Cousas Brasileiras

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R, PUIGGARI

COUSAS BRASILEIRAS
LIVRO DE LEITURA

TERCEIRO ANNO DO ENSINO PRELIMINAR

Approvado pelo Conselho superior


da Instrucçfio publica do Estado de São Paulo.

15* ED1ÇA0 REFUNDIDA PELO AUTOR

FRANCISCO ALVES & C“ *AILLAUD, ALVES & Cu


RIO DE JANEIRO PARIS
'36, bva no ouvidor, 16Ô 96, BOULBVARD MONTPARNASSB, #6
S. PAULO (LIVRARIA AUJLAUr)
65, RUA DB S. BENTO, 65 LISBOA
BELLO HORIZONTE jS, RUA OARRBTT, j5
1OÕ5, RUA DA BAHIA, 1OÕ5 e» (LIVRARIA BERTHAND)
1945 V.
COUSAS BRASILEIRAS
Obras que serviram para compilação
e consulta :

E. Goeldi....................... Os mammiferos do Brasil.

J.-E. Wappaeus O Brasil geographicD e his­


tórico-

A. W. Sellin Geographia geral do Brasil.

V. de B. Rohan............. Diccionario de vocábulos bra­


sileiros.

J. Almeido Pinto .... Diccionario de botanica bra­


sileira.

José Veríssimo............. Scenas da vida amazônica.

Mello Moraes Filho* Parnaso Brasileiro.


R. PUIGGARI

COISAS BRASILEIRAS
LIVRO DE LEITURA

TERCEIRO ANNO DO ENSINO PRELIMINAR

Approvado pelo Conselho superior


da Instrucção publica do Estado de Slo .Paulo,

15" EDIÇÃO REFUNDIDA PELO AUTOR

FRANCISCO ALVES & C,a flILLAUD, ALVES & Cu


RIO DE JANEIRO PARIS ,
166, rua do ouvidor, 1G6 96, BOULEVARD MONTPÀRNASSE, 96
' S. PAULO (LIVRARIA AILLAÜD)
65, RUA DE S. BENTO, 65 LISBOA
BELLO HORIZONTE g3, RUA GARRBTT, j5
1055. RUA DA BAHIA, ,to55 (LIVRARIA BERTRAND)
1915
Aos seus amigos
do professorado publico paulista,

Offerece

O ÀUTOR
AO PROFESSORADO

Diz o eminente educador José Verissimo em sua


obra « Educação Nacional», esse brado de alérta ao
patriotismo brasileiro, as seguintes palavras :
<x N’este levantamento geral que é preciso promo­
ver a favor da educação nacional, uma das mais ne­
cessárias reformas é a do livro de leitura. Oumpre
que elle seja brasileiro, não só feito por brasileiro,
que não é o mais importante, mas brasileiro pelos
assumptos, pelo espirito, pelos autores trasladados,
pelos poetas reproduzidos e pelo sentimento nacional'
que o anime ».
E nesta energica linguagem prosegue mostrando
a pobreza de nossa litteratura escolar ; —< São 09
escriptores estrangeiros que traduzidos, trasladados,
ou quando muito, servilmente imitados, fazem a
educação de(nossa mocidade »,
As linhas que acabamos de transcrever inspiraram
o presente livrinho.

E' uma simples tentativa: um ensaio.

Não tem a menor pretensão. E como tel-a, si o


autor é quasi um desconhecido no magistério brasi­
leiro?
Seja acolhido com benevoiencia, disperte o gosto
pelos trabalhos escolares puramente nacionaes, e
ficaremos bem satisfeito com nosso trabalho, embora
mesmo sejaephemera a sua vida.

Oabe aqui uma palavra de agradecimento aos col-


legas que muito me animaram na publicação d’este
trabalho, e principalmente a Arnaldo Barreto, a cuja
reconhecida competência foi confiada a sua revisão,
antes de ser entregue ao editor.
AS BELLEZAS DO PAIZ

Percorri terras e mares,


fui á França, fui á Hespanha,
a Portugal, á Allemanha,
toda a Europa viajei.
Visitei os monumentos
que todo o mundo aprecia ;
da européa phantazia
os primores disfructei.

Vi museus e galerias,
vi theatros e recreios,
vi palacios, vi passeios
e edifícios colossaes;
— i2 —

e contemplei os prodígios
das construcções hodiernas
e as abóbadas eternas
das antigas cathedraes.

E voltei maravilhado
de tão notável helleza,
da ostentação, da riqueza
que por toda parte vi.
Regressei do velho mundo,
e com prazer voltaria,
pois, lembro rne noute e dia
de tudo o que lá senti.

II

Não saí deTftüjaheuterra,


mas aqui, na natureza,
encontrei tanta belleza,
que nem a sei descrever.
— 13 — •

E não invejo os palacios,


e não invejo os passeios,
e não invejo os recreios
que na Europa foste ver.

Naveguei rios enormes,


vi as mais variadas flores,
passarinhos de mil côres,
e florestas colossaes;
vi as nossas ricas minas
de onde as riquezas surgiram,
e palmeiras que serviram
de modelo a cathedraes.

Extasiaram-me os primores
que encontrei por toda parte ;
e vi também obras de arte,
visitando as capitaes;
também vi beilas estatuas;
vi passeios elegantes
vi palacios deslumbrantes,
trabalhos monumentaes.
14 —

Só, agora que conheço


de minha patria os encantos
é que vou correr os cantos
d’essa famosa Paris;
mas não se diga que vamos
visitar terras remotas,
deixando p’ra sempre ignotas
asbellezas do paiz.
DIVISÃO FRATERNAL

— Mamãe, olha que bonito bolo me man­


dou a titia, dizia Henrique.
— E agora que vaes fazer d’el.le, pergun­
tou-lhe a mamãe.
— E’ bôa! Vou comel-o.
— E não repartes com teu maninho João?
— 16 —

— Vou dar-lhe um pedaço.


— Deves repartil-o fraternalmente.
— Como é repartir fraternalmente?
E’ partil-o em dois pedaços e dar o maior
ao João.
— Ah! é assim? Então espere. E chamou :
O’ João! 0’ João!
João approximou-se.
— Toma este boto, disse Henrique, e re­
parte-o fraternalmente commigo.
Que espertalhão!

MAXIMAS

A maior infelicidade dos ignorantes é não


conhecerem toda a sua miséria.
Devemos procurar o saber, porque elle nos
torna mais facil a honestidade.
Só o saber t- o trabalho tornam o homem
independente.
A ANTA

A anta, também chamada tapyr, é o maior


dos mammiferos brasileiros.
E’ um animal, parecido com um grande
porco; pertence á ordem dos jumentados.
Tem mais de metro e meio de comprimento, *.
e um metro e dez centímetros de altura.
Suapelle é muito grossa, dura, coberta de’J.. .
pellos curtos, não muito bastos. No pesc^o ■ \
são mais longos e densos, formando uma col-
leira de pellos eriçados.

I
- is -
1
/ . ;
E’ de côr escura, quasi preta, e nas orelhas
tem pellos brancos que formam como um de­
brum muitogracioso.
Tem o focinho prolongado em pequena
tromba, olhos pequenos, orelhas levantadas
e moveis cauda curta e crinas curtas e as-
peras.
■ Alimenta-se de folhas, fructos e raizes.
Ataca plantações, onde faz grandes estra­
gos.
Gosta muito de banhar-se, e por isso pro­
cura as proximidades dos rios ou lagos;
A anta percorre quasi sempre o mesmo •
caminho todos os dias, e a horas certas.
Sua força é tão grande, que, quando é per­
seguida, atravessa, correndo, a matta entran­
çada de cipós, cujas malhas vai rompendo em
sua passagem.
Caçam-na por causa de sua carne saborosa
•6t.de sua pelle grossa.
• A’ pelle da anta tem grande duração, e é
— 19 —

muito apreciada para a fabricação de arreios.


Pegada em pequena, a anta domestica-se
com facilidade.
Os mammiferos de pelle grossa como a
anfea chamam-se paehydermes.

QUADRINHAS POPULARES.

Minha gente, venham vêr


cousa que nunca se viu;
o tição brigou co’a braza,
e a pannellinha caiu.

Quem me dera ter agora


um cavallinho de vento,
para dar um galopinho
a onde está meu pensamento.

Estas quadras e outras esparsas pelo livro são extra­


ídas dos « Cantos populares do Brasil », colligidos
pelo D’ Sylvlo Roméro. .
BEM-TE-VI

Carlos, o bom Carlos que tanto se distin-


guia na escola, aproveitando a feria do do­
mingo, tomou a espingarda e foi passear pela
capoeira afóra.
Era no tempo em que as guabirobas, os
— 21 —

araçás, as pitangas, os jambos, e muitas ou­


tras fructas, já maduras, chamavam a passa-
rada para perto da villa.
Carlos pensava poder trazer para casa farta
e variada ceia.
Entretanto, assim que saiu de casa, forte
vento começou a soprar, agitando a ramagem
do arvoredo.
Carlos chegou á capoeira, e procurou logo
as fructeiras que tantas vezes vira cheias de
passaros. Nada, o vento os afugentara.
Sentou-se embaixo de uma enorme guabi-
robeira e esperou. Mas, nada; absolutamente
nada. Nem um tico-tico, nem um sabiá, nem
um sanhaço!
Já cançado de esperar, estava quasi ador­
mecendo, quando ouviu leve rumor por entre
a folhagem, e em seguida uma guabiroba
caíu-lhe perto da cabeça. Olhou para a ar­
vore; lá, bem no alto, quasi na copa, estava
um bonito passarinho pardo com um pennacho
— 22 —

amarello na cabeça e a barriga também ama-


rellada.
Ao menos este não me escapa, disse Carlos,
e armando a espingarda apontou para o pas­
sarinho. Antes de disparar, o passarinho
levantou o vôo, e foi pousar sobre outra fruc-
teira, do outro lado do caminho.
Assim que o passarinho se viu a salvo,
soltou seu canto habitual — bem-te-vi! bem-
te-vi !
E Carlos, pondo a espingarda debaixo do
braço, voltou para casa furioso com o vento
que lhe tinha afugentado a caça.
E mais ainda, com aquelle passarinho que
parecia caçoar do seu aborrecimento, gritando
lá ao longe — bem-te-vi! bem-te-vi!
0 TREM DE FERRO

Vovó, que linda poesia está aqui no Diário


Popular, dizia Henriqueta.
Lê, quero ouvil-a, disse a vovó.
Henriqueta leu :

O TREM DE FERRO I

Um longo apito estridulo sibila;


Rangem as rodas n’um arranco perro:
— 24 —

E, lentamente, a se arrastar desfila,


Fumegante e luzente o trem de ferro.

Sôa no espaço um derradeiro berro,


E tão rápido corre, que horripila,
Esse monstro, a rolar de serro em serro,
Apavorando a solidão tranquilla!

Vence choupanas, mattagaes tristonhos,


Despenhadeiros, barathros medonhos,
— Nada lhe arranca o rábido furor!

Corre, corre veloz; nada o embaraça,


Desfraldando a bandeira de fumaça,
Como um bravo guerreiro vencedor.
M. B. Oepellos.

— Realmente é muito bonita, disse a vovó;


parece que a gente está vendo ,o trem de ferro
a correr por sobre os trilhos, e atravessando
morros e florestas.
— O que não me agrada, disse Henri-
queta, são umas palavras que não sei o que
significam. 1
— Mas tu hão tens diccionario?

W ' 1
— 25 —

Tenho, sim senhora.


— Então não ha palavras desconhecidas.
Vejamos; vae procurar o diccionario, e dize-
me quaes são as palavras que não conheces.
— Está aqui o diccionario. Agora as pala­
vras que não conheço são : ràbido, e ba-
rathro.
— Pois então vê o que diz o diccionario :
Rábido—raivoso; barathro—aby smo.
Já vês que tendo um diccionario podes
ficar sabendo o significado de todas as pala­
vras. O diccionario é um professor que está
sempre ás tuas ordens e que tudo te ensina
com a maior paciência.

*
PASSARINHO FERIDO

— Que fazes Jorge ? Porque largas o livro ?


Já sabes a lição?
— Ainda não, mamãe : vou estudal-a.
— Mas que é isso que tens na mão? Por­
que largaste então o livro?
— E’ um passarinho, mamãe; é um
sanhaço.
— Então em vez de estudar, corres pelo
jardim apanhando passaros?
— 27 —

— Não, mamãe; eu te conto : Emquanto


eu estava embaixo da larangeira estudando,
veiu este sanhaço e pousou na ameixeira
grande, juncto da grade. Estava lindo! Com
as azinhas estendidas parecia tomar um banho
de luz. De repente, passou pela rua um me­
nino com um bodoque na mão. Assim que viu
o sanhaço, armou o bodoque, e atirou-lhe
uma pellota de barro. O passarinho caiu.
Fui apanhal-o e vi que estava com a perninha
machucada. Lavei-lh’a com agua fria; o san­
gue estancou. Agora já está espertinho.
— Fizeste bem, meu filho, fizeste muito
bem; deves sempre tractar com amor aos pas­
sarinhos. Mas agóra para acabar a tua boa
acção, deixa-o ir embora; restitue-lhe a li-
berdade.
— Sim mamãe.
Jorge abriu a mãosinha e o sanhaço voou
alegre para o arvoredo, onde com o biquinho
começou a arranjar as pennas amassadas.
TODOS PODEM SER RICOS

— Mamãe, que lindos biscoutos! Como de­


vem estar bons ! Como eu havia de ficar con­
tente si mamãe m’os deixasse comprar!
— E quanto queres gastar em biscoutos ?
— Duzentos réis é bastante, mamãe?
— Não achas que é muito?
— Ora, é só duzentos réis; é apenas um
nickel. Para que serve um nickel?
— Para que serve um nickel? Ora tu já
vaes vêr. Sabes .fazer bem contas?
— Alguma cousa, não sendo muito diffi-
ceis.
— A conta que eu quero que faças é facil.
Vejamos : duzentos réis, cada dia quanto é no
fim do mez ?
— 29 —

— São seis mil réis.


— E seis mil réis em cada mez, quanto é
no íim de um anno?
— Seis multiplicados por doze....... são
setenta e dous mil réis.
— E guardando setenta e dous mil réis ca­
da anno, sabes quanto terás no fim de dez'
annos ?
— Setenta e dous multiplicados por dez,
são setecentos e vinte mil réis.
— Só?
— Na minha conta é assim. .
— Mas tu não contas os juros. Dinheiro
ganha dinheiro.
— Ah! mas a conta de juros ainda não a
estudei.
— Pois fica sabendo, os teus duzentos réis
diários, depois de dez annos, se transfor­
mam em mais de um conto de réis.
— Mais de um conto?
— Sim, mais de um conto.
— 30 —

— Mas assim todos podemos ser ricos.


— Ricos, completamente, não meu filho;
mas todos podem ser remediados, si tiverem
juizo, não gastando o dinheiro em cousas sem
importância.
— Ah I Por isso é que nas moedas de dous
vinténs eu vejo escripto : « A economia faz a
prosperidade ».
— E nas de vintém, sabes o que está es­
cripto ?
— Sei, mamãe, está escripto : « Vintém
poupado, vintém ganho. »

MAXIMA8

A familia é a escola que ensina a praticar


todos Os deveres.
Respeitando os paes. aprende-se a respeitar
os superiores.
— 31 —

Estimando os irmãos, aprende-se a estimar


os camaradas.
A creança que ama sua mãe, também sa­
berá amar a sua Patria.
As creanças que forem obedientes e respei-
tadoras de seus paes, serão cidadãos respeita­
dores da lei.
A creança que desobedece a seus paes priva-
se de seus guias naturaes. É o mesmo que
tornar-se orpham por sua própria vontade.
CAMPESTRE

(Zalina-Rolim.)

Longe da estrada, á beira do riacho


que molha os pés relvosos da collina,
vejo-lhe o tecto ennegrecido e baixo
e a cancéllinha bafxa e pequenina< ,
— 33 —

Da chaminé desprende-se um pennacho


de fumo branco... Levemente inclina
as verdes palmas sobre o louro cacho
do coqueiro frondoso, a aragem fina......

Faísca o sol. Do terreirinho á frente


gallinhas, patos, debicando o milho,
batem as azas preguiçosamente.

Nem um rumor de passaros palpita,


e a roceirinha, adormecendo o filho,
canta lá dentro uma canção bonita.
MOSSAS MATTAS

— Vamos começar nossa lição de leitura,


disse, o professor. Abram o livro. Lê Carlos.
Carlos leu :
« O amigo do viajante ».
< Cresce na ilha de Madagascar, principal­
mente, e é uma arvore maravilhosa, porque
não só dá agua aos viajantes mortos de sêdê, ’
como também vasilha para bebel-a, pratos,
toalhas de mesae outras cousas mais. Os ha­
bitantes d’essa ilha servem-se egualmente
d’ella para construírem suas casas e mobi-
lal-as ».
— Então é verdadeiramente uma arvore
maravilhosa, disse Carlos; que pena que se
encontre em logares tão distantes I Antes fosse
d’aqui, do Brasil.
— 35 —

— Julgas, então, respondeu o professor,


que nos faz falta a arvore do viajante ? Bem se
vê que não conheces a riqueza de nossas mat-
tas. A nossa vegetação é a mais opulenta do
globo, e para não termos inveja da arvore do
viajante, basta-nos a carnahuba, o verdadeiro
amigo dos pobres, a qual se encontra no
Ceará e outros Estados do norte do Brasil.
Com a carnahuba só, o homem pode fazer a
sua habitação, mobilal-a, illuminal-a; d’ella
extrae assucar, álcool e sal; com ella alimenta
seu gado e criações miúdas.
A carnahuba tem já hoje mais de quarenta
applicações differentes, e ainda não está com­
pletamente explorada.
Quando tivermos lição de botanica, fallar-
vos-ei mais detidamente, da carnahuba.
Por hoje basta. Continuemos nossa lição de
leitura.
0 TAMANDUÁ BANDEIRA

Os tamanduás são mammiferos pertencen­


tes á ordem dos desdentados.
Nem todos os desdentados carecem total­
mente de dentes como a denominação especial
destes animaes parece indicar; em uns faltam
■ apenas os incisivos, em outros os incisivos e
os caninos.
Os tamanduás são os que merecem pro­
priamente a denominação.
Os desdentados são, em geral, animaes pre­
guiçosos, pouco intelligentes.
— 37 —

0 tamanduá tem o corpo comprido, coberto


de pello áspero ; longa cauda ; pés fortes, de
longas unhas' para escavar; cabeça comprida
e pontuda; lingua muito estendivel. Andam
com a borda exterior da palma das mãos,
tendo as garras voltadas para dentro.
O maior e mais bello é o tamanduá ban­
deira, chamado também tamanduá cavallo.
Chama-se bandeira, por causa da sua longa
cauda, que anda quasi sempre levantada
parecendo mesmo uma bandeira.
Chega a alcançar um metro e vinte centi-
metros de comprimento, sem contar a enorme
cauda.
Sua côr é escura. Do peito ás costas corre
uma raja preta, larga, obliqua, ourelada de
branco. Em cada um dos pés dianteiros tem
também uma raja, em forma dè meia. lua.
No pescoço tem uma crina, que para
traz se vae tornando cada vez mais com­
prida.
. — 38 —

Os tamanduás alimenlam-se de formigas.


Com suas fortes garras escavam os for
miguciros, introduzem nelles a lingua com­
prida, que em pouco tempo se cobre de for­
migas, as quacs come de uma só vez, ao re­
colhei-a á bocca.
A grande mobilidade da lingua permittc-
Ihes introduzil-a, dizem, até 150 vezes por
minuto.
Os tamanduás são, pois, animaes uteis,
porque destroemas formigas que tanto damno
causam ás plantações.
São inoffensivos, mas têm grande força
corporal.
Atacados e assanhados, põem-se em pé,
rosnam e procuram agarrar o atacante para
apertal-o nos braços.
Este abraço é muito perigoso, devido á
enorme força deste vigoroso animal.
MOYSÉS - O PRETINHO

Na escola havia um pretinho chamado


Moysés.
Era um bom menino, filho, de um carpin­
teiro honrado e trabalhador. Todos o esti­
mavam. Mas Américo não gostava d’ellé. E
dizia sempre : — Negro não é gente
Os companheiros ralhavam-Jhe todos os
— 40 —

dias. Deixa o Moysés, diziam, é tão bom me­


nino ; é tão amigo de todos nós.
— Qual historia 1 dizia Américo. Já lhes
disse : — Negro não é gente!
E era assim todos os dias.
Uma vez, no recreio, inventaram de brincar
de roda. Cada um tinha que dizer uma qua-
drinha.
Moysés foi o primeiro, e cantou :
Ninguém viu o que vi hoje
um macaco fazer renda,
também vi uma perúa
de caixeira n’uma venda.

Logo depois saiu Américo e cantou :


O anú é passaro preto,
passaro de bico rombudo,
foi praga que Deus deixou
todo o negro ser beiçudo.

Moysés não gostou da brincadeira, mas


calou-se para não estragar o brinquedo.
Carlos então, para ver se-'remediava a
falta de Américo, cantou :
— 41 —

— 0 errar n'uma cantiga


não se deve admirar,
que o melhor atirador
erra um passaro no ar.

Américo era soberbo, e não quiz acceitar


a lição de Carlos, c assim que Carlos aca­
bou de cantar, pulou para o meio da roda e
cantou :
Negro preto, côr da noite,
cabello de pichaim,
pelo amor de Deus te peço :
negro não olhes para mim.

Era de mais; todos esperavam que o brin­


quedo acabasse mal, e muitos rodeav&ib
Moysés para ajudal-o, porque Moysés era
muito estimado.
Felizmente o professor, que estava na ja-
nella, yendo o que se passava, tocou a sineta,
e acabou-se o recreio.
GUERRA CIVIL

Duas irmans, no arremeço


de uma cólera sem pausa,
brigam um dia por causa
de uma boneca de gesso.

A primeira, que se roja


pelo chãp, n’um riso esperto
diz : « Foi para mim, de certo,
que o Pae a trouxe da loja. »

Mas a outra a quem ninguém vence


na gritaria e nos prantos,
jura por todos os santos
que a boneca lhe pertence.
— 43 —

E agarram-se com bravura,


gritando sempre á porfia;
quem as visse assim, diría
um duello em miniatura.

A bonequinha, coitada 1
depois da crua disputa.
e em resultado da lucta,
ficou toda esmigalhada.'

Melhor fôra ter entrado


num convênio, como amigaa,
porque afinal estas brigas
sempre dão mau resultado
A CACHOEIRA DE PAULO ÂFFONSQ

Entre as bellezas que a natureza nos apre­


senta, poucas egualam, em magestade, aos
grandes saltos de agua.
Não ha viajante que não tenha contemplado
algum d’estes grandiosos espectáculos.
No Brasil são elles bastante numerosos. Só
no Estado de São Paulo, ha o Salto de Pira­
cicaba, o Salto deltú, o Votorantim e outros.
Mas o maior e mais bello do Brasil, e tal­
vez mesmo do mundo inteiro, é a famosa ca­
choeira de Paulo Affonso.
No rio S. Francisco, a 310 kilometros do
Oceano, as aguas precípitam-se 4e uma altura
de 80 metros, cahindo sobre grandes penhas-
cbs. Apertando-se entre enormes muralhas
de granito, as aguas confundem-se, despeda­
— 45 —

çam-se, pulverisam-se, despenhando-se no


abysmo. E’ uma confusão medonha de espu­
ma, vapor e nevoeiro.
Ahi nosso espirito confunde-se, apavora-se,
extasia-se na contemplação da grandiosa
scena.
E’ um espectáculo ao mesmo tempo sublime
e imponente, em cuja magnificência um nosso
poeta (1) inspirou-se para escrever estes bel-
lissimos versos :

... Dilacerado o rio espadanando,


Chama as aguas da extrema do deserto...
atropella-se, empina, espuma o bando...
E em massa rue no precipício aberto...
Das grutas nas cavernas estourando
o côro dos trovões travam concerto...
- E ao vel-os as aguias, tontas, eriçadas,
cáem de horror no abysmo estateladas...

(1) Castro Alves. A Cachoeira de Paulo AfTonso.


Não transcrevemos toda a formosa poesia, por conter
muitas Imagens superioresá comprehensão das crianças.
0 BUGIO

E’ enorme a quantidade de macacos que sê


encontram nas mattas brasileiras. Contam-se
mais de cincoenta especies.
A grande maioria pertence á região ama­
zônica.
Os macacos brasileiros, em geral, são tre-
padores e vivem sobre as arvores.
Um dos mais vulgares é o bugio, também.
chamado guariba, que se encontra por todo
o Brasil.
— 47 —

E’ um macaco grande, barbudo, amigo das


solidões das grandes mattas.
Os bugios vivem em bandos, sob a direc­
ção de um macho velho e esperto, ao qual o
povo dá o nóme de capellão.
As arvores altas são o seu pouso predi-
Iccto. e quasi nunca descem ao chão.
De manhã, á tarde, e quando ha mudança
de tempo, soltam uivos formidáveis, que se
ouvem a grandes distancias. Por esse motivo
chamam-nos gritadores.
Alimentam-se exclusivamente de folhas,
brotos, fructos e cascas de certas arvores, que
ellcs agarram com a mão e levam á bocca.
São sérios, sisudos; ninguém os vê brincar.
Escondem-se com facilidade entre a folha­
gem das arvores.
Seus movimentos são lentos e seguros, e
servem-se admiravelmente da cauda para se
agarrarem aos galhos.
As mães carreaam os filhos novos ao colie.
— 48 —

Quando estão crescidos trazem-nos ás costa».


São difficeis de domesticar, e por isso
nuito raros nos jardins zoologicos.
Chamam quadrumanos aos macacos porque
Tinto os pés como as mãos servem-lhes de or-
gams ap^rehensores.

QUADRINHAS POPULARES

Vou para o Rio de Janeiro


fazer queixa ao delegado
que o malvado trem de ferro
muita gente tem matado.

Fui ao mar buscar laranjas,


fructa que o mar não tem ;
vim dp lá todo molhado
das ondas que vão e vêm.
ÃS PALMEIRAS

Era o dia de lição de botanica.


Todos esperavam anciosos a lição sobre a
carnahuba, que o professor promettera.
O professor começou assim :
— Um poeta brasileiro, saudoso de sua pa-
tria ausente, escreveu estes notáveis versos :
« Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá... »

— Quem foi este poeta ? perguntou o pro­


fessor.
— Gonçalves Dias, responderam diversos
alumnos.
— Justamente, foi Gonçalves Dias, o grande
poeta maranhense.
— 50 —

— E teve razão, porque no Brasil as pal­


meiras são um de seus encantos e uma de
suas riquezas.
As palmeiras foram chamadas por um
1 grande botânico os príncipes da vegetação. São -
as plantas mais elegantes; formam ornatos
silvestres superiores a qualquer descripção
em belleza e magestade. Suas folhas ou pal­
mas, fazendo curvas graciosas, deram aos ar-
chitectos antigos a ideia de magestosos edifí­
cios (1).
No Brasil temos uma immensa variedade de
palmeiras, que se prestam a innumeraveis
usos.
Entre a grande quantidade citar-vos-ei as
seguintes :
O coqueiro, ou côco da Bahia, bastante
conhecido de todos.

(<) Eis ahla explicação dos versos da primeira lição:


Vi palmeiras que serviram de modelo ás cathedraes. »
— 51 —

A pupunha, cultivada pelos indígenas,


e cuja fructa constitue em muitas paragens
seu alimento principal.
A assai, de fructos também excellentes.
A jussára, a nataná, a piassaba,a bu­
riti, a... mas chega, oorque si eu quizesse
dar-vos o nome de todas as palmeiras do Bra­
sil, deixar-vos-ia cançados.
As palmeiras nos dão fructos, licores, assu-
cares, cêra, cordas, madeira, palhas para es­
teiras, cestos e chapéus.
Emfim, quasi que se pode dizer que servem
para tudo.
E antes de terminar, quero dizer-vos que a
carnahuba, a arvore prodigiosa de que vos
fallei na outra lição, é também uma palmeira.
Mas não temos tempo de tratar hoje da
carnahuba, ficará para outra lição.
SCENAS DA ROÇA

(A. CORRÍA.)

Na fazenda do Tymbira
era velha a devoção,
de fazer-se grande festa
em dias de S. J@ão.
O velho Joaquim Medeiros,
que era a flôr dos fazendeiros,
d’aquella localidade,
esfregava as mãos, contente,
quando via, em casa, gente
de sua velha amizade.
— 53 —

D. Oiympia, sua esposa,


mãe dos pobres do logar,
tres dias antes da festa
não parava a trabalhar.
Mandava as suas mucamas.
dos quartos fazer as camas,
espanar tudo e varrer;
e, doceira de bom gosto,
lá estava firme no posto,
fazendo o tacho ferver.

Fazia dôce de côco,


laranja, cidra, limão,
bom-boccado, arroz de leite,
bolinhos de S. João,
pamonha, cus-cus de milho,
manouê, bijú, sequilho,
biscoutinhos de araruta,
tarécos, baba-de-moça,
e mil dôces que na roça
se fazem de toda a fructa.
— 54 —

fio terreiro da fazenda


preparava-se a fogueira,
e o mastro todo enfeitado
de folhagens de mangueira;
e d’entre as folhas escuras
saíam fructas maduras,
como é costume geral,
e uma boneca vistosa
de vestido cor de rosa,
fazia o tópe final.

No campo, desde a porteira


de verde murta vestida,
duas linhas de coqueiros
até á porta de saída.
De um lado a outro correndo,
dirigindo ou desfazendo
o que não via direito,
andava o rei dos festeiros,
o nosso velho Medeiros,
sempre alegre e satisfeito.
— 55 —

« — Vamos com isso, rapazes,


que temos mais que fazer,
e d'aqui por uma hora
ninguém se póde mecher.
Joaquina e Manuela,
vocês vão lâp’ra capella . .
capinar alli na frente !
Olá., moleque, ó vadio l
Chega alli embaixo no rio,
vê se vem alguma gente, »

< — Vicente, traze as bandeiras,


vai tu com elle, Francisco;
Manuel, varre p'ra um canto
e apanha depois o cisco.
Não quero ver uma palha l...
Veja depois como espalha
essas folhas de mangueira!
0’ Job, pergunta á SinhÀ
si já tem café por lá,
que mande aqui na porteira. »
OS ESCRAVOS

Era ém 1887. N’aquelle tempo ainda havia


escravos no Brasil.
Ilenriqueta, a filhado um importante fa­
zendeiro de Campinas, festejava o dia de seus
annos.
A’ hora do jantar, quando todos estavam
— 57 —

sentados á mesa, o fazendeiro levantou-se e


disse :
— Minha filha, completas hoje mais um
anno. Quero fazer-te um presente ateu gosto.
Dize o que queres. Queres um rico vestido de
seda? Queres um adereço de brilhantes?
Queres um lindo cavallo de raça? Falia, mi­
nha filha; falia, porque eu quero que fiques
muito alegre com o meu presente.
-•— E si eu pedir alguma cousa muito cus­
tosa ? perguntou Henriqueta.
— Falia, já disse; eu te darei o que pe­
dires?
— Tudo, tudo?
— Tudo o que quizeres.
— Então eu quero que papae dê carta de
liberdade a meus criados; quero que também
elles possam gosar de minha festa.
0 fazendeiro, que era muito generoso,
ficou muito alegre, abraçou a filha e disse-
lhe:
— 53 —

— Filha, vou fazer o que me pedes, mas


não darei carta de liberdade só a teus criados
mas a todos os escravos da fazenda.. Quero
que a alegria seja geral. E estou certo que
não me arrependerei de seguir o que te diz
o coração, porque o Brasil, para ser rico e
feliz, não precisa ter escravos.
Depois do jantar, Ilenriqueta chamou um
por um a todos os escravos da fazenda, e deu-
lhes as cartas de liberdade.
Os escravos vinham alegres, e traziam as
mais bellas ílôres para depositar aos pés dc
sua bemfeitora.

Nenhum dos libertos saiu da fazenda, e


como homens livres, trabalhavam melhor do
que outr’ora.
E o fazendeiro viu sua lavoura cada vez
mais importante,, graças ao trabalho livre.
A VINGANÇA DE MOYSÉS

Depois do brinquedo dos versinhos, Moysés


c Américo não se falavam.
Mas Moysés dizia sempre :
« — Hei de vingar-me; deixem estar o
Américo, que elle me ha de pagar! >
E corriam dias c dias, e Moysés nada
fazia.
— 60 —

Américo andava amedrontado : < Si elle


me fizer um arranhão, dizia, eu lhe esmurro
as ventas ; Moysés não sabe com quem está li­
dando 1 Elle que venha p’racá! ... »
Os companheiros queriam acabar aquella
questão azeda, e pediam-lhes que ficassem
amigos outra vez.
« Qual o que! > respondia-lhes sempre
Moysés, « primeiro quero vingar-me. »
Américo, por sua vez repetia : « Eu não.
conto com negro ! Negro não é gente! E que
elle não mexa commigo, porque senão... elle
ha de conhecer o tutano deste pulso.
E assim continuava a inimizade entre
ambos.

Um dia Américo ia para a escola, e encon-


trou no caminho um menino carregando um
cesto de laranjas. O menino era preto como
Moysés.
— 61 —

— « A como vendes as laranjas? > pergun­


tou Américo.
—• « Não são para vender », respondeu o
menino.
— « Mas eu quero comprar. »
— « Mas eu não quero vender. »
— « Eu já te mostro si vendes ou não. »
E Américo arregaçou as mangas e avançou
para o menino.
' A cesta foi ao chão e as laranjas rolaram
na rua.
— « Negro atrevido », gritou Américo.
— « Atrevido é você, seu mi criado, » res- '
pondeu-lhe o outro.
E agarraram-se e rolaram1 por terra.
Porém o pretinho era mais forte e mais
ligeiro que Américo, e conseguiu ficar por
cima. E gritou : < Então quem é negro atre­
vido ? Diga outra vez se fôr capaz. E ar­
mou os braços para bater em Américo.
Quando, porém, foi dar um valente socco,
— 62 —

sentiu os braços presos. Virou-se; era


Moysés.
Moysés tinha assistido a tudo, de longe, e
correra para acudir ao seu companheiro.
O pretinho não podia luctar com os dois, e
assim Américo poude escapulir-se, correndo
em direcção á escola.
Moysés pediu desculpa ao pretinho, e depois
ajudou-o a ajuntar as laranjas.
N’isto chegaram diversos meninos da escola
Moysés virou-se para elles muito cpntente
e exclamou : — < Eu não lhes disse que me
havia de vingar? Si Américo não está todo
esmurrado deve-o ao pretinho Moysés, de
quem tanto zombou ». E bateu no peito com
a mãosinha fechada. « Agora, sim, agora es­
tou prompto a fazer as pazes, porque estou
vingado.
0 PAE MACACO

(Fabula.)

(Anastácio do Bom Successo.)

Um mono forte, cadimo,


delambido, desordeiro,
casou-se; e desse consorcio
houve um filhinho bregeiro.
O mono mudou de vida;
tornqu-se sério, sisudo,
era um prazer ver tãl bicho
grave nos gestos, em tudo.

E o macaquinho, que viu


a paternal gràvidade,
foi o macaco mais sério
da nossa heróica cidade.
MORALIDADE

Coro vexatórias medidas,


com castigos corporaes,
não é que se formam filhos
que honrem as cans dos paes.
E d’esse esboço grosseiro,
que tracei e que contemplo,
quero provar qual a força,
o poder do bom exemplo.

TEMORES

Um rato se assustava
do gato do visinho;
gato que também teme
a um cão de mau focinho;
o qual por sua vez
do lobo não gostava,
do lobo que tremia
quando o leão passava.
CARREGANDO UM PIANO

Era no Rio de Janeiro.


Por uma das estreitas ruas do bairro da
Saúde, vinham quatro pretos carregando um
piano.
Vinham cantando assim:
Bota a mão
nc> argolão;
Sinházinha
vae tocar;
— 66 —

afinador
vem afinar;
Sinházinha
vae pagar.

Este canto servia de aviso ás pessoas que


estavam na rua para que deixassem a passa­
gem livre. Ao mesmo tempo, cadenciava os
passos dos quatro pretos.
Os carregadores vinham de longe; estavam '
cançados. Felizmente approximavam-se já da
casa para onde tinham de levar o piano.
Mas ao virar de uma esquina não pudeçam
seguir para a frente; uma carroça vasia atra-
vancava a rua; o carroceiro não estava alli
para retiral-a.
Que fazer ?
Alguns homens saíram ás pòrtas para ver
o quese passava na rua. Um dos carregadores.
fallou-lhes : Yoyó! ajude pobre negrcfctirá a
carroça pr'a negro passá..
— Não tenho nada ççm a carroça; esperem
' , /' ■■ •. ' :
— 67 —

que o carroceiro chegue, respondeu o homem.


E virou as costas.
Então, um menino que tinha visto tudo, um
pequeno de oito annos, saltou para a rua,
agarrou as rédeas dos burros e affastou a car­
roça para um lado.
— Deus lhe pague, Yoyôzinho, disse o
preto, Yoyôzinho fez.acção de branco.
E lá foram os pretos carregando o piano e
cantando :
Bota a mão
no argolão;
Sinházinha
vae tocar;
afinador
vem afinar;
Sinházinha
vae pagar.

Fazer o bem sem olhar a quem.


Julia estava dormindo em sua caminha de
cortinados azues. Eram onze horas da noute.
Juncto de sua caminha dormia seu irmão
Mario. Julia cuidava de seu irmãozinho, e
por isso dormiam ambos no mesmo quarto.
No melhor do somno Julia acordou com os
gritos de : Fogo! Fogo!
Saltou da cama, embrulhou-se n’um chale
d correu para a porta do quarto.
A casa estava em chammasl
0 fogo, que tinha começado na cozinha, la­
vrara com furia.
Julia estava já no corredor, perto da porta
da rua. Repentinamente lembrou-se que Ma­
rio tinha ficado no quartoj Quiz voltar. As
linguas de fogo começavam a invadir o cor­
redor; a fumaça privava-lhe a respiração.
N’este instante ouviu a voz do irmão que
chamava, chorando.
Sem medir o enorme perigo que corria,
precipitou-se pelo corredor, penetrou no
quarto, agarrou no menino e saiu.
No corredor já agora o fogo estava medo­
nho. Julia cobre a cabeça com o chale, esconde
embaixo o irmão e corre pelo meio das cham-
mas.
Finalmente chega á rua. Estam salvos!
A CARNÃHUBA

O professor começou a lição de botanica.


— «A carnahuba é natural do norte do
Brasil, e principalmente dos Estados do Rio
Grande do Norte e Ceará. E’ uma bella pal­
meira que attinge até 16 metros de altura.
O fructo é redondo e do tamanho d(e uma
avelã. O çarôço contém uma amêndoa. E tanto
a polpa como a amêndoa fornecem alimento
sadio, procurado pelos naturaes.
Os fructos torram-se e pisam-se, e o pó
assim obtido tem um cheiro agradavel, e pro­
duz uma bebida, que, misturada com o leite,
é sa,udavel e nutritiva.
Os fructos servem ainda ,dé alimentação ao
gado.
— 71 —.

A madeira, usada para construcções, é in­


corruptível e ha casas no Ceará, em que não
se emprega outra. Da carnahuba fazem-se os
esteios, as vigas, os barrotes e as ripas.
Serve também para obr,as de marcenaria, para
bengalas, para objectos delicados. E’ uma
bella madeira amarelio-avermelhada, com
veias pretas, dura e resistente.
0 espique serve também para canos de
bomba.
A parte superior do espique contém o pal­
mito, que produz um alimento delicado c
substancial.
Da massa do caule, triturada em agua, ob­
tem-se uma boa farinha.
As folhas são cobertas de escamas esbran­
quiçadas, que aquecidas ligeiramente, se der­
retem, c fornecem üma cêra muito empregada
no fabrico de vellas.
As folhas aproveitam-se também para fazer
chapéus, esteiras, vassouras, capachos e cor-
— 72 —

das. Prestam-se também para a fabricaçãj do


papel. E ainda são usadas para cobertura de
casas.
As raizes têm uma grande applicação me­
dicinal.
A carnahuba possue ainda uma grande par­
ticularidade. Nas estações de secca, quando se
passam ás vezes seis mezes sem chover, a ve­
getação murcha ; as folhas cáem; a terra, per­
dendo a humidade, abre-se em grandes fen­
das; e as campinas do Ceará apresentam um
aspecto triste e desolador. E quando por toda
a parte só se encontra a morte, a ruína, a ter­
rível secca, a carnahuba ergue magestosa-
mente suas palmas para attestar que ainda ha
vida n’aquellas regiões.
a BORBOLETA

(Anastacio do Bom Successo.)

Em lindos vergeis correndo


a borboleta vagava,
n’uma flôr adormecendo,
já em outra repousava.
Por sobre cravos e rosas,
continuava adejando,
boninas, dhalias formosas
ia contente beijando?
Mas de repente extremece,
flôr venenosa tocara:
— A borboleta fenece
na mesma flôr que beijara 1
Quando queremos gozar
mil prazeres n’esta lida,
a morte vamos buscar,
pensando buscar a vida.
QUE BOM IRMÃO

Henrique e Carolina brincavam no jardim,


correndo por entre os verdes canteiros salpi­
cados de flores.
Pareciam duas borboletas brancas.
Suas risadinhas agudas mostravam a ale­
gria de que gozavam.
Carolina quiz esconder-se do irmão, e correu
— 75 —

para detraz de uma jarra de mármore cheia


de parasitas.
Ella foi, porém, tão infeliz, que, ao abaixar-
se, perdeu o equilíbrio e caiu. A jarra tam­
bém caiu e quebrou-se.
■ N’esse instante entra ó pae no jardim e ex­
clama : Ah! estouvados, como quebrastes a
jarra tão linda e de tanto valor? (
— Não foi Carolina, gritou vivamente Hen­
rique, que já estava junto d’ella, fui eu,
quando quiz agarral-a.
— Não, tornou Carolina, fui eu mesma,
papae; a culpa é toda minha.
O pae, vendo tanta/ airiizade, tanta dedica­
ção nos dous irmãos, abraçou-os e disse-lhes :
— Não foi Carolina, não foi ^enrique; foi
simplesmente o acaso... Ide brincar outra .
vez.
0.RIBEIRO E A LAGOA

(FabuZa.)

Corria um pequeno ribeiro nas proximi­


dades de uma lagôa.
Dizia a lagôa ao ribeiro : — Triste, bem
triste é a tua sorte; sempre correndo, cor­
rendo, sem um instante de repouso; é bem
triste o teu viver. Tens inveja de minha sorte,
não é verdade? Eu goso de uma tranquillidade
completa; ninguém ousa incommodar-me;-e
emquanto todos »o cançam no trabalho, eu
durmo sempre coberta nor meu manto de
algas.
I -£77.1 ■

— Não; não tenho inveja de tua vida, res-


\ pondeu o ribeiro. Não me pesa o trabalho^
Não paro um instante, é verdade, mas as mi­
nhas aguas são límpidas, puras e crystalinas.
E tu, entregue á preguiça que te domina,-cor-
rompes-te miseravelmente,. Todos os dias sou
procurado pelos homens. Approximam-se de
minhas margens, e eu lhes sacio a sede; en­
tretanto fogem de ti com asco, porque és fé­
tida e pestilenta.

MAXIMAS

A solidãÒ torna o homem infeliz.


Não ha maior infelicidade do que não ter
amigos.
Nossos irmãOK, são amigos sinceros que o
nascimento nos deu.
Um mau camarada é aquelle que nos pede
ou nos aconselha aquillo que não ousa pedii
— 78 -

ou aconselhar perante os mestres ou perante


os paes.
Para conservar seus amigos é preciso ser
justo e bom para com elles.
Para ser justo é preciso não ser egoista nem
invejoso.
Para ser bom amigo é preciso muitas vezes
esquecer as faltas que se notam nos outros.
A ONÇA

O Brasil é verdadeiramente favorecido pela


natureza, pois, apezar da grande riqueza de
suá fauna, poucos são os animaes ferozes que
possue. Não acontece o mesmo em outras
regiões. Na Asia e na África, o homem lucta
com grande numero de animaes ferozes. O
leão, ò tigre, a panthera, o rhinoceronte e
muitos outros são animaes perigosissimos.
Aqui, o mais temivel que temos ó a
onça, também conhecida por jaguar. E’
— 80 —

um animal parecido com o gato, mas de ta­


manho muito maior. Chega a ter até metro e
meio de comprimento e oitenta e cinco cen­
tímetros de altura. Sua pelle é de uma bella
cor amarellada, com malhas pretas. Ha tam­
bém onças completamente pretas, a que o
povo chama tigres.
A onça é animal essencialmente carnívoro.
E’ mais forte que todos os outros do Brasil, e
a todos dá caça.
Em suas garras cáem os veados,. as capi­
varas, os porcos do matto, as antas, emfim to­
dos os mammiferos, das mattas brasileiras.
Não lhe escapam nem mesmo os jacarés,
quando os pilha aquecendo-se sobre algum
banco de areia, longe da praia.
Nas fazendas de criar, ataca o gado, fazendo
grandes devastações.
Para caçal-a é preciso ter muita coragem,
sangue frio, olhar certeiro e boas armas.
Errando ó tiro, o caçador corre imminente
-8iM

perigo, porque a onça tem uma agilidade só


comparável á sua força prodigiosa.
Sua pelle, quando preparada, alcança muito
bom preço. Comella fazem-se ricos tapetes de
sala.
Além da onça pintada, ha também no Bra­
sil a onça vermelha ou suçuarana, co­
nhecida também pelo nome de leão do
Novo-mundo.
Semelhante á onça, mas de tamanho menor,
temos a jaguatirica e o gato do matto.
Os indivíduos d’estas duas especies, tam­
bém muito bellas, só ataçam animaes pe­
quenos.
O gato do matto, pouco maior que o gato
domestico, é um terrivel ladrão de gallinhas.
ROSA

(Affonso Oelso Junior.)

Rosa colhia sósinha


lindas rosas ho jardim,
e nas faces também tinha
rosas da côi^do carmimV

*
— 83 -

Cfieguei-me e disse-lhe : « Rosa,


qual d’essas rosas me dás?
As da face primorosa
ou essas que unindo estás?

Ella fitou-me sorrindo;


inda mais enrubesceu.
Depois, ligeira fugindo,
de longe me respondeu :

« Não dou-te as rosas das faces»


e nem as que tenho na mão.
Daria, si me estimasses,
as rosas do coração.
MIM! E 0 GIGANTE

Mimi cantava quasi todo o dia. Era uma


creança feliz. . .
Um dia saiu do logar em que morava e foi
passear a uma floresta...
Havia muito tempo que desejava ir áquelle
— 85 —

logar, que lhe parecia muito bonito; mas


tinha receio de ir sósinho a logares solitá­
rios.
N’esse dia aventurou-se. O sol estava bri­
lhante. O arvoredo copado, frondoso, parecia
convidar a um passeio pela sombra fresca.
Passeou algum tempo vendo lindas flores, co­
mendo alguma fructinha silvestre. E. cantava,
cantava, alegre, satisfeito cõm o seu passeio.
De. repente sentiu suas perninhas presas.
Tinha sido agarrado n’um laço.
E logo um gigante enorme, cem vezes
maior do que Mimi agarrou-o pelas costas.
O gigante era tão grande, que Mimi ficou-
lhe escondido dentro da mão.
A principio, Mimi pensou que o gigante ia,
comel-o, mas não foi assim; pôl-o dentro de
um sacco e amarrou-o.
Mimi debatia-se procurando sair. < Tu não
sairás >, dizia o gigante com grandes risadas.
Afinal chegaram á casa do gigante.
- 86 —

Era uma casa triste, com um grande muro


em roda, sem arvores, sem flores. 0 gigante
tirou Mimi do sacco.
Mimi pensou que tinha chegado sua ultima
hora, porque, olhando em redór, viu um
grande fogo, e quatro victimas parecidas com-
sigo que estavam no espeto para a ceia do
gigante. •
0 gigante não o matou, mas fechou-o n’uma
prisão rodeada de varões de ferro.
Mimi debatia-se desesperado; dava com a
cabeça nos varões; chamava pela mamãesinha;
mas tudo em vão; ninguém lhe acudia. 0 gi­
gante poz dentro da prisão um pedaço de pão
e um pouco de agua e deixou-o.
No dia seguinte, o gigante vendo que Mimi
não tinha comido, quiz fazel-o comer á força,
pondo-lhe pedaços de pão na bocca. Mimi en-
guliu alguma cousa contra vontade. Depois o
gigante quiz que Mimi cantasse como quando
estava alegre. Mas Mimi não podia cantar.
— .97 —

Como fazel-o n’uma prisão ? Estava tão triste


o pobresinho!
Então o gigante encolerisou-se : « Eu te fa­
rei cantar, tratante, » disse furioso. Abriu a
prisão, agarrou Mimi pelo pescoço. Mimi lan­
çou um grito, estremeceu nas mãos do gigante
e caiu morto.

Sabeis quem era Mimi?.. Era um passa­


rinho.
E o gigante?... 0 gigante era um mau me­
nino que não ia á escola e só se occupava em
caçar passarinhos.
A VICTORÍA REG!A

Sobre as aguas do nosso magestoso Ama­


zonas encontra-se a Victoria Regia, a, flôr
gigante, de uma encantadora belleza.
Isolada quasi, formando um mundo aparte
nos remansos tranquillos, nas voltas do rio,
nos logares menos batidos pelos pescadores, a
Victoria Regia desdobra suas enormes
folhas circulares, de bordos cairellados de
vivo carmezim.
Ergue pouco acima das aguas suas grandes
flores; de manhã alvas como apenna da garça;
de tarde de uma côr de rosa admiravel, cujos
matizes vão ficando mais carregados á medida
que anoitece. ' •
■* •’ ■
— 89 — ’

Pela sua belleza, pelas suas gigantescas pro­


porções é considerada a maravilha do mara­
vilhoso Amazonas.
Nos jardins botânicos da Europa cons-
troem-se para seu cultivo custosas estufas
sobre vastos lagos. Ahi todos os cuidados lhe
são prodigalisados, e quando se consegue uma
ílôr, causa a admiração da turba de visitantes.
No Amazonas é chamada : forno de jacarés
—, por causa de sua forma e também porque,
por baixo de suas enormes folhas, aninham-se
numerosos bandos d’esses reptís.
Chama-se também — milho d’agua — por
causa das sementes, que, assadas, comem-se
como as do milho.
As folhas chegam a ter metro e meio de diâ­
metro, de modo que uma só planta cobre uma
superfície considerável.
1
A ONÇA, A CAPIVARA E A PACA

(Fabula.)

Um dia a paca, brigando com a capivara,


resolveu matal-a. Para! isso foi pedir conselho
á onça.
— « Arma-lhe um mundéu, disse-lhe a onça;
e quando a apanhares vem chamar-me que eu
a arranjo.
— < A paca armou o mundéu em uma pi- ■
cada, por onde sua inimiga costumava passar.
Foi infeliz a paca, porque na occasião em
que se certificava da perfeição de sua obra, es­
corregou e caiu no mundéu.
— «Instantes depois, passou por ahi a onça.
— « Temos almoço », exclamou ella.
— < Caí no mundéu que armei >, respon­
deu-lhe humilde a paca. ' . ,
— « Estou vendo, estou vendo, disse a
— 91 —

onça; eu pensei almoçar hoje capivara, e vejo


que almoçarei paca.
— < Como! protestou a paca, não podes
fazer isto, pois se eu armei o mundéu foi por
teu conselho.
— « Pois sim; eu bem sei. Mas o mesmo
conselho eu dei á capivara. E agora digo-te
umacousa que te deve lisongear: — Eu gosto
mais de carne de paca do que de carne de ca­
pivara. > ;.<!
E a paca serviu de almoço á onça.

QUADRINHAS POPULARES

Puz-me a contar as estrellas


com a pontinha da espada;
principiei á meia nouté •
terminei de madrugada.
Atrevido passarinho,
onde foi fazer o ninho,
na mais alta laranjeira
no derradeiro galhinho.
D PEQUENO TRAVESSO

Luiz Murat.

Bem feito ! Jorge era um pequeno máo...


Desde manhã esse menino andava
pelo pomar atraz de um picapáo '
du de uma rola que no azul passava.

A. mãe ralhava-o com ternura e Q,mor:


— Deixa, meu filho, em paz os passarinhos.
— 93 —

Porque mataste esta innocente flôr


e esses implumes passaros nos ninhos?*; ,
Mas não tomava tento esse pequeno
de faces rechonchudas e vermelhas.
Disse-lhe um dia üm lyrio alvo e sereno :
— Bem merecias um puchão de orelhas.
Um dia com outros companheiros
partiram para a pesca; o sol nascia
e rutilava pelos castanheiros,
que uma neblina escassa ainda cobria.
Jorge, que era de todos o mais forte
e o mais audaz, lança-se ao rio e nada :
como um guerreiro não temia a morte;
e depois que a sua alma arrebatada
fosse por essa indomita corrente,
que mal havia ? Ora, morrer quhmporta ?
Quem morre fecha mysteriosamente
a porta d’este mundo e abre outra porta
que ao ceo vai ter. — E emquanto isto dizia
os outros com o olhar o acompanhavam...
Ora chegava á praia, ora fugia.
— 94 —

Sobre as vagas do rio que o levavam


um sabiá cantava ao longe... Emtanto |
um grito se ouve e elle-que não tem medo
á praia volta, pallido de espanto,
com um carangueijo pendurado ao dedo.

MAXIMAS

Aquelle que não se respeita não será res­


peitado.
A hygiene recommenda tres cousas — ar,
agua c exercício.
As boas maneiras se aprendem com as boas
companhias.
Aquelle que mente para evitar um castigo
é um covarde.
Aquelle que pratica um mal deve ter a co­
ragem de confessal-o; só assim o mal pode
ser remediado.
Depois da edade de estudar vem a edade de
trabalhar.
A LÍNGUA MATERNA

Godofredo, um peraltasinho de noveannos,


estava á porta de sua casa, esperando o ven­
dedor de hortaliças, para comprar couves e
cebollinha, quando passou o carteiro e deixou-
lhe nas mãos uma carta.
Era de seu primo Juca. A carta dizia assim; :
S. Paulo, 16 de novembro de 1895.

< Meu guerido primo :


< Desego que você estçga gosando saude em
« companhia de minha bôa titia. Te escrevo
« hoge só para te dizer que vou pasar oito
« dias com você. Partó amanhã. Adeus. Lem-
« brancas do teu primo
< Juca. »
Assim que Godofredo terminou a leitura da
carta, esqueceu-se do que estava fazendo á
porta; e saltando e agitando a carta no ar foi
aonde estava o papai. v<
— Que barulho é este, meu filho ? ' pp'
— Adivinhe lá o que é, papai; respondeu
Godofredo, occultando nas costas a mãosinha
que segurava a carta. Ih! não adivinha mes­
mo! Foi o primo Juca que me escreveu.
N’este tempo os outros dous irmãosinhos de
Godofredo, o Luiz e q Mario, curiosos como
dous macaquinhos, tinham vindo também sa- '
ber a causa de tanto barulho.
— Deixa-me lêr a carta, pediu o papai, que
estava sentado n’uma rede ao canto da varanda.
— Está muito bem, disse elle ao terminar;
eu também fico muito satisfeito por vir o Juca.
Mas vem cá, meu filho, e vê como teu primo
já escreve bem, apezar de ter na carta alguns
erros de orthographia.
— E’ verdade 1 tem mesmo desejo, esteja, e
— 97 —

hoje escripto com g em vez de ser comj; tem


passar com um s só; e lembrança sem ç, disse
Godofredo, e accrescentou :
— Mas o que tem isso, papai ? O Jv.ca não
pode mesmo escrever muito certo, pois faz só
dous annos que elle está no collegio!
— Para o teu primo não tem nada, porque
elle ainda é creança e está aprendendo; mas é
que ha muita gente que envelhece sem saber
fallar e escrever a sualingua. Para esses é que
é feio! Aprendem a fallar inglez, francez, alle-
mão e italiano, mas á lingua materna não de­
dicam nem ao menos alguns minutos de es­
tudo. São uns papagaios enfeitados.
— Ora digam-me vocês, quaes foram as
primeiras pessoas que vocês conheceram ?
— Foi a mamãe, disse o Luiz, que era o
mais moço.
— Foi o papai, disse o Mario para agradar
ao Snr. Alfredo.
— E eu? faliou Godofredo meio enciumado;
4

- 98 -

vocês não me conheceram também primeiro?


E a vovó? E o vovô ?
— Emfim continuou o Snr. Alfredo, vocês
conheceram primeiro a gente de casa, não é?
Depois os visinhos, os parentes e os amigos,
isto é, a gente de fóra.
— Foi mesmo assim, disse Mario admirado.
— Pois bem, vocês não acham que a gente
deve, do mesmo modo, primeiro conhecer bem
a linguagem de nossa casa, para depõis apren­
der as linguas estrangeiras, isto é,'í| lingua­
gem das casas dos outros?
—E’ mesmo, disseram em côroos meninos.
DEPOIS DA AULA

Acabavam de soar tres horas no relogio da


escola. .
O professor despediu-se dos alumnos.
A créançada sahiu alegre, satisfeita. A rua
ficou cheia de meninos. Dispersavam-se cm
todas as direcções, anciosos por chegarem a
suas casas.
— 100 —

N’esse momento passava correndo pela


frente da escola um menino carregando uma
cesta. De repente tropeçou e lá foi de ventas ao
chão. A cesta voou longe e tudo o que ella
continha espalhou-se pelo chão.
Fiau! Fiau! Fiau! gritou a creançada.
O menino levantou-se com a cara ensan-
quentada e a roupa suja. E ao ver a cesta no
chão, rompeu a chorar. Uma garrafa de leite
quebrada, ovos esmigalhados, fructas espa-'
lhadas pelo chão, sujas de pó.
O pobre menino estava pateta.
E a creançada a vaiar : — Fiau! Fiau I .
Fiau 1
Carlos adiantou-se e gritou para os com­
panheiros : — Que é isto! pois vocês não têm
compaixão deste pobre rapaz? Querem ainda
augmêntar-lhe adôr? Vamos ajudal-o ; quem
acompanha? •
— Eu, eu, eu, gritaram todos.
Então um apanhou os fructos e foi laval-os
— 101 —

ao chafariz. Outro, cscovou-lhé a roupa. Car­


los foi procurar uma toalha molhada e limpou-
lhe o rosto. . ...
Um d’elles tirou o chapéu e foi pedindo
nickeis aos companheiros, e quando teve a
quantia necessária correu á venda, próxima e
comprou ovos.
O menino já não chorava. Olhava para um
lado ; olhava para outro; estava admirado.
Quando se viu limpo e com a cesta cheia,
quiz fallar e não poude, tão grande era a sua
commoção. Afinal conseguiu dizer. — Obri­
gado.
E partiu.
Muitas vezes, pratica-se um mal sem pensar,
mas quando se tem bons sentimentos, basta
uma palavra para despertal-os.
A PREGUIÇA

0 elephante é o maior dos animaes terres­


tres; a baleia, o maior dos aquaticos; a girafa;
o mais alto; o tatú, o mais cascudo; a ra­
posa,. o mais astuto; o papagaio, o mais pal-
radór; o rqacaco, o mais gaiato.
— 103 —

E sabem qual é o mais vadio ?... E’ a pre­


guiça.
E’ um animal feio que vive trepado pelas
arvores, comendo brotos, folhas tenras, cas­
cas e fructos.
Seus movimentos são lentos, extraordina­
riamente lentos. Passa horas, e ás vezes dias
inteiros sem mudar de logar.
Leva um tempo enorme a subir ao alto de
uma arvore, e só se resolve a descer, quando
a sêde o aperta. Na descida é tão vagaroso
como na subida, e quando se sente perto do
solo, deixa-se ás vezes cair, mas não adianta
nada com isso, porque depois da queda, fica
ainda mais vagaroso.
E’ um pouco parecido com o macaco, mas
não é macaco, pois pertence á ordem dos
desdentados.
Um poeta, referindo-se a este animal, es­
creveu estes versos muito interessantes :
— 104 —

A preguiça
Viu nascer a manhã, e socegada
Inda a preguiça íica recostada;
Ouviu dar meio dia, então bradou :
— Logo mais me levanto... e se deitou.
Viu a tarde chegar pura e louçã :
— Hoje não trabalharei, mas amanhã...
Diz ella, e depressa adormecendo
Nem percebe que vae anoitecendo.

E quantas pessoas ha por este mundo que


imitam a preguiça! Talvez não lhe seguissem
o exemplo, se soubessem quão repugnante e
feio é esse animal.

A preguiça anda tão vagarosa, que a misé­


ria a alcança sempre.
MENTIRAS

A um banquete sumptuoso
fui com meu pae convidada:
não imaginas que goso,
não faltava mesmo nada.
As luzes que faiscavam
em globos grandes, vermelhos.
os raios multiplicavam
nos crystaes e nos espelhos.

A sala estava adornada


de cortinados de cores;
eram de prata lavrada
as ricas jarras de flores.
— 106 —

E na mesa, que fartura!


esparges, ostras, mariscos;
nem sei a nomenclatura
de tão gostosos petiscos.
Grandes peixes, aves, caça,
leitôas, perús e patos,
e tortas feitas de massa
com differentes formatos.
Nem fallo na garrafeira
— Era a torre de Babel —
Lacrima-Christi, Madeira,
Porto, Xerez, Moscatel.
Era mesmo surprehendente
dos doces a quantidade
só de vel-os, quasi, a gente
perdia logo a vontade.
Por fim trouxeram um prato,
numa salva colossal
— era um bolo com formato
moderno e original.
— 107 —

Partiram o enorme bolo,


... e quem podia esperar?
... sabes como era o miolo?
...qual... não podes atinar.
Pois, o miolo era um bando
de vinte e cinco pombinhos,
que dispersaram, voando
enfeitados com lacinhos.
A priminha
que lhe ouvira
a mentira
colossal,
respondeu-lhe;
De espantar-te
vou Contar-te
outra egual.
Eu também fui convidada
para um famoso jantar
e fiquei embasbacada,
era mesmo de espantar.
— 108 —

Mas de tudo, o mais notável


loi o tal bolo final,
um trabalho admiravel
de um cosinheiro genial.

Partiram o grande bolo


com toda a solemnidade.
— Sabes como era o miolo ?
... Verdadeira novidade.

Em vez de sair um bando


dé pombos... foi mais galante
— saiu correndo e saltando
uma tesoura gjgante.

Disseram da tesourinha
mil cousas maravilhosas;
que até cortava a linguinha
das meninas mentirosas!
0 CREPÚSCULO NA ROÇA

O sol recolhe-se pouco a pouco, de seu pas­


seio triumphal; apenas na orla do poente, lis-
trões, vermelhos como sangue, estendem-se
parallelos a outros dourados e azües; são
faixas tricolôres. As nuvens loiras perdem o
seu vivo tom, desmaiam e apagam-se. O arvo­
redo penetra na penumbra; vai tornando-se
indistincto. O ar toma uma côr de prata la­
vrada.
Baitacas, primeiro aos pares, depois em
bando, como pontos negros passam muito
alto, e somem-se progressivamente lá, ao
longe, por cima da linha pardacenta das mon­
tanhas, em busca do pouso; curiangos, soltam
— 110 —

pios tristes, cortando o espaço em curvas


enormes. Da grama sobem triilos agudos, ora
destacados, ora seguidos : são os grillos que
festejam o despedir da luz.
Do bambual o tico-tico-rei, ou da laran-
geira o sabiá de peito amarello, soltam o ulti­
mo canto que morre com a tarde.
Na volta da encosta, morro abaixo, pela es­
trada amarella, o boiadeiro afugenta o gado
com o aguilhão, ao mesmo tempo que canta
um verso que aprendera no desafio do ultimo
racha-pé. Um ou outro mugido solta agora
o gado ao approximar-se do curral.
Queda-se mais e mais a natureza. Sente-se
a opacidade crescer, crescer... A noite vai
abrindo o negro manto, placidamente.
Começa a sombra o seu mister; envolve
tudo : os telhados, as arvores, as flores dos
diversos matizes.
Da floresta sente-se ainda o vago ruido, que
também vai já morrendo; são as notas dos
— 111 —

gaturamos, os pios dos macucos, o gargalhar


do passaredo miúdo, o zumbido dos insectos,
o silvo das serpentes, o miar das jaguatiricas,
o murmurio dos regatos; são as mil vozes em
comfusão, graves, doces, furiosas, que a vita-
lisaram durante o dia, e que agora, de mistu­
rada, fogem pelos carreiros, atravez a ramaria,
na corrente dos riachos, tranquillisando-a,
emmudecendo-a.
Avança a obscuridade.
Começa a noite.
Alfinetes de luz rasgam-lhe aqui e alli o
manto sombrio; a lua, ergue-se do levante,
serena, calma, como se fôra um enorme balão
de prata.
0 CEST1MH0 DE JÂBOTlCABAb

Dona Margarida estava em pé na soleira da


porta de sua casinha, junto da estrada. Eram
nove horas da manhã, e ella alli estava espe­
rando seu filho mais velho, o José, que fôra á
roça ajudar o pae. Antonino, o pequeno,
apromptava-se para ir á escola.
N’este tempo chegou Dona Julia, sua vi-
sinha e comadre, trazia um cestinho de jabo-
tiçabas muito frescas, maduras, pretas, re­
luzentes.
— Quero que prove as primeiras j abo ti cabas
de meu pomar, disse Dona Julia; apanhe»’33
agóra mesmo, estão dôces como mel.
— 113 —

Muito obrigada, comadre, muito obrigada;,


a senhora não se cança de obsequiar-nos; eu
até já não sei como agradecer, respondeu Dona
Margarida.
Depois que sua comadre saiu, Dona Mar­
garida chamou o Antonino e deu-lhe o ces-
tinho. —Toma, lhe disse, e no recreio regala-
te com os teus companheiros.
N’este instante chegou da roça o irmão mais
velho, que vinha buscar almoço para o pae.
Vinha suado, vermelho do sol.
Emquanto a mãe foi á cosinha arranjar ó
almoço, Antonino pegou no cestinho de jabo-
ticabas e pôl-o no samburà que o irmão trazia
a tira-collo. Leva-o, disse elle, você deve ter
muita sêde na roça; eu na escola não apanho
sol, e posso passar muito bem.sem fructas.
E lá foi o cestinho de jaboticabas para a
roça.
Chegando lá, José deu o almoço ao pae, e
depois tirando o cestinho disse : —trago aqui
— 114 —

umas jabuticabas que o Antonino ine deu, va­


mos comel-as, papae; vamos, que estão muito
frescas.
— Ora, meu filho, guarda-as antes para de­
pois ; nós as levaremos para casa e as come- -
remos com tua mãe; tu sabes como ella gosta
de jaboticabas.
E á tarde, quando cançados do trabalho
voltavam alegres para casa, o cestinho de ja­
boticabas também voltou.
Os fructos foram saboreados por todos.
— Nunca comeram jaboticabas tão doces I
diziam.
Que familia feliz!
A GIBOIA

As maiores serpentes que ex^tepi no Brasil


são as giboias e as sucuris.
A giboia chega a ter de 7 a 10 metros de
comprimento, e a grossura de uma perna de
homem.
Vive acoutada nas moitas, em buracos,, nos
— 116 —

rochedos, ou occulta em escavações nas raizes


das grandes arvores.
Sobe ás vezes pelas arvores acima, em
busca dos animaes a que dá caça.
Persegue pacas, cutias, capivaras, com as
quaes se alimenta. Destróe grande quanti­
dade de ratos. As maiores atacam até os
veados.
Não tem veneno, de modo que, mesmo
sendo muito corpulentas, não são tão perigo­
sas como as jararácas e as cascavéis. .
Matam-se facilmente, e até mesmo a cacete.
Maior ainda que a giboia é a sucuri, que
vive quasi sempre na agua.
Dizem que a sucuri é capaz de devorar bois
e cavallos inteiros.
No estado do Pará, em muitas casas encon­
tram-se giboias domesticadas, que vivem sol­
tas pela casa e servem para caçar ratos.
A LARANJEIRA

(Anastacio do Bom Successo.)

De grande laranjeira que brotava


em todo o anno o fruto adocicado,
ao paladar tão grato,
tirou-se um ramo e plantou-se;
nasceu outra laranjeira, /
que só deu frutos azedos,
bem diversos da primeira.
A laranjeira nova, vendo o culto que
á velha tributavam, também pede
adorações eguaes.
Mas não houve quem lhe désse
um só louvor em partilha;
todos dizem, de tal mãe
tu não pareces a filha.

Das honras que alcançou um pae illustre


é digno tão sómente aquelle filho
que bem sabe imital-o.

ROEDORES

Capivaras, pacas e cutias.

Osanimaes mammiferos, que têm os dentes


incisivos muito desenvolvidos, mas que não
possuem os dentes caninos, chamam-se roe­
dores.
O roedor mais conhecido é o rato; e é por
tudo roer coYn seus terriveis dentes, que to­
dos lhe -fazem guerra, perseguindo-o com ra­
toeiras e gatos.
O maior dos roedores é a capivara, que
chega a alcançar um metro de comprimento.
E’ um roedor terrível; seus dentes são
tão fortes, que chegam a aparar uma canna
de assucar.
Causa grandes estragos nas roças, e por
este motivo é muito perseguida.
Sua carne, bem preparada, é bastante sa-
Capivara.

borosa, e o couro é muito usado, para cal­


çado principal mente para canos de botas.
Quando não tem medo de ser molestada,
sae a capivara de dia ou.á noute em procura
de alimentos, que constam de cascas, plantas
. aquaticas, arroz novo, milho, canna de assu-
car e outros vegetaes.
Outro roedor interessante é a paca. E’ me­
nor que a capivara. Tem o pello amarellado
com malhas esbranquiçadas.
De dia dorme n’um buraco que-ella mesma
escava; e á noute sae por trilhos certos, cha­
mados carreiros, á cata de alimentos.
E’ nos carreiros que os caçadores a espe­
ram com armadilhas.
Sua carne é um verdadeiro regalo. ,
Ainda outro roedor de carne saborosa é a
cutia. E’ o menor dos tres.
Tem formas elegantes; as pernas de traz
mais longas que as de diante, o que a ajuda a
pular. E’ um lindo animalzinho.
Cutia.

Domestica-se facilmente, Nos jardins pú­


blicos do Rio de Janeiro encontram-se cutias
que vivem muito bem.
Além d’estes, temos ainda muitas outras
especies de roedores no Brasil. Grande quan­
tidade de ratos do matto, esquilos, dos quaes
o mais conhecido é o caxinguelé, ratos de es­
pinho, ouriços, preás, coelhos, enfim os roe­
dores são muito numerosos no Brasil.
ÃMIGOS LEAES

Tenho amigos como ninguém os tem me­


lhores.
Moram em minha casa mas occupam muito
pouco espaço. Estam todos no escriptorio,
e de lá não saem, si eu não quero que saiam.
Nunca são importunos. Não pedem cousa
alguma, e assim nenhum incommodo me
dão.
Quando quero que fallem, faliam, mas só
falia um de cada vez.
Quando estou triste me divertem com his­
torias alegres.
Quando estou bem disposto, e quero passar
— 123 —

o tempo, fazem-me narrações de viagens inte­


ressantes; informam-me da historia dos di­
versos povos; fallam-me de animaes, de
plantas, de mil cousas diversas.
Respondem a tudo quanto lhes pergunto,
sem precipitação, com calma, de modo que eu
fique sabendo bem. E quando um não sabe,
pergunto a outro, raras vezes fico sem res­
posta.
Depois que saí da escola forçam elles que
me ensinaram quasi tudo o qúe eu tenho
aprendido.
Nunca se cançam de fallar e nunca faliam
de mais.
E como dão pouco incommodo I Imaginem
,que elles não comem, não bebem, não dor­
mem, e por isso não precisam de mesa, nem
de cama, nem do copos, pratos e talheres...
nada. Em tendo um cantinho-para estar, não
lhes falta nada.
Mas ainda não é tudo. Não gastam roupa,
— 124 — ~

e andam sempre bem vestidinhos. E’ verdade


que eu tenho cuidado com elles.
'São amigos leaes, incapazes de uma trai­
ção.
Para gozar dos immensos benefícios que me
prestam, só preciso deumacousa — ama.l-os
Si não os amasse, estou certo que não lhes ou
viria nem mais uma palavra. Seriam como es­
tatuas de mármore que só serviriam para en­
feitar a casa.

Já adivinharam quem são os meus leaes


amigos ?
Si adivinharam, procurem sua amizade,
que não se arrependerão.
A GOMMA ELAST1CA

E’ um importante producto de commercio.


Todos sabem quanta utilidade tem a gomma
elastica ou borracha. Emprega-se para tão va­
riados usos, que seria difíicil, mesmo muito
difíicil enumeral-os.
A melhor gomma elastica provem de uma
arvore que se encontra no Pará e no Ama­
zonas — é a seringueira.
Os collectadores de borracha chamam-se
por isso — seringueiros.
No tempo proprio saem os seringueiros em
turmas, homens, mulheres e creanças e lá
vão numa canoa pelo rio em procura das mat-
tas onde abunda a preciosa arvore.
— 126 —

Chegando ao logar almejado, escolhem oi-'


tenta ou cem pés, e limpam com cuidado, em
roda de cada arvore.
Em cada uma dão alguns talhos com a ma­
chadinha, e seguram pôr baixo do talho uma
tijellinha, que grudam á arvore com barro.
D’aquelle talho, corre um liquido leitoso,
que se deposita nas tijellinhas.
Este liquido vae ao fogo para expellirem.-se
certos corpos inúteis que n’elle se acham.
Depois de frio, coagula-se em forma de
pães, e estáprompta a borracha para a expor­
tação.
N’este processo para coagular a borracha
ha diversas operações para melhoral-a. Quanto
mais perfeito é o processo de preparal-a,
maior é o seu valor. E por isso cada dia vae-
se melhorando a sua preparação.
Enorme é a exportação d’esse rico produeto
de nossas mattas ; e todos os annos se man­
dam para o estrangeiro grandes carregamen­
— 127 —

tos que importam em milhares e milhares de


contos de réis.
A épocha da extracção da borracha é na
vasta região amazônica o tempo da fartura, o
tempo em que todos os pobres têm dinheiro,
porque este producto é muito procurado, e
assim é que se vende immediatamente, ás
vezes mesmo antes de acabado de preparar.
Actualmenté desinvolve-se a extracção da
borracha de outras arvores. A mangabeira,
por exemplo, em diversos logares, tem pro­
porcionado excellentes productos.
A CAIPORÂ

Mello Moraes Filho.

E’ caboclinho feio,
alta noute na matta a assobiar; '
quando alguém o encontra nas estrada»,
saltando encruzilhadas,
se põe a esconjurar!

E’ alma de um Papuyo
fazendo diabruras no sertão...
cavalgando o queixada mais bravio,
transpõe valles e rio
com um cachimbo na mão.

•Assombro das manadas,


enreda a onça em moitas de cipó ;
de montanha em montanha vae pulando,
vae quasi que voando,
suspenso num pé só.
— 129 —

Âo pobre viandante
assombra e ataca em meio do caminho
e pede fumo e fogo, e sem demora
lhe mostra a caipora
seu negro cachimbinho.
Servido no que pede,
a contas justas safa-se a correr...
do contrario... si fica descontente,
de cócegas á gente
faz rir até morrer.
E’ caboclinho feio,
alta noute na matta a assobiar;
no norte, diz o povo convencido ;
não indo prevenido
não é bom viaiar ’
O AMAZ0NA3

Nossa terra tem grandezas incalculáveis; o


Amazonas é uma dellas.
E’ o maior rio do Brasil, e o mais volumoso
de todo o mundo. -
Tem 5.500 kilometros de extensão, isto é,
mais de mil legoas. ;•
Para fazer-se idea d’esta enorme extensão;.
imagine-se uma locomotiva andando oito le­
goas por hora, e percorrendo as margens;
desde a foz até á nascente gastaria 125 horas,
isto é, mais de cinco dias, e isto sem parar
um só instante.
j
Um notável geographo chamou ao Ama­
zonas — mar dôce em movimento. E com
— 131 —

effeito, pela sua enorme massa de agua, mais


parece um mar do què um rio.
Nas épocas de enchente, inunda as terras
marginaes em legoas e legoas de extensão.
Seu volume de agua é tal, sua força tão pro­
digiosa, que ao desembocar no Oceano impelle
suas aguas até 350 kilometros além das costas.
Ahi dá-se o celebre phenomeno da pororoca,
que são umas grandes ondas de 12 a 16 pés de
altura, que se atravessam por toda a largura
do leito com grande estrondo, occasionando
muitas vezes grandes prejuízos. Este pheno­
meno dá-se na lua cheia e na lua nova, por
occasião das grandes marés.
Nas aguas deste grande rio e nas de seus
I numerosos tributários encontram-se cerca de
2.000 variedades de peixes. Encontram-se
também enormes., tartarugas que servem para
;• alimentação, e perigosos jacarés.
A vegetação de suas margens é opulenta, 3
sobre suas aguas nasce uma das maiores e
— 132 —
mais bellas flores do mundo — a Victoria
Regia.
Em muitos logares o rio divide-se em canaes
ou igarapés formados por extensas ilhas; a
vegetação das margens cruza-se, e as aguas
passam sob uma cupula de verdura de belleza
indescriptivcl.
A região banhada pelo Amazonas e seus
afíluentes é quasi tão grande como a Europa.
N’ella se encontram uma multidão deplantas
medicinaes; preciosas madeiras; grande va­
riedade de fructos. Sua mais importante ri­
queza é a arvore chamada seringueira da qual
se extrae a borracha ou gomma elastica.
OS CAÇADORES DE GRILLOS

Por uma d’essas tarde de verão, em que é


preciso deixar as janellas abertas por causa
do intenso calor, estava Dona Josephina re-
costada na rede, descançando dos labores do
dia.
Alberto e Raul, seus dois filhinhos, brinca­
vam correndo pela casa.
Anoitecia.
Repentinamente ouviu-se o trillar de um
grillo dentro da varanda. Dona Josephina in-
commodava-se muito com aquella musica tão
desagradavel. Chamou os filhos e disse-lhes :
Vão procurar este grillo; o primeiro que
m’o apanhar ganha um nickel.
Os meninos saíram correndo, levantaram
cadeiras, arrastaram mesas, examinaram oí
cantos. O grillo de repente emmudecia e os
meninos ficavam desnorteados. Mas recome-
— 134 —

çava a incommoda musica, e ganhavam novo


enthusiasmo.
Depois de muito trabalho conseguiram pe-
gal-o. Foi Alberto o victorioso, isto é, quem
primeiro lhe poz a mão em cima.
Ganhou o nickel.
— Vae pôl-o fora, no quintal, bem longe,
disse Dona Josephina.
Não será melhor matal-o? disse Raul.
— Para que? respondeu Dona Josephina;
não ha necessidade de maltratal-o; de longe
já não incommoda.

Passados alguns dias deu-se a mesma scena:


novo grillo; nova caçada ; novo nickel.
E no dia seguinte, outra vez.
E no outro dia, a mesma cousa.
Afinal todos os dias era a mesma historia
Assim que anoitecia, lá estava o grillo tril-
lando, trillando, até que Dona Josephina se
aborrecia e dava um nickel a quem o segurasse.
— 135 —

E Alberto sempre victorioso. Em casa já lhe


chamavam — o caçador de grillos.
A cousa foi ficando tão extraordinária, os
grillos apparecendo com tanta regularidade,
que Dona Josephina começou a desconfiar de
alguma cousa.
Uma tarde, depois que o grillo appareceu, e
que os meninos foram procural-o, a mãe es­
preitou-os de longe. Então viu Alberto dirigir-
se disfarçadamente para um canto e procurar
alguma cousa em baixo de uma commoda.
Correu para elle e descobriu tudo : Alberto
guardava o grillo numa caixinha, e todos os
dias o mesmo grillo servia para ganhar um
nickel.
Dona Josephijia disse-lhe então : — Pois
bem, de hoje em diante, cada dia que appa-
recer um grillo, ganharás, não um nickel
como até hoje, mas um puchãosinho de ore­
lhas.
E nunca mais appareceram grillos.
as TRES FORMiGAS

Alberto de Oliveira,

Movendo os pés côr dé brasa,


foram as tres com cautella,
subindo o muro da casa
de D. Estella.
— Arriba! diz a primeira.
— Mais devagar... diz com sizo
segunda. Diz a terceira;
— sei onde piso.
Noite fechada propicia
á ideia, ao plano que as leva...
Nem de uma briza a caricia!
Silencio e treva.
— 137 —

De prompto um grillo de um canto :


— Onde ides, minhas amigas?
E um calafrio de espanto,
nas tres formigas.
Ahl... Mas, sereno e encantado,
um rosto assoma á janella;
o rosto puro e adorado
de D. Estella!
Tri... tri... rufla asazas, geme
o grillo. E pernalta aranha
na trama de ouro, em que treme,
quasi o apanha.
,— Melhor é voltarmos logo
Uma aconselha, em segredo;
outra abre os olhos de fogo,
e é toda medo.
Terceira chora, encolhida .
— Tão alto! já estou cançada!
Meu Deus, com certeza a vida
não vale nada.
— 138 —

— Janella, enfim! num alento


exclama a que mais anhcla
primeira ser no aposento
de D. Estclla.
— Por esta frincha... Por esta...
— Melhor... — Entremos. — Avante,
e uma olha, analysa a fresta,
e rompe adeante.
Eil-as estam da outra banda,
na alcova. Tudo de em roda,
miram, á lampada branda,
Da alcova toda.
No toucador como esparsa
ha tanta cousa! um diademaf
alvas pennugens de garça...
Todo um poema!
E um vaso com a mais festiva
das rosas 1 — Meu Deus, acaso
ha rosa também que viva
dentro d« um vaso?
— 139 —

Correm-lhe as pétalas. Uma


desce-lhe ao pollen, que toma;
da bocca aos pés se perfuma
com seu aroma.
E vão a fugir, com o geito
do que em roubar se desvela...
Mas nisso estremece o leito
de D. Estella.
E’ dia. A dona da alcova
Já está de pé : e, anciosa,
Porque máo sonho remova,
vae ver a rosa.
Toma-a do vaso ás mãozinhas;
mas, ao beijal-a, a senhora
descobre as tres formiguinhas,
e sopra-as fóra.
— Ah I que tufãq'repentino!
As trBs, no ar, na anciedade
da quéda, exclamam sem tino...
— Que tempestade!
— 140 —

Longe, bem longe, irradias,


caíram. Nem se mexeram
de espanto quasi dous dias...
Depois morreram.

Eis das formigas o caso.


A rosa... falle por ella
outra que é nova no vaso
de D. Estella.
0 CAFÉ

E’ o producto que maioi’ riqueza dá ao


Brasil.
Legoas e legoas de terras estam cobertas de
plantações de cafq*.
O cafeeiro originário da Asia foi introduzido
no Pará, mas sua cultura estendeu-se princi­
palmente nos Estados de São Paulo, Rio de
Janeiro, Minas Geraes e Espirito Santo.
Os cafesaes com suas arvores floridas, que
alcançam a altura de 10 a 15 pés, e ostentam
bellos fructos vermelhos, apresentam magní­
fico aspecto.
— 142 —

E’ muito bonito o trabalho da colheita. Ho­


mens, mulheres, creanças vão para o cafesal.
Por baixo do pé de cafeeiro estendem lençóes
de algodão, para aparar os grãos que'tiram
da arvore, correndo a mão por todo o compri­
mento do galho.
Quando o terreno presta-se, em vez de es­
tender lençóes, limpa-se e varre-se muito
bem o chão em um certo espaço, em redór
dos pés, a que se chama corôa, e depois ajun-
ta-se o café do chão.
Posto n’um carro vae o café para o terreiro
onde fica alguns dias para seccar, sendo de­
pois levado para as machinas que lhe tiram
a casca.
Depois de secco e lavado, é o frueto posto
novamente a seccar, pilado para tirar-lhe o,
envolücro pergaminaceo e finalmente limpo
em peneiras e escolhido.
Todos estes trabalhos são feitos hoje por
meio de machinismos aperfeiçoados.
— 143 —

A maior parte d’esses machinismos são fa­


bricados mesmo no paiz, e inventados por
mechanicos brasileiros.
No Rio de Janeiro, em São Paulo, em Cam­
pinas, em Jundiahy, ha fundições impor­
tantes, cujo unico trabalho pode-se dizer que ‘
é fabricar machinas para a lavoura do café.
Viajantes europeos têm ficado extasiados
perante o aperfeiçoamento a que os agricul­
tores brasileiros têm chegado com a cultura
do café.
Incontestavelmente o café brasileiro é hoje
o mais acreditado do mundo.
UMA BOA ACÇÃO

Em todos os exames mensaes Carlos ob­


tinha sempre a primeira nota da classe. Gui­
lherme alcançava quasi sempre a segunda.
Carlos e Guilherme eram amigos; muitas
vezes estudavam juntos as licções.
Porém Carlos tinha mais facilidade em es­
crever, e Guilherme não o podia vencer.
Guilherme estudava, estudava muito, mas
não havia meio; era sempre vencido.
Chegou o mez de Novembro; os exames
finaes deviam realizar-se em Dezembro.
Guilherme redobrou os esforços; estudava
até á meia noute, e ás seis horas da manhã
estava já ás voltas com os livros. Preoccupado
com o exame, querendo a todo o custo vencer,
já quasi não comia. Ninguém o via na rua.
Chegou a adoecer.
— 145 —

Veiu o dia esperado; realisavam-se os


exames.
Todos notaram que Guilherme estava pal-
lido, magro, olhos encovados, doente.
Carlos que o estimava muito, ralhou corh
elle : — Porque te maltratas assim, disse-lhe,
não era preciso tanto para fazeres um bom
exame.
— O que tu querias é que eu não estudasse,
para galgares mais uma vez o primeiro Jogar,
respondeu Guilherme.
Carlos não ligou importância á injustiça do
seu amigo.

Começou o exame.
Os alumnos fizeram a prova escripta.
Carlos procurou propositalmente commetter
alguns erros. Não queria vencer Guilherme.
As provas foram para os examinadores lhes
darem as notas, conforme o merecimento de
cada uma.
— 146 —

A prova de Guilherme teve a melhor nota


— optima.
As provas oraes correram muito bem. Todos
responderam ás perguntas. Os examinadores
elogiaram a toda a classe.
Terminados os exames houve a classifica­
ção. Guilherme alcançara o primeiro prêmio;
todos o abraçaram. Carlos foi o segundo.

Quando se acabou a festa, depois que os


examinadores se tinham retirado, o professor
chamou Carlos. — Como se explicam estes
erros, perguntou o professor, na tua prova
escripta?
— Carlos abaixou a cabeça e córou.
— Que é isto, Carlos, não respondes?
Então Carlos, que não sabia mentir, contou
tudo. Contou quanto Guilherme se esforçara.
— Elle estudou mais do que eu, disse Carlos,
chegou a ficar doente. Seria uma injustiça si
eu tivesse o primeiro logar. >
— 147 -

— Guilherme teve o primeiro prêmio e


foi muito merecido, disse o professor, mas tu
também mereces um bom prêmio pelos teu?
sentimentos nobres e generosos.
E abraçou-o perante a classe.

MAXIMÁS

Si ninguém trabalhasse, ninguém poderia


viver, porque todas as cousas uteis á vida são
productos do trabalho.
0 trabalho nobilita.
A liberdade de cada um deve ser limitada, de
modo que não prejudique a liberdade de
outrem.
0 principal trabalho da creança é o estudo.
Só pode trabalhar bem aquelle que tiver
aproveitado seus estudos.
Aquelle que não trabalha não merece o pã
que come.
O homem ocioso prejudica a sociedade.
sorro gross®.

Guilherme gostava muito do estudo da geo-


graphia do Brasil.
Um dia o professor perguntou á classe : —
Quem sabe dizer em qual dos Estados se en­
contram as maiores florestas do Brasil?
— E’ no de Matto-Grosso, respondeu im-
mediatamente Guilherme.
— Estás enganado, disse o professor, e foi
mesmo porque muitos pensam assim que fiz
a pergunta. Ao pronunciar o nome de Matto-*
Grosso, logo vêm á idea, frondosa vegetação,
arvores gigantes, viçosas palmeiras; entre­
tanto o Estado de Matto-Grosso consta princi­
palmente de campos extensos, semeados de
— 149 —

pequenos capões de matto, que são como ilhas


no meio das vastas campinas.
E’ verdade, que tem algumas regiões cober­
tas de mattas virgens, mas essas mesmas são
inferiores ás da região amazônica e da região.
marítima.
Assim mesmo, o Estado de Matto-Grosso é
riquíssimo. Produz cafê, grande variedade de
plantas medicinaes, canna, fumo e muitos ou­
tros vegetaes. Tem ricas minas de ferro,
chumbo, prata, cobre, ouro e diamantes.
E’ importantíssima também a criação de
gado vaccum, muar e cavallar.
O que prejudica o desinvolvimento da ri­
queza desse Aístado é a difficuldade de meios
*ie transporte.
Quando houver boas estradas de ferro ras­
gando-lhe os sertões, o seu florescimento será
notável.
JHNOCENCIAS

(Quintino Bocayuta.).

— Vês acaso, minha filha,


aquella nuvem formosa
que vem correndo no céo?
— Vejo, sim, minha mamãe, ®
e que linda côr de rosa
que ella tem 1 oh I quem lha deu ?

— E vês, filha, lá mais longe


aquella sombra que andando
cada vez mais vem crescendo ?
— Ah! mamãe, que tão escuro
parece que vai ficando,
vai como que anoitecendo!
— 151 —
•- E’ isso mesmo, filhinha,
são horas já de deitar-te,
a noite não tarda a vir I
Vem depressa, vem rezar
e irás depois reclinar-te
sobre teu leito, a dormir.

Olha, aquella nuvemzinha


que vai da noite tremendo,
doida a correr pelos ceos,
quasi tonta de assustada;
vai abrigar-se correndo
no vasto seio de Deus!

— Ah 1 mamãe, vou já dormir,,


ou cerrar os olhos meus,
porém, não no leito meu;
quero dormir em teu seio
omo no seio de Deus
a nuvemzinha do céo 1
$ ALGODÃO

■ *
O panno mais usado para o vestuário é o
algodão. Os pannos de linho, de lã e de seda
são muito mais raros.
E’ com o algodão que se fazem as chitas,
os morins, as cassinetas, as belbutines, os
brins, as percales, as cassas, as cambraias e
muitas outras qualidades de panno. As meias,
as rendas, as tiras bordadas são geralmente
de algodão.
— 153 —

Póde-se affirmar que o algodão é o protector


dos pobres.
. Milhares, ou antes milhões de pessoas,usam
exclusivamente do algodão para se vestirem.
Verdadeiros exercitos de operários se em­
pregam em trabalhal-o. Sem contar com as
costureiras, os alfaiates, os negociantes, os
plantadores, e tantos outros que só vivem do
algodão, basta entrar numa fabrica de teci-'
dos para ver quantos operários ahi se empre­
gam. Homens, mulheres, velhos e creanças,
todos têm trabalho numa fabrica de. tecidos.
Uns cardam; outros fiam; outros tecem.
Aqui dobra-se o panno; alli cosem-se as pe­
ças; acolá enfardam-n’as.
E o visitante que, pela primeira vez, entra
em uma d’essas fabricas, fica como atordoado
pela multidão de operários, pela complicação
das machinas, pelo barulho ensurdecedor,
pelo pó que se levanta por toda a parte.
E no meio d’aquella multidão reina a or-
— 154 —

dem mais completa. Cada um cuida da tarefa


que lhe cabe, sem examinar o que faz o com
panheiro.
O algodão entra na fabrica, bruto, do modo
que vem das roças, e sae convertido em peças
de panno enfardado e prompto para entrar na
casa dos negociantes.
Antigamente todo o panno de algodão que
se gastava no Brasil vinha do estrangeiro.
Nós remettiamos para a Europa o algodão em
rama, e de lá recebíamos o panno.
Hoje, felizmente, a maior parte do que gas­
tamos é feito aqui, e ainda mandamos algum
para fóra.
No Estado de São Paulo, no de Rio de Ja­
neiro, em Pernambuco, em Minas Geraes, po
Rio Grande do Sul e em outros Estados encon­
tram-se fabricas de tecidos, em que traba­
lham muitos milhares de operários.
Temos no paiz grandes plantações de algo­
dão, principalmente em Pernambuco.
— 155 —

No Estado de São Paulo, tambem-se plantou


muito em outros tempos, mas hoje os lavra­
dores quasi que abandonaram completa­
mente sua cultura, para-se entregarem á do
café.

QUADRINHAS POPULARES.

O cravo tem vinte folhas,


a rosa tem vinte e uma,
o cravo anda em demanda
porque a rosa tem mais uma.
Tenho o meu chapéu de palha,
de pello não posso ter:
de pello custa dinheiro.
te palha posso fazer.
MORCEGOS

São mammiferos que voam como as aves.


Para voarem possuem uma especie de azas
formadas por uma membrana, que lhes cobre
os quatro membros e que elles distendem com
os dedos desmesuradamente longos, parecidos
com as varetas de um chapéu de sol.
São animaes nocturnos. Durante o dia es­
condem-se nos ocos das arvores, nos leques
das palmeiras, nas fendas das paredes, no in­
terior das egrejas. nas casas abandonadas,
— 157 —

emfim, em qualquer canto onde não possam


ser atormentadas.
A’ noute saem os morÇegos em procura de.
presas, que são geralmente insectos ou fruclus
das mattas e plantações.
Algumas especies, chamadas vampyros,
chupam o sangue dos cavallos,'dos bois e de
outros animaes domésticos, mas como pe­
quena é a ferida feita por elles e pequena é a
quantidade de sangue que absorvem, não é
considerável o damno. I
Mesmo o homem é algumas vezes atacado
quando os sugadores ae sangue o pilham
dormindo.
Dizem que os vampyros, quando estam chu­
pando o sangue, ao mesmo tempo, executam
um rápido movimento de azas, de modo a
produzir uma sensação agradavel e assim
eyitar que as victimas dispertem.
Que é agoureiro conta a superstição popu­
lar, entretanto pode-se afirmar que produz
' -Wi
— 158 —

mais bem do que mal, porque destroe uma


enorme quantidade de animaes nocivos ás
plantações. , ■ M
Os morcegos formam uma das ordens em
que se subdividem os mammiferos — a dos
cheiropteros.
PATRIA

Era já tarde quando Carlos entrou na es­


cola ; os exercícios tinham já começado; e elle
nem ao menos foi humildemente pedir dis-
culpa de sua falta ao professor como lhe com­
petia, como era de sua obrigação; Não; vinha
preocupado e sem mesmo cuidar do desalinho
do vestuário, foi sentar-se no seu banco.
Assim que se findou a lição de leitura, o
professor chamoü-o e perguntou-lhe a razão
por que se apresentava daquelle modo.
Ah! Snr. professor, disse elle, o senhor não
faz idéa do aue houve lá pela chacara está
— 160 —

madrugada. Imagine aue alli pelas quatro


horas, os cães ladraram furiosamente, ouviu-
se o ranger do portão e immediatamente todos
se acordaram. Eram ladrões, não havia du­
vida. Papae, meus manos e os criados corre­
ram a procurar as armas, e até eu agarrei
num cacete que achei atraz da porta.
Felizmente quando os gatunos viram que
estavamos todos armados, desataram a fugir,
que nem os cães poderam alcançal-os.
Pois bem, respondeu o professor, estimo
muito que se livrassem do perigo que corre­
ram, e já que a narração deste facto veiu in­
terromper as lições, eu vou aproveital-o para
uma explicação de instrucção cívica.
Si em vez de ser a chacara do pae de Carlos
fosse a nossa patria atacada, que deveríam
fazer todos?
— Defendel-a.
— Armar-se.,
— Alistar-se nos batalhões
— 161 —

— E’ isso mesmo, porque si o pae e os ir­


mãos de Carlos armaram-se esta madrugada,
não foi só para defender as suas pessoas, foi
também para defender a casa, o lar, a família.
E a Patria é a familia de todos nós. A Patria
é uma grande familia assim como a familia é
uma pequena patria.
Uma compõe-se de seis, oito, dez ou mais
pessoas; outra, de oito, dez, vinte milhões.
Mas na grande Patria como na pequena,
amam-se uns aos outros; na Patria como na
familia, ha o dever de auxiliarem-se mutua­
mente, e quando um soffre, os outros partici­
pam de seu soffrimento, assim como quando
um se eleva por um acto de heroísmo ou de
benemerencia, os outros participam também
de sua gloria.
Guilherme, que escutava attentamente o
professor, manifestou desejo de perguntar al­
guma cousa. «%
Falia, disse o professor. ,
62 —

— Pelo que o Snr. acaba de dizer, parece


que Patria não devia ser o Brasil, devia ser
apenas esta cidade, porque aqui é que todos se
conhecem uns aos outros, são amigos, são
parentes e moram juntos. Como é que nós
havemos de estimar os bahianos ou os per­
nambucanos, que nunca vimos, que nunca nos
mostraram nenhum signal de amizade.
— Não, respondeu o professor; Patria não
é apenas a familia, os parentes, os amigos :
Patria é este vasto solo onde vivem quatorze
milhões de brasileiros; é este ceu azul onde á
noute fulgura o bello Cruzeiro; são esses im-
mensos rios que regam o solo coberto de ma­
gníficas florestas; são os montes que elevam
seus cumes a milhares de metros; e mais
ainda; Patria é a recordação dos feitos heroicos
dos nossos antepassados ; é a consagração dos
martyres que se sacrificaram para o nosso
hem estar, é a herança de milhares e milhares
de obscuros trabalhadqres que fizeram de uma
— 163 —

região coberta de mattas a prospera nação em


que habitamos, emíim, meus caros alumnos,
para terem um pleno conhecimento do que é
Patria, ha um meio unico, é o estudo de nossa
historia. Estudae-a, e estou certo, que depois
de conhecerdes a belleza dos feitos dos nossos
antepassados, depois de compenetrar-vos dos
immensos sacrifícios que custou a formação
desta vasta republica, não mais haverá quem
diga que Patria é a cidade onde nasceu; ha de
forçosamente dizer : Patria é o Brasil.
DESPEDIDAS

— Amanhã todos aqui, disse o professor


depois dos exames íinaes.
E no dia seguinte lá estavam todos na es­
cola.
Guilherme estava radiante de satisfacção
por ter alcançado o primeiro prêmio; Carlos,
muito contente por ter praticado uma bôa
acção. Américo e Moysés, já agora muito ami­
gos, entraram juntos.
E todos muito alegres conversavam e conta­
vam a felicidade que reinava em suas casas
com os bons resultados dos exames.
Só o professor estava triste.
— 16b —

Carlos dirigiu-se a elle e perguntou-lhe; —


Quando todos estamos alegres e contentes,
parece que só o senhor está triste; tem alguma
queixa de nós ? Talvez sem pensar o desgostá­
mos em alguma cousa.
— Não, meus filhos, respondeu o professor.
O anno escolar foi muito feliz. Toda a classe
se adiantou muito, e eu tenho recebido
muitos parabéns. Só tenho elogios para todos.
— Mas então, porque não está alegre como
nós?
Estaes alegres porque ides descançar, pas­
sar os mezes de ferias entre parentes e ami­
gos,, divertindo vos, folgando, restaurando
as forças para nova lueta.
— E o senhor não vae também descançar;
não vae passar as ferias com as pessoas que
estima; não vae distrair-se do seu grande
trabalho?
— Sim, meus filhos, vou descançar, mas
para mim o descanço é mais penoso do que o
1
— 166 —

trabalho, porque depois de tantos annos de


viver entre vós, minhas queridas creanças, de
escutar todos os dias a vossa voz, de respon­
der ás perguntas que me fazeis, de guiar-vos
emfim no caminho da honra e do saber, já não
posso passar sem a vossa companhia; e quando
estou longe da escola, parece que me falta al­
guma cousa, que me falta o ar, que me falta
a vida... E não poude continuar. Parecia que
qualquer cousa lhe apertava a garganta.
Depois de algum tempo, despediu-se de
todos. E ao saírem dirigiu-lhes palavras.de
animação : — Brincae, diverti-vos, mas não
abandoneis completamente os livros; lembrae-
vos de que são excellentes amigos
0 BOI

(Olavo Bilac.)

Quando ainda no céu não se percebe a aurora,


e ainda está molhando as arvores o orvalho,
sáe pelo campo a fóra
o boi, para o trabalho.

Com que calma obedecei


Caminha sem parar;
e o sol quando apparece,
iá o encontra, robusto e manso, a trabalhar.

Forte e meigo animal! Que bondade serena


Tem na doce expressão da face resignada!
Nem se revolta quando o lavrador sem pena
para o instigar, lhe crava a ponta da aguilhada.
— 168 —

Cáe-Ihe de rijo o sol sobre o largo cachaço;


zumbem moscas sobre elle, picam-n’o sem dó;
porém indiffe?ente ás dores e ao cansaço,
caminha o grande boi, numa nuvem de pó.

Lá vaepausadamente o grande boi marchando.


E por elle puchado,
larga e profundamente o solo retalhando,
vae o possante arado...

Desce a noite. O luar fulgura sobre os campos.


Cessa a vida rural.
Ha estrellas no céo. Na terra ha pyrilampos,
e o boi para dormir, regressa ao seu curral.
0 TATU

I E' um interessante animal da ordem dos


desdentados. Esta denominação, porém, não
é bem empregada no tatú, porque si é verdade
que lhe faltam os dentes incisivos e os cani-
, nos, tem entretanto os molares, e até mesmo
em grande quantidade. Ha especies de tatús
que contam cem dentes, sendo cincoenta e
dous na mandibula superior e quarenta e oito
! na inferior.
O tatú é um animal de forma bizarra, e
- 175 -

que, uma vez visto, não é mais esquecido.


Tem o corpo coberto por uma couraça de
placas osscas, duras e lisas; a cabeça pon­
tuda e cônica ; olhos pequenos'; orelhas gran­
des em forma de cartucho; cauda mais ou
menos longa e reforçada; e pés de garras
muito fortes.
Seu tamanho é muito variavel, pois, entre
as diversas especies que existem no Brasil,
encontra-se desde o tatú-açú, que alcança
oitenta eseis centímetros de comprimento sem
contar a cauda, até o tatú-mirim, que é pe­
queno e delicado.
O tatu é animal, de preferencia, nocturno.
Ao escurecer sae á cata de alimento, que
geral mente consiste em insectos e substancias
vegetaes. Algumas vezes come também pe­
quenos mammiferos, principalmente ratos.
Anda aos pulos, ora para a frente, ora para
a direita, ora para a esquerda, para fungar
alguma cousa.
— 171 —

Escava com .facilidade admiravel; em pou­


cos minutos abre um buraco maior que o seu
volume. Essas escavações são o seu principal
meio de defeza, porque uma vez no buraco,
agarra-se muito bem e ó difficil tiral-o.
O tatú é muito perseguido por causa de
sua carne que é soborosa.
Com a couraça se fazem lindas cestas de
costura, que são muito apreciadas por sua
originalidade.

QUADRINHAS POPULARES

O tatú me foi á roça,


toda a roça me comeu;
plante roça quem quizer
que o tatú quero ser eu.
O tatú é bicho manso
nunca mordeu a ninguém;
ainda que queira morder,
o tatú dentes não tem.
 CANNA DE ÂSSUCAR

Depois do café, é o producto mais impor­


tante do Brasil. .
Antigamente constituía o mais considerável
artigo de commer.cio do paiz; e, ainda hoje
em alguns Estados é a sua principal riqueza.
Em Pernambuco, por exemplo, ha mais de
mil fazendas de canna. E cultiva-se em quasi
todos os outros Estados.
A carina de assucar é uma graminea origi­
naria das índias Orientaes, introduzida no
Novo Mundo logo depois do descobrimento.
Dous são os seus principaes productos : o
assucar e a aguardente.
Geralmente preparam-se estes productos
nas próprias fazendas em que se cultiva a
canna.
As fabricas onde se prepara o assucar e a
aguardente chamam-se engenhos.
Em alguns logares ha engenhos centraes
que trabalham para todas as fazendas de uma
região.
O primeiro trabalho no engenho é o da
moagem. Para isso se faz passar a canna entre
cylindros de madeira ou de ferro, em que a
esmagam e lhe tiram todo o sueco.
Este sueco é recolhido em umas vasilhas de
madeira chamadas cochos.
Dos cochos sae para grandes tachos onde
se põe a ferver afim de evaporar-se.
Depois de passar por alguns tachos crista-
lisa e transforma-se em assucar.
0 ãssucar ainda passa por outros processos
para clarificar e para refinar.
Para preparar a aguardente, deixa-se fer­
mentar o caldo da canna, e depois distilla-sè
em alambiques.
O caldo da canna, também chamado garapa, .
é um excellente refresco saboroso e saudavel.
AS BORBOLETAS

Lulú é um famoso caçador de borboletas.


Arranjou um sacco de gaze com armação de
arame, e com elle apanha até as mais ariscas.
Corre,pelos campos, persegue-as e quàndo
encontra uma, não descansa antes de apa-
nhal-a.
Já tem uma collecção muito bonita. Com
ella faz quadros que adornam a sala.
Julinha, sua irmã, tem muita pena; é inca­
paz de matar uma formiga. Um dia chama o
irmão e lhe pede: « Não mates as pobrezinhas.
Para que as matas? Que mal te fazem ellas?
— 176 —

Que mal fazem ellas? responde immedíata-


mente Lulú. Que mal fazem ellas? Fica sa­
bendo que as borboletas põem ovos, doá ovos
saem lagartas e as lagartas devoram as folhas
das arvores com uma voracidade de verda­
deiras destruidoras. Felizmente' os 'passa­
rinhos encarregam-se de acabar com grande
parte das lagartas e dos ovos, porque, si não
fossem elles, as tuas queridas dariam cabo de
tudo.
Fazer mal aos passarinhos, a esses nossos
delicados amigos, isso sim é proprio de meni­
nos maos, mas ás borboletas ? As borboletas
só fazem mal.
— Mas são tão bonitinhas !
— E’ para ficares sabendo o valor da bel-
leza, quando não é acompanhada pela bondade.
De que serve a belleza, quando só produz o
mal?
QUEIXADAS

Os caçadores que, percorrendo as espessas '


mattás, têm a felicidade de encontrar uma
vara de queixadas ou porcos do malto, gozam
d’um dos mais almejados prazeres que a caça
pode proporcionar, porque a sua carne sabo-.
rosa é um dos pratos considerados como de
primeira ordem.
— 173 —

Entretanto este encontro não deixa de offe-


recer também algum perigo, porque as varas
compõem-se, ás vezes, de dezenas de animaes,
que procuram defender-se com seus possantes
dentes.
E’ o queixada bastante parecido com o
porco domestico, si bem que, geralmente me­
nor, apresentando cerdas mais longas e as-
peras, dentes mais desinvolvidos e pernas
mais ageis.
Vivem em varas, em constantes viagens.
Nada os detem em sua marcha; atravessam a
matta mais enredada, rompendo cipós, sem
prestar attenção aos obstáculos que vão ven­
cendo com pequeno esforço.
"Sua approximação annuncia-se por um
ruido particular, qué resulta do bater dos
dentes.
Saem ora de dia, ora á noute, á procura de
comida que consta de quanta especie de fructo
silvestre cae das arvores, de palmitos, de
— 179 T-

rebentos verdes e succulentos das tacuarae;


ou então fossam o chão, como os porcos do-
mestiços, á procura de raizes ou de caules
subterrâneos.
Os queixadas domesticam-se com facilidade,
quando agarrados em pequenos, tornando-se
mesmo muito mansos.
CAMINHO DAS FERIAS

(Brazilio Machado.

Como avesinhas que presto


de vôos enchem os céus,
batendo as azas, n’um gesto
de mãos que dizem adeus,

d’aqui abem poucas horas,


livres!... livres!... sem liçõesI...
Em revoadas sonoras
vão cantando os corações...

Que cara feia, a do banco I


Que muchqcho — o livro dá!
A tinta ao ver-nos de branco,
que pragas não rogará I
— 181 —

0 lapis, negro de inveja,


A ponta aguda quebrou;
para que ninguém o veja
o mappa já se enrolou.

Algarismos assanhados
olham-se, e querem-se erguer,
como parcellas — soldados,
a/traz de nós a correr.

O sete — é o porta bandeira;


o cinco — toca o clarim;
os zeros cerram fileiras;
os cifrões põem o talim.

Um — commanda; o nove
não vae fóra d’esta vez;
e em marche-marche se move
a negra fila dos dez.
— 182 —

0 a b c franze as boccas,
e o ponto, a vírgula, o til,
dentro das carteiras ôcas,
preparam vinganças mil...

Fujamos bando de flores,


que o vento leva a brincars ,4
vamos encher de rumores
de nossas vidas o lar.

Antes, porém, reunidas


dos mestres em derredor,
levemos as despedidas,
mas deixando o nosso amor.

Salve, mestres!... Das creanças


o adeus não chora, sorri I
Entre festas e esperanças,
cantando vamos d’aqui!
O FERIAS

Vivam as ferias ! Vivam as ferias!...


Era o que se ouvia na escola depois da
despedida do professor.
E todos iam saindo, e deixando a tristeza
na escola.
Aindá ha pouco, quasi choraram ao ouvir
as tocantes palavras do mestre, do seu grande
amigo. Mas agora iá se tinham esquecido, e
só pensavam nos brinquedos, na folga dos
dois mezes que iam atravessar.
Vivam as ferias! Vivam as ierias.
— 184 —

As creanças são mesmo assim!...’


Suas tristezas não duram. Sua vida é um
riso continuo. E se alguma vez o pranto vem
inundar suas rosadas faces, a alegria não
tarda a voltar.
O pranto da creança é como o orvalho da
manhã, que vem refrescar a terra reseccada
pelo sol do meio dia. Se a creança chora, seu .
pranto é o prenuncio de novas alegrias.
A creança vae cantando pelo caminho da
vida? E até que se torna homem, não en­
contra dores nem tristezas. São tudo festas.
As creanças são mesmo assim!

Mas não esqueçaes a escola!


Lembrai-vos do que aqui vos ensinaram ;
e na rua como em casa; nos brinquedos como
nos trabalhos; nos dias de alegria como nos
de adversidade, ponde sempre em pratica as
boas maximas que d’aqui levaes.
— 185 —

Se quereis ser bons patriotas; se quereis


ser homens de bem; se quereis ser estimados
e respeitados, segui sempre este ultimo con­
selho que vos dou
Não esqueçaes a escola!
INDIGB

Ao Professorado . . , 9
As Bellezas do Paiz . 11.
Divisão fraternal . . , . . 15
A Anta ................................ 17
Bem-te-vi. ................................. . . 20
O Trem de Ferro • • •
Passarinho ferido ...................... . . .
Todos podem ser ricos
Campestre 32
Nossas Mattas . . . . 34
O Tamanduá Bandeira 36
Moysés, o Pretinho . • 39
Guerra civil . ...................................... • 42
A Cachoeira de Paulo Affonso. .... 44
OBusio..................... ............................................ %
As Palmeiras
— 188 -

SoenasdaRoça..................................................... . 52
Os Escravos . . . .......................................... 56
A. Vingança de Moysés.......................................... 59.
O Pae Macaco........................................................... 63
Carregando um Piano.......................................... 65
Fogo! Fogo!................................................................. 68
A Carnahuba................................................................ 70
A Borboleta . . . .......................................... 73
Que bom Irmão........................................................... 74
O Ribeiro e a Lagôa............................................... 76
A Onça.................................. .................................. ..... 79
Rosa................................................................ . . 82
Mimi e o Gigante........................................ 84
A Victoria Regia..................................................... 88
A Onça, a Capivara e a Paca.............................. 90
O Pequeno travesso .' .................................... 92
A Lingua materna............................. 94
Depois da Aula....................... ..... ............................ 99
A Preguiça.............................................. ..... 102
Mentiras,........................................ 105
O Crepúsculo na Roça.........................................109
O Cestinho de Jaboticabas................................... 112
A Giboia..................................................................... 115
A Laranjeira............................................................... 117
Roedores......................................................... . 118
Amigos leaes......................................................... 122
A Gomma elastica.......... 125
A Caipora.................................................................... 128
— 189 —
0 Amazonas....................................................... ..... 130
Os Caçadores de GrillosJ33
As Tres Formigas................................. ' . . 136
O Café............................................................. ..... . 141
Uma Boa Acção. .......... 144
Matto Grosso. ............................................ ..... . 148
Innocencias ....................................................... ..... 150
O Algodão....................... 152
Morcegos . . . -.............................................156
Patria........................................................................ 159
Despedidas.................................. 164
O Boi........................................ ................................ 167
OTatú. .................................................................. 169 >
A Canna de Assucar........................................... 172
As Borboletas................................. ..... 175
Queixadas................................................................. 177
Caminho das Ferias............................................ 160
As Ferias .................................1^3

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