Resenha de Teoria 2

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

Universidade Federal de Goiás

Faculdade de História
Teoria e Metodologia da História 2
Discente: Auanny Ribeiro dos Santos

RESUMO
O presente trabalho, apresentado em forma de resenha crítica comparativa, busca abordar o
estudo de Umberto Eco em, “Interpretação e superinterpretação”, onde o autor apresenta ao
leitor o âmago da interpretação e seus tipos de abordagens - dentro do limite do que seria
válido ou nulo na atitude de um leitor perante os textos (Santos, 2007). Além disso, a obra
conta com críticas de autores ao livro de Eco e os argumentos do autor em defesa de seus
escritos. Buscaremos também analisar o livro de Hans Robert Jauss, “História da literatura
como provocação à teoria literária”. O autor critica a posição da teoria literária
contemporânea que muitas vezes não engloba e não dá a devida importância a história da
literatura e da estética. Para ele também é necessário a compreensão do processo de evolução
das obras literárias ao longo do tempo.

Palavras-chaves: Interpretação; Superinterpretação; História da literatura; Teoria literária.

INTRODUÇÃO

A obra “Interpretação e superinterpretação” de Umberto Eco apresenta ao leitor um complexo


contexto histórico a respeito dos caminhos percorridos como uma atividade interpretativa. O
autor foi um grande estudioso. Reconhecido por sua obra referente à estética medieval e
sobre a filosofia da arte. Eco cursou filosofia em 1954, aluno da Universidade de Turim. Sua
tese apresentada retomou o estudo sobre Tomás de Aquino, posteriormente publicado como,
“O problema estético de Tomás de Aquino". Nas obras de Eco, ele desenvolveu teorias sobre
a relação entre filosofia da arte, linguística e comunicação de massa. Em 1988 lançou o livro
“O pêndulo de Foucault”, obra ficcional, citado diversas vezes pelo próprio autor e pelos
críticos em “Interpretação e Superinterpretação”. Além disso, o filósofo foi fundamental para
a Teoria da Comunicação. Também foi titular da cadeira da Escola Sociológica Européia.
Dessa forma, como introduz Collini (2005), a interpretação aqui assumida como
objeto de estudo de Eco, não foi uma atividade inventada a partir do século XX. Há uma
longa história no Ocidente, proveniente dos cânones da palavra sagrada. Entretanto, tornou-se
profissionalizante quando os estudos acadêmicos foram desenvolvidos sobre a literatura,
onde se desenvolveu a prática crítica de importantes obras literárias (Collini, (2005).

Em combinação com o ressurgido legado pós-kantiano do estudo transcendental das


condições da possibilidade de uma atividade, estas idéias desembocaram na
elaboração de teorias muito gerais sobre a natureza do significado, da comunicação
e tópicos semelhantes (Collini, 2005, p.7).

Como evidência Collini (2005), Eco era propriamente adepto e pesquisador da teoria
da comunicação, formado em filosofia, fazia parte desse pensamento dedicado ao estudo da
literatura, assim como Jauss – retornaremos a essa discussão posteriormente.

Derrida estava ligada a uma tradição da filosofia pós-cartesiana, e não se deveria


permitir que lançasse dúvidas sobre a possibilidade de estabelecer significados
convencionados a todos os tipos de texto. Justificam seu ponto de vista acusando a
crítica pós-estruturalista de "'participar de um jogo duplo.. introduzindo sua própria
estratégia interpretativa na leitura do texto de outras pessoas, mas confiando
tacitamente nas nonnas comuns quando se propõe a comunicar os métodos e
resultados de suas interpretações a seus próprios leitores" (Collini, 2005, p.9).

A atitude de Eco em escolher tal tema como objeto para sua conferência, colocava-se
em um longo e complexo debate internacional a respeito da natureza dos significados e os
limites da interpretação (Collini, 2005). Eco dá ao leitor a função de produtor de significado –
o que em seu próprio livro, é usado como argumento dos críticos.
Em consonância com Eco, o autor de “História da literatura como provocação à
teoria literária”, também dedica-se ao estudo da literatura. Partindo também de uma
comunicação intitulada “O que é e com que fim se estuda história da literatura?”. Se lançando
também contra o estruturalismo que deixou sobre um véu a história da literatura – Eco estava
em certo sentido exposto, a desdobramentos posteriores da crítica a teoria
“pós-estruturalista”. Jauss encabeça a teoria da estética da recepção. Estudou fisiologia do
romance, filosofia e história. Além disso, foi aluno do elaborador da filosofia hermenêutica,
Hans-Georg Gadamer - podemos assim com maior facilidade observar as influências do
“orientador” em suas obras. Apenas a exemplo de como, Jauss pensa a hermenêutica como
forma de compreensão.
A reconstrução do horizonte de expectativa sob o qual uma obra foi criada e
recebida no passado possibilita, por outro lado, que se apresentem as questões para
as quais o texto constituiu uma resposta e que se descortine, assim, a maneira pela
qual o leitor de outrora terá encarado e compreendido a obra. Tal abordagem corrige
as normas de uma compreensão clássica ou modernizante da arte - em geral
aplicadas inconscientemente - e evita o círculo vicioso do recurso a um genérico
espírito da época. Além disso, traz à luz a diferença hermenêutica entre a
compreensão passada e a presente de uma obra, dá a conhecer a história de sua
recepção - que intermedeia ambas as posições - e coloca em questão, como um
dogma platonizante da metafísica filológica, a aparente obviedade segundo a qual a
poesia encontra-se atemporalmente presente no texto literário, e seu significado
objetivo, cunhado de forma definitiva, eterna e imediatamente acessível ao
intérprete (Jauss, 1994, p.35).

O autor não se alinha às críticas feitas à teoria da literatura, justamente devido


deficiências na argumentação, apenas é objetada a história clássica da literatura se limitando a
uma forma de escrita (Jauss, 1994). Além disso, de acordo com Jauss, falham também em
formular o juízo estético que a literatura demanda, assumindo-a como arte.

Interpretação e Teoria da História: Uma análise comparativa entre Eco e Jauss

Os respectivos autores aqui citados, Jauss e Eco, apesar de utilizarem da literatura


como objeto, traçam seus estudos sob métodos opostos. Enquanto Jauss (1994) se apoia na
importância do processo histórico da literatura e a importância de uma história direcionada a
esse âmbito. Eco dá ao leitor papel fundamental para compreensão de um texto. Ao contrário
de Haus, ele desenvolve seu livro contra a apropriação de “semiótica ilimitada”. Deixando
claro a importância da interpretação. Apesar disso, ambos fazem críticas às ideias
estruturalistas e pós-estruturalistas.
Jauss vai além da ideia de que bastaria a interpretação. Para que o processo seja
completo, é preciso considerar a tarefa clássica

A apresentação da literatura em sua história e em sua relação com a história geral


estava fora da área de interesse da nova história das idéias e dos conceitos, bem
como da investigação da tradição que floresceu na esteira da Escola de Warburg. A
primeira almeja secretamente urna renovação da história da filosofia, conforme esta
se reflete na literatura; a última neutraliza a práxis vital da história, na medida em
que busca o ponto crucial do saber na origem ou na continuidade supratemporal da
tradição, e não na atualidade e singularidade de um fenômeno literário. O
conhecimento daquilo que persiste em meio à mudança constante desobriga-nos do
esforço da compreensão histórica (Jauss, 1994, p.13).

Além disso, o autor dá destaque a sua crítica às questões não resolvidas da


historiografia literária marxista. Principalmente quanto ao grau de importância que foram
dadas as obras como testemunha dos processos sociais, sendo incapaz de ter uma identidade
própria e presa a uma única estética, que não era sua propriamente (Jauss, 1994). As obras
literárias tomam caráter fantástico, surgindo desprendidas e passivas do contexto social.

A teoria do método formalista alçou novamente a literatura à condição de um objeto


autônomo de investigação, na medida em que desvinculou a obra literária de todas
as condicionantes históricas e, à maneira da nova lingüística estrutural, definiu em
termos puramente funcionais a sua realização específica, como a soma de todos os
procedimentos artísticos nela empregados [...]. O caráter artístico da literatura deve
ser verificado única e exclusivamente a partir da oposição entre linguagem poética e
linguagem prática. A língua, em sua função prática, passa então a representar, na
qualidade de série não-literária, todas as demais condicionantes históricas e sociais
da obra literária; esta é descrita e definida como obra de arte precisamente em sua
singularidade própria (écart poétique), e não, portanto, em sua relação funcional
com a série não-literária. A diferenciação entre linguagem poética e linguagem
prática conduziu ao conceito de percepção artística, conceito este que rompe
completamente o vínculo entre literatura e vida (Jauss, 1994, p.18-19).

Ainda sobre a relação da literatura e vida, para Jauss (1994), é necessário


compreender o horizonte cultural que influencia a “interpretação” da obra conforme o
contexto histórico do leitor. Em contrapartida, Eco (2005) não se limita a levar em conta a
interpretação baseando-se no contexto e intenção.

Poderíamos objetar que a única alternativa a uma teoria radical da interpretação


voltada para o leitor é aquela celebrada pelos que dizem que a única interpretação
válida tem por objetivo descobrir a intenção original do autor. Em alguns dos meus
escritos recentes, sugeri que entre a intenção do autor (muito difícil de descobrir e
frequentemente irrelevante para a interpretação de um texto) e a intenção do
intérprete que (para citar Richard Rorty) simplesmente "desbasta o texto até chegar
a uma forma que sirva a seu propósito" existe uma terceira possibilidades. Existe a
intenção do texto (Eco, 2005, p.29).

Eco (2005) em certa medida, acrescenta uma camada na “atividade” de desvendar


uma obra literária, a intenção do texto. Apesar disso, parece deixar em aberto a existência de
uma real interpretação ou se apenas trataria de um deslocamento das vontades dos leitores
sobre o texto. Mas ele traça critérios para limitar a interpretação em termos aceitáveis.

[...] a diferença entre a interpretação sã e a interpretação paranóica está em


reconhecer que esta relação é mínima e não, ao contrário, deduzir dessa relação
mínima o máximo possível. O paranóico não é o indivíduo que percebe que
"enquanto" e "crocodilo" aparecem curiosamente no mesmo contexto: o paranóico é
o indivíduo que começa a se perguntar quais os motivos misteriosos que me
levaram a reunir estas duas palavras em particular. O paranóico vê por baixo de meu
exemplo um segredo, ao qual estou aludindo (Eco, 2005, p.57)..

De modo geral, Eco (2005) traça limites mais rigorosos para os leitores,
desconsiderando algumas leituras mais do que outras, principalmente no que diz respeito aos
textos acadêmicos com objetivo de formular ponderações críticas. Antes o autor define o que
seria uma boa interpretação e posteriormente a má interpretação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Alguns críticos dão ênfase na complexidade dos critérios estabelecidos por Eco
(2005), que podem muitas vezes dificultar a leitura, e mesmo considerá-la inválida,
principalmente quanto às relações que podem ser feitas. Fazendo das obras um uso e não uma
leitura interpretativa. A linha tênue imposta pelo autor entre entrar no próprio texto e
relacioná-lo com outra coisa (Rorty, 2005). A questão principal, é portanto, a necessidade de
separar a utilidade de uma interpretação, seria nossa problemática a Eco. Em consonância
com Rorty, não há critérios que possam manter e preservar a coerência interna de um texto
(Rorty, 2005). Apesar disso, não há porque rejeitar a obra primorosa de Eco (2005), seus
critérios são fundamentais aos estudos acadêmicos para que haja limites criteriosos em
trabalhos desenvolvidos à luz de outros.
Jauss (1994), apesar de desenvolver um estudo mais direto, não deixa aquém a
complexidade e a qualidade. O autor nos ajuda a compreender o papel que as mudanças ao
longo da história podem influenciar na recepção de uma obra. O que há de mais importante
na tese do autor é a devida importância que ele dá à história da literatura. Além disso, Jauss
(1994), revela o papel fundamental da interação entre autor, leitor e obra.

REFERÊNCIAS

ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. Tradução: Monica Stadel. 2. ed. São


Paulo: Martins Fontes, 2005, 180 p.

JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Tradução:
Sérgio Tellaroli. v. 6. São Paulo: Editora Ática, 1994.

SANTOS, Gerson T. dos. O leitor-modelo de Umberto Eco e o debate sobre os limites da


interpretação. Kalíope, n.2, 2007, p. 95-111. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/kaliope/article/download/3744/2444. Acesso em: 04 de julho de
2024.

Você também pode gostar