Acórdão 1210 de 2024 Plenário
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552/2020-9
RELATÓRIO
Transcrevo a seguir, com ajustes de forma, nos termos do art. 1º, § 3º, inciso I, da Lei
8.443/1992, a instrução lavrada no âmbito da Unidade de Auditoria Especializada em Infraestrutura
Rodoviária e de Aviação Civil (peça 91), cujas conclusões contaram com a anuência do corpo diretivo
daquela unidade técnica (peças 92 e 93).
“INTRODUÇÃO
1. Trata-se da análise das informações apresentadas pelo Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT) no âmbito da oitiva decorrente de representação formulada pela
então Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Rodoviária e de Aviação Civil
(SeinfraRodoviaAviação), acerca de questionamentos sobre a legalidade e a economicidade da
Instrução de Serviço/DG/DNIT 10, de 16 de maio de 2019 (IS/DG/DNIT 10/2019), editada pelo DNIT,
que dispõe sobre critérios para o reequilíbrio econômico-financeiro de contratos administrativos
decorrentes do acréscimo ou decréscimo, conforme o caso, dos custos de aquisição de materiais
betuminosos.
HISTÓRICO
2. A regulamentação do reequilíbrio econômico-financeiro de contratos administrativos do
DNIT em função dos sucessivos aumentos de preços dos materiais betuminosos já foi objeto de
afronta ao disposto no art. 2º, § 1º, da Lei 10.192/2001, que veda, definitivamente, a realização de
reajustes de periodicidade inferior a um ano (peça 10, p. 15, item 105).
12. Adicionalmente, foi identificada a existência de determinação judicial para estender o
alcance da IS/DG/DNIT 10/2019 aos demais contratos de rodovia que, em tese, sofreram
desequilíbrio no decorrer do ano de 2018. Esta decisão, portanto, gerou aumento de negociações
junto ao DNIT baseadas na aplicação de normativo com indícios de irregularidades, aumentando a
possibilidade de eventuais danos ao erário (peça 10, p. 13-15, itens 93-102 e p. 15, item 106).
13. Consequentemente, foi expedido o despacho do Ministro Raimundo Carreiro (8/12/2020),
autorizando a realização de oitiva do DNIT para que se pronunciasse sobre a legalidade da
IS/DG/DNIT 10/2019, abordando, especialmente (peça 13):
a) a ausência de parâmetro objetivo que permita avaliar o real impacto financeiro
provocado pelos sucessivos aumentos de preço dos materiais betuminosos, decorrente da nova
política de preços adotada pela Petrobras, no montante total dos contratos de obras, que permita a
demonstração de necessidade de recomposição do equilíbrio econômico-financeiro, com base na
teoria da imprevisão, insculpida no art. 65, inciso II, alínea “d, da Lei 8.666/1993;
b) a ausência de comprovação de que os quantitativos de insumos asfálticos, passíveis de
medição no período abrangido para reequilíbrio, tenham sido adquiridos nos meses de avaliação do
reequilíbrio, com os preços sobrelevados;
c) a ausência de exigência de análise do comportamento dos preços dos demais insumos
do respectivo contrato, ao menos os mais importantes em aspecto de materialidade, selecionados
mediante curva ABC de insumos do respectivo contrato, com a finalidade de se comprovar que não há
possíveis variações compensatórias, frente a variações positivas dos preços dos insumos asfálticos,
considerando-se a vigência não limitada do normativo.
14. Ademais, o referido despacho autorizou a diligência ao DNIT, nos seguintes termos:
(...) sejam encaminhados esclarecimentos sobre a manutenção da inconveniência e do custo
alegados pelo DNIT no Ofício 10/2015/DIR/DNIT, de 29 de janeiro de 2015, para não avaliar
eventuais pleitos de desequilíbrios para cada um dos respectivos contratos de obras, pelo método
convencional, considerando o contrato como um todo (itens 79-82), mesmo após se delegar às
superintendências do DNIT, espalhadas pelo Brasil, a competência para analisar, aprovar e lavrar
os termos aditivos, inclusive, com o auxílio das empresas supervisoras, conforme arts. 5º e 7º da
IS/DG/DNIT 10/2019.
15. Em cumprimento ao despacho do então Ministro Relator Raimundo Carreiro, foram
promovidas as oitivas e diligência ao DNIT, mediante Ofício 69372/2020-TCU/Seproc, em 10/12/2020
(peça 14).
16. Houve pedido de prorrogação de prazo por parte do DNIT, devidamente autorizado pelo
TCU (peças 16 e 19, respectivamente).
17. Após dilação de prazo, o DNIT apresentou suas manifestações à oitiva e diligência, em
19/2/2021, mediante Ofício 16828/2021/ACE-DG/DG/DNIT SEDE (peça 21).
18. Posteriormente, em 30/4/2021, houve deferimento quanto ao pedido de ingresso aos autos
das seguintes entidades: Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (ANEOR), Câmara
Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e Sindicato Nacional da Indústria da Construção
Pesada (SINICON).
EXAME TÉCNICO
29. O presente exame se destina à análise da oitiva realizada, considerando eventuais
impactos trazidos pelas informações atualizadas, em respostas às novas diligências, bem como a
manifestação do gestor acerca da implementação das determinações contempladas na proposta de
encaminhamento.
30. Além da análise das respostas à oitiva, será avaliada a resposta à diligência autorizada
pelo despacho do Ministro Relator (peça 13) quanto à alegada dificuldade para a avaliação
individual dos pleitos por reequilíbrio econômico-financeiro contratual, considerando o contrato
como um todo (método convencional).
31. Para melhor organização processual o exame técnico será realizado de acordo com os
itens da oitiva.
I. Ausência de parâmetro objetivo na IS/DG/DNIT 10/2019 que permita avaliar o real impacto
financeiro provocado pelos sucessivos aumentos de preço dos materiais betuminosos, balizando as
decisões quanto aos pleitos por recomposição do equilíbrio econômico-financeiro contratual (item
a)
I.1. Da manifestação do DNIT à oitiva (peça 21)
32. O DNIT, mediante Ofício 16828/2021/ACE-DG/DG/DNIT SEDE (peça 21, p. 1-2),
encaminhou os seguintes documentos que contemplam sua manifestação: Ofício
16640/2021/DIR/DNIT SEDE e Ofício 15483/2021/CGCONT/DIR/DNIT SEDE (peça 21, 3-4 e 5-21,
respectivamente).
33. Inicialmente, o DNIT destaca a relação entre as obras de construção e manutenção de
estradas no país e os aumentos expressivos nos preços do material betuminoso promovidos pela
Petrobras a partir de 2014. Acrescenta que, com o intuito de equilibrar os contratos afetados por
esses aumentos, o DNIT adotou medidas para ajustá-los, visando a atender às demandas e garantir o
cumprimento das obras.
34. Elenca os normativos já publicados até 2020:
a) instrução de Serviço/DG 02/2015, de 23 de março de 2015 (peça 21, p. 31-40);
b) instrução de Serviço/DG 04/2015, de 13 de julho de 2015 (peça 21, p. 41-51);
c) instrução de Serviço/DG 15/2016, de 21 de julho de 2016 (peça 21, p. 52-74);
d) instrução de Serviço/DG 10/2019, de 16 de maio de 2019 (peça 21, p. 76-87).
35. Apresenta retrospectiva sobre a expedição da Instrução de Serviço/DG 02/2015, de 23 de
março de 2015, quando o DNIT recebeu comunicados de entidades e empresas preocupadas com o
impacto dos aumentos dos preços dos insumos asfálticos nos contratos firmados.
36. Cita memorandos que subsidiaram a Instrução de Serviço/DG 02/2015, em que a
Coordenação-Geral de Custos de Infraestrutura em Transportes (CGCIT) destacou as variações de
preços dos produtos asfálticos observados na base de dados da ANP e ressaltou as avaliações acerca
do impacto financeiro causado pelos aumentos de preços, naquela época (TC 007.615/2015-9,
Memorando 38/2015-CGCIT/DIREX, peças 4, p. 38-46 e 5, p. 1-16 e Memorando 51/2015-
CGCIT/DIREX, peça 6, p. 4-9).
37. Em sequência, o DNIT menciona a existência de documento denominado de “Nota
Técnica 2579/2018/ASSTEC/GAB - DG/DNIT SEDE (1227726)”, produzido em 2018, que abordaria
o problema dos aumentos de preços dos materiais betuminosos causados pela nova política de preços
da Petrobras. Esse documento demonstraria a necessidade de recomposição do equilíbrio econômico-
financeiro e destacaria considerações relevantes sobre o impacto financeiro desses aumentos, à época
em que foi produzida. A referida Nota Técnica é transcrita, quase na íntegra, na manifestação do
DNIT (peça 21, p. 8-16).
38. Em síntese, o nominado documento, capitulado em tópicos, apresenta: a evolução do
preço de produtos asfálticos; os impactos causados pela elevação de preços do material betuminoso
nos contratos de obras rodoviárias; a avaliação sobre possíveis impactos na malha rodoviária, em
razão de vários fatores; as medidas adotadas pelo DNIT sobre a problemática em questão, com a
expedição dos normativos sobre o assunto (até 2018); a diferença entre reequilíbrio e reajuste, à luz
da constituição, da Lei 8.666/1993, e dos pressupostos da teoria da imprevisão e; a proposta de
encaminhamento pleiteando a redução da periodicidade anual de reajuste contratual para os preços
dos materiais betuminoso.
39. Tendo em vista, o fato de que a referida nota técnica foi aproveitada, mas não foi
produzida exclusivamente para atender aos questionamentos da oitiva, aliado à apresentação dispersa
dos assuntos na manifestação do DNIT, os argumentos técnicos da manifestação serão organizados de
acordo com sua pertinência e proximidade ao item “a” da oitiva.
40. Dito isso, a seguir serão apresentados os argumentos e informações relativos à origem da
oitiva, que trata da legalidade da IS/DG/DNIT 10/2019.
I.1.1 Do arcabouço jurídico para o reequilíbrio econômico-financeiro: Lei 8.666/1993 e teoria da
imprevisão
41. No documento denominado Nota Técnica 2579/2018/ASSTEC/GAB - DG/DNIT SEDE, é
abordado o arcabouço jurídico relacionado ao reequilíbrio e ao reajuste em contratos
administrativos, com o objetivo de esclarecer a diferenciação entre esses dois conceitos,
principalmente em relação ao reequilíbrio proposto na revogada IS/DG/DNIT15/2016 (tópico 6, peça
21, p. 15-16).
42. De acordo com a referida nota, é destacado que, à luz da Constituição Federal, o
equilíbrio da equação econômico-financeira do contrato administrativo deve ser mantido durante toda
a execução do contrato administrativo.
43. Em sequência, é argumentado que a Lei 8.666/1993 prevê os institutos de reajuste e de
revisão, como forma de recomposição do preço para a manutenção do equilíbrio contratual, para os
casos em que se verifica a ocorrência de áleas ordinárias e extraordinárias, respectivamente.
44. Além disso, o texto do documento ressalta que o reajuste teria como objetivo a proteção do
preço em relação à desvalorização ou valorização provocada pela variação dos custos de produção
do objeto contratado por oscilações ordinárias da economia, ou seja, decorrente do efeito
inflacionário (álea ordinária). Por sua vez, a revisão preservaria os preços das variações anormais da
economia, nos casos de sobrevirem fatos imprevistos ou previsíveis, porém de consequências
incalculáveis, configurando álea econômica extraordinária e extracontratual, supervenientes à
apresentação da proposta, segundo disposto no art. 65, inciso II, alínea “d”, da Lei 8.666/1995.
45. A Nota Técnica arremata que as alterações decorrentes de reajustes previstos no próprio
contrato devem ser formalizadas mediante apostilamento, conforme art. 65, § 8º, da Lei 8.666/1993,
evitando a utilização de aditamentos contratuais para esse propósito.
Figura 3 – Gráfico da evolução índices acumulados últimos 12 meses x índices que tiveram
evolução dentro da normalidade
10
64. Esses dois últimos gráficos são apresentados, novamente, na manifestação (peça 21, p.
28), com as seguintes conclusões sobre o comportamento dos índices:
a) os serviços da família de terraplenagem, drenagem, pavimentação (exceto material
betuminoso), OAE (sem aço) e INCC tiveram variações ordinárias de preços de 2014 a 2018;
b) os materiais betuminosos tiveram altas extraordinárias nos anos de 2015, 2016 e 2018
e queda extraordinária em 2017;
c) o aço e pavimento de concreto tiveram quedas extraordinárias no ano de 2015 e de
2016.
65. Por fim, defende que o DNIT teria tomado coerente medida ao adotar premissas nos
cálculos do reequilíbrio dos contratos estabelecidos na IS/DG/DNIT 10/2019, que poderiam ser
favoráveis tanto à empresa pleiteante, em caso de variação acentuada de alta dos preços, como ao
DNIT, em caso de variação acentuada de baixa de preços (peça 21, p. 20).
I.1.3. Das medidas adotadas pelo DNIT frente à política de preços da Petrobras (desde 2014)
66. Quanto às medidas adotadas pelo DNIT, face à política de preços da Petrobras, desde
2014, a CGCONT/DNIT destaca, cronologicamente, a evolução das tratativas e do acompanhamento
realizado no âmbito daquela Autarquia (peça 21, p. 16, itens 6.12).
67. Em complementação, esse assunto é também destacado na Nota Técnica
2579/2018/ASSTEC/GAB - DG/DNIT SEDE (peça 21, p. 14-15, itens 5.1-5.15).
68. Para melhor organização visual, essas informações serão agregadas e apresentadas,
cronologicamente, na tabela 1.
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variação mensal do material betuminoso, que deveria ser atendido no prazo de trinta dias, sob pena
de fixação de multa diária (peça 21, p. 17, item 6.14).
77. Nesse contexto, o DNIT conclui que publicou a IS/DG/DNIT 10/2019, em virtude da
decisão judicial, e que sua efetivação se daria a partir de sua publicação. Em razão disso, acrescenta
que as autoras do processo judicial interpuseram recursos pleiteando a aplicação do referido
normativo aos contratos que sofreram desequilíbrio no ano de 2018, obtendo-se inicialmente decisão
favorável que, posteriormente, foi revertida, mediante ações do DNIT, de acordo com parecer de força
executória (peça 21, p. 17 e 136-137).
78. No que se refere à Nota Técnica 2579/2018/ASSTEC/GAB - DG/DNIT SEDE, em essência,
contempla argumentos semelhantes aos apresentados pela CGCONT/DNIT, motivo pelo qual não
serão relatados, sob pena de repetição (peça 21, p. 14-15).
I.1.5. Dos processos administrativos e judiciais em desfavor do DNIT
79. Além da já citada Ação Civil Pública, impetrada pelas entidades representantes do ramo
da construção de obras rodoviárias, foram apresentados outros processos judiciais, bem como
processos administrativos (SEI), que tratam do tema abordado (peça 21, p. 20-21).
80. As ações judiciais em desfavor daquela Autarquia estão listadas na tabela 2.
1001512-54.2020.4.01.4100
5003191-67.2020.4.04.7000
1001132-15.2020.4.01.3200
1007871-63.2018.4.0l.3300
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113. O DNIT esclarece, também, que a DIR não detinha o estudo solicitado, bem como o
conjunto de registros requeridos pelo TCU, considerando que diversas contratações se encontrariam
atualmente delegadas às SREs, nos estados.
114. No entanto, ressalva que, em virtude da diligência desta Corte de Contas, a Autarquia
teria dado início aos trabalhos correlatos e, que, tão logo estejam concluídos, o resultado será
prontamente apresentado ao TCU (Ofício 142743/2023/DIR/DNIT SEDE peça 69, p. 3).
115. Quanto às informações parciais, a CGCONT apresentou o Ofício 2936/2023/SAA -
CGCONT/CGCONT/DIR/DNIT SEDE, datado de 13/6/2023, em que notifica às superintendências
regionais para enviarem as respostas a serem compiladas para o cumprimento da demanda do TCU
(peça 64, p. 10-11).
116. Assim, segundo informado pelo DNIT, os dados relativos aos contratos geridos pela
CGCONT ainda estavam sendo apurados para a identificação de eventuais estornos, em razão de
reequilíbrios negativos (Ofício 132201/2023/DIR/DNIT SEDE, peça 64, p. 3).
117. Quanto às providencias da CGMRR, verifica-se que as superintendências foram
notificadas, em 5/6/2023, pelo Ofício 2929/2023/CGMRR/DIR/DNIT SEDE (peça 64, p. 17), e com
reiteração mediante Ofício 3686/2023/GMRR/DIR/DNIT SEDE, em 13/6/2023 (peça 64, p. 6-9).
118. A CGMRR registra no Ofício 3686/2023/CGMRR/DIR/DNIT SEDE que as
superintendências se manifestaram por meio de diversos ofícios-respostas. Que os dados foram
compilados e que cinco superintendências regionais ainda não tinham apresentado as informações
requeridas, razão pela qual solicitou dilação de prazo, por sessenta dias, para o cumprimento integral
da demanda do TCU. (peça 64, p. 7).
119. Acrescenta que somente as regionais do Ceará e do Rio Grande do Sul fizeram os
respectivos reequilíbrios econômico-financeiros dos contratos administrativos e que suas respostas
foram compiladas em tabela, conforme reproduzida na tabela 4 (peça 64, p. 7-8).
19
Total -5.620.923,77
20
b) seja utilizado como modelo de planilha a ser seguido o documento inserido no SEI
14949883, produzido pela Superintendência Regional do DNIT no estado do Ceará;
c) seja incluída no Sistema Eletrônico de Informações (ou indicado o arquivo SEI) a
memória de cálculo correspondente a cada REF, em que conste destacado o valor negativo apurado
em favor do DNIT, antes da fase de apuração do resultado final do procedimento;
d) seja informado por ofício quais são os números dos contratos geridos pela
Superintendência Regional onde são utilizados insumos asfálticos/materiais betuminosos classificados
como CM-30 e CAP 50/70; e
e) seja analisada a planilha anexa a fim de retificar eventuais inconsistências, que deve
ser comunicado a esta Coordenação-Geral mediante ofício-resposta.
123. Por fim, o DNIT solicita nova prorrogação de prazo, por mais sessenta dias, para dar
cumprimento integral da demanda (Ofício 131240/2023/SETDEM/AUDINT/DNIT SEDE, peça 64 e
66, p.2), que foi concedido, conforme despacho do Ministro Relator Antonio Anastasia à peça 68.
124. Transcorrida a segunda prorrogação de prazo, o DNIT encaminha o resultado final do
levantamento, mediante Ofício 179605/2023/SETDEM/AUDINT/DNIT SEDE, que contempla o
levantamento parcial e o complementar, relativo aos dados produzidos pelas demais
Superintendências Regionais, realizado pela DIR, por meio de suas coordenações, CGCONT e
CGMRR (Ofício 179927/2023/CGMRR/DIR/DNIT SEDE peças 78-79).
125. De sua parte, a CGCONT confirma que, após os estudos realizados, não se identificou
nenhum contrato sob sua gestão que demandasse reequilíbrio econômico-financeiro com impacto
negativo, com estorno contratual, conforme Planilha REF Negativo (Ofício 175357/2023/SAA -
CGCONT/CGCONT/DIR/DNIT SEDE, peça 78- p. 6-7).
126. Quanto à CGMRR, apresentou quadro resumo, reproduzido na figura 5, resultante da
compilação dos dados enviados pelas SREs com o levantamento dos contratos de obras que
demandam REFs negativos em favor da Administração, bem como positivos, em favor do contratado
(planilha Excel, item não digitalizável, peça 79).
Figura 5- Quadro resumo do levantamento dos Contratos de obras (GMRR) em situação de REF.
(omissis)
127. Adicionalmente, o DNIT apresentou uma planilha detalhada com os valores de REFs
negativos e positivos levantados pela Superintendências Regionais (peça 79, item não digitalizável).
128. Consolidando-se os valores dos REFs negativos da referida planilha (peça 90), cujo
levantamento abarca o período de abri/2022 a abril/2023, obtém-se o valor total a ser estornado em
favor da Administração de R$ 57.044.122,91 (R$ 2.355.239,35 + R$ 54.688.883,56).
I.2. Análise
129. Antes de iniciar a análise, propriamente dita, cabe reprisar alguns pontos para facilitar a
apreciação dos argumentos apresentados na manifestação do DNIT.
130. A norma representada, IS/DG/DNIT 10/2019, foi revogada pela sua sucessora, a
Resolução/DNIT 13/2021, vigente, que contempla a mesma metodologia de sua antecessora.
131. Quanto ao primeiro item de oitiva, interessa transcrevê-lo a seguir em sua íntegra:
a) a ausência de parâmetro objetivo que permita avaliar o real impacto financeiro provocado pelos
sucessivos aumentos de preços dos materiais betuminosos, decorrente da nova política de preços
21
adotada pela Petrobras, no montante total dos contratos de obras, que demonstre à necessidade de
recomposição do equilíbrio econômico-financeiro, com base na teoria da imprevisão, insculpida no
art. 65, inciso II, alínea “d”;
132. De acordo com o item da oitiva, o foco do questionamento recai no fato de não se ter
identificado na metodologia da então vigente IS/DG/DNIT 10/2019, critérios objetivos que
possibilitem avaliar a ocorrência de acentuado impacto financeiro, em razão de eventual aumento dos
materiais betuminosos, capaz de demandar o reequilíbrio econômico-financeiro contratual com
fundamento no art. 65, inciso II, alínea “d”, da Lei 8.66/1993, a seguir transcrito, e na teoria da
imprevisão.
Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas justificativas, nos
seguintes casos:
II - por acordo das partes:
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicialmente entre os encargos do
contratado e a retribuição da administração para a justa remuneração da obra, serviço ou
fornecimento, objetivando a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato,
na hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de consequências
incalculáveis, retardadores ou impeditivos da execução do ajustado, ou, ainda, em caso de força
maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica extraordinária e
extracontratual. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
133. Embora a teoria da imprevisão e o dispositivo legal transcrito se trate de assunto
exaustivamente debatido, no âmbito desta representação, bem como no relatório do Acórdão
1604/2015-TCU-Plenário (TC 007.615/2015-9), cabe trazer os requisitos enunciados na referida
teoria, que foram bem expostos no Voto Condutor do Acórdão 2408/2009-TCU-Plenário, de relatoria
do Ministro Walton Alencar Rodrigues, nos seguintes termos:
Indispensável que a revisão de preços encontrasse amparo na teoria da imprevisão dos contratos
administrativos.
Somente se admite a repactuação, quando decorre de fato: a) superveniente; b) imprevisível, ou
previsível, mas de consequências incalculáveis; c) alheio à vontade das partes; e d) que provoque
grande desequilíbrio ao contrato.
A elevação anormal do preço de serviço, decorrente de variação inesperada dos seus custos, pode
motivar a revisão dos preços contratados, desde que observados todos os pressupostos legais. Tal
situação deve ser objetiva e exaustivamente demonstrada.
134. Além disso, a doutrina desenvolvida acerca da teoria da imprevisão, de álea econômica,
enfatiza os mesmos requisitos já mencionados no referido Voto Condutor. Dentre esses requisitos
destaca-se aquele em que o evento gerador deve ser significante modificador da relação contratual
(Di Pietro, Direito Administrativo, 2014, p. 297 e Justen Filho, Comentários à Lei de Licitações e
Contratos Administrativos, 2012, p. 894).
135. No caso em tela, não se apontou controvérsia quanto aos primeiros requisitos
(imprevisibilidade, superveniência e alheio às partes), visto que foram reconhecidos de possível
ocorrência na nova política de preços da Petrobras.
136. Inclusive, não é demais reforçar que nas duas representações desta Corte de Contas,
sobre esse tema, o ponto crucial da discussão, sempre se concentrou sobre a indispensável
necessidade de avaliação do real impacto financeiro e das consequências por ele trazido, que
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identificado pela linha vertical destacada em azul, em ambos os gráficos), corresponde a um período
de elevação de preços, cujos reajustes anuais, a depender da data-base ou da assinatura do contrato,
poderiam não capturar tal elevação.
146. No entanto, nos períodos de estabilidade ou queda de preços, período de março/2019 a
novembro/2020 e abril/2022 a abril/2023, a depender do ano de assinatura do contrato,
especialmente se próximo aos meses que precedem a queda de preços, poderia não haver necessidade
de reequilíbrio quadrimestral positivo, ou, inclusive, ter até o reequilíbrio negativo (estorno) a favor
do DNIT.
147. Igual raciocínio cabe para aqueles contratos com data-base próxima ao momento
subsequente àquele em que ocorreu o pico dos preços, considerando que os índices oficiais (base
PRODUTOR) já teriam capturado a variação positiva e, a partir de então, eventual variação negativa
ou ordinária não justificaria a realização de reequilíbrios quadrimestrais a favor das empresas
contratadas.
148. Atentando-se que, para o caso de variação negativa, o reequilíbrio (estorno) caberia
somente a favor do DNIT, de acordo com o normativo vigente (Resolução/DNIT 13/2021).
149. Além disso, a exemplo dos gráficos reproduzidos nos itens 62 e 63, elaborou-se o gráfico 3
(peça 72), contemplando critérios semelhantes aqueles adotados pelo DNIT para avaliar o
comportamento atualizado (janeiro/2019 até junho/2023) da variação dos preços dos materiais
betuminosos, frente à variação de índices de mercado, tomando-se a mesma faixa delta de variação de
+5% e -5%.
Gráfico 3 – Variação INCC x Preços ANP PRODUTOR CAP-50-70 e CM-30
(omissis)
150. Em diferenciação, adotou-se como índice referencial para a comparação, o Índice
Nacional da Construção Civil (INCC), que retrata a inflação da construção civil, em detrimento do
IGP-DI, que retrata a inflação de forma geral.
151. A partir do gráfico 3, é possível se obter várias conclusões, dentre elas, aquela em que o
comportamento da variação de preços acumulada, nesse período, apresenta distorções desde
janeiro/2020, negativas e positivas, em comparação com a variação da faixa delta do INCC (+5% e -
5%), para o mesmo período, com a tendência de queda dos preços, a partir de abril/2022, situação
que, a depender da data-base ou da data de assinatura do contrato, pode resultar em impacto
financeiro que demandem REF negativo (estorno contratual).
152. Adiantando, tal raciocínio está sendo corroborado para os contratos de obras rodoviária
com data-base mais recente (a partir de 2020), que ensejam a realização de reequilíbrio econômico-
financeiro negativo, ou seja, com estorno contratual em favor do DNIT, como se verá nos itens a
seguir.
153. Veja que são muitas situações que podem ocorrer, a depender dos fatores descritos, e não
somente da simples variação de preços dos insumos asfálticos.
154. Como exemplo, pode-se citar o período de abril/2022 a abril de 2023, em que houve queda
de preços, conforme retratado na tabela 5 (peça 72).
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se que a partir da provocação desta Corte de Contas, a Autarquia está adotando as providências
cabíveis para promover os devidos estornos, conforme consta das respostas enviadas.
163. Inclusive, na manifestação do gestor, em razão da construção participativa das
deliberações, prevista na Resolução-TCU 315/2020, a Autarquia informa que a Resolução/DNIT
13/2021 pode ser ajustada visando a otimizar a aplicação de pedidos de reequilíbrio favoráveis à
Administração. Adicionalmente, apresenta uma série de alterações sugeridas a serem implementadas
em oportuna revisão deste normativo (peça 89, p. 2).
164. Em síntese, essas alterações propostas para o normativo vigente convergem para que a
Fiscalização ou a Supervisão estejam obrigadas a verificar se a variação dos preços de materiais
betuminosos é favorável à Administração e, nesse caso, seja realizado o reequilíbrio contratual, com o
estorno dos valores apurados, mediante termo aditivo (peça 89, p. 2, item 6).
165. Enfim, considera-se que as alterações sugeridas pela CGCONT são necessárias, pois,
apesar de o procedimento isonômico estar previsto no normativo vigente, a iniciativa de requerer o
reequilíbrio econômico-financeiro, decorrente de acréscimo ou decréscimo de preços dos insumos
betuminosos, está relegado à contratada, nos termos do atual normativo. Nesse caso, é evidente que a
contratada, que visa o lucro, não conjuga o interesse de requerer estornos em suas medições a favor
da Administração, mesmo quando estes são devidos.
166. Nesse contexto, o normativo vigente acerta ao prever procedimentos isonômicos, mas peca
ao direcionar a faculdade de ação à contratada.
167. Assim, como as alterações sugeridas pela CGCONT vão ao encontro à efetivação do
tratamento isonômico previsto, mas que se trata apenas de uma sugestão daquela setorial e estão
sujeitas à análise e aprovação por parte da Diretoria de Infraestrutura Rodoviária (DIR), entende-se
que se deve agregar à proposta de encaminhamento original a determinação à Autarquia para revisar
o normativo vigente, com o propósito de que o DNIT, por meio de sua atuação fiscalizatória, esteja
obrigado a verificar se eventual variação dos preços de materiais betuminosos é favorável à
Administração e, caso necessário, tomar as providências cabíveis para promover o respectivo
reequilíbrio econômico-financeiro, mediante termo aditivo, com estorno dos valores devidos.
168. Inclusive, deve-se esclarecer que a inclusão dessa nova determinação na proposta de
encaminhamento não será objeto de nova manifestação do gestor, tendo em vista que foi elaborada em
concordância coma proposta da própria CGCONT/DIR/DNIT.
169. Dito isso, registra-se como benefícios efetivos desta representação:
a) a melhoria na gestão dos contratos de obras rodoviária pelo DNIT, com a aplicação
isonômica da Resolução/DNIT 13/2021; e
b) o valor a ser estornado, em favor da Administração Pública, em razão da aplicação
isonômica da referida Resolução, totalizado em R$ 57.044.122,91, decorrente de reequilíbrios
econômico-financeiros em face à redução de preços dos materiais betuminosos, no período de
abril/2022 a abril/2023.
170. Conforme já dito, o levantamento do valor a ser estornado decorre de força-tarefa
implementada pela Autarquia após a realização de diligência desta Unidade Técnica quanto à devida
aplicação da referida Resolução, conforme Ofício23546/2023-TCU/Seproc (peça 60) e resposta à
diligência à peça 64.
171. Enfim, importa registrar que o fato de haver, ou não, queda de preços, ou de o DNIT estar,
ou não, aplicando seu normativo vigente para ambos os casos (elevação ou queda de preços), não há
26
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quadrimestre, portanto com periodicidade inferior a um ano, em afronta ao estabelecido no art. 2º, §
1º, da Lei 10.192/2001 (Plano Real).
180. Inclusive, como informado na manifestação do DNIT, a Nota Técnica
2579/2018/ASSTEC/GAB-DGDNIT SEDE foi produzida, exatamente, com a finalidade de
fundamentar o pleito pela redução da periodicidade dos reajustes dos materiais betuminosos.
181. Nesse ponto, concorda-se integralmente com o resultado da reunião realizada na Casa
Civil, quando rechaçou a possibilidade de redução da periodicidade anual dos reajustes dos materiais
betuminosos, sob argumento do Procurador Geral da Fazenda Nacional de que a periodicidade
mínima de reajustes é um dos pilares da política macroeconômicas adotada desde o Plano Real e
seria altamente inconveniente excepcioná-lo, além de não ser juridicamente possível decreto que
reduzisse a periodicidade apenas para determinado setor ou tipo de contrato, pois a Lei do Plano
Real teria previsto a possibilidade de redução de modo geral. (peça 21, p. 16, itens 6.10 e 6.11).
182. Nesse contexto, é de suma importância que haja a revisão da IS/DG/DNIT 10/2019, de
forma a prever critério objetivo a ser definido para que seja possível avaliar o impacto financeiro
decorrente da variação de preços dos insumos asfálticos, bem como as reais consequências por ele
trazido na relação contratual, a fim de se identificar, comprovadamente, quais contratos de obras
sofreram desequilíbrio econômico-financeiro, a fim de justificar a aplicação da Lei 8.666/1993.
183. Considerando que não houve esclarecimentos por parte do DNIT quanto ao cerne da
questão que diz respeito à ausência de parâmetro objetivo na IS/DG/DNIT 10/2019, bem como sobre a
metodologia aplicada na fórmula a partir da qual se calcula o reequilíbrio econômico-financeiro
(REF), cabe recapitular algumas conclusões inseridas no Voto Condutor do Acórdão 1604/2015-
TCU-Plenário, que se aplicam ao presente caso, conforme já expostos na instrução inicial dessa
representação, com os devidos ajustes.
184. Especificamente quanto à metodologia de cálculo, segundo o texto explicativo do próprio
normativo, a fórmula concebida se traduz da seguinte forma: o REF é obtido pela diferença entre “a
variação do preço produtor entre o mês da medição e a data-base, aplicada sobre o valor medido do
mês, a preços iniciais, excluindo-se o lucro operacional referencial de 5,11%, estabelecido pelo
Acórdão 2622/2013-TCU-Plenário” e o “reajustamento pago na medição”, calculada mês-a-mês, de
todos os serviços de aquisições de insumos asfálticos do período considerado, demonstrado na
fórmula a seguir.
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Onde:
ΔP = Variação do Preço Produtor calculada nos termos do art. 16 do mês “m”
PI = Valor medido a preços iniciais no mês “m”
R = Valor medido referente à parcela de reajustamento no mês “m”
m = Mês de análise do REF.
185. Como se pode observar pelo texto explicativo da norma, nada se comenta sobre qualquer
limitador que sirva de parâmetro objetivo para avaliar o impacto financeiro decorrente de alta de
preços promovida pela Petrobras, a partir do qual se poderia identificar a ocorrência de significante
modificação da relação contratual que acarrete o desequilíbrio contratual. 186. Cabe reprisar que os
normativos precedentes e revogados, IS/DG/DNIT 4/2015 e IS/DG/DNIT 15/2015, ambos aderentes
ao Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário, estabeleciam critérios definidos aplicáveis ao reequilíbrio
econômico-financeiro dos contratos, nos moldes do art. 65, inciso II, alínea “d” da Lei 8.666/1993,
condicionando sua realização somente nos casos em o impacto financeiro identificado fosse
comprovadamente superior à determinado percentual adotado pelo DNIT (cerca de 7%). Inclusive, tal
condicionante constava explicitamente no texto dos normativos mencionados.
187. A retirada do limite de 7% da então IS/DG/DNIT 10/2019 foi justificada sob
argumentação de que esse limite estaria dificultando a recomposição do equilíbrio econômico-
financeiro dos contratos, reduzindo o número de aditivos autorizados, conforme relatado na instrução
inicial desta representação (peça 4, p. 2).
188. No entanto, não se observou que a atual metodologia para o cálculo de reequilíbrios
contratuais tenha previsto, no referido normativo, a substituição do limite de 7% por outro parâmetro
objetivo fundamentado nos termos do Voto Condutor do Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário, ainda que
com os devidos ajustes frente a realidade temporal. Inclusive, o DNIT, em sua manifestação, pouco
contribuiu para refutar tal constatação.
189. Nos termos do referido normativo, o reequilíbrio é calculado mês a mês, totalizado e
formalizado, mediante termo aditivo, ou seja, é capitalizado a cada quadrimestre. Esse reequilíbrio é
concedido, em razão de variação de preços dos materiais betuminosos promovida pela Petrobrás,
desde que superado o reajuste ordinário (anual) e o lucro operacional exclusivamente do material
betuminoso, não aquele do contrato como um todo.
190. Assim, a então IS/DG/DNIT 10/2019 e agora a sua sucessora, a Resolução/DNIT 13/2021,
autoriza a realização de reequilíbrios contratuais sem exigência de avaliação de que a referida
variação de preços dos insumos asfálticos se insere, ou não, em álea econômica extraordinária, capaz
de acarretar o desvirtuamento da equação contratual.
191. Nesse contexto, o normativo está regulamentando, de fato, a indexação (mês a mês) do
contrato aos aumentos de insumos betuminoso, sem que reste caracterizada situação de reequilíbrio
contratual, ou seja, permitindo reajustes com periodicidade inferior a um ano, que é ilegal.
192. A própria Nota Técnica 4/2019-DPP/DNIT (peça 4), que explana a metodologia aplicada
nesse normativo, não faz referência a qualquer condicionante aos pleitos de reequilíbrio, nesse
sentido. Muito pelo contrário, alega-se que a metodologia desenvolvida, que sustenta a então
IS/DG/DNIT 10/2019, estaria viabilizando os pleitos, pois não existiria mais a trava de impacto
financeiro acima de 7% a ser alcançada, além de não fazer alusão a qualquer outro patamar de
impacto a ser atingido.
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199. Ademais, a comprovação de desequilíbrio contratual deve abarcar outros aspectos como:
a representatividade do insumo no contrato, a data de ocorrência do aumento em relação à data-base
ou à data de assinatura do contrato e o estágio de execução do contrato, bem como o grau de
elevação dos preços. Enfim, essas considerações já foram relatadas no TC 007.615/2015-9, bem como
na instrução inicial desta representação.
200. No que se refere à representatividade dos materiais betuminosos em contratos, cita-se os
percentuais apresentados em 2015, no TC 007.615/2015-9 (tabela 3, peça 9, p. 5, item 25), quando se
apresentou variações percentuais que iam de 8% (obras de implantação) até 35% (obras de
revitalização).
201. À vista disso, é imperioso que o fator representatividade seja considerado no
desenvolvimento da metodologia aplicada ao reequilíbrio contratual. Inclusive, a questão de
representatividade versus impacto financeiro já foi abordada pelo DNIT, bem como nas instruções
precedentes, a depender dos tipos de obras, se construções, adequações, duplicações, ou conserva,
manutenção, restauração e CREMA.
202. No que se refere à data-base contratual, em 2015, o Ministro Relator fez as pertinentes
observações, a seguir transcritas:
53. No tocante ao segundo requisito autorizador da opção pelo reequilíbrio econômico-financeiro
de contrato administrativo (v. Item 23 – impacto acentuado no contrato), fundado na teoria da
imprevisão, a instrução de serviço do Dnit não disciplina a forma como devem agir os gestores
diante de contrato em que a simples data de reajustamento não recomendar a aplicação da norma
e a consequente recomposição nos preços dos materiais betuminosos.
54. Seriam os casos, por exemplo, de contrato cujos reajustamentos tenham ocorrido entre os
meses de fevereiro e abril de 2015, por exemplo. É provável que as contratadas tenham aguardado
o mês de reajuste antes de terem realizado, de forma mais intensa, serviços que utilizassem
insumos betuminosos, sem maiores prejuízos ao andamento dos serviços e, em última análise, à
segurança do cidadão-usuário. Nessa hipótese, não haveria razão para pedido de recomposição a
fim de cobrir este curto período (de janeiro a abril de 2015, no caso de contrato com data de
reajustamento em abril/2015, por exemplo), devido à falta de execução maciça daqueles serviços
e, por consequência, de impacto considerável no contrato.
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203. Diferença à parte, no que tange a temporalidade dos fatos, em termos práticos a
observação colocada no referido Voto Condutor permanece válida e aplicável à vigência da
IS/DG/DNIT 10/2019, ressalvadas alguns ajustes necessários, pelos aspectos a seguir explanados.
204. Com base na observação dos gráficos 1 e 2 (item 143), é possível identificar períodos
cíclicos de variação dos preços promovidos pela Petrobras, com elevação e por queda desses preços.
205. Durante períodos com tendência de elevação de preços, levando em consideração a
previsão normativa de reequilíbrio contratual a cada quatro meses, se a data-base de reajustamento
anual está próxima do período de elevação, pode se optar por aguardar até o mês de reajuste anual
antes de realizar os serviços que demandam insumos betuminosos em maior quantidade. Nessa
hipótese, pode não ser necessário fazer um reequilíbrio contratual.
206. Em relação ao item anterior, convém registrar que foi elaborada proposta de
determinação endereçada ao DNIT para revisar o normativo vigente e avaliar situações que poderiam
indicar a inaplicabilidade dos critérios nele previstos em função do não atendimento dos pressupostos
da teoria da imprevisão e do art. 65, inciso II, alínea “d”, da Lei 8.666/1993.
207. Em cumprimento à Resolução-TCU 315/2020, foi facultada ao DNIT a apresentação da
manifestação do gestor, em prol da construção participativa das deliberações, quanto ao seguinte
encaminhamento (peça 74):
a.1.2) promova a revisão do normativo vigente, Resolução/DNIT 13/2021, que contemple o
limitador percentual referido no item “a.1”, além de outros parâmetros objetivos que julgar
pertinente, para orientar todas as unidades de sua estrutura organizacional responsável pela
análise dos requerimentos fundados no normativo vigente, no exame do caso concreto, quando dos
recebimentos dos pleitos, quanto à necessidade de:
(...)
a.1.2.1.3) contratos, cuja data de reajustamento anual (data-base) coincida com os primeiros
meses subsequentes ao aumento de preços promovido pela Petrobras, quando identificada a
redução do ritmo de execução dos serviços que se utilizam dos insumos betuminosos,
representando postergação aceitável motivada pela proximidade daquela data de reajustamento
ordinário (anual);
a.1.2.1.4) proximidade entre a data de ocorrência do aumento em relação à data-base ou à data de
assinatura do contrato; e
208. Em manifestação, o DNIT trouxe alguns argumentos sobre prováveis consequências
práticas em caso da implementação das propostas de determinação dos subitens 1.2.1.3 e 1.2.1.4.
209. Em síntese, o DNIT defende que esses procedimentos constituirão sério risco para a
execução das obras. Isso se deve ao fato de o instrumento contratual não conter, dentre as
postergações aceitáveis, o caso de que elas ocorram em função de a data de reajustamento anual do
contrato (data-base) coincidir com os primeiros messes subsequentes ao aumento de preços
promovidos pela Petrobras ou por produtores privados.
210. Além disso, pondera que aceitar postergação de cronograma de execução por motivo de
reajustes extraordinários é medida descabida, especialmente pela complexa cadeia e dinâmica de
insumos e serviços que são necessários para viabilizar uma obra de infraestrutura, que envolvem as
janelas hídricas favoráveis, tráfego e ações de intempéries.
211. Argumenta que eventuais postergações, como propostas, poderão incentivar as empresas a
adiar a execução de serviços que demandem insumos betuminosos, no entorno da data-base
contratual, aguardando um possível reajuste nos preços desses insumos. Que tal situação poderia
32
levar a um agravamento de problemas decorrentes da não execução parcial de serviços, como pano
de revestimento asfáltico e tapa-buracos, trazendo sérias implicações negativas para a segurança dos
usuários, fato que contraria frontalmente o interesse público.
212. Nesse contexto, defende ser inexequível a consideração de tal linha de ação nos estudos
internos a serem implementados no normativo representado.
213. Em análise dos argumentos apresentados na manifestação do gestor, entende-se que o
DNIT possui meios para exigir o cumprimento de cronogramas de execução de obras, a fim de evitar
eventuais abusos decorrentes de postergações de execução contratual. Entretanto, reconhece-se que
tais providências demandariam dispêndio de energia, sobrecarregando a fiscalização das obras, dada
a instabilidade de aumentos de preços dos insumos betuminosos e a quantidade de contratos de obras
vigentes.
214. Assim, ponderando-se os argumentos apresentados pelo DNIT com eventuais benefícios
decorrentes da implementação dos itens da referida proposta, entende-se que a aplicação dos
procedimentos sugeridos no encaminhamento poderia ser mais prejudicial do que benéfica na
execução do contrato. Nesse sentido, conclui-se que restam afastadas as propostas de determinação
dos subitens 1.2.1.3 e 1.2.1.4.
215. O último aspecto a ser comentado é o estágio de execução contratual. Novamente, invoca-
se as observações inseridas no referido Voto Condutor do Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário, por se
mostrarem pertinentes à presente situação (TC 007.615/2015-9, peça 27, p. 10):
55. O estágio de execução contratual (cronograma físico-financeiro e percentual de medições de
insumos betuminosos) também é fator precípuo a ser considerado pelo Dnit na análise dos pedidos
amparados no normativo. Sob essa ótica, penso que o fator comparativo preponderante para
averiguação do impacto provocado pelos aumentos extraordinários no contrato seja o montante
financeiro correspondente aos totais de medições – de todos os serviços –, realizada e previstas,
no período de validade do normativo (entre janeiro/2015 e o próximo reajuste anual).
216. Nesse sentido, foi registrado no referido Voto Condutor que o DNIT elaborou a tabela
com estimativa dos impactos dos reajustes promovidos pela Petrobras, tomando-se como critério o
estágio de execução da obra, descrito no texto retrotranscristo que, resumidamente, significa que o
fator comparativo preponderante para avaliar o impacto financeiro deve ser o montante financeiro
correspondente aos totais de medições – de todos os serviços-, realizada e previstas, naquele período
em estudo (TC 007.615/2015-9, peça 27, p. 10).
217. Após avaliação dos resultados apresentados, restou concluído que não foi em todo
instrumento contratual que o reajuste dos betumes produziu efeitos materialmente relevantes sobre o
montante financeiro das medições realizadas e previstas no período de validade daquela norma.
218. Em alguns casos, o impacto financeiro não havia ultrapassado o patamar de 7%. Assim,
naquele voto, foi considerado que impactos nesse patamar não comprometiam, demasiadamente, a
execução da obra, bem como a lucratividade do contratado, a ponto de desvirtuar a equação
econômico-financeira estabelecida originalmente na proposta.
219. Em outros casos (acima de 12%), registrou-se que a situação de desequilíbrio contratual
poderia ser reconhecida a depender do estágio de execução contratual, frente à variação
extraordinária de preços ocorrida na época, da ordem de 30%.
220. Inclusive, de acordo com a tabela 6, é possível observar que somente nos anos de 2018 e
2021 ocorreu variação anual de preços que superou a variação de 30% de aumentos ocorrida no final
de 2014 e início de 2015. Nos demais anos, a variação foi ordinária e até negativa.
33
221. É fato que persiste a instabilidade nos preços dos materiais betuminosos, em razão da
política de paridade internacional, iniciada no final de 2014 e vigente até maio/2023. No entanto,
pode-se observar que a referida instabilidade não aponta somente para períodos de alta, alterna-se,
também, entre estabilidade e queda de preços, segundo já comentado nesta instrução.
222. De toda forma, qualquer variação de preços já é capturada com mais celeridade pelos
índices oficiais, após providência adotada pelo DNIT, recomendada pela FGV, com a alteração da
base de dados de formação dos índices para Preço Produtor (Petrobras), fornecidos pela ANP.
223. Assim, considerando-se os períodos de elevação em alternância com períodos de queda e
estabilidade, percebe-se que o impacto econômico-financeiro deve ser avaliado detidamente, com
base em critério objetivo em que se possa ser reconhecido, ou não, situações reais de alteração na
equação econômica dos contratos.
224. O DNIT, ao expedir a IS/DG/DNIT 10/2019, deveria ter buscado cumprir o que foi
determinado no referido Acórdão, e definido outros parâmetros objetivos, levando em conta os fatores
levantados no respectivo Voto Condutor, em substituição ao percentual de 7%, a fim de se avaliar com
mais propriedade as variações de preços verificadas nos últimos anos.
225. Nesse sentido, como não foram oferecidos novos argumento pelo DNIT, a situação
identificada na instrução inicial desta representação continua válida, conforme segue:
68. Segundo, merece reparo a hipótese levantada na nota técnica de que estaria havendo reduzido
número de reequilíbrios contratuais, dada a alta linha de corte estabelecida no referido percentual
de 7%. Em verdade, tal constatação indica que os desequilíbrios ventilados podem não ter, de fato,
impacto importante nos respectivos contratos. Afinal, a finalidade do critério estabelecido pelo
DNIT, na IS/DG/DNIT 4/2015, atualmente revogada, era exatamente de limitação, ou seja, para
que somente houvesse recomposição de reequilíbrios contratuais, face a demonstração de
acentuado impacto financeiro, decorrente do aumento de preços dos insumos asfálticos.
69. Caso restasse comprovado de que o percentual de 7% era elevado, deveria o DNIT, por meio
de estudos econômicos, demonstrar e estabelecer algum outro parâmetro para melhor caracterizar
em quais casos os percentuais de reajuste dos materiais seriam materialmente relevantes,
providência que não foi tomada. Assim, nos termos da norma em vigor, qualquer elevação de
preços do material asfáltico promovido pela Petrobras que supere a respectiva variação refletida
pelos índices de reajuste do DNIT será objeto do REF.
226. Independentemente de a política de preços da Petrobras ser alterada, refletindo níveis de
instabilidade diversos nos preços dos materiais betuminosos, o arcabouço jurídico que sustenta o
reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos, como o art. 65, inciso II, alínea “d”, Lei 8.666/1993
e a teoria da imprevisão, não foi alterado e permanece muito bem retratado nas considerações que
fundamentaram o Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário, cujas determinações continuam válidas,
principalmente, aquela que determina ao DNIT a expedição de normativo próprio, contendo
parâmetros objetivos a fim de demonstrar o acentuado impacto nos contratos, decorrente dos
aumentos de preços dos insumos betuminosos.
227. Nesse sentido, promover reequilíbrios contratuais que não se enquadrem no arcabouço
jurídico citado, representam meros reajustes, autorizados pela referida Instrução de Serviço, a cada
quadrimestre, portanto com periodicidade inferior a um ano, que afronta ao estabelecido no art. 2º, §
1º, da Lei 10.192/2001 (Plano Real).
228. Repete-se, o normativo vigente está regulamentando, de fato, a indexação de contratos aos
aumentos de insumos betuminoso, e não avaliando situação comprovada de reequilíbrio, ou seja,
permitindo reajustes com periodicidade inferior a um ano, que é ilegal.
229. Pelo exposto, conclui-se que o DNIT não demonstrou que o normativo, ora representado,
contenha parâmetros objetivos, seja no corpo do texto, seja na fórmula de cálculo do REF, em
34
alinhamento aos termos do Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário, bem como aos pressupostos da teoria
da imprevisão e das disposições do art. 65, inciso II, alínea “d”, da Lei 8.666/1993.
230. Recapitulando, a IS/DG/DNIT 10/2019 foi revogada e substituída pela Resolução/DNIT
13/2021, de 2 de junho de 2021. No entanto, após detido exame do texto da nominada Resolução,
conclui-se que não houve qualquer alteração quanto à metodologia de cálculo, empregada no
normativo precedente, ora representado.
231. Assim, a presente análise se enquadra, na íntegra, à Resolução/DNIT 13/2021, que
revogou todos os atos normativos anteriores, inclusive a IS/DG/DNIT 10/2019.
232. A nominada Resolução vigente, em diferencial ao precedente, incorpora em seu “Capítulo
III - instruções e procedimentos para os casos de medições realizadas até dezembro de 2018”,
replicando o normativo que vigia até o final de 2018, cuja metodologia se alinhava às determinações
do Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário.
233. Dito isso, propõe-se que seja determinado ao DNIT que revise o normativo vigente,
Resolução/DNIT 13/2021, a fim de contemplá-lo com parâmetro objetivo, que sirva de baliza a todas
as unidades de sua estrutura organizacional responsável pela análise e processamento dos
requerimentos de reequilíbrio econômico-financeiro para que, no exame do caso concreto, quando do
recebimento dos pleitos, observem a necessidade de:
a) demonstrar o impacto acentuado nos contratos em andamento, em razão de aumentos
imprevisíveis nos preços dos insumos betuminosos promovidos pela Petrobras, especialmente quanto
às seguintes situações que apontam para a inaplicabilidade dos critérios previstos no normativo
vigente em função do não atendimento aos pressupostos da teoria da imprevisão, bem como às
disposições contidas no art. 65, inciso II, alínea “d”, da Lei 8.666/1993:
a.1) a representatividade dos materiais betuminosos no valor total do contrato, conforme a
natureza da obra (construção, adequação, duplicação, restauração, manutenção e conservação);
a.2) contratos cujo estágio avançado de execução denote saldo pequeno de serviços
contendo insumos betuminosos e, por consequência, reflexo financeiro aparentemente suportável entre
a ocorrência de aumento de preços pela Petrobrás e a data-base contratual, com maior razão quando
essa constatação é reforçada pelo confronto com o total de medições (em termos financeiros),
realizadas e previstas, no período delimitado pelo aumento de preços pela Petrobras e o próximo
reajuste anual, conforme o caso.
b) incluir, no respectivo normativo, quando de sua revisão, dispositivo em que se
estabeleça a competência de o DNIT, por meio de sua atuação fiscalizatória, estar obrigado a
verificar possíveis ressarcimentos ao erário, quando ocorrerem reduções de preços de materiais
betuminosos, cujos impactos financeiros, resultem em reequilíbrio econômico-financeiro a favor da
Administração;
II. Ausência de comprovação de que os quantitativos de insumos asfálticos, passíveis de medição no
período abrangido para reequilíbrio, tenham sido adquiridos nos meses de avaliação do reequilíbrio,
com os preços sobrelevados (item b)
II.1. Da manifestação do DNIT à oitiva (Ofício 16828/2021/ACE-DG/DG/DNIT SEDE (peça 21, p.
21-23)
234. Inicialmente, o DNIT declara que o TCU já solicitou a comprovação das aquisições de
materiais betuminosos por nota fiscal.
235. Alega que na maioria das vezes as notas fiscais são emitidas à empresa sem constar a
obra de destino. Que tal fato teria sido demonstrado ao DNIT, no decorrer das inúmeras reuniões
35
ocorridas em 2018, segundo afirmado no texto do ofício, não deixando claro qual o autor da
demonstração (peça 21, p 21, item 7.1).
236. Assevera que o material adquirido é colocado na obra para a execução e que na prática
não existiria estrutura para estocagem de grandes volumes e nem para muito tempo. Complementa
que nas obras rodoviárias do DNIT não haveria tanque de aquecimento que suportasse vários meses
de estocagem, pois seria de grande dispêndio a montagem e a manutenção desses equipamentos.
237. Argumenta que as notas fiscais não teriam informação do destinatário do material, que as
construtoras compram material em quantitativos para abastecer várias obras, impossibilitando a
comprovação de que o material betuminoso adquirido em determinada nota fiscal tenha sido utilizado
em uma obra específica, tornando difícil a rastreabilidade do local onde se utilizou a referida
aquisição.
238. Defende que o DNIT teria tomado medidas coerentes ao adotar os valores do mês anterior
nos cálculos do REF (art. 10, da IS 10/2019), visto que a Autarquia realiza a medição das aquisições
dos materiais betuminosos com base nos serviços que utilizam esses insumos.
239. Pondera que seria demasiado afirmar que nenhuma empresa poderia adquirir materiais
betuminosos antecipadamente aos ajustes de preços. Em contraponto, faz a seguinte declaração:
(...), mas não podemos abandonar a afirmativa de que as distribuidoras, conhecedoras deste
mercado, certamente muito mais que as empresas compradoras, não fariam compromisso de venda
antecipada de produtos, sabendo que estes serão ajustados em datas previamente definidas pela
Petrobras. Cabe ainda acrescentar que todos temos ciência destas datas, mas não dos ajustes que
foram e serão realizados.
240. Por fim, cita a apresentação de comissionado do DNIT, intitulada “Materiais Asfálticos -
Como a variação do custo dos insumos vem afetando as obras de infraestrutura rodoviária” (ano
2018) (Ex-CODIR-CGCONT-DIT) 7501443- Eng. Tiago Oliveira Moreira, em que são elencados os
motivos considerados relevantes quanto à impossibilidade de se comprovar a aquisição do material
betuminosos por notas fiscais, a seguir transcrita:
EXIGÊNCIA DE NOTAS FISCAIS: DIFICULDADES
-Avaliar a temporalidade entre a compra do insumo e sua efetiva aplicação;
-Avaliar a quantidade comprada e a quantidade efetivamente aplicada;
-Risco de apresentação de notas fiscais de serviços aplicados em outras obras;
-No caso de areia e britas produzidas não existem notas fiscais;
-Risco de fraude;
-Processamento manual de notas fiscais na análise do REF;
-Solução: utilizar os preços regionalizados do SICRO e ANP para inferir o preço pago no
mercado.
II.2. Análise
241. Inicialmente, cabe confirmar que o TCU, por meio do Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário,
item 9.2.2, a seguir transcrito, exige a comprovação de aquisição do material betuminoso impactado
por eventuais aumentos, como condicionante para os reequilíbrios contratuais. Afinal, tal exigência
faz parte do conjunto probatório, esposado no Voto Condutor do referido Acórdão, para caracterizar
situações de desequilíbrio decorrente de aumentos dos ligantes asfálticos, face a política de preços da
Petrobras e, assim, enquadrar-se no art. 65, inciso II, alínea “d”, da Lei 8.666/1993.
9.2.2. exigir da empresa pleiteante comprovação de que os quantitativos de insumos betuminosos,
passíveis de medição durante o período a que se refere a IS-DG 2/2015 (janeiro/2015 à próxima
36
data de reajuste contratual), tenham sido adquiridos após os anúncios da Petrobras, ou seja,
também em momento posterior a dezembro/2014; e
242. Em que pese o nominado Acórdão se referir à situação ocorrida ao final de 2014, o
normativo vigente, Resolução/DNIT 13/2021, segue regulamentando reequilíbrios contratuais
fundamentados na referida legislação citada, bem como na teoria da imprevisão. Assim, permanece
válida a exigência de comprovação de que eventual aumento de preços tenha afetado a aquisição do
insumo asfáltico efetivamente consumido.
243. Quanto ao fato de que as notas fiscais são emitidas à empresa sem constar a obra de
destino, tal argumento não encontra respaldo, visto que o fornecimento do material betuminoso,
representado pelos cimentos asfáltico de petróleo (CAP), pelas emulsões asfálticas (RR-1C e RR-2C),
bem como pelos asfaltos diluídos (CM-30), segue procedimento padrão para a aquisição, transporte,
recebimento, acondicionamento e controle de qualidade, conforme os seguintes procedimentos
elencados em normativos pertinentes do DNIT, tal como a norma DNIT 095/2006-EM que fixa as
características exigíveis para cimentos asfálticos de petróleo empregados em pavimentação e traz as
seguinte orientações:
5 Condições gerais
Os cimentos asfálticos, a que se referem esta Especificação, devem ser homogêneos, não conter
água nem espumar quando aquecidos a 175 ºC, e:
a) a unidade de compra é o quilograma;
b) por ocasião da tomada de preços o comprador indicará o tipo, a natureza de acondicionamento,
bem como local e condições de entrega;
c) cada unidade de acondicionamento deve trazer indicação clara da sua procedência, do tipo e da
quantidade do seu conteúdo.
6 Inspeção e amostragem
Efetuada a entrega do fornecimento (ou parte dele) cabe ao comprador:
a) verificar se a quantidade fornecida e a natureza do acondicionamento correspondem ao
estipulado;
(...)
d) retirar amostra de acordo om a Norma de Petróleo e Produtos de Petróleo – amostragem
manual – NBR 14883/2002;
e) remeter a amostra, devidamente autenticada, a um laboratório aparelhado para os ensaios de
recebimento.
244. Inclusive, é disposto em normativo relativo ao recebimento das obras, Instrução
Normativa 15/DNIT SEDE, de 28/4/2021§ 2º, a responsabilidade da fiscalização do contrato, apoiada
pela supervisora de obras, quanto ao recebimento e controle de insumos da obra, nos seguintes
termos:
Art. 16. A partir das conclusões do Relatório de Avaliação e Inspeção para Recebimento
Provisório, deverá a fiscalização do contrato:
§ 1º (...)
§ 2º É de responsabilidade exclusiva da fiscalização do contrato, apoiada pela supervisora de
obras, a verificação cotidiana da conformidade da execução da obra, conforme o projeto
executivo, além da qualidade dos serviços executados, bem como dos insumos utilizados.
245. No que diz respeito à rastreabilidade de utilização do material betuminoso, convém
relatar que, em fiscalização pretérita (TC 003.956/2017-3, peça 129), sob a vigência do normativo
revogado, IS/DG/DNIT 10/2015, em que foi avaliada a conformidade da realização do REF, foram
37
255. Informa que os aumentos dos preços dos ligantes foram de tal monta que deram início a
estudos com vistas a viabilizar a substituição do pavimento flexível pelo rígido e que deixar de
proceder ao reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos poderia causar prejuízo
às empresas contratadas pelo DNIT.
256. Faz observação de que um dos motivos de o DNIT fazer o reequilíbrio contratual seria a
queda do consumo de asfalto nas refinarias, refletida pela nova política de preços (peça 21, p. 25,
item 8.10).
257. Repisa que, nos últimos doze meses dos anos de 2018 e 2019, a variação dos índices
registrada nas tabelas oficiais de reajustamento de obras rodoviárias do DNIT (FGV) apontavam
para alta extraordinária e imprevisível dos materiais betuminosos, acumulando valores acima de 25%
e 10%, respectivamente, sobressaindo-se à variação dos demais índices de insumos informados na
mesma tabela oficial de reajustamento, que tiveram uma variação ordinária (peça 21, p. 26).
258. Acrescenta, ainda, que esses aumentos extraordinários teriam acarretado a elaboração
dos normativos de reequilíbrios contratuais, iniciados desde 2015, em atendimento às solicitações das
empresas por via administrativa e por determinação judicial.
259. Novamente, cita o tema abordado no processo TC 007.615/201-TCU-Plenário, relativo às
condicionantes a serem atendidas na teoria da imprevisão. Ressalva que a partir do comportamento
da variação extraordinária do material betuminoso no mercado, entre 2014 e 2016, frente à variação
ordinária de um item isolado de serviço da tabela oficial de reajustamento de obras rodoviárias, para
o mesmo período, restaria evidenciado o que preceitua a teoria da imprevisão dos contratos
administrativos, quanto a ser: superveniente, imprevisível, mas de consequências incalculáveis, alheio
às partes e, que provasse grande desequilíbrio ao contrato (peça 21, p. 27, itens 8.14-8.17).
260. Reprisa comparações entre preços e índices, desta vez, para o ano de 2016, ressaltando a
variação expressiva acumulada de preço do material betuminoso, da ordem de 120%, em contraponto
à variação acumulada ao índice de produtos siderúrgicos, que teve a maior variação acumulada de
11%, naquele ano.
261. Remete novamente ao trabalho do Eng. Tiago Oliveira Moreira, para elencar alguns fatos
práticos e elementos, ali citados, que julga de proveito para o questionamento desta oitiva, segundo
transcrição (peça 21, p. 28):
• A princípio, para realizar um Equilíbrio Econômico-Financeiro do contrato - EEF, deve-se
avaliar o comportamento de todos os preços de todos os insumos de um contrato.
• O contratado é conhecedor dos riscos de altas ordinárias dos preços dos insumos devido ao
processo inflacionário.
• Também é de seu conhecimento que para “recuperar” o preço desses insumos é realizado o
reajustamento anual de preços dos serviços do contrato através de índices de reajustamento.
• Esses índices de reajustamento são agrupados por tipologia dos serviços e são apurados através
da variação de preços de uma cesta de insumos representativa daquele tipo de serviço.
• Para efetuar o EEF nos contratos do DNIT, devido à enorme quantidade de serviços, insumos e
contratos, devemos encontrar uma metodologia que permita o máximo de automatização do
processo sem provocar distorções. (Obs.: Esta apresentação foi antes da elaboração e publicação
da lS-10/2019 do DNIT).
• Assim, o pilar da metodologia proposta seria: os insumos que tiveram altas dentro da
normalidade não devem ser considerados no cálculo do EEF. Tal premissa vai ao encontro do voto
do Acórdão 1604/2015, ministro Augusto Nardes:
262. Faz ainda algumas ponderações de ordem prática, em que seria incoerente e prejudicial à
Administração Pública, em especial ao DNIT, trazer as altas ordinárias de preços para dentro da
39
análise do REF, dado que em geral decorrem de processo inflacionário, além de ser conceitualmente
incorreto, haja vista que são riscos normais do mercado.
263. Por fim, o DNIT apresenta o gráfico da evolução dos índices acumulados, atualizado até
dezembro/2020, reproduzido na figura 6 (peça 21, p. 29) e tecendo os comentários a seguir
transcritos.
Figura 6-Evolução dos índices acumulados últimos 12 meses - Extraordinários
compensatórias, frente a variações positivas dos preços dos insumos asfálticos, considerando-se a
vigência não limitada da IS/DG/DNIT 10/2019.
8.30 Frente ao que ora foi demonstrado, pode-se depreender que não há total ausência de previsão
de análise do comportamento dos preços dos demais insumos do respectivo contrato, ao menos os
mais importantes em aspecto de materialidade, pois avaliando o comportamento dos preços mais
importantes de todos os insumos presentes na tabela de Reajustamento da FGV do DNIT que
servem como base para as IS/DG/DNIT 01/2019 e 10/2019 e a variação dos materiais betuminosos
pelas tabelas da ANP, não há variações compensatórias negativas que possam contrapor as
variações positivas do material betuminoso de janeiro de 2015 a dezembro de 2020, frente aos
outros insumos e serviços representados, vide que os mesmos ficaram bem próximos a faixa de
normalidade da variação dos preços do IGP-DI, nem mesmo às variações negativas dos materiais
betuminosos.
264. Nesse contexto, repisa que não haveria compensações negativas de outros insumos e
serviços que pudessem contrapor as variações dos materiais betuminosos de janeiro/2015 a
dezembro/2020, nem mesmo as variações negativas desses próprios insumos.
265. No que se refere à temporalidade dos contratos do DNIT, especificamente quanto aos
contratos de manutenção (PATO, CREMA, PROCREMA), faz as seguintes considerações:
8.31 Em relação a temporalidade dos contratos do DNIT, um contrato de manutenção rodoviária
tem particularidades que são mais específicas para o caso, que quase sempre tem maior peso e/ou
maior porcentagem de consumo na representatividade de material betuminoso, cerca de 20% a
26% do valor do total do contrato, são os contratos dentre o montante de todos do DNIT que mais
utilizam materiais betuminosos. Considerado um contrato de curta duração, um PATOPrograma
Anual de Trabalho e Orçamento de um ano dentre todo o período representado no gráfico
invariavelmente teria que fazer um EEF devido a variação dos preços do material betuminoso do
contrato tanto abrangendo um período de alta do material betuminoso ou de baixa.
8.32 O mesmo ocorreria para um contrato de PROCREMA ou CREMA - Programa de
Contratação, Restauração e Manutenção de duração de 05 anos invariavelmente teria que fazer
um EEF devido a variação dos preços do material betuminoso do contrato tanto abrangendo um
período de alta do material betuminoso ou de baixa, mas que teria grande expectativa de se ter um
REQ positivo para a sua execução, tendo em vista no cronograma físico-financeiro o período em
que for utilizado este material. Saliento que pelas atuais premissas da IS-DG 10-2019, hoje IN 33-
2020, o cálculo do REQ pode ensejar tanto um valor que o DNIT poderá pagar a empresa
executora ou de ressarcimento aos cofres públicos que esta empresa terá que realizar.
III.2. Análise
266. A partir da manifestação do DNIT, apresentada para este item da oitiva, verifica-se que há
muitos argumentos reprisados, ora com relação à evolução dos preços, ora com relação à variação
dos índices de reajustamento dos insumos betuminosos, frente à variação dos índices de reajustamento
de outros insumos, tidos como mais relevantes materialmente.
267. Nesse ponto, cabe esclarecer que não há dúvidas de que houve momentos de alta dos
preços dos materiais betuminosos, bem como períodos de queda.
268. Além disso, convém destacar que a partir de fevereiro/2019 os índices de reajustamento de
obras do DNIT, tidos como defasados, já estão acompanhando a evolução dos preços de materiais
betuminosos, em razão da alteração da base de dados da ANP, que agora adota a base do produtor
(Petrobras) e não mais a base distribuição.
269. Dito isso, passa-se à análise dos argumentos, com foco na questão deste item da oitiva,
que diz respeito à necessidade de o DNIT se manter alerta, mediante previsão em normativo, da
exigência de verificação de eventuais variações extraordinárias negativas de outros insumos presentes
nos contratos de obras, especificamente os materialmente mais relevantes (preço e quantidades).
41
42
seria aplicável a todos os contratos de obras, inclusive aqueles com medições a partir de 2019. Em
resposta, o DNIT confirmou o questionamento, nos seguintes termos (peça 73):
No entendimento desta CGCONT, as disposições finais, incluindo o art. 36 e seus parágrafos
trazem artigos que dizem respeito a toda a Resolução vigente. Inclusive, o art. 38 estabelece que a
Resolução entra em vigor em 1º de julho de 2021 e alcança todos os contratos vigentes de obras
rodoviárias, inclusive, no momento de sua entrada em vigor.
280. Face ao exposto, considera-se que, quanto ao item “b” desta oitiva, a inclusão do § 2º do
art. 36 da referida Resolução, saneia o item da oitiva.
IV. Da resposta à diligência sobre a manutenção da inconveniência e do custo para não avaliar
eventuais pleitos de desequilíbrios para cada um dos respectivos contratos de obras, pelo método
convencional, considerando o contrato como um todo (item14, desta instrução)
IV.1. Da manifestação do DNITà oitiva-Ofício 16828/2021/ACE-DG/DG/DNIT SEDE(peça 21, p.
29)
281. No tocante à diligência, o DNIT não apresentou argumentos específicos por entender que
as questões abordadas no item 8, de sua manifestação, já atendiam ao requerido no questionamento.
282. Nesse sentido, há que se comentar que o DNIT sequer tenta demonstrar, objetivamente,
eventual dificuldade para realizar as avaliações individuais. A Autarquia, ao apresentar gráficos,
estudos, trabalhos realizados sobre o tema, entende que já estaria justificada a alegada dificuldade do
procedimento de avaliação individual dos pleitos.
283. De fato, não se afirmou que haveria facilidade, mas que tal intento poderia ser viável,
contando-se com ferramentas da informática, com os sistemas informatizados existentes no DNIT, bem
como com o auxílio das empresas supervisoras de cada contrato, conforme o caso.
284. De toda forma, como foi registrado no Voto Condutor do Acórdão 1604/2015-TCU-
Plenário, que seria desarrazoado exigir-se, como regra geral, o cômputo de todas as possíveis
variações de preços sofridas pelos insumos, as quais se inserem, via de regra, em álea ordinária afeta
ao riscos do contratado, ao mesmo tempo em que ressalvou que o DNIT não estaria autorizado a
omitir-se e a investigar outras modificações contratuais de ordem extraordinária que pudessem
modificar a equação econômico-financeira, que se insere na questão tratada no item anterior,
considerada solucionada pela inclusão da respectiva exigência contida no art. 36, da Resolução/DNIT
13/2021, considera-se que não há outras providências a serem propostas nesse sentido.
V. Da documentação encaminhada pelas entidades do ramo, ANEOR, CBIC e SINICOM,
ingressada aos autos como interessadas (peça 45)
285. Em linhas gerais, a documentação encaminhada pelas entidades não traz inovações,
somente repassa o conteúdo das manifestações do DNIT quanto aos pontos questionados em oitiva,
pontuando e concordando com os argumentos e conclusões ali expostos.
286. No item 1.1, é relatado historicamente a atuação do TCU acerca do assunto, que culminou
com o Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário (TC 007.615/2015-9), as ações promovidas pelo DNIT,
citando a Nota Técnica 2579/2018/ASSTEC-GAB– DG/DNIT SEDE e os normativos expedidos.
287. Por fim, comenta sobre o ajuizamento da Ação Civil Pública 1020832-27.2018.4.01.3400
e seu desfecho, cuja decisão judicial levou o DNIT a editara IS/DG/DNIT6/2019, revogada e
substituída pela então IS/DG/DNIT10/2019, ora representada.
288. Noticia que a tentativa de estender os efeitos desse normativos aos contratos
administrativos que teriam sofrido desequilíbrio no decorrer do ano de 2018, foi suspensa
judicialmente, mas que estaria pendente de julgamento, em sede de recurso.
43
306. Veja-se, os termos da oitiva questionam exatamente como a IS/DG/DNIT 10/2019 está
avaliando objetivamente situações de desequilíbrio contratual, ou seja, quais são os parâmetros
objetivos a serem observados para que haja o devido enquadramento legal.
307. A definição desses parâmetros objetivos é de responsabilidade do DNIT, como bem
expressado no Voto Condutor do Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário.
308. Inclusive, nos termos do Voto Condutor do referido Acórdão, o balizamento por
parâmetros objetivos para avaliar situações de desequilíbrio contratual foi uma solução encontrada
para agilizar e tornar mais econômico o processo de atendimento de pleitos por reequilíbrio de
contratos de obras, em vez de analisar o contrato como um todo.
309. Nesse sentido, discorda-se do argumento das interessadas quando alegam que a trava
percentual (parâmetro) é superável, em razão da literalidade da legislação, pois a legislação não se
encerra em sua literalidade, para o reconhecimento do desequilíbrio contratual é necessária a
demonstração de que houve significante modificação da equação contratual, que não se presume
somente pela demonstração de que o evento é alheio à vontade das partes e superveniente à
celebração do contrato.
310. Repete-se, no normativo representado, não consta parâmetro objetivo, concebido em
alinhamento aos requisitos do Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário, constando somente a equação
(fórmula) para o cálculo do REF, em que se comunica que qualquer aumento temporal que ultrapasse
a correção pelos índices do DNIT, adicionado pelo lucro operacional, exclusivamente, dos materiais
betuminosos, caracterizaria que os aumentos promovidos pela Petrobras são extraordinários, gerando
impacto financeiro acentuado, a ponto de acarretar o desvirtuamento das equações econômico-
financeiras contratuais.
311. Por último, discorda-se da afirmação de que a ausência de previsão de trava percentual
ou de LOR na IS/DG/DNIT 10/2019 seria assunto superado e, consequentemente, o conteúdo da
referida norma seria regular quanto ao aspecto legal, com base nos argumentos apresentados pelo
DNIT.
312. A discordância se ampara na análise realizada nessa instrução (itens 129-233), dado que
o DNIT, assim como as interessadas, nada apresentaram de concreto a fim de demonstrar que o
referido normativo permite caracterizar objetivamente situações de desequilíbrio contratual.
313. A análise para a demonstração do desequilíbrio contratual, fundado na teoria da
imprevisão, deve contemplar alterações de preços significativas e imprevisíveis (ou previsíveis, porém
incalculáveis), que se enquadrem na álea econômica extraordinária e, consequentemente venham a
demandar o restabelecimento das condições pactuadas na origem, com fundamento no art. 65, inciso
II, alínea “d”, da Lei 8.666/1993 e no art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal.
314. Em outras palavras, o enquadramento de alterações de preços na álea econômica
extraordinária é que pode trazer impactos financeiros acentuados capazes de acarretar o
desequilíbrio econômico-financeiro, impondo onerosidade excessiva ao contrato.
315. Nesse sentido, o entendimento do Voto Condutor do Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário é
explícito ao registrar a necessidade do atendimento aos requisitos da teoria da imprevisão para
comprovar situação de desequilíbrio contratual e, consequentemente, as situações de onerosidade
excessiva, conforme excerto transcrito:
22. A esse respeito, o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal preceitua que “as obras,
serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que
assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei”, ou seja,
o balanço afeto ao equilíbrio de preços deverá ser feito em relação às medidas de contorno
adotadas pela empresa vencedora no momento do certame licitatório.
46
23. No caso em exame, o instituto jurídico é o da revisão (ou recomposição) de preços e funda-se
no art. 65, inciso II, alínea “d”, da Lei 8.666/1993 e na teoria da imprevisão, que requer o
atendimento dos seguintes requisitos: i. fato imprevisível ou previsível, mas de consequências
incalculáveis, alheio à vontade das partes; e ii. desequilíbrio econômico ou financeiro elevado no
contrato, impondo onerosidade excessiva a uma das partes ou a ambas, eventualmente.
316. Assim, conforme ocorreu no final de 2014 e início de 2015, o aumento de preços
promovidos pela Petrobras não pode, por si só, ser motivo para a realização de desequilíbrio
contratual, conforme defendido pelas interessadas.
317. Frente a então política de preços da Petrobras, com períodos de elevação de preços, mas
também de queda, é fundamental que se leve em consideração demais circunstâncias específicas que
devem ser avaliadas, mediante a definição de parâmetros objetivos, ora inexistentes no normativo
vigente, que considerem os seguintes aspectos: se o aumento se enquadra na álea econômica
extraordinária, a representatividade dos insumos betuminosos no tipo de obra; o estágio de execução
contratual e a data-base contratual.
318. Nesse contexto, a revisão do normativo deve conter mecanismos que permitam ao gestor
avaliar, por meio de parâmetros objetivos, os reais impactos financeiros e em que casos deve ser
reconhecido o desequilíbrio econômico-financeiro, a fim de justificar a aplicação da Lei 8.666/1993.
319. Quanto à questão das notas fiscais, as interessadas, apresentam os seguintes argumentos,
além de replicarem a manifestação do DNIT:
Assim, inexiste a irregularidade vislumbrada pela Unidade Técnica neste ponto, na medida em que
a nota fiscal é elemento subjetivo de gestão empresarial do Contratado, não podendo ser exigida
como documento hábil a compor objetivamente os pleitos de REF.
Isso fica ainda mais claro, quando se considera que as distribuidoras de produtos asfálticos,
profundas conhecedoras deste mercado, não fariam compromisso de venda antecipada de produtos
se soubessem, de antemão, que haveria reajustes em datas previamente definidas pela Petrobras.
320. Quanto a esses comentários, entende-se suficiente contrapor que em nenhum ponto do
Voto Condutor do Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário foi dito que a emissão de nota fiscal, por si só,
seria capaz de demonstrar desequilíbrio contratual. Pelo contrário, foi registrado que a comprovação
de aquisição dos insumos betuminosos afetados por eventual aumento extraordinário de preços pela
Petrobras faz parte do conjunto probatório que visa a caracterizar o desequilíbrio econômico-
financeiro. Portanto, o argumento apresentado não procede.
321. De toda forma, esta questão já foi analisada no corpo desta instrução, nos itens (241-250),
sendo dispensável reprisá-la, novamente.
322. Por último, no que se refere à ausência de exigência de análise do comportamento dos
preços dos demais insumos do respectivo contrato, ao menos os mais importantes em aspecto de
materialidade, questionado no último item da oitiva, conforme análise realizada desta instrução (itens
266-279), considerou-se a questão superada, portanto, dispensando nova análise.
VI. Das ações administrativas coletivas e das ações judiciais existentes sobre o reequilíbrio
econômico-financeiro dos contratos de obras, frente a política de preços da Petrobras, peça 50
(peças 52-57)
323. Em atendimento à diligência realizada por meio do Ofício 15999/2023-TCU/Seproc, em
14/4/2023 (peça 50), o DNIT enviou documentos, mediante Ofício
77155/2023/SETDEM/AUDINT/DNIT SEDE (peça 52-57), com os esclarecimentos e informações
solicitados.
324. Com base nas informações fornecidas, elaborou-se o quadro 1, em que se apresenta
sinteticamente as ações judiciais movidas em desfavor do DNIT.
47
49
3.12. De acordo com a Tabela 1 observa-se que, independente do patamar de aquisição de insumo
asfáltico em relação a medição, cujas simulações variaram entre 1,0 % e 50,0 %, o
comprometimento do lucro quando o desequilíbrio alcança 7,0 % da medição, limite mínimo que o
TCU indicou para caracterizar desequilíbrio contratual, alcança valores entre 98 % e 114 %. A
Figura 1 ilustra a simulação em forma de gráfico.
51
3.13. Observa-se que a metodologia imposta pela atual Instrução de Serviço vigente impõe que a
permissão da solicitação da recomposição do equilíbrio econômico-financeiro só ocorra após o
patamar de 7,0 %. Nesse cenário, a totalidade do lucro encontra-se comprometida. No caso de
ocorrer alguma situação que resulte no desequilíbrio de 4,0 %, calculado sobre a medição total,
estima-se que 60 % do lucro esteja comprometido. Ora, a variação dos preços dos insumos
asfáltico, já demonstrada, está comprometendo o lucro operacional dos contratos muito antes de
se alcançar o limite de 7,0 %. Portanto, a metodologia atualmente proposta na Instrução de
Serviço vigente não permite a recomposição do equilíbrio econômico-financeiro em alguns
contratos, apesar do grande impacto no comprometimento do lucro.
[...]
4.7. Importante destacar que o cálculo da diferença do reajustamento não permitirá que o lucro
previsto na composição do BDI seja utilizado. Nesse caso, para o cálculo da diferença propõe-se a
exclusão do valor medido a preços iniciais o percentual de 5,11 %, parcela de lucro estimada
existente na composição do BDI de aquisição do insumo asfáltico de 15,0 %. Essa exclusão do
lucro visa,
portanto, não permitir que a contratada seja ressarcida do lucro no cômputo da diferença de
reajustamento, valor proposto para recompor o equilíbrio econômico-financeiro do contrato.
4.8. Além disso, destaca-se que a possibilidade de ressarcimento ao contratado em função da
diferença do reajustamento calculado poderá acontecer da mesma forma que uma redução dos
valores for percebida. Nesse caso, a redução não necessitaria ser feita por meio de termo aditivo,
mas tão somente pela retenção da diferença observada. Os detalhes dos procedimentos estão
propostos na minuta da Instrução de Serviço.
337. Em complemento ao conteúdo dessa Nota Técnica, repete que após as revisões efetuadas
nos normativos foi excluído do valor medido a preços iniciais o percentual de 5,11 % para o cálculo
da diferença do reajustamento. Esses 5,11% referem-se à parcela de lucro estimada na composição do
BDI de 15% previsto para a aquisição do insumo asfáltico. Explica que essa exclusão do lucro visa
não permitir que a contratada seja ressarcida do lucro no cálculo da diferença de reajustamento, que
serve como valor a ser proposto para recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do contrato.
338. Argumenta que, no entendimento da CGMRR, o antigo limitador restringia o reequilíbrio
econômico-financeiro de forma a comprometer o lucro global do contratado em muitas situações, que
ensejava medida desarrazoada do propósito que é a contratação de obras ou serviços.
339. Complementa que a contratação feita pelo DNIT pretende atingir a execução de um objeto
por meio de uma empresa parceira contratada, que por sua vez, executa o objeto contratual com visão
comercial. Explica que essa visão comercial leva à empresa contratada buscar atingir margens de
52
53
Fonte: peça 4, p. 4
350. Partindo-se desses dados, é possível se fazer uma avaliação expedita para demonstrar a
inadequação do critério adotado na referida Nota Técnica. Com o intuito de simplificar a
demonstração, o material betuminoso será considerado como insumo único.
351. No que se refere à figura 7, importa explicar que o valor do lucro total é composto por
duas parcelas, sendo a primeira relativa às medições de materiais betuminosos (linha 2) pelo seu
devido lucro (5,11%), acrescidas da segunda que corresponde à soma das medições dos outros
materiais (linha 1 - linha 2) multiplicadas pelo seu respectivo lucro (7,2%).
352. Sendo assim, hipoteticamente, para o caso de um desequilíbrio de 2%, montou-se a tabela
7 para se avaliar a variação do comprometimento do lucro, conforme o percentual de aquisição do
material betuminoso. Se esse desequilíbrio fosse originário inteiramente do material betuminoso,
teríamos um lucro total de R$ 51,1 (5,11% x R$ 1.000) e um comprometimento do lucro contratual de
39,14% (Simulação I, coluna 5 da tabela 7).
353. Por outro lado, se o desequilíbrio fosse todo proveniente dos outros materiais, teríamos
um lucro total de R$ 72,00 (7,2% x R$ 1.000) e um comprometimento de 27,78%, como se observa na
Simulação I, coluna 1 da tabela 7. Dito isso, conclui-se que a variação do lucro devido ao
desequilíbrio arbitrado de 2% é de somente 11,36 pontos percentuais (39,14%-27,78%),
independentemente do tipo de material causador do desequilíbrio.
Tabela 7- Lucro total e comprometimento do lucro conforme aquisição do Material Betuminoso
Simulação I
Fatores Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4 Coluna 5
Medição Total A 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00
(R$)
Aquisição de B 0,00 10,00 100,00 500,00 1.000,00
Material
Betuminoso
(R$)
Aquisição de C 0% 1% 10% 50% 100%
Material
Betuminoso
(%)
Desequilíbrio D 2% 2% 2% 2% 2%
(%)
Desequilíbrio E 20,00 20,00 20,00 20,00 20,00
(R$)
Lucro Total F 72,00 71,79 69,91 61,55 51,10
(R$)
Comprometime G 27,78% 27,86% 28,61% 32,49% 39,14%
nto Lucro (%)
A: dado de entrada
B: dado de entrada
C=B/A: parcela de aquisição de material betuminoso no contrato
D: dado de entrada
E=D*B: Desequilíbrio em reais
54
F=[7,2%*(A-B)+5,11%*B]: lucro dos demais serviços contratuais + lucro da aquisição de material betuminoso
G=E/F: comprometimento do lucro total devido ao desequilíbrio arbitrado
Fonte: elaboração própria, com ajustes nas tabelas da Nota Técnica 4/2019-DPP/DNIT SEDE, peça 4, p.4.
354. Em seguida, deve-se dizer que a Nota Técnica deixa de avaliar o quanto o material
betuminoso deve ter de aumento para causar os desequilíbrios de 1% a 8% arbitrados. Como visto
anteriormente nesta instrução, um percentual baixo de representatividade do material betuminoso no
total contratual acaba gerando um impacto menor no contrato, ou seja, o montante de aumento do
material betuminoso deve ser cada vez maior, conforme menor for a sua representatividade no valor
total do contrato.
355. Dito isso, entende-se que para a melhor avaliação de desequilíbrios contratuais, sob o
ponto de vista discutido nessa instrução, o percentual de desequilíbrio estipulado nas tabelas da Nota
Técnica deveria incidir no montante de aquisição de material betuminoso.
356. Considerando-se essa alteração de critério, é possível visualizar e avaliar os impactos
financeiros e consequentes situações de desequilíbrio contratual, a partir da variação dos preços dos
materiais betuminosos. A variação de aquisição de material betuminoso pode representar, a título
figurativo, a representatividade dos materiais betuminosos em cada tipo de obras (construção,
restauração, manutenção, conservação).
357. Para a visualização das simulações mencionadas, agora sob outra perspectiva, apresenta-
se a reformulação adaptada das tabelas da Nota Técnica 4/2019-DPP/DNIT SEDE, desta feita, com a
alteração do critério de incidência do percentual de desequilíbrio e com a apresentação do valor
absoluto do desequilíbrio estipulado, conforme exposto na tabela 8, adiante.
Tabela 8-Impacto no lucro devido ao desequilíbrio dos materiais betuminosos Simulação 2 – Aquisição de
material betuminoso 1%
Fatores Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4 Coluna 5 Coluna 6
Medição A 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00
total (R$)
Aquisição de B 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00
Material
Betuminoso
(R$)
Aquisição de C 1% 1% 1% 1% 1% 1%
Material
Betuminoso
(%)
Desequilíbri D 2% 3% 4% 5% 6% 7%
o (%)
Desequilíbri E 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70
o (R$)
Lucro total F 71,79 71,79 71,79 71,79 71,79 71,79
(R$)
Comprometi G 0,28% 0,42% 0,56% 0,70% 0,84% 0,98%
mento Lucro
(%)
Simulação 3 - Aquisição de material betuminoso 10%
Fatores Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4 Coluna 5 Coluna 6
Medição A 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00
total (R$)
Aquisição de B 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Material
Betuminoso
(R$)
Aquisição de C 10% 10% 10% 10% 10% 10%
Material
55
Betuminoso
(%)
Desequilíbri D 2% 3% 4% 5% 6% 7%
o (%)
Desequilíbri E 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00
o (R$)
Lucro total F 69,91 69,91 69,91 69,91 69,91 69,91
(R$)
Comprometi G 2,86% 4,29% 5,72% 7,15% 8,58% 10,01%
mento Lucro
(%)
Simulação 4 - Aquisição de material betuminoso 50%
Fatores Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4 Coluna 5 Coluna 6
Medição A 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00 1.000,00
total (R$)
Aquisição de B 500,00 500,00 500,00 500,00 500,00 500,00
Material
Betuminoso
(R$)
Aquisição de C 50% 50% 50% 50% 50% 50%
Material
Betuminoso
(%)
Desequilíbri D 2% 3% 4% 5% 6% 7%
o (%)
Desequilíbri E 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00
o (R$)
Lucro total F 61,55 61,55 61,55 61,55 61,55 61,55
(R$)
Comprometi G 16,25% 24,37% 32,49% 40,62% 48,74% 56,86%
mento Lucro
(%)
A: dado de entrada
B: dado de entrada
C=B/A: parcela de aquisição de material betuminoso no contrato
D: dado de entrada
E=D*B: Desequilíbrio em reais
F=[7,2%*(A-B)+5,11%*B]: lucro dos demais serviços contratuais + lucro da aquisição de material betuminoso
G=E/F: comprometimento do lucro total devido ao desequilíbrio arbitrado
Fonte: elaboração própria, com ajustes nas tabelas da Nota Técnica 4/2019-DPP/DNIT SEDE, peça
4, p.4.
358. De acordo com a tabela 8, após a alteração do critério pontuado, pode-se observar
algumas mudanças nos valores obtidos. De pronto, pode-se destacar a redução considerável no
percentual de comprometimento do lucro (linha “G” da tabela 8, das três simulações), em função dos
percentuais de desequilíbrios de 2% a 7% (linha “D” da tabela 8, das três simulações) aplicados no
valor de aquisição do material betuminoso (linha “B” da tabela 8, das três simulações).
359. Além disso, evidencia-se a sensibilidade do comprometimento do lucro, conforme se varia
a representatividade de aquisição de material betuminoso (1%, 10% e 50%, linha “C” da tabela 8,
das três simulações), que por sua vez depende do tipo de obras (construção, duplicação, readequação,
restauração, manutenção e conservação).
360. Nessa perspectiva, pode-se presumir que, com aquisições de até 10% de material
betuminoso e com um percentual de desequilíbrio de até 7%, o comprometimento do lucro seria de até
10%.
56
361. Apesar de a Nota Técnica ter razão quando informa que o desequilíbrio contratual da
ordem de 7% compromete o lucro da contratada, a seguir será demonstrado que o percentual total
medido de aquisição de material betuminoso para gerar tal desequilíbrio teria de ser significativo.
362. Para melhor visualização dessa demonstração, elaborou-se a tabela 9, que contempla
qual seria o percentual de desequilíbrio de material betuminoso passível de gerar o comprometimento
do lucro total igual aquele calculado na Nota Técnica 4/2019-DPP/DNIT SEDE (98%, 100% e 114%,
destacados na reprodução da referida tabela, item 336, desta instrução), conforme o caso.
Tabela 9- Impacto no lucro devido ao desequilíbrio arbitrado dos materiais betuminosos Simulação 5
Fatores Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3
Medição total (R$) A 1.000,00 1.000,00 1.000,00
Aquisição de Material B 10,00 100,00 500,00
Betuminoso (R$)
Aquisição de Material C 1% 10% 50%
Betuminoso (%)
Desequilíbrio (%) D 705% 70% 14%
Desequilíbrio (R$) E 70,50 70,00 70,00
Lucro total (R$) F 71,791 69,91 61,55
Comprometimento G 98% 100% 114%
Lucro (%)
A: dado de entrada
B: dado de entrada
C =B/A: percentual de aquisição de material betuminoso no contrato
D: dado de entrada
E=D*B: desequilíbrio em valores absolutos
F=[7,2%*(A-B)+5,11%*B]: lucro total=lucro dos demais serviços contratuais+lucro da aquisição de material betuminoso
G=E/F: comprometimento do lucro total devido ao desequilíbrio arbitrado
Fonte: elaboração própria, com ajustes nas tabelas da Nota Técnica 4/2019-DPP/DNIT SEDE, peça
4, p.4.
363. Nos casos em que a aquisição do material betuminoso representar 1% do valor do
contrato (linha “C”, coluna 1 da tabela 9), seria necessário ocorrer percentual de desequilíbrio de
705% para acarretar o comprometimento de lucro de 98% (linha “G”, coluna 1 da tabela 9 ), igual
aquele calculado na nota técnica para o desequilíbrio contratual total de 7% (vide tabela 1, da Nota
Técnica, reproduzida no item 336, desta instrução).
364. Em outras palavras, caso o desequilíbrio contratual total fosse causado somente pelo
material betuminoso, hipótese aventada pelo DNIT para elaboração das IS de reequilíbrio econômico-
financeiro do contrato, seria necessário um desequilíbrio de 705% nesse material (705% x R$
10,00=R$ 70,50), para resultar em um desequilíbrio de 7% em todo o contrato.
365. Seguindo esse raciocínio, no caso de 10% de aquisição de material betuminoso (linha
“C”, coluna 2 da tabela 9), seria necessário 70% de desequilíbrio no material betuminoso (70% x R$
100,00=R$ 70,00) para acarretar um comprometimento do lucro de 100% (linha “G”, coluna 2 da
tabela 9) para se alcançar os 7% de desequilíbrio contratual.
366. Por último, no caso de 50% de representatividade (linha “C”, coluna 3 da tabela 9), seria
14% de desequilíbrio no material betuminoso (14% x R$ 500,00=R$ 70,00), para resultar em um
comprometimento do lucro de 114% (linha “G”, coluna 3 da tabela 9) para se atingir os 7% de
desequilíbrio contratual (vide tabela 1, da Nota Técnica, reproduzida no item 336, desta instrução).
367. Por isso, defende-se avaliar o percentual de aquisição de material betuminoso no contrato
(caracterizado pelo tipo de obra) para então se aferir a necessidade de reequilíbrio por conta de
apenas um material.
57
58
sido adquiridos após o anúncio do respectivo aumento de preços pela Petrobras, ou seja, que tenham
sido afetados pelo aumento promovido. 382. Quanto a esse subitem, a CGMRR alega que a Autarquia
estaria promovendo atualizações dos normativos no âmbito de sua esfera de atribuições (peça 83, p.
7).
383. Que estaria, inclusive, propondo procedimentos e modelos padrão de documentos, no
sentido de aprimorar a fiscalização relativa ao efetivo controle da aplicação de materiais betuminosos
nos contratos de sua gestão, regulamentando, também, as medições efetuadas pela fiscalização, de
modo que seja possível se obter maior controle dos serviços executados e dos materiais aplicados.
384. Considera que a apresentação de notas fiscais com aquisição ou fornecimento de insumos
betuminosos não refletirá em controle adequado dos serviços executados conforme esperado, em
razão dos seguintes argumentos:
a) tais insumos, por estratégia comercial otimizada própria (compra por atacado, por
exemplo), podem ser utilizados em diversas obras da empresa contratada, inclusive de outros órgãos e
de diferentes esferas governamentais;
b) a simples conferência dos quantitativos em execução, com comprovação temporal,
somente é possível, mediante apresentação de notas fiscais da aquisição e que tal fiscalização e
exigência pesariam ao DNIT no controle da atividade-meio da empresa, prejudicando a devida
atenção à atividade-fim que é a efetiva execução dos serviços no trecho e seu mapeamento;
c) o grave problema da rastreabilidade. A correlação do que consta da nota fiscal com o
serviço que está sendo executado, às vezes, é de difícil comprovação, o que pode implicar em
conferência burocrática e onerosa do ponto de vista administrativo ao DNIT;
d) a atual resolução está em linha regulatória de promover procedimentos e modelos
padrão mais eficientes, mantendo concomitante, tempo de controle dos serviços executados e dos
materiais aplicados.
III.2. Análise
385. Inicialmente, cabe relatar que, em geral, a CGMRR não trouxe inovação nos argumentos
apresentados, especificamente naqueles elencados no item anterior, desta instrução.
386. Em essência, tais argumentos já foram apresentados pelo DNIT em sua manifestação à
oitiva, que foram tratados em item específico desta instrução, cuja análise que se encontra nos itens
241-250.
387. Em síntese, na análise dos argumentos apresentados em razão da oitiva (itens 234-250),
que foram replicados nesta manifestação do gestor, restou concluído que o DNIT não logrou êxito em
demonstrar a inviabilidade de se estabelecer procedimento exigindo da empresa solicitante do pleito
por REF a demonstração comprovada de que os quantitativos medidos sejam fruto de aquisições de
materiais betuminosos promovidas após os anúncios de aumentos de preços pela Petrobras, de forma
a atender ao disposto no item 9.2.2 do Acórdão 1604/2015-TCU-Plenário.
388. Portanto, conserva-se a proposta de determinação relativa à questão aqui tratada, sem
qualquer alteração.
CONCLUSÃO
389. Após análise dos documentos e informações enviadas, em sede de oitiva, considera-se que
o DNIT não enfrentou a questão central do primeiro item da oitiva, no que diz respeito à ausência de
parâmetros objetivos no normativo vigente que regulamenta os pleitos por REF.
390. Nesse contexto, mantém-se a conclusão exposta na instrução inicial desta representação
de que a falta de critérios objetivos, apontada na IS/DG/DNIT 10/2019, revogada, e continuada na
60
considerar alguns fatores que podem interferir na ocorrência do impacto acentuado na relação
contratual como: o estágio de execução da obra; a representatividade de insumo asfáltico conforme o
tipo de obra (construção, duplicação, adequação, restauração, conservação, manutenção).
409. Dito isso, propõe-se que seja determinado ao DNIT que:
a) estabeleça, com os meios que melhor lhe convier, limitador percentual que sirva de
parâmetro objetivo visando a caracterizar em quais casos os percentuais de reajustes dos materiais
betuminosos serão materialmente relevantes, a ponto de resultar em impacto financeiro nos contratos
de obras rodoviárias e justificar o reequilíbrio contratual, enquadrado no art. 65, inciso II, alínea “d”
da Lei 8.666/1993.
b) promova a revisão do referido normativo vigente, para incluir o limitador percentual
referido no item anterior, além de outros parâmetros objetivos que julgar pertinentes, para orientar
todas as unidades de sua estrutura organizacional responsável pela análise dos requerimentos
fundados no normativo vigente, no exame do caso concreto, quando dos recebimentos dos pleitos,
quanto à necessidade de:
b.1) demonstrar o impacto acentuado nos contratos em andamento, em razão de aumentos
imprevisíveis nos preços dos insumos betuminosos promovidos pela Petrobras, especialmente quanto
às seguintes situações que apontam para a inaplicabilidade dos critérios previstos no normativo
vigente em função do não atendimento aos pressupostos da teoria da imprevisão, bem como às
disposições contidas no art. 65, inciso II, alínea “d”, da Lei 8.666/1993:
b.1.1) a representatividade dos materiais betuminosos no valor total do contrato, conforme
a natureza da obra (construção, adequação, duplicação, restauração, manutenção e conservação);
b.1.2) contratos cujo estágio avançado de execução denote saldo pequeno de serviços
contendo insumos betuminosos e, por consequência, reflexo financeiro aparentemente suportável entre
a ocorrência de aumento de preços pela Petrobras e a data-base contratual, com maior razão quando
essa constatação é reforçada pelo confronto com o total de medições (em termos financeiros),
realizadas e previstas, no período delimitado pelo aumento de preços pela Petrobrás e o próximo
reajuste anual, conforme o caso;
b.2) incluir, no respectivo normativo, quando de sua revisão, dispositivo em que se
estabeleça a competência de o DNIT, por meio de sua atuação fiscalizatória, estar obrigado a
verificar possíveis ressarcimentos ao erário, quando ocorrerem reduções de preços de materiais
betuminosos, cujos impactos financeiros, resultem em reequilíbrio econômico-financeiro a favor da
Administração;
c) exigir da empresa pleiteante comprovação de que os quantitativos de insumos
betuminosos, passíveis de medição durante o período contemplado no respectivo reequilíbrio
contratual, tenham sido adquiridos após o anúncio do respectivo aumento de preços pela Petrobras,
ou seja, que tenham sido afetados pelo aumento promovido.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
410. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, com as seguintes
propostas:
a) Determinar, com fundamento no art. 250, inciso II, do RI/TCU c/c o artigo 4º, inciso I,
da Resolução-TCU 315, de 22 de abril de 2020, ao Departamento Nacional de Infraestrutura
Terrestre que, no prazo de 60 dias:
a.1) estabeleça, com os meios que melhor lhe convier, limitador percentual que sirva de
parâmetro objetivo visando a caracterizar em quais casos os percentuais de reajustes dos materiais
betuminosos serão materialmente relevantes, a ponto de resultar em impacto financeiro nos contratos
63
de obras rodoviárias e justificar o reequilíbrio contratual, enquadrado no art. 65, inciso II, alínea “d”
da Lei 8.666/1993;
a.2) promova a revisão do normativo vigente, Resolução/DNIT 13/2021, para contemplar
o limitador percentual referido no item “a.1”, além de outros parâmetros objetivos que julgar
pertinentes, para orientar todas as unidades de sua estrutura organizacional responsável pela análise
dos requerimentos fundados no normativo vigente, no exame do caso concreto, quando dos
recebimentos dos pleitos, quanto à necessidade de:
a.2.1) demonstrar o impacto acentuado nos contratos em andamento, em razão de
aumentos imprevisíveis, ou previsíveis de consequências incalculáveis, nos preços dos insumos
betuminosos promovidos pela Petrobras, especialmente quanto às seguintes situações que podem
apontar para a inaplicabilidade dos critérios previstos no normativo vigente em função do não
atendimento dos pressupostos da teoria da imprevisão, bem como das disposições contidas no art. 65,
inciso II, alínea “d”, da Lei 8.666/1993:
a.2.1.1) a representatividade dos materiais betuminosos no valor total do contrato,
conforme a natureza da obra (construção, adequação, duplicação, restauração, manutenção e
conservação);
a.2.1.2) contratos cujo estágio de execução avançado de execução denote saldo pequeno
de serviços contendo insumos betuminosos e, por consequência, reflexo financeiro aparentemente
suportável entre a ocorrência de aumento de preços pela Petrobras e a data-base contratual, com
maior razão quando essa constatação é reforçada pelo confronto com o total de medições (em termos
financeiros), realizadas e previstas, no período delimitado pelo aumento de preços pela Petrobras e o
próximo reajuste anual, conforme o caso;
a.2.2) incluir, no respectivo normativo, quando de sua revisão, dispositivo em que se
estabeleça a competência de o DNIT, por meio de sua atuação fiscalizatória, estar obrigado a
verificar possíveis ressarcimentos ao erário, quando ocorrerem reduções de preços de materiais
betuminosos, cujos impactos financeiros, resultem em reequilíbrio econômico-financeiro a favor da
Administração;
a.3) exija da empresa pleiteante comprovação de que os quantitativos de insumos
betuminosos, passíveis de medição durante o período contemplado no respectivo reequilíbrio
contratual, tenham sido adquiridos após o anúncio do respectivo aumento de preços pela Petrobras,
ou seja, que tenham sido afetados pelo aumento promovido;
b) informar ao DNIT do acórdão que vier a ser proferido, destacando que o relatório e o
voto que fundamentam a deliberação ora encaminhada podem ser acessados por meio do endereço
eletrônico www.tcu.gov.br/acordaos.”
2. É o Relatório.
64
VOTO
Trago à apreciação do Plenário estes autos que cuidam de Representação oferecida pela
unidade técnica do TCU, acerca de indícios de irregularidades na Instrução de Serviço/DG/DNIT 10,
de 16 de maio de 2019, editada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte – DNIT.
O normativo dispõe sobre critérios para o reequilíbrio econômico-financeiro de contratos
administrativos decorrentes do acréscimo ou decréscimo, conforme o caso, dos custos de aquisição de
materiais betuminosos.
2. Cumpre inicialmente registrar que assumi a relatoria do feito em sucessão ao Ministro
Raimundo Carreiro, nos termos do art. 152A do Regimento Interno do TCU.
3. O assunto sobre o qual versa a representação não é inédito no TCU, tendo sido já objeto do
TC 007.615/2015-9, que foi apreciado pelo paradigmático Acórdão 1.604/2015-Plenário, de relatoria
do Ministro Augusto Nardes. Naquela representação, o fato originador foi a proposta do então Diretor-
Substituto do Dnit para a concessão generalizada de reequilíbrio econômico-financeiro nos contratos
da autarquia, em razão de elevação significativa de preços de derivados de petróleo ocorrida em
novembro/2014, sem que houvesse critérios objetivos de elegibilidade para tal.
4. Em atenção à decisão do Tribunal no Acórdão 1.604/2015-Plenário, o Dnit instituiu a
Instrução de Serviço/DG/DNIT 4/2015, de 13/7/2015, atualmente revogada, que estabeleceu
parâmetros para a concessão do reequilíbrio. Cabe destacar que aquele normativo previa a observância
de um “gatilho” para o pleito – impacto financeiro mínimo de 7% do valor do contrato –, bem como a
limitação temporal do mês de aniversário da avença e a necessidade de comprovação do desequilíbrio
gerado, por meio da apresentação de notas fiscais.
5. A partir de 2018, a Petrobras S.A. – principal empresa refinadora de hidrocarbonetos no
país e então responsável por atender toda a demanda interna de materiais betuminosos para
pavimentação – adotou nova política de preços, mais aderente à cotação internacional do petróleo no
curto prazo. Os reajustes dos valores cobrados pelos insumos asfálticos (Cimento Asfáltico de Petróleo
– CAP, Asfalto Diluído de Petróleo – ADP e emulsões asfálticas) que ocorriam a cada seis meses (em
abril e novembro), passaram a ser realizados mensalmente.
6. O aumento da volatilidade de preços foi sentido pelo setor de construção rodoviária, que
passou a demandar – inclusive na esfera judicial – novo normativo do Dnit, no que tange a
reequilíbrios decorrentes de variações nos custos dos materiais betuminosos. Nesse contexto, foram
editadas sucessivamente as Instruções de Serviço: IS/DG/DNIT 6, de 7/3/2019, IS/DG/DNIT 10, de
16/5/2019 – objeto da presente representação –, IS/DG/DNIT 26/2020, de 30/7/2020, e
Resolução/DNIT 13/2021, com poucas diferenças entre elas.
7. Do exame de legalidade da Instrução de Serviço/DG/DNIT 10, de 16/5/2019, em cotejo
com o retromencionado Acórdão 1.604/2015-Plenário, a Unidade de Auditoria Especializada em
Infraestrutura Rodoviária e de Aviação Civil do TCU identificou possíveis irregularidades, que foram
objeto de oitiva e diligência ao Dnit. As medidas saneadoras foram autorizadas pelo Ministro
Raimundo Carreiro em Despacho datado de 9/12/2020 (peça 13).
8. Posteriormente, o então relator deferiu o ingresso das entidades Associação Nacional das
Empresas de Obras Rodoviárias – ANEOR, Câmara Brasileira da Indústria da Construção e Sindicato
Nacional da Indústria da Construção Pesada, como partes interessadas no processo (peça 37). As
associações representativas apresentaram manifestação conjunta colacionada à peça 45.
desenvolvida pelo Dnit e pela Fundação Getúlio Vargas. Os preços na base produtor mostraram-se
adequados para capturar, com celeridade, os aumentos promovidos pela Petrobras e reduzir situações
de desequilíbrio de preços, mediante reajuste anual. A nova Lei de Licitações e Contratos prevê tal
mecanismo no art. 6º, inciso LVIII, e no art. 92, § 3º:
Lei 14.133/2021. Art. 6º, LVIII - reajustamento em sentido estrito: forma de manutenção do
equilíbrio econômico-financeiro de contrato consistente na aplicação do índice de correção
monetária previsto no contrato, que deve retratar a variação efetiva do custo de produção, admitida
a adoção de índices específicos ou setoriais;
(...)
Art. 92, § 3º Independentemente do prazo de duração, o contrato deverá conter cláusula que
estabeleça o índice de reajustamento de preço, com data-base vinculada à data do orçamento
estimado, e poderá ser estabelecido mais de um índice específico ou setorial, em conformidade com
a realidade de mercado dos respectivos insumos.
17. Já a teoria da imprevisão, albergada na novel legislação em seu art. 124, inciso II,
alínea ‘d’, requer a presença de condicionantes para que se proceda ao reequilíbrio econômico-
financeiro do contrato com a Administração:
Lei 14.133/2021. Art. 124, II, ‘d’: para restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro inicial do
contrato em caso de força maior, caso fortuito ou fato do príncipe ou em decorrência de fatos
imprevisíveis ou previsíveis de consequências incalculáveis, que inviabilizem a execução do
contrato tal como pactuado, respeitada, em qualquer caso, a repartição objetiva de risco
estabelecida no contrato. (grifo acrescido)
18. Destaco que é lícito que o contrato administrativo estabeleça divisão de riscos entre as
partes, inclusive – de forma exemplificativa – no que tange a faixas de variação nos custos de
determinados insumos. Tal preocupação se mostra mais indicada à medida em que o insumo seja
representativo no contexto dos serviços contratados e esteja propenso a flutuações decorrentes de
fatores de difícil previsão, como é o caso dos materiais betuminosos em determinados tipos de obras
nas quais sua utilização é intensiva. Nesse sentido, obras de recuperação e manutenção de pavimentos
flexíveis são muito mais sensíveis às oscilações de preço do CAP do que obras que envolvam
precipuamente serviços de terraplenagem ou a construção de obras de arte especial.
19. Nessa linha, entendo oportuno recomendar ao Dnit, que, em atenção aos arts. 6º, LVIII;
92, § 3º; e 124, inciso II, ‘d’ da Lei 14.133/2021, preveja, para futuras contratações de obras
rodoviárias, bandas aceitáveis de variação de custo de insumos asfálticos, em prazo delimitado,
considerando a representatividade desses materiais na obra em particular, para as quais a empresa
contratada se compromete a cumprir fielmente o contrato sem o cabimento de pedido de reequilíbrio
econômico-financeiro, resguardada, em todo o caso, a observância do reajustamento periódico.
20. Quanto às considerações da unidade técnica, manifesto-me de acordo com o entendimento
de que o Dnit não logrou justificar a ausência de parâmetros objetivos na IS/DG/DNIT 10/2019 – e nos
demais normativos – para admissibilidade e processamento dos requerimentos de reequilíbrio
econômico-financeiro.
21. Por conseguinte, em consonância com a AudRodovia, considero necessário determinar ao
Dnit que, no prazo de 90 dias, revise os normativos internos referentes à análise de pedidos de
reequilíbrio econômico-financeiro, de forma a adotar procedimentos para demonstrar o impacto nos
contratos elegíveis em razão de aumentos imprevisíveis dos preços dos insumos betuminosos, em
atenção às disposições contidas no art. 124, inciso II, alínea “d”, da Lei 14.133/2021 e no art. art. 65,
inciso II, alínea “d”, da Lei 8.666/1993 (revogada), em particular:
a) a representatividade dos materiais betuminosos no valor total do contrato, conforme a
natureza da obra (construção, adequação, duplicação, restauração, manutenção e conservação);
ANTONIO ANASTASIA
Relator
1. Processo nº TC 039.552/2020-9.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII – Representação.
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessados: Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (31.937.022/0001-06);
Câmara Brasileira da Industria da Construção (33.947.128/0001-16); Sindicato Nacional da Indústria
da Construção Pesada - Sinicon (33.645.540/0001-81).
4. Órgão/Entidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
5. Relator: Ministro Antonio Anastasia.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Unidade de Auditoria Especializada em Infraestrutura Rodoviária e de Aviação
Civil (AudRodoviaAviação).
8. Representação legal: Regina Costa Rillo (313.578/OAB-SP), Tatiane Olle Colman Wildt
(109.978/OAB-RJ) e outros, representando Sindicato Nacional da Industria da Construção Pesada -
Infraestrutura - Sinicon; Karina Yumi Ogata (407.315/OAB-SP) e outros, representando Câmara
Brasileira da Industria da Construção e Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que cuidam de Representação oferecida
unidade técnica do TCU, acerca de indícios de irregularidades em normativos do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transporte – DNIT que dispõem sobre critérios para o reequilíbrio
econômico-financeiro de contratos administrativos decorrentes de variações no custo de aquisição de
materiais betuminosos.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária,
diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. com fulcro no art. 237, inciso I, do RI/TCU, conhecer da presente Representação para,
no mérito, considerá-la procedente;
9.2. recomendar ao Dnit que, em atenção aos arts. 6º, inciso LVIII; 92, § 3º; e 124,
inciso II, ‘d’ da Lei 14.133/2021, preveja, para futuras contratações de obras rodoviárias, bandas
aceitáveis de variação de custo de insumos asfálticos, em prazo delimitado, considerando a
representatividade desses materiais na obra em particular, para as quais a empresa contratada se
compromete a cumprir fielmente o contrato sem o cabimento de pedido de reequilíbrio econômico-
financeiro, resguardada, em todo o caso, a observância do reajustamento periódico;
9.3. determinar ao Dnit que, no prazo de 90 dias, revise os normativos internos referentes à
análise de pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro, de forma a adotar procedimentos para
demonstrar o impacto nos contratos elegíveis em razão de aumentos imprevisíveis dos preços dos
insumos betuminosos, em atenção às disposições contidas no art. 124, inciso II, alínea “d”, da
Lei 14.133/2021 e no art. art. 65, inciso II, alínea “d”, da Lei 8.666/1993 (revogada), em particular:
9.3.1. a representatividade dos materiais betuminosos no valor total do contrato, conforme
a natureza da obra (construção, adequação, duplicação, restauração, manutenção e conservação);
9.3.2. o estágio de execução contratual e o saldo de serviços que demandam insumos
betuminosos; e
9.3.3. a comprovação, por parte da requerente, do nexo causal entre a ocorrência do fato
motivador e a condição superveniente de inexequibilidade do contrato.
9.4. enviar cópia do presente Acórdão para o Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transporte, Ministério dos Transportes, Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias –
ANEOR, Câmara Brasileira da Indústria da Construção – CBIC, Sindicato Nacional da Indústria da
Construção Pesada – Sinicon e demais interessados, informando que a presente deliberação,
acompanhada do Relatório e do Voto que a fundamenta, está disponível para a consulta no endereço
www.tcu.gov.br/acordaos.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral