ancestralidade - quando a CF/88 fala em terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas se refere a
locais que possuem vinculação com a ancestralidade e a tradição desses povos.
2- Direitos fundamentais - A constituição assegurou a esses povos a manutenção de sua organização social,
seus costumes, línguas, crenças e tradições e os direitos sobre as terras tradicionalmente ocupadas. Para a
ministra Carmem Lúcia a posse da terra não pode ser desmembrada dos outros direitos fundamentais
garantidos a eles. Ela salientou que o julgamento trata da dignidade étnica de um povo que foi oprimido e
dizimado por cinco séculos.
3- Posse tradicional - a posse das terras indígenas estaria relacionada com a tradição e não com a posse
imemorial. A posse tradicional não se esgota na posse física das terras.
Aqui acho importante citar uma norma internacional de grande importância a Convenção nº 169 da OIT –
Povos Indígenas e Tribais que está em vigência no Brasil por meio do Decreto 10.088/2009 e trata de forma
expressa das terras indígenas. Veremos pontos principais desta norma mais adiante.
§ 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum"
do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua
população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso
Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.
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Notem a importância que nossa Constituição confere à garantia das terras aos indígenas. Além de lhes
assegurar o direito originário, confere as seguintes prerrogativas às terras:
• inalienabilidade
• indisponibilidade
• imprescritibilidade
Ademais, a Constituição veda a remoção de indígenas de suas terras, que somente poderá ocorrer em
hipóteses excepcionais, mediante análise da questão pelo Congresso Nacional.
catástrofe ou epidemia
HIPÓTESES EXCEPCIONAIS DE
REMOÇÃO DE COMUNIDADE
INDÍGENA DE SUAS TERRAS
interesse da soberania
§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por
objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a
exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes,
ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei
complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações
contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de
boa fé.
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar
em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em
todos os atos do processo.
Em que pese a menção apenas ao Ministério Público, entende-se que a Defensoria Pública, dadas as suas
prerrogativas institucionais e o que dispõe o art. 134, deverá promover a defesa das populações indígenas,
especialmente no que diz respeito à tutela coletiva, com fundamento na Lei da Ação Civil Pública e na Lei
Complementar nº 80/1994.
Por fim o art. 67 do ADCT determinou o prazo de 5 anos a partir da promulgação da constituição para que se
concluísse a demarcação das terras indígenas.
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Art. 67. A União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir
da promulgação da Constituição.
Aqui devemos lembrar que o Brasil foi condenado na Corte IDH por violar o direito dos povos indígenas ao
controle e uso do seu território e recursos naturais no Caso Povo Indígena Xucuru vs. Brasil. Lembram?
Povo indígena O caso envolveu a violação dos direitos indígenas pela demora da demarcação de
Xucuru e seus suas terras. O processo de demarcação levou mais de 16 anos. Foi a primeira
membros vs Brasil condenação envolvendo direitos indígenas. Acabou-se também protegendo
(2018) direitos ambientais (greening ou esverdeamento )
2 – Legislação Internacional
No âmbito do Sistema Global não há tratado específico e sim normas de soft law.
2.1 - Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.
A declaração inicia afirmando o direito dos indígenas a todos os direitos humanos e liberdades fundamentais.
Artigo 1
Os indígenas têm direito, a título coletivo ou individual, ao pleno desfrute de todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais reconhecidos pela Carta das Nações Unidas,
a Declaração Universal dos Direitos Humanos3 e o direito internacional dos direitos
humanos.
O art. 2º afirma a igualdade e veda qualquer tipo de discriminação no exercício de seus direitos.
Artigo 2
Os povos e pessoas indígenas são livres e iguais a todos os demais povos e indivíduos e têm
o direito de não serem submetidos a nenhuma forma de discriminação no exercício de seus
direitos, que esteja fundada, em particular, em sua origem ou identidade indígena.
Os arts. 3º e 4º tratam da autodeterminação dos povos indígenas. Afirmam o direito de determinar sua
condição política e de buscar seu desenvolvimento econômico, social e cultural de forma livre. Além disso,
garante-se o direito à autonomia e ao autogoverno em questões internas e locais.
Artigo 3
Os povos indígenas têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito determinam
livremente sua condição política e buscam livremente seu desenvolvimento econômico,
social e cultural.
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Artigo 4
Os povos indígenas, no exercício do seu direito à autodeterminação, têm direito à
autonomia ou ao autogoverno nas questões relacionadas a seus assuntos internos e locais,
assim como a disporem dos meios para financiar suas funções autônomas.
O Art. 5º prevê o direito aos indígenas de conservar e reforçar suas próprias instituições políticas, jurídicas,
econômicas, sociais e culturais, sem afastar o seu direito de participar, da vida política, econômica, social e
cultural do Estado.
Artigo 5
Os povos indígenas têm o direito de conservar e reforçar suas próprias instituições
políticas, jurídicas, econômicas, sociais e culturais, mantendo ao mesmo tempo seu direito
de participar plenamente, caso o desejem, da vida política, econômica, social e cultural do
Estado.
(CESPE/CEBRASPE - 2021) Com relação ao exercício do direito à autodeterminação pelos povos indígenas,
assinale a opção correta, conforme a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.
a) Os povos indígenas têm direito à autonomia ou ao autogoverno nas questões relacionadas a seus assuntos
internos e locais, portanto possuem um direito específico de autodeterminação, o que os diferencia de
outras minorias.
b) Os povos indígenas podem determinar livremente sua condição política, assim como buscar livremente
seu desenvolvimento econômico, social e cultural, desde que o façam dentro dos limites do seu território
ancestral.
c) O direito à autodeterminação obsta o direito de conservar e reforçar suas próprias instituições políticas,
jurídicas, econômicas, sociais e culturais, ao mesmo tempo em que viabiliza aos indígenas o direito de
participar plenamente da vida política, econômica, social e cultural do Estado, caso assim desejem.
d) Os povos indígenas têm direito à autonomia territorial para autorizar ou fomentar qualquer ação
direcionada a desmembrar ou a reduzir, total ou parcialmente, a integridade territorial ou a unidade política
de Estados soberanos e independentes.
e) A partir do direito à autodeterminação, surgem diversos outros direitos, como o direito a não assimilação
forçada ou a não destruição de sua cultura, cabendo ao poder público estabelecer mecanismos eficazes de
prevenção ou reparação nesse sentido, com o objetivo de privar os indígenas da sua integridade como povos
distintos.
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Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. A afirmativa está de acordo com os arts. 3º e 4º da
declaração como vimos em aula. De fato, este é um direito que não é observado em outras minorias.
A alternativa B está incorreta. Não há na declaração esta limitação territorial.
A alternativa C está incorreta. Ao contrário o direito à autodeterminação permite o direito de conservar e
reforçar suas próprias instituições políticas, jurídicas, econômicas, sociais e culturais. O erro da assertiva está
na palavra obsta.
A alternativa D está incorreta. A própria declaração veda ação direcionada a desmembrar ou a reduzir, total
ou parcialmente, a integridade territorial ou a unidade política de Estados soberanos e independentes. Veja:
Artigo 46.1: Nada do disposto na presente Declaração será interpretado no sentido de conferir a um Estado,
povo, grupo ou pessoa qualquer direito de participar de uma atividade ou de realizar um ato contrário à Carta
das Nações Unidas ou será entendido no sentido de autorizar ou de fomentar qualquer ação direcionada a
desmembrar ou a reduzir, total ou parcialmente, a integridade territorial ou a unidade política de Estados
soberanos e independentes".
A alternativa E está incorreta. O Estado possui o dever de adotar mecanismos eficazes para a prevenção e a
reparação de atos que tenham por objetivo ou consequência privar os povos e as pessoas indígenas de sua
integridade como povos distintos, ou de seus valores culturais ou de sua identidade étnica.
Artigo 6
Todo indígena tem direito a uma nacionalidade.
O art. 8º trata de assunto muito importante, o direito a não sofrer assimilação forçada ou destruição da sua
cultura.
Artigo 8
1. Os povos e pessoas indígenas têm direito a não sofrer assimilação forçada ou a
destruição de sua cultura.
2. Os Estados estabelecerão mecanismos eficazes para a prevenção e a reparação de:
a) Todo ato que tenha por objetivo ou consequência privar os povos e as pessoas indígenas
de sua integridade como povos distintos, ou de seus valores culturais ou de sua identidade
étnica;
b) Todo ato que tenha por objetivo ou consequência subtrair-lhes suas terras, territórios
ou recursos.
c) Toda forma de transferência forçada de população que tenha por objetivo ou
consequência a violação ou a diminuição de qualquer dos seus direitos.
d) Toda forma de assimilação ou integração forçadas.
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67
e) Toda forma de propaganda que tenha por finalidade promover ou incitar a discriminação
racial ou étnica dirigida contra eles.
O art. 10 veda a remoção dos povos indígenas de suas terra ou territórios. Para que haja qualquer tipo de
mudança é preciso consentimento prévio e livre e indenização justa e equitativa.
Artigo 10
Os povos indígenas não serão removidos à força de suas terras ou territórios. Nenhum
traslado se realizará sem o consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas
interessados e sem um acordo prévio sobre uma indenização justa e eqüitativa e, sempre
que possível, com a opção do regresso.
Os povos indígenas têm o direito de praticar e revitalizar suas tradições e costumes culturais.
Os povos indígenas têm o direito de manifestar, praticar, desenvolver e ensinar suas tradições, costumes
e cerimônias espirituais e religiosas; de manter e proteger seus lugares religiosos e culturais e de ter acesso
a estes de forma privada; de utilizar e dispor de seus objetos de culto e de obter a repatriação de seus restos
humanos.
Os povos indígenas têm o direito de revitalizar, utilizar, desenvolver e transmitir às gerações futuras suas
histórias, idiomas, tradições orais, filosofias, sistemas de escrita e literaturas, e de atribuir nomes às suas
comunidades, lugares e pessoas e de mantê-los.
Os povos indígenas têm o direito de estabelecer e controlar seus sistemas e instituições educativos, que
ofereçam educação em seus próprios idiomas, em consonância com seus métodos culturais de ensino e de
aprendizagem.
Os povos indígenas têm direito a que a dignidade e a diversidade de suas culturas, tradições, histórias e
aspirações sejam devidamente refletidas na educação pública e nos meios de informação públicos.
Os povos indígenas têm o direito de estabelecer seus próprios meios de informação, em seus próprios
idiomas, e de ter acesso a todos os demais meios de informação não indígenas, sem qualquer discriminação.
Os indivíduos e povos indígenas têm o direito de desfrutar plenamente de todos os direitos estabelecidos
no direito trabalhista internacional e nacional aplicável.
Os povos indígenas têm o direito de participar da tomada de decisões sobre questões que afetem seus
direitos, por meio de representantes por eles eleitos de acordo com seus próprios procedimentos, assim
como de manter e desenvolver suas próprias instituições de tomada de decisões.
Os povos indígenas têm o direito de manter e desenvolver seus sistemas ou instituições políticas,
econômicas e sociais, de que lhes seja assegurado o desfrute de seus próprios meios de subsistência e
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67
desenvolvimento e de dedicar-se livremente a todas as suas atividades econômicas, tradicionais e de outro
tipo.
O art. 22 impõe particular atenção aos idosos, mulheres, jovens, crianças e portadores de deficiência
indígenas.
Artigo 22
1. Particular atenção será prestada aos direitos e às necessidades especiais de idosos,
mulheres, jovens, crianças e portadores de deficiência indígenas na aplicação da presente
Declaração.
2. Os Estados adotarão medidas, junto com os povos indígenas, para assegurar que as
mulheres e as crianças indígenas desfrutem de proteção e de garantias plenas contra todas
as formas de violência e de discriminação.
O art. 24 também possui informações importantes. Os povos indígenas devem ter direito a seus
medicamentos tradicionais e a manter suas práticas de saúde, porém devem ter acesso sem qualquer
discriminação a todos os serviços sociais e de saúde.
Artigo 24
1. Os povos indígenas têm direito a seus medicamentos tradicionais e a manter suas
práticas de saúde, incluindo a conservação de suas plantas, animais e minerais de interesse
vital do ponto de vista médico. As pessoas indígenas têm também direito ao acesso, sem
qualquer discriminação, a todos os serviços sociais e de saúde.
2. Os indígenas têm o direito de usufruir, por igual, do mais alto nível possível de saúde
física e mental. Os Estados tomarão as medidas que forem necessárias para alcançar
progressivamente a plena realização deste direito.
ARTIGO 1º
1. A presente Convenção aplica-se a;
a) povos tribais em países independentes cujas condições sociais, culturais e econômicas
os distingam de outros segmentos da comunidade nacional e cuja situação seja regida, total
ou parcialmente, por seus próprios costumes ou tradições ou por uma legislação ou
regulações especiais;
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67
b) povos em países independentes considerados indígenas pelo fato de descenderem de
populações que viviam no país ou região geográfica na qual o país estava inserido no
momento da sua conquista ou colonização ou do estabelecimento de suas fronteiras atuais
e que, independente de sua condição jurídica, mantêm algumas de suas próprias
instituições sociais, econômicas, culturais e políticas ou todas elas.
2. A autoidentificação como indígena ou tribal deverá ser considerada um critério
fundamental para a definição dos grupos aos quais se aplicam as disposições da presente
Convenção.
3. A utilização do termo povos na presente Convenção não deverá ser interpretada no
sentido de acarretar qualquer implicação no que se refere a direitos que possam ser
conferidos ao termo no âmbito do Direito Internacional.
O art. 6º prevê o direito de consulta prévia, livre e informada sobre decisões que possam afetar os povos
tribais e indígenas.
ARTIGO 6º
1. Na aplicação das disposições da presente Convenção, os governos deverão:
a) consultar os povos interessados, por meio de procedimentos adequados e, em
particular, de suas instituições representativas, sempre que sejam previstas medidas
legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente;
b) criar meios pelos quais esses povos possam participar livremente, ou pelo menos na
mesma medida assegurada aos demais cidadãos, em todos os níveis decisórios de
instituições eletivas ou órgãos administrativos responsáveis por políticas e programas que
lhes afetem;
c) estabelecer meios adequados para o pleno desenvolvimento das instituições e iniciativas
próprias desses povos e, quando necessário, disponibilizar os recursos necessários para
esse fim.
2. As consultas realizadas em conformidade com o previsto na presente Convenção
deverão ser conduzidas de boa-fé e de uma maneira adequada às circunstâncias, no
sentido de que um acordo ou consentimento em torno das medidas propostas possa ser
alcançado.
O art. 8º garante o direito de manutenção dos seus costumes e instituições desde que não sejam
incompatíveis com os direitos fundamentais previstos pela legislação interna.
ARTIGO 8º
1. Na aplicação da legislação nacional aos povos interessados, seus costumes ou leis
consuetudinárias deverão ser levados na devida consideração.
2. Esses povos terão o direito de manter seus costumes e instituições, desde que não sejam
incompatíveis com os direitos fundamentais previstos no sistema jurídico nacional e com
21
67
direitos humanos internacionalmente reconhecidos. Sempre que necessário, deverão ser
estabelecidos procedimentos para a solução de conflitos que possam ocorrer na aplicação
desse princípio.
3. A aplicação dos parágrafos 1o e 2o deste artigo não impedirá que membros desses
povos exercitem os direitos assegurados a todos os cidadãos e assumam as obrigações
correspondentes.
O art.10 afirma que no caso de aplicação de sanções penais deve ser evitado o encarceramento.
ARTIGO 10
1. No processo de impor sanções penais previstas na legislação geral a membros desses
povos, suas características econômicas, sociais e culturais deverão ser levadas em
consideração.
2. Deverá ser dada preferência a outros métodos de punição que não o encarceramento.
ARTIGO 13
1. Na aplicação das disposições desta Parte da Convenção, os governos respeitarão a
importância especial para as culturas e valores espirituais dos povos interessados, sua
relação com as terras ou territórios, ou ambos, conforme o caso, que ocupam ou usam para
outros fins e, particularmente, os aspectos coletivos dessa relação.
2. O uso do termo terras nos artigos 15 e 16 incluirá o conceito de territórios, que abrange
todo o ambiente das áreas que esses povos ocupam ou usam para outros fins.
ARTIGO 14
1. Os direitos de propriedade e posse de terras tradicionalmente ocupadas pelos povos
interessados deverão ser reconhecidos. Além disso, quando justificado, medidas deverão
ser tomadas para salvaguardar o direito dos povos interessados de usar terras não
exclusivamente ocupadas por eles às quais tenham tido acesso tradicionalmente para
desenvolver atividades tradicionais e de subsistência. Nesse contexto, a situação de povos
nômades e agricultores itinerantes deverá ser objeto de uma atenção particular.
2. Os governos tomarão as medidas necessárias para identificar terras tradicionalmente
ocupadas pelos povos interessados e garantir a efetiva proteção de seus direitos de
propriedade e posse.
3. Procedimentos adequados deverão ser estabelecidos no âmbito do sistema jurídico
nacional para solucionar controvérsias decorrentes de reivindicações por terras
apresentadas pelos povos interessados.
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67
O art. 15 se preocupa com os recursos naturais existentes nestas terras e sua exploração.
ARTIGO 15
1. O direito dos povos interessados aos recursos naturais existentes em suas terras deverá
gozar de salvaguardas especiais. Esses direitos incluem o direito desses povos de participar
da utilização, administração e conservação desses recursos.
2. Em situações nas quais o Estado retém a propriedade dos minerais ou dos recursos do
subsolo ou direitos a outros recursos existentes nas terras, os governos estabelecerão ou
manterão procedimentos pelos quais consultarão estes povos para determinar se seus
interesses seriam prejudicados, e em que medida, antes de executar ou autorizar qualquer
programa de exploração desses recursos existentes em suas terras. Sempre que for
possível, os povos participarão dos benefícios proporcionados por essas atividades e
receberão indenização justa por qualquer dano que sofram em decorrência dessas
atividades.
O art. 16 trata da excepcional possibilidade da retirada e reassentamento desses povos quando for
necessário. Exige-se o livre consentimento e conhecimento e sempre que possível deverão retornar as suas
terras tradicionais. Além disso, há previsão de indenização nesses casos.
ARTIGO 16
1. Sujeito ao disposto nos próximos parágrafos do presente artigo, os povos interessados
não deverão ser retirados das terras que ocupam.
2. Quando a retirada e o reassentamento desses povos forem considerados necessários
como uma medida excepcional, eles só serão realizados com seu livre consentimento e
conhecimento. Não sendo possível obter seu consentimento, essa transferência só será
realizada após a conclusão dos procedimentos adequados previstos na lei nacional,
inclusive após consultas públicas, conforme o caso, nas quais os povos interessados tenham
oportunidades de ser efetivamente representados.
3. Sempre que possível, esses povos terão o direito de retornar às suas terras tradicionais
tão logo deixem de existir as razões que fundamentaram sua transferência.
4. Quando esse retorno não for possível, como definido em acordo ou, na falta de um
acordo, por meio de procedimentos adequados, esses povos deverão receber, sempre que
possível, terras de qualidade e situação jurídica pelo menos iguais às das terras que
ocupavam anteriormente e que possam satisfazer suas necessidades presentes e garantir
seu desenvolvimento futuro. Quando os povos interessados manifestarem preferência por
receber uma indenização em dinheiro ou espécie, essa indenização deverá ser
adequadamente garantida.
5. Pessoas transferidas de uma terra para outra deverão ser plenamente indenizadas por
qualquer perda ou dano.
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67
O art. 18 prevê que os Estados devem adotar medidas para evitar a intrusão ou o uso não autorizado dessas
terras.
ARTIGO 18
Sanções adequadas devem ser estabelecidas em lei contra a intrusão ou uso não autorizado
de terras dos povos interessados e os governos tomarão medidas para impedir a ocorrência
de delitos dessa natureza.
(IBFC - 2023) A respeito da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho sobre Povos
Indígenas e Tribais, assinale a alternativa correta.
A) A aplicação das disposições desta Convenção não considerará como critério a consciência de sua
identidade indígena ou tribal
B) Os governos deverão assumir a responsabilidade de desenvolver uma ação coordenada e sistemática com
vistas a proteger os direitos desses povos e a garantir o respeito pela sua integridade, sendo defesa a
participação dos povos interessados
C) As ações coordenadas de responsabilidade dos governos contemplarão medidas que ajudem os membros
dos povos interessados a eliminar as diferenças socioeconômicas que possam existir entre os membros
indígenas e os demais membros da comunidade nacional, independente de suas aspirações e formas de vida
D) As disposições desta Convenção serão aplicadas sem discriminação aos homens e mulheres desses povos
E) Deverão ser adotadas as medidas especiais que sejam necessárias para salvaguardar as pessoas, as
instituições, os bens, as culturas e o meio ambiente dos povos interessados, ainda que contrárias aos desejos
expressos livremente pelos povos interessados
Comentários
A alternativa A está incorreta. É exatamente o contrário. O art. 1º afirma que a consciência de sua identidade
indígena ou tribal deverá ser considerada como critério fundamental para determinar os grupos aos que se
aplicam as disposições da presente Convenção.
A alternativa B está incorreta. Defeso significa proibido e a participação dos povos interessados deve ser
garantida.
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A alternativa C está incorreta. As ações devem ocorrer de maneira compatível com suas aspirações e formas
de vida.
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. Trata-se da previsão do art.3º . 1 da Convenção.
Os povos indígenas e tribais deverão gozar plenamente dos direitos humanos e liberdades fundamentais, sem
obstáculos nem discriminação. As disposições desta Convenção serão aplicadas sem discriminação aos
homens e mulheres desses povos.
A alternativa E está incorreta. Essas medidas não deverão ser contrárias aos desejos expressos livremente
pelos povos interessados de acordo com o art. 4º da Convenção.
Inicialmente a Declaração prevê a autoidentificação como critério para se saber a quem se aplica essas
regras.
Artigo I
1. A Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas aplica-se aos povos
indígenas das Américas.
2. A autoidentificação como povo indígena será um critério fundamental para determinar
a quem se aplica a presente Declaração. Os Estados respeitarão o direito a essa
autoidentificação como indígena, de forma individual ou coletiva, conforme as práticas e
instituições próprias de cada povo indígena.
O art. 6º traz uma regra bem interessante. A declaração afirma a igualdade de gêneros reconhecendo as
mulheres indígenas todos os direitos humanos e liberdades fundamentais.
Artigo VII
Igualdade de gênero
1. As mulheres indígenas têm direito ao reconhecimento, proteção e gozo de todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais constantes do Direito Internacional, livres de
todas as formas de discriminação.
2. Os Estados reconhecem que a violência contra as pessoas e os povos indígenas,
especialmente contra as mulheres, impede ou anula o gozo de todos os direitos humanos
e liberdades fundamentais.
3. Os Estados adotarão as medidas necessárias, em conjunto com os povos indígenas, para
prevenir e erradicar todas as formas de violência e discriminação, em especial contra as
mulheres e crianças indígenas.
Artigo IX
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Personalidade jurídica
Os Estados reconhecerão plenamente a personalidade jurídica dos povos indígenas,
respeitando as formas de organização indígenas e promovendo o exercício pleno dos
direitos reconhecidos nesta Declaração.
Artigo X
Repúdio à assimilação
1. Os povos indígenas têm o direito de manter, expressar e desenvolver livremente sua
identidade cultural em todos os seus aspectos, livre de toda intenção externa de
assimilação.
2. Os Estados não deverão desenvolver, adotar, apoiar ou favorecer política alguma de
assimilação dos povos indígenas nem de destruição de suas culturas.
Artigo XII
Garantias contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e outras formas conexas de
intolerância
Os povos indígenas têm o direito de não ser objeto de racismo, discriminação racial,
xenofobia ou outras formas conexas de intolerância. Os Estados adotarão as medidas
preventivas e corretivas necessárias para a plena e efetiva proteção desse direito.
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67
Direitos trabalhistas;
Direito ao desenvolvimento;
3 - Estatuto do Índio
3.1 - Introdução
O Estatuto do Índio foi aprovado pela Lei 6.001/1973. Trata-se de diploma com 65 artigos que elenca os
direitos dos indígenas em nosso ordenamento jurídico e que regula a situação jurídica desse grupo, com a
finalidade de preservar a cultura e de integrá-los, de forma progressiva e harmoniosa, na sociedade nacional.
Assim...
ESTATUTO DO
preservar a cultura
ÍNDIO
integrar, progressiva e
harmoniosamente, à comunhão
nacional
Importante destacar que essa proteção é adicional, vale dizer, todo ordenamento jurídico, com suas regras
e princípios, e todos os direitos e garantias previstos são assegurados aos indígenas. O que estudamos aqui
é uma proteção adicional.
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67
Indivíduo de origem e ascendência pré-
colombiana que se identifica e é
identificado como pertencente a um
Indígena ou Silvícola
grupo étnico cujas características
culturais o distinguem da sociedade
nacional.
Esses indígenas, de acordo com o art. 4º do Estatuto são classificados em isolados, em vias de integração e
integrados.
Os indígenas isolados são aqueles que vivem em grupos desconhecidos ou sobre quem pouco se sabe, sem
contato com a comunhão nacional.
Por fim, os indígenas integrados são aqueles incorporados à comunhão nacional e reconhecido no pleno
exercício dos direitos civis, mesmo que mantenham alguns usos, costumes e tradições característicos da
cultura indígena.
Para a prova...
28
67
Isolados
• vivem em grupos desconhecidos
Em vias de integração
• conservam menor ou maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas
práticas e modos de existência comuns
Integrados
• incorporados à comunhão nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis,
ainda que conservem usos, costumes e tradições característicos da sua cultura.
De acordo com o art. 2º do Estatuto do Índio, compete à União, aos Estados e Distrito Federal e aos
Municípios preservar os direitos dos indígenas. Entre os deveres atribuídos aos indígenas, temos:
A extensão aos indígenas dos benefícios da legislação comum, sempre que possível a
sua aplicação.
A execução, sempre que possível mediante a colaboração dos indígenas, dos programas
e projetos tendentes a beneficiar as comunidades;
29
67
A garantia do pleno exercício dos direitos civis e políticos que em face da legislação lhes
couberem.
Art. 2° Cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos das
respectivas administrações indiretas, nos limites de sua competência, para a proteção das
comunidades indígenas e a preservação dos seus direitos:
I - estender aos índios os benefícios da legislação comum, sempre que possível a sua
aplicação;
II - prestar assistência aos índios e às comunidades indígenas ainda não integrados à
comunhão nacional;
III - respeitar, ao proporcionar aos índios meios para o seu desenvolvimento, as
peculiaridades inerentes à sua condição;
IV - assegurar aos índios a possibilidade de livre escolha dos seus meios de vida e
subsistência;
V - garantir aos índios a permanência voluntária no seu habitat , proporcionando-lhes ali
recursos para seu desenvolvimento e progresso;
VI - respeitar, no processo de integração do índio à comunhão nacional, a coesão das
comunidades indígenas, os seus valores culturais, tradições, usos e costumes;
VII - executar, sempre que possível mediante a colaboração dos índios, os programas e
projetos tendentes a beneficiar as comunidades indígenas;
VIII - utilizar a cooperação, o espírito de iniciativa e as qualidades pessoais do índio, tendo
em vista a melhoria de suas condições de vida e a sua integração no processo de
desenvolvimento;
IX - garantir aos índios e comunidades indígenas, nos termos da Constituição, a posse
permanente das terras que habitam, reconhecendo-lhes o direito ao usufruto exclusivo das
riquezas naturais e de todas as utilidades naquelas terras existentes;
X - garantir aos índios o pleno exercício dos direitos civis e políticos que em face da
legislação lhes couberem.
Parágrafo único. (Vetado).
Na sequência vamos passar pelos direitos civis e políticos assegurados aos grupos indígenas, entre os quais
destaca-se para fins do nosso estudo.
Em relação aos direitos civis, temos o respeito aos usos, aos costumes e às tradições das comunidades
indígenas nas relações de família, na ordem de sucessão, no regime de propriedade e nos atos ou negócios
realizados entre indígenas, salvo se optarem pela aplicação do direito comum.
30
67
Os indígenas não integrados estão sujeitos ao regime tutelar do Estatuto, que fica à cargo da FUNAI, órgão
federal de assistência aos silvícolas. Em razão disso, qualquer ato praticado pelo indígena não integrado será
considerado nulo se não houver assistência pela FUNAI, como prevê o art. 8º do Estatuto. Essa regra, todavia,
não se aplica no caso em que ele revele consciência e conhecimento do ato praticado, desde que não lhe
seja prejudicial.
Ainda em relação a esse assunto, é importante destacar que qualquer indígena poderá requerer a liberação
do regime tutelar, dotando-se de plena capacidade civil, desde que preencha os seguintes requisitos:
De acordo com o Estatuto, em relação ao registro de nascimento e de óbito e casamentos civis dos indígenas
não integrados deve ser observada a normativa da legislação comum, contudo, consideradas as
peculiaridades da condição desse grupo.
Como veremos em tópico adiante, há portaria específica da FUNAI que disciplina esses atos registrais, os
quais constarão de registro específico.
Em relação aos direitos trabalhistas, você deve saber que a regra é exercício desse direito social em iguais
condições com as demais pessoas, sem quaisquer discriminações e sendo assegurados mesmos direitos
trabalhistas e previdenciários.
Assim, os indígenas podem, em regra, firmar contrato de trabalho, com exceção dos isolados, situação em
que o contrato será considerado nulo. Para validade dos contratos dos indígenas em vias de integração será
necessário a prévia aprovação da FUNAI, ao passo que os contratos com indígenas integrados são
plenamente regulares.
Desse modo...
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67
CONTRATO DE
TRABALHO
indígena em via de
indígena isolado indígena integrado
integração
(MPE/PR - 2019) Nos termos da Lei n. 6.001/73 (Estatuto do Índio), assinale a alternativa incorreta. Cumpre
à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos das respectivas administrações indiretas, nos
limites de sua competência, para a proteção das comunidades indígenas e a preservação dos seus direitos:
a) Garantir aos índios a permanência voluntária no seu habitat, proporcionando-lhes ali recursos para seu
desenvolvimento e progresso.
b) Assegurar aos índios a possibilidade de livre escolha dos seus meios de vida e subsistência.
c) Estimular o processo de integração do índio à comunhão nacional.
d) Garantir aos índios o pleno exercício dos direitos civis e políticos que em face da legislação lhes couberem.
e) Executar, sempre que possível mediante a colaboração dos índios, os programas e projetos tendentes a
beneficiar as comunidades indígenas.
Comentários
A alternativa A está correta. Trata-se do inciso V do art. 2º do Estatuto.
A alternativa B está correta. Trata-se do inciso IV do art. 2º do Estatuto.
A alternativa C está incorreta e é o gabarito da questão. O inciso VI afirma que o Estado deverá respeitar e
não estimular o processo de integração do indígena.
A alternativa D está correta. Trata-se do inciso X do art. 2º do Estatuto.
A alternativa E está correta. Trata-se do inciso VII do art. 2º do Estatuto.
No que diz respeito ao direito às terras indígenas, o art. 17 do Estatuto fixa que são consideradas terras
indígenas:
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67
as terras ocupadas ou habitadas pelos silvícolas, a que se referem os artigos 4º, IV, e 198,
da Constituição;
Essas terras não podem ser objeto de arrendamento ou negócio jurídico que restrinja o pleno exercício da
posse sobre tais terras.
Art. 18. As terras indígenas não poderão ser objeto de arrendamento ou de qualquer ato
ou negócio jurídico que restrinja o pleno exercício da posse direta pela comunidade
indígena ou pelos silvícolas.
§ 1º Nessas áreas, é vedada a qualquer pessoa estranha aos grupos tribais ou comunidades
indígenas a prática da caça, pesca ou coleta de frutos, assim como de atividade
agropecuária ou extrativa.
Nesses locais, os indígenas possuem pleno domínio sobre o território, não sendo admitida a pessoa estranha
à comunidade, a prática da caça, pesca, extrativismo ou culturas agropecuárias.
Essas terras são consideradas bens inalienáveis da União e ficarão sob a posse permanente das comunidades
indígenas, que detém o usufruto exclusivo das riquezas naturais e das utilidades existentes. Esse uso,
abrange o direito à posse, uso e percepção das riquezas naturais e de todas as utilidades existentes nas terras
ocupadas, bem assim ao produto da exploração econômica de tais riquezas naturais e utilidades.
De acordo com o art. 26 do Estatuto, a União poderá estabelecer áreas reservadas. Essas áreas serão
destinadas à posse e ocupação pelos indígenas, onde possam viver e obter meios de subsistência, com direito
ao usufruto e utilização das riquezas naturais e dos bens nelas existentes, respeitadas as restrições legais,
que podem ser organizadas sob a forma de reserva, parque e colônia agrícola indígenas.
Art. 26. A União poderá estabelecer, em qualquer parte do território nacional, áreas
destinadas à posse e ocupação pelos índios, onde possam viver e obter meios de
subsistência, com direito ao usufruto e utilização das riquezas naturais e dos bens nelas
existentes, respeitadas as restrições legais.
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Parágrafo único. As áreas reservadas na forma deste artigo não se confundem com as de
posse imemorial das tribos indígenas, podendo organizar-se sob uma das seguintes
modalidades:
a) reserva indígena;
b) parque indígena;
c) colônia agrícola indígena.
Art. 27. Reserva indígena é uma área destinada a servidor de habitat a grupo indígena,
com os meios suficientes à sua subsistência.
Art. 28. Parque indígena é a área contida em terra na posse de índios, cujo grau de
integração permita assistência econômica, educacional e sanitária dos órgãos da União, em
que se preservem as reservas de flora e fauna e as belezas naturais da região.
§ 1º Na administração dos parques serão respeitados a liberdade, usos, costumes e
tradições dos índios.
§ 2° As medidas de polícia, necessárias à ordem interna e à preservação das riquezas
existentes na área do parque, deverão ser tomadas por meios suasórios e de acordo com
o interesse dos índios que nela habitem.
§ 3º O loteamento das terras dos parques indígenas obedecerá ao regime de propriedade,
usos e costumes tribais, bem como às normas administrativas nacionais, que deverão
ajustar-se aos interesses das comunidades indígenas.
Art. 29. Colônia agrícola indígena é a área destinada à exploração agropecuária,
administrada pelo órgão de assistência ao índio, onde convivam tribos aculturadas e
membros da comunidade nacional.
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Temos, ainda, o conceito de território federal indígena que constitui a unidade administrativa subordinada
à União, instituída em região na qual pelo menos um terço da população seja formada por indígenas.
Essas terras que vimos até agora, são de propriedade da União e posse das comunidades indígenas. Contudo,
o Estatuto permite também que os indígenas ou suas comunidades possam adquirir terras na forma da
legislação civil. Isso ocorre, de acordo com o art. 33 do Estatuto, quando o indígena – seja ele integrado ou
não – ocupar como próprio por 10 anos consecutivos território inferior a 50 hectares. Essa aquisição não
ocorre em relação aos territórios que já são de propriedade da União, ainda que ocupada por comunidades
indígenas.
Art. 32. São de propriedade plena do índio ou da comunidade indígena, conforme o caso,
as terras havidas por qualquer das formas de aquisição do domínio, nos termos da
legislação civil.
Art. 33. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos,
trecho de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio da União,
ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei, nem às terras de
propriedade coletiva de grupo tribal.
Para a defesa das terras indígenas poderá a FUNAI solicitar colaboração das Forças Armadas e da Polícia
Federal para assegurar proteção das terras ocupas pelos indígenas e comunidades indígenas.
Art. 34. O órgão federal de assistência ao índio poderá solicitar a colaboração das Forças
Armadas e Auxiliares e da Polícia Federal, para assegurar a proteção das terras ocupadas
pelos índios e pelas comunidades indígenas.
A partir do art. 47 do Estatuto temos a disciplina de direitos sociais básicos, como o direito à educação, à
cultura e à saúde. Em síntese, você deve memorizar:
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Em relação ao trabalho, busca-se a formação profissional adequada, de acordo com o
seu grau de aculturação.
Ainda no que diz respeito à tutela especial, o art. 56 do Estatuto fixa uma garantia penal aos indígenas. Se
condenados por infração penal, a pena deverá ser atenuada a depender do grau de integração do silvícola.
No art. 58, por sua vez, temos alguns crimes contra os indígenas e sua cultura:
Escarnecer de cerimônia, rito, uso, costume ou tradição culturais indígenas, vilipendiá-los DETENÇÃO de 1 a 3
ou perturbar, de qualquer modo, a sua prática. Pena - detenção de um a três meses. meses.
Utilizar o indígena ou comunidade indígena como objeto de propaganda turística ou de DETENÇÃO de 2 a 6
exibição para fins lucrativos. meses.
Propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e a disseminação de bebidas alcoólicas, nos DETENÇÃO de 6
grupos tribais ou entre indígenas não integrados. meses a 2 anos.
Essas penas serão agravadas em 1/3 quando o crime for praticado por funcionário da FUNAI.
No caso de crime contra a pessoa, o patrimônio ou os costumes, em que o ofendido seja indígena não
integrado ou comunidade indígena, a pena será agravada de um terço.
Recentemente foi editada a Lei 14.701 para regulamentar o art. 231 da Constituição Federal. Essa lei dispõe
sobre o reconhecimento, demarcação, uso e gestão das terras indígenas.
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua
reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
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§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos
nelas existentes.
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a
pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com
autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes
assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre
elas, imprescritíveis.
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do
Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua
população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional,
garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto
a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das
riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante
interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a
nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da
lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.
Já vimos nessa aula que o STF modificou seu entendimento quanto a teoria adotada sobre o assunto
afastando a Teoria do Marco temporal e adotando a Teoria do Indigenato que também foi adotada pela corte
IDH no Caso Comunidade Indígena Sawhoyamaxa.
O Congresso Nacional reagiu e editou a Lei 14.701/2023 que adotou a Teoria do Marco Temporal. Trata-se
do chamado efeito backlash.
Ele ocorre quando o Congresso Nacional reage a uma decisão do Poder Judiciário, normalmente sobre
assuntos polêmicos, na tentativa de mudar os efeitos da decisão.
O Presidente da República sancionou a lei porém vetou artigos que tratam do marco temporal. Os vetos
foram analisados pelo Congresso Nacional e derrubados voltando a valer o texto legal que prevê como terras
indígenas tradicionalmente ocupadas apenas as habitas e utilizadas por eles na data da promulgação da
constituição federal de 1988.
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Art. 1º Esta Lei regulamenta o art. 231 da Constituição Federal, para dispor sobre o
reconhecimento, a demarcação, o uso e a gestão de terras indígenas.
ÁREAS destinadas pela União por outras formas que não englobam as
RESERVADAS áreas tradicionalmente ocupadas.
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III - as áreas adquiridas, consideradas as havidas pelas comunidades indígenas pelos meios
admissíveis pela legislação, tais como a compra e venda e a doação.
Elas são terras destinadas pela União para garantir a subsistência digna e a preservação da cultura de
comunidades indígenas.
São áreas de propriedade da União e sua gestão fica a cargo da comunidade indígena sob supervisão da
FUNAI.
ÁREAS INDÍGENAS
RESERVADAS
i) Reservas;
ii) Parques; e
Aplica-se às terras indígenas reservadas o mesmo regime jurídico das terras indígenas tradicionalmente
ocupadas no que diz respeito ao uso e gozo.
Confira:
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Art. 16. São áreas indígenas reservadas as destinadas pela União à posse e à ocupação por
comunidades indígenas, de forma a garantir sua subsistência digna e a preservação de sua
cultura.
§ 3º As áreas indígenas reservadas são de propriedade da União e a sua gestão fica a cargo
da comunidade indígena, sob a supervisão da Funai.
§ 4º (VETADO).
Art. 17. Aplica-se às terras indígenas reservadas o mesmo regime jurídico de uso e gozo
adotado para terras indígenas tradicionalmente ocupadas, nos moldes do Capítulo III desta
Lei.
O §5º que determina que o procedimento demarcatório das terras indígenas deverá ser público e
amplamente divulgado devendo ser disponibilizada consulta por meio eletrônico.
O procedimento demarcatório possui natureza declaratória conforme indicou o STF no julgamento do Caso
Raposa do Sol. Vou destacar um trecho do julgado para você relembrar:
12. DIREITOS "ORIGINÁRIOS". Os direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente
ocupam foram constitucionalmente "reconhecidos", e não simplesmente outorgados,
com o que o ato de demarcação se orna de natureza declaratória, e não propriamente
constitutiva. Ato declaratório de uma situação jurídica ativa preexistente. Essa a razão de
a Carta Magna havê-los chamado de "originários", a traduzir um direito mais antigo do que
qualquer outro, de maneira a preponderar sobre pretensos direitos adquiridos, mesmo os
materializados em escrituras públicas ou títulos de legitimação de posse em favor de não-
índios. Atos, estes, que a própria Constituição declarou como "nulos e extintos" (§ 6º do
art. 231 da CF).
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(CESPE/CEBRASPE - PGE-PA - 2022) A respeito de terras indígenas, julgue os próximos itens.
I A terra indígena não é apenas o espaço ocupado pelos índios, mas também todo o espaço necessário
para a sobrevivência de sua cultura.
II A Fundação Nacional do Índio é impedida de investigar e demarcar terras indígenas em área onde exista
propriedade particular devidamente registrada no competente cartório de imóveis.
III Conforme preceitua a Constituição Federal de 1988, aos estados-membros pertence a propriedade das
terras indígenas não situadas em área de domínio da União.
IV A demarcação de terras indígenas tem efeito constitutivo, por isso, somente a partir dela, é possível
exigir da União o dever de proteger as terras indígenas da ação, por exemplo, de garimpeiros.
Assinale a opção correta.
A) Apenas o item I está certo.
B) Apenas o item II está certo.
C) Apenas os itens I e III estão certos.
D) Apenas os itens II e IV estão certos.
E) Apenas os itens III e IV estão certos.
Comentários
O Item I está correto. Trata-se do §1º do art. 231 da CF que define as terras tradicionais.
O Item II está incorreto. As terra indígenas são inalienáveis, indisponíveis e imprescritíveis de acordo com o
art. 231 §4º da CF portanto onde houver propriedade particular deve-se investigar e sendo terra indígena
realizar a demarcação.
O Item III está incorreto. As terras indígenas são, de acordo com o art. 20 XI da CF, bens da União e não dos
estados-membros.
O Item IV está incorreto. Como vimos a demarcação das terras indígenas possuem natureza jurídica
declaratória e não constitutiva.
Assim, a alternativa A está correta.
O §6º faculta a qualquer cidadão o acesso as informações relativas à demarcação das terras indígenas
ressalvando apenas o sigilo de dados pessoais dos envolvidos que estão protegidos pela Lei Geral de Proteção
de Dados Pessoais)
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O §8º afirma que será garantido aos interessados a tradução da linguagem par atender aqueles indígenas
que não dominam a língua portuguesa.
Confira:
Art. 4º (VETADO):
I - (VETADO);
II - (VETADO);
III - (VETADO);
IV - (VETADO).
§ 1º (VETADO).
§ 2º (VETADO).
§ 3º (VETADO).
§ 4º (VETADO).
§ 5º O procedimento demarcatório será público e seus atos decisórios serão amplamente
divulgados e disponibilizados para consulta em meio eletrônico.
§ 6º É facultado a qualquer cidadão o acesso a todas as informações relativas à demarcação
das terras indígenas, notadamente quanto aos estudos, aos laudos, às suas conclusões e
fundamentação, ressalvado o sigilo referente a dados pessoais, nos termos da Lei nº
13.709, de 14 de agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais).
§ 7º (VETADO).
§ 8º É assegurada às partes interessadas a tradução da linguagem oral ou escrita, por
tradutor nomeado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), da língua indígena
própria para o português, ou do português para a língua indígena própria, nos casos em
que a comunidade indígena não domine a língua portuguesa.
O art. 5º ainda trata da demarcação das terra e assegura a participação efetiva dos entes federados no
processo administrativo.
Art. 5º (VETADO).
Parágrafo único. É assegurado aos entes federativos o direito de participação efetiva no
processo administrativo de demarcação de terras tradicionalmente ocupadas pelos
indígenas.
O art. 7º prevê a possibilidade de associações representarem seu associados no procedimento, desde que
haja autorização em assembleia geral convocada especialmente para essa finalidade.
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Para realizar as demarcações são necessários estudos realizados por antropólogos que possuam qualificação
reconhecida. Devem ser feitos estudos da natureza etno-histórica, sociológica, jurídica, cartográfica,
ambiental e o levantamento fundiário necessários à delimitação, essa previsão está no decreto 1.775/1996
que trata da delimitação.
Confira:
O art. 12 da lei autoriza a entradas do órgão federal competente nas propriedades particulares para
levantamento de dados e informações.
A lei prevê alguns requisitos para que o ingresso na propriedade privada para o levantamento de dados seja
considerado legal. Vejamos:
Art. 12. Para os fins desta Lei, fica a União, por meio do órgão federal competente,
autorizada a ingressar no imóvel de propriedade particular para levantamento de dados e
informações, mediante prévia comunicação escrita ao proprietário, ao seu preposto ou ao
seu representante, com antecedência mínima de 15 (quinze) dias úteis.
A forma de uso e ocupação das terras indígenas deve ser decidida pela própria comunidade conforme
previsão do art. 19. As comunidades indígenas possuem forma própria de tomada de decisão e de resolução
de conflitos.
Art. 19. Cabe às comunidades indígenas, mediante suas próprias formas de tomada de
decisão e solução de divergências, escolher a forma de uso e ocupação de suas terras.
O art. 20 afirma que o usufruto das terras indígenas não poderá se sobrepor ao interesse da política de defesa
e nem a soberania nacional.
Art. 20. O usufruto dos indígenas não se sobrepõe ao interesse da política de defesa e
soberania nacional.
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67
Parágrafo único. (VETADO).
O art. 24 trata da entrada de não indígenas nas áreas demarcadas. Podem entrar:
III - responsáveis pela prestação dos serviços públicos ou pela realização, manutenção ou
instalação de obras e equipamentos públicos;
Os agentes públicos que estejam a serviço dos entes federados devem se reportar a FUNAI para obter a
autorização de ingresso informando a duração e os objetivos desejados.
No caso de pesquisadores a autorização deverá ser feita por prazo determinado e deverá conter os objetivos
da pesquisa a ser realizadas. O pesquisador deverá atuar dentro de autorizado.
Confira:
Art. 24. O ingresso de não indígenas em áreas indígenas poderá ser feito:
III - pelos responsáveis pela prestação dos serviços públicos ou pela realização, manutenção
ou instalação de obras e equipamentos públicos;
§ 1º No caso do inciso IV do caput deste artigo, a autorização será dada por prazo
determinado e deverá conter os objetivos da pesquisa, vedado ao pesquisador agir fora
dos limites autorizados.
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§ 2º No caso do inciso II do caput deste artigo, o ingresso deverá ser reportado à Funai,
informados seus objetivos e sua duração.
§ 3º (VETADO).
Por fim, é possível o exercício de atividades econômicas em terras indígenas desde que a própria comunidade
exerça a atividade ainda que em cooperação ou contratação de terceiros não indígenas. Veja:
Art. 26. É facultado o exercício de atividades econômicas em terras indígenas, desde que
pela própria comunidade indígena, admitidas a cooperação e a contratação de terceiros
não indígenas.
Todo brasileiro tem direito a uma certidão de nascimento, trata-se de um direito humano, e isto inclui os
indígenas. A certidão de nascimento garante acesso aos direitos básicos para o cidadão.
Diante da grande diversidade existente na população indígena o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho
Nacional do Ministério Público publicaram a Resolução Conjunta nº3 dia 19 de abril de 2012 tratando de
direitos específicos do Registro de Nascimento dos Indígenas.
O art. 1º da Resolução indica a facultatividade do registro civil de nascimento para os indígenas não
integrados.
Art. 1º O assento de nascimento de indígena não integrado no Registro Civil das Pessoas
Naturais é facultativo.
A presença da FUNAI, que é responsável pela política indigenista, não é obrigatória no momento do registro,
porém muitas vezes será necessária principalmente para ajudar aqueles que não falam bem o português.
A FUNAI é responsável pelo Registro Administrativo de Nascimento de Indígena (RANI). Este documento não
substitui a certidão de nascimento, mas é considerado documento hábil para que se proceda o registro civil
quando a criança não nasceu em hospital e não tem a declaração de nascido vivo. Se não possuir nem o RANI
deverá haver duas testemunhas maiores de 18 anos que confirmem a gravidez e o parto.
De acordo com o art. 2º da Resolução os indígenas têm o direito de escolher o nome de acordo com sua
cultura e tradição não se aplicando as regras do art. 55 da Lei de Registro Público que veda nomes que
possam expor a pessoa ao ridículo.
A etnia pode ser lançada como sobrenome e a aldeia de nascimento pode ser lançada juntamente com o
município de nascimento.
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Art. 2º. No assento de nascimento do indígena, integrado ou não, deve ser lançado, a
pedido do apresentante, o nome indígena do registrando, de sua livre escolha, não sendo
caso de aplicação do art. 55, parágrafo único da Lei n.º 6.015/73.
§ 1º. No caso de registro de indígena, a etnia do registrando pode ser lançada como
sobrenome, a pedido do interessado.
§ 2º. A pedido do interessado, a aldeia de origem do indígena e a de seus pais poderão
constar como informação a respeito das respectivas naturalidades, juntamente com o
município de nascimento.
§ 3.º A pedido do interessado, poderão figurar, como observações do assento de
nascimento, a declaração do registrando como indígena e a indicação da respectiva etnia.
§ 4º Em caso de dúvida fundada acerca do pedido de registro, o registrador poderá exigir
o Registro Administrativo de Nascimento do Indígena – RANI, ou a presença de
representante da FUNAI.
§ 5º Se o oficial suspeitar de fraude ou falsidade, submeterá o caso ao Juízo competente
para fiscalização dos atos notariais e registrais, assim definido na órbita estadual e do
Distrito Federal, comunicando-lhe os motivos da suspeita.
§ 6º. O Oficial deverá comunicar imediatamente à FUNAI o assento de nascimento do
indígena, para as providências necessárias ao registro administrativo.
Para aqueles que já foram registrados antes desta Resolução há a previsão de retificação do assento de
nascimento, pela via judicial, para inclusão da etnia ou para que seja registrado o nome escolhido de acordo
com sua cultura e costumes.
Ao longo da vida alguns povos indígenas mudam de nome em ocasiões específicas como casamento.
Havendo a mudança o registrador deverá fazer a averbação a margem do registro.
Art. 3º. O indígena já registrado no Serviço de Registro Civil das Pessoas Naturais poderá
solicitar, na forma do art. 57 da Lei n.º 6.015/73, pela via judicial, a retificação do seu
assento de nascimento, pessoalmente ou por representante legal, para inclusão das
informações constantes do art. 2º, “caput” e § 1º.
§ 1º. Caso a alteração decorra de equívocos que não dependem de maior indagação para
imediata constatação, bem como nos casos de erro de grafia, a retificação poderá ser
procedida na forma prevista no art. 110 da Lei n.º 6.015/73.
§ 2º. Nos casos em que haja alterações de nome no decorrer da vida em razão da cultura
ou do costume indígena, tais alterações podem ser averbadas à margem do registro na
forma do art. 57 da Lei n.º 6.015/73, sendo obrigatório constar em todas as certidões do
registro o inteiro teor destas averbações, para fins de segurança jurídica e de salvaguarda
dos interesses de terceiros.
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67
§ 3º. Nos procedimentos judiciais de retificação ou alteração de nome, deve ser observado
o benefício previsto na lei 1.060/50, levando-se em conta a situação sociocultural do
indígena interessado.
Por fim a resolução prevê ainda a possibilidade de registro tardio do indígena. E reafirma que havendo dúvida
o registrador deverá procurar a FUNAI.
RESUMO
Havendo conflitos envolvendo direitos indígenas a competência para o processamento e julgamento das causas
será do juiz federal.
A defesa dos direitos e interesses deste grupo vulnerável foi prevista como função institucional do Ministério
Público.
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O art. 210 da CF estabelece conteúdos mínimos para o ensino fundamental e seu §2º garante a utilização das línguas
maternas e processos próprios de aprendizagem para as comunidades indígenas.
O art. 215 da CF trata dos direitos culturais e o §1º prevê proteção a cultura indígena.
Na CF o Estado reconhece o direito dos indígenas de se manterem uma coletividade organizada.
A CF reconhece a ordem social própria das comunidades indígenas, com costumes, línguas, crenas e tradições
próprias.
Da CF extrai-se o reconhecimento à cultura e tradição dos indígenas, bem como o modo de vida, bem como o
reconhecimento das terras ocupadas.
A Convenção nº 169 da OIT – Povos Indígenas e Tribais que está em vigência no Brasil por meio do Decreto
10.088/2009 e trata de forma expressa das terras indígenas.
prerrogativas às terras:
• inalienabilidade
• indisponibilidade
• imprescritibilidade
catástrofe ou epidemia
HIPÓTESES EXCEPCIONAIS DE
REMOÇÃO DE COMUNIDADE
INDÍGENA DE SUAS TERRAS
interesse da soberania
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67
Legislação Internacional
A declaração inicia afirmando o direito dos indígenas a todos os direitos humanos e liberdades fundamentais.
O art. 2º afirma a igualdade e veda qualquer tipo de discriminação no exercício de seus direitos.
O Art. 5º prevê o direito aos indígenas de conservar e reforçar suas próprias instituições políticas, jurídicas,
econômicas, sociais e culturais.
O art. 8º trata de assunto muito importante, o direito a não sofrer assimilação forçada ou destruição da sua cultura.
Os povos indígenas têm o direito de praticar e revitalizar suas tradições e costumes culturais.
Os povos indígenas têm o direito de manifestar, praticar, desenvolver e ensinar suas tradições, costumes
e cerimônias espirituais e religiosas; de manter e proteger seus lugares religiosos e culturais e de ter acesso
a estes de forma privada; de utilizar e dispor de seus objetos de culto e de obter a repatriação de seus restos
humanos.
Os povos indígenas têm o direito de revitalizar, utilizar, desenvolver e transmitir às gerações futuras suas
histórias, idiomas, tradições orais, filosofias, sistemas de escrita e literaturas, e de atribuir nomes às suas
comunidades, lugares e pessoas e de mantê-los.
Os povos indígenas têm o direito de estabelecer e controlar seus sistemas e instituições educativos, que
ofereçam educação em seus próprios idiomas, em consonância com seus métodos culturais de ensino e de
aprendizagem.
Os povos indígenas têm direito a que a dignidade e a diversidade de suas culturas, tradições, histórias e
aspirações sejam devidamente refletidas na educação pública e nos meios de informação públicos.
Os povos indígenas têm o direito de estabelecer seus próprios meios de informação, em seus próprios
idiomas, e de ter acesso a todos os demais meios de informação não indígenas, sem qualquer discriminação.
Os indivíduos e povos indígenas têm o direito de desfrutar plenamente de todos os direitos estabelecidos
no direito trabalhista internacional e nacional aplicável.
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67
Os povos indígenas têm o direito de participar da tomada de decisões sobre questões que afetem seus
direitos, por meio de representantes por eles eleitos de acordo com seus próprios procedimentos, assim
como de manter e desenvolver suas próprias instituições de tomada de decisões.
Os povos indígenas têm o direito de manter e desenvolver seus sistemas ou instituições políticas,
econômicas e sociais, de que lhes seja assegurado o desfrute de seus próprios meios de subsistência e
desenvolvimento e de dedicar-se livremente a todas as suas atividades econômicas, tradicionais e de outro
tipo.
O art. 6º prevê o direito de consulta prévia, livre e informada sobre decisões que possam afetar os povos
tribais e indígenas.
O art. 8º garante o direito de manutenção dos seus costumes e instituições desde que não sejam
incompatíveis com os direitos fundamentais previstos pela legislação interna.
O art.10 afirma que no caso de aplicação de sanções penais deve ser evitado o encarceramento.
50
67
Direitos sociais, econômicos e de propriedade;
Direitos trabalhistas;
Direito ao desenvolvimento;
Estatuto do Índio
ESTATUTO DO
preservar a cultura
ÍNDIO
integrar, progressiva e
harmoniosamente, à comunhão nacional
conceitos
51
67
Isolados
Em vias de integração
•conservam menor ou maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas
práticas e modos de existência comuns
Integrados
•incorporados à comunhão nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda
que conservem usos, costumes e tradições característicos da sua cultura.
Direitos Assegurados
➢ direitos civis
➢ indígenas não integrados estão sujeitos ao regime tutelar do Estatuto
➢ qualquer indígena poderá requerer a liberação do regime tutelar, dotando-se de plena capacidade
civil, desde que preencha os seguintes requisitos:
• idade mínima de 21 anos;
• conhecimento da língua portuguesa;
• habilitação para o exercício de atividade útil, na comunhão nacional;
• razoável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional.
Direitos Trabalhistas
CONTRATO DE
TRABALHO
índio em via de
índio isolado índio integrado
integração
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Extensão do sistema de ensino em vigor no País com as necessárias adaptações. Nesse
contexto, a alfabetização ocorrerá na língua do grupo a que pertence e em português. Além
disso, deve ser provido assistência aos menores na educação, sem afastá-los do convívio
familiar ou tribal.
crimes:
Escarnecer de cerimônia, rito, uso, costume ou tradição culturais indígenas, vilipendiá-los DETENÇÃO de 1 a 3
ou perturbar, de qualquer modo, a sua prática. Pena - detenção de um a três meses. meses.
Utilizar o indígena ou comunidade indígena como objeto de propaganda turística ou de DETENÇÃO de 2 a 6
exibição para fins lucrativos. meses.
Propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e a disseminação de bebidas alcoólicas, DETENÇÃO de 6
nos grupos tribais ou entre indígenas não integrados. meses a 2 anos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final de mais uma aula específica, referente à proteção das pessoas em situação de
vulnerabilidade.
Quaisquer dúvidas, sugestões ou críticas entrem em contato conosco. Estou disponível no fórum do Curso
e por e-mail.
Ricardo Torques
[email protected]
@proftorques
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QUESTÕES COMENTADAS
FCC
1. (FCC/DPE-RS - 2018) O acusado, indígena, reincidente, foi condenado pelo crime de roubo cuja pena
foi fixada em 5 anos e 6 meses de reclusão, em regime fechado. Considerando-se a Constituição Federal,
o Estatuto do Índio (Lei no 6.001/73) e a Convenção no 169/89 da Organização Internacional do Trabalho
sobre Povos Indígenas e Tribais, no caso de apelação, avalie os seguintes argumentos em razões recursais:
I. A semiliberdade é o regime especial adequado para o cumprimento de pena imposta para o condenado
indígena.
II. A pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o juiz atenderá também o grau de integração do indígena.
III. O cumprimento de pena, sempre que possível, deve ocorrer no local de funcionamento do órgão federal
de assistência aos índios mais próximo da habitação do condenado, salvo se a pena cominada for de reclusão.
IV. Como a Constituição Federal reconhece aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, deve-se dar preferência a tipos de sanções distintos do confinamento em prisão.
Está correto o que consta de:
a) I, II, III e IV.
b) I, II e IV, apenas.
c) III, apenas.
d) I e IV, apenas.
e) II e III, apenas.
Comentários
A assertiva I está correta. A semiliberdade é o regime especial adequado para o cumprimento de pena
imposta para o condenado indígena. Isso é que dispõe ao art. 56, Parágrafo único, do Estatuto do Índio.
Confiram:
Art. 56 (...)
A assertiva II, também, está correta. De acordo com o art. 56, caput, do Estatuto, no caso de condenação de
indígena por infração penal, a pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o Juiz atenderá também ao grau
de integração do silvícola.
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A assertiva III, por outro lado, está incorreta. Como vimos nos comentários da assertiva I, O cumprimento de
pena, sempre que possível, deve ocorrer no local de funcionamento do órgão federal de assistência aos
indígenas mais próximo da habitação do condenado, inclusive nos casos de reclusão.
A assertiva IV, por fim, está correta. De fato, como a Constituição Federal reconhece aos indígenas sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, deve-se dar preferência a tipos de sanções
distintos do confinamento em prisão. É por isso que o Estatuto do Índio prevê, dentre outras coisas, que será
tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou
disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em
qualquer caso a pena de morte (art. 57).
Comentários
A alternativa A está incorreta. De acordo com o art. 56, caput, do Estatuto do Índio, a pena deverá ser
atenuada no caso de condenação de indígena.
Art. 56. No caso de condenação de índio por infração penal, a pena deverá ser atenuada e
na sua aplicação o Juiz atenderá também ao grau de integração do silvícola.
A alternativa B está incorreta. Com base no art. 57, da Lei nº 6.001/73, será tolerada a aplicação, pelos
grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os seus
membros, com algumas exceções.
A alternativa C está incorreta. Nos termos do art. 59, da referida Lei, a pena será agravada de um terço, no
caso de crime cometido contra comunidade indígena.
Art. 59. No caso de crime contra a pessoa, o patrimônio ou os costumes, em que o ofendido
seja índio não integrado ou comunidade indígena, a pena será agravada de um terço.
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A alternativa D está incorreta. Não se fala em semimputáveis. Alguns autores consideram os indígenas
inimputáveis, enquanto outros consideram como imputáveis.
A alternativa E está correta e o gabarito da questão, conforme prevê o parágrafo único, do art. 56, da Lei nº
6.001/73:
CESPE
3. (CESPE/TRF-1ªR - 2013) No que concerne aos crimes contra o índio, de genocídio e outros previstos
na legislação, julgue o item a seguir.
O Estatuto do Índio, ao tipificar crimes contra os índios e contra a cultura indígena, não define um tipo
especial de homicídio contra o índio, mas prevê causa especial de aumento da pena no caso de crime contra
a pessoa, o patrimônio ou os costumes, no qual o ofendido seja índio não integrado ou comunidade indígena.
Comentários
Art. 59. No caso de crime contra a pessoa, o patrimônio ou os costumes, em que o ofendido
seja índio não integrado ou comunidade indígena, a pena será agravada de um terço.
Tal como diz a questão, não há previsão de crimes específicos contra o indígena ou sua cultura, mas apenas
causa de aumento de pena no crime de homicídio.
VUNESP
Comentários
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A matéria vem disciplinada no Estatuto do Índio. Nesse contexto vamos analisar cada uma das alternativas.
A alternativa A está incorreta, pois o indígena integrado deve possuir registro de nascimento de forma
obrigatório. Quanto ao indígena não integrado o registro será facultativo.
A alternativa B também está incorreta, pois o registro poderá ocorrer diretamente na FUNAI.
A alternativa C, por sua vez, é a correta e gabarito da questão, conforme consta do art. 11, da Portaria 3/2002
da FUNAI.
Por fim, a alternativa D está incorreta, pois é possível que consta do assento do registro a referência ao fato
de ser indígena.
FGV
Comentários
A assertiva está incorreta. De acordo com a Lei dos Registros Públicos, os indígenas não são obrigados a
realizar a inscrição de nascimento enquanto não integrados.
Art. 50. Todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser dado a registro, no
lugar em que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência dos pais, dentro do prazo de
quinze dias, que será ampliado em até três meses para os lugares distantes mais de trinta
quilômetros da sede do cartório.
Outras Bancas
6. (ESAF/FUNAI - 2016) Assinale, entre as opções abaixo, em qual definição se encaixa a categoria de
“Terra Indígena”.
a) Uma categoria ou descrição sociológica para definir um território indígena demarcado pelo Estado
brasileiro.
b) Uma categoria jurídica, definida pelo Artigo 231 da Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988.
c) Uma categoria jurídica, definida pelo Artigo 17 da Lei nº. 6.001, de 10 de dezembro de 1973.
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d) Uma categoria jurídica definida pelo Supremo Tribunal Federal em sua decisão sobre a demarcação da
Terra Indígena Raposa Serra do Sol, de 19 de março de 2009.
e) Uma categoria de análise antropológica incorporada na legislação indigenista pelo Estado brasileiro, em
06 de julho de 1979.
Comentários
I - as terras ocupadas ou habitadas pelos silvícolas, a que se referem os artigos 4º, IV, e 198,
da Constituição;
7. (ACAFE/SED-SC - 2015) Na constituição Federal o Art. 231 diz que: São reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
Sobre os parágrafos deste artigo, todas as alternativas estão corretas, exceto a:
a) § 1º – São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente,
as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais
necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes
e tradições.
b) § 4º – As terras de que trata este artigo são alienáveis e disponíveis, e os direitos sobre elas, prescritíveis.
c) § 2º – As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-
lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
d) § 3º – O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra
das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com a autorização do Congresso Nacional,
ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da
lei.
e) § 5º – É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad referendum do Congresso
Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da
soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno
imediato logo que cesse o risco.
Comentários
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A alternativa B está incorreta e é o gabarito da questão. Nos termos do §4º, do art. 231, da CF/88, as terras
de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.
As demais alternativas corretas, pois estão de acordo com os §§ do art. 231, da Constituição Federal.
Comentários
A alternativa A está incorreta. De acordo com o art. 222, da Constituição Federal, a propriedade de empresa
jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há
mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.
A alternativa B está incorreta. Vejamos o que dispõe o art. 226, §§ 1º e 2º, da CF:
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão, nos termos do art. 231, §2º, da CF/88:
A alternativa D está incorreta. Com base no art. 196, da Constituição Federal, a saúde é direito de todos e
dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença
e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
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9. (ESAF/FUNAI - 2016) A Constituição Federal de 1988, no seu Artigo 231, afirma que:
a) o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com autorização da Fundação Nacional do
Índio, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na
forma da lei.
b) o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com autorização da Presidência da
República, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra,
na forma da lei.
c) o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com autorização do Supremo Tribunal
Federal, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na
forma da lei.
d) o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com autorização da Secretaria dos Direitos
Humanos da Presidência da República, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada
participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
e) o aproveitamento dos recursos hídricos, incluí- dos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional,
ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da
lei.
Comentários
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autorização da Presidência da República, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes
assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
Comentários
A assertiva está correta, de acordo com o art. 56, parágrafo único, do Estatuto do índio.
Art. 56. No caso de condenação de índio por infração penal, a pena deverá ser atenuada e
na sua aplicação o Juiz atenderá também ao grau de integração do silvícola.
Houve julgamento do STJ sobre a aplicação por analogia do at. 56 em caso de custódia cautelar. Vejamos o
ponto 4 da ementa do HC.
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Comentários
Como vimos acima, é concedida ao indígena a possibilidade de cumprimento das penas de reclusão e de
detenção em regime especial de semiliberdade, no local de funcionamento do órgão federal de assistência
aos indígenas mais próximos da habitação do condenado. Esse é, claramente, um benefício concedido aos
indígenas pelo art. 56, do Estatuto do Índio.
Comentários
A assertiva está incorreta. A assistência judicial dos indígenas não ocorre apenas mediante o MPT. Os grupos
tribais são partes legítimas para defesa do indígena em Juízo e poderão ser assistidos tanto pelo MPF quanto
pelo órgão de proteção do indígena.
Art. 37. Os grupos tribais ou comunidades indígenas são partes legítimas para a defesa dos
seus direitos em juízo, cabendo-lhes, no caso, a assistência do Ministério Público Federal
ou do órgão de proteção ao índio.
13. (MPE-PR/MPE-PR - 2019) Nos termos da Lei n. 6.001/73 (Estatuto do Índio), assinale a
alternativa incorreta. Cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos das respectivas
administrações indiretas, nos limites de sua competência, para a proteção das comunidades indígenas e a
preservação dos seus direitos:
a) Garantir aos índios a permanência voluntária no seu habitat, proporcionando-lhes ali recursos para seu
desenvolvimento e progresso.
b) Assegurar aos índios a possibilidade de livre escolha dos seus meios de vida e subsistência.
c) Estimular o processo de integração do índio à comunhão nacional.
d) Garantir aos indígenas o pleno exercício dos direitos civis e políticos que em face da legislação lhes
couberem.
e) Executar, sempre que possível mediante a colaboração dos índios, os programas e projetos tendentes a
beneficiar as comunidades indígenas.
Comentários
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A alternativa incorreta e gabarito da questão é a letra C, pois, o art. 2º, VI, do Estatuto dos Índios, preconiza
que deve-se respeitar (e não estimular), no processo de integração do indígena à comunhão nacional, a
coesão das comunidades indígenas, os seus valores culturais, tradições, usos e costumes.
Quanto às demais assertivas, estão corretas, pois exprimem de fato deveres da União, Estados, Municípios
e Administração Indireta em relação aos indígenas:
Art. 2° Cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos das
respectivas administrações indiretas, nos limites de sua competência, para a proteção das
comunidades indígenas e a preservação dos seus direitos:
[...]
IV - assegurar aos índios a possibilidade de livre escolha dos seus meios de vida e
subsistência;
V - garantir aos índios a permanência voluntária no seu habitat , proporcionando-lhes ali
recursos para seu desenvolvimento e progresso;
[...]
VII - executar, sempre que possível mediante a colaboração dos índios, os programas e
projetos tendentes a beneficiar as comunidades indígenas;
[...]
X - garantir aos índios o pleno exercício dos direitos civis e políticos que em face da
legislação lhes couberem.
LISTA DE QUESTÕES
FCC
1. (FCC/DPE-RS - 2018) O acusado, indígena, reincidente, foi condenado pelo crime de roubo cuja pena
foi fixada em 5 anos e 6 meses de reclusão, em regime fechado. Considerando-se a Constituição Federal,
o Estatuto do Índio (Lei no 6.001/73) e a Convenção no 169/89 da Organização Internacional do Trabalho
sobre Povos Indígenas e Tribais, no caso de apelação, avalie os seguintes argumentos em razões recursais:
I. A semiliberdade é o regime especial adequado para o cumprimento de pena imposta para o condenado
indígena.
II. A pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o juiz atenderá também o grau de integração do indígena.
III. O cumprimento de pena, sempre que possível, deve ocorrer no local de funcionamento do órgão federal
de assistência aos índios mais próximo da habitação do condenado, salvo se a pena cominada for de reclusão.
IV. Como a Constituição Federal reconhece aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, deve-se dar preferência a tipos de sanções distintos do confinamento em prisão.
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Está correto o que consta de:
a) I, II, III e IV.
b) I, II e IV, apenas.
c) III, apenas.
d) I e IV, apenas.
e) II e III, apenas.
CESPE
3. (CESPE/TRF-1ªR - 2013) No que concerne aos crimes contra o índio, de genocídio e outros previstos
na legislação, julgue o item a seguir.
O Estatuto do Índio, ao tipificar crimes contra os índios e contra a cultura indígena, não define um tipo
especial de homicídio contra o índio, mas prevê causa especial de aumento da pena no caso de crime contra
a pessoa, o patrimônio ou os costumes, no qual o ofendido seja índio não integrado ou comunidade indígena.
VUNESP
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FGV
Outras Bancas
6. (ESAF/FUNAI - 2016) Assinale, entre as opções abaixo, em qual definição se encaixa a categoria de
“Terra Indígena”.
a) Uma categoria ou descrição sociológica para definir um território indígena demarcado pelo Estado
brasileiro.
b) Uma categoria jurídica, definida pelo Artigo 231 da Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988.
c) Uma categoria jurídica, definida pelo Artigo 17 da Lei nº. 6.001, de 10 de dezembro de 1973.
d) Uma categoria jurídica definida pelo Supremo Tribunal Federal em sua decisão sobre a demarcação da
Terra Indígena Raposa Serra do Sol, de 19 de março de 2009.
e) Uma categoria de análise antropológica incorporada na legislação indigenista pelo Estado brasileiro, em
06 de julho de 1979.
7. (ACAFE/SED-SC - 2015) Na constituição Federal o Art. 231 diz que: São reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
Sobre os parágrafos deste artigo, todas as alternativas estão corretas, exceto a:
a) § 1º – São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente,
as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais
necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes
e tradições.
b) § 4º – As terras de que trata este artigo são alienáveis e disponíveis, e os direitos sobre elas, prescritíveis.
c) § 2º – As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-
lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
d) § 3º – O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra
das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com a autorização do Congresso Nacional,
ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da
lei.
e) § 5º – É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad referendum do Congresso
Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da
soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno
imediato logo que cesse o risco.
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8. (FUNCAB/SEDS-TO - 2014) Nas disposições relativas à Ordem Social, a Constituição Federal
brasileira:
a) permite que estrangeiros sejam proprietários e exerçam a gestão das atividades de empresa jornalística e
de radiodifusão sonora e de sons e imagens.
b) define o casamento como um instituto exclusivamente religioso e assegura o reconhecimento da união
civil estável pelo Estado.
c) assegura aos índios a posse permanente das terras por eles tradicionalmente ocupadas e o usufruto
exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
d) assegura exclusivamente às pessoas que não dispõem de assistência médica privada o acesso às ações e
aos serviços do Sistema Único de Saúde.
9. (ESAF/FUNAI - 2016) A Constituição Federal de 1988, no seu Artigo 231, afirma que:
a) o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com autorização da Fundação Nacional do
Índio, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na
forma da lei.
b) o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com autorização da Presidência da
República, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra,
na forma da lei.
c) o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com autorização do Supremo Tribunal
Federal, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na
forma da lei.
d) o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com autorização da Secretaria dos Direitos
Humanos da Presidência da República, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada
participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
e) o aproveitamento dos recursos hídricos, incluí- dos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas, só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional,
ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da
lei.
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12. (TRT 8R/TRT - 8ª Região - 2011) Julgue o item a seguir.
À luz da legislação especial, consubstanciada na Lei 6.001, de 19 de dezembro de 1973, que regula a situação
jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, e lhes impõe regime assistencial ou tutelar,
somente mediante a assistência do Ministério Público do Trabalho o índio pode ser parte em uma relação
de emprego.
13. (MPE-PR/MPE-PR - 2019) Nos termos da Lei n. 6.001/73 (Estatuto do Índio), assinale a
alternativa incorreta. Cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos das respectivas
administrações indiretas, nos limites de sua competência, para a proteção das comunidades indígenas e a
preservação dos seus direitos:
a) Garantir aos índios a permanência voluntária no seu habitat, proporcionando-lhes ali recursos para seu
desenvolvimento e progresso.
b) Assegurar aos índios a possibilidade de livre escolha dos seus meios de vida e subsistência.
c) Estimular o processo de integração do índio à comunhão nacional.
d) Garantir aos índios o pleno exercício dos direitos civis e políticos que em face da legislação lhes couberem.
e) Executar, sempre que possível mediante a colaboração dos índios, os programas e projetos tendentes a
beneficiar as comunidades indígenas.
GABARITO
1. B
2. E
3. Correta
4. C
5. INCORRETA
6. C
7. B
8. C
9. E
10. CORRETA
11. INCORRETA
12. INCORRETA
13. C
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